1.11.11

"Ide embora!" é curto como política

Por Ferreira Fernandes

O SECRETÁRIO de Estado da Juventude, Alexandre Mestre, disse uma coisa que está certa: os jovens portugueses que estão desempregados deviam pensar em emigrar.
Havendo, desde ontem, sete mil milhões de homens espalhados pelos quatro cantos do planeta, andar por aí até é bastante comum. E Mestre usou uma fórmula, "ir para além das nossas fronteiras", que condiz connosco: que outra coisa fez Portugal ao longo dos séculos?
No entanto, há alguma coisa errada em ser o secretário de Estado da Juventude a dar a ideia. Desde logo, a desistência das suas funções: caberia ao governante propor aos jovens o que fazer cá dentro, não anunciar-lhes que não há que fazer cá dentro. Afinal, ele é só secretário de Estado da Juventude Empregada.
Apetece a demagogia: indo o desemprego jovem em 23%, Mestre não deveria baixar o salário na quota correspondente aos jovens que não governa?
O primeiro tratado de emigração assinado por Portugal foi com o Reino do Havai, em 1878. Nessa altura, Portugal contratou um determinado salário e casa durante um ano para os seus emigrantes. Não seria grande coisa, mas notava-se uma política, uma preocupação, uma qualquer coisa mais do que o actual convite para zarpar.
E, depois, houve aquele infeliz "temos de sair da zona de conforto", proposto por Mestre aos desempregados. Temos? Nem eu nem o secretário de Estado "temos", pois não? Então, um pouco menos de soberba sobre o conforto dos outros.

«DN» de 1 Nov 11

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