31.12.12

Em memória do “capitão” de Abril António Marques Júnior - falecido hoje, 31 de Dezembro de 2012

Por A. M. Galopim de Carvalho
GRAVAR ZECA POR CIMA DE RAVEL
Nesse tempo, há quase quatro décadas, eu ainda conservava o hábito, que me ficara da juventude, de estudar até tarde, pela noite fora, com música de fundo num rádio-gravador portátil. Fora assim também em Paris, na preparação do doctorat e, mais tarde, em Lisboa, com a redacção da tese que me casou com a Universidade. Era o contrário do que faço agora, que acerto o horário pelo das galinhas, sendo na solidão e no sossego das madrugadas que gosto de escrever. (...)
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Arte urbana

 O cabo dos trabalhos...

…e os infernos fiscais?!

Por Joaquim Letria
É ENTERNECEDOR ouvirmos os governos e a Comissão Europeia manifestarem as suas sinceras intenções de combater a fraude fiscal e a evasão de impostos ao mesmo tempo que se assiste ao crescimento da economia paralela com mecanismos cada vez mais sofisticados para escapar das garras afiadas das Fazendas Públicas.
A surpresa é tanto maior quanto em Bruxelas ninguém parece ter-se dado conta de que um dos países membros – precisamente aquele que actualmente ostenta a coroa da presidência rotativa -, Chipre, é um paraíso fiscal no seio da própria União Europeia onde existem nada mais nada menos do que 250 mil empresas financeiras numa população total de 900 mil habitantes.
Desde a entrada de Chipre para o clube europeu, em 2004, que o número de holdings duplicou, e nestas aterram, livres de impostos, os dividendos das empresas do resto da Europa e mais os oligarcas russos que ali lavam o seu dinheiro. Convém não esquecer que Chipre pediu o resgate para si próprio e para os seus bancos, beneficiando desses mesmos pedidos todos os inquietantes clientes ali refugiados.
Um estudo duma consultora financeira alemã diz que nestes momentos os bancos suíços contam com 2,3 biliões (milhões de milhões) de euros procedentes de clientes estrangeiros. 660 mil milhões são de países da Europa Ocidental, 345 mil milhões concretamente da Alemanha, Itália e Grã-Bretanha.
Entretanto, segundo esses mesmos consultores, 100 mil milhões vão escapar para outros paraísos fiscais mais seguros, receio partilhado pela União de Bancos Suíços (UBS). A pressão dos Estados Unidos e da Alemanha obriga os banqueiros helvéticos a exigirem aos novos depositantes que provem que o seu dinheiro é limpo. No caso dos alemães há que enviar para a República Federal uma cópia do ingresso da importância depositada na conta suíça.
Uma coisa é pôr dinheiro onde este paga impostos mais baixos (na Irlanda, por exemplo) ou em países com moedas fortes (tais como a Suíça). Outra coisa bem diferente é evadir e lavar dinheiro “sujo” (de tráficos de armas, drogas, seres humanos, prostituição, etc.) em países onde se nega a informação das proveniências.
Curioso que a actividade bancária esteja a seguir o curso que estamos a conhecer na Suíça e em Gibraltar (território da União Europeia) o dinheiro “negro” se refugie sem problemas sob o amparo do Reino Unido. Fala-se muito de paraísos fiscais, mas ninguém se refere aos infernos fiscais, onde confiscam economias duma vida e lucros que muito trabalho deram a ganhar, e onde muitas vezes se cobram impostos de mais de 50% daquilo que se conquistou com muito esforço honesto e actividade limpa. Pensem que se os russos se refugiam em Chipre para escaparem a impostos que oscilam entre os 9 e os 13%, o que farão aqueles outros que podem e conseguem fugir à sanha dos Gaspares e de todos os outros reis magos… até o papa já deixou de declarar o burro e a vaca do presépio…

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Esterqueiras de Lisboa - Rua Conde de Sabugosa

 
19 Dez 12
Como se não bastasse o lixo, parte do passeio foi fechado aos peões,...
 
idem
... pelo que estes têm de contornar a esterqueira para poderem passar.
 
20 Dez 12
No dia seguinte, já os serviços da CML haviam procedido à limpeza habitual...
31 Dez 12
...mas, em breve, tudo regressa ao estado natural (até rima!).
Ao contrário do que se poderia pensar, as fotos não mostram o habitual lixo pós-Natal - repare-se nas datas em que elas foram tiradas.
Assim sendo, e como a trampa é ali colocada por moradores e comerciantes (e à vista de toda a gente - que, pelos vistos, não parece importar-se), a questão que se coloca é:
Não seria melhor (e mais barato) deixar o lixo acumular-se durante um par de meses, deixando-o esparramar-se até às portas de quem ali o vai pôr?
Além do mais, facilitava a vida a essa gentinha que, assim, não teria de andar tanto...

Eu quero ser...

Por Pedro Barroso
EU QUERO ser um simpático vigarista, ah! eu adoro filmes de assaltos antigos... do tempo em que os pobres ladres tinham de ser inteligentes, coriáceos, trabalhadores expeditos, valorosos, escavavam túneis, sofriam esgotos, faziam cálculos, arranjavam forma de interferir no computador do transito, superavam os alarmes, etc.  Agora não tem piada nenhuma. Basta ser conhecido do filho do primo do tio do padrinho do avô do partido da tia... ou coisa assim e rapidamente fica-se em posição de assaltar um banco sem sujar as mãos.
Chega a meter-se um empréstimo ao Banco para o comprar (Sotto Mayor) ou a tirar lucros milionários em reformas faraónicas (Millennium) ou até a assaltar o próprio Banco de colarinho branco pela via da própria administração (BPN)
Filmes sem piada nenhuma, sinceramente. Já não há comédias giras, nem actores histriónicos que nos divirtam.
Só manequins de pau da rua dos Fanqueiros e fatinho às riscas e sorrisos que mais parecem algerozes... 
Só gente gulosa feia e comprometida. 
Fado triste, caramba...- não servem nem para passar um serão divertido...

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Mais 1000, menos 1000...

Enquanto por aí se discute, acaloradamente, a que bolsos ir buscar 4000 milhões de euros, o Público parece ter a solução: dividir por 1000 a dívida - neste caso a da Madeira...

2012, o ano que não aconteceu

Por Ferreira Fernandes
OS BALANÇOS que os jornais fazem no fim dos anos são marcados por uma presunção: a de ter havido coisas notáveis nos doze meses passados. Positivas ou negativas, mas notáveis. Mas como os balanços são sempre feitos, haverá anos em que os jornais devem deixar os leitores intrigados: a sério, eu vivi mesmo isto?! Receio que 2012 seja um ano desses. Bom, não foi, estamos todos de acordo. E por mau que tenha sido, já saímos dele com saudades, pois para o ano será pior, como já fomos prevenidos e já estamos convencidos. Por isso o balanço correto num ano como o que acabámos de viver seria com uma manchete assim: "Factos sem interesse que marcaram 2012!" E seguiam-se as irrelevâncias que nunca nos faltaram ao longo do ano. Por exemplo, aquela TSU proposta pelo Governo, que motivou tantos prós e contras. Marcou 2012? Oh, se marcou! E quê dela? Desapareceu de morte desfalecida. 
É dessas irrelevâncias que eu vos estava a falar. 2012 é o ano, lembrem-se, em que se deu o Nobel da Paz à União Europeia! É, este foi um ano que não merecia nobéis, mas só daquelas paródias, os prémios Ig Nobel, que distinguem as invenções sem interesse nenhum. 
Há dias escrevi sobre o balanço de um povo feliz, os brasileiros em 1958, a que um cronista chamou "o ano que não devia terminar". Querem o balanço certo para 2012? O ano que não aconteceu. Com Passos Coelho, chefe do Governo, e Seguro, líder da oposição, era de prever, não?
«DN» de 31 Dez 12

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30.12.12

Detenham esta catástrofe

Por Rui Tavares
A TROIKA, já se percebeu, é um mero pretexto. Pedro Passos Coelho não se sente preso pelo memorando nem limitado pela Constituição, perante a qual desenvolveu uma estranha técnica: ele diz, propõe ou avança e, se for contrário à Constituição, alguém lho há-de dizer. Ler a lei fundamental propriamente dita, ou pedir a alguém que lha leia antes de abrir a boca, dá demasiado trabalho. E não faz parte do seu modus operandi. A ignorância não é um problema para Pedro Passos Coelho. Ele não sabe, logo não existe.
E assim nos encontramos à beira de um novo ano para que os portugueses olham já como se fosse um precipício. Janeiro vai ser o início da rampa; a partir daí, é sempre a cair. Os primeiros recibos dos vencimentos com os respetivos cortes. O brutal aumento de impostos. A amputação de serviços públicos. As privatizações ao desbarato. E os números da execução orçamental, periodicamente, a não baterem certo.
Também isto não deterá Pedro Passos Coelho porque, no meio dos escombros, ele tem um plano.
Mais ninguém acredita no plano de Passos Coelho. Alguns, cada vez menos, dão o benefício da dúvida por causa da dívida, cada vez mais desconfortáveis por ver que ela não diminui. Todos os outros, na esquerda, no centro e na direita, assistem atónitos a esta progressão de desastres: a TAP e a RTP vendidas ao pior preço e aos piores compradores, os despedimentos a saldo, a escola e a saúde prontas a serem ejetadas das funções do estado. Dentro em pouco, isto será irreversível. Nada disto detém Passos Coelho.
O julgamento da posteridade não atrapalha Pedro Passos Coelho porque ele não tem consciência da gravidade do que faz e, se o tem, não parece importar-se com isso. Mas a posteridade não julgará apenas Pedro Passos Coelho. Julgará todos os que, tendo consciência do que se está a passar, não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para deter esta catástrofe.
A responsabilidade dos partidos de oposição, em particular, é muito séria. Sabemos que eles não governam, sabemos que eles nem sequer concordam. Mas não precisam de governar nem concordar para fazerem três coisas simples que, por si só, seriam uma formidável barreira à progressão desta catástrofe.

Primeira: falarem, sem precondições. Basta de pretextos tolos. Façam reuniões, mesmo discordando, e digam-nos em que concordam. Por pouco que seja, pode ser essencial.
Segunda: ponham limites a este governo. Enunciem claramente as linhas vermelhas que vos levarão a abrir uma crise política, e ir ao Presidente da República exigir-lhe ação.
Terceira: abram-se aos cidadãos e aos vossos eleitores, em particular ao nível local, e deem-lhes liberdade para discutir alternativas concretas a esta governação.
Precisaríamos de muito mais do que isto. Mas isto é o mínimo que se pode exigir. O governo perceberá que a oposição sai do seu marasmo e começa a impor limites e regras, e a preparar-se para o substituir. Só isso pode deter esta catástrofe. Façam-no, já.
«Público» de 17 Dez 12

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No Reino do Absurdo?

A PROPÓSITO desta curiosa notícia, aqui fica um relato bem fresquinho:
Ontem, a meio da tarde, dei um corte num dedo. Nada de grave, mas o sangue não parava, a ferida tinha de ser tratada e, eventualmente, levar uns pontos - enfim, o tipo de coisas que nos leva, normalmente, a procurar um centro de enfermagem.
Liguei para o serviço "Saúde 24", e sugeriram que me dirigisse ao Centro de Saúde de Sintra, que ainda estava aberto, e onde fui bem e rapidamente atendido.
No entanto, ao concluírem que seria necessário levar uns pontos, passaram-me uma credencial para a cirurgia do Hospital Amadora-Sintra. Lá fui, voltei a ser bem tratado, e até nem demorou 1 hora desde que entrei até que saí.
No fim, perguntei ao cirurgião se um tratamento desses não podia ter sido feito por um enfermeiro. Ele respondeu-me - e cito de memória -: «Claro, mas só dos antigos. Os mais novos, ou são medricas (sic), ou não o sabem fazer»...

Luz - Oxford, Blackwell’s bookshop

Fotografias de António BarretoAPPh
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Em 2004, ainda havia livrarias a sério. Pelo menos em Oxford. A Blackwell’s era um notável exemplo. Tinha instalações em vários edifícios, com numerosas salas, umas enormes, outras bem pequenas e aconchegadas. Havia andares com livros em segunda mão; um antiquário; uma loja só com posters, postais, gravuras, mapas e livros de arte; uma pequena loja com livros de viagem; a grande livraria, com cinco ou seis andares e caves; e finalmente a loja de música, discos, DVD, CD, pautas e livros sobre a música e os músicos. No maior edifício, as salas e os andares estavam divididos segundo úteis disciplinas, estilos, línguas, nacionalidades e géneros. Havia sempre tudo. Quando faltava alguma coisa, demorava horas ou poucos dias a chegar. Podia-se abrir conta como se fôssemos conhecidos. Com a Internet, a Amazon e outras similares, mais os computadores, o Kindle, o iPad e outras tabletes, tudo isso desapareceu. Ou quase. A Blackwell’s está reduzida a duas lojas. Na principal, creio que na esperança de atrair clientes, já há café, refeições, sumos, crepes e outras bebidas. A loja de música, ilustrada nesta imagem, desaparece. O novo mundo tem certamente vantagens. A Amazon é uma delas. Mas tem também inconvenientes. E o desaparecimento das livrarias é seguramente uma delas. (2004)

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"uuuu bdc UUUU!"

Por Ferreira Fernandes
PARECE que os problemas orçamentais americanos são graves. Por estes dias, na capital Washington, os cafés da cadeia Starbucks escrevem nas xícaras: "Come together". Isto é, apela-se aos congressistas para que se juntem ou, se os democratas e republicanos se separam, a América cai por uma ribanceira. 
Não é bonito o gesto da Starbucks? É. Mas é também interessante juntar essa atitude cidadã com o escândalo que essa mesma empresa americana protagonizou na Europa nas últimas semanas. Descobriu-se que na Inglaterra e na França a Starbucks não paga impostos sobre lucros. Não que não os tenha, mas uma contabilidade engenhosa apaga os lucros e a empresa não é taxada. Por exemplo, na França, onde está desde 2004, a Starbucks continua a declarar prejuízos apesar do volume de negócios se ter multiplicado por 20. Um dos truques é as lojas locais serem obrigadas a se financiarem na sede americana da Starbucks que lhes empresta ao dobro dos juros dos bancos. 
Lembrei-me destas engenharias cheias de cafeína quando ouvia o último Quadratura do Círculo. Alguém estava a criticar o seguidismo de Passos Coelho em relação à Alemanha e António Lobo Xavier atalhou, defendendo-o: "Mas então as alianças não são para se fazer com os fortes?" Santa ingenuidade! Como diz um conhecido provérbio da minha terra, conciso e mal escrito: "uuuu bdc UUUU!" Tradução: "Os pequenino bedece os grande". As alianças desequilibradas tramam sempre os de baixo. 
«DN» de 30 Dez 12

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29.12.12

Recordando Raul Lino (I)

Raul Lino, que dedicou muitas páginas a Lisboa (e a toda esta zona, em especial), disse que gostaria que fosse possível, ao sair-se da estação de comboios do Rossio, ver-se, logo em frente, a igreja de S. Domingos, valorizando todo este espaço nobre com um alinhamento ímpar.
Pois... mas se não teve sorte nessa altura, muito menos a teria, actualmente.

Apontamentos de Lisboa

Uma pastelaria politicamente correcta

28.12.12

No reino do absurdo

 Lisboa - Rua Oliveira Martins
Se o bloqueio da saída de emergência do Centro Comercial Acqua é revoltante (e houve um tempo em que estavam ali mais dois ecopontos, todos colocados pela CML!), já o local onde está implantada a placa de parque de estacionamento é, no mínimo, bizarro - ou não?

A ver vamos

Por Joaquim Letria
SEMPRE ouvi dizer que vale mais um mau acordo do que uma boa querela. Compreende-se porquê, atendendo ao trabalho, preocupações e despesas que levar uma querela até ao fim pode custar, além da imponderabilidade das decisões judiciárias, por muito favoráveis que possam parecer.
Além destes factos, há ainda o tempo necessário para se conseguir obter uma decisão. A demora em se conhecer o resultado é tão grande, que muitos advogados recomendam aos seus constituintes que obtenham outro tipo de acordo com a outra parte. Entre nós, processo que não demore uma década, com sentenças, recursos e decisões finais, não é processo! De tal maneira que, por esse motivo, Portugal é recorrentemente condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
As sentenças ao fim de 10 anos são tão tardias que já não constituem, muitas vezes, justiça, violando a Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Ainda recentemente o Estado Português foi condenado por três vezes por essa razão. Para além de violar os direitos fundamentais das pessoas, também a economia se ressente desse facto, com situações demoradas que prejudicam empresas e afastam possíveis investidores estrangeiros.
Há quem diga que se está à procura duma solução. A ver vamos…

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Alguém já leu e quer comentar?

Então, esse 2018 demora muito?

Por Ferreira Fernandes
EM FINS de 1997, no aproximar de um aniversário redondo, o cronista brasileiro Joaquim Ferreira dos Santos publicou "Feliz 1958 - O ano que não devia terminar". Um livro cheio de saudades. Em 1958, Oscar Niemeyer traçava Brasília a mando de um presidente sorridente, Juscelino Kubitschek. Nesse ano o Brasil lançou o seu primeiro automóvel, o DKW-Vemag, e foi pela primeira vez campeão mundial de futebol (e com Pelé e Garrincha). João Gilberto com Chega de saudade abria as portas à bossa-nova e Jorge Amado lançava Gabriela, Cravo e Canela. No teatro, Nelson Rodrigues escandalizava, nos jornais, os cronistas chamavam-se Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Porto, Millôr Fernandes... Este dizia: "Nostalgia é querer voltar para um lugar que nunca existiu." Está bem, está bem, conversa de quem tem a barriga cheia. 
Chega de saudade, é???! Quero ver se, daqui a 40 anos, algum português vai lembrar 2012 como o ano que nunca devia ter terminado... A haver evocação, será crítica: como é que os políticos de então (os de hoje), aproveitando a boleia da supressão de algumas datas (5 de Outubro, 1.º de Dezembro...), não decretaram também a supressão de alguns anos? Com a mão na massa de eliminar calendário, faziam-nos passar diretamente de 2012 para 2018 - que é o ano, segundo as últimas promessas, em que isto vai andar melhorzinho. Dava um bom livro: "Feliz 2018 - O ano que não há meio de chegar." 
«DN» de 28 Dez 12

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27.12.12

Notícias do caos

Lisboa - A Av. Almirante Reis, num dia "normal"...

Quem de me dera entrevistar o Artur!

Por Ferreira Fernandes
O JORNALISTA Nicolau Santos cometeu o mais visível dos erros, o erro rídiculo. Não foi o único, mas exatamente por uma das razões de que gosto dele (tem opinião clara), saltaram-lhe ao caminho. 
NS entrevistou um burlão, dando de barato as credenciais com que ele se apresentara. Foi um erro, não foi um crime. Crime seria, sendo patrão de um programa de debate, NS só levar lá gente de um bordo. Mas lembrem-se das dezenas de Expresso da Meia-Noite, e a variedade de quem se sentou à direita e à esquerda da mesa. Contudo, essa atitude profissional não o livrou da perfídia, nestes dias muito difundida (até entre colegas), de que ele entrevistou o aldrabão porque este atacava o governo. 
Batam no NS, pelo seu erro, que neste caso ele merece - e é profissional com lombo para aguentar -, mas batam decentemente. E, sobretudo, não se esqueçam do que é, nos jornais, o grande crime: a situação em que nós jornalistas deixámos cair o essencial do jornalismo, fazendo a reportagem quase ausente dele. A prova disso é o pouco que ainda hoje se sabe desse personagem de quem gostaríamos de saber tudo e já: Artur Baptista da Silva. Sem os fornecimentos usuais do Ministério Público e da PJ, sentimo-nos órfãos dos factos... E digo estas coisas sérias com irritação de ter de as dizer. 
Eu gostava era de acabar o ano falando, agora que ele já não é economista, de uma das poucas coisinhas boas que nos aconteceram: Artur Baptista da Silva, ele próprio. 
«DN» de 27 Dez 12

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Felizmente, há empresas públicas com espírito de entreajuda!

Veja-se como, ocupando as paragens da Carris, os CTT e a EMEL ajudam aquela empresa a servir os utentes de Lisboa; e - imagem de baixo - como, por sua vez, a EPAL colabora com os mesmos CTT...

Convite da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ao Sr. Patriarca Policarpo

Por C. Barroco Esperança
O CARDEAL-PATRIARCA de Lisboa convidou, na última segunda-feira, os “descrentes” com “inquietações no seu coração” a celebrar o Natal católico na expectativa de poderem encontrar “luz e paz” que lhes alivie o sofrimento.
Ignorando a anatomia das inquietações e, depois do Natal católico, cujo convite aceitei, senti mais peso no estômago do que inquietações no coração. Depois do bacalhau, do polvo e dos respetivos acompanhamentos, regados com excelente vinho que guardo para a liturgia dos momentos canónicos, esqueci as inquietações que o patriarca domicilia no coração.
Texto integral [aqui]

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26.12.12

Como eu me safei do aldrabão

Por Ferreira Fernandes 
OS AÇULADOS que se atiram aos jornalistas por causa do aldrabão que se dizia da ONU encontram em mim um aliado: sim, o nosso jornalismo é, com exceções, uma bosta. Mas na sanha de morder, os açulados tresleram a causa da sua indignação. A Imprensa é bosta porque tendo aparecido alguém a dizer que a ONU se organizara para combater a política económica portuguesa, os jornalistas não se dedicaram ao essencial: podia a ONU fazer isso? Indo por aí, os jornalistas chegariam a um facto: a ONU não tinha Observatório nenhum, nem nenhum português a dirigi-lo para tentar emendar os erros da Europa do Sul. Mas não se foi por aí porque aos jornais, sobre Nova Iorque, só lhes interessava o julgamento de um tal Renato de saca-rolhas fácil. Os únicos jornalistas que se dedicaram ao hipotético Observatório onusino foram os que podiam fazê-lo a custo quase zero: comentando ou entrevistando. E esse jornalismo possível até cumpriu. Tendo aparecido há semanas um tipo com credenciais aceites pela sociedade, em conferências, debates e comissões (tudo sério), e parecendo interessante o que dizia, ouviram-no.
Se calhar, os meus colegas foram ingénuos, não tomaram a sociedade portuguesa pela bosta que ela é (com exceções). O que vem dela, como do nosso jornalismo, é de desconfiar. Foi assim que me safei. Não comentei o sujeito, não porque o supusesse aldrabão, mas porque se apresentava como economista sem dúvidas. São uma bosta. E sem exceção. 
«DN» de 26 Dez 12

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Apontamentos de Lisboa

No parque de estacionamento do Staples Office Center dos Olivais

Refutação ao tempo

Por Baptista-Bastos
MEU DILECTO: É verdade que, por vezes, sou tocado por funesta tristeza. E penso que a minha prosa devia, talvez, ser levada para paragens mais alegres. Mas a época é pesada e trágica, não gosto do que vejo e sinto, e, mesmo com o apoio dos meus eventuais merecimentos, soçobro na melancolia. As forças que me confrontam possuem, actualmente um poder ilustrativo do meu descontentamento e das minhas decepções. Mas não desisto. Venho de longe, do desafio de todas as lutas, dos escombros de todas as derrotas e do recomeço de todos os combates. Sei que a frase comporta, em si, algo de bravata, porém as coisas foram assim, e o riso dos enfatuados possui algo de indecoroso.
Meu Dilecto:
A prova de que estes, os de agora, não venceram, ao contrário do que julgam e proclamam, é a sanha persecutória com que agem. Tentam apagar os nossos símbolos, desprezar o nosso património moral, passar ao lado dos nossos castelos, escarnecer das nossas bandeiras. A história do que têm feito resulta num rasto de sangue, de miséria e de afronta à condição humana. "As direitas sempre se uniram para o mal", escreveu Maurice Merleau-Ponty (Humanisme et Terreur), que temos a obrigação de recuperar do silêncio e das sombras com que o envolveram. A desilusão que o grande filósofo sofreu, posteriormente, não obriga a que o projectemos no limbo. E essa desilusão possui algo de trágico porque configura parte das nossas decepções actuais. Não vale a pena chorar no leite derramado, dizem. Mas calar as incertezas do conflito e a decência de uma luta constantemente desigual constituiria a abdicação da nossa ética. Ter passado é conter lastro, haver história, retribuir ao tempo o que o tempo nos prometeu. Estes biltres que nos governam nada respeitam, nem, sobretudo, o papel dos sentimentos e das emoções, esvaziando de sentido o princípio democrático, para o preencher com negócios, com a adulteração do conceito de «legalidade» substituindo-o por um autoritarismo fascista.
Meu Dilecto:
Quando um primeiro-ministro, este, diz que os reformados já receberam mais do que as verbas por eles descontadas, a frase deixa de constituir uma questão semântica para configurar a mais desprezível vilania. Este homem não é digno de nos representar, em circunstância alguma. Mas ele vai passar, deixando um traço de ignomínia e uma soma de vergonhas morais, a começar pelas suas mentiras, continuando pela sua frondosa incompetência e terminando na leviandade dos juízos. É um subalterno. A voz não lhe pertence, as ideias são de outros.
Meu Dilecto:
O que esta gente nos trouxe de miséria, de descrença, de desapontamento, de fome de ser e de angústia de não podermos estar, comporta um peso, uma culpa inaudita na nossa história recente. Contudo, estamos aqui, para o que der e vier. Até já!
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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«DN» de 26 Dez 12

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Apontamentos de Lisboa

Na foto de baixo: dois jovens (sem-abrigo?) a dormir...

O Maestro

Por Joaquim Letria
UM VELHO músico judeu que vive em Londres disse uma vez que o maestro judeu argentino Daniel Baremboim era o melhor pianista palestino de sempre. Obviamente que não era um elogio. Antes se tratava duma… sarcástica “judiaria”, a propósito da Alta Autoridade da Palestina ter concedido, honoris causa, a cidadania ao famoso maestro que tanto pugna pela reconciliação entre os dois povos.
Os ultraortodoxos de Israel e os fundamentalistas de Alá são muito parecidos e puseram-se de acordo considerando, uns e outros, Baremboim um inimigo e um impostor. Baremboim expôs-se para evitar a deflagração numa aventura quixotesca. Não somente na fronteira entre Israel e a Palestina, tão abalada pelos desígnios eleitorais de Netanyahu, mas também na linha de separação entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, cenário de um concerto especial que o maestro dirigiu.
O vigor com que Baremboim defende a convivência de Israel e da Palestina como estados independentes e reciprocamente reconhecidos converte-o num terrorista, bode expiatório de ambos os fanatismos. À pedagogia política da sua orquestra palestina-judaica soma-se o excelente resultado musical. A sua gravação das “Nove Sinfonias” de Beethoven, produzida no curso duma “tournée” internacional, rivaliza com as melhores edições disponíveis no mercado.
Baremboim é um excelente maestro e um cidadão comprometido. Combateu o muro de Berlim, conseguiu que a música de Wagner fosse tolerada em Israel e dirigiu o “Anel do Libelungo” na colina sagrada de Bayreuth. Pode dizer-se que é também um dos melhores pianistas espanhóis, depois do Governo de Zapatero lhe ter concedido passaporte ao cabo de tantos concertos oficiados na península...
O maestro tem uma casa perto de Marbella, próximo de Puerto Banus. É aí que se refugia, de cada vez que quer ouvir o silêncio e desfrutar do prazer do anonimato. Quem sabe onde ele mora é o afinador de pianos que costuma ser chamado lá a casa depois daquele primeiro telefonema em que o maestro disse:
“Sou Baremboim e precisava que viesse afinar-me o piano!”
“De que bar disse o senhor que fala?” perguntou-lhe o homem, numa primeira conversa entre os dois que o maestro, até hoje, converteu em irresistível anedota.

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25.12.12

Presentes de Natal

Por Maria Filomena Mónica
NESTE NATAL, os presentes de luxo acabaram: decidi nada oferecer que excedesse os 5 euros. Entre os adultos, depois de termos reconhecido que a descoberta de qualquer coisa em lojas repletas de gente dava mais trabalho do que a alegria sentida por quem recebia o objecto, optámos por nada trocar. O meu filho não concordou, mas teve de aceitar o voto da maioria. Faltava convencer os netos. Telefonei-lhes, com pezinhos de lã, mas quando uma das netas me comunicou desejar um Micro Pig – um porquinho vivo, estilo bonsai, que se vende pela Net – decidi não auscultar as aspirações dos irmãos.
Em suma, filhos e netos vão ser corridos a livros baratos, como o ensaio de Mónica Leal da Silva, «A Crise, a Família e a Crise da Família» (da Relógio d´Água /FFMS, que custa 3.50 euros em versão brochada). O Natal é a festa da família, não é? É assim o momento para sobre ela reflectir. A autora, que vive nos EUA, capta a nossa atenção nas primeiras linhas: «Antes do politicamente correcto, a praça pública era um lugar mais boçal». A frase talvez alegre os representantes da direita e enfureça os de esquerda, mas nem uns nem outros têm razão, porque ela é uma livre pensadora, não no sentido jacobino associado a estes termos, mas no sentido, antigo, o de alguém que não se deixa encarcerar dentro de ortodoxias. Eis o que diz no final: «Este livro foi escrito em particular a pensar em todos os que, sem emprego, sem ordenado nem a satisfação de uma carreira e de um título, trabalham discretamente, mas com energia e generosidade, para as suas famílias e as dos outros».
Tal é o peso das ortodoxias que hoje é quase impossível abordar o tema da família sem gritos de todos os lados: a esquerda não gosta do assunto e a direita só é capaz de dele falar em termos idealistas. Apesar de louvar o Estado Social, a autora defende que o mesmo não pode servir de desculpa para esquecer quem, junto de nós, está a sofrer com a crise. Daí o seu ênfase na família: «Este texto é uma defesa da família como rede social insubstituível». Logo a seguir, relembra uma coisa que, por ser incómoda, tendemos a meter debaixo do tapete: «As famílias podem ser pesadas, não por precisarem de nós, mas porque têm uma capacidade única de nos magoar». 
Leal da Silva aborda ainda outros assuntos, como o papel dos homens no lar; o trabalho, o emprego e o prestígio social; as dificuldades da chamada geração sanduíche, composta por mulheres, entaladas entre pais que envelhecem e filhos que crescem; a relação entre a escola e a família; e o que se esconde sob o eufemismo «flexibilidade laboral». O facto de ser capaz de falar, num tom aparentemente leve, de obras académicas e de filmes de ficção, de jornais diários e de letras de canções, de poesia moderna e dos Proceedings of the National Academy of Sciences provém da sua louvável displicência em relação às modernas pretensões universitárias. 
«Expresso» de 22 Dez 12

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24.12.12

Vertigo

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Alguém viu e quer comentar?

Os arranjinhos dos generais

Por Joaquim Letria
A DEMISSÃO do general David Petraeus como director da CIA chamou a atenção para o puritanismo dum país onde o adultério é um delito em 23 estados da união e atinge proporções de extrema gravidade nas suas Forças Armadas. Neste momento, por esse mesmo motivo, altos comandos militares estão a ser investigados, incluindo o general John Allen, que esteve para ser nomeado comandante-chefe das forças da NATO no Afeganistão.
Tudo ficou a descoberto com uma investigação do FBI, que garante a segurança interna e que apanhou em falso o patrão da CIA, envolvido numa suspeita troca de emails com duas mulheres. Estes casos reabriram o debate sobre a estratégia de segurança há anos montada pela própria CIA e apoiada pelo próprio Obama desde que chegou à Casa Branca. 
A CIA é hoje um elemento essencial duma estratégia externa marcada pelas operações especiais e os ataques da sua frota de “drones” (aviões teledirigidos). A chegada a Langley de Petraeus, o general de quatro estrelas autor do manual de contra-rebelião que mudou a guerra do Iraque após os fracassos iniciais, marcou um ponto culminante na militarização da guerra das informações. Obama, que em breve vai ter de remodelar a política externa e a segurança, poderá aproveitar esta ocasião para reformular toda a política de inteligência de Washington.

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O Grande Lume

Por A. M. Galopim de Carvalho
FOI HÁ CINQUENTA anos que conheci Barrancos. Estava-se em férias de Natal e era o meu primeiro ano como assistente na Faculdade. O Professor Carlos Teixeira, na altura, o director do departamento, mandara-me chamar. Tinha à sua frente, entre pilhas de livros e papéis, um grosso volume encadernado a couro, com letras douradas, onde se lia Système Silurique du Portugal, uma importante memória da autoria de um dos fundadores da geologia portuguesa, Nery Delgado, publicada no início do século XX. (...)
Texto integral [aqui]

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No sapatinho, um conselho: cuidado

Por Ferreira Fernandes
LOGO à noite, o presente mais útil seria um capacete de estaleiro. O importante é metermos na cabeça o avisado conselho: cuidado. Ontem, como Elsa Monti já nos prevenira ("o meu marido nunca foi candidato a nada, nem ao Rotary Club"), Mario Monti confirmou: não será candidato às eleições mas está disposto a dirigir a Itália.
Professor de Economia, conselheiro do banco Goldman Sachs, Mario Monti foi chamado há um ano pelo ex-comunista Giorgio Napolitano, com beneplácito europeu de Sarkozy e de Merkel, para dirigir um governo de especialistas, com apoio parlamentar da direita e esquerda. A fórmula era bizarra - o costume é eleições e governo da maioria - mas a crise europeia e os excessos de Berlusconi juntaram-se para que o entorse fosse consensual. E era para um prazo curto.
Sóbrio (isto é, raro para quem se habituara a Berlusconi), Monti encantou com medidas de fogacho (prescindiu do ordenado), cumpriu q.b. nas reformas e os resultados italianos são medíocres, isto é, razoáveis, na média europeia. Treze meses passados, demitiu-se para haver eleições em fevereiro. A dúvida era: e Monti vai? Ele ontem aclarou: não vai e vai. Ir a votos, não vai, mas tem um programa que, se tiver seguidores, ele está disposto a voltar para governar. Os líderes histriónicos estão sempre disponíveis (até para bunga-bunga); os sérios, dizendo não estar, são tentados em tornar-se providenciais. O cuidado a ter é esse. 
«DN» de 24 Dez 12

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23.12.12

Privacidade da treta

O blogue De Rerum Natura publicou ontem um interessante texto acerca de privacidade (ver [aqui]), pelo que não resisto a contar o que esta semana me sucedeu - e lá afixei, em comentário:
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Tenho recebido, e por várias vezes, telefonemas do Banco Barclays (de que não sou, nunca fui, nem tenciono vir a ser cliente) a sugerir-me produtos bancários.
Esta semana, resolvi interromper a senhora que me ligava, e questioná-la acerca da forma como obtivera o meu nome e número de telefone.
Com a maior naturalidade, informou-me que fora através de uma base de dados do site Leilões.Net - e esclareceu-me que era junto dessa empresa (e não do banco) que eu deveria reclamar por esse facto, que eu considerava abusivo.
Acabei logo com a conversa, e acedi à página dos Leilões.Net para protestar. Pois... mas o contacto lá disponibilizado (e que abre uma caixa de texto, onde escrevi) diz que não aceita reclamações!

Luz - Vindima em Covas do Douro

Fotografias de António BarretoAPPh
 Clicar na imagem para a ampliar
Esta aldeia fica perto do Pinhão. O sítio tem uma antiga denominação, Gontelho, conhecida há séculos nos livros antigos. A aldeia e a região, incluindo as localidades vizinhas de Covelinhas, Gouvinhas, Ferrão, Donelo e outras, produzem excelentes vinhos, especialmente vinhos do Porto, há mais de trezentos anos. Esta imagem tem quase trinta. Só um olhar atento percebe as diferenças com os dias de hoje. Os trajos dos trabalhadores já estão ultrapassados, mesmo se não muito distantes de nós. Os cestos vindimos, mais ao fundo e à esquerda, praticamente desapareceram e foram substituídos por cestos mais pequenos (25 quilos em vez de 70), ou por caixas de plástico, ou por pequenos contentores. Os cestos já não são transportados a costas de homens, mas sim em camionetas e tractores. Os garrafões, de que aqui se vê um exemplar, ainda por lá andam... Os arames dos bardos já não se apoiam em pedras de ardósia (de que há ainda muitas no Douro de hoje), mas em postes de madeira, mais económicos, menos frágeis e mais capazes de resistir aos choques das máquinas. (1985)

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O mundo rola como uma bola

Por Ferreira Fernandes
O FUTEBOL vale o que vale. Ibrahamovic, de pontapé de bicicleta a marcar o golo à Inglaterra, como valquírias cavalgando helicópteros em Apocalyse Now, ou Messi a dançar sozinho no que Tarantino precisou de dois, John Travolta e Uma Thurman, em Pulp Fiction. O futebol são momentos, mas que momentos!
E o futebol é também essa máquina de poder fátuo e dinheiro farto que atrai burgessos como o ex-polícia com cenas manhosas de incriminar árbitros ("depositas o dinheiro e queimas as roupas para não seres reconhecido", disse a um cúmplice, esquecendo-se da câmara que nos bancos filma, além das roupas, as trombas).
O futebol anda por esse vasto território, dos magníficos aos tolos. E, lá no meio, cenas da nossa vidinha. Ontem, por exemplo, Iker Casillas, no banco do Real Madrid, isto é, pela primeira vez em dez anos afastado pelo treinador. As câmaras filmaram-no quase tanto quanto aos 22 em campo. E ele, que já teve momentos de futebol como os acima referidos (enfim, exagero), passou o jogo com cenas de ex-polícia marado: fazia esgares de sofrimento pela derrota do seu clube... Na verdade, Casillas, tido como o soprador das notícias que desestabilizaram a equipa, conseguiu pela primeira vez vergar a famosa pesporrência de José Mourinho. Este é hoje um perdedor e de saída do Real Madrid. Shakespeare faria disto uma grande peça, outros, um romance de cordel. O que Shakespeare nunca conseguiria é fazer aquele pontapé de bicicleta.
«DN» de 23 Dez 12

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22.12.12

Os pinta-paredes (30)

 Bem... com "mensagem", já é mais aceitável...

Os gladíolos

Por Alice Vieira
NEM SABIA bem por que ali estava. 
Vingança, raiva, ou nenhuma razão em especial. Tinha dado de caras com a notícia no jornal, enquanto bebia o café e, de repente, vê-se a pagar a bica, a correr até à praça de táxis mais próxima, enfiar-se no carro, fechar os olhos, e deixar-se embalar até ouvir o homem dizer “cá estamos, minha senhora”. 
Na rua em frente da igreja há uma florista. Pede gladíolos, mas dizem-lhe que já tiveram mas já não têm. Compra uma rosa. A igreja está cheia, como já esperava que estivesse. (...)
Texto integral [aqui]

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Apontamentos de Lisboa

Bairro de S. Miguel
Vá lá, que há dias piores...

Os negócios não podem meter água

Por Ferreira Fernandes
RECEIO que não tenha sido só o negócio da TAP a gorar-se nos últimos dias, mas também o da ilha do português Manuel. 
Na semana passada, este pôs um anúncio na Folha de São Paulo a vender a ilha de Monte Farinha, na Ria de Aveiro, por oito milhões de euros. Meia página em jornal prestigiado é caro (não foi, pois, brincadeira). O próprio jornal que publicou o anúncio fez trabalho de casa, comparando a portuguesa com a mais famosa ilha brasileira, Fernando Noronha (três vezes maior), enfim, seguiu a pista porque uma ilha à venda faz brilhar os olhos em qualquer parte do mundo. Só que uma ilha vendida por português incita à anedota: a notícia era ilustrada por desenho de um portuga de fartos bigodes, com palmeira e guarda-sol cravados em terra inundada. Segundo a Folha de São Paulo, Monte Farinha inunda-se na maré-cheia (ou quase, fica 75 por cento alagado). Não sei se assim é. Monte Farinha já teve criação de cavalos, tem junco na terra e moliço nas águas mas não lhe conheço os efeitos da maré. 
Trago a história para crónica porque Portugal, injustamente ou não, tem um problema de credibilidade. Se o anúncio fosse holandês, o jornal até gabaria o jeito flamengo para diques; português, dá piada. É verdade que boa parte disso é problema psicológico que os brasileiros têm de resolver. O nosso problema, porém, mantém-se: não podemos dar a abébias. 
Negócios como os da TAP não podem esperar o último minuto para surpresas. Ponto.
«DN» de 22 Dez 12

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21.12.12

Partir pedra

Por Joaquim Letria 
MUITOS de nós, Portugueses, adoram partir pedra. Quer esta expressão dizer que adoram falar por falar, não resistem a discutir o sexo dos anjos, pôr grande calor e manifestar grande empenho em mandarem vir opiniões sobre assuntos de lana caprina, desde que não tenham de pensar e discutir o que verdadeiramente conta e realmente importa. 
Uma coisa é fazer isto numa sala de bilhar, numa cervejaria, no café, outra coisa muito diferente é fazer isso mesmo na rádio e na televisão. A última vez que ouvi rádio, era isso mesmo que acontecia, mas foi há tanto tempo e não encontrando ninguém que ainda ouça rádio, sou levado a pensar que essa tendência se mantém, a fazer fé nas discussões, conversas e entrevistas a avençados que comparecem nas televisões para gastar tempos e ocupar espaços. 
Diz o nosso povo que contra factos não há argumentos. Mas acabamos por distorcer, discutir, pôr em causa os factos e fazer vir ao de cima os argumentos da morrinhanha. Deve ser por respeitar esta tendência que o governo, para dizer qualquer coisa que ninguém percebe, precisa de falar, pelo menos, três vezes. É como aquela de que não somos como os gregos, não podemos parecer-nos com os gregos, afinal já somos como os gregos! Fazemos com a compreensão o que os surdos fazem com o ouvido: vais à caça? Não, vou à caça! Ah! julgava que ias à caça! O que parece importante é não falarmos naquilo que é importante para nós, ou pode ser decisivo para o país. Sabem onde e quando se nota mais isto? Quando se compra e lê jornais estrangeiros. Experimentem! Parece que desembarcámos em Marte e até gostamos das histórias que por lá se contam!

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A garantia bancária era o calendário maia

Por Ferreira Fernandes
A PRIMEIRA-MINISTRA australiana foi à televisão brincar com o fim do mundo. Depois, o Presidente Putin disse que o fim do mundo será só daqui a milhões de anos... Conversa barata, a da australiana e do russo, e até a NASA se limitou a pedir calma. Mas o mundo continuou em pânico. Porque uma coisa é uma sexta-feira 13 de vez em quando e outra, fatídica, é uma sexta-feira 21 de dezembro de 2012. 
De todos, porém, só conversa. Todos? Não! O nosso primeiro resolveu. Começou Passos Coelho por marcar a decisão da venda da TAP para ontem. Golpe de mestre, uma coisa é acabar com o fim do mundo a frio e outra, na véspera - o mundo, em suspense e agonia, ficaria mais agradecido. Para quem é acusado de não saber vender bem a sua política, Passos deu uma bofetada de luva branca aos comentadores nacionais. Claro que estes já começaram a dizer que a decisão de não vender a TAP não foi a pensar no mundo e que o Governo não teve outro remédio porque Efromovich, o comprador brasileiro-boliviano-colombiano, não apresentou garantias. Falso, posso revelar. Há dias ele naturalizou-se também guatemalteco e apresentou a maior das garantias: o calendário maia. E, segundo o calendário dos maias, hoje, 21 de dezembro, Efromovich podia comprar a TAP, o Banco de Inglaterra e o Fort Knox. 
A decisão de Passos, pois, foi mesmo por esta questão simples: vender a TAP seria o fim do mundo. Vai daí, não se vende a TAP e não há fim do mundo. Lógico e eficaz. 
«DN» de 21 Dez 12

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Apontamentos do caos

Lisboa turística
Pelas 11h15m de uma normal manhã de terça-feira, na Rua do Ouro

20.12.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
DURÃO Barroso deu há dias, numa entrevista, a mais inverosímil das respostas sobre o seu interesse numa corrida a Belém: «Não sei exactamente qual é a data» das próximas presidenciais em Portugal...
Uma afirmação tão inacreditável quanto denunciadora, pelo absurdo da negação, da importância que dá ao tema e da atrapalhação que lhe causa abordá-lo.
Como há muito se percebeu – e o próprio tem deixado perceber nos últimos anos – Barroso é um potencial candidato presidencial. E o seu segundo mandato em Bruxelas acaba no final de 2014 – um ano antes da eleição para Belém, o timing ideal para preparar e lançar uma campanha.
Barroso tem dois factores de peso a favorecerem a sua candidatura. Será o português que desempenhou o mais importante cargo internacional, de presidente da Comissão Europeia, o que lhe confere um estatuto político de primeira grandeza. E as presidenciais ocorrerão logo a seguir às legislativas de 2015, cujo desenlace mais provável – após estes desgastantes anos de crise e de troika – será uma mudança de ciclo político, com a vitória do PS – o que beneficiará, por contrapeso, a candidatura do centro-direita a Belém.
Mas Barroso tem, por outro lado, dois obstáculos de monta às suas ambições presidenciais. Os portugueses não esqueceram que em 2004 abandonou o país em situação crítica e deixou o Governo nas mãos de Santana Lopes – e muitos não lhe perdoaram. Acresce que grande parte do eleitorado o vê hoje como um dos responsáveis da troika e o associa ao impopular programa de austeridade imposto ao país. Há pouco mais de um mês, foi mesmo vaiado à saída de um teatro em Almada.
Não é, pois, por acaso que Barroso se empenha em garantir que a Comissão Europeia a que preside «de forma alguma tem tido uma posição de maior exigência a Portugal do que as outras instâncias [FMI e BCE]». Ou que, ao contrário de Guterres, não faz mea culpa sobre a crise do país: «Não foi o meu Governo que criou esta situação muitíssimo grave». Regista-se.
Já agora, Barroso pode fixar a data das presidênciais: serão em Janeiro de 2016. É uma informação que lhe poderá ser útil. 
«SOL» de 14 Dez 12

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A velha volta a borrar a pintura

Por Ferreira Fernandes
DONA CECILIA, a velhinha espanhola que pintou com erro e carinho a cara de Cristo - foi um dos acasos do ano, lembram-se? -, tinha ficado combalida. Na altura, rimo-nos com a pintura borrada do Cristo e enternecemo-nos com o pasmo estampado da velha. 
Como ontem noticiou o jornal ABC, ela passou-se para o mundo faz-de-conta. Uma agência de publicidade madrilena contratou-a como diretora de arte. Truque para fazer um vídeo em que uns espertalhões pagam a uma ingénua famosa para que eles lhe suguem parte da fama. No vídeo, Dona Cecilia faz como se estivesse mesmo a dar conselhos, a senhora de 85 anos que pincela a vida com modorra... 
Precisasse eu de publicidade e não recorria a esta agência. Não por ela ser desonesta, quando eu precisar de publicidade espero que seja mesmo um desonesto a ocupar-se do assunto (a publicidade vive da mentira de nos convencer que nos convence). Eu não os queria porque são burros e não perceberam nada. A Dona Cecilia foi um êxito mundial de marketing porque nos convencemos de que houve ali o dedo da Agência de Publicidade o Destino. A mesma que, um dia (quem dera!), pega em nós e faz, se não um génio, pelo menos um famoso. Se eu fizesse um vídeo de publicidade com Dona Cecilia (para a sugar, evidentemente), havia de a pôr com ar tresloucado de Van Gogh, sem uma orelha e de pinceladas furiosas. Dela queremos a esperança dos comuns: quando é que as câmaras também vêm ter connosco? 
«DN» de 20 Dez 12

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Notícias do caos

 
Lisboa - Esquina da Av. de Roma com a R. João Villaret
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EM TEMPOS, um BMW despistou-se neste local - enfiou pelo passeio adentro, derrubou 6 pilaretes e um semáforo, e apenas parou na montra de uma 'loja de chineses' que, evidentemente, estraçalhou.
Pois bem; o condutor foi assistido de imediato pelo INEM, o vidro foi reposto na mesma tarde, e o semáforo pouco depois. Mas os pilaretes... nunca, o que leva muitos condutores, desde esse dia, a intuírem (e com toda a razão, como a experiência tem demonstrado) que podem fazer, impunemente, o que as duas primeiras imagens documentam.
No entanto, no que toca ao Mercedes, 'a coisa' teve um desenvolvimento adicional:
É que a condutora do carro (que não é um táxi, ao contrário do que possa parecer) apenas estacionou ali até vagar um lugar na paragem da Carris... No que foi imitada, pouco depois, por outra madame, das muitas que, todos os dias e a toda a hora, ali vão à compras...

NOTA: Mantenho a oferta de pagar um almoço de lagosta ao 1.º leitor que me enviar uma foto de um destes carros a ser rebocado pelas autoridades. Ah!, e durante 1 mês deixa de haver a limitação de que essa foto seja tirada a um fim-de-semana.