"Donos de Portugal"
Por Manuel António Pina
A CONSTATAÇÃO não vem de um perigoso comunista ou "esquerdista radical",
nem sequer de algum "indignado" enfurecido, vem do respeitabilíssimo
Banco de Portugal. Noticia com efeito o "Jornal de Negócios" que, no seu
relatório anual, o Banco de Portugal avisa o Governo de "que o sucesso
do programa de ajustamento pode ser deitado por terra pela resistência
de lóbis e pela incapacidade do Governo lhes fazer face".
O jornal dá o óbvio exemplo das rendas excessivas no sector da
energia, que pôs fim à promissora carreira de um secretário de Estado
ingenuamente convencido de que seria tão fácil mexer nos interesses do
dr. António Mexia como foi confiscar os subsídios a funcionários e
pensionistas ou impor aos trabalhadores o Código dos Despedimentos. Mas a
incapacidade do Governo para enfrentar alguns "donos de Portugal" (ou
do Governo?) revela-se igualmente na renegociação das PPP, prevista, tal
como a redução das rendas excessivas, no memorando da "troika".
O
Banco de Portugal fala da "capacidade de pressão" de certos lóbis, não
deixando de ser surpreendente, para quem acredita que vive numa
democracia, que um Governo que tão valentemente "resiste" a 100 mil
trabalhadores na rua exigindo empregos, ou a cumprir o programa com que
se apresentou aos eleitores, não tenha força para resistir a um
telefonema. Muito convincente deve ser a voz do outro lado da linha!
«JN» de 16 Mai 12 Etiquetas: MAP
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