Gregos votaram direito ao suicídio
COMO
jogo de póquer, compreende-se os gregos. Asfixiados por culpa própria e
alheia (são notórias ambas), refugiaram-se no bluff. Votaram forte em
extremos que nem na União Europeia querem estar (neonazis do Aurora
Dourada e comunistas do KKE) e, Syriza em cima do bolo, estrondosamente
no Bloco de Esquerda local, que já avisara que inviabilizaria quase todo
o tipo de coligação.
Qualquer torneio de póquer nos mostra que um
simples par de ternos escondido atrás de uma cara de pau pode arrebanhar
uma boa maquia. Mas fazer bluff com o seu próprio país já se compreende
menos. Aumentar a parada esperando que a União Europeia e o FMI
tivessem medo (ou, mais candidamente, que eles pusessem a mão na
consciência) e recuassem, é um belo bluff. Com um porém: é um bluff.
Pela definição deste, o adversário ceder tem uma alternativa, que é não
ceder. E, assim, a Grécia vai quase certamente sair do euro.
Para os
votantes do Aurora Dourada e do KKE, tudo bem, estava dentro das suas
intenções. Já os gregos que, embora quisessem ficar na Europa e com o
euro, castigaram os dois partidos - socialista e conservador - que
tomaram a sério a austeridade, esses, vão perceber quem será, afinal, o
castigado.
Fica o exemplo, que não é inédito, de que a democracia
garante até o direito dos povos ao suicídio. E fica a lição que os
gregos não nos queriam dar, e dão, de que um país não é uma mesa de pano
verde.
«DN» de 15 Mai 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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