Dois vídeos, duas visões
Por Ferreira Fernandes
AGORA QUE HÁ uma epidemia de vídeos, de fuzileiros a amas, deixem-me relembrar duas histórias recentes de vídeos.
Primeiro: duas raparigas agridem outra, um rapaz assiste, filma e oferece o filme ao público. Segundo vídeo: desata um tiroteio no exterior de um jardim-escola mexicano e uma professora, na sala de aula, faz as suas crianças deitarem-se no solo, enquanto as tranquiliza com canções e frases carinhosas e firmes.
Há um ponto comum nos dois vídeos: ambos quiseram testemunhar alguma coisa, por isso foram filmados. O rapaz filmou apostando no prazer de vermos a violência, com o acrescento (com que ele contava, e acertou) de curiosidade por sabermos que alguém filma calmamente aquela violência. A professora filmou porque o que lhe sucedia e aos seus, se acabasse mal, não devia ser apagado. O filme do rapaz faz-nos cúmplices. O filme da professora faz-nos depositários. O filme do rapaz é a história da pulhice. O filme da professora é da ressurreição.
Agora, façamos contas. Que vídeo mais vimos, de qual mais os jornais procuraram sequelas para fazer render o peixe? Não, não me digam que não se pode comparar o vídeo português com o vídeo mexicano por causa do critério da proximidade. Porque o critério da proximidade entre gente decente deveria, então, privilegiar o vídeo da professora.
Se calhar, a razão do sucesso do vídeo do rapaz é não sermos tão decentes quanto pensamos.
«DN» de 3 Jun 11AGORA QUE HÁ uma epidemia de vídeos, de fuzileiros a amas, deixem-me relembrar duas histórias recentes de vídeos.
Primeiro: duas raparigas agridem outra, um rapaz assiste, filma e oferece o filme ao público. Segundo vídeo: desata um tiroteio no exterior de um jardim-escola mexicano e uma professora, na sala de aula, faz as suas crianças deitarem-se no solo, enquanto as tranquiliza com canções e frases carinhosas e firmes.
Há um ponto comum nos dois vídeos: ambos quiseram testemunhar alguma coisa, por isso foram filmados. O rapaz filmou apostando no prazer de vermos a violência, com o acrescento (com que ele contava, e acertou) de curiosidade por sabermos que alguém filma calmamente aquela violência. A professora filmou porque o que lhe sucedia e aos seus, se acabasse mal, não devia ser apagado. O filme do rapaz faz-nos cúmplices. O filme da professora faz-nos depositários. O filme do rapaz é a história da pulhice. O filme da professora é da ressurreição.
Agora, façamos contas. Que vídeo mais vimos, de qual mais os jornais procuraram sequelas para fazer render o peixe? Não, não me digam que não se pode comparar o vídeo português com o vídeo mexicano por causa do critério da proximidade. Porque o critério da proximidade entre gente decente deveria, então, privilegiar o vídeo da professora.
Se calhar, a razão do sucesso do vídeo do rapaz é não sermos tão decentes quanto pensamos.
Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Gostaria de o contradizer, infelizmente subscrevo na íntegra.
Enviar um comentário
<< Home