23.12.12

O mundo rola como uma bola

Por Ferreira Fernandes
O FUTEBOL vale o que vale. Ibrahamovic, de pontapé de bicicleta a marcar o golo à Inglaterra, como valquírias cavalgando helicópteros em Apocalyse Now, ou Messi a dançar sozinho no que Tarantino precisou de dois, John Travolta e Uma Thurman, em Pulp Fiction. O futebol são momentos, mas que momentos!
E o futebol é também essa máquina de poder fátuo e dinheiro farto que atrai burgessos como o ex-polícia com cenas manhosas de incriminar árbitros ("depositas o dinheiro e queimas as roupas para não seres reconhecido", disse a um cúmplice, esquecendo-se da câmara que nos bancos filma, além das roupas, as trombas).
O futebol anda por esse vasto território, dos magníficos aos tolos. E, lá no meio, cenas da nossa vidinha. Ontem, por exemplo, Iker Casillas, no banco do Real Madrid, isto é, pela primeira vez em dez anos afastado pelo treinador. As câmaras filmaram-no quase tanto quanto aos 22 em campo. E ele, que já teve momentos de futebol como os acima referidos (enfim, exagero), passou o jogo com cenas de ex-polícia marado: fazia esgares de sofrimento pela derrota do seu clube... Na verdade, Casillas, tido como o soprador das notícias que desestabilizaram a equipa, conseguiu pela primeira vez vergar a famosa pesporrência de José Mourinho. Este é hoje um perdedor e de saída do Real Madrid. Shakespeare faria disto uma grande peça, outros, um romance de cordel. O que Shakespeare nunca conseguiria é fazer aquele pontapé de bicicleta.
«DN» de 23 Dez 12

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