30.11.11

Independência

Por João Paulo Guerra

AMANHÃ celebrar-se-á pela última vez, tanto quanto está previsto, o feriado da restauração da independência de Portugal.

E é sintomático que o Governo tenha sacrificado o feriado da independência nacional como um simbólico penhor da subordinação do País ao jugo dos agiotas. Um país que é forçado por outros a pedir emprestado, pagando de juros 50 por cento do valor concedido, é um país ocupado pela usura.

Nunca Portugal foi tão dependente. Durante a maior parte da ocupação dos Filipes, à qual a revolução de 1 de Dezembro de 1640 pôs fim, Portugal podia, pelo menos, cunhar moeda e governar-se em autonomia política e administrativa. E quando deixou de ser assim, e passou a depender, como agora, de um poder centralizado pelos burocratas estrangeiros, que em tudo metem o bedelho e sobre tudo dão ordens e aplicam sanções, os portugueses de bem revoltaram-se e expulsaram o ocupante e respectivos colaboracionistas. O mais desprezível dos colaboracionistas foi expulso pela janela.

A Europa deixou de ser uma União, como antes deixara de ser uma Comunidade, para ser um continente ocupado por agiotas. A próxima etapa desta deformada União, gizada no papel, é a divisão da Europa num subcontinente de pobres que alimenta o clube dos ricos. O lugar de Portugal, país dependente, sem voto na matéria, é obviamente no subcontinente dos Zé-Ninguém.

Sucede que os acontecimentos podem prever-se e determinadas causas podem produzir previsíveis efeitos. Mas a História escreve-se depois dos acontecimentos e à distância. E quem sabe se o abolido feriado da independência nacional passa a ser o toque a rebate por um País soberano, livre e justo, em incessante busca de "um dia inicial inteiro e limpo" (Sophia de Mello Breyner Andersen).
«DE» de 30 Nov 11

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1 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Posso concordar com a afirmação «Um país que é forçado por outros a pedir emprestado (...)», mas não se aplica lá muito bem a Portugal.

O nosso país anda há mais de 15 anos a pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro (tem-se endividado, em média, ao ritmo de 1 milhão de euros por hora!), mas não estou a ver que isso tenha sucedido por culpa de outros países.
A menos que vejamos o problema de outra forma (como os gregos têm feito):
Argumentando que os credores, ao verem o caminho que o país levava, tinham a 'obrigação' de ter fechado a torneira há muito tempo...

30 de novembro de 2011 às 15:15  

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