Parques e Jardins de Lisboa
Por Maria Filomena Mónica
EM OUTUBRO do ano passado, o meu médico ordenou-me que andasse 40 minutos por dia. Habituada a uma vida sedentária, fiquei apreensiva, mas não dei importância ao alerta, até ele me ter comunicado que uma tensão arterial de 18/20, a minha, me podia conduzir a um AVC. O melhor era alterar as rotinas. Após ter comprado um iPod, parti em busca de um local.
Da minha infância, conhecia o Parque Eduardo VII, mas, sem alamedas sombrias, estava longe do que considero um parque. Por outro lado, a ideia de me meter no carro para fazer caminhadas a pé não me agradava, pelo que desci a Av. D. Carlos até ao Tejo, indo até às docas. Uma vez ali, consegui ligar o aparelho da Apple, onde metera uma ópera de Verdi. Apesar das reticências, estava contente, ouvindo, na potência máxima, as árias de o «Rigoletto». A felicidade não durou. A certa altura, notei o cheiro a fritos emanado dos restaurantes, o barulho dos carros que sobre mim circulavam na ponte sobre o Tejo e o pivete vindo dos esgotos não tratados dos 110.000 habitantes, residindo entre Santa Apolónia e Belém, um problema que, soube depois, viria a ser parcialmente resolvido. Mesmo sem o cheiro, havia o ruído. Não, não era ali que podia andar.
Só então notei que Lisboa tem jardins, mas não tem parques. Londres possui 40% da sua superfície ocupada por espaços verdes, um sinal de civilização, percentagem que, em Xangai, desce para 4%, um sinal de sentido contrário. Mas, com ou sem parques, tinha de caminhar, pelo que passei a utilizar o automóvel. Fui até à Tapada da Ajuda, um espaço com uma dimensão razoável. Uma vez lá dentro, verifiquei que as plantas estavam por tratar, que havia moscas por todos os lados e que os carros dos funcionários eram autorizados a circular no recinto. Não, isto não me servia. Seguiu-se o Jardim Botânico Tropical, em Belém. Além do espaço ser minúsculo, o pavimento rebentava sob a pressão das raízes das árvores. Tão pouco era o que desejava. Em seguida, fui até ao Parque das Nações, mas a ideia de levar uma hora ao volante desencorajou-me. Seguiu-se o Jamor. Aqui, sim, havia ar puro, espaço e árvores. Infelizmente, por se encontrar deserto, o local não é seguro. Tendo já sido assaltada duas vezes em Lisboa, acabei por desistir. Finalmente, optei pelo Jardim da Estrela: é pequeno, mas está cuidado e, mais importante, fica a dois minutos de minha casa.
Baudelaire nunca visitou Portugal, mas aqui fica o que, em 1880, escreveu sobre Lisboa: «É uma cidade à beira da água; dizem que está edificada em mármore e que o povo tem um ódio tal à vegetação que arranca todas árvores». Deve ser por isso que não consigo encontrar um parque decente, bonito e acessível. Agora que os «troikos» estão por cá, custava-lhes muito incluir no memorando a exigência que Lisboa passasse a ter árvores no centro da cidade? Era um favor que me faziam.
EM OUTUBRO do ano passado, o meu médico ordenou-me que andasse 40 minutos por dia. Habituada a uma vida sedentária, fiquei apreensiva, mas não dei importância ao alerta, até ele me ter comunicado que uma tensão arterial de 18/20, a minha, me podia conduzir a um AVC. O melhor era alterar as rotinas. Após ter comprado um iPod, parti em busca de um local.
Da minha infância, conhecia o Parque Eduardo VII, mas, sem alamedas sombrias, estava longe do que considero um parque. Por outro lado, a ideia de me meter no carro para fazer caminhadas a pé não me agradava, pelo que desci a Av. D. Carlos até ao Tejo, indo até às docas. Uma vez ali, consegui ligar o aparelho da Apple, onde metera uma ópera de Verdi. Apesar das reticências, estava contente, ouvindo, na potência máxima, as árias de o «Rigoletto». A felicidade não durou. A certa altura, notei o cheiro a fritos emanado dos restaurantes, o barulho dos carros que sobre mim circulavam na ponte sobre o Tejo e o pivete vindo dos esgotos não tratados dos 110.000 habitantes, residindo entre Santa Apolónia e Belém, um problema que, soube depois, viria a ser parcialmente resolvido. Mesmo sem o cheiro, havia o ruído. Não, não era ali que podia andar.
Só então notei que Lisboa tem jardins, mas não tem parques. Londres possui 40% da sua superfície ocupada por espaços verdes, um sinal de civilização, percentagem que, em Xangai, desce para 4%, um sinal de sentido contrário. Mas, com ou sem parques, tinha de caminhar, pelo que passei a utilizar o automóvel. Fui até à Tapada da Ajuda, um espaço com uma dimensão razoável. Uma vez lá dentro, verifiquei que as plantas estavam por tratar, que havia moscas por todos os lados e que os carros dos funcionários eram autorizados a circular no recinto. Não, isto não me servia. Seguiu-se o Jardim Botânico Tropical, em Belém. Além do espaço ser minúsculo, o pavimento rebentava sob a pressão das raízes das árvores. Tão pouco era o que desejava. Em seguida, fui até ao Parque das Nações, mas a ideia de levar uma hora ao volante desencorajou-me. Seguiu-se o Jamor. Aqui, sim, havia ar puro, espaço e árvores. Infelizmente, por se encontrar deserto, o local não é seguro. Tendo já sido assaltada duas vezes em Lisboa, acabei por desistir. Finalmente, optei pelo Jardim da Estrela: é pequeno, mas está cuidado e, mais importante, fica a dois minutos de minha casa.
Baudelaire nunca visitou Portugal, mas aqui fica o que, em 1880, escreveu sobre Lisboa: «É uma cidade à beira da água; dizem que está edificada em mármore e que o povo tem um ódio tal à vegetação que arranca todas árvores». Deve ser por isso que não consigo encontrar um parque decente, bonito e acessível. Agora que os «troikos» estão por cá, custava-lhes muito incluir no memorando a exigência que Lisboa passasse a ter árvores no centro da cidade? Era um favor que me faziam.
«Expresso» de 17 Set 11
Etiquetas: FM
7 Comments:
Às 19h46m, a leitora Lídia Sousa afixou, no 'post' anterior a este, um comentário que, ao que tudo indica, se referia a esta crónica de MFM - pelo que foi reencaminhado para a autora do presente 'post'.
Se a Madame voltasse a Londres, para frequentar os parques e lá ficar, o ambiente em Lisboa, e não só, agradecia.
Please...
Desta vez, concordo bastante, no que respeita às deficiências vegetais ou florestais de Lisboa.
Em contraponto, já não concordaria tanto com as preferências londrinas da autora.
É que os Parques podem até ser os mesmo de há décadas ou centúrias, os londrinos é que mudaram imenso, quem sabe se irremediavelmente.
No mais, votos de boa recuperação.
Esse sentido crítico que a autora demonstra possuir, deve conhecer a causa na hipertensão arterial...
Nem tanto a terra; nem tanto ao mar...
Com efeito, Lisboa está longe de ser uma capital-modelo europeia (e nesta matéria, os postes com fotos, que o Carlos Medina Ribeiro tem publicado, dão bem conta das inúmeras e gratuitas degradações em que até os mais distraídos tropeçam).
Mas, cum raio, cara autora... apesar de tudo, os lisboetas ainda encontram locais onde podem usufruir do espaço, do sol, do ar e da paisagem. E o passeio entre Alcântara e Belém, entre Algés e Oeiras, o Jamor, o Parque Eduardo VII, a Expo, vários locais no Monsanto, o jardim da Estrela, etc. são opções com um bom nível qualificativo.
Agora... se a cara autora se for colocar em frente aos exaustores dos restaurantes, se pausar imediatamente por sima das saídas dos esgotos, sobretudo na fase da maré baixa, se passear nas matas em horários espaciais... issaííí pode mudar um bocado as cores à fotografia.
;)
Não sei onde a pernostica mora, mas no meu sítio tenho 3 jardins para ler sentada nas esplanadas dos belos quiosques, o Jardim Constantino, com uma bela estátua de Prometeu, o Jardim Cesário Verde e o Jardim da Praça José Fontana. Trata~se de um bairro urbano, com residentes envelhecidos e agora com pessoas mais jovens e crianças. Gostava de saber que jardins existem em locais semelhantes em Londres, pois morei em Hampstead no tempo em que lá viviam Judeus, e jardins nada, isto não falando do centro como Kingsroad- Esta pernóstica deve estar com visões e viu em Londres HYDE PARK por todo o lado.
Há exactamente um mês chegava a Londres, onde fiquei nove dias com a minha família.
Nunca lá tinha estado. Mas deliciei-me com muitas e muitas coisas, entre elas os parques verdes da cidade, com relvas apetecíveis e irrepreensivelmente cuidadas e limpas e de uma extensão enorme, zonas onde se pode passear, disfrutar ou repousar a sério. Também reparei no modo como as pessoas devem gostar das árvores, que não são podadas (decepadas...) miseravelmente, como é costume fazer por cá, e dos animais, por exemplo, dos esquilos, a avaliar pelo cuidado e carinho com que os tratam.
Não percebo o azedume e descortesia dos comentários anteriores relativamente a Filomena Mónica.
Por mim gosto das pessoas que escrevem (ou falam) assertivamente. Porque, em relação a elas, sei de que lado estão e com o que "posso" contar.
No caso de Filomena Mónica, há ainda uma enorme admiração por uma pessoa que não sendo uma (chata) literata me deu a conhecer Eça e Cesário Verde de uma forma que muito me agradou. Isto para dar apenas dois exemplos. Já nem falo da desmontagem das perniciosas teorias educativas de Rousseau...
Por isso lhe serei sempre muito grato.
E lhe peço encarecidamente: escreva, escreva sempre, querida Maria Filomena Mónica.
Obrigada pela sua resposta e devo confessar que a 1ª vez que fui a Londres, para ver ao vivo os beatles. dormi num saco cama à porta do Royal Albert Hall e para não gastar dinheiro num hotel passeei pela Londres Turistica e até dormi num cinema hard cord com sessões 24 horas por dia. Mais tarde, já adulta por razões profissionais fui viver para Londres e vivendo num Bairro de Ricos como Hampstead, tive a curiosidade de ver o outro lado de Londres, como HARLESDEN, CROYDON e tantos outros suburbios, onde não há jardins turisticos para passear e deslumbrar os visitantes. O meu azedume contra a opinião de MFM REPETIDA ATÉ À EXAUSTÃO, deve-se ao facto da Senhora não ter a minima noção das proporcionalidades, senão vejamos:
Londres tem mais de 7 milhões e meio de habitantes, é a capital Mundial do Sistema capitalista, tem uma área não sei quantas vezes maior que Lisboa, já foi capital do Imperio Britânico Mundial, e para denegrir Lisboa quer esta Senhora comparar os Parques de Londres com os de Lisboa? Não acha que é parvoice a mais? Mas isso é lá com ela, porque caí neste blog, por acaso, se fosse na televisão mudava logo de canal. A propósito no meu bairro de pequena burguesia envelhecida há mais um Jardim no Arco do Cego e fui visitar o belissimo Parque da Bela Vista, que dada a desproporção entre Lisboa e Londres, merece a consideração de qualquer Lisboeta. Cumprimentos Lídia
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