O drama dos refugiados
Por Antunes Ferreira
Foi Confúcio quem
disse que “Uma imagem vale mais que mil palavras”. A velha sabedoria chinesa uma mais foi
demonstrada – uma foto do menino Alan Kurdi,
refugiado sírio de três anos cujo afogamento causou consternação por todo o
Mundo soube-se agora que ele tinha escapado das atrocidades do grupo terrorista,
auto-intitulado "Estado Islâmico" na Síria.
Abro aqui uma parentética: A filosofia de Confúcio sublinhava uma
moralidade pessoal e governamental e também os
procedimentos correctos nas relações
sociais que eram fundamentalmente, a justiça e a sinceridade Os princípios de Confúcio eram
baseados nas tradições e crenças chinesas comuns. Favoreciam a lealdade
familiar forte, a veneração dos ancestrais, respeito para com os idosos e pelas crianças e anos depois também das
esposas para como os maridos. E a família era a base para um governo ideal.
Expressou o conhecido princípio, "não faças aos outros o que não queres que façam a ti", uma das versões mais antigas da ética. E o cristianismo aceitou-o. Fecho
o parenteses
Alan e a sua
família eram de Kobane, a cidade síria que obteve, infelizmente, notoriedade
por ter sido palco de violentas batalhas entre os jihadistas e forças curdas,
no início do ano. O pai do menino, Abdullah, fugira com mulher, Rehan, e outro
filho, Galip, de 5 anos, para tentar chegar ao Canadá, onde vivem parentes da
família, mesmo depois das autoridades deste país terem negado um pedido de
asilo. Da família, apenas Abdullah sobreviveu à tentativa da travessia de barco
entre a Turquia e a Grécia, em que, além dos familiares, morreram pelo menos
outras nove pessoas.
O drama dos
refugiados que tentam atravessar o Mediterrânio e que só neste ano e até agora
se saldou em mais de 2.400 mortos. Várias fotos do corpo de Alan na praia de
Ali Hoca, em Bodrum, Turquia a ser observado por um polícia e depois a ser levado
por mesmo guarda deram manchetes no mundo inteiro e tornaram-se virais nas
redes sociais originaram um movimento mundial de repulsa pelas atrocidades do
auto-intitulado Estado Islâmico.
Mas também
são um símbolo do drama enfrentado por milhares de refugiados sírios,
africanos, afegãos e iraquianos que procuram recomeçar as suas vidas na Europa.
Se ainda
alguém duvidasse do crime horrendo quase genocídio que decorre na Síria, no
Iraque, no Iémen e noutras paragens e que decorre nas águas do mar interior, a
imagem de Alan morto na praia, seria mais do que bastantes para lhes ensinar a
gravidade da questão e que já levou a Europa a um estado de nervos de tamanho
incomensurável. E depois? Ninguém pode varrer o que se passa para baixo dum
tapete. É grave demais para assobiar para o lado e passar à frente. Por isso já
corre pelo velho continente (e não só) a intenção de auxiliar esses desvalidos
da sorte.
O acolhimento
absolutamente necessário motivou a posição da (des)União Europeia e por cada um
dos seus países membros. Porém, toda a regra tem excepções: o governo húngaro
de Viktor Orban é um (mau) exemplo, ainda que o primeiro-ministro de Budapeste
tente doirar a sua decisão de encerrar as fronteiras do país aos refugiados. Em
Portugal vamos receber três mil. Organizações
Não Governamentais, Igreja e muitos particulares e o próprio
(des)Governo já elaboraram planos para o acolhimento.
Por isso é
estranho que Passos tenha vindo dizer que só uma estratégia europeia combinada
poderá responder ao enorme problema quando em Portugal temos de estar
preparados para o acolhimento. Mas o (ainda) primeiro-ministro, com as suas
conhecidas e já famosas contradições no dia seguinte, em Braga, disse que é “muito importante que, do ponto de
vista político-partidário, esta questão seja tratada de uma forma tão
consensual quanto possível”. Ou seja não queremos cá misturas entre
a solidariedade e a política, sobretudo em período pré-eleitoral (A
interpretação é minha)
Na semana que está a acabar, o
secretário geral do PS, António Costa defendera que, face “ao estado” da
floresta portuguesa com “os proprietários e os autarcas das zonas de pinhal
interior a queixarem-se de falta de mão-de-obra para a manutenção do pinhal”,
os refugiados podiam ter “uma nova oportunidade de vida” contribuindo ao mesmo
tempo “para recuperar um património” abandonado.
Caiu o Carmo e a Trindade. Querem um
exemplo? O vice-presidente do CDS-PP e
eurodeputado Nuno Melo acusou o secretário-geral do PS de encontrar no
acolhimento aos refugiados “um pretexto para o combate à desertificação”. E
acrescentou: “Se entendemos que quem venha deve ser acolhido com humanismo não
podemos ver nessas pessoas um pretexto para resolver um problema.”
E acrescentou que “O
que também não pode acontecer é a propósito desta crise humanitária, como disse
o secretário-geral do PS, é nisso encontrar um pretexto para o combate à
desertificação, porque isso é que também não lembra a ninguém”.
Entretanto, no jantar-debate sobre o futuro da
Europa, que abriu a Escola de Quadros do CDS-PP, em Ofir, o vice-presidente do
PSD e ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, sublinhou, por seu lado,
que não se deve associar à responsabilidade de acolhimento de refugiados uma
“oportunidade económica”.
Na
sexta-feira (ontem) Costa respondeu às críticas: “A política de apoio aos
refugiados não é a política de caridade, abrindo-se fronteiras para se colocar
pessoas em campos de refugiados e dando um prato para as pessoas se
alimentarem. É preciso dar novas oportunidades de vida.” Respondendo a
perguntas de jornalistas sobre campos de concentração sublinhou que ele pessoalmente,
já os visitara em Ceuta e Melila (Espanha) e na Jordânia (um campo com 300 mil
pessoas).
“Mas nem todos os refugiados têm estudos
superiores”, disse. E referiu-se depois à conjuntura nacional marcada pela
emigração de muitos quadros superiores portugueses, lamentando que haja neste
momento “pouco emprego qualificado para oferecer”. “Nem para os nossos”,
salientou. “Não se trata de trabalhos forçados, não é obrigar alguém a fazer um
trabalho para o qual não tem vocação", disse Costa. "Mas alguém julga
que os refugiados são só altos quadros científicos? E não são só sírios."
Desgraçados
que perderam família, bens e pertences para fugir de injúrias, agressões,
mortes e decapitações, vão ficar confrontados com quezílias, disputas
políticas e minhoquices tão do agrado
dos portugueses. O busílises da questão é que não podem voltar.
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