31.5.05

Jean-Pierre-Raffarin, vue par Sergei

(Cliquez pour énlargir)

Os pobrezinhos da minha tia

EU TIVE uma tia muito bondosa que seguia um princípio muito rígido quanto às esmolas que distribuía: além de, evidentemente, ter de estar convencida de que o pedinte estava mesmo necessitado, NUNCA dava o que tinha a dar recorrendo a interposta pessoa ou organização.

De facto, ela lá teria as suas razões para suspeitar que o seu dinheiro podia ir parar a quem não devia! Ah! E como ela - pessoa bem conhecedora "destas coisas"... - desconfiava dos prestimosos "entregadores de esmolas dos outros"!

VEM isto a propósito do facto de a maioria das votações em que somos chamados a participar também sofrerem "desvios": metemos na urna o papelinho para uma coisa, e depois o nosso voto é usado para outra!

Passou-se isso com Guterres: votámos para os "regedores das freguesias", e ele achou que estávamos a criticar o seu Governo.

Passou-se isso com Durão Barroso: votámos para quem nos representasse na Europa, e ele achou o mesmo que Guterres.

Passou-se agora isso na Alemanha: as pessoas votaram para eleições regionais, e a consequência é o Governo cair.

Passou-se agora isso em França: as pessoas votaram para a Constituição Europeia, e o Governo "vai à vida"...

E por aí fora - sucede em todo o lado o que, além de frustrante, parece ser idiota. De qualquer forma, são os próprios políticos que lançam a confusão e baralham o jogo; e os votantes colaboram alegremente na fantochada:

Nas eleições europeias, o PS exigiu que se mostrasse "um cartão amarelo ao Governo". O PCP só variou na cor - queria que fosse vermelho.

E, agora, Jorge Coelho já veio dizer que as próximas eleições autárquicas servirão para "dar um voto de confiança no Governo"! Talvez isso venha a ser verdade mas, se é assim, não devia ser; pelo menos o meu voto não será com certeza de confiança nem de desconfiança.

Bolas! Se as eleições autárquicas não são para escolhermos quem resolva os problemas do sítio onde moramos, para que servem, então?! E quais são aquelas em que, de facto, o podemos fazer?!

Lamento muito mas, NESTE CASO, eu não estou muito preocupado em "derrotar a direita ou a esquerda".

Eu quero é quem me dê garantias (e não "promessas", note-se!) de que vai tirar os carros dos passeios, multar os donos dos cães cujos excrementos eu piso, acabar com a burla dos parquímetros, resolver o problema dos arrumadores e dos sem-abrigo, combater as casas devolutas, os pedintes que usam crianças, a anarquia do trânsito, o lixo que esvoaça...

Bem... É claro que um verdadeiro político deve fazer mais do que RESOLVER problemas: tem de saber prevê-los para evitar que surjam. Mas palpita-me que isso já é pedir muito.

Misteriosa notícia!

(Clicar na imagem para ler o texto assinalado...)

Oferta do blogue "Ponte Europa" http://ponteeuropa.blogspot.com/

30.5.05

Mudando um pouco de assunto...

Já que tanto se fala de dinheiros, aqui vai um problema interessante:

Considerem-se 10 sacos com 20 moedas cada um.

Sabe-se que, deles, 9 só têm moedas boas (que pesam 10g cada) e 1 só tem moedas falsas (que pesam 11g cada).

Pergunta-se: como descobrir qual é o saco que tem as moedas falsas com uma única pesagem usando uma "balança" como a do desenho (ou, mais correctamente, um "dinamómetro")?

NOTA: Para o problema colocado como acima se lê, já há uma resposta em "Comentário-1". Em "Comentário-2" está uma variante do problema, mas a resposta respectiva também já apareceu (em "Comentários-3 e 4").

29.5.05

A banalização da mentira

Aqui fica uma oportuna sugestão de leitura recolhida no Blogue "Alhos Vedros ao Poder" (http://alhosvedrosaopoder.blogspot.com/)

28.5.05

«Eles», quem?!

NÃO falei ainda com o Sergei, pelo que não sei se a frase que ele meteu na boca de Sócrates se refere aos pagantes habituais ou se, pelo contrário (ao desenhar o «Nosso Primeiro» com uma arma de brincar), mostra o grau da determinação do Governo no «combate aos privilégios dos ricos e poderosos».

Aqui fica uma pista: ontem, na SIC-N, perguntaram ao Prof. Medina Carreira porque é que é sempre a classe-média a pagar a crise. A resposta foi imediata - e não pareceu conter qualquer censura à triste realidade:

«Porque é quem tem dinheiro!».

Já sabíamos que os pobres (por definição...) não nadam em notas; a novidade foi, pois, ficarmos a saber que o pessoal das vivendas de luxo, dos jactos e helicópteros privados, dos Ferraris, das piscinas e dos iates que atafulham as nossas marinas, afinal não têm assim tanto dinheiro como se pensava.

Ah! Como é bom aprender com quem sabe!

A sugestão de Nuno Crato

É COMUM encarar o nascimento da Teoria da Relatividade Restrita como um puro golpe de génio, saído da cabeça do jovem Einstein por inspiração súbita. A data do acontecimento, 1905, é tão importante que o seu centenário justifica a celebração deste ano de 2005 como Ano Internacional da Física.

(Texto completo em «Comentário-1»)

27.5.05

Já os Beatles diziam, em 1966...

(Podem clicar na imagem para ler o texto. Mas, por favor, não o mostrem ao José Sócrates!!!).
Tradução alternativa:
«Deixa-me dizer-te como é que vai ser:
«É um para ti, dezanove para mim,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos.
«Se 5% te parece pouco,
«Agradece eu não te levar tudo.
«Se guias um carro, eu taxo-te a rua;
«Se tentares sentar-te, eu taxo-te o assento;
«Se tiveres frio, eu taxo-te o aquecimento;
«Se fores dar uma volta, eu taxo-te os pés,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos.
«Não me perguntes para que é que eu os quero,
«Se não queres ainda pagar mais;
«Agora, o meu conselho aos que morrem:
«Declarem o valor dos vossos olhos,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos
«E é só para mim que vocês trabalham,
«O cobrador-de-impostos.

Raio de crise!

ACHO que já aqui falei dele, mas só agora soube que lhe chamam «o Zé-do-boné» - por andar sempre com um, já se vê.

Tem uns vinte anitos, usa uma argolinha na orelha esquerda, e é encontrável nas Avenidas Novas, que percorre sempre muito depressa como se estivesse em risco de perder o comboio.

E trabalha que se farta, embora a sua única ocupação seja esvaziar parquímetros (o que faz num ápice e à luz do dia, perante a impotência das autoridades, que cobre com o mais espantoso ridículo), tarefa para a qual usa, como ferramenta, um simples palito.

Hoje fui dar com ele, abatido, a falar com um colega de profissão.

Encostados a uma maquineta liam, sem esconder o seu aborrecimento, uma notícia do jornal «metro»:

«COFRES DOS EQUIPAMENTOS VÃO PASSAR A SER ESVAZIADOS MAIS VEZES POR DIA».

«Ora que grande porra!» - comentava o Zé - «Agora, por causa do défice, ainda querem que aumentemos o ritmo de trabalho!»

--

Foi publicada no jornal «METRO» do dia 6 Jun 05 (com grande destaque e fotografia, mas em nome de Carlos Ribeiro) uma versão adaptada, que está em "Comentário-2".

«Acontece...» - Tempo de milhões e “tolerâncias zero”

Crónica de Carlos Pinto Coelho

A bem ou a mal, a mel ou a chicote, os media que curvem a espinha e obedeçam aos ditames dos poderes. Estes os avisos que chegaram, esta semana, da Galiza e dos Estados Unidos da América. As paradas vão altas, que se precavenham os incautos, os ingénuos... e os herois, se os houver.

A Xunta da Galiza destinou dois milhões de euros para pagar notícias favoráveis à actividade do governo autónomo e do seu presidente. Segundo o “El Pais”, um acordo celebrado em Abril com a maioria dos meios de comunicação galegos previa pagamentos que iam dos 18.000 euros para algumas rádios a 420.000 para “La Voz de Galicia”, o diário de maior difusão na comunidade. Por via das dúvidas o Governo resolveu suspender esse acordo enquanto dura a actual campanha eleitoral, mas o “El Pais” garante que isso não foi comunicado aos directores de vários dos media abrangidos.

Nos Estados Unidos a onda é a mesma, mas por via do safanão. Na semana passada, o gigante financeiro Morgan Stanley anunciou a sua nova política de publicidade para a imprensa: a publicação de algum artigo considerado “negativo” para a empresa provocará a suspensão imediata de todas as campanhas publicitárias previstas para esse jornal. “No caso de estar a ser preparada alguma peça jornalística controversa, a agência (de publicidade) deve ser avisada porque poderão tornar-se necessárias alterações de última hora. Se o tema surgir fora do horário normal de serviço e se não puder ser resolvido por telefonema, cancelem-se imediatamente todos os anúncios da Morgan Stanley por um mínimo de 48 horas”, diz a nova adenda aos contratos de publicidade da empresa.

Seis dias depois, no dia 24 de manhã, a agência de publicidade que trabalha para o gigante petrolífero BP veio também exibir a sua palmatória do “ad-pull” (retirar anúncio) e anunciou “tolerância zero” para qualquer peça jornalística, publicada sem conhecimento prévio da empresa, “onde se faça alusão directa à BP, a qualquer concorrente ou à indústria petrolífera em geral”. Isto abrange textos e ilustrações. A directiva, intitulada “2005 BP Corporate-RFP”, ameaça com as mesmas retaliações: suspensão imediata de qualquer anúncio contratado com o jornal prevaricador. Assim mesmo. Um porta-voz da agência, a MindShare, recusou-se a comentar, dizendo tratar-se de “um assunto do cliente”.

Ou seja: ou publicas o que eu quero, ou ficas sem dinheiro. É tempo de domesticar o jornalismo. Na Galiza, pagando-lhe textos. Nos Estados Unidos, cortando-lhe receitas. Na Galiza, fala grosso o poder político. Nos Estados Unidos, o poder económico. Em ambas as situações, os pontos de apoio dos ditadores são a fragilidade financeira das empresas mediáticas, a precaridade das carreiras jornalísticas e consequentes vulnerabilidades e – acrescento – uma razoável confiança na impassibilidade das opiniões públicas. Que movimentos de indignação se poderão esperar, nos dias que correm, repudiando a violência ética destas práticas? E a perda de credibilidade dos jornais que se deixem corromper, merecerá ela castigo por parte dos seus consumidores? Por muito que doa, é altamente improvável.

Antes de escrever esta crónica, fiz o meu trabalho: falei para a BP portuguesa. Queria saber se a “tolerância zero” também ia chegar a Portugal e à sua imprensa. Foi-me respondido que não, que a “2005 BP Corporate-RFP” não fora recebida em Lisboa. Mas acrescentaram que a directiva não devia ser entendida como um braço de ferro à liberdade de imprensa, mas antes como uma forma de evitar a publicação de páginas de publicidade da BP numa edição de jornal ou revista onde se contivessem matérias controversas para a vida da empresa. E citaram como exemplo a explosão que matou 15 pessoas e feriu uma centena, em 23 de Março, na refinaria da BP em Texas City. Faria sentido uma página de anúncio ao lado das reportagens do acidente? Não se trata de eliminar campanhas mas apenas de adiar, e apenas adiar, a inserção de publicidade – explicaram-me.

Julgava eu o assunto esclarecido, quando me cai nas mãos um violento editorial, assinado pela direcção da mais prestigiada revista mundial de publicidade, a “Advertising Age”. Logo o título, furibundo, dispara sem reticências: “Vergonha para a BP e para a Morgan Stanley” por causa das suas políticas de cortes de anúncios. Franzi o sobrolho. Publicitários a atacarem os seus próprios clientes? Li mais:

“Vergonha para a BP. E vergonha para a Morgan Stanley, a General Motors e quantos mais anunciantes se envolvem em assaltos à integridade editorial (jornalística) e à sua independência. Ao usarem os seus orçamentos como armas para derrubar as redacções, estas empresas ameaçam o vínculo que liga os patrimónios mediáticos aos seus públicos, justamente o que torna valiosos os media para os anunciantes.”

Aqui chegado, restava-me uma de duas: desistir da crónica, voltar ao contacto com a BP e transformar este texto num debate entre publicitários e seus clientes; ou fechar a crónica e deixar que o leitor conclua pela sua própria cabeça.

Por mim, não fiquei com dúvidas. Nenhumas. Também tenho as minhas “tolerâncias zero”.

(«A CAPITAL», 27 Maio 05)

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26.5.05

E não podiam ter feito a média?!

«Eu acho que o IVA devia aumentar, pois assim como está não dá jeito nenhum!»

Esta estranha frase (como o tempo passa!) foi pronunciada há oito anos, pelo meu amigo Oliveira, quando o IVA estava a 17% e ele se queixava da dificuldade de fazer contas de cabeça - sonhava, por isso, com um IVA de 20%.

Durão Barroso ofereceu-lhe um de 19% e Sócrates, agora, um de 21!

A história completa pode ler-se em www.centroatl.pt/medina/37iva.html

Nela se vê, nomeadamente, a nova utilidade que o meu genial amigo descobriu para as folhas de Excel; aliás, tudo leva a crer que tenha sido graças a uma dessas «folhas de cálculo de nova geração» que os nossos políticos e economistas-de-meia-tijela descobriram a «fórmula-da-batata» com que ontem nos presentearam.

25.5.05

O B-A-BA da treta

A PROPÓSITO «daquilo que a gente sabe», muita gente tem dado grande destaque ao facto de nos estarem a repetir, palavra por palavra, as patacoadas de Durão Barroso quando se viu nas mesmas circunstâncias que agora atormentam José Sócrates.

Ora isso é não perceber a essência do problema!

No decurso de uma trôpega comédia (cujo guião nem seria aceite para as sessões de terapia que, por vezes, fazem os internados do Júlio de Matos), o Governo decidiu tratar os pagantes como garotos.

Claro que, uma vez tomada essa decisão, tinha de respeitar uma regra básica que qualquer mãe ou avó sabe de cor:

As Histórias-da-Carochinha têm de se contadas, tintim-por-tintim, sempre da mesma maneira!

José Sócrates e o Sr. Geringôncio

CONFORME soubemos hoje, José Sócrates declarou:

«Vamos cumprir o nosso programa eleitoral com uma excepção: o aumento dos impostos».

Ora isso faz-me lembrar uma velha anedota, que passo a contar.

entradote em anos, o Sr. Geringôncio tentava convencer uma bela jovem de que, apesar da sua idade, era um homem cheio de virtudes:

- Não fumo, não bebo, não jogo, não passo as noites no café, não vou à bola...

Ela, louca de felicidade, interrompe-o:

- Será possível?! Será que não tens mesmo defeitos nenhuns?!

Então Geringôncio, sentindo-se corar, confessa, baixando os olhos:

- Bem, no fundo, sou um ser humano... E, embora só um, tenho um pequeno defeito: minto muito...

--

Publicado n' «A CAPITAL» em 27 Maio 05

A sugestão de Nuno Crato

Um Cientista explica-se

CARLOS Fiolhais, professor de física da Universidade de Coimbra, é um grande divulgador da ciência. Nesta obra mostra-se ainda como um erudito e um observador de rara sensibilidade.

Ao longo de 34 curtos capítulos, que se lêem com o mesmo prazer e facilidade que 34 curtos contos, fala sobre filmes de Manuel de Oliveira, o DNA, a relação entre a física e a matemática, os erros do «eduquês» e muitos outros temas.

«A coisa mais preciosa que temos» é um livro que nos mostra como um cientista culto vê o mundo e que nos ensina a tirar prazer do conhecimento científico.

(Texto de Nuno Crato, adaptado do «Expresso»)

24.5.05

(Clicar na imagem, para a ampliar)

Quando chegou este desenho de Sergei, já estava colocada a foto do índio - e achei que era pena retirá-la...

Constâncio será mesmo preciso?

COMO se sabe, usando certos tipos de letra o símbolo "%" parece um "9" seguido de um "6". Por isso, imagine-se a minha cara quando me pareceu ler que Constâncio tinha tirado da cartola um défice de 6,8396 !!

Precisão até à décima-milésima?! Sei lá... de economistas (especialmente dos que acordam tarde) é de esperar tudo!

O certo é que, se era ridículo o valor de 2,944 de Bagão Félix («à milésima», como no anúncio da senhora que cortava o cabelo), um outro à centésima não o é muito menos - tanto mais que se trata de uma «previsão».

Aliás, os indivíduos que desatam a meter casas-decimais para fazerem de conta que são muito rigorosos fazem-me lembrar alguns cartazes a dizer quanto vai custar a obra: junto à minha casa, há uma orçada em vários milhões de euros... e 16 cêntimos! Embora, no fim, talvez venha a custar várias vezes mais, «a precisão é tudo!» - deve pensar o tonto do empreiteiro.

Fazem-me também lembrar a rábula do Solnado, aquela em que Custer manda um batedor ver se vêm lá os índios.

- Vêm, sim, meu general! São 1001!

- Como é que os contaste tão rapidamente?! - perguntou o general, apreensivo, mas também espantado com a eficiência do rapaz.

- É que vem um à frente, e atrás são pr' aí uns 1000!

--

NOTA: Este post (incluindo a rábula dos índios) foi referido, com destaque, por Nuno Rogeiro no seu programa da manhã no RCP em 27 Mai 05

23.5.05

A disfunção

(Solução dois-em-um)

UMA coisa é a polícia não conseguir combater a criminalidade; outra - infinitamente pior - é dar mostras públicas dessa incapacidade.

Então não é penoso ver a BT desculpar-se com «falta-de-meios» de cada vez que há mortos nas «corridas de picanço»?

E não é caricato ver 3 pachorrentos agentes da GNR, em Coruche, incapazes de fazer frente a distúrbios transmitidos em directo por um repórter histérico?

Mas hoje atingiu-se o cúmulo do ridículo:

Na presença das câmaras da RTP, o próprio carro da GNR... foi usado para uma fuga!

Que diabo! Hoje em dia, já há cura para a impotência!

Escolhidos «a dedo»!

DESMOND Morris dedica algumas saborosas páginas do seu livro «O Animal Humano» aos "discursadores".

Num texto acompanhado por elucidativas fotos, ele disseca os "tiques" dos demagogos, com especial destaque para os que, como Jardim, abanam o indicador como se brandissem uma moca e terminam os discursos num "crescendo" para provocar aplausos (mesmo que tenham dito os maiores disparates ou banalidades).

Vem isto a propósito - quem diria! - de Jorge Coelho que, quando se sente à solta (sem o "contraditório que tem, p.ex., n' «A Quadratura do Círculo») deixa logo vir ao de cima o seu inconfundível estilo «Hádem».

Já no congresso do PS (quando se discutia se o partido iria fazer alianças à esquerda ou à direita), proclamou:

«O PS não fará alianças à esquerda nem à direita!!! A única aliança do PS É COM O POVO PORTUGUÊS!!!» - tudo dito com o dedo a abanar e com a tal entonação de voz, com o que conseguiu pôr o pessoal eufórico.

Ontem (apesar de termos sido informados pelo próprio governo de que, dos 10 hospitais que dantes estavam previstos, haverá 5 que não serão feitos - sendo um destes o do Algarve), proclamou, nos tais moldes ridicularizados pelo autor d' «O Macaco Nu»:

«O hospital do Algarve vai ser feito, DIGA O QUE DISSER A OPOSIÇÃO!!!»

As Escolhas de Durão

QUANDO Durão Barroso resolveu mudar de ares, defendeu a teoria de que o país ficava muito bem entregue a Santana Lopes.

No entanto, algum tempo antes, definira o companheiro de partido como sendo «Um misto de Zandinga e Gabriel Alves».

Aqui fica um pequeno contributo para se tentar perceber o «porquê» de tão estranha afirmação...

(Clicar na imagem para ampliar e ler as "máximas")

Um labirinto bem português

Sugestão para um monumento aos alegres responsáveis pelo que aqui se conta

um par de anos passei por uma povoação dos arredores de Lisboa e nunca mais me esquecerei de que, quando quis sair de lá, «me vi e desejei» - tal a confusão (alternando com a inexistência) da sinalização:

De vez em quando (e depois de muito penar), lá encontrava uma tabuleta ranhosa com uma seta que dizia SAÍDA mas, a partir daí, sucediam-se as bifurcações, "trifurcações", rotundas e cruzamentos sem qualquer outra indicação - e, a breve trecho, empurrado por uma boa meia-dúzia de sentidos-proibidos, encontrava-me exactamente no mesmo local!

Ora, na semana passada, tive a desdita de ser obrigado a voltar à mesma terra e, como já receava, a certa altura dei por mim a reviver o pesadelo.

Por fim, desesperado, parei o carro e abordei um pequeno grupo de pessoas que por ali se encontrava:

- Os senhores desculpem... eu gosto muito da vossa terra, mas agora queria ir-me embora e não consigo...

Com um sorriso cúmplice, lá me deram as indicações necessárias (tão longas e confusas que tive de as anotar num papel!) e, no fim, não calaram um desabafo:

- Isto é uma desgraça... A situação já é velha e toda a gente que cá vem se queixa do mesmo. A população já está farta de pedir que metam uma sinalização decente, mas ninguém liga...

E o encolher-de-ombros de todos os presentes deixou no ar a ideia (porventura nada injusta) de que «eles» só se preocupam com o povo na altura das eleições.

O que já não é mau, pois isso quer dizer que talvez por volta de Outubro eu me possa arriscar a lá regressar.

21.5.05

A sugestão de Nuno Crato

QUEM o conheça pode não achar estranho. Mas quando John Horton Conway esteve entre nós, iniciou uma das suas palestras matemáticas de uma forma pouco convencional: dirigiu-se ao quadro e começou a desenhar uma rede de pontinhos.

Depois disse: «Alguém quer jogar ‘dots and boxes’ comigo?».

Houve quem aceitasse o desafio e Conway passou horas a jogar no quadro com os participantes e a explicar vários temas sobre esse jogo.

(O texto completo está em "Comentário-1". Em "Comentário-2", refere-se um jogo matemático muito simples mas curioso)

20.5.05

O Coronel Reboredo, pai da personagem principal do livro

«Jeremias e as Incríveis Consultas do Dr. Reboredo»

(disponível em e-book em www.jeremias.com.pt)


«Produtos brancos» (Crónica de C. Pinto Coelho)


Para quê fugir do Pingo Doce?

FAÇO como toda a gente que tem famílias grandes: uma vez por semana avio as compras de uma só vez e no mesmo supermercado. Desde há anos que vou a um Pingo Doce que me fica em caminho e onde me sinto em casa. Ou antes, sentia. Porque acabo de ser expulso pela ditadura das chamadas “marcas próprias”, que o patrão do Pingo Doce anunciou que vai tornar ainda mais feroz.

Lá terei de me exilar num Carrefour qualquer e recomeçar todo um processo de habituação. É pena. Ali já sabia onde estavam as coisas, o homem do talho era meu amigo, a menina das bolachas e o encarregado das bebidas conheciam as minhas marcas. Eram os trunfos da minha fidelidade à casa. Nunca me passou pela cabeça abandonar o “meu” supermercado, nem mesmo quando a Deco publicou o tal estudo onde a cadeia Pingo Doce aparecia como das mais careiras. Eu achava que o preço não é tudo. Afinal, o preço é apenas um dos factores numa relação comercial e seguramente não o mais relevante, quando essa relação é antiga e duradoura.

Ora, ultimamente, o “meu” Pingo Doce vinha, de semana a semana, reduzindo nas prateleiras uma das suas jóias: a variedade da sua oferta de referências, que era a riqueza da minha escolha. A golpes de surpresa, marcas que eu ali comprava há anos desapareciam, implacavelmente e sem aviso. Os empregados, encabulados, não tinham explicações para fornecer aos clientes e estes, desapontados, iam saindo porta fora em busca de outras portas. Os que o faziam, claro, porque outros rendiam-se aos preços mais baixos dos produtos de marca “Pingo Doce” que apareciam a substituir os ausentes. Era o prenúncio da ditadura. De cada vez que eu ainda conseguia encontrar a minha marca, açambarcava ciosamente uma boa dúzia de exemplares, temendo o pior. E o pior chegava quase sempre na vez seguinte: mais um “já não há” mais outra “marca branca”.

Às vezes levava para experimentar. Raras vezes o substituto tinha a qualidade do substituído, mas lá fui resistindo. Por comodismo, por preguiça, afinal o talho continuava a ter a mesma carne e o detergente até podia não ter marca, não é? Dei comigo a pactuar com a tirania.

… Até que o patrão Alexandre Soares dos Santos se encarregou de me tirar da minha salazarenta letargia. Falando há dias ao “Diário Económico”(12 de Maio), o “chairman” da Jerónimo Martins ( proprietária dos supermercados Pingo Doce) revelou sem rebuços toda a imensidão totalitária que me estava reservada: as ´”marcas brancas” irão crescer, “a curto prazo”, dos actuais 20% para… 40% das prateleiras! – disse. E sublinhou a ambição de “ter cada vez mais marca própria” na sua rede de supermercados. O jornal confirmava que, de facto, “o Pingo Doce tem vindo a diminuir a quantidade da oferta”. Ora, vendo assim traídos os meus anos de fiel dedicação, rugi como um justo tocado por ira divina. E uma voz trovejou sobre mim: “Por que esperas, ó consumidor pusilânime, para te libertares dessa escravidão que te anunciam? Se não te deixam escolher o que queres, escolhe tu a libertação!”

Despeço-me, pois, do “meu” Pingo Doce, gradualmente condenado a uma espécie de casão militar do antigamente, com as suas rações de marca única. Sei que as vendas de “marcas próprias” cresceram quase trinta por cento no ano passado, mas não sei quantos clientes desencantados terão mudado de poiso.

Na dureza do negócio, os gestores esquecem-se de que, mais importante do que as políticas de preços, está a subtileza dos agrados, a mais valia dos nichos de escolha, o requinte das variedades, o prestígio das múltiplas diferenças. Cativar uma clientela é não lhe sonegar marcas de preferência, a pretexto de serem menos lucrativas. Atrair públicos é aumentar-lhes as referências, não privá-los das que existiam. Sob um nome de marca podem estar séculos de experiências e tradições, mil saberes passados de geração em geração ou, simplesmente, o golpe de asa de uma receita genial e irrepetível. Uma marca é sempre um distintivo do peculiar, simultaneamente único e responsabilizante. E toda a marca tem os seus amigos. Subordinar isso à lógica informe dos proveitos é retirar ao exercício comercial uma fatia da sua nobreza secular – o genuíno respeito pelos gostos dos clientes. A pretexto de lhes suavizar a carteira com preços mais baixos, vão-se assegurando melhores lucros. Mas a dimensão humana do comércio fica bem mais pobre. O esplendor cultural da chcocolataria belga ou suíça substituído por uma etiqueta de “marca branca”? Horror!

Mas devo admitir que não foi apenas nos supermercados que se instalou a onda esclerótica dos “produtos brancos”. Ela anda por aí, de tal maneira metida nas nossas vidas que já outros velhos gostos definitivamente perdemos.
São, desde logo, os “discursos brancos” dos políticos, cada vez mais desprovidos dos sabores diversos das ideias, dos conteúdos e dos contrastes – marcas que faziam a diferença e poliam os povos. E que vêm enfardados noutros “produtos brancos” que são algumas palavras repetidas até à exaustão. “Transparente” é uma delas. Não há gesto de político que não seja “transparente” ou “muito claro”. E quando a coisa está feia, todo o político “aguarda serenamente”. Sempre “serenamente”. Sempre “transparente”. Ad nauseam.

E que dizer das “programações brancas” das rádios e das televisões? Nas rádios, os “produtos brancos” são as “playlists” incolores, incaracterísticas, iguais, de baixo custo como o arroz dos supermercados em dia de saldo, todas tocando as mesmas faixas das mesmas novidades. Até ao massacre, até à repulsa visceral dos ouvintes, até ao último cêntimo facturado pelas editoras. Corra-se Portugal de automóvel, ouçam-se as grandes rádios e sua música. Sempre as mesmas “marcas brancas”. E na televisão? Nos três canais de maior audiência vingam as “grelhas brancas” das telenovelas e dos concursos. Não faz diferença alguma falhar um serão ou mudar de canal: em horário nobre, o “produto” é sempre “branco”.

E que dizer desse outro “produto branco” que é alguma livralhada de ficção larvar que inunda os melhores espaços das livrarias e dos supermercados? Textos demenciais, servidos num léxico minguado, autênticos “genéricos” literários para cabeças sofridas. Se o escrevinhador é vedeta de cartaz social, então tem fotografia na capa. E a mistela vende-se.

Ou seja: para terminar com justiça, devo conceder ao ex-“meu” supermercado que abra ala nova de prateleiras para exposição e venda de livros portugueses “light”, alvarás de rádio e concessões de canais de televisão, tudo marca Pingo Doce, claro. E, bem junto às caixas registadoras, para consumo de última hora, um bonito desdobrável de plástico com discursos políticos Pingo Doce. Ninguém notará diferença dos de marca Parlamento.

“Aguardo serenamente”.

(«A CAPITAL», 20 Maio 2005)

19.5.05

O glorioso Sarrafusquense F. C.

(Clicar na imagem para a ampliar)

UM DIA DESTES, deparei-me com um bando de garotos que, no meio de grande algazarra, perguntavam a quem passava se era do Benfica ou do Sporting.

As pessoas, em geral, achavam-lhes graça e lá respondiam uma coisa qualquer - ou a verdade, ou o que lhes vinha à cabeça - só para se verem livres deles.

Mas a cena mais engraçada passou-se com um estrangeiro que, por mais que se esforçasse para ser simpático, não o conseguia porque, pura e simplesmente, a pergunta não lhe dizia nada - aliás, nem sequer a percebia.

O pior é que os putos não o largavam! Talvez encorajados por verem que ele só se ria, iam atrás dele, em grande grita, puxando-lhe pelo casaco e continuando a questionar: «Ó senhor! Ó senhor! Você é Benfica ou Sporting? É Benfica ou Sporting?».

Até que um velhote, que ia a passar, se condoeu do homem e respondeu por ele, inventando uma resposta libertadora: «Não macem o cavalheiro! Ele é meu amigo, e sei que não é do Benfica nem do Sporting. É do Sarrafusquense».

Depois de uma primeira reacção de incredulidade, todos se riram (até o estangeiro, que pareceu perceber a graça), cada um foi à sua vida, e a brincadeira - pelo menos essa - acabou.

Salvo melhor opinião, é uma coisa semelhante o que se prepara para o referendo europeu - e, neste caso, a "brincadeira" ainda agora vai no início, porque querem por força que respondamos "sim" ou "não" a uma questão sobre a qual ninguém se dá ao incómodo de nos esclarecer...

O caso do caos das casas

SEGUNDO o «Jornal de Negócios» de hoje, os proprietários de casas devolutas (estimadas em mais de 540 mil) vão ser penalizados: passarão a pagar o dobro do imposto; e o secretário de Estado, Eduardo Cabrita, até já lançou um «slogan» (o que é sempre bom nestas circunstâncias):

«Rendimento zero, imposto duplo».

Além da expressão «E mai' nada!» (que costumo ouvir a um maluquinho que anda na minha rua a dar pontapés nos caixotes-do-lixo), só me ocorre dizer: Perfeito! Certíssimo! Cinco Estrelas!

(Casa da família Diospiro; clicar na imagem)

O pior é que todos sabemos que, em matéria de leis, Portugal resolve a sua não-aplicação recorrendo ao aumento das penas:

Quanta gente já foi punida por ter marquises de alumínio, por deixar o cão defecar no passeio ou por atravessar fora das passadeiras (excepto no honroso caso de Faro, onde a PSP até já fez Operações-STOP a peões em parques-de-estacionamento)?

Vamos lá ver se, neste caso das «devolutas» não se aplica o aviso:

- Estás tramado, pá! Não tens pago impostos, mas com a lei que aí vem vais passar a pagar o dobro!

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(Publicado no «Público» de 21 Maio 05 - com o corte dos 2 últimos parágrafos! - e no «Diário Digital» de 23 Maio 05)

18.5.05

Autocrítica

Tendo em conta que o tema das aldrabices e das tropelias já provoca enjoo, procurei uma imagem alusiva a tão incómoda sensação.

Legenda: Don Weatherston, for many years chief steward on the S.S. Fort Hamilton, of the Bermudan Line, and Miss Edna Freeze (...) have devised a specially constructed corset which they claim to be a sure cure for seasickness.

O corpete anti-enjoo pode ser facilmente convertido em tanga, e vice-versa.

Venha o Diabo e escolha...

Num artigo publicado hoje no Expresso-online (intitulado «Conhecer as contas»), Henrique Monteiro escreve:

«Pela segunda vez, em menos quatro anos, somos confrontados com o facto de a situação orçamental ser pior do que a prevista».

Depois desenvolve o tema, dizendo com clareza aquilo que toda a gente pensa - e que, em resumo, é:

Ou o PS, na oposição, conhecia o verdadeiro valor do descalabro - e andou a enganar-nos na campanha eleitoral; ou não conhecia, e tinha obrigação de o conhecer (ou, pelo menos de se precaver, ressalvando as promessas)...

Oferta de Sergei ao «SORUMBÁTICO» (clicar na imagem)

Numa altura em que tanto se fala...

... de educação sexual...

...aqui vemos um cavalheiro, já avô, no intervalo de uma aula de um curso de pós-graduação para adultos.

Os filhos do professor de Alice

ALICE encontra-se com o seu professor de Matemática e pergunta-lhe quantos filhos tem e com que idade eles estão.

P: Tenho 3 filhos, e o produto da idade deles é 36.

A: Hum... Mas isso não é suficiente para eu saber que idade têm...

P: Pois não. Por isso te digo também que a soma das idades deles é igual à do número da porta da tua casa.

A: Hum... Mas isso também não é suficiente!

P: Olha, o mais velho toca piano. E não te digo mais nada.

A: Também não é preciso.Agora já é fácil!


Pergunta-se: Como é que Alice descobriu a solução - e qual é ela?

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NOTA: A solução já foi dada por J. Oliveira e está em "Comentário-1".

Uma crónica original

Texto (no mínimo...) polémico, de José Júdice, no jornal «metro» de hoje

Sendo o tamanho da letra muito pequeno, não consegui fazer o «OCR» deste texto para o afixar aqui - e bem merecia.

No entanto, poderá ser lido clicando na imagem, fazendo o «save as...» e depois abrindo-a.

Também posso enviar o ficheiro a quem mo pedir, mas é muito grande.

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Carta enviada para «Cartas ao Director» do jornal «metro»:

À laia de «direito-de-resposta»

MUITOS ainda estarão lembrados do apoio que Basílo Horta (destacado dirigente do CDS) deu, em tempos, à candidatura de Jorge Sampaio.

No meio de muitas explicações para tão bizarra atitude sobressaiu a seguinte, que ainda hoje parece a melhor de todas:

Nessa época, andando a sua popularidade muito por baixo, Basílio ter-se-á apercebido de que nada mudaria esse sombrio panorama se se limitasse a defender a direita e a atacar a esquerda.

Assim, resolveu fazer tudo ao contrário, numa atitude «que não lembraria ao Diabo», mas que lhe valeu de imediato ser figura de primeira página - a tal ponto que ainda hoje nos recordamos da rábula!

Noutro plano, e no que aos cronistas respeita: quem se interessaria muito por um texto no qual, entre outras banalidades, se exprimissem votos para a melhoria do trânsito, se defendesse o combate ao crime ou se apelasse à preservação da Amazónia? Pouca gente, claro.

E que tal defender exactamente o oposto? Bem... aí, talvez fosse diferente!

Ora, julgo que foi recorrendo a um raciocínio semelhante que José Júdice, na sua crónica de quarta-feira, resolveu desdramatizar, minimizar e relativizar aquilo que todos conhecem como «o escândalo dos sobreiros».

Por sinal, e como se sabe, o que está em causa é MUITO (mas MUITO!) mais do que a morte de alguns milhares de árvores - mas isso, infelizmente, não vem referido na crónica, porventura por falta de espaço...

CMR

Já que falamos de matemáticos...

... porque não transcrever um texto de um, por sinal bem português?

«O que é um homem culto? É aquele que:

1.º - Tem consciência da sua posição no cosmos e, em particular, na sociedade a que pertence;

2.° - Tem consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência como ser humano;

3.° - Faz do aperfeiçoamento do seu ser interior a preocupação máxima e fim último da vida.

(O texto completo está em "Comentário")

A sugestão de Nuno Crato

A DESCOBERTA DO INFINITO

Explicar a ciência através de diálogos é uma tradição nobre, mas grandemente esquecida

NESTE LIVRO, Donald Knuth, resolveu escrever uma novela pedagógica em forma de diálogo. Nele, duas personagens perdidas numa ilha redescobrem o sistema de números surreais criado pelo matemático John H. Conway, há cerca de 30 anos.

Não se trata de um romance pedagógico, mas antes de uma maneira de apresentar as hesitações, tentativas e sucessos que são característicos da investigação matemática.

O autor é, também ele, um famoso matemático, mais conhecido talvez pelos seus trabalhos na teoria da computação.

O tema em causa constitui um dos tópicos mais abstractos da matemática: a construção de números, partindo do conjunto vazio e chegando ao infinito. Mas é um tema que pode ser abordado por pessoas com limitada formação matemática, desde que dotadas de sede de saber e da persistência necessária para o raciocínio abstracto.

Trata-se pois de uma obra notável, tanto pelo aspecto pedagógico como pela possibilidade que oferece de viver a actividade de construção de um edifício matemático moderno.

A versão portuguesa apresenta-se numa tradução rigorosa e fluente de Jorge Nuno Silva e a composição do texto no sistema TeX, um método de processamento particularmente apropriado a trabalhos matemáticos que foi inventado precisamente pelo autor deste livro.

(Texto de Nuno Crato, adaptado do «Expresso»)

17.5.05

Oferta de vírus...

Genial!

Vale a pena clicar na imagem para a ver bem; ao contrário do que é habitual, até nem tem muitos erros.

AQUI se vê o aspecto de um mail perigoso que acabei de receber (e que o meu anti-vírus, apesar de actualizado todos os dias, deixou passar).

Se eu tivesse aceitado a sugestão de "Clique aqui...", seria brindado com um vírus a sério - ao fazer o download de um programa que, pretensamente, faria a remoção... de um vírus inexistente!

O pirilampo-mágico

DURANTE a viagem referida no post anterior, fui ouvindo umas dicas na rádio sobre introdução de portagens nas SCUT e outras coisas de igual interesse - que têm o condão de, mesmo quando negadas, irem preparando o povão para aquilo que já se sabe.

O certo é que, quando a conversa se tornou por demais enjoativa (pois só alternavam pessoas a dizer que "vêm aí aumentos" com outras a dizer que "não vêm aí aumentos nenhuns"...), mudei de estação.

Nesta outra, o locutor, como se estivese a comentar a cega-rega do «aumenta-não-aumenta/aumenta-não-aumenta/aumenta-não-aumenta», saiu-se com esta:

«Entre no espírito do pirilampo!»

O entendido

DA MESMA forma que é proibido falar ao telemóvel enquanto se conduz, também devia ser proibido ouvir anedotas na rádio nessas circunstâncias.

É que hoje tive de encostar na berma (para poder largar o volante e me agarrar à barriga, a rir), quando ouvi Marques Mendes, com ar professoral, a protestar por o défice estar alto e o Governo demorar muito na sua correcção!

Fez-me lembrar um senhor que eu em tempos conheci e que se caracterizava por duas atitudes:

Uma delas, era dar ordens sobre assuntos que ignorava completamente, exigindo sempre coisas extremamente complexas ou mesmo impossíveis; a outra era, minutos depois de as ter dado, interpelar os subordinados, com voz-de-trovão:

«ENTÃO ESSA MERD* AINDA NÃO ESTÁ FEITA?!!»

O monstro e as criancinhas

DURANTE a última campanha eleitoral, Jerónimo de Sousa, a certa altura (e a propósito d' O MONSTRO - o défice), disse aquilo que para o comum-dos-mortais é óbvio: «Antes de mais, o Estado deve pôr a pagar impostos quem o devia fazer e não faz».

Até aqui, nada de novo. E só refiro mais uma vez esse assunto porque li, nessa altura, duas reacções curiosas:

Uma, foi de uma jornalista que proclamou: «Jerónimo de Sousa deu uma de Robin dos Bosques!» - para essa senhora, portanto, pôr essa malandragem a pagar o que deve é "roubar aos ricos"...

A outra, foi uma pessoa qualificada que, num Editorial sobre assuntos económicos, decretou, preto-no-branco: «Contar com a recuperação dos dinheiros da fraude e evasão fiscais é conversa para adormecer meninos» - depreende-se, pois, que «os meninos» somos nós, mas o certo é que deve ter razão.

Passando à frente - mas ainda sobre esse assunto:

Hoje mesmo, ouvi na rádio João César das Neves a sugerir que, para redução da despesa pública, «se mande para casa quem não anda no Estado a fazer nada».

De facto, o Governo deve empandeirar - e depressa! - os responsáveis pela tal não-cobrança dos impostos, pela venda ao desbarato do património nacional, etc. etc.

Mas não é para casa que deve mandar essa tropa-fandanga, não! - a menos que se esteja a pensar em prisão domiciliária em vez da «preventiva». Nesse caso, talvez possa ser aceitável.

BEStial!

(Clicar na imagem para a ampliar)

16.5.05

Os escolhos das escolhas

(Andar no meio de picos sem se picar é uma arte só ao alcance de poucos)

EMBORA me sinta distante dele em termos ideológicos, eu sou um dos muitos portugueses que não perdem os programas do Professor Marcelo - e até acho que o seu partidarismo tem o-seu-quê de aliciante.

No entanto, ontem, sucedeu uma coisa estranha:

A "entrevistadora" (que, de vez em quando, tenta sê-lo sem comas) perguntou-lhe o que achava das dívidas do Grupo Grã-Pará ao Fisco e à Segurança Social (que já ascendem a 10 milhões de euros - assunto a que o «Expresso», no sábado, dera grande destaque).

O Professor disse qualquer coisa como «Já lá vamos...» e falou de outro tema.

Mas a senhora - e muito bem - não deixou cair o assunto e, pouco depois, voltou a colocar a questão.

E foi então que ficámos a saber que, aparentemente (e apesar de ler cuidadosamente o referido semanário, e até o citar com frequência), o Professor não sabia muito bem do que é que ela estava a falar (*) - e afastou-se rapidamente do assunto, escolhendo um outro tema com menos picos.

Enfim... escolhas...

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17 Maio: Estive a ler, na transcrição das 3ªs-feiras, no «DN», as palavras do Professor. Disse ele, de facto, que não estava bem dentro desse assunto...

Pois é, mas, salvo melhor opinião, DESSES ASSUNTOS É QUE DEVIA ESTAR - E BEM - A PAR!

Ao espelho... ao espelho... ao espelho...

Do lado esquerdo, vemos o famoso quadro de Velasquez «Vénus ao espelho»; do lado direito, a mesma obra... vista ao espelho.

VEM ISTO a propósito daquilo que alguns acharam, muito injustamente, uma grande anedota:

O outdoor de Manuel Maria Carrilho em que se mostrava uma parte de Lisboa vista do alto do Parque Eduardo VII, com a particularidade de o Castelo de S. Jorge ter trocado de colina.

Mas não vejo onde está o mal - e muito menos o espanto:

Sendo a imagem que lá se via a correspondente à que seria obtida num espelho, o mais certo é ter sido tirada pelo candidato - que todos nós imaginamos que passe bastante tempo de roda de um.

Um "post" envergonhado...

QUANDO, há dias, José Gil foi entrevistado na SIC-N a propósito deste seu livro, fiquei a saber que ele era um dos 25 maiores filósofos do mundo. Por isso, e logo que pude, fui a correr comprar a obra, que li numa noite.

Ora, para minha grande surpresa, cheguei à conclusão de que nada do que lera era novo nem particularmente estimulante.

Pensei então que devia haver uma «outra leitura», qualquer coisa como «uma segunda camada» a que o meu cérebro não conseguira aceder - talvez devido ao adiantado da hora.

Fechei então o livro, adormeci, desanimado comigo mesmo, e um par de dias mais tarde reli tudo novamente, com muito mais vagar e atenção; mas, para meu grande desespero, a conclusão foi a mesma.

Falei depois com outras pessoas, de cultura muito superior à minha, e fiquei pasmado:

Todas elas sorriram, como que embaraçadas, e garantiram-me que tinham a mesma opinião que eu.

Bem, sendo assim... já estou mais descansado!

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NOTA: O escritor Hélder Macedo, em entrevista recente na SIC-M (depois de esclarecer que era amigo-de-infância do autor...), disse que o livro tem "partes geniais", mas que muitas das coisas que refere não têm nada de exclusivamente português - ao contrário do que, aparentemente, se pretende fazer crer.

Curiosidade estatística - Solução

A solução do problema colocado aqui anteontem (acerca das probabilidades da sextas-feiras-13) foi dada no post respectivo pelo leitor "Pólux". A questão jogava com a facilidade com que as pessoas menos atentas caem em simples jogos-de-palavras. Nessa linha, e embora correndo o risco de ser fastidioso, aqui vai uma muito semelhante:

Existem moedas de libra e de meia-libra de ouro. Considere-se que as primeiras pesam (e valem) o dobro das segundas.

Então, o que é que vale mais: meio-quilo de libras ou um quilo de meias-libras?

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NOTA: Já foi dada a resposta certa (nos dois primeiros "Comentários")

Concurso de fotografia

Em www.eroticart.ws/photo2.htm está um conjunto de fotografias seleccionadas por um júri internacional para um concurso mundial que está a decorrer na internet.

Qualquer pessoa pode votar. Basta ir à página, clicar na foto escolhida, e marcar uma classificação de 5 a 10 num quadro de votação que aparece por baixo.

Uma das que lá está (a que aqui se vê) é de um colaborador deste blogue que conta connosco...

15.5.05

O aspirador

Enquanto potência dominante, económica, científica e militar, os Estados Unidos exercem as mesmas responsabilidades que o Reino Unido, aquando da primeira experiência de globalização entre 1870 e 1913.Todavia, fazem-no com uma característica inquietante . Ao contrário da City de Londres, que na época do seu esplendor redistribuía capitais à periferia do Império, Wall Street é um aspirador das poupanças mundiais, assim convertidas em capital exclusivo do “consumidor americano”.
Para nos convencermos de que a mundialização tem em si mais virtudes do que defeitos, teríamos de mergulhar de novo no século XVI., quando a Humanidade fez a primeira experiência da sua unidade. A tripla descoberta do Novo Mundo, da impressão tipográfica e da Reforma constituiu um verdadeiro renascimento. Tal como hoje as tecnologias da Informação, a ciber-economia , o espaço virtual, e o diálogo forçado dos continentes, que deveriam ser uma fonte de felicidade e de humanismo em vez de criar mais miséria e de impor maior exploração.

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14.5.05

Curiosidade estatística

Já que falámos de sextas-feiras-13, aqui fica uma pergunta interessante (mas fácil)

Das três hipóteses seguintes qual é a mais provável?

1 - Uma sexta-feira ser dia 13

2 - Um dia 13 ser sexta-feira

3 - Um dia ser sexta-feira-13

NOTA: Para evitar «respostas ao acaso», elas deverão referir qual a probabilidade de cada uma das 3 ocorrências.

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16 Maio: A resposta ultra-super-certa já está dada pelo amigo Pólux, em "Comentários".

Outro entusiasta do papel

(Cartoon inédito de Paulo Buchinho)

As histórias do Sr. Oliveira (que, tal como o Dr. Reboredo, é um adorador das «velhas tecnologias de rosto humano»), podem ser lidas em www.janelanaweb.com/humormedina

(Ontem foi) SEXTA-FEIRA-13!!

No livro «Jeremias e as Incríveis Consultas do Dr. Reboredo», contam-se as desgraças de um pobre inforfóbico que trabalha numa empresa onde começam a aparecer as «novas tecnologias».

Em pânico, e sentindo-se enlouquecer com essas «modernices», todas as semanas o infeliz vai ao psicanalista (o Dr. Tinoco) procurar alívio.

Para cúmulo, desta vez, houve uma sexta-feira-13!

- Então como é que correu a sua sexta-feira-13? – era o Dr. Tinoco que, abrindo a porta com um sorriso nos lábios, interpelava o seu doente.

- Nem me fale nisso, meu amigo! Você nem me fale nisso! - respondeu o infeliz Reboredo.

Depois, interrompendo o que estava a dizer (como se estivesse em busca das palavras certas), tirou o sobretudo e o casaco e, com um longo suspiro, acomodou-se confortavelmente no divã.

(...)

NOTA: Por ser um pouco longa, esta história está em "Comentários - 1". Quanto ao livro de onde foi tirada, está disponível em www.jeremias.com.pt. O respectivo Prefácio, da autoria de Carlos Pinto Coelho, está em "Comentários -2"

Ainda sobre Matemática

Os limites da Matemática

ATÉ aos anos 30 do século XX, os matemáticos acreditavam que as verdades da sua disciplina podiam ser estabelecidas de forma definitiva e quase automática, a partir de um conjunto de pressupostos rigorosos.

O lógico austríaco Kurt Goedel veio mostrar que isso não era possível. Já em fins do século, o matemático Gregory Chaitin veio evidenciar a própria aleatoriedade das verdades matemáticas.

É essa história fascinante que Chaitin mostra neste livro, numa viagem acelerada e fascinante pelos meandros deste importante problema da cultura contemporânea.

Para ficar convencido, e seduzido, aqui está o livro mais simples e divertido de ler que existe sobre o assunto.

(Texto de NUNO CRATO, adaptado do EXPRESSO)

NOTA: Dentro de algum tempo, a Gradiva oferecerá a alguns leitores deste blogue um prémio que estará relacionado com os livros que aqui forem sendo referidos.

13.5.05

A malta dos «Três Vintes»

(Cartoon de hoje, no «DN»: http://dn.sapo.pt/cartoons/cartoon.html - clicar para ampliar)

ONTEM, ao ouvir o Sr. Ministro das Finanças a dizer que ia cortar mais de 4 mil milhões de euros em despesas do sector público, lembrei-me novamente de uma marca de cigarros que havia em tempos, chamada «Três Vintes», nome esse que eu julgo que advinha do facto de serem «20 cigarros, com o peso de 20 gramas, custando 20 tostões».

Aliás, lembro-me sempre disso quando aparecem entendidos em Finanças a perorar sobre o défice:
Fico atento, para ver se eles falam dos 20 MILHÕES de dívidas dos clubes de futebol e dos 20 MIL MILHÕES de dívidas ao Fisco, em geral... Se falarem disso em termos convincentes... então, sim, merecem "20"!
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(Publicado no «Diário Digital» de 16 Maio 05)

«Público» - perfeito!

No seguimento do post das 17h 42m de ontem (e dos mails para lá enviados), o «Público» alterou o inquérito online e deu a resposta que adiante se transcreve. Perfeito!

Caro leitor:

Tem razão quanto ao duplo significado da palavra. No entanto, já que é público que nenhuma das candidaturas referidas tem o apoio do PSD, a palavra sancionar, no inquérito, só poderá ser tomada como sinónimo da aplicação de sanções disciplinares, conforme é previsto nos estatutos partidários.

Mesmo assim, para evitar dúvidas, vamos alterar a formulação no inquérito on-line: em lugar de sancionar, colocaremos "aplicar sanções".

Com os melhores cumprimentos e votos de um bom fim-de-semana,

Nuno Pacheco
Director-adjunto do PÚBLICO

Em socorro da indústria nacional

Não custa nada tentar...

(Anúncio no jornal «metro», de hoje)

E como diz um vendedor de lotaria aqui da minha rua:

«Quem sabe lá...! Quem sabe lá...!»

Como fazer uma mulher feliz!

Dado ser longo demais para meter aqui (pela própria natureza do tema), este didáctico texto está afixado em "Comentário".

Acontece…

Televisão: Noites passadas, dias futuros

Crónica de Carlos Pinto Coelho

Na mesma Espanha onde a onda “gay” já chegou aos altares da consagração jurídica, houve um viril varão que achou por bem fecundar sua legítima esposa. Foi há pouco mais de 90 dias, mas não passou despercebido aos argutos editores do serviço público de televisão… português. Ainda o povo das ruas de Madrid desconhecia que Letícia estava grávida, e já o grande jornalismo da RTP lhe aparecia de microfone em riste, exigindo opiniões. Os incautos madrilenos desfilavam diante da câmara, surpresos ou indiferentes, dizendo que não sabiam ou não queriam saber do assunto. E a voraz repórter lusitana fuzilava-os: “Mas agora já sabe! Digo-lho eu! Está contente? Prefere menino ou menina?” Quem disse que a TV pública de Portugal anda desatenta ao mais relevante da nação vizinha?

Já em fim de semana, o mesmo Telejornal comprazia-se em colocar outra repórter noutra não-notícia. Em Alcochete, à porta da Academia do Sporting, de costas para um autocarro que passava com os jogadores lá dentro, uma desesperada jornalista dissertava sobre coisa nenhuma acerca do jogo seguinte. Mas o que é que pode haver de novidade noticiosa na véspera de um jogo? Que o clube tem vantagens se ganhar? Que o balneário tem sabão para todos? Que os adeptos pedem autógrafos? Que o Bimbo tem dores no joelho e o Timbo está castigado? Pois a RTP gastou, nesse vazio alucinante, minutos impróprios para qualquer estudante de Jornalismo. Não havia ali resquício de notícia, mas à repórter cumpria encher jornal. Como, há dezenas de anos, nos directos da rádio e da televisão, Artur Agostinho ou Raul Durão despejavam intermináveis banalidades para compor a estafa de uma qualquer cerimónia presidencial.

De facto, os fados não têm ajudado, ultimamente, ao prestígio editorial da RTP. Foi aquela equívoca entrevista Judite de Sousa / Valentim Loureiro (quem interpelou quem?) que já mereceu a justa palmatória de Miguel Gaspar no “Diário de Notícias”. Depois, o tal naco de jornalismo tablóide sobre a fecundação da estimável senhora espanhola. Finalmente, o estéril blá-blá sobre coisa-nenhuma em Alcochete. Basto desaire em poucos dias.

Nada disto é bom jornalismo, nada disto é boa televisão mas, sobretudo, para o que hoje aqui importa, nada disto cativa os jovens espectadores. Eles estão cada vez mais longe da TV-que-se-faz e cada vez menos tolerantes para com dois dogmas que ainda vingam: a submissão às audimetrias e o pressuposto da mediocridade do povo espectador.

No princípio de Abril, alguns milhares de jovens assistiram, nas ruas de São Francisco, ao anúncio formal do novo canal de televisão por cabo e satélite – a Current TV – concebido para conquistar o auditório dos 18 aos 34 anos, roubando-o ao império da MTV. É uma aposta do antigo vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, e de um punhado de amigos milionários, que investiram naquilo que crêem ser um novo modelo de televisão. Para a América e para o mundo. Prometem começar em Agosto: “Sempre que ligar para a Current TV verá algo divertido, estimulante ou interessante. Três minutos depois, terá outra coisa nova.” E explicam:

“Há muito para ver na televisão mas, enquanto espectador, você não tem grandes hipóteses de participar ou influenciar aquilo que vê. Este medium – o mais poderoso e fascinante que temos – ainda é uma janela estreita para a realidade, que aparece em previsíveis fatias de telejornal. Ainda é uma fortaleza de um mundo antiquado e de sentido único. Queremos romper com isso. Estamos a repensar a forma de produzir, programar e apresentar TV, de modo a que ela seja reconhecida por uma audiência que está habituada a escolher, dominar e participar em tudo o que faz na vida.”

A espinha dorsal do futuro canal será a interactividade. De qualquer parte do mundo, os espectadores podem enviar, via Google na Internet, peças gravadas em vídeo. Essas filmagens são apreciadas e, se aprovadas, emitidas no próprio dia. E há prémios em dinheiro para as melhores reportagens. Que reportagens? Diz a Current: “Histórias que as televisões tradicionais jamais utilizariam porque são muito grandes, muito pequenas ou muito qualquer outra coisa. Queremos honestidade, humor e, claro, factos.” E avançam as três áreas do seu maior interesse editorial: episódios do quotidiano de jovens pais e seus filhos (alegrias, dificuldades, surpresas), revelação de pessoas que estão a provocar mudanças positivas na sociedade (trabalhadores voluntários num país do terceiro mundo, activistas políticos de uma cidade, voluntários de trabalho social no bairro, etc) e, finalmente, viagens (mostre quem conheceu, o que viu e o que aprendeu).

Depois da apoteótica festa de apresentação (milhares de jovens nas ruas, Al Gore ao lado de Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Mos Def, o mais “in” dos “rappers” americanos) choveram análises azedas e vaticínios pessimistas. Digamos que o “establishment” rugiu. Com propósitos e argumentos diversos.

Como negócio, será ruinoso – dizem - porque a MTV é imbatível, o cabo só ganha audiências com programações ligeiras e a era dos canais 24/7 (24 horas por dia/sete dias por semana) está a chegar ao fim. O amanhã pertence ao “video on demand”. Até alguns cronistas da ala democrata torceram o nariz. Mas a crítica mais severa foi feita por alguém do mesmo território – o jornalismo cívico e o serviço público: Clara Mertes, produtora de um programa de documentários na PBS com larga audiência de jovens: “Democratizar os media não é largar de mão os meios de produção, numa lógica de acesso público. Com isso só se consegue confusão e um montão de coisas que ninguém vê.” (Não sabemos nós como isto pode ser pura verdade, olhando o que aconteceu ao segundo canal da RTP, na sua lógica de sociedade civil?)

Sarcástico, um produtor da MTV explicou assim a quadratura do círculo que a Current TV se propõe levar a cabo: “Se eu emitir três reportagens, uma sobre o meio ambiente no Alasca, outra sobre os sem abrigo em Nova Iorque e uma terceira sobre implantes mamários em meninas adolescentes, adivinhem qual terá maior audiência.”

Mas Gore está tranquilo: “Acredito na ligação da televisão aos criadores de histórias autênticas. Quando isso acontecer, haverá impacto no género de assuntos que se discutem e na forma como são discutidos.”

Qualquer que seja o resultado, Agosto vai trazer a força dessa ideia de juntar num corpo único os dois media mais poderosos do tempo: a internet e a televisão. A ditadura das ementas de consumo estritamente norte-americano, até agora esmagadora e imbatível, poderá ser contornada ou até derrubada pela entrada em cena de um parceiro enigmático: o mundo. O mundo, que fornecerá os materiais e depois se reverá neles, assumindo-se como uma nova e imprevisível força consumidora. Quer os norte-americanos o queiram, ou não. Eles também pouco queriam à CNN até perceberem que os seus pilares se tinham passado para fora dos States.

Por mim, lá estarei, nesse dia de Agosto ainda não anunciado. À espera de ver, entre outras, alguma pequena reportagem feita em Lisboa. É que, dos cem clubes que já se inscreveram para colaborar com a Current em dez países, um deles é lisboeta e vai fazer a sua primeira reunião já na próxima quarta feira.

(«A CAPITAL», 13 MAI 2005)

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12.5.05

Puxando pela cabecinha - Solução

Dois amigos, que assinam "Pólux" e "zxcv", deram a totalidade das respostas certas ao problema intitulado «Puxando pela cabecinha...», aqui afixado às 18h 39m de ontem e que era:

«Como é possível andar x km para Sul, x km para Oeste e finalmente outro tanto para Norte e acabar no ponto de partida... MAS SEM QUE ESTE SEJA O PÓLO NORTE?»

Neste desenho (que não está lá grande coisa...), procuro mostrar a solução menos evidente de todas. (Clicar nele, para ampliar)

Para mais esclarecimentos, ver as respostas - brilhantes! - que esses amigos deram em "Comentários" a esse "post".

GRANDE MI(NI)STÉRIO PÚBLICO...

Na imagem seguinte, podem ver-se três heróicos salva-vidas equipados com coletes feitos com cortiça.
Isso mostra como pode valer a pena sacrificar alguns sobreiros, se tal permitir salvar a vida de seres-humanos - não é só a luta conta o aborto que consegue esse desiderato!

Agora atente-se na seguinte maravilha, que se lê n' «A CAPITAL» de hoje:

«Costa Neves não foi arguido por engano do Ministério Público.

O Ministério Público pensava que Costa Neves, ex-ministro da Agricultura, ainda desempenhava funções de deputado europeu. Mas o gabinete português no Parlamento Europeu veio garantir, em comunicado, que Costa Neves deixou de ser deputado há três anos».