30.6.11

As palavras, essa chatice

Por Ferreira Fernandes

CHEGAR às portagens e fazer o que quase todos fazem, sair, levantar a cancela e andar sem pagar, isso é explosivo. Transformar a capital do país, durante dias, palco de combate entre tropas de choque e manifestantes, granadas e cocktails Molotov, isso é explosivo. Votar à justa (155 em 300) porque a oposição não alinha, quando a alternativa era a bancarrota do país, isso é explosivo. Isso é explosivo e saber o que significa não exige consultar dicionários, basta ligar a televisão à hora do telejornal.
A Grécia está explosiva. Portugal, não. As manifestações, ontem, por exemplo, em Viana, foram ordeiras. Os portugueses estão descontentes mas não se deixam desesperar. Podem estar zangados mas não estão irados. O Governo adopta soluções duras, sabendo que não será recebido à pedrada. A oposição que está no Parlamento com o fito de vir a ser Governo (e este alcançado por votos, não pela rua) é responsável.
É este o retrato do País, cordato, não explosivo. Lembro-o porque, anteontem, o Presidente disse: "(...) se bem se recordam, há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproximava de uma situação explosiva, lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva." Não me recordo do que Cavaco Silva disse há dois anos e também não me vou recordar mais do que ele disse anteontem. Eu gostava, mesmo, era de um Presidente que não tropeçasse nas palavras.
«DN» de 30 Jun 11

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No melhor pano...


AS FOTOS de cima são apenas duas, de muitas, que mostram que em Aveiro também se dá valor à calçada portuguesa - e ainda bem; mas, infelizmente, também por lá não falta quem não respeite o trabalho dos que a executam.

Recursos

Por João Paulo Guerra

QUEM NÃO SABIA ficou ontem a saber pelo Correio da Manhã que os portugueses são os terceiros consumidores mundiais de peixe e que Portugal importa pescado no valor anual de 660 milhões de euros. Ora Portugal importar peixe é uma realidade tão inopinada e ridícula como se o Saara importasse areia, a Sibéria importasse gelo ou a China importasse pessoas. Com cerca de 1800 quilómetros de costa, um mar territorial e uma zona económica marítima exclusiva de 200 milhas náuticas de extensão, com 1,7 milhões de km2 de superfície da ZEE contando com os mares dos Açores e da Madeira, constituindo a décima primeira maior zona económica exclusiva do mundo, tudo isto com um clima marítimo temperado, Portugal teria todas as condições e mais algumas - a história, a vocação - para ser auto-suficiente em matéria de produtos marítimos, entre os quais o pescado, e ainda para exportar com proveito os excedentes.

Mas não. Portugal dedicou-se laboriosamente, isso sim, a desmantelar o sector das pescas. Grande parte do sector seria de natureza artesanal e vai daí, em vez de o reconverter e desenvolver, tratou de o dizimar, o que terá dado muito jeito à concorrência. Também não se acrescentou indústria que se visse, antes se desmantelou a que havia, de maneira a transformar o peixe pescado nas costas portuguesas. De maneira que pode dizer-se que Portugal, nas últimas décadas regrediu aos tempos do Botas, quando exportava cortiça e importava rolhas.

Claro que o País está sempre a tempo de erguer de novo as velas, acertar o rumo e a orientação da agulha de marear, procurar o vento favorável e navegar à bolina para novos destinos. A questão é que em tempos ainda próximos os Assuntos do Mar só pescaram... submarinos.
«DE» 30 Jun 11

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29.6.11

Nesta frase parece haver qualquer coisa que não está bem.
O que é?

Por favor, Marcelo, não fale de mim!

Por Ferreira Fernandes

NA SEMANA passada, o Jornal de Negócios considerou Marcelo Rebelo de Sousa o 43.º homem mais poderoso da economia portuguesa. Para quem não tem bancos nem empresas pode parecer exagerado. Mas o retrato que o jornal faz a seguir - "(...) as suas palavras aquecem a vida política nacional. Cria cenários e desfaz certezas. Tem amigos em todas as áreas..." - justifica a cotação alta. E não é Bernardo Bairrão que vai desmentir o Jornal de Negócios. As "palavras" de Marcelo, no domingo, "criando o cenário" de que Bairrão seria o próximo secretário de Estado da Administração Interna, "aqueceram a vida política nacional", na segunda-feira, e "desfizeram uma certeza": quem é convidado não tem o lugar seguro. Quase bingo, para o Jornal de Negócios! Quase, porque quer-me parecer que na área de ex-administradores da TVI, talvez Marcelo não tenha só amigos. Mas, quer-me parecer também, esse é o lado para que ele dorme melhor.
Alguém já definiu Marcelo como o escorpião que no meio do rio pica o sapo que o transporta às costas, com risco de também ele morrer afogado, mas incapaz de fugir à sua natureza de escorpião.
O exemplo de Bernardo Bairrão, afogado no meio do rio entre a TVI, de onde se despediu, e o Governo, para onde não entrou, deve dar ideias a Marcelo: está ali um emocionante nicho de mercado. E, aos domingos, a prédica vai ser ouvida ainda por mais pessoas. Não desejosas que o poderoso Marcelo as nomeie. Mas em pânico.
«DN» de 29 Jun 11

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Nestes 'souvenires' de Aveiro há qualquer coisa que não está bem.
O que é?

Que viva a Grécia!

Por Baptista-Bastos

A GRÉCIA parece ter peçonha. Nas reuniões internacionais, Papandreou é objecto de todas as recuadas atenções e de todos os silenciosos desfavores. Os países "periféricos", nos quais se inclui Portugal, nada querem a ter com a Grécia, uma desgraça que dá azar. A simples menção do nome do país faz estremecer de horror os dirigentes da Europa "pobre." A Grécia é-lhes desprezível. Temem o "contágio", e afirmam, com fogosidade, nada ter a ver com "aquilo". Se a Europa económica e política está a desfazer-se, a Europa moral (o que quer que a expressão signifique) só não cai em estilhaços - porque não existe.

Entre dentes ou, até mesmo, com clareza impudica, políticos de países "menores" não querem paralelismos comparativos com os gregos. Os gregos são a desonra da Europa. Basta observar como o primeiro-ministro daquele país é olhado (de viés) e tratado (como um subalterno) para se entender o carácter separatista e discricionário da União. A Europa germanicamente "imperial", tão bravamente desejada e imposta por Angela Merkel, faz o seu caminho, com exclusões e inclusões das mais absurdas. A fragilidade desta pseudoconstrução, na qual se pretendia criar uma nova identidade política e económica, com base num igualitarismo de poderes e de decisões, é uma evidência - e um colossal embuste.

A Grécia, por todos os motivos que a definem e nos definem, é uma instituição cultural e uma entidade política e estética que não deve ser submetida a estas desconsiderações, enraizadas num capitalismo tão predador quanto ignorante. Diz quem não sabe: a Alemanha e os países mais ricos não podem pagar pelos erros e desmandos dos dirigentes gregos. É verdade. Porém, as causas das coisas não são tão simples. E a aplicação, à Grécia, de juros superiores a mais 20% pode sugerir-nos que há teias insidiosas, cuja invisibilidade não é assim tão obscura. A quem e a que países interessa o desmantelamento do projecto europeu, e à acentuação de uma complexidade que nos inculca um desequilíbrio insustentável?

A ideia segundo a qual a Grécia criará um efeito de dominó imparável tem adeptos poderosos. E, nos meios de comunicação, há jornalistas e comentadores estipendiados para defender essas bandeiras. As quais são as bandeiras dos poderes ocultos que ambicionam o domínio sobre os Estados e a subversão da própria democracia.

A desobediência civil, manifestada em múltiplas e diversas acções dos gregos, poderá não ser, ainda, uma sintaxe revolucionária. Poderá. No entanto, um pouco por toda a parte, as pessoas começam a fartar-se das iniquidades e violências de um sistema que encaminha as nações para o caos. Preservar a liberdade num mundo cada vez mais cercado e caracterizado pela barbárie é um imperativo moral e uma imposição de consciência.

«DN» de 29 Jun 11

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28.6.11

«Três ou quatro objectivos imediatos e simples»

POR MAIS que procure, não encontro, no que aqui é dito pelo Nuno, nada de que discorde. Resta-me, pois, desejar-lhe felicidades... e força!

NOTA: não sei se é do meu monitor, mas a imagem deste vídeo aparece-me demasiado escura (ou será para condizer com o "estado da Educação"?) Se alguém souber de uma versão melhor, agradeço que ma indique.

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O plágio e o perjúrio

Por Maria Filomena Mónica

MUITO se tem escrito sobre o «copianço» que, há algumas semanas, teve lugar num exame de candidatos a juiz e a procurador. O facto é gravíssimo, mas pior foram as soluções tomadas, em sucessivas golfadas, pelos responsáveis do sector. Desde a extraordinária ideia de dar 10 valores a todos os alunos – note-se que estes são licenciados em Direito, usufruindo, para frequentar o curso, de uma bolsa de estudo paga por todos nós – até ao remendo idiota de os obrigar a repetir o exame, tudo é inacreditável. Que eu saiba, o plágio é um crime e estes rapazes e raparigas - os que copiaram - deveriam ter sido expulsos e, mais importante, demitida a direcção do Centro de Estudos Judiciários. Não é a primeira vez que isto – um plágio seguido de uma classificação de 10 valores - acontece naquela instituição. Se agora dele temos conhecimento foi porque alguém deu com a língua nos dentes perante um jornalista.
Vivemos num país de aldrabões congénitos. De facto, existe uma linha horizontal que divide a Europa. A norte, a mentira é tida como uma falta grave; a sul, fazemo-lo todos os dias. Por uma razão: ao contrário da Protestante, a Igreja Católica tem a faculdade de, no confessionário, apagar as malfeitorias. Se não acreditam nesta diferença cultural, vejam com atenção o que se passa nas séries americanas, onde o perjúrio é severamente punido. Entre nós, mentem impunemente políticos, empresários, futebolistas, médicos, professores… Não vale a pena alongar-me. É o regabofe consagrado em prática comum.

Veja-se, a título de exemplo, o que se passou recentemente no caso da «Casa Pia». Não sendo jurista, só aquando das declarações do ex-motorista da Casa Pia, no sentido de que afinal não conhecia os indivíduos que tinha acusado, percebi que as coisas eram mais complicadas do que pensara. Pelos vistos, uma vez que era arguido, Silvino tinha o direito de mentir em tribunal (excepto no que diz respeito à identificação e aos antecedentes criminais), não podendo ser alvo de sanção penal.
O mesmo não sucedia com uma das reais ou supostas vítimas de pedofilia, Hilário Marques. Três meses depois da epifania de Silvino, este declarou que, ao longo de todo o processo, também havia mentido. De acordo com o seu relato, não fora apenas ele a fantasiar, mas os seus companheiros. Ao serem confrontados com as fotografias que a PJ lhes havia mostrado, e por pretenderem fama, teriam escolhido gente conhecida, em vez de pessoas anónimas. Interrogado pelo jornalista sobre a possibilidade poder vir a ser acusado de perjúrio declarou que afinal apenas a consciência lhe importava. Até à data, nada lhe aconteceu.
A responsabilidade é de muitos – de uma investigação policial canhestra, de testemunhas mentirosas e de um povo que tolera a mentira – mas não pode ser repartida da mesma forma. Os principais culpados pelo estado em que se encontra a Justiça são os juízes, que desculpam o perjúrio, e os legisladores, que elaboram leis criminais deficientes.

«Expresso» de 25 Jun 11
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PS: No dia seguinte a ter escrito esta coluna, soube que a directora do CEJ tinha pedido a demissão. Fez muito bem. Penso contudo que deveria ter sido imediatamente exonerada e encerrada a instituição.

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Como alguns acarinham a calçada portuguesa

Mais uma das muitas obras-de-arte que ornamentam os passeios de Lisboa. Esta, na Av. da Liberdade, deve-se à empresa COLT.
Ver outras [AQUI]

Convite

Por Maria Filomena Mónica


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27.6.11

Estranha palavra...
Estranho monumento...
Estranha rua...
Estranho nome...

Memórias Fardadas (4) - Vendas Novas, Setembro de 1953

Por A. M. Galopim de Carvalho

ESTÁVAMOS a caminho do fim do Verão do ano da Graça de 1953. Era Domingo, a meio da tarde, numa vila àquela hora deserta, de portas e janelas fechadas à luz e ao brasido do Sol.
Com 22 anos completados no mês anterior, vestido à paisana, com uma velha mala de cartão na mão e algum nervosismo, dirigi-me ao soldado a fazer de sentinela à entrada da Escola Prática de Artilharia.

- Venho apresentar-me – e mostrei a guia.
- Pode entrar – disse. - Já aí estão uma data deles.

Transpus a “porta de armas” acompanhado por um dos soldados da guarda que me conduziu para um local da parada onde se reuniam dezenas de mancebos que iria ter como camaradas de quartel. (...)

Texto integral [aqui]

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Só risos

Por João Paulo Guerra

AS FOTOS do Conselho Europeu do final da semana passada mostram que o neófito primeiro-ministro português aprendeu depressa a primeira lição de comportamento político da casta que regula a Europa: sorria, ou ria-se mesmo, está a ser fotografado e/ou filmado.

É um enigma, de que já aqui dei conta por mais que uma vez, mas que agora ganha ainda mais acuidade: porquê e de quê se riem os líderes desta desgraçada Europa, velho continente da civilização e da cultura, que esta casta de políticos levou ao desastre que se vê? Pois é. Mas conselho após conselho, desacordo após desacordo, fracasso após fracasso, ameaça após ameaça, chantagem após chantagem, eles riem. E Passos Coelho, chegado de fresco, lá está nas fotos do último Conselho a rir, entre o riso cínico do Sr. Sarkozy e o riso balofo da Sra. Merkel.

Mas riem-se de quê? De Portugal que já lhes caiu nas mãos, que já é governado por eles e que tem um governo que politólogos ouvidos pelo Público consideram "mais troikista que a troika"? Da Grécia, espremida pelas agências de ‘rating' e pela Comissão Europeia, umas e outra pisando "os limites da democracia", como considerou Maria João Rodrigues? Nada disso.

Os governantes da Europa riem-se dos europeus. Riem-se porque governam, desgovernando, a Europa - são eles que governam e conduzem a Europa ao desastre, não são os cidadãos europeus. Riem-se porque sendo uns medíocres - há algum conservador europeu actual da estatura de Helmut Kohl, ou algum socialista da dimensão de Jacques Delors? - chegaram ao topo da sua mediocridade rodeados de benesses. A Comissão do Dr. Barroso que o diga. Riem-se porque liquidaram a Europa social antes dela existir e porque a seguir vão liquidar a Europa democrática. Só resta saber quem será o último a rir.
«DE» de 27 Jun 11

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26.6.11

Luz - Rua de Argel, 1973

Fotografias de António Barreto- APPh

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Nesse ano, o número de argelinas que usavam o véu branco era muito reduzido. A Argélia era um país laicizado. Ao que me dizem, é hoje muito maior. Por mais que me falem do relativismo das culturas e dos verdadeiros costumes dos povos, nunca aceitarei esta selvajaria machista

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25.6.11

Semana em cheio

Por Antunes Ferreira

UMA SEMANA em cheio esta que ora finda. Parangonas informativas, mas sobretudo exclamativas, dado o que estava e está em causa. Há acontecimentos e pessoas que mobilizam as atenções da opinião pública, coisa que não se sabe muito bem o que é, mas lá que existe, existe. O rótulo é simpático para as massas populares que alegadamente a produzem e fica bem em qualquer escrito. E, além do mais, originou a saída à estacada de uns senhores que são a voz dela: os opiniadores públicos, numa tradução livre e pleonástica dos opinion makers, lá de fora.
Logo aqui nos debatemos com uma situação vulgaríssima em Portugal: o que vem da estranja é bom; mais do que bom: é óptimo. Confrontados com as declarações do Presidente da República, interrogamo-nos: então não é melhor consumir produtos portugueses, como ele aconselha? E como também afirma o Sr. Belmiro de Azevedo quando monta a sua feira na Avenida da Liberdade, e o Sr. Soares dos Santos igualmente, os tomates portugueses são excelentes. Em que ficamos?
Se pensam que estamos perante mais um texto de aplauso ao Dr. Passos Coelho, que até foi a Bruxelas em classe económica, tirem daí o sentido. Já tantos o escreveram que seria chover no molhado. De igual modo isso aconteceria – e entrados no Verão seria duplamente aborrecido – não estará em causa a eleição da Dr.ª Encarnação Esteves para Presidente da Assembleia da República. Aplaude-se, naturalmente, mas não entra para as contas deste rosário. Sobre a auto-imolação do Dr. supostamente Nobre, ponto final – pelas mesmíssimas razões.
O que tornou a semana que está no fim foi, real e verdadeiramente, o tema que mais preocupa os Portugueses: o futebol. A crise, essa, lá vai cumprindo a sua obrigação, mais troika, menos troika, menos austeridade, mais austeridade. Com um intervalo que se arrisca a ser menos entusiasmante, as férias possíveis, na expectativa do que está para vir. Preferencialmente nacionais, mas as agências de viagens continuam a pugnar pelas propostas exteriores. Complica-se o dilema. Que já nem se sabe se é trilema ou quiçá quadrilema.
O caso Villas-Boas abanou a falsa calma do defeso futebolístico. É óbvio que este estava a ter uma quanta agitação com as compras e vendas de jogadores, matéria quase sempre entusiasmante e fomentadora de grandes esperanças nos adeptos de diversas cores. Diga-se que a maior parte delas se esfuma no correr da época: os craques contratados não são tão estrelas refulgentes como se pretendia, as desilusões acabrunham sócios e simpatizantes, mas a vida, tal como a sorte, é madrasta.
A traição cometida e reconhecida pelo ex-treinador do FCP tem de ser lida no contexto financeiro complicado que o País vive. Adiante-se, já, que se trata de uma exportação de um produto nacional que rende ao clube da Invicta uns quinze milhões de euros e ao exportado uns cinco milhõezitos anuais. Há infidelidades perfídias bastante mais em conta, há que o reconhecer. Mas não têm o requinte de fazer ouvir o Sr. Pinto da Costa dizendo que não foi nada e que outros poderão sair, se forem batidos – o termo é dele – os euros constantes das cláusulas respectivas.
Surgiu depois o Benfica, pela voz do Sr. Luís Filipe Vieira, a anunciar que ele próprio, a SAD do clube e mais quatro administradores dela interpuseram acções judiciais, pedindo um total de 132 milhões de euros de indemnização a três empresas de comunicação social, três jornais, três directores e seis jornalistas. Em causa o que foi noticiado sobre a intervenção da Judiciária na vida dos encarnados, o que terá causado, de acordo com comunicado emitido que se tivessem levantado suspeições graves sobre os proponentes junto da várias varas cíveis da comarca de Lisboa.
Será preciso mais para justificar o que foi dito no início deste texto? Crê-se que não, que os ingredientes são mais do que suficientes, muito mais, portanto, do que o q.b. normalmente usado em receitas culinárias e noutras situações afins, correlativas ou concomitantes.
São bons exemplos de que vivemos quotidiana e corriqueiramente o quanto pior, melhor. Não se podia querer mais? Podia. Bastava que, para substituir o trânsfuga Sr. André Villas-Boas, os dragões tivessem vindo desviar o Sr. Domingos Paciência do Sporting. Não aconteceu. Mas, não se pode ter tudo.

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Novo vídeo promocional de Lisboa(s)

Por Manuel João Ramos:

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24.6.11

Proselitismos

Por Helena Matos

«Ciclistas vão pedalar por Lisboa sem roupa e sem preconceito em defesa do ambiente» – Este título do PÚBLICO de hoje é um tratado sobre o preconceito: em primeiro lugar o preconceito é mau; segundo: qualquer convenção é preconceito; terceiro: qualquer atitude que vá contra o dito preconceito é positiva e faz parte da irmandade das coisas positivas. Logo pedalar sem roupa é ir contra o preconceito e integra-se na defesa do ambiente.
Vão desculpar-me, mas só por cegueira preconceituosa se pode considerar que pedalar despido nuns dias em que a cidade chegará aos 40º, e em que existe não só um alerta de calor como também de radiação ultravioleta elevada, é uma doideira pegada além de implicar um profundo desprezo pelas condições ambientais. Já agora leiam-se as recomendações para as cautelas a adoptar hoje em Lisboa divulgadas num artigo do mesmo PÚBLICO. Quanto aos candidatos a ciclistas despidos, se quiserem ir sem cuecas é lá com eles mas não se esqueçam da t-shirt ou acabarão na urgência hospitalar com os ombros fritos.
Para o ano, sugiro que marquem este tipo de acção para Beja, em meados de Julho. As farmácias locais vão agradecer!
In Blasfémias

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Demagógico, Passos? Ainda bem

Por Ferreira Fernandes

GOSTEI quando Passos Coelho voou para Bruxelas em económica. Não gostei quando ele disse que não foi o seu gabinete que tornou pública essa austeridade. Se não foram os seus assessores que sopraram a notícia aos jornais, deviam ter sido.
Eu não quero que, por castigo, o meu primeiro-ministro vá trabalhar de pernas encolhidas, sem uma refeição razoável, se precisar dela, sem espaço para ler os jornais e abrir o computador. Se ele troca a comodidade eficaz da executiva pela austeridade penosa da económica, quero que o faça por uma boa causa. E essa boa causa, a única que vejo, é que o País conheça a sua vontade de dar exemplo. À gente a quem se está a pedir sacrifícios, sabe bem ouvir que os seus governantes não gastam o desnecessário. Andar de avião em económica nas viagens na Europa (duas ou três horas de voo) não é mortificação nenhuma, é só um pequeno sacrifício.
Há poucos meses, todos os deputados europeus do PSD e alguns do PS votaram contra trocar as suas viagens em executiva por económica. Soou-lhes talvez a demagogia. Estavam certos e errados. Era demagogia, mas era para ser praticada: etimologicamente demagogia quer dizer "arte de dirigir o povo". E ter essa arte é, hoje, uma condição necessária (embora não suficiente) para governar bem.
Passos Coelho não nos resolve nenhum problema ao viajar em económica. Mas tenta resolver um problema seu: convencer-nos. Mal seria que não o tentasse.
«DN» de 24 Jun 11

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17 700 (mais 1000, menos 1000...)

Em frente

Por João Paulo Guerra

EM PORTUGAL, país com 600 mil desempregados matriculados, grande parte dos quais sem qualquer apoio, três em cada dez cidadãos está disposto a emigrar para arranjar emprego ou melhor emprego. A maioria dos potenciais emigrantes é constituída por jovens com formação superior, segundo dados de uma empresa internacional de estudo de mercados. Para além dos três em cada dez que admitem emigrar, quase metade da população activa está à procura de outro emprego. Este é o País que há, mais a expectativa do que está para vir.

Ora estes dados colocam Portugal no topo de uma tabela, o que é um caso cada vez mais raro: este é o país ideal para fugir daqui para fora e a sete pés, na opinião de uma parte boa da sua população, os jovens, e da sua população mais habilitada, os jovens com formação superior. A política mede-se pelos resultados e este é o resultado da política da sujeição do país ao império das negociatas e da sujeição ao ‘diktat' dos interesses das potências europeias, que agora ocupam o País e mandam nos governos.

Porque de facto é extraordinário que, nesta fase da competição, com o País à beira da ruína, a mesma classe política acorde para a necessidade da produção, depois de ter desmantelado tudo o que produzia; que descubra as vocações marítima e agrícola do País, depois de ter pago com fundos europeus o desmantelamento das pescas e da agricultura; que reinvente o carácter imperioso da formação, depois de ter desbaratado os respectivos fundos estruturais; que desperte para a urgência do emagrecimento do Estado, depois de ter canalizado para os caneiros estatais sucessivas gerações de ‘boys'.

Bem pode dizer-se que a classe política conduziu Portugal à beira do abismo; a ‘troika' empurra o País para o passo em frente.
«DE» de 24 Jun 11

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23.6.11

Moby Dick - Pergunta de algibeira

Mostram-se, aqui, duas imagens que pretendem representar o Capitão Ahab (ou Achab), do romance Moby Dick. Dado que, como se vê, uma foi obtida a partir da outra (por "espelho"),

Pergunta-se: Qual delas é que está mais de acordo com o texto original da obra?
Resposta: ver comentário das 22h04m

O duelo que honra Portugal

Por Ferreira Fernandes

A IMAGEM é de um jornal inglês: o milionário Roman Abramovich abrindo uma boneca russa... Depois de uma boneca, outra, depois de José Mourinho, André Villas-Boas...
Ora as matriochkas respeitam as leis da física, a segunda boneca sendo necessariamente menor que aquela que a contém. O tablóide The Sun, com a elegância costumeira, foi por aí: chama "mini-Mourinho" ao novo treinador do Chelsea. "Segunda escolha", chamam-lhe os outros jornais, porque Abramovich começou por querer o treinador da selecção turca, Guus Hiddink. Mas "segunda escolha" é elogio - significa que Villas-Boas conquistou o que à partida não lhe estava destinado. É o que diz o jornal The Independent: o Chelsea primeiro pensou em Villas-Boas como adjunto de Hiddink "mas depois ficou tão entusiasmado que o quis para treinador principal". Pronto, já lá está.
Ontem, Villas-Boas deu a táctica para o primeiro combate: não quis concorrer com a tabuleta "Special One". Os jornalistas perceberam a mensagem: a CNN disse que ele se apresentou "without pomp or bravado", sem pompas nem bocas. No fundo, ele explicou que há dois tipos de bonecas russas. Umas, que imitam a primeira, mas em sucessivas diminuições. Outras, que são sempre diferentes, em sucessivas surpresas. A ser matriochka, André Villas-Boas é destas últimas.
O nosso Comércio Externo devia tirar partido do duelo, lançando o slogan: "O que é português é especial, nunca chapa única."
«DN» de 23 Jun 11

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Apontamentos de Lisboa - Pergunta de algibeira

Um vizinho meu escreveu para a Polícia Municipal de Lisboa pedindo que fossem tomadas providências contra esta situação - com que se deparava todos os dias, à saída de casa.
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Pergunta-se: que resposta recebeu?
Resposta: ver [AQUI]

22.6.11

Cristãos novos e cristãos velhos

Por Helena Matos

ESTE cisma que deu no BE a propósito das referências e das omissões aos fundadores parece uma daquelas discussões sobre os avoengos que estiveram na batalha de Ourique mais as sublimes distinções entre cristãos novos e cristãos velhos.

Obs.: Nas próximas legislativas Rui Tavares será candidato pelo PS.

In «Blasfémias»

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As assunções de Assunção e Assunção

Por Ferreira Fernandes

ENTRE tantas Joanas e Martas, qual a probabilidade de duas Assunções surgirem, no mesmo dia, no top político? Uma assumindo um Ministério para mãos calejadas, outra subindo a um posto até ontem inédito em mulher portuguesa.
Assunção, e logo duas, depois da mudança política causada pela assunção da dívida ao estrangeiro. Assunção Cristas, reparo eu por ser da mesma cidade, chamada naturalmente assim porque nasceu em São Paulo da Assunção de Luanda, velho nome da capital angolana. Assunção Esteves, também a bem chamada porque se elevou a uma dignidade superior, como Nossa Senhora aos céus no dogma católico. Nesta, a assunção é considerada um milagre, celebrado em feriado nacional a 15 de Agosto.
No Parlamento português, onde as mulheres são minoritárias em todos os grandes grupos políticos, milagre é também acontecer uma mulher na presidência. Desde ontem passou a haver - no mais alto posto de uma portuguesa na República.
Olhando e ouvindo Assunção Esteves até apetece que Cavaco Silva bata todas os recordes viageiros de Presidentes, para que tenhamos mais dias sob a tutela dela, elegante e inteligente, de mais alta figura do protocolo de Estado. Ontem, ela lembrou o Quixote: "Os lugares verdadeiramente são definidos pelas pessoas e não as pessoas pelos lugares." Mas acrescentou com o seu belo sorriso: "Eu não venho aqui conformar nenhum lugar..."
Modéstia a dela, aquele lugar passou a estar conformado por ela.
«DN» de 22 Jun 11

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Fiasco

Por João Paulo Guerra

A OPERAÇÃO Fiasco, com que a coligação se estreou no Parlamento, teve um objectivo plenamente conseguido: mostrar ao PSD que quem manda na parceria é o CDS.
O PSD bem pode querer, e até mesmo insistir, persistir, teimar, porque o CDS é que em última instância resolve. Aliás, quem não seja de memória curta lembrar-se-á que foi sempre assim em todas as coligações em que o CDS participou: Soares ou Balsemão traçavam planos, mas foi sempre Freitas quem puxou o tapete; Barroso e Santana anunciavam isto e aquilo, mas dependiam dos humores de Portas e da sua disponibilidade para mediáticas brigas e reconciliações. O professor Marcelo pode gabar-se de ser o único líder do PSD que terá comido, não as papas, mas a ‘vichyssoise', na cabeça do líder do PP. Foi por ter entendido isso que Portas terá estoirado com aquela hipótese de AD, em directo num programa de Herman José, denunciando a fonte de notícia sobre uma falsa conspiração decidida à mesa: "Até na ementa mentiu", lamentou-se.

Desta vez, porém, o líder do CDS teve tarefa facilitada, pela inexperiência e obstinação de Passos Coelho, como pela ambição cega do dr. Fernando Nobre. O curioso é que o raciocínio que conduziu Portas à vitória foi o mesmo que levou à derrota de Passos: cada um quis fazer prova de força e mostrar quem manda. O resultado ficou à vista.

O dr. Nobre também terá facilitado a derrota do partido que o fez eleger para São Bento, permitindo ao Parlamento dar prova de que pode, como deve, ser uma instituição acima dos governos e das cúpulas partidárias. O misto de arrogância e de ignorância com que alguém avança pré-eleito para o cadeirão de presidente do Parlamento levou uma demolidora cacetada. E nestas questões de regular funcionamento das instituições só se perdem as que caem no chão.
«DE» de 22 Jun 11

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As incógnitas que nos esperam

Por Baptista-Bastos

PEDRO Passos Coelho não enganou ninguém. Ao longo dos meses foi dizendo ao que vinha. E até publicou um livro, no qual revelava o essencial do que queria para o País. A lógica na qual repousa o seu projecto assenta na ideia de que a sociedade portuguesa e o mundo só conseguirão sobreviver se o Estado for reduzido, ou mesmo removido, e os "privados", o "mercado", a "competição" tomarem o seu lugar. É um empreendimento demolidor. Não substitui o paradigma sob o qual temos vivido: liquida-o; e a alternativa é uma incógnita, pois nem sequer no-lo é proposta. Esta ausência de programa e a profusão de declarações produzidas, algumas insensatas, outras decisivamente tolas, não impediram os portugueses de votar no PSD de Passos Coelho.

Procura-se as razões que os levaram a proceder assim. Estavam exaustos com Sócrates, eis uma explicação. Seja como for, o PS foi escorraçado do poder; e um novo "ciclo", parece que redutor de incertezas, surge com uma outra moral e outra filosofia. Um novo plano de regras irá surgir. Pedro Passos Coelho, peremptório, ambiciona ir mais longe do que as exigências da tróica. Mas Passos sempre falou de mais, para, a seguir, se desdizer e remendar o que disse, ou fazer com que Miguel Relvas vá corrigir o soneto.

As coisas não vão ser um mar de rosas para o Governo. E a "coligação" não é tão sólida quanto os sorrisos aparentam. A não-aceitação de Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República constitui uma humilhação para o médico e uma derrota política e pessoal para Passos Coelho. Ficou claro que os diferendos que opõem PSD ao CDS repousam num modelo de decisões e de poder que não corresponde à amabilidade dos abraços. Os atritos emergirão. Tanto mais que a obstinação de Passos é gémea da obstinação de Portas. O inevitável medir de forças, tão ao gosto do presidente do CDS, vai esclarecer-nos sobre o equilíbrio que se tenta estabelecer entre as diferentes componentes desta "associação" de opostos.

A composição do Governo é, aliás, engraçadíssima. O número foi abreviado. Não se sabe bem para quê: há ministros sobrecarregados de pastas, cujas funções não possuem relação entre si. A barafunda não corresponde a nenhuma situação particular e vai exigir um dispêndio de energias e um conjunto de decisões acrescidas cujo sentido nos parece absurdo e abstruso.

Aceite o que se verifica e regista, expostas as fissuras existentes num corpo desejadamente coeso, esquecidos os sorrisos e os abraços, logo-assim a poalha pirotécnica desapareça, as coisas retomarão a sua densidade e os problemas as suas exactas dimensões. Os representantes da tróica tocam-nos no batente de três em três meses, no varejo que acautela o dinheiro dos empréstimos. Que ninguém conte com a solidariedade europeia. É uma fraude e uma farsa.
«DN» de 22 Jun 11

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21.6.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

AO QUE PARECE, Paulo Portas tentou até ao fim, nas negociações com o PSD para a formação do novo Governo, contrariar a privatização da RTP.

Eis um paradoxo que não terá explicação política fácil. Já em Setembro último, no Parlamento, o CDS havia feito coro com o PS, o PCP e o BE contra a hipótese de se privatizar um canal da RTP. Foi um alinhamento político curioso e não menos difícil de entender.

O que levará o CDS a defender o estatismo televisivo ao lado de toda a esquerda, mesmo a mais conservadora nestas matérias? O que argumentará o CDS, que tanto clama contra o desperdício de dinheiros públicos, para sustentar os mais de 360 milhões de euros que o Estado gastou, só em 2010, no poço sem fundo da RTP: 121 milhões em indemnizações compensatórias, 118 milhões na taxa do audiovisual (que pagamos subrepticiamente nas facturas de electricidade e que terá um aumento de 30% neste ano de 2011!...) mais 120 milhões em dotações de capital? Tudo isto além dos 50 milhões de receitas de publicidade que a RTP angariou? O que justifica tal sorvedouro dos depauperados cofres do Estado, um gasto de um milhão de euros por dia?

Na campanha eleitoral, Paulo Portas chegou a contrapor que «há serviços públicos que são indispensáveis, como a electricidade, a água ou a televisão». A televisão?! O único serviço público, verdadeiro e concreto, da RTP são os canais para o mundo lusófono e as comunidades de emigrantes: a RTP-Internacional e a RTP-África. E, eventualmente, algumas delegações regionais que atenuam a interioridade ou a insularidade. Mas os custos de manutenção destas estruturas não chegarão a 15% dos muitos milhões que entram na RTP.

O ponto é que a RTP1 é um canal comercial que mal se distingue da TVI ou da SIC – quer na informação quer na programação (tem concursos em vez de telenovelas e pouco mais – e, hoje em dia, no cabo, há muitas alternativas às novelas).

Privatize-se, pois, finalmente, a RTP1. Irá com isso melhorar a qualidade da programação? Provavelmente, não. Mas também não se notará grande diferença. E 300 milhões de euros do erário público por ano é um luxo a que um país remediado não se pode dar.
«Sol» de 18 Jun 11

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Indignação

Por João Paulo Guerra

EM LISBOA, Atenas, Paris e Berlim, com diferentes graus de motivação e adesão, mas sobretudo em Madrid, cidadãos saíram domingo às ruas para manifestar a sua indignação. E o que porventura mais incomoda os poderes é que, as pessoas estão indignadas com a falta de democracia e de representatividade dos que decidem. As pessoas estão indignadas porque decidem por elas e contra elas.

Claro que em reacção às manifestações, concentrações e desfiles de domingo surgiram logo as acusações de que as manifestações de rua constituem um desafio à democracia representativa. O que é certo é que estes preopinantes não se incomodam nada que as políticas conduzam à abstenção e a abstenção ao declínio da representatividade: um partido com pouco mais de 20 por cento do eleitorado inscrito pode governar um país. E ainda se incomodam menos que empresas de ‘rating', sem qualquer legitimidade e representando apenas os interesses particulares dos respectivos accionistas privados, deitem abaixo governos eleitos, condenem países à bancarrota e povos à miséria.

Os movimentos de indignação que se manifestam nas ruas têm crescido quanto mais se acentua a viragem à direita na política europeia. A Europa é governada, a nível comunitário e no plano de cada estado, por uma patrulha de pancrácios neoliberais que têm o símbolo do euro onde o comum dos humanos tem as meninas dos olhos. As políticas anti-sociais, agravadas em alguns estados pelas imposições do FMI, vão contribuir decisivamente para que cresça a indignação. Resta saber se a mão que puxa os cordelinhos não tem mesmo por objectivo dar cabo de qualquer veleidade de união europeia. Pois se até o clube de Bildeberg está preocupado em intrometer-se com "os tristes episódios das dívidas soberanas"!
«DE» de 21 Jun 11

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Foi mesmo necessário passar por esta derrota?

Por Ferreira Fernandes

SE NA ELEIÇÃO para primeira figura do Estado acabou por ter uma saída airosa - uma derrota, mas com votação acima do esperado -, Fernando Nobre não conseguiu ser a segunda figura do Estado com uma derrota tão cruel como as expostas pelas televisões: apesar de ladeado por dois futuros ministros, Paula Teixeira da Cruz e Miguel Macedo, e sentado na primeira fila do PSD onde estavam Pedro Passos Coelho e Miguel Relvas, ele nem conseguiu, por duas vezes, ter o pleno dos votos do partido que o propunha. As derrotas doem mais quando são desnecessárias e previsíveis.

Ao ir ontem ao Parlamento, Passos Coelho sabia que só os votos do seu partido (108 deputados) não chegavam para eleger o seu candidato a presidente da AR (116 votos, no mínimo). E o seu aliado Paulo Portas sabia que sem os votos dos centristas (24), Fernando Nobre dificilmente reuniria entre a oposição os votos necessários para, acrescentados aos do PSD, ser eleito. Desses dois saberes tirava-se uma conclusão lógica: o Governo indigitado corria o risco de sofrer uma derrota política ainda antes de tomar posse. Aparentemente, o presidente do PSD e o presidente do CDS preferiram esse risco a faltarem à palavra: Passos Coelho escudou-se na promessa que fizera de apresentar Nobre, e Portas na de rejeitá-lo. A ver vamos se mais não valia ter negociado, de forma assertiva e aliciante, com Fernando Nobre para ser ele próprio a desistir. E o líder do PSD viu aritmeticamente demonstrado - 106 votos na primeira votação (secreta) a favor de Nobre, e 105 votos, na segunda - que nem conseguiu convencer todos os seus.

Por ironia, Fernando Nobre acabaria por ver, pela forma como foram conduzidas as duas votações que o derrotaram, que a principal acusação que lhe faziam pode ser infundada. A inexperiência dos procedimentos parlamentares impediam, dizia-se, a escolha para presidente da AR de alguém que nunca fora deputado. Ora, ontem, a mesa que dirigiu as votações era constituída por três parlamentares experimentadíssimos: Guilherme Silva e Duarte Pacheco, do PSD, e Celeste Correia, do PS. Mas o traquejo não os impediu de cometer um erro na primeira votação, ao recolher os votos antes de saberem qual o quórum no hemiciclo. Quando se fez a contagem, 106 a favor, 101 brancos e 21 nulos (total: 228 deputados), deu--se conta da falta de dois deputados. Emendou--se na segunda votação, chamando deputado a deputado e só deixando um votar depois do outro o ter feito - descobriu-se quem eram os faltosos (dois socialistas). Essas emendas também Nobre aprenderia depressa...
«DN» de 21 Jun 11

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20.6.11

De cruz

Por João Paulo Guerra

NÃO SEI o que chocou mais a opinião pública: se tomar conhecimento que mulheres e homens que no futuro vão administrar a justiça neste País se comportam como macaquinhos copistas nos exames, pressionados pela competição e por um conhecimento adquirido à pressa; se ficar a saber que a avaliação dos futuros magistrados, pessoas já com formação superior a adquirirem conhecimentos para a administração da justiça, se faz pelo sistema de respostas com cruzinhas, qual boletim dos jogos da Santa Casa. Porque copiar, para além do ilícito que constituirá em provas de aferição, sempre é uma actividade intelectual em que se reproduzem textos que se citam e identificam, ideias e formulações que outros fixaram e que passaram a constituir doutrina. Mas fazer prova dos conhecimentos adquiridos para exercer uma actividade tão rigorosa e responsável como é a administração da justiça com respostas por palpite entre hipóteses múltiplas sugere que no futuro as sentenças e acórdãos, as absolvições ou as penas, poderão ser ditados por escolha aleatória num boletim. Ou seja, sentenças de cruz.

Talvez toda esta estupefacção resulte de alguma ingenuidade e de irremediável romantismo. A ideia que muitos portugueses continuavam a ter sobre o CEJ era talvez a da instituição arejada e mesmo revolucionária dos tempos em que era seu director o Dr. Laborinho Lúcio. A dramaturgia da administração da justiça, a literatura judiciária, actividade de mulheres e homens cultos, que interagiam na sua formação com gente do teatro, da literatura e do jornalismo, abertos à vida e não se fechando na redoma dos códigos.

Não restam dúvidas que esses tempos já lá vão. Agora é de cruz. E já agora, copia-se, no pouco que há para copiar quanto à coluna em que se põe a cruzinha.
«DE» de 20 Jun 11

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O que eles fizeram pelas Ciências da Terra (4)

Georg Bauer (1494 – 1555)
Por A. M. Galopim de Carvalho

MAIS CONHECIDO por Agricola, o médico alemão, de nome Georg Bauer, figura grande da história da ciência, nasceu em Glauchau, na Saxónia. Georgius Agricola é a versão latinizada do seu nome, uma vez que o termo alemão bauer significa agricultor.
O seu conterrâneo, Abraham Gottlob Werner (1749-1817), conhecido professor da Academia de Minas de Freiberga, referia-se a ele como o “Pai da Mineralogia”, e é assim que tem sido considerado unanimemente pela comunidade científica.
Agricola reviu as classificações das “pedras” elaboradas por Teofrasto (372-287aC), Plínio-o-Velho (23 - 79), Avicena (980-1037), e Alberto Magno (1206-1280), enaltecendo os seus autores, ao mesmo tempo que dava ênfase aos minérios e às rochas usadas como pedra de construção, com destaque para os “mármores”. (...)

Texto integral [aqui]

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19.6.11

Primeiro era o Zé...

Por Helena Matos

PRIMEIRO era o Zé que fazia falta. Agora faz falta um governador do Banco de Portugal transsexual. E mais fazem também falta «um ministro gay assumido. Falta uma procuradora-geral da república lésbica assumida. Falta um guarda-redes do Porto casado com um lateral do Sporting.»
Esta proposta para salvar Portugal (e creio que o Sporting) foi descoberta pelo Paulo Pinto Mascarenhas no Esquerda Net que devia ser muito mais lida do que é pois se tal acontecesse acabavam-se muitas fantasias sobre o BE. O que fazia mesmo falta a muita gente do BE era sair daquele clube de betos prosélitos constituído pela esquerda das causas.
E já agora que tal uma drag queen negra para dirigente do BE? Afinal o economista branco, de olhos azuis e que sabe o que é ser pai já lá está há um ror de anos, não é?

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Um pequenino voto mas grande passo...

Por Ferreira Fernandes

O IMPORTANTE não é que o Governo (qualquer Governo) tenha uns tempos em estado de graça. O importante é os governados verem o seu Governo a ter oportunidade de mostrar o que vale. Sobretudo os governados, como é o nosso caso, com corda na garganta, merecem a suspensão momentânea de pozinhos na engrenagem.
Quanto tempo significa aquele "momentânea"? Os americanos costumam dar 100 dias, ao fim dos quais, o próprio Presidente (o chefe do Governo americano) faz o seu balanço - a tradição começou no primeiro mandato de Franklin Roosevelt, que naqueles primeiros três meses desatou a legislar como um danado (porque a situação também o era: a crise de 1929 ameaçava dar cabo do sistema financeiro americano). Desde aí, tornou-se costume dos jornais e dos políticos, correligionários e adversários, adiarem por 100 dias as palmas ou os insultos.
Estado de graça é assim como um sentido de Estado generalizado, em que todos reconhecemos uma consequência óbvia da democracia: se a maioria votou por um Governo, este tem direito a governar. E decorre desse direito que o seu início não seja torpedeado por pressões insuportáveis sobre quem ainda só tacteia.
Exemplo concreto de sentido de Estado: o socialista António Costa a dizer que votaria no candidato que o PSD apresentasse para a presidência da AR, porque esse é o costume parlamentar e não estamos em tempos de questiúnculas, nem Fernando Nobre é um pestífero.
«DN» de 19 Jun 11

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Luz - Lima, Peru, 1971

Fotografias de António Barreto- APPh

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Cena de rua, repetível em qualquer parte do mundo... Lembro-me que, incrédulo, fiquei por ali uma ou duas horas a ver se o carro andava. E não é que andou mesmo?

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18.6.11

"Porque amo o meu jornal"

Por Ferreira Fernandes

O JORNAL francês Libération publicou o relatório do procurador de Nova Iorque que investiga o caso Dominique Strauss-Kahn. Título do jornal: "Ao ser preso, DSK invocou a imunidade diplomática e depois pediu uma sanduíche." E no texto repete-se que DSK "invocou a imunidade diplomática durante a sua prisão mas depressa se adaptou às circunstâncias e pediu uma sanduíche."
Ora, DSK foi detido às 16.40, de um sábado, quando foi mencionada a imunidade diplomática. Só no domingo, às 21.20, perguntado se queria comer, DSK pediu uma sanduíche.
Os relatórios oficiais relatam ao minuto - o que é mau para os jornalistas trafulhas, que ficam com a careca descoberta.
Um leitor indignou-se com o jornal: "'Depressa se adaptou às circunstâncias'?! Mas já se tinham passado mais de 24 horas!"
Parece coisa pouca e, de facto, outro leitor contemporizou: "Porquê assassinar o Libération? Todos os jornais fazem o mesmo..." V
oltou à carga o primeiro leitor: "Porque amo o meu jornal."
Eu sei do que ele fala. Devo uma legenda ao Libération. Em 1978, era ele um jornal da esquerda da esquerda, publicou uma foto do político de direita Aldo Moro, retratado, olhos de medo, quando estava raptado pelas esquerdistas Brigadas Vermelhas. Legenda: "Quando uma vítima, qualquer que seja o seu lado, nos olha assim, é com ela que estamos." Um jornal são factos, uma missão e uma moral; quando se torna uma coisa burra é parte da nossa liberdade que se perde.
«DN» de 18 Jnn 11

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O copianço colectivo

Por Antunes Ferreira

IMAGINA-SE a cena em tribunal. Advogado de defesa dirigindo-se ao magistrado, após a leitura da sentença: «Requeiro ao meritíssimo informação detalhada de como e quando e de quem copiou os termos que acaba de utilizar.» A assistência, na expectativa de resposta cabal do venerando, cala-se; paira no ar uma nuvem de expectativa.

O juiz, que já começara a enrolar a toga, franze o cenho: «Não entendi a pergunta do Senhor Advogado.» Este, sorri benevolente. «Se o Senhor Doutor Juiz não ouviu, tenho todo o prazer de a repetir; se, porém, não a quis ouvir, relembro-lhe o caso do copianço generalizado colectivo num teste do curso de auditores de Justiça do Centro de Estudos Judiciários que inclusive levou à anulação da prova, mas pouco mais, pois como deve saber, os candidatos levaram todos a nota dez…» E, pasme-se, a prova era sobre Investigação Criminal e Gestão do Inquérito. Coincidência curiosa.

Rompe um bruá entre os assistentes, estabelece-se a confusão, elevam-se os tons dos ditos, é assim que anda a Justiça em Portugal, cambada de malandros, golpistas, cábulas, hoje já devem ser desembargadores, ela é que tem os olhos tapados, mas espreita por baixo da venda, boa, vendidos andam eles.

O oficial de diligências bem tenta acalmar os ânimos, mas em vão. O magistrado começa por ameaçar que vai mandar evacuar a sala, bate com o martelo na mesa, mas já ninguém lhe liga, a discussão sobe como se fora um maremoto, dois cidadãos mais contidos arriscam-se a dizer que não é bem assim, arriscam-se a ser sumariamente fuzilados sur place, os dois polícias de plantão entreolham-se.

A sala de audiências é mesmo evacuada, os guardas vão aconselhando os civis para não fazerem muito chinfrim, com todo o cuidado para não empurrarem ninguém, ainda podem vir a ser julgados por agressões e abuso da autoridade, ele há dias que não se pode sair de casa.

Este tristíssimo episódio do copianço no CEJ tem vindo a fazer correr rios de tinta e percorrer quilómetros de teclados. Desde Jorge Sampaio até Marinho Pinto toda a gente se pronunciou sobre o assunto, naturalmente em sentido profundamente crítico.

O bastonário da Ordem dos Advogados afirmou mesmo que «em Portugal temos o paradigma de que quem é magistrado é honesto. Isso é mentira, são tão honestos ou desonestos como o comum das pessoas». Por seu turno o antigo Presidente da República sublinhou que o caso abala a confiança dos cidadãos na Justiça. «Já temos abalos suficientes. Podemos dispensar estes».

A directora do CEJ, desembargadora Ana Luísa Geraldes, está metida numa boa alhada. Os 137 candidatos a magistrados são exemplo típico, infelizmente, de como se vão passando as coisas mais diversas em Portugal. Quando se sentarem na cadeira da presidência de um tribunal sujeitam-se a que sejam eles os inquiridos. Quid juris?

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17.6.11

Bloco: duas ou três coisas que sei sobre ele

Por Rui Tavares

1. O problema do Bloco nas sondagens não começou com o apoio a Manuel Alegre, nem com a moção de censura, nem com a falta à reunião da troika, nem com os possíveis ziguezagues entre uma coisa e outra.
Pedro Magalhães, politólogo e especialista em sondagens, publicou no seu blogue um gráfico no qual as intenções de voto no BE caem quando a campanha de Manuel Alegre começa a correr mal. Mas antes dessa descida o BE tinha também subido com Manuel Alegre, voltando a ser o terceiro maior partido em intenções de voto. O efeito, antes e depois, parece uma pequena montanha num vale não muito profundo. Cujo declive tinha começado no segundo de 2009. Foi aí que parou a imparável tendência de crescimento do BE.
Com efeito, o BE passou grande parte de 2009 numa cordilheira, sendo o terceiro partido mais votado, tendo resultados quase sempre acima dos dez por cento, chegando até a passar dos quinze. Durante talvez um semestre os inquiridos pareciam querer fazer do BE a grande surpresa política do país. Mas houve um momento, talvez um pouco antes das penúltimas legislativas, e certamente logo após estas, em que se percebeu que o BE não ia contar para a mudança — talvez compreensível — e que parecia contentar-se com isso — menos compreensível.
Semanas depois, o BE teve um péssimo resultado em Lisboa, onde tudo começara. A sua base precursora estava a tentar dizer-lhe algo.

2. Avancemos para o presente. Ao contrário do que se diz sobre as eleições mais recentes, as condições externas não eram agora desfavoráveis para o BE. Se outrora me tivessem dito que, um dia, em 2011, Portugal iria a votos com o FMI instalado no país, a convite do PS, numa total reviravolta do Primeiro-ministro, eu responderia “grande resultado para o Bloco”. O mesmo diriam os dirigentes do Bloco que, valha a verdade, fizeram uma boa campanha, acertando em cheio no tema principal da renegociação.
E porém o Bloco teve o seu pior resultado, não em termos absolutos, mas na proporção de votos perdidos e na dureza da mensagem que o eleitorado próximo do Bloco lhe enviou.
As razões, contudo, não estão nas condições externas, mas num desencontro entre eleitorado e partido sobre aquilo que ele poderia ser. O tal desencontro que começara no segundo semestre de 2009.

3. Chegados aqui, o debate sobre o BE é crucial para toda a esquerda portuguesa. A grande esperança de dinamização nela representada pelo BE entra agora no troço mais difícil do seu caminho, e já há encruzilhadas à vista.
A primeira diz respeito ao tipo de debate que o BE quer fazer sobre si mesmo, escolha para a qual os seus militantes são inteiramente soberanos, mas que será vista com atenção por todos os portugueses de esquerda.
A questão é se esse debate vai ser aberto ou fechado. O debate aberto tem grandes vantagens e alguns riscos; o grande risco do debate fechado é ele ser muitas vezes o plano B de quem não quer debate nenhum.
Isso ficou ilustrado na forma como Luís Fazenda respondeu às críticas de Daniel Oliveira. Não discutir razões e perguntar apenas “Quem é Daniel Oliveira?”, como fez Fazenda, é um não-argumento. Significa uma recusa do debate através da recusa do interlocutor. Esperei sinceramente que dirigentes do BE viessem a terreiro dizer com clareza que esta forma de não-discutir é imprópria de um partido democrático que tenha confiança em si mesmo.
O Bloco ganhará em correr o risco do debate aberto e sem medo, o único que o pode ajudar neste momento. O fechamento, ainda para mais temperado em sobranceria, só levará à estrada do masoquismo-leninismo.

In RuiTavares.Net

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A malta do «É igual ao litro»

É COSTUME dizer-se que "tanto trabalho dá fazer mal como fazer bem" - mas nem sempre isso é verdade. Muitas vezes, é mais fácil fazer mal.
No entanto, no caso da reparação deste pavimento (de uma paragem da Carris), e salvo melhor opinião, deve ter dado muito mais trabalho fazer mal do que fazer bem!

Quanto às perguntas recorrentes «Que formação tem esta gente?» e «O cliente aceita e paga trabalhos feitos assim?», já nem vale a pena colocá-las, pois já se percebeu que os fiscais são da mesma massa dos fiscalizados. Podem todos limpar as mãos à parede - ou, neste caso, ao pavimento.

Olha, não houve fugas!

Por Ferreira Fernandes

UMA DAS MUITO comentadas aparições de José Sócrates em conferências de imprensa foi um teste seu perante duas câmaras. Deveria ter sido experiência privada, mas foi transmitido em directo ele a falar para uma câmara, a falar para outra e interrogar um assessor sobre qual o melhor ângulo. Tivesse sido em início de Governo e tudo passaria com elogios sobre os cuidados que o governante punha na importante função de comunicar. Mas tendo sido em fim de ciclo, em período de morde canelas, desatou-se uma gozação.
Ontem, os pais do futuro Governo apresentaram-se em público para assinar o acordo e o encontro foi atabalhoado. À hora da assinatura comum, parecia que ainda havia coisas a limar no acordo PSD/CDS e tudo se atrasou, muito. Mas porque o ciclo é novo, não haverá, julgo, grande escarcéu. A menos, claro, que algum adepto do novo Governo se lembre de se maravilhar: "Brilhante! A bagunça de ontem mostrou que o passado do Sócrates do teleponto acabou de vez!..."
Pouco dado a leituras simbólicas, por geralmente nada significarem, não vou por aí, nem por, nem contra. Já factos, comento: hoje, os ministros vão ser conhecidos e, até hoje, Passos Coelho e Paulo Portas não deixaram que houvesse fugas de informações. Não é (não deveria ser...) grande coisa, mas entre nós é raro e sério.
«DN» de 17 Jun 11

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Aperto

Por João Paulo Guerra

FERNANDO Nobre foi convidado por Passos Coelho, em 10 de Abril passado, para se candidatar pelo PSD, não a deputado, mas a presidente da Assembleia da República. Foi o próprio, em declarações ao Expresso, que acentuou que não era candidato a deputado, só tendo aceite o convite com o "exclusivo propósito" de ser presidente da Assembleia da República. Esta originalidade de alguém se submeter a votos do eleitorado com o objectivo único de alcançar um cargo que é votado pelos deputados, no Parlamento, começou por gerar surpresa e discordâncias na opinião pública em geral e no próprio PSD. E agora, ficou a saber-se que o parceiro da coligação de poder não vota no candidato do outro comparte. Ou seja: o líder do PSD tem pela frente o primeiro problema do seu mandato e, neste aperto, não conta com a mão do CDS.

E é de convir que o CDS terá toda a razão. Primeiro, porque em política é incorrecto contar com o ovo no recto na galinha; segundo, porque em política quem quer acordos, negoceia-os, dá e recebe; e terceiro, porque o dr. Fernando Nobre tem dado provas na sua vida política de uma volatilidade que não se sabe se ficou por aqui. Acresce a tudo isto que o dr. Nobre tem demonstrado uma grande fragilidade em sede de cultura política e do funcionamento das instituições, quando, como presidente da Assembleia da República, muito do que se lhe pede é destreza na difícil condução dos trabalhos parlamentares.

E é assim que a coligação ainda vai no adro mas já tem um problema relativamente sério. E restará saber até que ponto ficarão inquinadas as relações entre os dois parelhos se, porventura, o PSD falhar a eleição do candidato que se comprometeu a levar ao cadeirão mor de São Bento por falta de comparência do CDS.
«DE» de 17 Jun 11

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16.6.11

Optimismo

Por João Paulo Guerra

JÁ DIZIA o velho Jean Jacques Rosseuau que “os homens são bons por natureza, a sociedade é que os corrompe”. A neurocientista Tali Sharot concluiu agora que o optimismo é a tendência natural dos humanos, funcionando mesmo como um mecanismo de defesa contra as adversidades, sejam catástrofes naturais ou cataclismos económicos.
A viagem da cientista pelo irracionalismo do cérebro positivo, cujos neurónios expurgam pensamentos negativos e determinam as atitudes optimistas, levou-a a concluir, no livro agora publicado "A Tour of the Irrationally Positive Brain", que os humanos são "mais optimistas que realistas". E então, porque é que os homens conseguem adoptar esses mecanismos de defesa e continuar a lutar, mas depois acabam fatalmente por mergulhar num pessimismo crescente? Porque há um factor que nem mesmo os mecanismos do cérebro humano de defesa e sobrevivência conseguem controlar: os caminhos e a capacidade ou incapacidade dos líderes políticos para governar os países e satisfazer as aspirações dos homens.

Estamos assim perante um imbricado paradoxo da democracia: as escolhas políticas racionais dos homens, ou não representam escolhas ou não são racionais. E é assim que vencem, sem oposição nem mesmo dos neurónios, a tendência natural dos humanos para o optimismo, reduzindo-os ao mais negro pessimismo. Com uma agravante: é que enquanto o optimismo cria condições para lutar por um futuro que será necessariamente melhor que o presente, o pessimismo amarra os homens à modorra da resignação e da lamúria.

O estudo da neurocientista é geral e universal. O mesmo estudo, em Portugal, daria por certo conclusões diferentes. No reino do pessimismo instalado, o conformismo vai matando a esperança e não há neurónios que lhe valham.
«DE» de 16 Jun 11

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Togas da tanga

Por Ferreira Fernandes

O CENTRO de Estudos Judiciários (CEJ) fez um exame a 137 candidatos a juízes e procuradores do Ministério Público. Isto é, examinou gente que no futuro vai investigar para que se faça justiça e gente que vai fazer justiça. Os examinadores do CEJ consideraram que "a esmagadora maioria dos testes tinha muitas respostas parecidas ou mesmo iguais". Copianço generalizado, pois. Ou quase generalizado, já que talvez tenha havido quem não tenha aceitado a trafulhice.
Perante a impossibilidade da destrinça - entre os aldrabões e os outros -, o CEJ decidiu-se pela justiça salomónica: pegou na espada e rachou ao meio os 20 valores máximos do exame: deu nota 10 a todos (como a média costuma ser 13 ou 14, o 10 serviu de sanção). E foi assim que de pequenino se não torceu o pepino destes futuros magistrados.
Dificilmente se podia ter encontrado solução mais injusta: os trafulhas, que deviam ter tido 0 (e convidados a ir vender cautelas premiadas aos donos de fortunas ilícitas), tiveram 10; os alunos dignos, que deviam ter tido a sua verdadeira nota, tiveram a nota do arranjinho; e o CEJ, que não soube prever o problema, não foi obrigado a fazer novo exame.
Ah, já me esquecia: o teste era sobre Investigação Criminal! Depois admirem-se que os filhos destes exames, não sabendo investigar, se safem fornecendo a jornalistas, rafeiros como eles, fugas ao segredo de Justiça. São fugas nota 10.
«DN» de 16 Jun 11

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Lugares

Por João Paulo Guerra

OS IRMÃOS Portas serão um filho único? Certo é que há um Portas a negociar o próximo governo - acordo, programa e composição - que está a ultrapassar pela esquerda, como faria o outro Portas, o liberal líder do Partido Social-Democrata. A confusão ideológica em Portugal propicia barafundas que tais. E basta ver quantos partidos foram alterando ou acrescentando nomes e siglas ao nome de baptismo. O Centro Democrático Social, que se reclamava centrista, do extremo-centro, é desde há alguns anos também Partido Popular; tal como o Partido Popular Democrático é de há muito Partido Social Democrata. Sendo que social democrata era o Partido Socialista, pelo menos até à liderança Sócrates que adoptou uma coisa chamada «socialismo moderno»: o que significa tudo menos socialismo. Porque socialismo é com o Partido Comunista e com o Bloco de Esquerda, do tal outro Portas.

E agora, quando o líder do Partido Social Democrata quer privatizar tudo e mais alguma coisa - a começar pelas águas, a Caixa e a caixa que mudou Portugal - é o líder centrista, democrático-social ou popular, seja lá o que for, que opõe reservas à fúria privatizadora. Como também bate o pé ao negócio pré-eleitoral que escandalizou meio mundo, candidatando um candidato a deputado ao cargo de presidente da Assembleia da República.

Ou será que tantas reservas e finca-pés são simplesmente artimanhas e disfarces para regatear mais um ou outro lugar na corrida ao elenco governativo? É que houve uma discreta dirigente local do CDS que perdeu toda a discrição e escreveu que para o partido «este é o momento de correr atrás dos lugares».

Os portugueses vão ter de esperar um dia ou dois para conhecerem a composição do Governo e terem a resposta ao mistério.
«DE» de 15 Junho 11

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15.6.11

Nos domínios do arbítrio

Por Baptista-Bastos

NA NOITE de Santo António, uma vendedeira de sardinhas assadas e bebidas coadjuvantes gritou, arfante de entusiasmo: "Que venha a crise! Que venha o FMI!" O negócio estava a render, Alfama abarrotava de gente, hora e meia para se arranjar lugar sentado. A afirmação da vendedeira não se desentendia com a realidade. Era, afinal, a imagem devolvida de um país a que não falta estilo popular mas carece de razão soberana.

Portugal está a meio caminho entre a realidade e a ficção. Sempre assim foi. A própria construção da nossa identidade é um milagre quase perfeito. Leia-se José Mattoso e António Borges Coelho. Mas Portugal, apesar de tudo, ilumina-se com o seu próprio brilho, recusa enclausurar-se em si mesmo, e detém um panteísmo específico que o tem levado a realizar o imponderável e o impensável.

O Algarve esteve cheiinho como um ovo de galinha de campo. Durante quatro dias o povo removeu sombras e incertezas e sublinhou o dito: perdido por cem, perdido por mil. Claro que, nestes extremos, há um esteticismo desesperado que deixa os sábios estrangeiros muito pasmados. A razão parece-me simples: não somos como eles. E ainda bem. Quem nos dirige e em nós tem mandado não nos sabe dirigir nem mandar. António Barreto, no discurso do 10 de Junho, falou, um pouco emocionado e levemente lírico, nesse "eu" interior. Criticou os que produzem a indiferença, e que a política, assim entendida e praticada, conduz à pior das dissoluções: a moral. Um texto escrito num idioma de lei e destinado, pelo dia e pelo fasto, a despertar as comoções de quem o ouvisse. Qualquer comparação com a redacção de terceira classe, dificultosamente escrita e penosamente lida pelo dr. Cavaco, é pura indigência mental.

Estamos à beira de coisas terríveis? Todos os dizem. E a massa informativa que recebemos a cada instante não é de molde a criar evasivas, mas torna ilusória qualquer esperança de se fazer uma escolha com base racional. Como disse a vendedeira de Alfama, se isto é a crise, então onde está a crise? Mas ela existe, e não é fluida nem abstracta. A nossa rejeição instintiva da crise é tudo o que nos resta como afirmação de independência e de decência pessoal. Há algo de ingénuo e de muito digno nesta resistência às evidências. Claro que há. É uma característica que nos diz respeito, que nos formou e nos tem ajudado a viver, por vezes no pior dos opróbrios.

As coisas têm passado depressa demais. Anos e léguas não nos deixam reflectir sobre o que nos vai acontecendo, e, até, "legitimam" a brutalidade de muitas decisões tomadas por quem tende a medir o homem com uma bitola comum. Estou a falar da troica e dos constrangimentos que impõe aos povos. Este poder absurdo e quase absoluto não é limitado por nenhuma lei nem por qualquer obrigação moral.
«DN» de 15 Jun 11

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14.6.11

O filho do Homem Novo

Por Helena Matos

ERA UMA VEZ um casal que teve um filho cujo sexo resolveram não revelar. Dizem que assim a criança será livre de escolher o sexo que quiser. Infelizmente isto não é o princípio de um romance, mas sim o resumo de um caso real sucedido este ano, no Canadá.

Kathy Witterick e David Stocker, assim se chamam os pais da criança, não estão a fazer nada de novo. A História está cheia de tentativas de criar crianças libertas dos padrões tidos como atávicos e convencionais da família. A lista destas experiências é longa e, sem nos afastarmos geograficamente muito, inclui desde as crianças biologicamente perfeitas dos nazis ao afastamento das crianças das respectivas famílias nos primeiros anos da URSS, passando pelas políticas de roubo de crianças às mães espanholas para as entregar primeiro a famílias politicamente adequadas e depois socialmente mais abonadas, ou ainda pelos jardins-de-infância revolucionários da Europa dos anos 70 onde, à semelhança do que sucedeu em várias comunidades hippies, oficialmente não existia autoridade e a pedofilia era muitas vezes vista como um preconceito a combater e não como um crime. (...)
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13.6.11

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«Dito & Feito»

Por José António Lima

JOSÉ SÓCRATES ficou abaixo dos 28,8% de Santana Lopes em 2005, quando este saiu de cena e lhe entregou de bandeja uma maioria absoluta.

Sócrates deixa o PS com menos quase meio milhão de votos do que Ferro Rodrigues em 2002, quando uma coligação PSD/CDS, tal como agora, chegou ao Governo. Sócrates foi liminarmente afastado da liderança do Governo e do PS com uma das piores votações de sempre do partido.Nada disso o impediu de aparecer aos portugueses na noite do passado domingo, com o seu habitual autocomprazimento e um sorriso benevolente, a considerar que os 28,1% a que reduzira a base eleitoral do PS era «um resultado dignificante para o partido».
Se tivesse chegado aos 30%, abriria provavelmente garrafas de champanhe para celebrar tamanho sucesso eleitoral.

Mas, mais do que as palavras de Sócrates, foi a encenação com que rodeou o seu discurso de derrota – o truque do teleponto a disfarçar uma falsa espontaneidade, a lágrima ao canto do olho a puxar pela comoção dos apoiantes, o ar beatífico de dever cumprido – que tornou claro o artificialismo daquela última representação.
Mais do que o político que assume as consequências do desastre a que conduziu o partido – e, já agora, o país – era o actor que saía de cena. Satisfeito consigo próprio. Extraordinário...

Enquanto o PS apanha os cacos do socratismo e se prepara para uma penosa travessia do deserto, o ainda ministro Luís Amado veio defender que «a economia portuguesa precisa de um choque liberal, porque a dinâmica de integração da economia europeia foi muito subordinada a uma matriz ideológica mais liberal».
Luís Amado não podia ter escolhido epitáfio político mais certeiro para estes momentos finais do consulado de Sócrates. E nem precisou de teleponto.
«Sol» de 9 Jun 11

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Memórias Fardadas (3) - Hierarquia militar

Por A. M. Galopim de Carvalho

A MINHA
experiência no mundo da tropa não se limitou ao período durante o qual, em cumprimento do dever, servi a Pátria, integrado no serviço militar obrigatório. Acumula a vivência dos tempos que o antecederam, em criança e em adolescente, na então pequena cidade de Évora, cheia de quartéis e de homens fardados.
Quartel General da 4ª Região Militar, Infantaria 16, Artilharia 1, Manutenção Militar, Hospital Militar, Farmácia Militar e mais uma ou outra dependência do Exército enchiam a urbe de soldadesca, em especial, ao serão, depois do rancho do jantar até à hora do recolher, sempre anunciado por meia dúzia de corneteiros que percorriam as ruas principais a toques de clarim, ecoando na noite em sons metálicos, estridentes, bem audíveis nos recantos mais periféricos. (...)

Texto integral [aqui]

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Ser o que se é, não fogo de vista

Por Ferreira Fernandes

ASSUNTO ainda para romper meias solas, volto ao meu elogio de ontem a quem faz sapatos portugueses. Cortem gáspeas ou saibam vender o estilo do nosso calçado, puseram um sector português, entre a tremedeira geral, a exportar mais 20%. Os noticiários trataram o aumento salarial para o sector como mero acordo entre sindicatos e patrões daquela indústria. Mas não foi, foi consequência do que deve ser uma lição: os nossos sapateiros fazem bons sapatos. Tivéssemos nós um ano de notícias idênticas para outras profissões, tínhamos a crise resolvida.
Há dias, em entrevista ao Jornal de Negócios, Eduardo Paz Ferreira, reputado professor de Finanças Públicas, deu como filosofia de vida uma frase de Catherine Deneuve: "Faço bem as minhas coisas, porto-me bem, faço o que tenho de fazer." Fazer bem o que é devido fazer, eis a simples e honesta solução.
Infelizmente, há uma mania moderna pelo violino de Ingres. Nos noticiários que quase ignoraram os sapateiros, deu-se relevo aos 14 jovens empresários que foram aprender "liderança" para a tropa durante cinco dias. Deu imagens giras, jovens empresários fazendo rappel, mas se eles ainda não tinham aprendido que não se deve largar a corda que suspende um colega, não é a tropa que lhes ensina em cinco dias. A tropa é boa para quem se alista nela para fazer aquilo para que ela serve: ser tropa. Tal como Ingres foi um grande pintor (e não o faz de conta de um violinista).
«DN» de 13 Jun 11

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12.6.11

Na RTP Memória

A entrevista do nosso saudoso Carlos Pinto Coelho com Pires Veloso é emitida logo, às 00h23m, na RTP Memória

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Estes Partidos Precisam de uma Lição

Por Maria Filomena Mónica

HÁ DIAS – quase todos – em que era melhor o Presidente da República estar calado. Eis o que, em vésperas da última eleição legislativa, resolveu dizer aos portugueses: «Se abdicarem de votar, não têm depois autoridade para criticar as políticas públicas». E se nós, cidadãos, não gostarmos das regras do jogo eleitoral em vigor? Não faz parte do meu código genético votar em branco, mas foi isso que fiz no último Domingo. Por uma razão: os líderes partidários - todos – têm de meter na cabecinha a ideia que a democracia não é deles.

Os Secretários Gerais gostam de escolher os nomes que figurarão nas listas para deputados, um prémio dado à subserviência dos acólitos. Em 2010, 82% dos portugueses afirmaram estar descontentes com os partidos, mais 10% do que no ano anterior. A verificar-se a tendência, para o ano quase todos os portugueses estarão contra os partidos.

A génese do actual regime foi infeliz: não fomos nós que conquistámos as liberdades, mas os militares que, uma vez derrubado o Estado Novo, entregaram o poder aos partidos. Sem uma ligação com a população, estes aprovaram uma lei eleitoral destinada a protegê-los das tendências «reaccionárias» do povo. Durante anteriores campanhas, o PSD e o PS afirmaram que iriam proceder a uma reforma. Uma vez no poder, não mexeram um dedo, pelo que continuamos a ter de escolher de entre o menu cozinhado pelos maiorais partidários.

A minha voz, sei-o, não conta. Mas, se milhares de cidadãos começarem a votar em branco - e foi isso que sucedeu no último Domingo, com 148.058 eleitores a deslocarem-se até às mesas eleitorais para protestar - o cenário muda de figura. Luís Campos e Cunha apresentou uma boa ideia, ao afirmar que, no hemiciclo, deveriam existir cadeiras vazias correspondentes à percentagem de votos em branco na contagem global.

Se nós, eleitores, quisermos ter uma voz no Parlamento, precisamos da re-introdução de círculos uninominais (um candidato por partido e por círculo). O rei D. Pedro V que, em 1859, impôs este esquema, contra a vontade, note-se, dos partidos, morreu há muito. Hoje, não há Presidente da República, muito menos este, capaz de torcer o braço aos líderes partidários. Por conseguinte, a única forma de se mudar a lei eleitoral é através da opinião pública. Temos de explicar, clara e sucintamente, que o actual sistema é negativo, porque nos retira poder.

Se for necessário proceder-se a uma alteração constitucional – em vez dos actuais distritos teriam de existir pequenas unidades territoriais – que se avance. Mudar a Constituição não é o fim do mundo. E, por favor, não me venham com o argumento de que a criação de círculos uninominais favorece o caciquismo, em detrimento de um sistema que representaria o «interesse nacional» (um eufemismo para designar o interesse dos Secretários Gerais). Não há esquemas perfeitos: mas o voto em alguém perto de mim dá-me uma maior possibilidade de o premiar ou punir. Não é pouco.
«Expresso» de 10 Jun 11

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