4.12.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
PODERIA ser a justificação de António José Seguro para o chumbo do PS ao Orçamento do Estado para 2013: «Prefiro que não haja acordo no Orçamento do que haja um acordo que prejudique Portugal, com condições inaceitáveis para um processo de crescimento e combate ao desemprego».
Mas não. A frase não é de Seguro, criticando mais uma vez o modelo recessivo de mais austeridade na economia, é de Passos Coelho a censurar a proposta do Orçamento comunitário apresentada pelo Conselho Europeu com cortes de 81 mil milhões de euros.
Um Passos Coelho desta vez com um discurso pelo crescimento e o emprego, ao lado dos países pobres e ‘amigos da coesão’ da União Europeia e contra as políticas de austeridade e cortes orçamentais dos países ricos e ‘contribuintes líquidos’ da UE (onde se destacam David Cameron e Angela Merkel, entre outros dirigentes do Norte da Europa que pagam dos bolsos dos seus eleitorados a grande fatia do Orçamento da UE).
Um Passos Coelho lá fora e outro cá dentro, a comprovar que a política tem facetas muito enganadoras e uma frágil coerência discursiva, sujeita a estes inesperados erros de paralaxe – provocados por variações súbitas do local onde se fala, do ângulo de visão ou da força das circunstâncias.
No dia seguinte a ter desempenhado em Bruxelas o papel de pobre e ‘amigo da coesão’, Passos Coelho foi à Madeira assumir perante Jardim o papel de insatisfeito ‘contribuinte líquido’ da região. E, ao visar Sócrates, não poupou indirectamente o líder madeirense: «Muita gente supôs que se podia viver de forma contínua acima das suas possibilidades e construíram-se infra-estruturas que se calhar não eram necessárias». Enquanto isso, o pobre Jardim queixava-se: «Não é retirando receitas à Madeira que se favorece o cumprimento do programa de ajustamento». Parecia Passos a falar da coesão na Europa...
A questão é que Passos olha para a Madeira da mesma forma que Merkel ou Cameron olham para Portugal: um sítio bem aprazível para passar umas férias mas governado por incorrigíveis despesistas. Habituados a viver da acumulação de dívida sobre dívida.
«Sol» de 30 Nov 12

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