6.9.15

O drama dos refugiados

Por Antunes Ferreira
Foi Confúcio quem disse que “Uma imagem vale mais que mil palavras”. A velha sabedoria chinesa uma mais foi demonstrada  – uma foto do menino Alan Kurdi, refugiado sírio de três anos cujo afogamento causou consternação por todo o Mundo soube-se agora que ele tinha escapado das atrocidades do grupo terrorista, auto-intitulado "Estado Islâmico" na Síria.
Abro aqui uma parentética: A filosofia de Confúcio sublinhava uma moralidade pessoal e governamental e também os procedimentos correctos nas relações sociais que eram fundamentalmente, a justiça e a sinceridade  Os princípios de Confúcio eram baseados nas tradições e crenças chinesas comuns. Favoreciam a lealdade familiar forte, a veneração dos ancestrais, respeito para com os idosos  e pelas crianças e anos depois também das esposas para como os maridos. E a família era a base para um governo ideal. Expressou o conhecido princípio, "não faças aos outros o que não queres que façam a ti", uma das versões mais antigas da ética. E o cristianismo aceitou-o.  Fecho o parenteses
Alan e a sua família eram de Kobane, a cidade síria que obteve, infelizmente, notoriedade por ter sido palco de violentas batalhas entre os jihadistas e forças curdas, no início do ano. O pai do menino, Abdullah, fugira com mulher, Rehan, e outro filho, Galip, de 5 anos, para tentar chegar ao Canadá, onde vivem parentes da família, mesmo depois das autoridades deste país terem negado um pedido de asilo. Da família, apenas Abdullah sobreviveu à tentativa da travessia de barco entre a Turquia e a Grécia, em que, além dos familiares, morreram pelo menos outras nove pessoas.
O drama dos refugiados que tentam atravessar o Mediterrânio e que só neste ano e até agora se saldou em mais de 2.400 mortos. Várias fotos do corpo de Alan na praia de Ali Hoca, em Bodrum, Turquia a ser observado por um polícia e depois a ser levado por mesmo guarda deram manchetes no mundo inteiro e tornaram-se virais nas redes sociais originaram um movimento mundial de repulsa pelas atrocidades do auto-intitulado Estado Islâmico.
Mas também são um símbolo do drama enfrentado por milhares de refugiados sírios, africanos, afegãos e iraquianos que procuram recomeçar as suas vidas na Europa.
Se ainda alguém duvidasse do crime horrendo quase genocídio que decorre na Síria, no Iraque, no Iémen e noutras paragens e que decorre nas águas do mar interior, a imagem de Alan morto na praia, seria mais do que bastantes para lhes ensinar a gravidade da questão e que já levou a Europa a um estado de nervos de tamanho incomensurável. E depois? Ninguém pode varrer o que se passa para baixo dum tapete. É grave demais para assobiar para o lado e passar à frente. Por isso já corre pelo velho continente (e não só) a intenção de auxiliar esses desvalidos da sorte.
O acolhimento absolutamente necessário motivou a posição da (des)União Europeia e por cada um dos seus países membros. Porém, toda a regra tem excepções: o governo húngaro de Viktor Orban é um (mau) exemplo, ainda que o primeiro-ministro de Budapeste tente doirar a sua decisão de encerrar as fronteiras do país aos refugiados. Em Portugal vamos receber três mil. Organizações  Não Governamentais, Igreja e muitos particulares e o próprio (des)Governo já elaboraram planos para o acolhimento.
Por isso é estranho que Passos tenha vindo dizer que só uma estratégia europeia combinada poderá responder ao enorme problema quando em Portugal temos de estar preparados para o acolhimento. Mas o (ainda) primeiro-ministro, com as suas conhecidas e já famosas contradições no dia seguinte, em Braga,  disse que é “muito importante que, do ponto de vista político-partidário, esta questão seja tratada de uma forma tão consensual quanto possível”. Ou seja não queremos cá misturas entre a solidariedade e a política, sobretudo em período pré-eleitoral (A interpretação é minha)

Na semana que está a acabar, o secretário geral do PS, António Costa defendera que, face “ao estado” da floresta portuguesa com “os proprietários e os autarcas das zonas de pinhal interior a queixarem-se de falta de mão-de-obra para a manutenção do pinhal”, os refugiados podiam ter “uma nova oportunidade de vida” contribuindo ao mesmo tempo “para recuperar um património” abandonado.
Caiu o Carmo e a Trindade. Querem um exemplo? O vice-presidente do CDS-PP e eurodeputado Nuno Melo acusou o secretário-geral do PS de encontrar no acolhimento aos refugiados “um pretexto para o combate à desertificação”. E acrescentou: “Se entendemos que quem venha deve ser acolhido com humanismo não podemos ver nessas pessoas um pretexto para resolver um problema.”
E acrescentou que “O que também não pode acontecer é a propósito desta crise humanitária, como disse o secretário-geral do PS, é nisso encontrar um pretexto para o combate à desertificação, porque isso é que também não lembra a ninguém”.
Entretanto,  no jantar-debate sobre o futuro da Europa, que abriu a Escola de Quadros do CDS-PP, em Ofir, o vice-presidente do PSD e ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, sublinhou, por seu lado, que não se deve associar à responsabilidade de acolhimento de refugiados uma “oportunidade económica”.
Na sexta-feira (ontem) Costa respondeu às críticas: “A política de apoio aos refugiados não é a política de caridade, abrindo-se fronteiras para se colocar pessoas em campos de refugiados e dando um prato para as pessoas se alimentarem. É preciso dar novas oportunidades de vida.” Respondendo a perguntas de jornalistas sobre campos de concentração sublinhou que ele pessoalmente, já os visitara em Ceuta e Melila (Espanha) e na Jordânia (um campo com 300 mil pessoas).
 “Mas nem todos os refugiados têm estudos superiores”, disse. E referiu-se depois à conjuntura nacional marcada pela emigração de muitos quadros superiores portugueses, lamentando que haja neste momento “pouco emprego qualificado para oferecer”. “Nem para os nossos”, salientou. “Não se trata de trabalhos forçados, não é obrigar alguém a fazer um trabalho para o qual não tem vocação", disse Costa. "Mas alguém julga que os refugiados são só altos quadros científicos? E não são só sírios."
Desgraçados que perderam família, bens e pertences para fugir de injúrias, agressões, mortes e decapitações, vão ficar confrontados com quezílias, disputas políticas  e minhoquices tão do agrado dos portugueses. O busílises da questão é que não podem voltar.

Etiquetas: