29.11.15

Luz - Numa loja de artigos religiosos, Sevilha

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Talvez nunca tenha visto em toda a minha vida uma tão grande concentração de lojas de santos e artigos religiosos, meninos Jesus, santinhos, Nossas Senhoras, anjinhos, paramentos, escapulários, cordões, pagelas, terços, velas, crucifixos, lamparinas, tudo o que se deseje ou pretenda. Na velha cidade e naquelas ruas estreitas e curvas, são uma presença animada e alegre. As lojas estão sempre cheias de clientes, senhoras de idade, com certeza, mas também jovens, homens e turistas. Noutras partes da cidade, repete-se a mesma presença da religião e das respectivas lojas, como, por exemplo, em volta de Nossa Senhora da Esperança Macarena, de enorme devoção dos sevilhanos, dos aficionados da tourada e dos ciganos. (2008)

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PROGRAMAS E MANUAIS ESCOLARES, PROFESSORES, EXAMES E CIDADANIA

Por A. M. Galopim de Carvalho
Uma pequena troca de opiniões que  teve lugar há dias, no Facebook, envolvendo programas escolares, exames e professores, levou-me, uma vez mais, a partilhar com todos os amigos o que penso sobre este complexo e delicado assunto.
Referindo-me unicamente à área do conhecimento na qual me movimentei, ao longo de décadas como professor, estou em crer que todos os males de que enferma o nosso ensino básico e secundário na disciplina de Geologia começam nos programas oficiais, da responsabilidade do Ministério da tutela e das equipas que, oficialmente, os elaboram.  (...)
Texto integral [aqui]

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28.11.15

Ameaça em vão

Por Antunes Ferreira
O discurso agressivo e ameaçador de C. Silva na posse do Governo chefiado por António Costa veio demonstrar o que já se sabia, mas que, alguns cidadãos pretendiam esconder , especialmente os de cor laranja.  É um mau PR, mas também é um PR mau. É vingativo, é arrogante, é empertigado, é inculto e é pesporrente; são estas as “qualidades” que tem entre várias outras. É o pior Presidente desde o 25 de Abril; considero que ao pé dele o almirante Tomás era um anjinho com asas nas costas

É bom recordar o escândalo do PBN em que C. Silva tinha acções bem como sua filha, em que a venda das mesmas antecedeu por horas a privatização do Banco. Alguém o informou. Terá sido Oliveira e Costa que entretanto se demitira de presidente da instituição bancária que ele próprio fundara. Oliveira e Costa, militante do PSD, fora Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no X Governo  Constitucional chefiado por… C. Silva? Coincidência?

Foi nessa altura que proferiu a frase que foi motivo de galhofa por todo o País: “para ser mais honesto do que eu, um homem tem de nascer duas vezes!” Ginecologistas ficaram abismados – nascer duas vezes? Nem o próprio Cristo cometera tal pecado por impossibilidade. Mas C. Silva não se incomodou, pois sempre resistira a qualquer pressão, viesse ele donde viesse. Um homem tinha de nascer duas vezes, acentuara, sob o olhar ternurento da dona Maria, sua esposa. Só não disse “e o resto são tretas”.


Um sujeito destes é perigoso. É o principal culpado pelo país ter chegado ao lastimoso estado em que se encontra. Mas, como a memória dos homens é curta, relembro que foi ele que ordenou aos pescadores para afundarem os barcos e aos agricultores que arrancassem as videiras pois só assim a então Comissão Europeia poderia abrir as portas para subsidiar tal disparate. Foi a altura em que se dizia que os felizardos que tinham cumprido a imposição andavam nos jipes da CEE…Mas sua excelência não se ficaria por aqui. A ordem ocorrera enquanto era chefe do Gorno; depois logo se veria.
Como Presidente da República (???)  considerou que a economia portuguesa devia passar  pela pesca e pela agricultura. O homem esquecera-se do que tinha afirmado, mas se lho lembrassem tinha sempre à mão de semear a dicotomia “primeiro-ministro” / “chefe do Estado”. De tantas vezes repetida uma mentira (em linguagem politicamente correcta inverdade) torna-se verdade. Mas ninguém era tão honesto…
O anedotário nacional em que nós os Portugueses somos especialistas, registou algumas expressos do mandatário (só para lembrar o “façarei”, “nunca fiz, não faço nem façarei”. Ou a afirmação de que as vacas nos Açores sorriam da felicidade. E muitas outras mais). Por isso disse-se que C. Silva estava com  Alzheimer; não estava, estava sim, como sempre esteve, mau como as cobras. Para quê doença? Não era necessário que fosse a desgraçada Alzheimer, se já tinha a da maldade.
Foi este sujeito que no seu discurso no palácio da Ajuda ameaçou dissolver o Governo de António Costa, mas a que este respondeu com luva branca, ao contrário de C. Silva. Para esclarecer o imbróglio o antigo Presidente da República Jorge Sampaio defendeu na passada quinta-feira ,  que o novo executivo fosse para uma legislatura, e considerou "muito difícil utilizar com razoabilidade" o poder presidencial de demissão do Governo porque a responsabilidade política deste é perante o Parlamento, não sendo por acaso que nunca tivesse sido. Utilizado.
Mas disse ainda que "demitir o Governo não faz parte dos poderes normais do Presidente da República a partir da revisão constitucional de 1982" e que "é muito difícil de utilizar com razoabilidade", "O poder de responsabilidade política do Governo é perante a Assembleia da República, isso para mim hoje é indiscutível", sublinhou ainda, porém escusou-se a comentar em concreto o discurso de quinta-feira de Cavaco Silva, que deixou esse aviso ao Governo de António Costa.
Porém acentuou que "já vai sendo tempo, tantos anos depois, das pessoas perceberem" que só em condições especiais para "salvaguarda do funcionamento das instituições democráticas é que se pode demitir o Governo", sendo preciso reunir condições como ter "a certeza que a crise é gravíssima e quando houver solução para que essa crise seja resolvida". Costa dever ter aplaudido estas afirmações. Pelo contrário, C. Silva de ter ficado embatucado.

Na verdade, já é tempo de nos vermos livres esta aberrante criatura. Em Janeiro logo se verá quem virá a seguir; mas quem quer que seja será sempre melhor do que esta avantajem; pior é impossível.

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26.11.15

Cavaco Silva e a estabilidade democrática

Por C. Barroco Esperança
Cavaco Silva demorou cinquenta e um dias de vingança, ressentimento e declarações incendiárias para indigitar António Costa como primeiro-ministro do XXI Governo Constitucional.

Foi o tempo perdido para a decisão inevitável onde introduziu o insólito verbo ‘indicar’, próprio de um cavador de enxada, inadequado ao léxico constitucional. Foi o lapso de tempo de quem preferiu os interesses do PSD aos do País, uma birra ao sentido de Estado e a retaliação gratuita contra 62% do eleitorado que não o suporta.

Cavaco, ao submeter-se aos interesses e prazos da coligação da pior direita que capturou o PSD e o CDS, não previu que as últimas eleições legislativas seriam também o castigo à sua conduta presidencial.

Como ninguém lhe disse que em quatro países europeus, Dinamarca, Bélgica, Letónia e Luxemburgo, o primeiro-ministro não é do partido que teve mais votos nas eleições, não percebeu que a fúria reacionária era um entrave ao bom funcionamento das instituições, adiando a inevitável indigitação de António Costa. Só não se adivinhava que julgasse incompatível o apoio ao PS por partidos que eventualmente gostasse de ver ilegalizados.

O PR que deu posse à ministra das Finanças de um governo de coligação, apenas com o PSD, em exótica cerimónia de que estiveram ausentes os membros do CDS, incluindo o líder irrevogavelmente demissionário, desejou furtar-se à indigitação do governo saído da sede própria, a A.R., afrontando o mais representativo órgão de soberania.

O homem que, do mundo, só reteve o estreito espaço que separa o Poço de Boliqueime da Travessa do Possolo, em Lisboa, é capaz de represálias contra um governo legítimo até ao despejo constitucional da família Silva do Palácio de Belém.

Para a normalidade democrática não basta o novo governo, é urgente mudar de PR.

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22.11.15

Luz - À beira Tejo, Lisboa


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Raparigas ao sol, com ponte Vasco da Gama ao fundo, no Parque das Nações. Tudo parece apostado em definir e sublinhar a serenidade. A ponte, com a sua doce elevação. O rio sossegado. O barco quase parado. As duas meninas confiantes e abandonadas ao sol. A sombra protectora. Se alguém julga que a nudez é sempre mais sensual do que a roupa, olhe e pense duas vezes… (2015)

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SEDIMENTOS E ROCHAS SEDIMENTARES

Por A. M. Galopim de Carvalho

Em 1941 o cosmólogo e grande divulgador científico russo, George Gamow (1904-1968) escreveu; “o Livro dos Sedimentos”, reconstruído pelo esforço de diversas gerações de geólogos, equivale a um extensíssimo documento histórico, ao lado do qual todos os alentados volumes da História da Humanidade não passam de insignificantes opúsculos”...
Na realidade, grande parte da história da Terra e da vida está arquivada nas rochas sedimentares.
O livro que tenho em fase final de revisão, prestes a entregar ao editor, “O AVÔ E OS NETOS FALAM DE GEOLOGIA”, especialmente dirigido aos professores que ministram as primeiras noções de Geologia no Ensino Básico, foi concebido com base nos conteúdos do actual 7º ano de escolaridade, usando um discurso pedagógico convenientemente adaptado aos respectivos níveis etários e de escolaridade dos alunos.
Velho geólogo, o avô tem por auditório os três netos em férias de verão, o Domingos que completara o 7º ano, e os gémeos Francisca e Mateus, acabados de sair do 6ª. O cenário é o terraço da residência das crianças, algures a norte da Serra de Sintra.
O texto que agora e aqui disponibilizo aos meus amigos do Facebook reproduz o capítulo dedicado às rochas sedimentares.

“Depois do jantar e, como ia sendo hábito, os netos rodearam o avô, curiosos, na espectativa do que seria a conversa nesse fim de tarde.
- Como já dissemos, - começou o avô - temos ali, nas ombreiras da porta e das janelas, uma rocha muito conhecida.
- É calcário, avô. – Adiantou-se o Domingos, a mostrar que aproveitara bem as lições de geologia que tivera no ano findo. - É uma rocha sedimentar.- Acrescentou, a marcar a sua condição de irmão mais velho e mais adiantado.
- Então, vamos hoje falar das rochas sedimentares. – Confirmou o avô. – Já sabemos que o calcário é uma rocha sedimentar, mas vamos deixá-lo para amanhã. Hoje vamos começar por falar de sedimentos.
- Vamos a isso. – Exclamou, risonha, a Francisca, arrastando a cadeira para mais perto da do avô.
- Sedimento é um palavra vulgar, conhecida de toda a gente, que fomos buscar ao latim e quer dizer, pura e simplesmente, depósito. Se olharem para o fundo do tanque de rega do vizinho Pedro, verificam que se depositaram, lá no fundo, poeiras trazidas pelo vento, folhas de árvore e outras sujidades que ali caem e se acumulam ou, dizendo de outra maneira, ali sedimentam. Na natureza acontece o mesmo. E, assim, em geologia, sedimento é todo o material que naturalmente se deposita e acumula num local onde isso possa acontecer, seja no fundo do mar, de um lago ou de um troço de rio onde a água fique sem força para o arrastar.
- E que material é esse, avô? – quis saber a Francisca.
- Basta ir ali abaixo à ribeira e ver o que ela transporta. É areia, são pedras tanto maiores quanto mais forte tenha sido a corrente, são folhas de árvore e muitas porcarias que as pessoas sem educação ali despejam. E se forem lá ver em alturas de muita chuva, deparam com uma água turva, que nós dizemos barrenta, porque leva argila em suspensão.
- Barro e argila é a mesma coisa. - Interrompeu o Domingos.
- Podemos dizer que sim. – Confirmou o avô.- Barro é uma palavra mais popular. Quando está seca, a argila parece uma pedra. Uma pedra que não é dura como essas que se apanham do chão.
- Quando o raspamos com a unha fazemos um pó muito fininho. – Continuou o neto.
- Isso mesmo. – Completou o avô. - É por isso que se diz que é uma pedra friável ou seja, que se pode reduzir a pó. Na verdade o que acontece é que os minerais que formam a argila são, por natureza, tão minúsculos, que só com microscópios muito potentes os podemos ver. Chegam a ser mil vezes mais pequeninos do que um grão de areia dos mais pequenos. E agora entra aqui um processo, que não vou explicar agora, pelo qual partículas desta dimensão se podem unir umas à outras, mesmo a seco, como se tivessem cola a uni-las. É esta união que faz com que o barro seco pareça uma pedra.
- Lá na escola, - meteu-se na conversa o Mateus – fazemos coisas com barro.
- Mas repara que trabalham com barro molhado. Só assim se pode moldar. Mas, atenção, o barro com que trabalham está molhado com pouca água. Porque se tiver água a mais, desfaz-se e agarra-se às vossas mãos. E quando, no fim do trabalho vão lavá-las, certamente já repararam que a água que vos sai das mãos fica turva. E fica turva por que tem partículas de argila em suspensão.
- Suspensão? – Interrompeu a neta, a pedir explicação para uma palavra desconhecida.
- É muito simples. – Prontificou-se o avô a explicar. – Quando dizemos que uma coisa está suspensa, seja ela a roupa a secar no estendal ou esse brinco na tua orelha, queremos dizer que não cai. Mas o melhor é observarmos uma experiência muito rápida e fácil de fazer.
E, dizendo isto, pediu aos netos que fossem buscar dois copos com água, uma colher e que pedissem à mãe uma pitada de açúcar e outra de farinha. Com tudo o que pedira sobre a mesa, dirigindo-se à neta, começou: – Deitando o açúcar na água e mexendo com a colher como podes ver, ele desaparece porque se dissolve. Isto acontece porque as moléculas (numa conversa anterior, a noção de molécula já havia sido abordada) do açúcar, muito bem unidas, como é característica do estado sólido, se libertam e se separam umas das outras e, uma vez libertas, se misturam com a moléculas de água, passando a fazer parte de um corpo no estado líquido. Por outras palavras podemos dizer que as moléculas de açúcar se diluem na água.
- Com o sal passa-se o mesmo. – Disse o Domingos, muito atento a esta explicação do avô.
- Se agora, neste outro copo, em vez de açúcar, deitares farinha e mexeres muito bem com a colher, verificas que água fica turva. E fica turva porque os grãozinhos da farinha são muito fininhos, tal e qual os da argila, e demoram muito tempo a chegarem ao fundo. Dizemos, assim, que estão em suspensão na água. É precisamente o que se passa ali na ribeira quando a água vai barrenta.
- Percebi perfeitamente. – Alegrou-se a neta.
- Vamos então continuar. - Propôs o avô. - Uma pedra pequena ou grande, um grão de areia ou um minúsculo grãozinho de argila transportados pelas águas de um rio e que acabe por se depositar no fundo ou nas margens de um rio, num pântano, num lago ou no mar, é um sedimento. Mas, atenção, há, ainda, as conchas das ameijoas, dos mexilhões e dos mais variados moluscos que são essencialmente feitas de carbonato de cálcio. Inteiras, partidas ou reduzidas a pó, por força das correntes que as arrastam, são sedimentos ricos nesse composto químico. Os corais e certas algas que constroem os respectivos esqueletos com carbonato de cálcio também são destruídos pela força do mar, dando origem a sedimentos do mesmo tipo.

- Carbonato de cálcio, avô? – Interrompeu a Francisca.
- Sim, carbonato de cálcio. – Confirmou o Domingos. – É o mesmo composto químico da calcite que tenho na minha colecção e que tu já tiveste na mão. E é o mesmo da casca dos ovos. Tem carbono, oxigénio e cálcio.
- Vamos continuar. – Interrompeu o avô, olhando para ao relógio. – Pensem, por exemplo, nos sedimentos transportados pelos rios a caminho do mar. Os calhaus, embora muitos fiquem pelo caminho, muitos mais chegam ao litoral. Podemos vê-los na praia. Com as areias passa-se o mesmo. Uma fica nas margens dos rios, onde a água corre com menos força, e a outra vai depositar-se nas praias e no mar.
- E as dunas? – Perguntou o Mateus, a beber as palavras do avô.
- As dunas, meu neto, são areias que o vento varre da praia e acumula em montes, por vezes, muito grandes. Quando fomos à praia do Guincho, - lembram-se? -, era um dia de vento muito forte e pudemos ver a areia a atravessar a estrada a caminho das dunas.
- Ó avô, quando o avô fala a gente até vê as coisas. – Exclamou a Francisca, toda contente.
- Deixem-me acrescentar que a areia que entra no mar se deposita, sobretudo, numa zona aplanada, de pequena profundidade, que se estende ao longo da costa.
- É a plataforma continental. – Acrescentou o irmão mais velho. – Só a seguir é que o mar se torna mais fundo, disse a minha professora.
- É isso mesmo, Domingos. – Continuou o avô. – Podemos dizer que começa aí o fundo do oceano, onde as profundidades podem atingir cinco a seis mil metros e, em alguns locais, bem mais do que isso. Entre o bordo da plataforma continental e o fundo oceânico há uma descida chamada vertente continental e é na base deste talude ou rampa, como lhe quisermos chamar, que se acumulam os sedimentos de menor calibre, ou seja, as partículas de argila e os grãos de areia mais fininhos, em camadas ou estratos, como também se diz, uns sobre os outros. É por isso que dizemos que a rochas sedimentares são rochas estratificadas. Este ambiente de transição da plataforma continental para o fundo oceânico é muitas vezes referido por margem e é aqui que as sobreposições de estratos ou, por outras palavras, as sequências sedimentares, podem atingir centenas e, até, milhares de metros de espessura.
- Mas essas camadas ainda não são rochas, avô!? – Interrompeu o neto mais velho.
- Isso é verdade, mas, com o passar dos milhões e milhões de anos vão ficando muito apertadas sob o peso das camadas que lhes ficam por cima e sofrendo outras acções que acabam por as transformar em pedra.
- E que outras acções são essas que ajudam a transformar os sedimentos em rochas? – Quis saber o Mateus, muito atento ao que se estava a dizer.
- Uma delas é a introdução de substâncias dissolvidas na água que penetra e circula entre os sedimentos e os cola, entre si, à semelhança do cimento. Podemos fazer uma experiência para mostrar como é que se pode passar de um depósito de sedimentos soltos a uma rocha. - Dizendo, isto pediu ao Domingos que fosse buscar o frasco com areia que tinham trazido da praia, ao Mateus, um prato e o saleiro da cozinha, e à neta, que trouxesse um copo com um pouquinho de água.
- Agora, - começou o avô, depois de tudo o que pedira se encontrar sobre a mesa, - enquanto o Mateus dissolve na água deste copo a maior quantidade de sal que puder, a Francisca cobre o fundo do prato com a areia. – Virando-se para o Domingos, perguntou: – Adivinhas o que é preciso fazer agora par dar continuidade à nossa experiência.
Em vez de responder com palavras, o neto cobriu a areia com a água saturada de sal.
 - Daqui a dois ou três dias, quando a água se evaporar, iremos ver que a areia deixou de estar solta. Os grãozinhos ficaram colados uns aos outros pelo sal que se meteu nos espaços que existiam entre eles. Quando cá estiveram os pedreiros a arranjar o muro do jardim, fizeram uma argamassa com areia, cimento e água. Lembram-se? E passados uns dias, como é que estava essa argamassa?
- Estava dura, avô. Parecia pedra.
Passa-se o mesmo na natureza quando um qualquer cimento penetra uma camada sedimentar incoesa, ou seja, com os sedimentos soltos, e a transforma em rocha dura, mas a maneira mais correcta é dizer rocha coesa.
- Então, avô, a areia da praia pode transformar-se numa rocha? – Perguntou a Francisca.
- Pode e isso sempre aconteceu e continua a acontecer e a rocha assim formada tem o nome de arenito.
- Podemos dizer que o arenito é areia unida por um cimento? – Insistiu a neta.
- É isso mesmo, uma areia transformada em pedra por efeito de um cimento natural.
- Mas que cimento é esse, avô? – Perguntou, de imediato, o Mateus.
- Há vários tipos de cimento na natureza. - Continuou o avô. - Um deles é vosso conhecido. É o carbonato de cálcio, de que já falámos. Uma vez dissolvido na água, o carbonato de cálcio percorre os vazios entre os seixos e os grãos de areia e, a pouco e pouco, com o passar do tempo, vai-se depositando, acabando por encher e tapar esses vazios.
- Como os grãos são muito pequeninos, temos dificuldade em ver esses vazios. Estão lá, mas a gente não os vê. – Explicou o Domingos para o irmão.
- Mas temos uma maneira de saber que eles existem. – Acrescentou o avô. - Quando, amanhã, na praia, enchermos com areia um dos copos que costumamos levar e, com outro, deitarmos lá para dentro uma boa porção de água, essa água desaparece, não se vê, mas está lá, entre os grãos da areia, a preencher os vazios. Percebes?
- Perfeitamente, avô.
- E, já agora, deixa-me insistir em dizer que, se nessa água houvesse algo que permitisse colar os grãos ente si, estávamos a fazer um arenito artificial.
Agora pensemos nos seixos da praia, dos maiores aos mais pequeninos. Como são todos arredondados, mesmo que estejam juntinhos uns aos outros, deixam, entre si, espaços suficientemente alargados para deixarem entrar não só o cimento como também a areia. Assim, – continuou o avô, - se os seixos da praia se acumularem e se, entre eles, se introduzir areia e um cimento que lhes encham os vazios, os agreguem e os transformem numa rocha coesa, essa rocha chama-se conglomerado. Se em vez de seixos rolados, forem fragmentos de pedra angulosos, isto é, com arestas e bicos, damos-lhe o nome de brecha.
- Na areia da Praia Grande também há grãozinhos muito redondinhos. - Interrompeu o Domingos. – O meu pai levou uma lupa e nós vimos que a maioria são de quartzo, mais pareciam feitos de vidro.
- Isso é verdade. - Confirmou o avô. - E eu explico porquê. Por causa da chuva e das variações de temperatura, as rochas como, por exemplo, o granito e outras também com quartzo na composição, vão-se desagregando sobretudo por apodrecimento ou, melhor dizendo, por alteração química do feldspato. O quartzo não se altera e, uma vez solto, dispersa-se no terreno constituindo a areia que está no chão que pisamos quando andamos no campo. Na dita alteração e ao fim de muitos anos, o feldspato transforma-se na argila que nos enlameia as botas e sapatos quando andamos aí pela Serra no tempo chuvoso. Esta areia e esta argila acabam sempre por ser arrastadas pelas águas da chuva e dos ribeiros, a caminho do litoral onde têm o destino que já vos disse. Faço-me entender?
- Sim, avô. – Disseram, ao mesmo tempo, os gémeos.
- Para terminarmos a nossa conversa de hoje, só falta dizer que, na origem das rochas sedimentares, além dos seixos, das areias, das argilas e dos restos de seres vivos, como as conchas e outras partes duras de certos animais, não podemos esquecer os produtos químicos dissolvidos na água, com destaque para a sílica (dióxido de silício), o dióxido de carbono, o cálcio, o magnésio, o sódio, o potássio, o cloro, o enxofre e o fósforo. Se, por exemplo, não houvesse cálcio e dióxido de carbono na água do mar, as ameijoas, os mexilhões, os búzios, as ostras ou os corais não construíam os respectivos esqueletos.
- E, assim, avô, não havia calcários. – Adiantou-se o Domingos.
- Se não houvesse enxofre, oxigénio e cálcio, - continuou o avô - não se formava o gesso. Se não houvesse cloro e sódio, não se formava sal-gema.
- Que é igual ao sal que se usa na cozinha. Interrompeu, de novo, o neto.
- Exacto, mas vamos deixar este capítulo das rochas sedimentares para mais tarde. E agora, vão brincar.
- E depois, - advertiu a mãe, vinda de dentro da casa, - vestir pijamas, lavar dentes e cama.
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