«Dito & Feito»
Por José António Lima
PODERIA ser a justificação de António José Seguro para o chumbo do PS ao
Orçamento do Estado para 2013: «Prefiro que não haja acordo no
Orçamento do que haja um acordo que prejudique Portugal, com condições
inaceitáveis para um processo de crescimento e combate ao desemprego».
Mas
não. A frase não é de Seguro, criticando mais uma vez o modelo
recessivo de mais austeridade na economia, é de Passos Coelho a censurar
a proposta do Orçamento comunitário apresentada pelo Conselho Europeu
com cortes de 81 mil milhões de euros.
Um Passos Coelho desta vez
com um discurso pelo crescimento e o emprego, ao lado dos países pobres e
‘amigos da coesão’ da União Europeia e contra as políticas de
austeridade e cortes orçamentais dos países ricos e ‘contribuintes
líquidos’ da UE (onde se destacam David Cameron e Angela Merkel, entre
outros dirigentes do Norte da Europa que pagam dos bolsos dos seus
eleitorados a grande fatia do Orçamento da UE).
Um Passos Coelho
lá fora e outro cá dentro, a comprovar que a política tem facetas muito
enganadoras e uma frágil coerência discursiva, sujeita a estes
inesperados erros de paralaxe – provocados por variações súbitas do
local onde se fala, do ângulo de visão ou da força das circunstâncias.
No
dia seguinte a ter desempenhado em Bruxelas o papel de pobre e ‘amigo
da coesão’, Passos Coelho foi à Madeira assumir perante Jardim o papel
de insatisfeito ‘contribuinte líquido’ da região. E, ao visar Sócrates,
não poupou indirectamente o líder madeirense: «Muita gente supôs que se
podia viver de forma contínua acima das suas possibilidades e
construíram-se infra-estruturas que se calhar não eram necessárias».
Enquanto isso, o pobre Jardim queixava-se: «Não é retirando receitas à
Madeira que se favorece o cumprimento do programa de ajustamento».
Parecia Passos a falar da coesão na Europa...
A questão é que
Passos olha para a Madeira da mesma forma que Merkel ou Cameron olham
para Portugal: um sítio bem aprazível para passar umas férias mas
governado por incorrigíveis despesistas. Habituados a viver da
acumulação de dívida sobre dívida.
«Sol» de 30 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, JAL
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