O "lado positivo"
Por Manuel António Pina
CONTA-SE a história daquele operário da construção civil que gemia sob
um bloco de cimento que lhe caíra em cima e de quem alguém,
provavelmente um primeiro-ministro, se aproxima e pergunta: "Dói
muito?". O infeliz terá respondido: "Não, só quando me rio".
A história fica-se por aqui mas, depois da mensagem de Passos
Coelho aos desempregados, não é difícil imaginar como terá prosseguido,
com o tal primeiro-ministro a lembrar ao "piegas" que a paraplegia "não
pode ser um sinal negativo (...), tem de representar também uma
oportunidade para mudar de vida". Pode, por exemplo, digo eu,
representar a oportunidade de uma carreira paraolímpica.
O humor
negro de Passos Coelho, dirigindo-se àqueles sobre quem diariamente cai o
bloco de cimento da austeridade para lhes mostrar o "lado positivo" da
situação, com a sua crítica à "pieguice" ou o conselho aos jovens para
que façam a trouxa e desapareçam, daria o livro de autoajuda em tempos
de crise que Max Aub nunca escreveu.
Temos todos muito que
aprender com o espírito positivo de amigos de Passos Coelho como Eduardo
Catroga, que juntou 45 000 euros mensais na EDP à pensão de 9600 euros
que já recebia, lembrando que esse facto devia ser visto pelo "lado
positivo": "50% do que eu ganho vai para impostos. Quanto mais eu
ganhar, maior é a receita do Estado (...) para políticas sociais".
«JN» de 14 Mai 12Etiquetas: MAP
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