Tempos de falar pouco e bem
Por Ferreira Fernandes
MAIS DO QUE a distância assinalada pelo ACP - Lisboa a Londres: 2280 quilómetros -, há que sair do metropolitano em Piccadilly Circus e na Praça de Espanha para sabermos o que vai de aqui, ali. Ali, ouve-se: "Mind the gap." Aqui: "Atenção ao espaço entre a carruagem e o cais." Eles resolvem com dez caracteres o que nós só com 36.
Adoramos palha vã: mesmo quando temos uma palavra curta (chamávamos, até 1995, "Palhavã" à estação) apressamo-nos a pô-la maior, "Praça de Espanha". Tirando o País de Gales (os galeses tinham uma estação de comboio chamada Gorsafwddcha'idraigodanheddogledd-ollônpenrhynareurdraethceredigion) não deve haver gente mais verborreica do que nós.
Daí que talvez sejam promissoras, nestes dias de sucessivas más notícias, duas decisões políticas. Cavaco Silva: "Vou ser mais contido nos comentários." E dois partidos (por enquanto, dois) já disseram que não vão ter outdoors na campanha eleitoral. São dois movimentos na boa direcção de diminuir o verbo (embora, nos outdoors seja mais por falta de verba).
Mas quero deixar um alerta. O óptimo não é o silêncio, é o uso criterioso da palavra. Eu não quero políticos calados. Quero-os a dizer: "Mind the gap". De forma tão clara que saibamos dar um passo em frente sem cair num buraco.
«DN» de 2 Abr 11MAIS DO QUE a distância assinalada pelo ACP - Lisboa a Londres: 2280 quilómetros -, há que sair do metropolitano em Piccadilly Circus e na Praça de Espanha para sabermos o que vai de aqui, ali. Ali, ouve-se: "Mind the gap." Aqui: "Atenção ao espaço entre a carruagem e o cais." Eles resolvem com dez caracteres o que nós só com 36.
Adoramos palha vã: mesmo quando temos uma palavra curta (chamávamos, até 1995, "Palhavã" à estação) apressamo-nos a pô-la maior, "Praça de Espanha". Tirando o País de Gales (os galeses tinham uma estação de comboio chamada Gorsafwddcha'idraigodanheddogledd-ollônpenrhynareurdraethceredigion) não deve haver gente mais verborreica do que nós.
Daí que talvez sejam promissoras, nestes dias de sucessivas más notícias, duas decisões políticas. Cavaco Silva: "Vou ser mais contido nos comentários." E dois partidos (por enquanto, dois) já disseram que não vão ter outdoors na campanha eleitoral. São dois movimentos na boa direcção de diminuir o verbo (embora, nos outdoors seja mais por falta de verba).
Mas quero deixar um alerta. O óptimo não é o silêncio, é o uso criterioso da palavra. Eu não quero políticos calados. Quero-os a dizer: "Mind the gap". De forma tão clara que saibamos dar um passo em frente sem cair num buraco.
Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
Falar pouco e bem, nestes tempos de incontida verborreia política, é o mesmo que exigir, bom e barato.
Os nossos políticos devem ter-se convencido que se os padres com os seus sermões e as suas ladaínhas, convenciam as mansas (e analfabetas) ovelhas do seu rebanho, a ir pelo caminho que mais lhes convinha (e à igreja), também eles, imensamente mais espertos... perdão, inteligentes, serão capazes de as (às ovelhas) conduzir ao prado (voto) mais fértil e verdejante.
Claro está, que quanto mais gordinhas es tiverem as ovelhinhas e mais borreguinhos criarem, maior será o proveito do maioral.
Em inglês, a nossa simples "acetona" transforma-se em "nail polish remover". Também não me parece curto.
O que se diz no Metro, como em tantos lugares, é fruto do medo de inovar, de criar algo novo e desconhecido mas prático, eficaz e que facilmente se torne habitual.
Só a propaganda política desmesurada e que toma todos os dias como 1 de Abril é que está sempre muito criativamente a inovar novos tipos de casca de banana para pôr por debaixo dos pés dos demais. E não nos escapamos a que isso venha de qualquer cor política.
Enviar um comentário
<< Home