31.3.14

O Fim da História

Por Maria Filomena Mónica 
NÃO TENDO a certeza de já ter cometido todos os disparates imagináveis, o Ministério da Educação decidiu acrescentar um novo programa, a que chamou «metas», para a disciplina de História do 9.º ano. Pouco lhe importa que as criancinhas conheçam a Civilização Grega, a Idade Média ou o Iluminismo: o que lhe interessa é que estejam a par das «características específicas do terrorismo global associado ao integrismo islâmico», bem como das «consequências humanas, financeiras e diplomáticas para os EUA do arrastar dos conflitos no Iraque e no Afeganistão».
Como os paizinhos raramente têm paciência para se manter a par do que se passa nas escolas, quero desde já preveni-los: cuidado com as conversas à mesa. À hora da fruta, o filho de 14 anos declara: «Ai, o pai acha que a globalização é boa, porque a mão invisível chega a todos os lados? Não é isso que nos ensinam na escola». O patriarca tenta intervir mas, do alto do seu piercing, o rebento contrapõe: «Mas não percebe que a tal mão favorece os que começaram a guerra do Iraque?».
Infelizmente, continuamos a importar tudo. Como dizia Ega a Carlos da Maia no final de Os Maias, «o legislador ouve dizer que lá fora se levanta o nível de instrução; imediatamente põe, no programa dos exames de primeiras letras, a metafísica, a astronomia, a filologia, a egiptologia, a cresmática (sic), a crítica das religiões comparadas e outros infinitos terrores». Agora, adoptámos a moda do «presentismo». Para os seus adeptos, a História deve estudar o que se passou ontem, ou, quando muito, anteontem; o resto não interessa. Acontece que a essência da História é o tempo e que, desaparecido este, o que o substitui são conversas de café. A este propósito, vale a pena ler a obra de J. Clark, Our Shadowed Present: Modernism Postmodernism and History, um ataque à forma como as ideias pós-modernas, fortemente influenciadas pelo existencialismo francês, contaminaram o ensino. 
Tenho estado a trabalhar com docentes que, sob pseudónimo, para mim redigiram diários. O retrato é deprimente. Eis o que me contou uma professora que lecciona adolescentes: «Falei aos alunos, entre outros, de pensadores como Copérnico, Giordano Bruno, Galileu e Kepler. Para minha surpresa, nem na época histórica os sabiam situar, quanto mais conhecer o seu contributo para a evolução da ciência. Quando lhes perguntei se sabiam quem eram, só a Maria Miguel pediu a palavra: ´O Galileu não é aquele que foi parar à fogueira por ser acusado de corromper os jovens?` A Raquel corrigiu a de imediato: ´Não foi nada. Esse foi um filósofo que eu não me lembro do nome`. ´Foi o Sócrates`, acrescentou a Flora». A Idade de Oiro do ensino nunca existiu, mas reconheço que os exames do Ensino Secundário sob o Estado Novo eram mais bem elaborados do que os de hoje, o que é grave, pois a História se debruça sobre quem somos, de onde vimos e em que país vivemos. Com as novas metas, o Ministério está a contribuir para criar uma geração historicamente amnésica. 
«Expresso» de 8 Mar 14

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30.3.14

Apontamentos de Lisboa

Av. Fr. Miguel Contreiras
No paradoxo do "Gato de Shrodinger", o bicho está vivo e morto ao mesmo tempo. Aqui, é uma farmácia que anuncia estar, simultaneamente, aberta e fechada...

Luz - Barcelona, na famosa Praça da Catalunya

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem para a ampliar
Esta é a maior praça de Espanha ou a segunda maior (e nesse caso a primeira será a Praça das Glórias Catalãs!). A praça, que não é particularmente bonita ou acolhedora, tem um incrível movimento de pessoas e viaturas durante todo o dia e parte da noite. Turista que se preze passa por ali e assim começa as suas voltas organizadas à cidade. A praça liga a velha Barcelona à nova, as avenidas novas às Ramblas. À volta desta praça, em vários edifícios importantes dos finais do século XIX e do início do século XX, instalaram-se instituições, empresas e serviços, a começar pela Telefónica. Durante a Guerra Civil, aqui se combateu, aqui se instalaram soldados e milícias de todos os lados, por aqui foram massacrados uns tantos anarquistas (ora pelos comunistas, ora pelos fascistas…). (2012).

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«Dito & Feito»

Por José António Lima
Santana Lopes assegurava, há uns meses: “Escusam de inventar notícias e declarações de 'amigos', porque não é esse - uma candidatura presidencial -, de todo, o meu caminho”. Agora, veio avisar que, afinal, pode ter “em abstracto, várias condições para exercer funções como essa” de Presidente da República. E até se deu ao trabalho de enumerar, uma a uma, as suas valências para o cargo, como se estivesse a preencher um CV para concorrer a uma vaga em Belém: “Conheço muito bem o poder local, a Cultura, as misericórdias, o Estado, já fui deputado europeu, até já fui presidente de um clube de futebol…”. Em suma, “com o conhecimento que tenho de Portugal, não sei se sou eu que estou em melhores condições”, mas “o meu partido, se tiver dois ou três ex-líderes como candidatos, não deve apoiar nenhum”.
Eis Santana Lopes no seu melhor. Acreditando que Marcelo Rebelo de Sousa acabará por recuar no momento da decisão e que Durão Barroso não conseguirá ultrapassar a desmotivação das sondagens desfavoráveis, Santana ocupa desde já o espaço potencialmente deserto do centro-direita antes que outros se lembrem de avançar.
Oproblema de Santana são três. E quase inultrapassáveis. O primeiro é que só teria condições para avançar por falta de comparência dos verdadeiros candidatos. Como ele próprio reconhece: “Se houvesse uma situação excepcional. Marcelo não ir, Durão não ir, ninguém ir e haver uma oportunidade”.
O segundo problema é o reverso do seu preenchido currículo, pois não foi famosa a sua passagem por várias funções. Saiu mal da Secretaria de Estado da Cultura, saiu pessimamente do curto desempenho como primeiro-ministro e até da presidência do clube de futebol, o Sporting, saiu antecipadamente e em ambiente pouco favorável.
O terceiro problema é que Santana Lopes, a culminar a sua atribulada passagem por S. Bento, conduziu o PSD a uma das suas mais penosas derrotas eleitorais de sempre, fazendo cair o partido para 28,8%. Ainda hoje as sondagens - que o colocam, invariavelmente, no último lugar das preferências, a par com José Sócrates - revelam os anticorpos que deixou na maioria do eleitorado. E, quanto a isso, não há mesmo volta a dar…
«SOL» de Mar 14

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Porta Nova (Évora), anos 40 - (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho
PORTA NOVA, em Évora, é o nome antigo de um pequeno espaço da cidade que me viu nascer. Pólo importante de uma da comunidade urbana desta capital do Alentejo, foi oficialmente designada por Largo Luís de Camões, com placa, poucos meses depois do derrube da monarquia, em sessão camarária de 1 de Junho de 1911, num tempo marcado pelo surgimento de valores culturais contra a superestrutura mental dos terratenentes que então dominavam a vida da cidade. (...)
Texto integral [aqui]

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29.3.14

Apontamentos de Lisboa

Compreende-se bem a indecisão destes peões...

GRALHAS SEM GRALHAS - O Senhor Sabe Tudo

Por Antunes Ferreira 
É uma sala recheada de mobília indo-portuguesa, um aparador precioso, cadeirões magníficos, uma espreguiçadeira desenhada pelo Senhor que me recebe e veste, descontraído, calções e camisa de manga curta. É toda desmontável, esclarece, com uns poucos parafusos, basta desenroscá-los e já está, mandei doze ou treze para Portugal, vêm cá goeses de férias e pedem-me para as encomendar e enviar. As recordações vogam por ali, reflectidas nos quadros que povoam as paredes. Uma osga, plácida e imóvel, espera talvez mosquito para o pequeno-almoço. (...)
Texto integral [aqui]

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28.3.14

Apontamentos de Lisboa

Uma manifestação de egoísmo, uma cena frequente: 
O cliente chico-esperto vai ao supermercado e usa um carrinho para levar as compras para o automóvel, a uns 100m de distância. 
Depois, abandona-o aí. Até a "moeda" que tem de usar está prevista...

27.3.14

O vizinho da subcave esquerda (Crónica)

Por C. Barroco Esperança
O Luís pode ter passado por mim, durante anos, sem eu me ter apercebido. Não recordo quando o conheci, talvez já tarde, depois de ter visto indivíduos de olhar esgazeado que me obrigavam a desviar da sua trajetória para não ser literalmente abalroado quando nos cruzávamos no hall do edifício onde resido.
Percorrem a entrada do prédio, vêm cegos, sabem de cor a distância, viram à esquerda e, dois passos depois, descem, absortos, os lances de escadas até à subcave onde o Luís faz a pequena traficância e um grande consumo de droga. (...)
Texto integral [aqui]

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26.3.14

Apontamentos de Lisboa

Numa velha crónica publicada n' O Independente, Miguel Esteves Cardoso diz que as letras LX, que vulgarmente se usam para LISBOA, deviam antes ser para LIXO.
E de então para cá 'a coisa' só tem piorado. Nunca, como agora, se viram tantas situações como estas - as fotos foram tiradas de seguida, e mostram a situação habitual em 3 ruas próximas: António Ferreira, Frei Amador Arrais e Conde de Sabugosa.

Os pinta-paredes (98)

Lisboa - Av. de Paris
Alguém apagou a inscrição com jacto de água (ou de areia). A tinta desapareceu, ficaram 10 buracos. Genial!

Socialismo de mão estendida

Por Baptista-Bastos
Não é preciso cansar os olhos e as meninges para se perceber que o "socialismo moderno" é uma monstruosidade prescrita. Tony Blair, que deveria estar na cadeia, por crimes de felonia e alta traição, foi cúmplice, com W. Bush e Aznar, da criminosa invasão do Iraque, decisão tomada, definitivamente, nos Açores, com o pobre Durão Barroso a servir de mordomo desavergonhado. Guterres era dado ao Blair. Fugiu, espavorido, de um Portugal pantanoso para um lugar qualquer coisa de apoio aos refugiados. Coitado! Tony Blair, riquíssimo, anda por aí a bacorar sobre a democracia no mundo, auferindo milhões pelas gastas palavras. Como ensinou Castoriadis, e, mais atrás, o filósofo Kant, "não há terceiras vias", nem no pensamento nem na política. Há, sim, desenvolvimentos justificados pela própria natureza do conflito, pela incerteza e pelo inacabamento problemático das soluções.
O descalabro dos partidos "socialistas", por essa Europa fora, foi analisado, há dois anos, em A Crise da Esquerda Europeia, um ensaio indispensável de Alfredo Barroso, para se compreender as origens do mal e as suas terríveis consequências.
O que se passou em França, com François Hollande, triste vassalo da senhora Merkel e invertebrado seguidor do neoliberalismo, constitui a imagem reenviada do que acontece em Portugal, com o socialismo arquejante de António José Seguro. Em França, a extrema-direita avança impetuosamente; em Portugal, as sondagens apontam, misericordiosamente, para um "empate técnico" entre o PS e o PSD.
Passos Coelho pode, muito bem, desenvolver, sem obstáculos de maior, a estratégia de destruição do "Estado social." O sentido subjectivo das condições actuais é indissociável do sentido da acção política. E ele apercebeu-se, muito cedo, das fragilidades ideológicas de Seguro. De facto que diferença fazem, entre si, a não ser na retórica, Passos e Seguro? A "divergência insanável" é uma imposição de poder ou uma consideração efectiva de escolhas racionais? Até hoje, não se sabe no que consiste essa "divergência insanável". E é só uma?
As coisas possuem um sentido menos oculto do que aparentam. Mesmo que Passos perca as eleições, qual o plano de Seguro? Os indícios e as indicações estão aí. O significado dos acontecimentos não tem auferido, de quem ainda sabe pensar, as explicações necessárias que reflictam a actual dimensão assustadora da nossa época e do nosso mundo. A Europa tem sido o instrumento experimental de uma estratégia global de domínio por um só país: a Alemanha, que não conseguiu, com duas guerras, alcançar a expansão de agora, através das capitulações de quem devia colocar-se na primeira linha da resistência. 
«DN» de 26 Mar 14

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25.3.14

IX CONGRESSO NACIONAL CIENTISTAS EM AÇÃO 2014

Por A. M. Galopim de Carvalho
Ver detalhes [aqui].

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24.3.14

Entrevista a Miguel Cadilhe para a «Visão» (20 Mar 14)

Por Joaquim Letria
1 - O texto integral, afixado a partir de Word, pode ser lido [aqui].
2 - Para receber o ficheiro em formato PDF (3,72 Mega), enviar um e-mail para medina.ribeiro@gmail.com escrevendo, em assunto, «Cadilhe»

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23.3.14

Luz - José Medeiros Ferreira

Fotografias de António Barreto- APPh
-
Quatro imagens de umas férias na montanha, em Flims, nos Grisons, Suíça, 1970. Estavam o Zé, a Maria Emília, a Line e eu. Só a Line praticava ski, pelo que nos limitávamos a passear, apanhar sol e beber uns copos à noite. E uma fotografia da revista Polémica, em Genebra.
(Clicar nas imagens para as ampliar)
José Medeiros Ferreira e Line Krieger. Deve ser a maior aproximação do José da prática do ski! Trata-se de uma ilusão óptica. Os skis pertenciam a outros passeantes… 
Um momento de absoluta paz
Line, AB e José
Line, Maria Emília e José
Os quatro de Genebra da revista Polémica (falta o quinto, o Manuel de Lucena). Eurico de Figueiredo, AB, José Medeiros e Carlos Almeida. 1971

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Das montanhas erguidas a partir dos fundos marinhos (...)

Por A. M. Galopim de Carvalho
4ª Parte
NOS ANOS de 50 do século passado o geólogo norte-americano Bruce Charles Heezen (1924-1977) ficou conhecido por ter chefiado a equipa da Universidade de Columbia (Nova Iorque) que cartografou o alinhamento de relevos submarinos constituinte da dorsal meso-atlântica (caracterizada por elevado fluxo térmico e actividade sísmica considerável) e por ter, com isso, apoiado a Teoria da Expansão da Terra proposta pelo geólogo australiano Samuel Warren Carey (1911-2002). (...)
Texto integral [aqui]

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20.3.14

Apontamentos de Lisboa

Passagem subterrânea de ligação do jardim do Campo Grande à Av. da Igreja - pouca gente aqui passa. Será porque mete medo?

«Dito & Feito»

Por José António Lima
Até parecia que Cavaco Silva tinha descoberto e anunciado um cataclismo político. A esquerda entrou em alerta vermelho e não se conteve a zurzir o Presidente.
“As palavras do PR confirmam que não há fim do programa de ajustamento”, escandalizou-se Marisa Matias em nome do Bloco de Esquerda. “Cavaco Silva veio proclamar que, durante os próximos 20 anos, o país e os portugueses vão ter de se sujeitar a andar com a pulseira electrónica”, indignou-se Jerónimo de Sousa falando pelo PCP.
Mas por onde têm andado Marisa Matias e Jerónimo de Sousa? Aterraram agora no país vindos de Marte ou da Coreia do Norte? Não sabem que está há muito estipulada a monitorização da troika em Portugal até 2035, quando (e se) estiver reembolsado 75% do empréstimo concedido ao país? Só descobriram agora que as exigências de rigor por parte dos nossos credores irão continuar muito para lá de 2014 e do '1640' de Paulo Portas?
Cavaco limitou-se a recordá-lo, como aviso à navegação, no prefácio do seu livro Roteiros VIII. Não foi novidade. Tal como não foi novidade insistir na preferência por uma saída com um programa cautelar. Já o havia deixado bem claro na sua mensagem de Ano Novo. E também não foi novidade exigir um consenso de médio prazo sobre a política económica a PS, PSD e CDS. Há muito que vem batendo nessa tecla e, na crise de Julho de 2013, o PR até chegou a prometer ao PS a antecipação de eleições a troco desse consenso.
O que pode ser novo é Cavaco insistir nestas questões sabendo de antemão que continuará a bater com a cabeça na parede. No dia seguinte à divulgação do prefácio, António José Seguro repetiu que o PS não entrará em qualquer consenso antes das legislativas de 2015. Dois dias depois, foram o Eurogrupo e a ministra das Finanças a confirmarem que a solução será uma saída limpa e não um programa cautelar. O Presidente continuará, pois, nestas matérias, a falar sozinho.
O que é mesmo novidade, no reino cavaquista, é ver dois assessores de Belém e Manuela Ferreira Leite a assinarem um manifesto da esquerda radical como se não fosse nada. Os assessores foram rapidamente exonerados. Manuela continua a ser uma dilecta e cada vez mais embaraçosa pupila de Cavaco.
«SOL» de 14 Mar 14

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Já copeiam, já devedem, o pior são os ivões (Crónica)

Por C. Barroco Esperança
Alguém me contou que Carvalhão Duarte, o corajoso jornalista que foi diretor do jornal República e empenhado antifascista, foi um dia recebido por Salazar na qualidade de presidente do organismo de classe dos professores primários, profissão de que viria a ser demitido por motivos políticos. 
Carvalhão Duarte queixou-se de que os vencimentos dos professores não correspondiam à categoria profissional, ao que o ditador respondeu que, não podendo elevar os salários ao nível da categoria dos reivindicantes, faria com que a categoria viesse a corresponder aos vencimentos que auferiam. (...)
Texto integral [aqui]

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19.3.14

Os pinta-paredes (97)

Arroios
Este stencil até tem graça...

Os dois do nosso drama

Por Baptista-Bastos
O chá das cinco de segunda-feira, entre Passos Coelho e António José Seguro, resultou no baço espectáculo "mediático" que tudo abrevia e a nada chega. O importante passou ao lado: o facto de a pontuação que separa o PS do PSD estar cada vez mais minguada, atentando-se, até, que, se a coligação continuar, registar-se-á "empate técnico", rigorosamente a derrota do socialismo chilre do triste Seguro. Não se exige, bem entendido, que o PS seja o que nunca foi, um partido "revolucionário"; mas assim, como está, também é de mais. Desesperantemente de mais.
Que separa ou diferencia o PS do PSD, neste momento crucial para a própria existência de Portugal como nação? Sem quase termos dado por isso, os dois partidos abreviaram, ou liquidaram por completo, os projectos iniciais, marcados por um conceito "reformista" da sociedade. O PSD, então PPD, demoliberal, desejava que se mexesse em alguma coisa, para que tudo ficasse mais ou menos na mesma. Não foi admitido na Internacional Socialista, et pour cause. O PS cantarolava o estribilho "partido socialista, partido marxista", até que Willy Brandt deu instruções para que a casa fosse posta em ordem. Apagaram-se símbolos (como o do punho esquerdo erguido, que cedeu o lugar à imagem da rosa) e desapareceram dos discursos oficiais expressões como "trabalhadores", "classe operária", substituídas por "classe média" e afins.
Seguro e Passos provêm de idêntica fornada. Este último ainda andou pelos comunistas pequeninos, mas pirou-se quando percebeu que não estava ali para mudar o mundo, sim para organizar a vidinha. O Seguro navegou nas águas mansas da jota, precavido, sempre sorrateiro e de soslaio, emboscado para quando a oportunidade surgisse. É um embuste de si próprio, porque produto de uma época que se ludibria a si mesma. Ambos nascidos da "era do vazio" ou da "insignificância." Passos muitíssimo mais perigoso porque muito astuto e obcecado. Seguro mais tolo porque mais claramente vaidoso e irresoluto.
A política, quando o é, e estes dois senhoritos nada têm que ver com ela - a política é constituída por todas as formas de filiação social. Não se reduz, como os dois senhoritos, e outros mais o fazem, à prática de mero exercício de poder, cujo valor intrínseco está associado a zonas de interesses. A política, na expressão mais nobre, corresponde a conveniências comuns, que apenas divergem nos modos de acção. Finalmente, a política é um acto de cultura porque acto de relacionamento. Se submetêssemos tanto Passos como Seguro à mais modesta sabatina de conhecimento geral, talvez não ficássemos muito surpreendidos com o grau de ignorância revelado. Não é grave por aí além; só o é porque ambos governam ou ambicionam governar um povo. Neste caso, infelizmente, nós. O nosso drama reside nos dois.
«DN» de 19 Mar 14

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Das montanhas erguidas a partir dos fundos marinhos (...)

Por A. M. Galopim de Carvalho
3ª parte
UM CONCEITO fundamental à moderna visão tectónica global é o de astenosfera, introduzido por Joseph Barrell (1869-1919). Este geólogo americano dos United States Geological Survey, no Estado de Montana, definiu esta entidade como uma camada geosférica, profunda e menos rígida, do manto superior terrestre, mantida num estado de plasticidade que, sabe-se hoje, não só promove e alimenta o vulcanismo, como permite a mobilidade das placas litosféricas, os reajustamentos isostáticos e toda a série de processos geodinâmicos daí decorrentes. Barrell desenvolveu ainda o conceito de litosfera, como sendo a geosfera rochosa mais externa, formada pela crosta e pela parte superior, rígida, do manto. Como pioneiro na geocronologia isotópica, num tempo em que as técnicas radiométricas em uso eram olhadas com muita desconfiança, Barrel contribuiu com mais este seu domínio de investigação para o avanço da geologia que hoje se pratica. (...)
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16.3.14

Luz - Barcelona

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem para a ampliar 
Perto do Nou Camp. Ao fundo, a grande praça de touros de Barcelona. Que é um belo exemplo de obra doravante inútil! Com efeito, as touradas foram proibidas em Barcelona e em toda a Catalunha! Não só por efeito do “politicamente correcto” e da nova visão dos animais deste mundo, mas também, tenho a certeza, para maçar a diferença entre a Catalunha e a Espanha ou Castela ou Andaluzia… (2012)

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15.3.14

'Deu borem dis dium'

Por Antunes Ferreira 
Deu borem dis dium. Ou seja, bom dia, em concani.Na minha casa ouve-se o mar, as ondas marulhando a uns duzentos metros, ou seja quase aqui à porta. No quintal mesmo ao lado cresce um coqueiro – olha que novidade – uma árvore que dá pão, uma pãozeira, portanto, uma mangueira e muitas buganvílias. Nuns trezentos metros da minha rua, caso curioso, existem três cabeleireiros, um dos quais unissexo, dois restaurantes, um bar, três ourives, duas agências bancárias, um consultório médico e uma farmácia. Só falta a loja do caju. Mas, não se pode ter tudo. Para todos os gostos, enfim. Frutas pão e mangas ainda não estão prontas como aqui se diz, em vez de maduras que nós usamos em Portugal. (...)
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13.3.14

Os pinta-paredes (96)

Lisboa, Campo Grande
"Construção Raul Lino", devidamente vandalizada, entaipada e grafitada.

«Sol & Sombra»

A semana vista por José António Lima
SOL
Cristiano Ronaldo
Já tinha ultrapassado Eusébio, agora suplantou Pauleta e tornou-se o melhor goleador de sempre da Selecção nacional. Quando ainda tem pela frente mais quatro ou cinco anos de carreira, já bateu praticamente todos os recordes - e, com 110 internacionalizações, o próximo será ultrapassar o único futebolista à sua frente: Figo, com 127. Mais do que os seus sucessivos recordes, impressiona o alto nível a que sempre joga: é raro o encontro em que não deixe a sua marca e em que o seu talento não faça a diferença. Seja no Real Madrid ou na Selecção portuguesa.

SOMBRA
Alberto João Jardim
Está complicado o final do seu ciclo político e a sua atribulada sucessão numa Madeira superendividada e num PSD-M que Miguel Albuquerque partiu ao meio. Agora, é Belém que não lhe permite a artimanha de se fazer substituir a poucos meses das eleições regionais de 2015. E é Passos Coelho quem lhe propõe ser n.º 2 na lista do PE - a ele que só admite ser n.º 1 seja do que for e que não se vê em menos do que comissário europeu. Mas que, limitado e debilitado no seu poder regional, já não consegue evitar estas desconsiderações políticas. Mudam-se os tempos...
Catarina Martins
A co-líder do Bloco faz, recorrentemente, intervenções na fronteira do intolerável, a roçar a ofensa e que tentam atingir o carácter e não as ideias dos seus adversários políticos - o que só degrada o debate político e parlamentar. Como aconteceu ao atirar repetidas vezes à cara de Passos Coelho que 'a sua palavra não vale nada'. Quando este - com toda a legitimidade - recusou retorquir, a bancada do Bloco de Esquerda reagiu como virgens ofendidas. Duplicidade e descaramento não lhes faltam...
Pinto da Costa
Há pouco mais de um mês, dizia, com a certeza da sua infalibilidade, que renovaria de imediato o contrato do treinador Paulo Fonseca se ele terminasse nesse dia. Agora, acaba de despedi-lo - assumindo que foi um erro de gestão contratá-lo para suceder a Villas-Boas e Vítor Pereira. Um ano para esquecer no Dragão.
«SOL» - 7 Mar 14

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Apontamentos de Lisboa

Ao Arco do Cego
A placa veio por ali abaixo - está agora assim, e assim vai ficar indefinidamente, como é habitual nestas coisas. 
Felizmente, o motociclo impede que se esbarre nela...

Francisco – o Papa que a propaganda esperava

Por C. Barroco Esperança
O 1.º aniversário do pontificado do papa Francisco é o pretexto para acelerar a máquina de propaganda que, há um ano, ganhou novo fôlego, quando Bento XVI preferiu manter a cabeça e abdicar da tiara, do anel e do alvará pontifícios. 
Hoje, um ano depois de lhe ter sido conferido o diploma para criação de cardeais, beatos e santos, a comunicação social portuguesa atesta que os autóctones o querem em Fátima no 1.º centenário das aparições que, em 1917, ajudaram a combater a República e, mais tarde, o comunismo, como se não houvesse portugueses indiferentes à agenda católica e às celebrações litúrgicas. (...)
Texto integral [aqui]

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12.3.14

Entrevista ao «DN» de 9 de Março de 2014

O texto integral pode ser lido [aqui]

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A "circunstância" de António Barreto

Por Baptista-Bastos
A entrevista de António Barreto ao DN, 9. Março, pp, é um documento caracterizado pela prudência e pelo verbo pausado. Não é de estranhar; a partir de certa altura da vida, Barreto tornou-se parcimonioso, deixando à inteligência dos outros o que a sua própria inteligência desejava divulgar apenas pela metade. É um exercício curioso ler ou ouvir as injunções do discurso de Barreto, as habilidades malabares, as zonas sombrias ou reticentes, para ele não dizer o que, talvez, desejasse. Ou o que de ele se esperava ser dito. Toda a entrevista é uma espécie de compromisso do não-compromisso, e diz quem o conhece bem que ele sempre foi assim. Nada de mal. Afinal, António Barreto é detentor de um percurso intelectual e político comum a muitos homens da geração a que pertence. Comunista pró-soviético, maoísta, depois conservador, Reformador (com Francisco Sousa Tavares e Medeiros Ferreira), a seguir militante do PS, e por aí fora. Não é problema. Só o será quando este tipo de flutuações influencia negativamente os outros. Cada um que julgue por si. Barreto escreveu ensaios meritórios e desenvolveu, finalmente, um importante trabalho de sociologia, na Fundação Francisco Manuel dos Santos, permitindo o acesso e informações únicas e rigorosas numa base de dados, Pordata, de utilidade indiscutível. Pelo meio, desferiu uns golpes mortais na Reforma Agrária, arregimentando uma série de inimigos e o desprezo dos que haviam confiado na sua integridade.
Na entrevista a João Marcelino e Paulo Baldaia, diz, e a afirmação serve de título: "Estamos melhor mas ainda não estamos bem." E, logo-logo: "Estamos ligeiramente melhor do que há três anos, no estrito sentido de que parece termos evitado a bancarrota e o pior, de que havíamos de pagar cem anos (...) As pessoas não estão a viver melhor, ainda estão a viver pior do que há quatro ou cinco anos, quando só havia a dívida."
Estas declarações são um modelo da ambiguidade do pensamento de um homem inquestionavelmente inteligente, cuja voz seria importante aclarar-se, numa altura em que a confusão é reinante e em que os nossos intelectuais parece terem deposto as armas da análise, da reflexão e da participação na vida cívica e política. O vazio da nossa vida cultural e política atinge sinais inquietantes. Claro que ninguém está amarrado ao seu passado, mas o passado das pessoas é uma lei de memória que não figura acima das contingências. Cito o muito citado Ortega: "O homem é ele e a sua circunstância."
A "circunstância" de António Barreto não devia ser a adaptação acrítica a esta insignificância dos tempos que correm. Dizer por dizer não corresponde à dimensão de quem, como ele, em tempos, arguiu contra a perda de sentido do pensamento e da autoridade na acção. É pena.
«DN» de 12 Mar 14 - NOTA (CMR): a entrevista a que o autor se refere está disponível no post seguinte (ver link indicado).

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11.3.14

Arte urbana

Lisboa, Av. EUA
Segundo informa a MEO, esta obra-de-arte é da autoria da ZON.

Molière já comentou o nosso Paulo Rangel

Por Ferreira Fernandes 
Na comédia O Burguês Fidalgo, Molière criou uma personagem, Monsieur Jourdain, que sendo burguês não podia ser fidalgo. Já entradote, e por amor, que é a mais louvável razão para um homem perder a cabeça, Monsieur Jourdain, pretendendo parecer coisas para as quais não nasceu, faz vários cursos intensivos em fidalguia. Aprende dança e esgrima, e, com um professor de filosofia, dá-se conta até disto: "Vejam lá, há mais de quarenta anos que eu faço prosa e não o sabia!" Mais de três séculos depois, essa continua a ser uma das mais famosas frases do teatro. Talvez não chegue tão longe, mas a frase que Paulo Rangel disse ontem ao Expresso também é boa: "Os 101 dálmatas saiu-me por acaso." Quer dizer, um pouco como Monsieur Jourdain, Rangel faz slogans publicitários e não o sabia. Na apresentação do programa da sua candidatura, viu que eram 101 propostas e lembrou-se do filme da Disney. "Não foi pensado nem é marketing", garantiu. É [o]que eu digo, foi como a prosa do outro, saiu-lhe. Com um efeito perverso, porém. Monsieur Jourdain era um honesto comerciante e a sua deriva para a fidalguia foi um fracasso. Já a aventura publicitária de Paulo Rangel foi um sucesso tremendo: toda a gente falou dos dálmatas. Em contrapartida, as suas 101 propostas políticas, vindas de um dos nossos mais talentosos políticos, como é Rangel, foram uma desilusão. O raio do Molière tinha mesmo razão: quando um tipo é bom não deve pôr-se a variar. 
«DN» de 11 Mar 14

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10.3.14

Apontamentos de Lisboa

?

Prefaciar depois do leite derramado

Por Ferreira Fernandes 
O fim do túnel da troika já se vê e o que se vê não é luz que encante. Mais um aviso: o de Cavaco Silva. No Expresso, o Presidente publicou o prefácio do último Roteiros, balanço e perspetivas anuais do seu mandato. Resumo: o começo do fim vai durar muito e vai acabar mal. Sobre durar muito, ele é taxativo: só nos livramos desta canga lá para 2035. Sobre acabar mal, ele não o diz assim (um Presidente não pode ser tão profeta da desgraça), mas aponta solução agora irrealista: só um consenso de PSD, PS e CDS levantar-nos-ia. Eu estou de acordo com a mezinha (necessária, embora não suficiente), mas duvido da eficácia por causa da... ordem das páginas. A solução é-nos apresentada num prefácio, não é? Pois, não é um prefácio, é um posfácio - e essa é uma das causas da nossa desgraça. Um prefácio escreve-se em páginas antes do assunto do livro, para o iluminar. O livro da nossa desgraça - a nossa crise - deveria ter tido, sim, um prefácio sensato. Dizendo, em 2009, 2010 e 2011, isto: 
A) esta é uma crise global; e: 
B) e é também uma crise especificamente portuguesa, com erros e vícios que sucessivos governos portugueses aprofundaram; e: 
C) a situação é grave e aqueles que a causaram têm o dever nacional de se juntar para nos tirarem dela... 
Infelizmente, ninguém importante disse, então, esse prefácio. Ouviu-se, isso sim, demasiado, a negação de A). E, em vez de B), a demonização de um só governo. Isto é, impediu-se C). 
«DN» de 10 Mar 14

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9.3.14

Luz - Barcelona

Fotografias de António Barreto- APPh
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Tapas. (2012)

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Cegos à mais elementar justiça

Por Ferreira Fernandes 
Ontem, 8 de março, foi dia de jogar pedra na Geni. Na verdade, era Dia da Mulher, um dia entre tantos dedicados a comemorações. Na próxima sexta, por exemplo, é Dia do Pi, o número da relação entre o perímetro de uma circunferência e o seu diâmetro, o famoso 3,14... Ontem, calhou à mulher. Os jornais, que são tendencialmente conservadores, trataram a coisa de forma engravatada (nem viram o disparate). E os comentários de rua e de caixas de online foram do desprezo (por que têm elas um dia especial?) ao acinte. Na Ópera do Malandro, Chico Buarque, que ama as mulheres, canta um longo poema sobre Geni. Esta é a prostituta gentil que serve a todos e recebe o grito comum: "Joga pedra na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir." Um dia, Geni salva a cidade: os que a insultavam foram implorar e ela salvou-a. Se as nações, os países e as cidades dessem mais atenção às libertações e redenções do quotidiano, os livros de História teriam seguramente mais heroínas do que heróis. Mas, no dia seguinte à salvação, já o grito voltava a ser: "Joga pedra na Geni..." Não se entende, vindo de quem percebe o valor dos símbolos (uma bandeira para a Pátria, um grito pelo clube...), a oposição a um dia dedicado à mulher. É não conhecer a história próxima (há 40 anos, só passavam a fronteira com autorização do marido) e as manchetes atuais ("Homem mata Mulher"). É não reparar, no emprego e em casa, quem faz sempre mais por menos. 
«DN» de 9 Mar 14

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Das montanhas erguidas a partir dos fundos marinhos (...)


Por A. M. Galopim de Carvalho
2ª parte
PELA SUA grandiosidade e, em muitos casos, pela sua difícil acessibilidade, as montanhas, hoje perfeitamente explicadas pela tectónica de placas, suscitavam igualmente a curiosidade dos cultores do saber científico embrião da geologia. Para René Descartes (1596-1650), o globo terrestre, arrefecido exteriormente, começara por ser liso em superfície. Segundo este filósofo e matemático francês, a formação das montanhas resultara do arrefecimento do planeta e consequente redução do seu volume, uma ideia conhecida por Teoria da Contracção. (...)
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8.3.14

Ser e não estar, eis a questão

Por Ferreira Fernandes
O que os políticos dizem não "são" frases, "estão" frases. Quem fala português, com a sorte de poder escolher entre os verbos ser e estar - uma das palavras, ser, vinda do latim sedere, "estar sentado", com todo o tempo do mundo, e a outra, estar, vinda do latim stare, "estar de pé", em situação passageira -, deveria reconhecer a armadilha que é a sua opinião deixar-se influenciar demasiadamente pelo estar e não pelo ser. 
Anteontem, Maria de Belém Roseira, ex-ministra socialista, agora dirigente da oposição e com intenção de voltar ao poder, falou segundo a sua posição atual nessa peregrinação. Quando falou, deixou-se condicionar por onde ela "está", pela situação de pé, transitória, em que agora se encontra. E onde está ela? Na oposição. Daí que, na TVI, a despropósito da manifestação policial, dissesse isto: "As manifestações mais impressionantes a que eu tenho assistido no País são aquelas, silenciosas e anónimas, das mães que matam filhos e se matam a seguir." Esta frase não "está" demagógica. "É" demagógica. E, infelizmente, nem posso dizer que "está" indecente porque corresponde a esta oposição. De outras oposições, em fases diferentes do carrossel do poder - quando o PSD e o CDS lá estavam -, também ouvi frases indecentes similares. A frase de Maria de Belém "é" indecente porque corresponde à maneira perene e constante com que a maioria dos políticos não "é" estadista. "Estão", a dado momento, para ali virados. 
«DN» de 8 Mar 14

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A D. Almerinda

Por A. M. Galopim de Carvalho
FALECEU no passado dia 2, aos 101 anos de idade, a Dona Almerinda, tranquilamente, como um pavio que se apaga.
Quando, há muitos anos, lia as Selecções do Reader’s Digest, um dos artigos que mais me agradava, pelo que tinha de conteúdo humano, era o “O meu tipo inesquecível”. A Dona Almerinda cabia perfeitamente nesta secção da conhecidíssima revista.
Foi nos anos oitenta do século que passou, eram os meus dois filhos rapazes de onze e treze anos. Fiz uma ronda por diversas praias algarvias com o propósito de arranjar um apartamento para as férias de Verão. (...)
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7.3.14

Copo meio cheio, escadaria meio vazia

Por Ferreira Fernandes 
Se você ainda fala de copo meio cheio ou de copo meio vazio, não está a par das notícias. Agora, a metáfora é outra: a escadaria está meio cheia ou meio vazia? O otimismo e o pessimismo agora medem-se pela escadaria parlamentar. Se tipos gritam "invasão! invasão!" e chegam a metade dos degraus de São Bento, perante essa mesma realidade, você pode ver a coisa meio cheia ou meio vazia, é conforme. Você pode dizer: "Viva, a boa polícia conseguiu suster os maus polícias!" Ou dizer: "Mais degraus e só nos resta a GNR. E se esta cai, é a anarquia!" Se uma quer dizer que você é otimista e a outra, pessimista, ou vice-versa, isso já não sei. A teoria da escadaria vazia ou cheia (como a do copo) depende do nosso prisma de partida. Para um antialcoólico, um copo meio vazio já está cheio que baste... Otimista ou pessimista, havia ontem quem suspirasse: "Esmaga-se a GNR à entrada de São Bento e o traidor Passos Coelho foge para se ir refugiar junto à Merkel!" Ao que outros (otimistas? pessimistas?) diriam: "Ai que vamos perder a nossa Crimeia para os alemães!..." Aqui chegados, podemos concluir todos, otimistas e pessimistas, que é tolo vermos o mundo pelo semiconteúdo dos copos (ou escadarias). A vida é mais complexa e mais simples. Complexa, porque a cabeça quente de poucos pode tramar a razão da maioria. Simples, porque frente ao Parlamento, em democracia, um polícia não fica na ambiguidade de subir ou descer. Defende-o, ponto. 
 «DN» de 7 Mar 14

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6.3.14

Alguém viu e quer comentar?

O homem que punha o Presidente no bolso

Por Ferreira Fernandes
O primeiro-ministro Balsemão e o Presidente Eanes desconfiavam tanto um do outro que nas reuniões que tinham a sós traziam, cada um, o seu gravador. Punham os aparelhos em cima da mesa, a falta de confiança era sincera. Uma birra, comparada com o exemplo indecoroso que nos chega de França. Para as presidenciais de 2007, Nicolas Sarkozy recrutou Patrick Buisson, um intelectual, antigo jornalista de extrema-direita. Monárquico e católico, Buisson passou a ser a eminência parda do Eliseu, função que exercia com soberba - fez questão em não ter cargos oficiais, nem gabinete no palácio. Influenciar o "rei" chegava-lhe. Quando foi condecorado com a Legião de Honra, Sarkozy disse: "A ele devo ter sido eleito." Durante o mandato suspeitava-se que ele era o conselheiro decisivo nas políticas e nas remodelações. Suspeitava-se. Hoje, sabe-se. É que a forma altaneira de Patrick Buisson exercer a sua influência era acompanhada por um vício. No bolso do casaco, escondido, levava um gravador. Horas e horas de conversa, a que nem escapava Carla Bruni quando ia buscar o marido às reuniões. Ontem essas gravações deslizaram para os jornais (parece que um conflito familiar fez Buisson perder o controlo do seu material). O que foi publicado chega para provar o abuso, traição até, a que foi sujeito o Presidente. E a França pergunta-se: até que ponto se gravou? A resposta não é moral, é mais simples: gravado, hoje, fica tudo.
«DN» de 6 Mar 14

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A Europa, o franquismo e a memória

Por C. Barroco Esperança 
 «Enquanto houver valas por exumar, haverá feridas abertas». Esta é a frase que Julián Rebollo, neto e sobrinho de vítimas do franquismo, repete com a mesma convicção e veemência no Parlamento Europeu e em Madrid, todas as quintas-feiras, na Porta do Sol. (El País, de hoje). 
O Governo espanhol, onde a tralha franquista se alberga e dedica aos negócios, não está interessado em investigar o violento genocídio que o franquismo, de mãos dadas com a Igreja católica, levou a efeito. 
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5.3.14

Os pinta-paredes (95)

A ideia não é má... Como é que isso se faz?

Isto vai acabar mal

Por Ferreira Fernandes
Os jornais desportivos eram trissemanais - quintas-feiras europeias, sábado adiantando o campeonato, segunda contando-o - e tinham encontrado o seu equilíbrio. A meados dos anos 1990, passaram a diário e empanturraram-nos. Por muito se escrever, nada passou a dizer-se. Então no verão sem campeonato, o esplendor do deserto: capas ("Injovic certo em Alvalade!") dedicadas à contratação de desconhecidos que não serão contratados e continuarão desconhecidos. Quem leu, nos bons velhos tempos, as pérolas de Carlos Pinhão, n' A Bola, contando com estilo e tempo, uma criada num hotel de Marselha, encontrada no azar de uma digressão do Benfica, sabe o que perdeu. Agora que os jornais online estão a passar à possibilidade técnica de narrar ao segundo, a caça a tudo estendeu-se a todo o jornalismo e este, aturdido, passou a barata tonta. Ontem, a edição em espanhol do Huffington Post editou um vídeo de 22 segundos com o Rei Juan Carlos e o ministro de Economia espanhol Luis de Guindos à espera da patroa do FMI. De pé e braços nas costas, suas senhorias falam. O Rei: "Esta noite são os Óscares e está a chover a potes." O ministro: "Faz-lhes falta que chova." Silêncio. O ministro: "Tenho uma cunhada que mora em Los Angeles." Silêncio. O ministro: "É mulher de um irmão." O Rei pondera gravemente o que ouviu. Acabaram os 22 segundos. 
Não, não temo só pelo jornalismo. As instituições não aguentam que o povo saiba as alturas por onde pairam. 
«DN» de 5 Mar 14

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A nossa vil tristeza

Por Baptista-Bastos
Que Portugal se espera/ em Portugal?" perguntava, há anos, Jorge de Sena, o grande poeta do desespero lúcido. Reverto as lembranças para todos aqueles, como Sena, que interrogavam a pátria, então tão confusa, dissipada e aparentemente tão alheada como agora. Onde estão, agora, os que deixaram de estar, desaparecidos na voragem de um país que a tempestade moral tem dissolvido? Carlos de Oliveira, que também perguntava: "Acusam-me de mágoa e desalento (...) / homens dispersos", e de quem falei, anteontem, com Alice Vieira. Disse a minha amiga: "E se a eles nos referimos, tomam-nos por anacrónicos." Perderam-se, irremediavelmente, os testamentos legados por aqueles que contribuíram para que a fisionomia cultural do País não soçobrasse, quando, como agora, um governo calculado impunha o poder absurdo da infalibilidade e dos interesses a um povo impossibilitado de reagir? Antigamente, pela coacção da força e o império do medo; hoje, pelo mesmo medo mascarado de democracia e por uma "democracia" que há muito perdeu a face e a dignidade, naturais na sua síntese.
Aos poucos, mas com perseverante desígnio, têm-nos abolido o direito de perguntar. E a inflexibilidade das decisões ignora a vergonha, a decência e a própria noção dos valores republicanos. Aliás, esta súcia trepada ao poder é a mesma que apagou de comemorações a efeméride do 5 de Outubro; que ressuscita um morto moral, Miguel Relvas; e que pune um homem sério pelo "crime" de a ter enfrentado, António Capucho.
A estratégia do embuste não poupa ninguém. Agora, até a Dr.ª Maria Luís Albuquerque repete a fórmula segundo a qual estamos melhor do que há dois anos. Di-lo sem corar nem hesitar. Ela, que parecia cordata no verbo, e recatada na preservação da identidade pessoal, entrou na dança do marketing do Governo. A maioria da população está empobrecida sem remissão; a esmola tornou-se característica oficial; o desemprego alastra como endemia; os ricos estão cada vez mais ricos, numa afronta que explica os dez por cento do produto interno bruto que auferiram em 2013; essas fortunas correspondem aos 16,7 mil milhões de euros distribuídos por vinte e cinco famílias. A insistência nos números da nossa miséria devia ser uma obrigação moral da imprensa, e não o é. Está mais do que provado que este Executivo arrasta a pátria para as falésias, não só por incompetência criminosa como por orientação ideológica. O Dr. Cavaco vai ao estrangeiro e diz coisas absurdas e abstrusas, dando cobertura a uma das maiores tragédias sociais que Portugal tem atravessado. A sua tenaz mediocridade é objecto de devastadoras anedotas, e o respeito reverencial que o cerca tem impedido a crítica que se impõe aos seus actos.
"Isto dá vontade de morrer", para lembrar o grito d"alma de Herculano, em hora de desânimo como a de agora.
«DN» de 5 Mar14

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4.3.14

«Dito & Feito»

Por J. A. Lima
Não é prática habitual os ex-líderes aparecerem nos congressos partidários e, menos ainda, irem lá fazer intervenções políticas. Nem sequer nos congressos do PSD, que por vezes nos reservam inesperadas surpresas, tem sido esse o hábito. Em regra, os ex-líderes coíbem-se de se intrometer num palco que deve pertencer ao líder em exercício. Não foi isso, no entanto, o que aconteceu nesta reunião, que se esperava previsível e pacata, do PSD no Coliseu de Lisboa.
Quando passos Coelho tratava tranquilamente da sua renovação na continuidade, eis que começam a surgir ex-líder atrás de ex-líder do PSD, revezando-se na ocupação das cadeiras ao lado da sua. «Havia uma série de pessoas que não eram para vir, o aniversariante julgava que não vinham e, de repente, começou a aparecer tudo», descrevia, divertido e entre muitos risos da plateia, Santana Lopes, precisamente um dos ex-líderes que não resistiram ao apelo das «razões afectivas» para ir ao Coliseu.
E, além de aparecerem sem aviso prévio, quase todos fizeram questão de subir ao palco e falar sem limites de tempo. Só Marques Mendes não discursou. Luís Filipe Menezes, numa penosa explanação, dedicou-se à minuciosa autópsia da sua própria derrota autárquica no Porto. Santana Lopes interveio para comprovar que continua «a andar por aí» e que era bom não o esquecerem. Mas quem arrebatou os congressistas e pôs a sala a aplaudir de pé foi Marcelo Rebelo de Sousa.
Desfiando histórias e memórias dos seus 40 anos de militância no partido, irónico e de improviso, despertando risos e emoções, desarmando as vozes e sectores que convivem mal com a liberdade de criticar, lançando algumas farpas ao CDS e reparos paternais a Passos, Marcelo tornou-se a estrela deste Congresso. Depois de se ter deixado condicionar em excesso pelo parágrafo do «catavento» da moção de Passos Coelho, voltou a ganhar espaço de manobra política para as presidenciais. Se quiser, tem o partido a seus pés. Volta a depender apenas de si próprio e da sua vontade.
Por seu lado, Passos Coelho que terá pensado surpreender e marcar o Congresso com a improvável ressurreição de Miguel Relvas viu-se completamente ultrapassado. Pelo 'furacão Marcelo' e restantes ex-líderes.
«SOL» de 28 Fev 14

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Máscara do costume: a chuva miudinha

Por Ferreira Fernandes 
Hoje é dia terrível para a sociedade civil. No resto do ano, ainda podemos dizer que o Estado português é que não funciona, que é incapaz de se reformar. Mas chega-se ao Entrudo e, nós, povo, em grupo difuso ou um a um, enfim, os Tóinos e os Alencastres, os canalizadores e os consultores de comunicação, demonstramos ser um caso perdido. A coisa passa-se de forma tão nua que até o Ministério Público era capaz de organizar o processo em três dias (de sábado de Carnaval à Terça-Feira Gorda). A matéria de facto é a seguinte: esta gente dedica-se (gasta dinheiro e trabalho) a preparar cortejos que vão desembocar em um de dois falhanços: o melhor, é serem anulados, o pior, é saírem à rua. De Ovar à Nazaré, de Loulé a Torres Vedras, dois dos maiores motores da vontade humana - o negócio e o prazer - são postos ao serviço de um fracasso, previsível pela chuva miudinha. Isso a montante, nos organizadores. A jusante, nos foliões, um homem mete-se no carro e pela autoestrada do Sul, sai no desvio para Sesimbra e vai fisgado em mamilos e glúteos. Tão fisgado que nem repara que o limpa-vidros vai tão excitado quanto ele. E, em chegando, a tal das duas uma: ou, felizmente, não há cortejo, ou os mamilos estão tapados pelo nosso guarda-chuva. 
O FMI não devia ir embora, tinha aqui, na reforma da sociedade carnavalesca portuguesa, boa razão para usar a sua mezinha preferida: o corte radical. Extirpação radical seria ainda melhor. 
«DN» de 4 Mar 14

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Pergunta de algibeira

Ambas as imagens são do álbum «Tintin no Congo». Alguém sabe qual a relação entre elas? Actualização: a resposta já está dada em comentários.

3.3.14

A falir outros não há como a Alemanha

Por Ferreira Fernandes 
 As guerras têm a vantagem de ensinar-nos geografia. Mas seria preferível continuarmos sem saber onde fica a Crimeia e que a sua cidade de Sebastopol, apesar de ucraniana, é o único porto russo que não está gelado em nenhuma época do ano. Nesse porto há uma base da Armada russa. Fiquemos com esse primeiro facto: a Rússia e a Ucrânia têm muito passado comum. O suficiente para uma cidade ucraniana ter um porto que é o único que abre o Mediterrâneo à Rússia. 
Decorre do passado comum outro facto: aquela Ucrânia que nos têm apresentado como unanimemente ocidental não é homogénea. Nas fronteiras ocidentais ela é culturalmente ucraniana, nas orientais e na Crimeia, russa. Qual foi a parte de "não há bons, de um lado, e maus, do outro" que não perceberam? Ah, perceberam tudo, então expliquem à Alemanha que era melhor não ter acirrado uma das partes da Ucrânia contra a outra... 
Mas chega de más notícias, vou dar uma boa: não vai haver guerra. Sabem porquê? Porque nas guerras é necessário dois lados. E neste caso só um é certo: a Rússia não vai perder uma parte essencial de si. O outro lado, a União Europeia que acirrou, vai espernear com palavras mas não vai espingardar, por que não tem com quê. Então, a União Europeia vai ficar com um Estado falido nos braços. Como antigamente, a Alemanha perde mais uma guerra. Como recentemente, mostra que é boa a empobrecer os outros. Mas, valha a verdade, continua a saber vender Audis. 
«DN» de 3 Mar 14

2.3.14

Contributos para o debate sobre a calçada portuguesa (15)

Estes são apenas dois dos muitos buracos existentes no novo empedrado da Av. Duque d' Ávila, em Lisboa. 
Pelo que se vê, as pedras pretas não foram devidamente assentes, não sendo de admirar que saltem.

A um morto nada se recusa

Por Ferreira Fernandes 
Há que dizê-lo, as alternativas oferecidas em Portugal a quem se quer despedir do seu ente querido são escassas. Despedimo-nos de forma cinzenta e enterra-se sem outras palavras que as do padre (que baixa os olhos para reler o nome do defunto, não vá enganar-se), numa cerimónia anódina. Raramente um português se ergue e diz antes que seja irremediavelmente tarde: "Era eu garoto e o meu pai cantava-me ladainhas." E o pai baixa à terra sem ouvir o que gostaria. Outros, muitos africanos e os anglo-saxões, têm comes e bebes, música e muitas palavras. Mas nós é assim, os nossos costumes fúnebres são apagados ou, mais apropriadamente, mortos. A nossa tradição, exportamo-la até para o Brasil: há dias, li o romance do cronista brasileiro Carlos Heitor Cony Quase Memória, que mais não é que o discurso de despedida ao seu pai, que ele não fez na data devida. Ganhou-se um belo livro, perdeu-se uma bela despedida. Porque a questão é essa: se quase todos aceitamos os funerais sem alma, já há quem gostaria de outra coisa... Discursos? Bandas de jazz funeral à Nova Orleães? O que for. E eis que o mercado se pôs a funcionar! A agência funerária Funalcoitão ("Mais do que enterros, fazemos homenagens") começou por fazer um anúncio oferecendo outros partires. Com um burro, um acrobata e raios no céu como no poema de Mário Sá-Carneiro "Fim". A um morto nada se recusa. O anúncio do cangalheiro foi a coisa mais viva da semana.
«DN» de 2 Mar 14

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Luz - Barcelona

Fotografias de António Barreto- APPh

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Saída de uma igreja, numa pequena transversal da Rambla. (2012)

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Das montanhas erguidas a partir dos fundos marinhos (...)

Por A. M. Galopim de Carvalho
1ª Parte
QUANDO se fala da moderníssima concepção da dinâmica interna do nosso planeta, surgida há cerca de meio século, vulgarmente conhecida por Tectónica de Placas, é frequente recordar o trabalho pioneiro de Alfred Wegener que, em 1915, no livro A Origem dos Continentes e Oceanos, desenvolveu a sua teoria sobre a deriva dos continentes. Pouco se fala, porém, da longa caminhada que antecedeu a bela síntese deste geógrafo e meteorologista alemão, caminhada que, em traços muito gerais, se recordam nas linhas que se seguem. (...)
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1.3.14

«Dito & Feito»

Por J. A. Lima
António José Seguro já lidera o PS há mais de dois anos e meio, mas continua a transmitir a imagem de um líder politicamente frágil e a prazo. Seguro vence mas não convence, como nas eleições autárquicas ou nos congressos socialistas. Vai à frente mas não há meio de se destacar com clareza, como nas sondagens. Fala muito e sobre quase tudo, mas não consegue apresentar uma alternativa de Governo fundamentada e credível. Como se não bastasse, é um líder acossado dentro do seu próprio partido.
Seguro teimou e insistiu, ao longo de mais de um ano, na estratégia errada de pedir eleições antecipadas, ficando sem discurso político quando essa hipótese saiu de cena após a crise de Governo no Verão de 2013. Desde então, Seguro especializou-se e enquistou-se na 'política do contra', radicalizando gratuitamente à esquerda o discurso do PS.
O novo mapa judiciário fecha umas dezenas de tribunais com movimento mínimo? O PS promete reabri-los quando um dia voltar ao Governo... e até propõe a criação de um insólito 'tribunal gold' para investidores ricos. Cortaram-se quatro feriados? O PS compromete-se a repô-los. A maioria quer acordo para uma reforma do IRS? O PS está contra. Os juros da dívida portuguesa continuam a baixar? O PS critica o facto de ainda serem tão altos. O Governo admite um programa cautelar? O PS exige uma 'saída à irlandesa'.
Seguro critica tudo, recusa tudo, está contra tudo. Até contra um simples entendimento de regime a médio prazo em questões tão elementares como a dívida ou a despesa do Estado - como se o PS não pensasse chegar ao Governo nos próximos anos.
Mas este radicalismo na oratória não garante a Seguro sossego ou tréguas no interior do PS. Carlos César e António Costa não lhe poupam críticas públicas à moleza da liderança e elevam-lhe a fasquia nas próximas europeias para uma “vitória clara e significativa”, ao nível dos 44% de Ferro Rodrigues em 2004. Santos Silva já assume, sem rodeios, que “estas europeias serão determinantes para a liderança do PS”.
E Seguro conseguiu até colocar o seu melhor candidato às europeias, Francisco Assis, a ameaçar “saltar fora” do barco face à indefinição do líder. Era difícil fazer pior.
«SOL» de 21 Fev 14

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Gralhas sem Gralhas

Por Antunes Ferreira 
Ontem, caí ou melhor recaí na asneira, feiras: fui à Feira do Algodão, era o último dia do certame que decorreu aqui mesmo ao lado, ou seja a uns quatrocentos metros da rotunda de Gaspar Dias, que hoje é Daias. O i é ai, como se recordam os que têm umas luzes ainda que incipientes do English do terceiro ano do liceu. Incauto mas paciente ouvi relatar as maravilhas apresentadas, a magnífica oportunidade de comprar mais barato, o último dia é a ocasião indicada, os feirantes estão a tentar despachar a mercadoria antes de emalar a trouxa. Fui. Fomos.  (...)
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