26.8.12

Frase cúmplice de tantas mortes

Por Ferreira Fernandes
MORTES causadas por cães perigosos, repetidas e repetidas. 
Ainda há dias, nem duas semanas, titulei, aqui: "Então, até à próxima menina..." Ou até outra pessoa com azar cruzar as bestas. 
Anteontem, em Matosinhos, a morta era mãe do dono do cão assassino. E, por essa relação, dei-me conta de que faltou qualquer coisa. Sempre que há uma morte destas, as caixas de comentários dos jornais enchem-se da frase "não há cães perigosos, há é donos que blá-blá-blá..." Desta vez também não falhou, lá apareceu, ontem, centenas de vezes. Mas não houve um só comentário assim: "Não há filhos perigosos, há é mães que não os souberam educar." 
Seria de esperar, numa situação de um evidente filho perigoso - que tem num apartamento um cão cruzado de pittbull e leão-da-rodésia -, que houvesse comentários que tentassem desculpar essa perigosidade com a falta de adestramento em pequeno. Mas não, ninguém escreveu: "Não há filhos perigosos, há é mães que não os souberam educar." 
Sei o porquê de tantos comentários tirando a culpa dos cães perigosos e nenhum do filho perigoso. É que cães perigosos são negócio e filhos perigosos, não (na Internet ninguém propõe, com foto fofa, "meigos filhos perigosos, 300 euros"). 
Cães perigosos são negócio e, daí, a campanha contumaz da famigerada frase, cúmplice de tantas mortes. Há cães perigosos, sim, sem mas nem meio mas, perigosos como granadas. E a eliminar do nosso quotidiano civilizado, como as granadas. 
«DN» de 26 Ago 12

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