1.4.11

Livre

Por João Paulo Guerra

E PRONTO, lá se arranjou uma estrangeirinha para não celebrar o 25 de Abril na Assembleia da República.

É sabido que nessa data a Assembleia estará dissolvida e só funcionará a Comissão Permanente. Mas, querendo, a Assembleia reunia a Comissão, que convidava o chefe de Estado, outros dignitários e mais os senhores deputados - tão dissolvidos como os seus pares permanentes - e fazia-se a festa. Só que uma parte da Assembleia não quer.

Há políticos que não desperdiçam uma oportunidade para mostrar que têm alguma vergonha do 25 de Abril. Quando, em verdade, o 25 de Abril é que tem razões para ter vergonha deles. Todas as razões e mais algumas. São todos aqueles, eleitos ou nomeados porque Abril existiu, e apesar de tudo ainda existe, que em vez do «País mais justo e mais fraterno» fizeram de Portugal uma República de predadores e de presas, um País desigual, uma sociedade na qual, como diria Almeida Garrett, cada vez mais pobres ajudam a fazer cada vez menos ricos mas ainda mais ricos. Exemplo do carácter do político envergonhado: Passos Coelho, novel líder do PSD, abriu a pré-campanha eleitoral atestando que não é «culpado de nada» pois nunca esteve no governo. O que, sendo verdade, é uma facada nas costas do partido que, ao longo da democracia portuguesa, esteve dezassete anos inteiros à frente dos destinos do País, sem contar com os dois anos do Bloco Central, onde governou a meias com o PS, nem com os executivos de iniciativa presidencial - Mota Pinto a primeiro-ministro - mais os governos provisórios.

Claro que resta sempre a comemoração do 25 de Abril nas ruas, que foi onde se fez o original e é onde se celebra sem constrangimentos nem imposições. «Porque é livre como o vento. Porque é livre», diria Carlos de Oliveira.
«DE» de 1 Abr 11

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