18.5.12

Europa teve pais mas está órfã

Por Ferreira Fernandes
É UM BELO edifício, o Centro Jean Monnet, no largo do mesmo nome, ao lado do Parque Mayer e do Jardim Botânico. É a "embaixada" da União Europeia e quando a Europa acabar talvez venha a ser, magnífica ironia, a sede de um banco (mata-se a ideia, fica-se com os despojos). E o largo, irá continuar a chamar-se Jean Monnet? As placas toponímicas, sendo românticas - tantos poetas, tão poucos administradores - é bem possível que sim. 
Jean Monnet nasceu em Cognac e talvez por isso passou a vida a ver a dobrar. Foi o inspirador da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, a mãe da União Europeia. O que Jean Monnet via e fez os outros ver foi a França e a Alemanha juntarem-se para um projeto comum, apesar de duas guerras em meio século. 
Num dia de 1950, Jean Monnet, do país vencedor, foi a Bona encontrar-se com Konrad Adenauer, do país destruído. Monnet, perito em finanças, soube encontrar o tom lírico e sincero para convencer o alemão desconfiado. Simples: mostrou-lhe que era coisa mútua. 
Ontem, o espanhol Rajoy criticava o Banco Central Europeu de só ajudar à beira do abismo - e estava a ser otimista, a alemã Merkel, patroa do BCE, é capaz de esperar mesmo o abismo. E a francesa Christine Lagarde, patroa do FMI, já passa receitas post mortem: a saída da Grécia do euro "deverá ser feita de forma ordenada". Como se eles fossem capazes de ordem em alguma coisa. 
A esta gente Jean Monnet não teria convencido de nada. 
«DN» de 18 Mai 12

Etiquetas: ,