28.2.11

O tão apregoado amor pela calçada portuguesa

Lisboa, Rua do Ouro, 27 Fev 11
Obra de arte de autor anónimo

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Naturalmente, a foto foi enriquecer a colecção que se pode ver [aqui].

«Dito & Feito»

Por José António Lima

QUANDO já quase só se discute em qual das próximas semanas o Governo, face à asfixia financeira do país e da máquina do Estado, vai recorrer à ajuda europeia e abrir a porta ao FMI, José Sócrates insiste em fingir que vive numa realidade paralela.
Desdobra-se em pseudo-inaugurações e visitas a obras (é a 3.ª vez que protagoniza uma cerimónia oficial em meio-túnel do Marão...). Indispõe-se com empresários, como Alexandre Soares dos Santos, com o «azedume» da Oposição, com os mercados financeiros que não se comovem com a sua retórica, com o mundo em geral. E vê os ditadores e tiranetes que há pouco elegeu e visitou como parceiros preferenciais caírem, um após outro, do poleiro: de Ben Ali a Mubarak, de Khadafi a (espera-se que em breve) Chávez - um esforço inglório e um péssimo erro de visão político-diplomática. (...)

Texto integral [aqui]

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O estrafego do eurodeputado

Por A.M. Galopim de Carvalho

DEVO confessar que exultei no dia (em 1997) em que o telejonal noticiou o insólito episódio ocorrido em Estrasburgo, numa sessão nocturna do Parlamento Europeu, na qual o nosso eurodeputado Raul Miguel Rosado Fernandes “estrafegou o porcino gasganete” do colega dinamarquês, Freddy Blak, na sequência da grave ofensa à sua honradez feita por aquele eurodeputado socialista. (...)

Texto integral [aqui]

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Uma história moderna

Por Ferreira Fernandes

COMO TODO político moderno, o presidente da Câmara de Madrid Ruiz-Gallardón tem uma página na Internet. Há dias, colocou lá uma foto, rodeado de conterrâneos, como indicava esta frase inspirada em conhecida canção do Manu Chao: "Nos gusta Madrid, nos gustas tú" ("Gostamos de Madrid, gostamos de ti"). Acontece, porém, que a foto fora comprada num banco de imagens, um tipo de empresas que vende fotografias sem cuidar do que irá o cliente fazer com elas. Os fotografados não sabiam o que é "salir de copas", eram incapazes de dizer um "chiste" e provavelmente nunca ouviram falar de Xabi Alonso - eram dinamarqueses. Gallardón só aparecia no meio deles por causa dessa maravilha da aldrabice que é o Photoshop, capaz de tirar as rugas a Elizabeth Taylor e fazer de um nórdico um especialista de "tortillas".
Alguém topou a trapaça e logo o site de Gallardón se tornou um sítio muito frequentado. Podia ser uma daquelas vergonhas menores que caindo em políticos se transforma em catástrofe, mas o "alcalde" soube tirar partido. Fez outra foto desta vez (julgo) com madrilenos e anunciou no Twitter o novo cartaz: "Mudamos os dinamarqueses por madrilenos. Como dizia Groucho Marx, estas são as nossas fotos, mas, se não gostam delas, temos outras." Na verdade, na frase original, Groucho fala de princípios, não de fotos. Mas um político dizer que muda de princípios se tiver de ser não chegava a ser notícia.
«DN» de 28 Fev 11

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Passatempo-relâmpago de 28 Fev 11

«O que é isto?» não é uma pergunta difícil; mas «Onde é?» já merece prémio. Quem arrisca?
Actualização (15h56m): a resposta certa (Praça dos Restauradores) já foi dada. "Marota" tem 24h para escrever para medina.ribeiro@gmail.com indicando morada para envio do prémio.

Fósforo

Por João Paulo Guerra

DEVE HAVER estados membros da NATO mortinhos por deitar um fósforo sobre o petróleo todo que há na Líbia e em geral em todo Al-Maghrib e arredores. A Líbia e Argélia são dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo; ali bem perto, o Irão é o que se sabe - mas aí talvez os Aliados atlantistas não se atrevam a pôr os pés nem sequer a mão; na Arábia Saudita também não, embora certamente não lhes falte vontade. Mas o gigante mundial da produção e exportação mundiais de petróleo deve estar a sentir-se bem pressionado com revoltas em todo o imenso perímetro do país, entalado entre o Iraque que os patrões da NATO transformaram numa terra queimada com poços de petróleo por conta, e um Canal do Suez ribeirinho de um Egipto que não se sabe o que vai ser.

E aí está, proposta pelo respectivo secretário-geral, uma reunião da NATO para "discutir a situação na Líbia". Tendo em conta que todas as últimas guerras - e algumas das penúltimas - foram desencadeadas por motivo do controlo da protecção, exportação e armazenamento do petróleo, ponto 1 e, ponto 2, que a NATO - aliança "defensiva" e do "Atlântico Norte" - instigou, promoveu ou participou em todos os grandes conflitos desde que ficou sozinha na competição mundial, será caso para temer. Temer o quê? Que a Líbia passe de deserto verde dominado por um louco para um território em chamas, onde só se governam os interesses da rapina.

Para que isso acontecesse, não seria tão despropositada como possa parecer à primeira vista a alegação final do ditador Mouammar Kadhafi de que o seu país e o seu regime estão a ser alvo da Al-Qaeda e de Osama Bin Laden. Que melhor pretexto para a intervenção da NATO, ou simplesmente dos norte-americanos com as ordenanças do costume?
«DE» de 28 Fev 11

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27.2.11

Três maneiras de falhar

Por Rui Tavares

O OCIDENTE, incluindo nesta designação a União Europeia e os Estados Unidos da América, gasta cada vez mais dinheiro em serviços secretos, de informação e espionagem. Quanto, muitas vezes não se sabe; nos EUA, o montante dedicado a tais atividades é secreto por lei. Mas numa investigação feita pelo Washington Post, chegou-se à conclusão de que quase um milhão de pessoas trabalha na área. Na Europa, a acrescentar aos serviços nacionais, Bruxelas lá vai conquistando mais uma base de dados, mais competências para a Europol, mais uma “situation room” desde que seja “state of the art”. Nada se nega aos “secretos”: mais pessoal, mais meios, mais segredo. (...)

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Luz - Arcadas no Cabo Espichel, 2001

Fotografias de António Barreto- APPh

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Ao longo dos anos, fui visitando o Cabo Espichel, o seu santuário e as “casas de peregrinos” com interesse e carinho. As arcadas que ocupam os dois corpos laterais do santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel. Por cima delas, ficavam as hospedarias dos “círios” e das “irmandades”. Quando visitei o local pelas primeiras vezes, em 1974 e 1975, habitavam por ali pescadores e “retornados” das colónias. Esta perspectiva das arcadas garante a continuidade. E confirma que, apesar de tudo, o abandono não deu lugar a mais degradação. A limpeza do local é rara e exemplar no nosso país. (2001)

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26.2.11

Quando eles querem...!


26 Fev 11
DURANTE vários anos (!!), e mesmo já em 2011, referiu-se aqui a vergonha que eram as 'pinturas rupestres' no histórico Pátio do Tronco, à Rua das Portas de Sto. Antão, bem no coração de Lisboa. Hoje, o aspecto era este - impecável! Esperemos que se mantenha assim, pois a regra, nestas coisas, é "gatafunho-atrai-gatafunho"...

NOTA: devido à nova situação, que se saúda, foi alterada a legenda correspondente ao Local M dos «Prémios António Costa».

"Não mexam nos meus pedais!"

Por Ferreira Fernandes

ONTEM, os jornais espanhóis online viram as suas caixas de comentários encher-se de barricadas: "No pasarán!" E o que levou a tanta revolta? O Governo acabava de anunciar que daqui a dias a velocidade máxima nas auto-estradas espanholas passará de 120 km/h para 110. Julgando que só o dinheiro motivaria os cidadãos, o ministro Pérez Rubalcaba (o braço direito de Zapatero) adiantou a poupança a que levaria a diminuição da velocidade: menos 18 milhões de barris de petróleo importados por ano. Mas isso sendo despesas públicas, e pouco interessando, logo ele passou para as vantagens pessoais de cada condutor: poupança de 11% no consumo de gasóleo e de 15% de gasolina (parece que a máxima eficiência energética dos automóveis é à volta dos 90 km/h, a partir daí havendo cada vez maior desperdício). Então, garantiu o ministro, com aquela anunciada queda de 10 km/h ganhava-se uma média de 7 euros, economizados de cada vez que se enchia o depósito... Tão seguro estava Rubalcaba do efeito cenoura desta poupança, que anunciou a medida já para o dia 7 de Março e mandou pôr autocolantes nos sinais de trânsito, emendando o antigo "120" para o próximo "110"... Porém, a reacção dos leitores dos jornais espanhóis mostra que, mais que lhes mexam no bolso, incomoda-os que lhes mexam nos pedais. Os cidadãos ganham certas manias que é prudente aos governos terem em conta.
«DN» de 26 Fev 11

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25.2.11

Uma questão de coimas

Por Alice Vieira

O MUNDO está louco. (Isto por acaso soava melhor se fosse “tá”, mas o acordo ortográfico, que transformou todos os “espectadores” em “espetadores”, ainda não chegou a tanto).
Claro que há as grandes, as enormes, as desvairadas loucuras, que implicam sangue e mortos e massacres, com as pessoas a tentarem sobreviver, sabe-se lá como, e a tentarem fugir, sabe-se lá para onde.
Mas depois há aquelas loucuras pequeninas, quase nem se dá por elas, começam devagarinho, uma pequena notícia num dia e no outro já se esqueceu, que o pessoal tem mais que fazer.
Então parece que pelos Açores há quem proponha castigar os pais que não acompanhem os filhos nos estudos.
Mas castigar mesmo.
Com multas e perdas de direitos sociais. (...)

Texto integral [aqui]

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Genial!

Rua da Prata

Av. Roma
Continua, em bom ritmo, a luta contra o desemprego dos calceteiros de Lisboa
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AS DUAS fotos de baixo são de ontem: lado a lado, em harmoniosa convivência, os que estragam os passeios e os que os compõem.
A de cima, de arquivo, já aqui foi divulgada, mas merece bis por ser de antologia: funcionários da CML reparam uma 'calçada portuguesa' da Baixa, ao mesmo tempo que uma camioneta da mesma autarquia lhe "trata da saúde" - e, como brinde, ainda impede a passagem de peões.

24.2.11

O vídeo-choque do choque ao preso

Por Ferreira Fernandes

UM VÍDEO da prisão de Paços de Ferreira causou ontem escândalo. Mostra polícias a desalojar um preso da sua cela. Este sujava-a - ou era louco ou era provocador. Em todo o caso, a cela precisava de ser posta na ordem, que é o que se pede de uma cela. O preso, no vídeo, nunca reagiu de forma violenta. Os polícias também não, com este porém: usaram um taser, arma que liberta uma descarga eléctrica.
É usado por muitas forças policiais europeias e dos Estados Unidos, e em prisões, com cautelas. Em linguagem de relatórios, diz-se para ser usado só "em caso de necessidade ou de proporcionalidade." Leia-se: se um preso avança para agredir um guarda ou se esfaqueia um colega, pode ser usado. Porque um taser, que em princípio não é letal, pode sê-lo - em cardíacos, por exemplo.
No princípio deste mês, o Presidente Sarkozy, em visita a uma esquadra em Orleães, foi apresentado a um taser: "Experimentou-o em si próprio?", perguntou ao polícia. Este respondeu: "É a regra. Isso permite saber as capacidades do material." Houve sorrisos, mas não está mal como método.
Aquele preso de Paços de Ferreira, como todos, tinha e tem de obedecer aos guardas. E estes têm de fazer tudo para serem obedecidos - tudo, até chegar a dar-lhe um tiro. Mas até chegar ao tudo há etapas e a boa gestão destas faz os bons guardas. Dar uma descarga eléctrica a um preso quieto é um salto abusivo de uma etapa.
«DN» de 24 Fev 11

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Os deficientes

Ainda há melhor, como se pode ver [AQUI]

Discrepância

João Paulo Guerra

EM PORTUGAL, nos últimos tempos, enquanto se liquida a democracia económica e social, a democracia política também vai perdendo qualidade e rigor. E até sobre questões tão sensíveis e essenciais, como as eleições e o rigor de resultados eleitorais, vão pairando nuvens de incertezas e dúvidas.
Aconteceu recentemente que o mapa oficial dos resultados da eleição presidencial de 23 de Janeiro, em reunião da Comissão Nacional de Eleições com seis presenças, registou dois votos a favor, duas abstenções e a dois votos contra, sendo aprovado pelo voto de qualidade do presidente, ao que dizem os jornais para não pôr em causa a data prevista para a tomada de posse de Cavaco Silva. O mapa tinha erros e omissões de monta, como sugeria a própria votação da CNE e veio agora a verificar-se e a ser corrigido pelo Tribunal Constitucional.
Já se sabia que em Portugal, de eleição para eleição sobrevivem ou renascem cada vez mais eleitores fantasma nos cadernos eleitorais. Não há governo que não prometa exterminar os olharapos, lobisomens ou papões eleitorais, mas os fantasmas são bem mais persistentes. E agora, a eleição de 23 de Janeiro revelou que também há votantes e votos fantasmagóricos, que aparecem e desaparecem. A recontagem exibiu diferenças na ordem das várias dezenas de milhar de votos. Os políticos, as instituições chamam-lhes discrepâncias, como lhes poderiam chamar desencontros, desfasamentos, incoerências. Mas chamem-lhes o que chamarem, o que é certo é que a divergência era da ordem dos 114 mil eleitores e dos 60 mil votos, inscritos a mais num lado, atribuídos a omissões, esquecimentos e erros informáticos, com montantes de modo algum negligenciáveis. Enfim, são coisas que acontecem, neste país onde não acontece nada.
«DE» de 24 Fev 11

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História da emigração (Conto)

Por C. Barroco Esperança

DELFINA DE JESUS e Simão Borrego casaram muito novos, no início da década de sessenta. Tinha ela acabado de fazer 18 anos e ele 19. E não foi por haver mouro na costa, que é como quem diz ir ela já prenhe, infâmia de solteira que na aldeia o matrimónio lava ou as facadas de pai ou irmão reparam. Nada disso. Mas também não mereceria o ramo de laranjeira com que se apresentou na Igreja, descaramento murmurado por mulheres vigilantes e amigos do noivo que várias vezes viram desaparecer o casal por trás dumas fragas, enquanto eles se entregavam à prática do pecado solitário, ignorando os riscos da cegueira e da tuberculose com que o Senhor Padre repetidamente os prevenia na confissão e nas homilias. (...)
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23.2.11

Lisboa - Av. de Roma
NA COLECÇÃO de horrores que se pode ver [AQUI], há tampas bem feitas, mas mal colocadas. Estas duas documentam a situação inversa, e mostram que a criatividade dos portugueses não conhece limites.
Para uma terra que enche a boca com as maravilhas da calçada portuguesa, não está mal...

O chão sagrado de Borges Coelho

Por Baptista-Bastos

NUM DOS SEUS mais estimulantes livros de ensaios literários, Le Commerce des Classiques, Claude Roy cita Montesquieu: "Não há nenhum desgosto que uma hora de leitura me não console." Talvez resida algum exagero neste testemunho. Mas a paixão da literatura, o regalo de ler, a alegria da descoberta de uma frase bem boleada, estabelece uma cumplicidade entre autor e leitor difícil de explicar.
O melhor de nós é construído através dos livros; dos encontros, por vezes imponderáveis, que se fazem, casualmente, nas páginas honestas impressas em corpo 10 redondo. Tive um professor, Emílio Menezes, gramático distinto e consumidor entusiasta de clássicos, que dizia exortar muito bem o espírito dormirmos com, pelo menos dois livros à cabeceira. Ficou-me, para sempre, a recomendação, multiplicada por dezenas. (...)
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É BEM possível que o nome desta loja seja inspirado no novo 'site' oficial onde se podem fazer, anonimamente, denúncias acerca de supostas situações de corrupção...

Arautos

Por João Paulo Guerra

DEPOIS de Joe Berardo ter defendido a mudança do sistema político, admitindo “um novo género de ditadura”, Rui Rio veio proclamar “o fim do regime nascido com o 25 de Abril de 1974”. Assim é que é, abaixo o baile de máscaras dos oportunistas, quem não quer 25 de Abril que o diga, pois o 25 de Abril também se fez para isso mesmo. Acabe-se a mistificação de políticos portugueses envergonhados com o 25 de Abril, quando o 25 de Abril é que devia ter vergonha deles. Chegou a hora do despudor ao poder, usando a liberdade do próprio 25 de Abril.
A questão é que o 25 de Abril se fez com esse mas ainda com outros objectivos. Fez-se por três "dês" - Democratizar, Descolonizar e Desenvolver - e a frustração dos portugueses quanto à falta de cumprimento do terceiro "dê" abre caminho a todo o tipo de demagogia e populismo. Soube-se ontem que os portugueses são os europeus mais pessimistas quanto ao seu futuro. E a verdade é que nunca depois de Abril de 1974 Portugal esteve tão longe do "dê" do desenvolvimento como agora. A crise tem as costas largas. Mas a verdade é que a crise não faz de Portugal um país nivelado por baixo, numa espécie de "socialismo de miséria". Faz de Portugal um país ainda mais desigual, onde o número de ricos é cada vez mais restrito e mais rico e o número de pobres abrange um país inteiro de desemprego, precariedade, pensões de miséria, salários cortados, prestações e direitos sociais em extinção.
Mas a desigualdade, para além de ser moralmente injusta, é também perigosa. Berardo já vislumbra no horizonte cenários semelhantes aos das revoltas árabes. Daí a alusão a novos géneros de ditadura. Nesse sentido, Portugal bem podia acolher os tiranos em fuga do Magreb como conselheiros para a nova repressão do novo género de ditadura.
«DE» de 23 Fev 11

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22.2.11

De dor de cabeça em dor de cabeça

Por Ferreira Fernandes

O VICE-EMBAIXADOR líbio nas Nações Unidas pediu à comunidade internacional que intervenha, não vá o Governo (o do vice-embaixador) continuar "o genocídio"...
Estamos falados, Kadhafi já teve melhores dias (à hora em que escrevo, passa o rumor de que estaria a caminho do exílio). Isolado durante muito tempo como terrorista que foi, nos últimos anos o líder líbio caiu nas graças da União Europeia, incluindo o Governo português. Kadhafi tinha um argumento e soube chantageá-lo bem: são 2 mil quilómetros de costa mediterrânica e 4 mil de fronteiras com seis vizinhos africanos: "Não querem uma invasão? Paguem!", lançou no Verão passado. Na altura, a Líbia exigia que a União Europeia pagasse o controlo das fronteiras líbias com o Níger e com o Chade. Havia esta discussão sobre os preços: a Europa oferecia 20 milhões de euros, Kadhafi queria 5 mil milhões... Sem isso resolvido, chegou-se ao actual levantamento popular, o mais mortífero dos que têm eclodido nos países muçulmanos.
A Europa arriscou uma posição firme exigindo ao regime líbio que oiça as "aspirações legítimas" do povo. A Itália, a vizinha da frente, foi a mais cautelosa, porque também a mais interessada na chantagem final de Kadhafi: "Vamos deixar de cooperar com a Europa sobre a imigração ilegal..." Há dois milhões de africanos, não líbios, no país.
Solução? Não tenho nenhuma, claro. Só estou a alinhar dados.
«DN» de 22 Fev 11

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O meu nome numa estrela…

Por Nuno Crato

VLADIMIR Nabokov, o genial escritor de que aqui falámos na semana passada, escreveu um poema em que descrevia o seu trabalho de entomólogo, mais precisamente, de estudioso de borboletas. Orgulhava-se de se ter tornado «padrinho de um insecto», depois de o ter descoberto e descrito pela primeira vez, e concluía: «não quero outra fama».
Um grupo de jovens da Escola Secundária de Alvide, Cascais, acaba de descobrir um asteróide, que recebeu a designação 2011 BG16 e que terá um nome português. Não querem outra fama!
A descoberta é motivo de orgulho para eles. E para todos nós. Constituem um dos grupos de 20 escolas portuguesas que participaram nas últimas campanhas da Colaboração Internacional para a Procura de Asteróides, um programa de ensino e de divulgação científica que tem atraído estudantes de todo o mundo. (...)
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21.2.11

Alguém viu e quer comentar?

José Bonifácio de Andrada eSilva

Por A.M.Galopim de Carvalho

CONSIDERADO o primeiro geólogo das Américas, José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) foi também o primeiro geólogo e o primeiro mineralogista português. Mas a sua actividade científica não se limitou a estes campos do saber. Naturalista de formação, teve ainda papel relevante em áreas como a prospecção e exploração mineiras, a silvicultura, as pescas, os solos, entre outras. Evocado nos dias de hoje, sobretudo, como patriarca da independência do país irmão, deixou o seu nome ligado não só, do outro lado do Atlântico, à formação do Império do Brasil, como à causa liberal que aqui, em Portugal, pôs fim à monarquia absolutista e abriu as portas à via constitucional. (...)
Texto integral [aqui]

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Lisboa - Rua do Mirante
JÁ SE SABE que não se deve gozar com os nomes das pessoas. Mas isso não impede que o facto de Portas ter sido, mais uma vez, eleito líder, nos leve a pensar que esta empresa (especializada em portas e portões) escolheu muito bem o seu nome...

20.2.11

Não percebo

Por Helena Matos

«Vara passa à frente de todos em centro de saúde. Ex-ministro socialista apareceu de surpresa, passou à frente de todos os doentes e deu ordens a uma médica para lhe passar um atestado.» Para lá da falta de educação e pesporrência de Armando Vara (de facto só José Sócrates acredita que a riqueza e boa educação são expressões sinónimas) temos uma outra questão que nos diz respeito a todos: o atestado médico passa-se assim por ordem? Para isso tratava-se no guichet. Mas o atestado atesta o quê? Era necessário para apanhar o avião?
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NOTA (CMR): no Centro de Saúde onde eu vou, esta cena seria impossível, porque é o próprio médico que, pelo sistema de som, chama os utentes. E, se Vara lhe entrasse pelo consultório adentro sem ser chamado, tenho a certeza que o punha no olho-da-rua (e nem era preciso chamar o segurança). Já agora: a notícia não esclarece se a médica em causa passou, ou não, o atestado médico a pedido. Mas, se cedeu a atender quem assim procedeu, também é evidente que sim.

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Luz - Arcadas de Espichel, 1978

Fotografias de António Barreto- APPh

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Os novos residentes (permanentes ou de fim-de-semana) dos edifícios do Cabo Espichel passavam os dias em grande pacatez. Por vezes, ocupavam-se da conservação do local. Outras, simplesmente, descansavam ou confraternizavam. A seguir a 1975, durante dois ou três anos, o alvoroço era grande, com a instalação provisória de uns tantos “Retornados”. Estes reorganizaram as suas vidas e foram-se. Ficaram uns fiéis. Aos domingos, recebiam parentes e amigos para uns petiscos, umas partidas de “sueca” um mera conversa... Neste que é, não me canso de repetir, um dos mais belos locais de Portugal! (1978)

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19.2.11

«A excepção e a regra» - Passatempo

APARENTEMENTE, estas 4 fotos, tiradas ontem e hoje com menos de 24h de intervalo, em paragens da Carris, mostram o carinho com que as autoridades (policiais e autárquicas) tratam - por omissão - os transportes públicos e a consideração que têm pelos respectivos trabalhadores e utentes: algo que, em termos práticos, oscila entre ZERO e ZERO-VÍRGULA-ZERO. Mas, desta vez, não foi isso que sucedeu, pois um deste veículos (de entre os 19 referenciados de A a S) foi bloqueado pela EMEL!
Ora, tratando-se de fotos tiradas nos chamados «Locais A e D» dos Prémios António Costa (ver AQUI), pode ser que, desta vez, um deles seja atribuído - está em jogo um almoço, sem limite de preço, e em local à escolha do fotógrafo! Até ao momento, porém, ainda não foi reclamado; mas isso não obsta a que se atribua um outro prémio ao 1.º leitor do Sorumbático que saiba indicar qual foi o veículo bloqueado (carrinha, moto ou automóvel).
Cada leitor poderá dar um único palpite, terminando o passatempo às 12h de segunda-feira, dia 21 (a menos que, entretanto, surja a resposta exacta).
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Actualização: o passatempo terminou. Ver a resposta certa e o nome do vencedor [aqui].

É igual ao litro (de gasolina)

A ELABORAÇÃO de um título de uma notícia é uma arte difícil - obriga a que, em poucas palavras, se diga o essencial, devendo ser redigido de tal forma que, se alguém se limitar à sua leitura, não seja, pelo menos, induzido em erro.
Atente-se neste. Lendo o texto, vê-se que o valor correcto é 1000 vezes maior do que o nele indicado.

O crime da flatulência

Por Antunes Ferreira

PUBLICOU o SOL que “É reconfortante saber que pelo menos um país no Mundo tem as suas prioridades bem definidas. Na nação africana do Malawi, está a ser votada uma lei que tem como objectivo «moldar cidadãos responsáveis e disciplinados», tornando para isso a flatulência pública ilegal. Por vontade do Executivo, episódios desses em público deixaram de ser apenas um acto rude e de má educação para passarem a ser crime. Finalmente, existe um governo que não teme fazer frente a um crimes mais antigos que a humanidade comete impunemente”. (...)
Texto integral [aqui]

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18.2.11

Na minha rua

Por Manuel João Ramos
EXPERIMENTEM usar o Na Minha Rua, site participativo da CML, para denunciar estacionamento indevido, problemas nas passadeiras, passeios, faixas de rodagem, etc.
É possível fazer upload de ficheiros de imagens.
Abaixo, exemplo de uma denúncia de estacionamento no passeio na Av. Brasil, em Lisboa, de facto autorizado pela CML com recurso a um sinal ilegal.

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Quando não é bom ter razão

Por Rui Tavares

NO INÍCIO deste ano fui contactado para comentar uma notícia saída no DN que dava conta de um acordo assinado entre Portugal e os EUA para transferência de dados biográficos, biométricos e de ADN de cidadãos portugueses.
Não fui apenas eu. Também Carlos Coelho, do PSD, e Ana Gomes, do PS, meus colegas na Comissão das Liberdades e Direitos do Parlamento Europeu, teceram comentários preliminares sobre essas notícias.
Não era fácil entender a história à primeira (por exemplo: que o acordo já tinha sido assinado um ano e meio antes); infelizmente, as histórias sobre partilha dos nossos dados pessoais entre estados são muitas vezes assim. Entre 2001 e 2006 os EUA pilharam à União Europeia os dados sobre transferências bancárias dos cidadãos europeus sem nada dizer aos seus aliados. (...)
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17.2.11

Sam, o Golfinho

Por A.M. Galopim de Carvalho

AOS 50 ANOS de vida, vergado ao peso da sua provecta idade, Sam, o golfinho macho mais velho do Zoomarine e do mundo, deu a alma ao criador. Foi no passado Domingo, 13 de Fevereiro de 2011.

No sentido religioso da expressão, a alma é imaginada como uma entidade imaterial, meramente espiritual, que sobrevive à morte do corpo, podendo o seu destino ser a “eterna felicidade celestial” ou o “eterno tormento do Inferno”. É claro que, para muitos, entre os quais me incluo, este tipo de alma não existe, nem para os humanos nem para os golfinhos. Só a liberdade de expressão que o discurso literário consente, nos permite falar da alma destes maravilhosos cetáceos, não só marinhos, mas também de água doce. (...)
Texto integral [aqui]

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Precisa de dinheiro rápido? Posso dar uma sugestão?

E A PSP já pensou, por acaso, em mandar alguém da Divisão de Trânsito dar um saltinho aqui à minha rua, e cobrar dinheiro a gente como esta - que, decerto, não tem problemas em dar-lho, em troca de fazer o que aqui se vê... e muito mais?
Ou é como o pobrezinho que se queixa que estender a mão dá muito trabalho, sendo preciso enfiar-lhe a esmola no bolso?!
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NOTA: a 'incorrigível' paragem da Carris que aqui se vê passou a estar abrangida pelos fabulosos Prémios António Costa. Trata-se do chamado «Local A» - ver [aqui].

Foram-se as indulgências (conto)

Por C. Barroco Esperança

JERÓNIMO Felizardo estava a aliviar o luto a que a perda da amantíssima esposa, Deolinda, o obrigara. Não se pode dizer que lhe fora muito dedicado em vida nem excessivamente fiel. Mas habituara-se a ela como um rafeiro ao dono que o acolhe.
Sentia-lhe agora a falta. Deolinda de Jesus dera-lhe tudo. Mesmo tudo. Até o que é obrigação e nela nunca foi devoção e, muito menos, entusiasmo. Deu-lhe independência económica, boa mesa, respeito e uma filha. Deixou-lhe uma pensão de professora, metade do ordenado do 10.º escalão, que acrescentava a outros proventos e o punham ao abrigo de sobressaltos. (...)
Texto integral [aqui]

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16.2.11

Récita

Por João Paulo Guerra

NÃO É POR se apresentarem muitas moções que haverá alguma censura ao Governo. Antes pelo contrário. Mas a verdade é que o PCP já tinha anunciado, o Bloco anunciou, o CDS promete e o PSD não exclui. Ou seja: na actual conjuntura, em matéria de moções de censura ao Governo vigora o princípio "cada um, com a sua". Para o Governo não pode ser melhor: quatro moções de censura rejeitadas é mais fácil, mais barato e dá mais milhões de votos que uma moção de confiança aprovada.

O que verdadeiramente acontece é que a política em Portugal se transformou num acto de comédia, ou talvez mais farsa, quiçá farsola. E porque não mesmo uma zombaria ou pantomima? Para o dicionário tanto faz: impostura ou fingimento são sinónimos comuns a cada um dos géneros teatrais. Ou talvez, neste caso, "teatétricos" neologismo para designar o chamado teatro tétrico, ou anti-teatro. Seja como for, faz-se com comparsas e figurantes que, em vez de dialogarem, à antiga, praticam sobreposições de monólogos.

O ‘script' é o faz-de-conta. Faz-de-conta que eu quero, tu queres, ele quer derrubar o governo. Sendo certo que nós não queremos, vós não quereis e eles não querem sujeitar-se ao desgaste de governar agora. Primeiro, porque quem lá está faz muito bem o seu papel no sentido de transformar o país em terra queimada de direitos sociais e baldio de pobreza, sendo certo e sabido que muitos pobres são necessários para fazer cada rico. Segundo, porque todos querem ser governo mas não agora, obrigado.

E então assiste-se a este entrecho de pacotilha: no "hemicirco", quando se ligam as câmaras, todos bramam contra o Governo. Para as antecâmaras rezam para que tem-te, não caias. Ou, como diria Mestre Gil Vicente: Todo o Mundo é oposição e Ninguém quer governar. Uma récita para lamentar.
«DE» de 16 Fev 11

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Corações ocos

Por Baptista-Bastos
Velhos, ó meus queridos velhos, saltem-me para os joelhos: vamos brincar?
ALEXANDRE O'NEILL
O NÚMERO perturbador de velhos portugueses que morreram sós, e estiveram anos sem ninguém disso dar conta, permitiu uma série de piedosas declarações. A "atomização da sociedade", de que falou, admiravelmente, Simone de Beauvoir, num ensaio esquecido mas não datado [La Vieillesse], facilitou o sistema em que sobrevivemos, e que "confina com a barbárie."
Os nossos velhos pagam, amarga e dolorosamente, as nevroses das suas infâncias e as consequências das suas vidas frustradas, esmagadas, irrealizadas e aceitas com a resignação de quem foi alienado para consentir o inevitável declínio. A velhice, tal como as sociedades modernas a tratam, é uma questão de anomalia política, uma mutilação. Podíamos, talvez, atenuar essa violência, essa desolação social, com um pouco de compaixão. (...)
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Passatempo-relâmpago de 16-17 Fev 11

Terça-feira, 15 Fev 11, 18h 47m
À porta da Assembleia Municipal de Lisboa
Pergunta-se: qual o texto da placa, que explica que toda esta gente tenha estacionado assim - neste local - os carrinhos eléctricos?

NOTA: Visto que a resposta demora, oferece-se um prémio (um livro, como sempre) a quem, até às 12h de amanhã (dia 17), der a resposta correcta (ou, pelo menos, bastante aproximada).

Actualização: a solução já pode ser vista [aqui].
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Orlando Ribeiro

Por A.M.Galopim de Carvalho

NASCEU AQUI, em Lisboa, faz hoje, dia 16 de Fevereiro de 2011, 100 anos, e deixou-nos, vai para 14, em Novembro de 1997. A memória que eu e muitos outros temos dele é ainda muito fresca, tal a marca que deixou em nós.
Geógrafo tradicional, de elevada craveira, dentro e fora do país, nos domínios da geografia física (geomorfologia) e da geografia humana, com uma notável preparação geológica, Orlando Ribeiro foi um humanista igualmente reconhecido a nível nacional e internacional. Renovador da Geografia em Portugal, o Prof. Orlando (era assim que o tratávamos), foi senhor de muitos saberes em outras áreas, como as da História, da Antropologia, da Etnografia e da Geologia, saberes que expunha numa linguagem falada e escrita de invulgar correcção, não raras vezes poética. (...)
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15.2.11

O PS no «centro do centro» e a auto-reprodução das oligarquias partidárias

Por Alfredo Barroso

NA SUA CRÓNICA semanal publicada no DN em 1 de Fevereiro, Mário Soares considera ter chegado o momento para o PS «fazer uma reflexão aprofundada», com o objectivo de «dar um novo impulso à sua participação na vida política (independentemente do Governo), com mais idealismo socialista e menos apparatchiks, mais debate político e menos marketing, mais culto pelos valores éticos e menos boys que só pensam em ganhar dinheiro e promover-se».
A primeira reacção oficial da direcção do PS não se fez esperar, por via do inevitável José Lello, membro do seu secretariado nacional, que se apressou a desvalorizar as opiniões do principal fundador do partido: «O PS só tem uma única preocupação: governar o País e defender o País. É esse o nosso objectivo ideológico e é nisso que devemos concentrar-nos. Tudo o resto é secundário».
Antes de mais, duas observações de pura forma: «governar o País e defender o País», são duas preocupações e não «uma única»; e qualquer delas não é um «objectivo ideológico», mas sim político. José Lello tem de cuidar da gramática e recorrer mais vezes ao dicionário, porque a língua portuguesa é muito traiçoeira.
Depois, há que dizer que José Lello é assim uma espécie de «reflexo pavloviano» da oligarquia partidária que dirige o PS. Quando alguém bate com demasiada estridência no portão da sua quinta, Lello reage e ataca sem pensar, atirando-se cegamente às pernas de quem ele julga ser um intruso, e fica radiante quando lhe rasga as calças. (...)
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Funcionários da PT corrigem a situação referenciada pelo Sorumbático e que foi pretexto para o passatempo que terminou às 12h de hoje.

Delongas

Por João Paulo Guerra

O PRIMEIRO-MINISTRO acusa o Bloco de Esquerda de “irresponsável” ao apresentar uma moção de censura que, na óptica do partido do Governo vai “ajudar a direita”. Pelos mesmos motivos, o CDS incrimina o Bloco de Esquerda pela intenção de ajudar o Governo. Antes mesmo de anunciar a posição oficial do partido quanto à iniciativa bloquista, o CDS declarou que não alimentará debates tácticos sobre "moções de censura inconsequentes". E até um ex-dirigente do Bloco denunciou a moção de censura como uma "manobra política absurda". O PCP apontou "contradições" na moção do BE e deixou uma pergunta: "Se há uma semana atrás uma moção seria abrir a porta à direita, então esta moção é para abrira porta a quem?".

O PSD ao mesmo tempo que vai dizendo cobras e lagartos do Governo, como frisaram os jornais prepara-se para inviabilizar a moção de censura ao Governo e "segurar" José Sócrates pela terceira vez em menos de um ano, depois de viabilizar o plano de austeridade e de avalizar o Orçamento. E o conselheiro de Estado António Capucho sublinha que não é só com moções de censura que se abate um governo: também se lhe podem pregar "rasteiras". O professor Marcelo considera "irresponsável" deixar o Governo em funções para lá do fim do ano, mas reconhece que "o PSD não está em condições de avançar já para eleições".

De maneira que, com tantos "entretantos", quando chegarem os "finalmente" da votação o mais certo é que a direita ampare o Governo do PS, tanto na moção do Bloco de Esquerda como numa eventual moção do PCP. Com tantas e tais delongas, é de pensar no seguinte cenário: um dia destes, alertados pelos vizinhos, os partidos da oposição entram na sede do Conselho de Ministros e encontram o Governo morto. Sozinho em casa e morto.
«DE» de 15 Fev 11

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As borboletas de Nabokov

Por Nuno Crato

NOS ANOS 1940, um homem pouco conhecido pelos seus estudos de história natural analisou com cuidado um tipo de borboletas conhecidas como «Polyommatus blues». Trata-se de um grupo de espécies que se encontram por toda a América do norte e que se pensava estarem estreitamente relacionadas. No entanto, esse homem descobriu estarem ligadas apenas através de ascendentes comuns de há vários milhões de anos. Classificando as borboletas pelos seus órgãos genitais, o que implicou uma recolha de muitos especímenes e uma paciência infinita, o investigador concluiu que seria provável que tivessem vindo de Ásia, onde se encontravam os seus progenitores longínquos, passando através do estreito de Bering em cinco vagas sucessivas. Só assim conseguia explicar a diversidade encontrada. (...)
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14.2.11

«Dito & Feito»

Por José António Lima

JÁ SE SABIA que PCP e BE dificilmente votariam a favor de uma moção de censura apresentada por PSD ou CDS.
Tal como, acrescente-se, ainda mais dificilmente votariam contra ou se absteriam nessa mesma moção - porque seriam olhados, pelas suas bases de apoio, como os salvadores de um Governo que tanto têm atacado.
Esta semana, ficaram a saber-se dois outros dados políticos relevantes para o futuro de José Sócrates e para a inevitável mudança, a curto prazo, do ciclo de governação. Primeiro, que o PCP já admite, abertamente e sem rodeios, votar a favor de uma moção de censura colocada pela direita contra o Governo e contra Sócrates: «Nós, em nenhuma circunstância, votaremos a favor da sustentação e do prolongamento desta política e daquele que a executa», avisou, cristalino, Jerónimo de Sousa. (...)
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Passatempo «Calçada Portuguesa»

Lisboa - Rossio
LOGO no início da colecção de absurdos que se pode ver [AQUI], figuram estas duas imagens. As fotos foram enviadas à PT (às 13h55m do passado dia 8), tendo a anomalia sido corrigida num dia e a uma hora que são conhecidos com rigor. A pergunta que se faz é: quanto tempo decorreu entre esse aviso (feito por e-mail) e a correcção?

Cada leitor poderá dar uma única resposta (que deverá ser sob a forma de dias/horas/minutos), terminando o passatempo às 12h de terça-feira, dia 15 Fev 11. O prémio será, pelo menos, um exemplar do postal já referido (e que enaltece as belezas da tão maltratada calçada portuguesa).
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Actualização: O passatempo terminou. A solução já está visível [AQUI].

O algodão não engana

Por João Duque

POR QUE razão anda o Banco de Portugal a dar conselhos onde não deveria ser chamado? Afinal os bancos são ou não privados?
Nos dias de hoje a dúvida que ronda os conselhos de administração é a seguinte: vamos, ou não, propor à assembleia-geral o pagamento de dividendos aos acionistas?
À medida que são apresentadas contas públicas, é cada vez maior o número de empresas portuguesas cotadas que anunciam que não vão "abrir os cordões à bolsa" para pagar dividendos. (...)
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Mineralogia em Portugal

Por A.M. Galopim de Carvalho

ABSTRACÇÃO feita aos conhecimentos do foro mineiro das antigas civilizações (fenícia, grega, romana, árabe) que, em busca do ouro e da prata, do cobre e do estanho, prospectaram e exploraram o que é hoje o nosso território, os minerais só começaram a ser objecto de estudo minimamente científico a partir de finais do século XVIII na que era então a Faculdade de Filosofia, em Coimbra, e hoje Faculdade de Ciências e Tecnologia. Nesse tempo, o estudo destas dádivas de Natureza era parte de um todo mais vasto que compreendia as disciplinas (...)
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13.2.11

Apontamentos de uma terra sem uma gota de auto-estima

Cena de todos os dias na Rotunda de Entrecampos, em Lisboa
O MESMO país que faz propaganda, em postais ilustrados para turista ver, das maravilhas da calçada portuguesa, trata-a assim, como se pode comprovar, a qualquer hora, no local indicado e em tantos outros.
A RTP Memória exibe hoje, domingo, às 23h30m, a entrevista que o Carlos fez ao embaixador José Villas-Boas, há três meses.

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Moção e mocinhos

Por Ferreira Fernandes

TODOS OS DIAS, e um deles, por semana, até com o Governo sentado em frente, os deputados têm a oportunidade de dizer o que pensam da acção e do pensamento governativo. Como se chama a essa arma? Discursos. Discursos a criticar a política governativa ou tão-só uma vírgula numa proposta de lei. Pontuais ou vastos, chamam-se discursos. Atenção, não se chamam moções de censura. Chamam-se discursos. É necessário dizê-lo porque, depois de ter tirado da cartola uma moção de censura ao retardador, o Bloco de Esquerda desvaloriza essa moção como se daqui a um mês viesse a fazer uma coisa que podia resolver com um discurso. Não, uma moção de censura é uma proposta parlamentar que pretende derrubar o Governo. Por isso, em vez de discursar como se pode fazer todos os dias, uma moção de censura concita um texto pretendendo juntar o número de deputados que mostre que o Governo tem contra ele a maioria dos deputados.
Ora o que tem feito o BE desde que ameaçou com a moção de censura, ele, que tem 16 deputados e precisa de mais cem para levar a sua avante? Para juntar, nada, para afastar já o líder parlamentar do BE, José Manuel Pureza disse que os 102 deputados do PSD e do CDS seriam "ridículos" se a votassem. Temos, então, que não se trata de uma moção de censura mas uma censura de mocinhos, tão mocinhos que depois de terem ameaçado vão passar um mês no terror do PSD e do CDS os apoiarem.
«DN» de 13 Fev 11

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Luz - Algures em Portugal, 1974

Fotografias de António Barreto- APPh

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O manequim e Lenine fazem-se boa companhia, nestes anos setenta! Esta imagem é uma das poucas, de todo o meu acervo, cujo local não recordo.

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12.2.11

«A Quadratura do Circo» - «O espantoso comprimido»

Por Pedro Barroso

ERA SUPOSTO que a grande diferença entre a Ditadura e a Democracia fosse a vergonha dos déspotas.
Mas, ultimamente, nesta nossa Democracia, ela perdeu-se.
Os cursos tirados ao domingo ou os Master's da treta? Não faz mal. É tudo boa gente.
Os escândalos e favorecimentos? Não faz mal, é tudo boa gente.
Os submarinos e as luvas? Não faz mal, é tudo boa gente.
o Freeport, o Godinho, a Casa Pia? Não faz mal, é tudo boa gente.
A reforma da mãezinha, as escutas destruídas? Não faz mal, é tudo boa gente.
O país encaminhado para o abismo de uma dívida incurável? Não faz mal, é tudo boa gente.
Temos o gasóleo mais caro? o IVA a 23%? os abonos a diminuir? Não faz mal, é tudo boa gente.
Vive-se no desprezo mais elementar pela Cultura? No autismo face à pobreza e encerramento de lojas, do pequeno comércio, de fábricas, face à falência de pequenos e médios empresários? Não faz mal, é tudo boa gente.
Gerimos mal no tempo das vacas gordas, e hoje desaparecerem biliões, falindo Bancos? Não faz mal - nós pagamos! Somos todos gente boa!

Era suposto que um só destes casos já fosse Watergate mais que suficiente para a demissão destes artistas.
E contudo.
Em Portugal, a actual Democracia comporta-se como uma oligarquia de eleitos em circuito fechado. Iluminados intocáveis.
A Ditadura tinha de nome Estado Novo.
Agora esta Democracia tem de nome Este Estado.
Na outra altura não podíamos falar, pois já sabíamos que éramos presos, torturados, sei lá que mais.
Hoje não; porque é tudo boa gente.
Podemos provar que mentem, forjam diplomas, inventam motivos, perdoam dívidas, promovem amigos, afundam o país.
Podemos pôr tudo escarrapachado nos jornais, na rádio, na TV, onde quer que seja.
Eles no dia seguinte lá estão, vestidos impecavelmente de cinzento, elegantes, sorridentes, inaugurando, explicando os esforços da classe dirigente e a ingratidão das massas que não compreendem o seu denodo infatigável em combater a crise.

Chega-se a uma conclusão. Devem tomar o mesmo comprimido da estória da diarreia que afligia o pobre paciente:
- O senhor parece muito melhor, mais satisfeito -, perguntou o médico. - Sente-se melhor, não é verdade?
- Eu não, senhor doutor! Nada, mesmo! Mas aquele comprimido que o senhor me deu faz-me um efeito fantástico! É que continuo com diarreia do piorio; só que agora já não me importo, quero lá saber!

Até quando andaremos a levar com as diarreias desta medonha, obsoleta e ridícula classe política?...
A solução afinal, se calhar, pode estar mais na nossa mão do que pensamos.
Porque, ao que parece, se estamos à espera de vergonha... eles tomam todos os dias o comprimido e já nada sentem na consciência.

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As teleconfissões

Por Antunes Ferreira

O BLOGUE dn.notícias.pt do Funchal publicou na sua edição de quinta-feira um curioso comentário do jornalista João Filipe Pestana. O interesse que tem, na minha modesta opinião, leva-me a transcrevê-lo com os agradecimentos devidos ao autor e ao jornal mais do que centenário da Madeira.
O teme é quente. Como poderão ler de seguida é o caso das confissões telefonadas. Estou já a descortinar os sorrisos entre o condescendente e o lamento, bem a ouvir os comentários daqueles que ainda me conseguem ler. “Pobrezinho. O homem ensandeceu, pifou, está nas mãos dos psiquiatras. Confissões telefonadas é o que não falta, a toda a hora, minuto e segundo… Segredos, amores, dinheiros, compadrios, cuidado com as escutas. Era tão bom rapaz e, afinal…” (...)
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11.2.11

As velhinhas inglesas


Por Alice Vieira

DEPOIS
da família real e dos polícias, as velhinhas são uma instituição inglesa.
Nenhum país tem velhinhas como as inglesas.
As francesas são terríveis, espiando-nos debaixo dos seus chapelinhos cinzentos.
As nossas enchem autocarros e urgências de hospitais só a falar de doenças, ou deixam-se enganar por qualquer caramelo que lhes bata à porta a prometer fortunas se elas lhes passarem para as mãos as economias guardadas no colchão.
As inglesas, não.
Agatha Christie olhou-se ao espelho e depois olhou à sua volta, e percebeu logo que o poder estava nelas. (...)
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Já ganhámos!

Por João Duque

SE UM ESPECTADOR de futebol, sentado na bancada, ao ver a sua modesta equipa a ganhar 1-0 aos sete minutos e meio de jogo contra um dos grandes da Europa, declarasse triunfante que o assunto estava resolvido com uma vitória sobre o adversário, seria seriamente censurado e apelidado de louco. Ao apresentar os indicadores da receita fiscal relativos ao mês de Janeiro, o senhor secretário de estado dos assuntos fiscais veio confessar que "sem qualquer dúvida", fica à espera de uma surpresa no desempenho desta variável querendo com isto dizer que acredita seriamente que a receita fiscal termine o ano acima do projectado no Orçamento de Estado. (...)
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10.2.11

«Estamos bem entregues...» - Passatempo com prémio

A FOTO mostra um aspecto de um gigantesco engarrafamento de trânsito na Av. de Roma, em Lisboa, sendo os leitores desafiados a descobrir a sua causa próxima. No entanto, e dado que, ali, não faltam situações desse género, será necessário fornecer algumas dicas:
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1 - A foto foi tirada numa zona de estrangulamento da avenida (entre os números 45 e 43, onde a faixa BUS desaparece). De passagem, repare-se como essa faixa BUS está atafulhada de carros particulares.
2 - A data e a hora também são importantes: dia 22 de Outubro, às 9h41m - sexta-feira, hora de ponta, numa das mais movimentadas entradas da capital.
3 - O mupi que se vê à direita encobre a solução (que será dada, no fim, com outras fotos).
4 - O prémio - não por acaso - será um exemplar de O Preço da Incompetência (de Christine Kerdellant).

Actualização: o passatempo terminou, porque a resposta certa já foi dada - como se pode ver [AQUI].

A i-confissão é boato da Apple

Por Ferreira Fernandes

DURANTE 24 horas planou a notícia de que a Igreja Católica tinha mordiscado a maçã do pecado electrónico. Anteontem, o iPhone, da Apple (a da marca com a maçã provocadora), anunciou um novo produto: "Confissão: Uma Ferramenta Católica Romana". Com um software testado por padres e até abençoado por um bispo do estado de Indiana, Estados Unidos. Logo surgiu um boato: para o seu mais secreto ritual, a Igreja abdicava de intermediar, a coisa passava a ser só entre o crente e a máquina. Com a nova aplicação do iPhone (barata, não chegava aos dois dólares), já não se confessava, mandava-se uma espécie de sms? Já não se perdoavam os pecados, fazia-se delete? Já não haveria penitências, bastava recarregar o cartão?
Fiéis com a consciência mais pesada já se perguntavam se iria haver no mercado produtos com gigabytes extra de memória... Homens de fé a mais no progresso! Ontem, a milenar Igreja Católica - a sede da firma, em Roma - veio recolocar a confissão no seu habitual lugar, o confessionário. Ninguém se confessa por iPhone: o sacramento continua a precisar do binómio crente/sacerdote. O tal novo produto da Apple, "Confissão", é só uma ajuda no tradicional "exame de consciência." No fundo, um recordar electrónico dos pecados descritos nos Dez Mandamentos.
A única novidade passa a ser esta: "E que pecados cometeste, meu filho?" - "Padre, não sei, estou sem bateria."
«DN» de 10 Fev 11

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