Insólito
Por João Paulo Guerra
Portugal cada vez se parece mais com a caricatura de um país: o que se faz é essencialmente para o boneco. Agora é a PSP que vai passar a prender por quotas.
JÁ HAVIA LEIS para tapar buracos logísticos do sistema prisional. Agora há políticas de segurança e combate à criminalidade que funcionam para as estatísticas. O JN de ontem dava exemplos: nos termos de instruções passadas a escrito, a Esquadra da PSP da Rua da Boavista, no Porto, vai ter que prender 250 até ao fim do ano.
Ou seja: a política de combate à criminalidade deixa de se fazer em função do crime mas sim para apresentar serviço. A esquadra da Rua da Boavista tem que prender 250 desde Fevereiro até Dezembro, quer haja criminalidade que o justifique ou não. Se a meta pecar por defeito arrebanham-se uns tantos inocentes para a cadeia. E se o objectivo for cumprido lá para o Verão, a esquadra entra em velocidade de cruzeiro e dedica-se essencialmente a ajudar velhinhas a atravessar as ruas.
Já havia sinais inequívocos, por exemplo na educação, de que muitas das políticas passaram a ter como objectivos a exposição e o espavento. Mas o exemplo agora trazido a público em matéria de segurança e de combate à criminalidade, revela uma verdadeira política de cabo de esquadra.
O aparelho político e a máquina burocrática que dirigem o país entraram em paranóia com a definição de objectivos, o estabelecimento de metas, o traçado de alvos e a avaliação de tudo isto. Deve haver departamentos do Estado que não fazem mais nada que avaliar-se, responder a papeletas e preencher formulários. Agora chegou a vez das esquadras de polícia: a da Rua da Boavista, no Porto, tem que prender 250 em 10 meses, 25 ao mês, ou seja 83 centésimos de preso ao dia.
Se ao menos taxassem o ridículo...
«DE» de 28 de Abril de 2009
Etiquetas: autor convidado, JPG
1 Comments:
Esta democracia untuosa
de moralismos degradantes,
é, na sua essência, desvirtuosa
e de eixos trucidantes!
O acessório é promovido
ultrapassando o essencial,
neste país desprovido
de bem-estar social.
O mexilhão inteligente
e preocupado com a democracia,
considera negligente
tanta política iliteracia!
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