1.11.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

O PLANO de redução de custos e semiprivatização da RTP, esta semana aprovado pelo ministro Miguel Relvas, não passa de um enorme logro.

Que não resolve a questão de fundo: as centenas de milhões de euros enterrados todos os anos num mirífico ‘serviço público’ que ninguém é capaz de definir (e no qual podem caber desde jogos de futebol e touradas a filmes de terceiro escalão...). E que só agrava a crise do mercado televisivo, ao prever quatro canais generalistas com publicidade.

Privatizar um dos canais, diz o plano do ministro, vai poupar 40 milhões de euros nos custos. 40 milhões?! Pouco mais de 10% dos 300 milhões que o sorvedouro da RTP suga anualmente aos contribuintes portugueses?! Só pode ser brincadeira.

A QUESTÃO é bem mais simples do que a querem fazer. Hoje em dia, quase nada distingue a RTP1 da TVI ou da SIC. A nível de entretenimento (com concursos como O Preço Certo), a RTP1 é, em qualidade e criatividade, igual ou pior do que os canais privados. A nível de informação, a RTP1 sempre foi menos isenta e mais alinhada com a cor dos Governos de serviço (o caso do Prós e Contras é paradigmático do óbvio condicionamento ao poder político em funções) e mais oficiosa e maçadora na análise e debates políticos (com inenarráveis miniparlamentos de figuras partidárias de terceira linha).

Nada justifica, pois, a manutenção da RTP1 e os cerca de 200 milhões de euros que custa ao erário público. Se não se consegue privatizá-la ou se se teme que canibalize o mercado publicitário, então feche-se, pura e simplesmente, a RTP1. O que se poupa justifica amplamente o pouco que se perde, face a uma oferta cada vez maior de excelentes canais por cabo.

O verdadeiro serviço público da RTP resume-se à RTP Internacional, à RTP África, eventualmente à RTP Informação e a algumas delegações regionais. Que, no total, contando já com os arquivos e as novas tecnologias, não custarão mais de 50 milhões de euros. Ou seja, 1/6 dos actuais custos. Mas o Governo, ao que parece, quer continuar a gastar 150 ou 200 milhões com uma RTP que não será carne nem peixe. Lá saberá porquê...

Miguel Relvas diz que se trata de «um bom exemplo do que deve ser realizado em todo o sector empresarial do Estado». Se o caminho é este, de ficar a meio da ponte e não resolver as questões de fundo, a RTP, é, sim, um péssimo exemplo. E o pior dos sinais.
«SOL» de 28 Out 11

Etiquetas: ,

2 Comments:

Blogger José Batista said...

Pequeno apontamento:

Realmente, a RTP é um canal (caneiro?) como os outros. Uma janela de lixo pela casa dentro.
Mas tem sido muito útil para dar emprego a umas quantas pessoas, pagas ultra-principescamente, algumas das quais se tornaram, além de leitores de "notícias" (?), "escritores" de nomeada... O zé burrinho (povo) tudo carrega (paga) e não escouceia (protesta). Se vivesse, o Bordalo Pinheiro teria que refazer o boneco que lhe deu fama, transformando-o talvez num quadrúpede orelhudo rastejante; e nada de manguitos...
Um bom exemplo do serviço público televisivo foi, sem dúvida, o "prós e prós e prós" da senhora dona Campos Ferreira. Os que respeitaram ao sistema de ensino foram paradigmáticos, a começar pelas "imensas" figuras que ocupavam as primeiras filas, onde pontificou o indómito, esclarecido, profundo e exemplar Valter Lemos, muito bem integrado na restante comandita. A apresentadora levava aquilo tão a peito que cheguei a admitir que viesse a integrar alguma possível lista de condecorados num especial "dia da raça". Foi um enjoo (um vómito). Fiquei vacinado. E nunca mais vi.

1 de novembro de 2011 às 13:11  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Poder-se-ia referir a velha frase: «Poupar tostões como se fossem milhões, e depois gastar milhões como se fossem tostões», mas há melhor do que isso:

E se em vez de comparar os 40 milhões com os 300 milhões, comparasse os 300 com os 6 mil milhões da Madeira - de que, curiosamente, quase ninguém fala?

É que esta verba, só por si, é cerca do triplo do que o Estado vai poupar com os cortes dos subsídios de Natal e de férias.

2 de novembro de 2011 às 12:43  

Enviar um comentário

<< Home