3.4.11

O direito à palavra até para os imbecis

Por Ferreira Fernandes

HÁ 15 DIAS, na sua igreja cristã, na Florida, o pastor Terry Jones fez um simulacro de julgamento do Alcorão, condenou o livro à morte e queimou-o. Como se vê, o pastor Terry Jones é um imbecil.
Há uma interpretação popular da teoria do caos, segundo a qual o simples bater das asas de uma borboleta pode causar um furacão no outro lado do mundo. Transportado para os noticiários modernos é assim: queimar o Alcorão pode causar motins nos países muçulmanos. De facto, o quartel-general da ONU no Afeganistão foi atacado por uma turba incitada por talibãs, a pretexto da blasfémia de Jones. Morreram 12 pessoas. O pastor Terry Jones não podia dizer que desconhecia o efeito borboleta do seu acto porque já prometera queimar o Alcorão no aniversário do 11 de Setembro e recuara por causa das prováveis retaliações. Então, o pastor é responsável pelas mortes nos motins desta semana? Não, os responsáveis pelas mortes são os assassinos que mataram no ataque no Afeganistão. Ponto.
Lembro outro Terry Jones, um dos grandes do grupo humorista Monty Python. Foi ele o realizador do filme A Vida de Brian, por muitos considerado blasfemo, sobre Jesus Cristo.
Há uma semelhança nos Terry Jones: ambos exerceram o seu direito em expressar-se. E há duas diferenças entre eles. A primeira é que um é imbecil; e o outro, artista genial. A segunda é que um blasfemou contra quem mata; o outro, não.
«DN» de 3 Abr 11

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