6.2.12

Distância

Por João Paulo Guerra

ORA AÍ ESTÁ: bastaram 21,5 por cento da EDP e 25 por cento da REN e Portugal, um dos campeões mundiais do anticomunismo, já tem como um dos maiores investidores externos a República Popular da China, país socialista dirigido por um Partido (único) Comunista.

Bem se sabe que o dinheiro não tem cor, nem cheiro, não tem bandeira, nem hino, não tem Pátria. E a verdade é que o comunismo chinês é o timbre do que o País tem de pior quanto ao sistema de valores que o chamado Ocidente defendeu até há pouco tempo: o carácter repressivo.

De resto, se o velho comunismo se propunha acabar com a exploração do homem pelo homem, o comunismo chinês fez exactamente o contrário. Isto é, tudo na mesma, com o Estado a regular e comandar a organização do trabalho e os direitos dos trabalhadores, em nome dos operários e camponeses explorados. Em matéria de organização, a China é o sonho de qualquer capitalista. Tal como o capitalismo será o sonho da China, um regime de comunismo de mercado: o enquadramento das massas visa exclusivamente dar mais competitividade à economia pela redução à expressão mais simples do factor trabalho.

Um estudioso das triangulações estratégicas escrevia um dia destes que o triângulo estratégico de Portugal - o velho e relho triângulo do Luso-Tropicalismo, com Portugal associado às ex-colónias da América do Sul e África -, bem vistas as coisas tem um quarto vértice, precisamente na China. Pois se a ideologia e os princípios são maleáveis, porque não haverá de sê-lo a geometria?

Portugal é visto pelo novo parceiro pelo que é e pelo que deveria ser. O que dá vontade de rir é ler que a China se aproxima de Portugal com vista a lançar a ponte para África e a América do Sul. Na verdade, a distância mais curta entre dois pontos nem sempre é a linha recta.
«DE» de 6 Fev 12

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