18.5.12

O espião que veio do céu

Por Manuel António Pina
SE O ÓDIO é cego, o medo tem, em contrapartida, aturados olhos e vê sombras e ameaças em cada esquina. Até no céu: noticia o jornal "Haberturk", de Ankara, que prosseguem as investigações dos serviços secretos turcos sobre um abelharuco (pequena ave da família dos meropídeos) suspeito de espionagem a favor de Israel.
Há boas razões para os turcos se preocuparem, pois o suspeito foi encontrado morto num campo, com uma anilha de identificação que dizia "Israel". O Centro de Acompanhamento de Aves israelita diz que a colocação de anilhas em pássaros se destina a estudar as suas rotas migratórias, mas quem acredita em judeus? O suspeito tinha asas "invulgarmente grandes" capazes de esconder um dispositivo de vigilância e, além disso, usa várias identidades: só em Portugal é conhecido por abelheiro, abelhuco, airute, alderela, bejaruco, fulo, gralha, melharuco e pito-barranqueiro. Depois, o facto de trazer camuflagem colorida indicia a natureza militar da sua missão. É certo que tem um longo e pouco sigiloso bico, mas também o superespião Jorge Silva Carvalho tem.
Não foi, em 2011, detida na Arábia Saudita, por fazer parte de um "complot de espionagem sionista", uma cegonha com anilha da Universidade de Telaviv? E não anunciou há dias o Irão que enforcou uma "toupeira" de Israel? Tenham medo, muito medo. Não tirem os olhos do céu. Nem de debaixo do chão.
«JN» de 18 Mai 12

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