30.3.11

Lula

Por João Paulo Guerra

DO ALTO do seu prestígio e autoridade mundiais, Lula da Silva aproveitou a passagem por Portugal para alertar os portugueses: “o FMI não é solução”. O ex-presidente do Brasil sabe como ninguém que o FMI não só não é solução como as suas políticas são a raiz dos problemas. Lula retirou o Brasil das garras do FMI e esse foi o caminho para fazer ascender a economia brasileira a índices de crescimento e de independência jamais alcançados.

O que Lula talvez não saiba é que em Portugal o FMI se tornou numa arma de arremesso da luta pelo poder: o partido-cara acusa o partido-coroa de abrir as portas ao FMI. Mas a realidade é que são as políticas do FMI que estão em vigor em Portugal pela mão dos que usam o espantalho do Fundo Monetário apenas para efeitos de contra-informação e propaganda. Por outro lado, esses agentes políticos esquecem, ou fingem que não se recordam, que o FMI já esteve formal e oficialmente instalado em Portugal. Mas nesse tempo, foram políticos portugueses que criaram a chaga da fome em Setúbal - agora a fome tende a distribuir-se mais equitativamente pelo território -, ou toleraram a praga dos salários em atraso. De resto, nunca a situação social esteve tão degradada como agora, desde a restauração da democracia. E nunca a desigualdade foi tão gritante. Nestes tempos de amargura para milhões de portugueses, os muito ricos estão ainda mais ricos, apesar da crise, ou por via da crise.

Os portugueses devem recusar a chamada "ajuda" do FMI por razões de independência do seu país e autonomia da sua nação. Mas em matéria de políticas, o FMI está entre nós e a governar há muitos anos. Como disse Lula da Silva e como se vê, "não é solução". A solução será outra política. Infelizmente para os portugueses, Lula nasceu brasileiro.
«DE» de 30 Mar 11

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