28.5.11

O caso do carneiro assassino

Por Antunes Ferreira

LI, MAS NÃO acreditei; reli e continuei a não acreditar; tentei ainda uma vez e eis senão quando o José David Lopes, meu camarada de lides anos a fio no Diário de Notícias, veio no Facebook dizer que era verdade, que não tinha sido eu que treslera. Passo a explicar para que se dissipem todas as interrogações que quiçá subsistam.
No quotidiano da Avenida da Liberdade saiu uma notícia sob o título

Carneiro mata idosa e foge às autoridades

Rezava o texto: «Mulher de 76 anos foi encontrada morta num caminho. A tese de ataque de carneiro é sustentada pela PJ, que investiga o caso». E prosseguia a notícia que uma senhora idosa encontrada morta, teria sido vítima das marradas de um carneiro. Até aqui, nihil obstat. Há carneiros capazes de tudo e velhinhas idem, idem, aspas, aspas. Neste Mundo louco em que vivemos (ou sobrevivemos) já nada me espanta. Ou nada me devia espantar. Mas, espanta.
Ainda de acordo com o texto dito noticioso publicado no DN, o animal não teria sido encontrado, que o mesmo é dizer identificado. Mas, cuidado, a PJ estava em diligências e esperava-se que muito em breve o animal assassino fosse apanhado. O crime não compensa, diz o povo na sua sabedoria milenar. Mas, nestes casos intrincados, nunca se sabe. Eu, pelo menos, não ponho as mãos no fogo.
Porém, não resisti e enderecei uma resposta ao David Lopes, cujo texto aqui transcrevo, com mais ponto, menos vírgula: Zé David; que saudades do nosso DN... Este carneiro devia ir imediatamente al paredón, depois de capturado pelas autoridades, obviamente. São dois crimes que o gajo cometeu e logo um a seguir ao outro. O primeiro (que vem antes do segundo) foi o vil e bárbaro assassinato de uma idosa com 76 anos, ainda por cima.
O segundo (que costuma vir a seguir ao primeiro) tratou-se da sibilina e insidiosa fuga às autoridades; não se faz. Ainda que fosse antes de um Porto-Benfica, vá-que-não-vá. Mas, assim... Uma nota ainda: o título pode muito bem ganhar o Prémio Pulitzer, que bem o merece o autor dele - dele do título - a título póstumo. E já agora, a idosa também. E quiçá o carneiro...
Entretanto, o Zé David acrescentara que «o carneiro merecia ir ao forno. O autor do título, bem, metido numa arena com um rebanho de carneiros…» Concordei em absoluto e disso dei conhecimento ao meu antigo camarada de Redacção. E preparava-me para dormir sobre o assunto, tão tranquilamente quanto me fosse possível, quando o matutino voltou a atacar. Fazem o favor de tomar atenção.

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Autoridades já têm carneiro suspeito

«Já está identificado o carneiro suspeito de ter investido mortalmente contra a idosa de Afife, em Viana do Castelo, apurou o DN junto de fonte policial. Afinal, o dono do animal vive a centenas de metros do local onde tudo aconteceu segunda-feira à tarde». E mais uma série de dados e considerandos perfeitos para o leitor menos atento ou mais desprevenido poder ficar ao corrente do que se passava.
Não cheguei a ler mais; no entanto, tenho para mim que, após perseguição carregada de peripécias, um novo texto informativo daria conta da captura da nefanda alimária e do seu interrogatório subsequente. Ainda que não se pudesse acrescentar muito mais, dado o sigilo da Justiça (???) esperavam as autoridades obter a confissão do suspeito, já então arguido.
Mister Erle Stanley Gardner não faria melhor. O caso do carneiro assassino pode perfeitamente enfileirar com os muitos outros casos que o advogado Perry Mason, (acompanhado da sua secretária Della Street e do detective Paul Drake) deslindou em pleno tribunal, para amargurar tempos a fio o procurador Hamilton Burger. Este cornúpeto criminoso tem de ser cuidadosamente julgado – e condenado.

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Devemos, assim, aprender com estas e com outras que nós, os Portugueses, temos os carneiros que temos, temos as idosas que temos, temos as autoridades que temos e… temos a (des)informação e os jornalistas que temos. E a mais não somos obrigados. Com papas e bolos se enganam os tolos, recordam-se, por certo. É ainda o Zé Povinho que o diz.

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1 Comments:

Blogger 500 said...

Sem o 'savoir écrire' do Antunes Ferreira, também abordei este assunto (publicação no DN e JN) no A Zorra da Boavista, na passada quinta-feira.
Ridículo.

28 de maio de 2011 às 10:53  

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