15.5.12

Gregos votaram direito ao suicídio

Por Ferreira Fernandes
COMO jogo de póquer, compreende-se os gregos. Asfixiados por culpa própria e alheia (são notórias ambas), refugiaram-se no bluff. Votaram forte em extremos que nem na União Europeia querem estar (neonazis do Aurora Dourada e comunistas do KKE) e, Syriza em cima do bolo, estrondosamente no Bloco de Esquerda local, que já avisara que inviabilizaria quase todo o tipo de coligação. 
Qualquer torneio de póquer nos mostra que um simples par de ternos escondido atrás de uma cara de pau pode arrebanhar uma boa maquia. Mas fazer bluff com o seu próprio país já se compreende menos. Aumentar a parada esperando que a União Europeia e o FMI tivessem medo (ou, mais candidamente, que eles pusessem a mão na consciência) e recuassem, é um belo bluff. Com um porém: é um bluff. Pela definição deste, o adversário ceder tem uma alternativa, que é não ceder. E, assim, a Grécia vai quase certamente sair do euro. 
Para os votantes do Aurora Dourada e do KKE, tudo bem, estava dentro das suas intenções. Já os gregos que, embora quisessem ficar na Europa e com o euro, castigaram os dois partidos - socialista e conservador - que tomaram a sério a austeridade, esses, vão perceber quem será, afinal, o castigado. 
Fica o exemplo, que não é inédito, de que a democracia garante até o direito dos povos ao suicídio. E fica a lição que os gregos não nos queriam dar, e dão, de que um país não é uma mesa de pano verde.
«DN» de 15 Mai 12

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