31.8.21

No "Correio de Lagos" de Agosto de 2021

 

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29.8.21

No "Correio de Lagos" de Agosto de 2021

 

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28.8.21

Grande Angular - Provavelmente…

Por António Barreto
Dizem que as autárquicas são centenas de eleições locais: cerca de 300 municípios e 3 000 freguesias. É verdade. Mas também é certo que têm sempre significado nacional, dependem muito de um ambiente e de uma tendência. Assim será dentro de poucas semanas. Apesar de locais, as conclusões vão ser sobretudo nacionais. Como sempre, os que perdem dirão que as verdadeiras eleições são as legislativas. Os que ganham garantirão que esta foi a primeira volta das legislativas. O governo tem a desculpa do poder: se ganhar, foi graças à obra feita; se não ganhar, foi apesar da obra feita; se perder, será por causa das dificuldades. São lugares comuns. Como tal, verdadeiros. E inúteis.

Tudo somado e repensado, a vitória dos socialistas é previsível. Perderão algumas câmaras, não se sabe se ganham outras. No cômputo geral, o partido vai poder dizer que foi uma grande vitória obtida em condições difíceis de pandemia, de crise económica mundial, de inquietação generalizada, de alarme perante as alterações climáticas e de enorme ansiedade decorrente da derrota ocidental no Afeganistão. Na verdade, ninguém, entre forças políticas, estará à altura de mostrar as deficiências dos socialistas, nem de com eles rivalizar.

Os socialistas exercem uma rara preponderância na administração económica e social, no seio das actividades culturais, na comunicação social e no universo das relações públicas e de imprensa. A ajuda da esquerda mais radical, nos sindicatos e na imprensa, tem-se revelado indispensável para a paz social que parece reinar. Na educação, apesar da mediocridade de resultados, o império das esquerdas entre docentes tem contribuído de modo indelével para o ambiente cordial que se vive.

As medonhas responsabilidades dos socialistas aparecem estranhamente diluídas na pandemia. Mas sabemos que os socialistas têm uma pesada quota parte no adiamento de soluções, na degradação de problemas e na manutenção de questões como as do BES, do Banco Novo, do BCP, da TAP, do Aeroporto do Montijo barra Alcochete barra OTA barra incerteza, da CP, da EDP, das barragens hidroeléctricas, das Parcerias Público Privadas, da PT e do julgamento dos casos de corrupção e branqueamento. Mau grado persistir em acusar os governos anteriores, o PS sabe que já é autor ou co-autor de todos estes problemas.

As enormes dificuldades económicas e financeiras, incluindo as que decorrem da pandemia e da respectiva recessão, são vistas como inevitáveis e parece poder pensar-se que se os socialistas não fizeram mais e melhor foi porque realmente não puderam. Apesar da partilha, da co-autoria e da cumplicidade absoluta dos actuais dirigentes com os dos tempos de Sócrates, os socialistas gozam de uma espécie de áurea divina e de impunidade que constituem êxito inédito na história política recente do país.

O verdadeiro génio de António Costa é o da gestão política. Deve-se-lhe o ascendente sobre a imprensa e a comunicação. Assim como a absolvição dos socialistas no fiasco na luta contra a corrupção e o nepotismo. Com estes trunfos e com um domínio incontestável do seu partido, António Costa é o principal responsável pela estabilidade política. É sabido que esta é também uma virtude. Não vale todas as virtudes, mas é em si um trunfo de indiscutível valia. E substitui-se a um pensamento para o país. 

O congresso do PS deste fim-de-semana situa-se entre a entronização, a epifania e a acção de graças. Vai confirmar um vencedor. Adiar as lutas internas por mais uns anos. Preparar o partido para a vitória das próximas legislativas. Aprovar a verdadeira política de armadilha e chantagem que tanto fez sofrer os seus aliados de esquerda. E abençoar a estratégia vencedora que é a da ausência de estratégia nacional.

O Partido Socialista tem conseguido perpetuar e manter a política de terra queimada. À sua volta, nada existe. Ou pouco. Ou dependentes. Ou queixumes dos que se deixaram enganar e atrair. Esta paz podre agrada aos socialistas que a preferem a ter de se distinguir entre gigantes.

Muitos dos clichés usados para denegrir o Partido Socialista são verdadeiros. Não tem alma, nem ideologia. Não tem doutrina, nem cultura. Não tem estratégia, nem programa. Não tem afecto, nem simpatia. Não tem substância cultural, nem identidade política. Não tem orgulho, nem compaixão. Estes chavões são todos verdadeiros. Mas, no PS, não são defeitos. São virtudes. Provavelmente.

Hoje, o PS vai a congresso, amanhã a eleições autárquicas, depois à governação e a seguir, quem sabe, a nova vitória eleitoral e a novo mandato de governo. Não vê rivais consistentes. Tem as melhores sondagens possíveis. Vê, diante de si, largas avenidas de novos êxitos políticos. Pode facilmente imaginar recordes de tempo de governação, de mandatos camarários, de atracção de simpatizantes e de alas de vénias agradecidas. É difícil, quase impossível, imaginar quem o bata. Com uma incalculável massa de dependentes e com os maiores cofres do financiamento europeu, o PS prepara-se para mais uma temporada na via imperial do sucesso. A ausência de adversários à altura é aflitiva, não por sancionar quem merece, mas porque provoca um estado de letargia incurável. De que sofre todo o país.

Até agora, o Partido Socialista do século XXI não ficará na história por um legado importante de reformas políticas e sociais, nem por um extraordinário impulso na educação, muito menos por um desenvolvimento da cultura e do património, nem por uma acção determinada de combate à desigualdade social. Também não será recordado pela luta contra a corrupção, pela diligência na justiça económica, nem pela melhoria da acção de investigação, prevenção e julgamento dos crimes ditos de colarinho branco e de apropriação ou dilapidação de bens públicos. 

O Partido Socialista do século XXI merece os louros do melhor gestor da política, de superior atracção de simpatias, do mais eficaz distribuidor de funções, cargos e mandatos, do mais persuasivo apaziguador de reivindicações, do mais seguro criador de expectativas entre os seus aliados e do mais rápido desarme dos seus rivais. 

Sem maioria eleitoral, sem programa convincente, sem estratégia conhecida, sem resultados económicos consolidados, sem melhoramento social notório e sem legado cultural de qualquer espécie, o PS vai ganhar as próximas eleições e durar os próximos anos. Provavelmente.

Público, 28.8.2021

 

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27.8.21

No "Correio de Lagos" de Agosto de 2021

 

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SEMPRE FINITOS, SEMPRE PROVISÓRIOS

Por Joaquim Letria

Embora sentindo a falta duma dimensão mais solidária, dificilmente toleraríamos voltar a viver em comunidades que sacrificassem a nossa independência, o nosso individualismo como pessoas.

É compreensível que pessoas insatisfeitas se sintam consternadas perante este quadro. No entanto, por maior que seja o seu desânimo, é necessário que permaneçam atentas e estudem os fenómenos que possam indicar novas tendências ou novas potencialidades interessantes.

A disponibilidade para observar com real interesse tudo o que se passa num vasto espectro de expressões culturais não significa que avalizemos tudo o que vemos nem concordemos, de maneira oportunista, com tudo o que ouvimos. Seria um  contra-senso fingirmos ou pretendermos não ter preferências, nem manifestar a nossa própria opinião.

Ao dialogarmos com todas as tendências, assumimos a nossa posição subjectiva e, naturalmente, manifestamos a nossa opção pelos valores que ultrapassam a fronteira da precariedade.

O homem moderno tem de se reconhecer provisório. Como dizia Marx, diante de nós tudo se volatiliza, tudo o que é sólido se pulveriza no ar. Todavia, através das nossas criações culturais, finitos como somos, reinventamo-nos sem cessar. É a nossa única forma de reagirmos contra a dissolução e a única maneira de, renovando-nos, podermos perdurar.

Publicado no Minho Digital

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26.8.21

Afeganistão – Os dez dias que abalaram o Ocidente

Por C. B. Esperança

Seria preciso o talento e entusiasmo de Jonhn Reed, a descrever os acontecimentos da cidade de Petrogrado durante a Revolução russa de 1917, em “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, para agora, transformado o entusiamo em raiva, alguém fazer dos dez dias que abalaram o Ocidente uma obra literária daquela dimensão. Aliás, só os talibãs poderiam descrever, em tom épico, a epopeia da sua vitória, se acaso fossem dados à cultura como à fé e à barbárie.

A chegada dos talibãs a Cabul, em apenas 10 dias, foi a confirmação dos receios que as 3 últimas administrações americanas sentiram de uma derrota militar que acabaria por acontecer. Biden foi o executor da retirada que já preconizava na presidência de Obama e que Trump negociou com os talibãs.

O que, nem no pior dos cenários parece terem previsto, foi a rapidez com que os talibãs se fizeram fotografar no Palácio do Governo, em Cabul, uma imagem de enorme valor simbólico da facilidade com que EUA e aliados da Nato foram derrotados.

Enquanto muitos dos que me estão próximos nas ideias se regozijam com a derrota dos EUA e dos aliados da Nato, sinto-me desolado com a tragédia que só agora se acelera.

A vitória da Rússia e da China, especialmente da última, porque a derrota dos inimigos é uma oportunidade acrescida para a emersão da nova liderança mundial, é uma derrota das democracias e da civilização, ainda que a vitória da Rússia e da China seja precária, o islamismo político é um veneno que ambas querem evitar, e os derrotados se possam ter comportado como agressores.

Há de enganar-se amargamente quem, nos países que respeitam os direitos humanos e a democracia, julgar que a derrota dos EUA favorece os valores civilizacionais da Europa do Renascimento, da Revolução Francesa e do Iluminismo.

Não adianta referir que o islamismo deu pensadores como Avicena e Averróis, que, nas Cruzadas, eram selvagens os cristãos e mais civilizados os muçulmanos, que, por cada ato terrorista de inspiração islâmica se exponha o terrorismo cristão ou judaico. O cristianismo foi moldado pelo direito romano, o secularismo e a repressão política sobre o clero, o que tornou possível a laicidade e a democracia, e o islamismo jamais se livrou do direito teocrático. No Islão, o pecado e o crime são a mesma coisa.

Chegaram a Cabul os que odeiam a música e o toucinho, a arte e a liberdade da mulher, o livre-pensamento e a democracia; os que destruíram os Budas de Bamiyan, saquearam o Museu Nacional de Cabul e destruíram o património cultural quando foram poder; os que impediram as mulheres de estudar e as transformaram em propriedade sua como se fossem animais domésticos; os que criaram, quando foram poder, o Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício do Afeganistão.

Alguém imagina a tragédia das mulheres que estudaram e sentiram o cheiro a liberdade, nos últimos vinte anos, a serem abatidas na rua por não usarem burka ou véu islâmico, a verem recusados às filhas o direito à educação e o mínimo de autodeterminação de que beneficiaram nas cidades, agora num campo de concentração tribal e religioso?

Quem, assumindo-se como progressista, pode regozijar-se com a derrota dos EUA e dos seus aliados ocidentais? 

Ponte Europa /Sorumbático

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No "Correio de Lagos" de Agosto de 2021

 

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19.8.21

Crónica de uma morte anunciada

Por C. B. Esperança

Roubo a Gabriel Garcia Marquez o título de um dos seus romances para a prosa que há de surgir do curto passeio pela raia dos países ibéricos nos concelhos de Almeida e Fig.ª de Castelo Rodrigo, onde experimentei a pungência da morte de Santiago Nasar.

Entrar em Vilar Formoso neste mês de agosto é sentir que a pandemia antecipou a morte da vila que aguarda a abertura da autoestrada, já concluída, para deixar de ser a paragem habitual de quem entrava ou saía de Portugal. Já não se veem emigrantes nem turistas.

O Hotel Lusitano, junto à fronteira onde resiste a estrutura que assinala ainda a mudança de país, exibe três estrelas empalidecidas, com o bar a servir cafés a sessenta cêntimos e o restaurante com refeições turísticas de oito euros, à espera de clientes que já rareiam.

Na estrada interior, a Zá-Zá, onde vinham excursões de espanhóis a fazer compras, está quase vazia, e milagre seria que a imensa casa, com as mais diversificadas ofertas, se mantivesse aberta no próximo ano.

Em Fuentes de Oñoro, a mesma sorte ameaça a povoação. As bombas de combustíveis, substancialmente mais baratos, onde havia enormes filas automóveis, esperam agora os que param. O quiosque onde o Marcelo me guardava o El País e eu parava à conversa com o amigo republicano, jubilou-se antes da pandemia. Ficou a simpática jovem que já ali trabalhava e dava notícias do colega. Durante a pandemia encerrou definitivamente.

Resta-me recordar a simpática jovem e o Marcelo que me recebia com um largo sorriso quando, após a eleição do atual PR para o primeiro mandato, passei a chamá-lo Marcelo Bueno, para o distinguir, acrescentando-lhe o apelido da minha lavra. Desapareceram os jornais, as revistas e as pessoas.

Fui a Ciudad Rodrigo, cuja Praça Maior regurgitava de gente, sem mesas vagas. Não vi, no último sábado, onde comprar um jornal. Disseram-me onde o encontraria, só depois das ‘cinco de la tarde’, quatro em Portugal. Triste prenúncio do fim da imprensa impressa, numa cidade!

Voltei a Fuentes e percorri a estrada raiana enjeitando as entradas por Vale de la Mula e S. Pedro do Rio Seco. Aldea del Obispo e Boza tinham ruas vazias. Entrei por Escarigo e atravessei a Vermiosa e Malpartida no regresso a Almeida. Se o calendário não garantisse ser o mês de agosto, havia de pensar que era um dia de qualquer outro mês.

Há quatro décadas dizia-se que era urgente levar boas estradas e saneamento às aldeias para fixar as populações, e as estradas levaram as pessoas que havia. Não vieram outras.

Em Almeida, a funerária é o estabelecimento dentro das muralhas, a vinte metros do lar de idosos da Misericórdia, que abre todos os dias, mas também há de fechar porque não há gente nova para tornar-se velha e os velhos hão de extinguir-se.

Triste sina de terras, outrora cheias de vida, agora silenciosos armazéns de velhos!

Almeida, 11 de agosto de 2021

Ponte EuropaSorumbátco

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14.8.21

Grande Angular - Os desastres da demografia

Por António Barreto

Os portugueses comovem-se! Os dados do INE relativos à população actual confirmam o que já se conhecia: a população portuguesa está a diminuir! Não é a primeira vez que isto acontece, já tinha ocorrido nos anos 1960, aquando da grande hemorragia da emigração. Mas agora, depois de tantos progressos, é desanimador, para uns, inquietante, para outros. Em 2021, a população é igual à de 2000. Parece haver um paralelismo: vinte anos sem crescimento económico foram também vinte anos sem crescimento demográfico!

Os dados são simples. A população total está a diminuir. Os saldos naturais (diferença entre nascimentos e óbitos) estão a ficar consistentemente negativos. Os saldos migratórios (diferença entre emigrantes e imigrantes) são, em grande parte, negativos. Natalidade e fecundidade persistem na redução.

Outros dados escurecem as já sombrias cores da nossa demografia. O número de pessoas a viver sozinhas continua a aumentar. Tal como aumentam as famílias sem filhos e as famílias monoparentais (filhos e só a mãe ou só o pai). Diminui ainda o número de filhos por agregado familiar.

Os portugueses receiam os perigos de extinção daqui a umas décadas. Desaparecimento de Portugal ou dos Portugueses. Ou de ambos. Por outras palavras, o país e a população que ocupam este território serão bem diferentes do que são hoje. Dentro de algumas décadas, o nome do país, a nacionalidade e a origem étnica dos seus habitantes, a cultura e a língua dos seus cidadãos poderão ser muito diferentes do que conhecemos.

Esta tendência é geralmente considerada negativa. Fala-se de “inverno demográfico”, de “declínio populacional” e de “desistência nacional”. Por isso é tão frequente ouvir dizer que este é o mais grave problema nacional, que não deveria ser ofuscado por outros, a bancarrota, o endividamento, o desemprego, a pobreza, o racismo, a pandemia e as alterações climáticas. Sem escala de gravidade, o problema demográfico é mesmo muito importante, prioritário e grave, qualquer que seja a perspectiva.

 

Mas convém não perder de vista umas realidades simples. Primeira, na maior parte dos países do mundo, o problema é o da sobrepopulação e de altas natalidades, para o que se gastam milhões de recursos, pessoas e programas de controlo de nascimento e de contracepção. Segunda, dezenas de países estão a perder população. Portugal está longe de ser o único. Terceira, não é seguro que aumentar a população seja uma necessidade e um melhoramento.

De qualquer maneira, perante o “declínio dos Portugueses” e diante da ameaça de “desaparecimento de Portugal”, muitos são os que pensam nos remédios. No que se deve fazer. Como reter portugueses em Portugal? Como favorecer a natalidade dos portugueses? Como fomentar a fecundidade? Como convencer os portugueses a fazer filhos? Como arranjar emprego para toda a gente? Como travar a emigração? Como favorecer a imigração e a miscigenação?

Todas estas perguntas são excelentes. Mas partem de uma princípio incerto: é melhor ter mais portugueses. Aumentar o número de portugueses? Porquê? Impedir o decréscimo do número de portugueses? Porquê? Evitar o desaparecimento dos portugueses? Que quer isso dizer? Porquê? E como aumentar o número de portugueses? Com ou sem imigrantes? Com ou sem mistura? Com que imigrantes? De que cor, de que etnia e de que continente? Mas então, o que faz ser português? Pretende-se simplesmente aumentar o número dos que aqui vivem e elevar o número de portugueses “clássicos” de acordo com critérios culturais e étnicos?

Como se pode ver, estas perguntas exigem repostas difíceis, a maior parte delas controversas, contraditórias mesmo. Quem quer travar a emigração deve fazê-lo de autoridade ou oferecer bons empregos e rendimentos elevados? Quem quiser compensar a quebra de natalidade pretende agir com abonos e condições de maternidade excepcionais ou recorrer à imigração?

Travar a emigração é muito difícil. Tal objectivo exige crescimento económico, emprego satisfatório, bom salário, bons rendimentos, alguma segurança, estabilidade, habitação decente, boas escolas para os filhos e os netos. Nessas condições, é provável que a emigração diminua. Desde que nos outros países não haja ainda melhores condições, evidentemente. É razoável pensar que, com desenvolvimento e bem-estar, não são os trabalhadores que emigram, mas sim os cientistas, artistas, intelectuais, gestores, técnicos, os investigadores…

Com a natalidade, tudo é mais difícil. Apesar da facilidade com que os demagogos dizem que é possível, travar a sua quebra é dos objectivos mais complexos que a Humanidade conhece! Aumentar a natalidade poderá exigir mais estabilidade, condições favoráveis a projectos de vida, mais rendimentos, mais educação, mais saúde, melhor habitação e mais cultura. Tudo isso parece ser verdade. Só que, quanto mais se tem isso tudo, menor é a natalidade, mais as famílias diminuem, menores são a fecundidade e o número de filhos. É possível que o trabalho a tempo parcial das mulheres ou dos pais em geral ajude. Mas há demonstração estatística de que quase nunca é assim.

Com a natalidade, é tudo complicado. Bom rendimento está relacionado com fraca natalidade. Geralmente, famílias e países com altos níveis de vida têm baixas natalidades. Isto nem sempre é verdade no plano dos países individualmente considerados. Por exemplo, a França, muito mais desenvolvida do que Portugal, tem natalidade superior. Mas a Alemanha, ainda mais desenvolvida do que Portugal e a França, tem natalidade inferior.

Os 90 países com natalidades mais elevadas do mundo são países de África, Ásia e América Latina com níveis de vida muitíssimo inferiores aos dos países com menor natalidade. Os 50 países com mais baixa natalidade do mundo são países da Europa e da América (um ou outro da Ásia), mais ricos e educados! Rendimentos, empregos, estabilidade, cultura e educação ajudam a projectos de vida mais ricos, mas não mais fecundos: quantas vezes esses projectos de vida exigem menos filhos!

Por agora, uma coisa é certa: o objectivo essencial não é o aumento do número de portugueses! O essencial é apoiar quem escolhe, quem quer cá ficar, quem quer cá fazer família e quem quer para cá vir. O objectivo das políticas públicas é o de permitir que cá vivam os que querem cá viver!

Público, 14.8.2021

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13.8.21

EM PORTUGAL HÁ MAIS MULHERES A DAREM SANGUE DO QUE HOMENS

Por Joaquim Letria

Há uma década que o número de dadores e respectivas dádivas de sangue têm vindo a reduzir-se em Portugal. Por isso, o Instituto Português do Sangue e da Transplantação solicita dádivas para retomar a actividade programada nos hospitais públicos, principalmente as cirurgias.

De 2011 até hoje verifica-se uma quebra de cerca de 12 mil dadores. Numa década houve menos 131 616 dádivas e menos 104 970 dadores a participarem nas colheitas.

Entretanto, verificou-se agora, e pela primeira vez, uma proporção maior de dadores do sexo feminino. 50,42% dos dadores foram mulheres, enquanto o número de homens ficou pelos 49,58%.

Quanto aos grupos etários mantem-se a tendência de dadores nos grupos etários dos 18 aos 24 anos de idade e dos 45 aos 65 anos, com uma clara diminuição dos dadores do grupo etário dos 25 aos 44 anos.

Dar sangue é uma nobre actividade, essencial ao salvamento de vidas e auxílio à medicina pública e privada.

Publicado no Minho Digital

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12.8.21

Que belo país o meu!

Por C. B. Esperança

Quem, como eu, pensava, com algum humor e maior apreensão, que o coronavírus fora desenhado para matar a partir dos 66 anos e 4 meses, a idade que então vigorava para as reforhttps://ponteeuropa.blogspot.com/2021/08/que-belo-pais-o-meu_0983721944.htmlmas, assistiu atónito à opção de salvar os mais velhos em detrimento da segurança social e da produtividade.

Ao ver contrariar a lógica do lucro, a ilusão do crescimento perpétuo do PIB, a ideia de que a felicidade e a riqueza são sinónimas, sinto-me grato a um Estado que ainda me quer vivo aos 78 anos.

Até a Europa de que sou orgulhoso cidadão, a Europa laica e republicana, a herdeira do Renascimento, do Iluminismo e da Revolução Francesa, deu o exemplo de solidariedade na compra comum de vacinas e no esforço coletivo de impedir o colapso das economias mais débeis.

Sabendo que Portugal vacinou ainda poucos jovens adultos, mas raros países vacinaram tanto os mais velhos, sinto redobrado orgulho, não pelo benefício próprio, pelo exemplo que constitui.

Um país mais próximo de Marrocos do que da França, que em 4 décadas passou de 4 anos de escolaridade obrigatória para 12, que criou o SNS, cuja qualidade não teme confronto com o dos países mais avançados, que deixou de ser só de emigrantes para se tornar um país de acolhimento, que integrou 1 milhão de retornados e terminou a guerra colonial, que já leva em democracia quase tantos anos como os que sofreu de ditadura, penso que é um país onde vale a pena viver, e merece ser defendido de quem o denigre.

Num país sem censura, sem polícia política ou presos políticos, sem tortura, é possível combater quem nos governa sem medo de que nos prendam, torturem ou ostracizem.

Podem os nostálgicos e herdeiros do fascismo sentir comichão e azia, podem até ser os agentes do regresso, mas o exemplo do Portugal democrático há de perdurar, e os anos de democracia serão sempre o fermento para novas madrugadas.

Que belo país o meu!

Ponte Europa / Sorumbático

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7.8.21

Grande Angular - Tempo de decisões

Por António Barreto

Preparemo-nos para uma longa caminhada. Que teremos de percorrer sem conhecer as dificuldades, muito menos o resultado. Preparemo-nos para decisões difíceis. É verdade que todos os tempos são decisivos, é o que se aprende com a política. Mas há os que são mais do que outros. Estamos agora, como outras vezes na nossa vida recente, em tempo de escolhas especialmente importantes. Comparáveis às que tivemos de fazer com a Constituição e o regime democrático; ou com a adesão à Comunidade Europeia. Com várias eleições e outros tantos orçamentos à nossa frente, com um poderoso programa europeu de ajuda financeira e com vários factores de crise a exigir soluções, chegamos gradualmente ao ponto em que não se pode adiar mais o fundamental: a natureza do regime político e do sistema social e económico. Que parecem consolidados, mas não estão.

Na verdade, são decisões excepcionalmente difíceis, porque as adiámos. Mas também porque difíceis foram os tempos que vivemos neste século XXI. Os portugueses tiveram especialmente má sorte. Ou atravessaram períodos particularmente difíceis. Uns, por responsabilidades suas. Outros, porque a sua origem internacional os ultrapassaram. Mas deve reconhecer-se que se tratou de uma série excepcionalmente difícil ou dolorosa. Os governos de José Sócrates, de triste sina e má fama. A crise financeira internacional e a crise da divida soberana. A quase bancarrota nacional e o grave endividamento público e privado. A assistência internacional e a troika. A pandemia da COVID. Dois períodos de muito intenso desemprego e de elevado número de falências. Muitos outros países partilharam connosco algumas destas crises. Certos povos tiveram mesmo crises diferentes. Mas reconheçamos que nos coube um quinhão particularmente pesado. O que faz com que, em vinte anos, não crescemos, não nos desenvolvemos, nem nos aproximámos da Europa. Em vinte anos, caminhámos para o último lugar da União.

Depois de alguns anos de crescimento, de real desenvolvimento e de melhoria das condições de vida, começámos a verificar que, desde o inicio deste século, as nossas estruturas produtivas eram muito mais frágeis do que se pensava, muito menos eficientes do que se imaginava. Aquilo que se designava, nos anos oitenta, pelo eufemismo “a prosperidade é geral, mas ainda há bolsas de pobreza e de atraso”, era finalmente uma enorme ilusão. Mais depressa se tratava de “a pobreza é geral e só há algumas bolsas de riqueza e de desenvolvimento”.

Com a sucessão das crises do século XXI, a realidade ficou intensamente mais nítida e cruel. São enormes as debilidades do investimento, da criação de novas produções e de novas vias de exportação consolidada. Estas crises mostraram as fragilidades fundamentais da economia e da sociedade e a pobreza de ambas. Tornaram mais visíveis a falta de capital e de ciência, a mediocridade das estruturas empresariais e a fraqueza dos grupos económicos. Sublinharam a reduzida competência do Estado e dos governos. Patentearam a venalidade de tantos políticos democráticos, assim como a corrupção e o nepotismo que parecem ser, entre nós, costumes impunes ou aceitáveis.

Este último aspecto, o da corrupção, do nepotismo e do favoritismo, é particularmente cru, num país com tanta pobreza. A incapacidade do sistema político para combater tais deficiências e a dificuldade da justiça para punir e prevenir são especialmente dolorosas num país tão desigual.

Não é seguro que se confirme em Portugal o velho mito da destruição criadora. Na verdade, algumas das melhores empresas portuguesas, as mais internacionais, as mais produtivas e as mais avançadas foram destruídas ou submetidas a grupos e fundos externos, para os quais a economia e a sociedade portuguesas não são prioridades nem horizontes. É pouco provável que estas boas empresas voltem ou renasçam.

Até agora, resistimos. Ou antes, os portugueses conseguiram sobreviver. Endividados, com muitos desempregados em cada família, sem poupança nem aforro, com enormes dificuldades para encontrar emprego para os filhos que entretanto tiveram mais qualificações e mais instrução, muitos sentiram-se novamente obrigados a recorrer à emigração. Mas resistimos. Sem pôr em causa a coesão nacional, nem as instituições democráticas. Alguns serviços públicos aguentaram e resistiram, com especial relevo para os da saúde. Mesmo se com enorme esforço e com grandes carências.

Para sair das crises, para curar as feridas, para relançar e criar a economia e para finalmente desenvolver, vai ser necessário repensar e partir com novas bases. Os últimos anos mostraram que não se pode nem deve adiar mais. Mostraram que as escolhas são cada vez mais inevitáveis e inadiáveis. Há muito que não estávamos diante de dilemas essenciais. Como poucas vezes no passado, vamos decidir, nos próximos dois a três anos, se queremos ou não ter mercado e iniciativa privada. Se nos organizamos para o desenvolvimento económico. Se damos confiança aos investidores nacionais e estrangeiros. Se somos capazes de novos grandes projectos. Se queremos realmente promover a colaboração do público com o privado. Se queremos cuidar das bases económicas indispensáveis ao Estado social e à sua consolidação. Se estamos ou não à altura de crescer economicamente mais do que os restantes países europeus ou grande parte deles.

Teremos de decidir se somos ou não capazes de criar um poder político que seja capaz das escolhas difíceis e não se submeta à estratégia da duração e às tácticas da manutenção. Teremos em particular de decidir se aceitamos a lógica infernal da esquerda contra a direita e da prioridade aos governos sectários.

Já sabemos que a direita radical quer destruir o regime democrático. Com democracia e com uma estratégia política de interesse comum, é possível impedir tal intento. Já sabemos que a esquerda radical quer apoderar-se do regime democrático. Também é possível impedir tal intenção. O que não parece possível é tentar preservar o regime democrático com aqueles que o querem destruir. Nem com os que dele se querem apoderar.

Público, 7.8.2021

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6.8.21

HUMILDADE

Por Joaquim Letria

Anatole France escreveu que “uma coisa que torna fascinante o pensamento humano é a inquietação”. Da inquietação à curiosidade vai um pequeno passo. A curiosidade, no dizer de Catalina, é quando se ouve o que se quer saber, mas quando se escuta, chega-se a saber muitas vezes mais do que aquilo que inicialmente se propunha ouvir.

Para se tirar bom proveito daquilo que a curiosidade nos faz saber, a razão é indispensável, desde que se manifeste e utilize de forma viva, dinâmica, inquisidora e meditabunda, de modo a assimilar os conhecimentos de maneira a calar e conservar a sua intimidade cordial.

Inocência e razão, infância e maturidade compõem o binómio de que está formada a maravilha a que chamamos género humano. É curioso, por outro lado, como o homem sempre quis minimizar, ou até apagar, os melhores exemplares de si próprio.

Dizia Boileau que a humildade se verifica quando “o mais sábio é aquele que nem remotamente pensa em vir a sê-lo". Humildade, para os povos latinos, é quando “ninguém é sábio em todas as ocasiões”. Humildade, dizia Séneca, é "quando se pode ser sábio em todas as ocasiões”. Humildade, sentenciava Séneca, é quando “se pode ser sábio sem vanglória nem inveja”. Sócrates também se deu ao trabalho desta reflexão criando uma ideia defensiva mas que nos chega até hoje: ”Só sei que nada sei”!

Em síntese e à luz da nossa cultura judaico-cristã é a sabedoria que garante quem “quem se humilhe será exaltado". E como proferia o livro de Job, “viverá em glória”.

Muita gente não acredita em nenhum sábio até o ouvir dizer três vezes “duvido” e duas “não sei”.

Porque não fazer a vontade a esta gente se a Terra pertencerá aos humildes?! Poderemos ser todos felizes ao guardar o que sabemos de outros na nossa intimidade cordial.

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5.8.21

Viagem de fim de férias (Crónica)

Por C. B. Esperança

Com o céu enevoado e as nuvens a anunciarem borrasca, no penúltimo dia de agosto, dei um passeio por velhas aldeias que neste mês voltaram à vida, sobretudo nos dias de festas canónicas, e já se encontram de novo desertas.

Saí de Almeida para comprar umas bolas de carne, na Reigada, para enfeitar a mesa no dia da Feira Nova, em 1 de setembro, destinadas a parentes e amigos que ainda vêm. O forno estava alugado aos de Vilar Formoso para confecionar doces para a festa do dia seguinte. Não faz mal, amanhã é domingo e coze o que hoje devia, o Inferno foi extinto, é preciso ganhar o pão de cada dia, ficaram as bolas encomendadas.

Passei por Vilar Torpim onde não enxerguei vivalma. A aldeia tinha o ar de ter sido habitada em época recente, mas estariam os autóctones fechados em casa, quiçá receosos ainda das lutas liberais.

Tomei café em Figueira de Castelo Rodrigo. Havia afinal gente nos restaurantes, jovens nas esplanadas dos cafés e repuxos a esguichar num lago que há de ter surgido para um autarca ganhar eleições. Havia vida na sede de concelho, até crianças a quem os pais hesitaram entre o gelado e o tabefe acabando por aceder ao pedido e abdicar do desejo. As vilas ainda se mantêm graças à hemorragia das aldeias e aos empregos municipais.

Passei pelo convento de Santa Maria de Aguiar, por Nave Redonda, que me pareceu fechada, e parei junto à barragem de Santa Maria de Aguiar um razoável lençol de água vulgar apesar da santidade do nome que não lhe evita a conversão em charco ou a seca em estios mais cálidos.

Em Almofala, fiel a um velho hábito, entrei na igreja onde duas piedosas mulheres que mudavam as flores aos santos me acenderam as luzes e dois homens desmanchavam os andores de uma festa recente para os despacharem para a sacristia. Não cuidei da destruição castelhana em outubro de 1642 e passei por Escarigo cujo martírio na Guerra da Restauração foi maior sem me deter na igreja matriz cujo teto e talha dourada valem a viagem. Foi José Saramago, em «Viagem a Portugal», que me alertou para essas joias da arte sacra numa aldeia que guarda memórias e afetos da minha juventude.

Apenas me compadeci de uma velhinha de olhos vagos, com a pele curtida de muitos sóis, absorta, indiferente à passagem do automóvel, perscrutando no horizonte o futuro que lhe resta ou recordando o passado que lhe coube. Estava só, na soleira da porta, sem raios de sol que a aquecessem, sentada, com o céu pesado de nuvens.

Alguns quilómetros depois, atravessei a Vermiosa. Apenas um velho, também só, via o tempo passar do banco de pedra onde jazia a bengala que, decerto, lhe serviria de amparo na volta. Mais à frente estava um cão escanzelado, imóvel, indiferente às pulgas e carraças, se acaso as tinha, e milagre era não as ter, resignado, deitado na terra.

Dos dois seres vivos que encontrei na aldeia, outrora pejada de gente, o cão, pequeno rafeiro sofredor, foi a mais eloquente metáfora dos que teimam em ficar nas aldeias que outrora foram um alfobre de gente e são hoje um cemitério de recordações.

Nem dei por passar em Malpartida no regresso a casa. Espero pela Feira Nova que ainda há de juntar gente e partirei logo.

Almeida,  31 de agosto de 2008

Ponte Europa  – Sorumbático 

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2.8.21

PORQUÊ O “AVÔ DOS DINOSSÁURIOS?

 Por A. M. Galopim de Carvalho

São duas as causas da minha relação muito próxima com estes bichos do passado geológico da Terra. 

 

Uma foi a longa e árdua luta que, em nome pessoal e do Museu Nacional de História Natural e a partir de 1990, entendi travar face às administrações central e local, pela defessa das duas importantes jazidas com pegadas de dinossáurio que, entretanto, foram descobertas, “Pego Longo” (mais conhecida por Carenque), no concelho de Sintra, e “Pedreira do Galinha” no limite dos concelhos de Ourém e Torres Novas. 

 

A outra foi ter usado o conhecido fascínio que os dinossáurios exercem sobre o público, em geral, e sobre as crianças e adolescentes, em particular, como elemento dinamizador na imensa tarefa de recuperação e valorização do que restou do Museu Nacional de História Natural, em grande parte destruído pelo incêndio de 1978. Como se imaginou, esta via surtiu efeito e, em 1992, a grandiosa exposição “DINOSSÁURIOS REGRESSAM EM LISBOA”, com as magníficas réplicas robotizadas, da empresa japonesa Kokoro, com mais de 340 000 visitantes, em apenas onze semanas, foi o começo de uma dezena de outras centradas nestes grandes sáurios, face às quais, actuei como responsável científico. 

 

No propósito de me documentar científica e pedagogicamente para estes dois objectivos, tive de estudar o essencial do ramo da paleontologia que lhes diz respeito. Escrevi artigos em jornais e revistas, quatro livros de divulgação e dei dezenas de entrevistas na rádio e na televisão, acções que, sem me ter dado conta, me tornaram figura pública e, para as crianças, o pai dos dinossáurios e, agora, passados mais de 30 anos, o avô dos ditos.

 

Tem acontecido, e não raras vezes, que jornalistas menos preparados ou menos rigorosos me apresentam como “especialista” neste ramo da paleontologia ou, mesmo, o “maior especialista”, incorrecções que, sempre que posso, tenho desfeito, uma vez que nuca fui nem sou investigador neste ramo científico.

 

Ser o pai ou o avô dos dinossáurios, para as crianças, rapazes e raparigas dos nossos jardins escolas e escolas, abriu-me as portas a quaisquer temas do conhecimento que a oportunidade ditasse, nas muitas vezes que, ao longo destes anos, tive a oportunidade e o prazer de conviver com eles.

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