A data de hoje explica hoje
FAZ hoje meio século uma tragédia: a 5 de julho de 1962, a Argélia
tornou-se independente. A tragédia não foi a independência, que era uma
inevitabilidade e uma justiça, mas foi o rancor dos dois lados com que
foi feita a ruptura.
A Argélia é o maior país do Mediterrâneo, do mar
que deveria ser a ponte entre duas margens. O passado muito antigo do
país, dos berberes romanizados e a pátria do africano Santo Agostinho, e
o tipo de colonização do passado recente, com centenas de milhares de
"pieds-noirs", argelinos de origem europeia que tinham a Argélia como a
sua terra, podia destinar o país, com a independência, a ser o pólo
dinamizador do Mediterrâneo das civilizações. Mas já nesse dia de há 50
anos se sabia que a Argélia não seria isso. Uma guerra cruel afastou
franceses e argelinos. Do lado francês, falhou tudo, dos centuriões que
apostavam na guerra como solução à incapacidade da classe política, com
De Gaulle, depois de navegar às curvas, a querer desfazer-se da colónia e
rapidamente (a Louis Joxe que negociava com os independentistas
garantias para os "pieds-noirs", ordenou que não se preocupasse com
esses simples "pormenores" e assinasse logo). Do lado argelino, os
jovens turcos da FLN já tinham afastado o moderado Ferhat Abbas e
aprontavam uma Argélia só islâmica e de fala árabe.
Marselha e Argel,
que deveriam ser pilares da mesma ponte, deixaram de se encarar.
Perdemos todos. E ainda não vimos nada.
«DN» de 5 Jul 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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