15.4.11

Aviso

Por João Paulo Guerra

O SOCIÓLOGO norte-americano Robert Fishman escreveu no New York Times da passada terça-feira que o resgate de Portugal não era necessário e foi imposto por uma “especulação dos mercados e das agências de ‘rating’”. E mais: na opinião de Fishman, acolhida pelo NYT, as agências - "cujo papel de favorecimento da crise do ‘subprime' nos Estados Unidos foi amplamente documentado" - "forçaram o país a pedir ajuda elevando os seus custos de financiamento para níveis insustentáveis". Ora isto, segundo Fishman, deve constituir "um aviso às democracias em todo o lado".

O aviso do norte-americano, professor de sociologia da Universidade de Notre-Dame, South Bend, estado de Indiana, não será propriamente novidade para o leitor habitual desta coluna. Em textos recentes - como "Lula" (30 de Março), ‘Ratings' (4 de Abril), "Exemplo" (5 de Abril), "Já está" (7 de Abril) e "Profecia" (8 de Abril) -, aqui se alertou que o país estava a ser empurrado para os tentáculos do FMI por empresas privadas de notação financeira, sem qualquer legitimidade nem escrutínio, e com fortíssimas cumplicidades internas. A questão - que escapará a Fishman dada a mesquinhez da política portuguesa - é que o FMI vem para impor uma política draconiana de austeridade que os partidos domésticos atribuirão sempre a forças planetárias, talvez mesmo extra-terrestres, o que os isentará de culpas perante o eleitorado. Porque tudo o que se passa em Portugal tem a ver com a cobardia de quem foge às responsabilidades e vai alijando as cargas para o estado do tempo, a contaminação lá de fora, o governo anterior, o destino.

A denúncia de Robert Fishman não visa apenas a manipulação da finança. É um aviso à navegação das democracias, que já estão a ser ou serão o próximo alvo dos fundamentalistas.
«DE» de 15 Abr 11

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