Frase cúmplice de tantas mortes
Por Ferreira Fernandes
MORTES causadas por cães perigosos, repetidas e repetidas.
Ainda há
dias, nem duas semanas, titulei, aqui: "Então, até à próxima menina..."
Ou até outra pessoa com azar cruzar as bestas.
Anteontem, em Matosinhos,
a morta era mãe do dono do cão assassino. E, por essa relação, dei-me
conta de que faltou qualquer coisa. Sempre que há uma morte destas, as
caixas de comentários dos jornais enchem-se da frase "não há cães
perigosos, há é donos que blá-blá-blá..." Desta vez também não falhou,
lá apareceu, ontem, centenas de vezes. Mas não houve um só comentário
assim: "Não há filhos perigosos, há é mães que não os souberam educar."
Seria de esperar, numa situação de um evidente filho perigoso - que tem
num apartamento um cão cruzado de pittbull e leão-da-rodésia -, que
houvesse comentários que tentassem desculpar essa perigosidade com a
falta de adestramento em pequeno. Mas não, ninguém escreveu: "Não há
filhos perigosos, há é mães que não os souberam educar."
Sei o porquê de
tantos comentários tirando a culpa dos cães perigosos e nenhum do filho
perigoso. É que cães perigosos são negócio e filhos perigosos, não (na
Internet ninguém propõe, com foto fofa, "meigos filhos perigosos, 300
euros").
Cães perigosos são negócio e, daí, a campanha contumaz da
famigerada frase, cúmplice de tantas mortes. Há cães perigosos, sim, sem
mas nem meio mas, perigosos como granadas. E a eliminar do nosso
quotidiano civilizado, como as granadas.
«DN» de 26 Ago 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home