25.5.11

O poder e a indecisão

Por Baptista-Bastos

DIZ-SE E ESCREVE-SE, por aí, que quarenta por cento de portugueses estão indecisos sobre quem votar. Creio, no entanto, que nesta análise (chamemos-lhe assim) reside algo de equívoco e de ambíguo. Na verdade, não há indecisos: há, isso sim, decisões voláteis. Cada um de nós, por orientação própria ou alheia, foi educado, "formatado" desta ou daquela maneira. Foucault, em Dits et Écrits, esclareceu muito bem essas relações de poder e de submissão, que talvez se possam sintetizar na existência das dinastias de operários, de economistas, de "gestores", de arquitectos.

As famílias de tipógrafos, de advogados, de médicos que se continuaram, são quase como as famílias de benfiquistas, de portuenses, de sportinguistas, de belenenses, que reelaboram os conceitos de pura vontade racional. O português "indeciso" não deixa de saber o que quer. Pode, por ira, desgosto, vingança ou desdém momentâneos, ausentar-se dos seus gostos e preferências. O absentismo é uma forma superior de protesto. Perante as combinações, os arranjos políticos vis, a mentira organizada e proliferante, o português compreendeu que o voto já não é a arma do povo. (...)

Texto integral [aqui]

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2 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Julgo que, no 2.º parágrafo (e por analogia com "benfiquistas" e "sportinguistas"), deveria estar "portistas" (adeptos do FCP) em vez de "portuenses" (naturais do Porto).

Pelo menos, falo por mim, que sou nascido em Cedofeita... e não tenho preferências clubísticas.

25 de maio de 2011 às 09:45  
Blogger GMaciel said...

Caro BB, está tudo dito e de forma magistral. Que posso acrescentar?

Talvez, e apenas talvez, que espero e desejo que a desesperança e desilusão se transformem em revolta.

25 de maio de 2011 às 12:26  

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