30.9.17

ALTICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Por Joaquim Letria
Tenho amigos que trabalham  na PT e estão cheios de medo da nova patroa, a franco-israelita Altice. Tenho outros amigos  a roerem  as unhas à espera da  Altice na TVI. Não conheço ninguém que diga bem da Altice.
No entanto, num  dia destes, perguntei a um cameraman da TVI que eu conheço desde  tempos idos, se também estava com medo da compra da TVI pela Altice aos espanhóis da Prisa. Respondeu-me:
”Oh pá! Estou como o Tiririca, pior do que está não fica!”
Como se vê, há opiniões e interesses muito distintos nisto tudo. O próprio primeiro-ministro, António Costa, não escondeu o seu estranho desagrado pela  dona da PT, responsabilizando-a por falhas do SIRESP em Pedrógão, e vai  atendendo  aos  protestos dos trabalhadores da PT.
Nessa ocasião, Costa até se confessou adepto e freguês da Vodafone e ,no almoço que Macron lhe ofereceu em Paris, o nosso primeiro ministro não terá escondido o receio que os antecedentes da Altice lhe provocam.
Mas se Patrick Drahi, o israelo-francês que lidera a Altice a todos os níveis, é uma misteriosa figura, temida e vencedora, o seu braço direito não é menos receado e elogiado depois de cada missão que cumpre na complexidade do seu trabalho por todo o Mundo. Com  acrescido interesse  para nós,  por se tratar dum cidadão português, natural do Alto Minho, a quem o então ministro da Economia do CDS, Pires de Lima,  classificou de “herói  nacional”.
Armando Pereira, a segunda figura da gigantesca Altice, não é um homem qualquer. Ao ocupar a  antiga  PT, Armando foi “chairman”, conheceu  os cantos à casa, abriu  hostilidades de preços com fornecedores e clientes e granjeou simpatias  ao inaugurar um “call center” em Vieira do Minho, de onde é natural e onde possui uma residência na quinta das Casas Novas, que frequenta  ocasionalmente.
Aos 65 anos de idade, Armando Pereira é o homem-sombra de Drahi, seu sócio e amigo desde que de picareta em punho os dois abriram valas para telecomunicações nas ruas de Paris. Patrick era o intelectual, Armando o prático empedernido. Assim fizeram fortuna juntos e se associaram. Armando nasceu em Guilhofrei, uma pequena aldeia de Vieira do Minho, de onde aos 14 anos saiu para França com uma mão à frente e outra atrás.
 Agora, casado com uma senhora francesa, pai duma filha e avô de dois netos, poderoso e implacável, Armando Pereira gera medos e administra esperanças neste complexo e estranho lugar onde a sua companhia  veio cair para ele descobrir  um novo e encantador reino da… Altice  no País das Maravilhas…
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28.9.17

B E M D I S P O S T O S?

Por Joaquim Letria
“Bem dispostos!??” “Está tudo bem disposto”?!
Não fora eu um promissor cronista e não me dirigiria ao respeitável público do Minho Digital nestes termos vibrantes e animados. Perguntar-vos-ia antes, à antiga portuguesa:
“Olá, como têm passado?” .“Está tudo bem convosco?”. “ Então essa saúde como vai?”. “Permitam-me que vos diga que estão com um óptimo aspecto!”. “Viva essa bizarria!” ”Em sua casa, tudo bem?”, “A sua esposa e meninos estão bem, não é verdade!?” e terminaria com um popular e judicioso:
”O que é preciso é saúde!” “Com saúde, é meio caminho andado!”, rematando com a brilhante e enganosa conclusão de que “Se a gente está bem, o resto vem por acréscimo!”.
Mas não senhor! Como também sou um rapaz moderno, deixem-me que vos pergunte antes “Bem dispostos?” É assim que se me dirigem hoje em dia, seja a menina do “call center” que quer que eu mude de operadora, seja o meu PT, a médica de família ou algum amigo dos meus filhos. E ai de mim se me queixo de alguma coisa…
— Estou com uma dor de dentes que nem sei se lhe conte!”— não me atreveria eu a dizer para não levar em resposta:
“Então que é isso!? O que é preciso são pensamentos positivos!”.
E é assim que eu vou andando! Posso estar com uma pedra num rim, com os cristais a chocalharem no ouvido esquerdo, um olho inflamado, um dente a latejar e dores horríveis do hemorroidal, mas se me perguntarem como estou, podem ter a certeza de que respondo:
— Bem disposto! Muito bem disposto e cheio de pensamentos positivos!
Mesmo que abarrote de anti-inflamatórios e tenha engolido um analgésico daqueles que nos deixam mais para lá do que para cá, eu estou sempre bem disposto e com pensamentos positivos a fervilharem nesta cabecinha tonta de cristais à solta. Podem ter a certeza! O que desejo para mim é o que desejo para todos vós!
O que conta é a sinceridade do que desejamos para os outros. Logo, não interessa como nos exprimimos na manifestação sincera dos nossos desejos para aqueles a quem queremos bem. Pouco importa que o façamos com coloquialismos ou com modismos de linguagem que nos pareçam mal, desde que estes nos façam ser entendidos como queremos, naquilo que verdadeiramente desejamos.
Por isso, volto a perguntar:
— Bem dispostos!?Se dizem:
— “Porca de vida!”, respondo: “Que é isso?! Pensamentos positivos!
“ Então vá”…
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O serôdio nacionalismo catalão

Por C. Barroco Esperança

Divirjo da maioria dos amigos com quem convivo diariamente no que respeita à solidariedade com o golpismo secessionista catalão, porque o Governo autónomo funcionava com órgãos próprios e franca independência, em democracia, e não era a colónia reprimida, a precisar de autodeterminação.


O PP pode estar infiltrado, e está, por franquistas que o consulado de Aznar revalorizou, mas não manifestou qualquer intenção ditatorial e, muito menos, uma repressão que explicasse o surto insurrecional. Aliás, a instrumentalização independentista do principal clube de futebol, pelo seu presidente Laporta, bem como a do clero católico e a de caciques regionais, à direita do próprio PP de Rajoy, torna-se suspeita.

A proibição do referendo e os meios usados, são, de facto, um tique franquista para um ato nulo de consequências, que revela a tradição autoritária e degrada a convivência nacional, mas a insistência separatista é uma provocação gratuita. A independência que não vingou no séc. XVII, e facilitou a portuguesa, é hoje anacrónica na UE, ameaçada de fragmentação. O erro, ou crime, que permitiu a divisão da Jugoslávia, não pode ser estimulado, sob pena de fragmentar a Europa e de a relançar em guerras de fronteiras de dolorosa memória.

O inefável Arnaldo de Matos, ‘grande educador da classe operária’, já fez prova de vida com a manifestação de solidariedade do MRPP à independência catalã. Um apoio de peso!

O nacionalismo é o exagero doentio do bairrismo provinciano com desastrosas consequências. Uma parcela de um país não tem legitimidade para decidir pelo todo. A Catalunha não é uma colónia, não está sujeita à repressão do Governo central e até a língua, que só uma minoria de catalães falava e escrevia corretamente, pôde ser recuperada. E imposta!

A deriva secessionista catalã, onde ocorreram os Jogos Olímpicos, em Espanha, assemelha-se ao movimento “Canas de Senhorim a concelho”, na dimensão trágica de uma apoteose suicidária.

Nunca me ocorreu, tão a propósito, o poema do poeta português, curiosamente nascido em Barcelona, Reinaldo Ferreira:


RECEITA PARA FAZER UM HERÓI

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.

(Reinaldo Ferreira, nascido em Barcelona, viveu a curta vida em Moçambique)

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27.9.17

Apontamentos de Lagos (A D. Ana - 2)

Por aqui se percebe bem o que fizeram

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Apontamentos de Lagos (A D. Ana - 1)



Uns quantos indivíduos destruíram, no Verão de 2015, a Praia da D. Ana (uma das mais belas do mundo), prolongando em mais de 100% o areal com "areia/Cascalho" que foram buscar ao fundo do mar. 
Custou tudo quase 2 milhões de euros.
O problema é que a iniciativa foi da Agência Portuguesa do Ambiente (no tempo do goverrno PSD/CDS), teve a conivência activa do PS e o silêncio envergonhado do PCP... 
Por isso, em Lagos, é um tema altamente incómodo para essas forças políticas, que podem limpar as mãos à parede.

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Apontamentos de Lagos (As palavras de Fernando Pessoa)



No tal lago com repuxos havia, apesar de tudo, um nota de cultura: as famosas palavras de Fernando Pessoa, retiradas de “A Mensagem”, poema de 1934, perfeitamente adequadas ao local.
Pois bem. As letras (metálicas) sumiram... e ninguém sabe explicar porquê, nem onde estão...
Pior: ninguém se preocupa.
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NOTA: de entre as várias “explicações” que me deram, foi recorrente a dos direitos de autor. Tal é manifestamente falso já que estes caducam 70 anos após a morte dos autores, que neste caso ocorreu em 30 de Novembro de 1935.

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26.9.17

Apontamentos de Lagos (O padrão "Mar Largo")

Em cima: BRASIL - Milhares de metros quadrados de calçada portuguesa (importada de cá!), com o padrão chamado "Mar Largo" (o mesmo do Rossio, em Lisboa).
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Ao meio e em baixo: LAGOS - Foi arrancada uma calçada igual para dar lugar a um lago com repuxos a que deram o nome de Fonte Cibernética.
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Coisas destas (que têm a ver com o nosso parimónio urbano e cultural) deviam ser discutidas, e com destaque, na Campanha Eleitoral, pois dizem mais do que todos os discursos juntos.

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25.9.17

U S U R P A Ç Ã O

Por Joaquim Letria
Escrevo esta crónica para — diante de todos vós como minhas testemunhas — rogar ao meu ilustre e querido Director o favor de retirar de futuras publicações o ápodo de Jornalista com que adorna o meu nome.
Não é que eu não o tivesse sido e não me enchesse de orgulho ser aquela a minha profissão, a qual exerci nos quatro cantos do mundo e para organizações de grande proeminência, poder e alcance, mas a verdade é que não trabalho como jornalista desde que devolvi a carteira profissional ainda no século passado.
Todavia, pensava eu que tal como as putas, os padres, os polícias e os bombeiros, ser-se jornalista se nos agarrava à pele, não nos largando até ao fim da vida. Descobri que não há nada mais falso!
Deixem-me contar-vos as razões deste pedido que para muitos pode ser insólito. Foi no início deste século que um jornal de Lisboa entendeu fazer-me uma entrevista sobre a minha vida. Sob uma fotografia com que ilustrava a prosa, escreveu ”Joaquim Letria, Jornalista”.
Pouco tempo depois recebi uma carta registada duma coisa oficial conhecida por “Comissão da Carteira”, onde alguns juristas e outros tantos jornalistas ganhavam as avenças com que lhes premiavam a vida de bastidores. Não vos vou incomodar com o arrazoado da carta, de teor jurídico. Digo-vos só que me acusavam de “usurpação de funções” e me ameaçavam com uma coima de alguns milhares de euros e um processo-crime dos quais um advogado amigo teve de fazer o favor de me livrar, pondo as coisas no devido lugar. Tudo isto por outros me terem chamado “jornalista”, na legenda da tal fotografia.
Mas não ficaram por aqui aquelas criaturas! Como na entrevista eu falava duma rádio na Austrália e dum jornal americano onde ainda, episodicamente, colaborava, deram-se ao incómodo de os notificar, comunicando-lhes que eu não era jornalista, o que muito divertiu uns, que me conheciam do Vietnam e outros com quem fizera amizade na Palestina, uns e outros antigos camaradas de profissão em circunstâncias e tempos muito difíceis...
Soube mais tarde que tão prestimosa iniciativa se ficava a dever a certos “boys” de serviço, entre os quais um homúnculo e um andróide que tiveram que ver com um partido que concorrera ao sindicato dos jornalistas quando eu ali viria a ser presidente eleito por larga maioria e com o apoio dos comunistas, tudo quando ninguém pensava na possibilidade da geringonça. Um já entregou a alma ao criador e o outro aboletou-se com um lugar num conselho de administração duma empresa pública, donde não há quem o tire.

Portanto, meu querido Manso Preto, não me ponha a usurpar funções e mantenha-me longe daquela pestilência. Chame-me só pelo nome, ou se me quiser qualificar não me chame “Professor Universitário”, o que seria verdadeiro mas demasiado pomposo para meu gosto. Se tiver de ser, talvez possa acrescentar ao meu nome a qualificação de “técnico de ideias gerais”, de que não desgosto de todo e pela qual espero que não venha ninguém nos incomodar!
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Publicado no Minho Digital

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24.9.17

Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Traçado do Muro de Berlim depois do fim – Esta foi a solução adoptada: depois de demolir o Muro, inscrever no chão a marca daquele vestígio, uma espécie de arqueologia do comunismo. Na imagem, vê-se ao longe a Porta de Brandeburgo, construída nos finais do século XVIII e que já foi glorificada pelo imperador da Alemanha, por Napoleão e por Hitler. Durante a divisão da Alemanha, ficou do lado oriental, mas estava quase na divisória. O Muro foi construído pelos comunistas em 1961: garantiam que se tratava de uma medida de defesa da invasão capitalista! A verdade é que toda a gente queria fugir para o Ocidente. O muro, cujo segmento de Berlim ficou na história, dividia de facto toda a Alemanha ao longo de centenas de quilómetros. Muitas dezenas de pessoas que tentavam fugir para o Ocidente morreram ali. Muitos milhares foram presos. Foi aqui que Ronald Reagan disse, em 1987, “Senhor Gorbachev, deite abaixo este Muro!”. O muro, uma das nódoas da história da Europa, foi derrubado em 1989. A linha cravada no solo é um dos monumentos mais felizes desta mesma Europa!

DN, 24 de Setembro de 2017

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