31.12.13

Os pinta-paredes (90)

Lisboa - Praça da Figueira
É de saudar a limpeza dos gatafunhos que, até há pouco, ornamentavam esta esquina.

Apontamentos de Lisboa

Av. Padre Manuel da Nóbrega.
Instalações sanitárias de uma conhecida empresa.

30.12.13

Pergunta de algibeira

 ?
A decifração deste estranho texto será aqui dada mais logo, em actualização, com recurso a uma outra imagem.
Actualização: 
A frase do 1.º cartaz devia ser 'compatível' com a do 2.º...

29.12.13

Apontamentos de Lisboa

Em Lisboa, há o curioso hábito de atirar para o chão os guarda-chuvas que o vento inutiliza. É possível contar várias dezenas em poucos metros de rua - assim como estes, a dois passos de caixotes de lixo vazios...

Luz - Docas de Barcelona

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem para a ampliar
Acostagem de um barco no porto de recreio. (2012).

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9115 palavras que falam de pedras e do que com elas se relaciona

Por a. M. Galopim de Carvalho
QUANDO eu era aluno da licenciatura em Ciências Geológicas, em finais da década de 1950, já se fazia sentir a falta de um Dicionário de Geologia, no seu sentido mais abrangente, isto é, que incluísse as diversas disciplinas que a integram. Era um tempo em que a globalização da ciência não tinha o desenvolvimento dos dias de hoje. Um tempo em que o francês dominava as relações académicas, os compêndios e os manuais de estudo. Nesse período áureo da penetração da inteligência gaulesa na nossa vida cultural e científica, em particular, no ensino superior e na investigação, a maioria dos estágios dos nossos assistentes e jovens investigadores tinha lugar em França. As nossas comunicações e artigos científicos, na maioria, para consumo interno, eram quase todos escritos em português e os poucos que faziam excepção a esta regra usavam, quase exclusivamente o francês, para nós, a segunda língua. (...) 
Texto integral [aqui]

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27.12.13

Os pinta-paredes (89)

Santa Clara - 10 Dez 13
Uma brigada de limpeza procura remover os grafitos que ornamentam o Panteão Nacional. 
Num dos casos (imagem de baixo), vê-se o recurso a uma escova de aço - talvez não se possa dizer que "é pior a emenda que o soneto" mas, mesmo assim...

26.12.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
Rui Rio geriu durante 12 anos a Câmara do Porto. Impôs rigor nas contas do município, contrariou o despesismo e o endividamento reinantes em muitas autarquias (contrastando com o exemplo da vizinha e superendividada Gaia), fez finca-pé na separação de campos da política com outros poderes como o do FC Porto, enfrentou alguns lóbis e incompreensões dos meios artísticos, conviveu sempre mal com a liberdade crítica da comunicação social que lhe era desafecta, foi conquistando influência e mais votantes de eleição para eleição.
Mas, ao longo desses 12 anos, Rio raramente ultrapassou a sua condição regional e pouco revelou sobre um pensamento político mais amplo e estruturado: não ficaram na memória ideias ou intervenções suas sobre a crise da dívida, a dimensão do Estado social, a baixa produtividade da nossa economia, a sustentabilidade das pensões ou o federalismo na UE.
Essa indefinição, essa espécie de folha em branco programática, talvez tenha contribuído para Rio ter sido, agora, colocado na sebastiânica lista de promessas políticas com grande futuro. O curioso é que Rui Rio decidiu dar corda a esse sebastianismo e tem-se desdobrado em colóquios, conferências e monólogos em locais tão improváveis e politicamente tão surpreendentes como a Casa-Museu do pai de Mário Soares ou a Associação 25 de Abril.
E o que foi propor Rio a tão sugestivas audiências? Coisas tão populistas, demagógicas e inquietantes como cavalgar a onda de desancar nos partidos que “não põem cá fora o que a sociedade precisa”, apoucar os “políticos de hoje” que são de “qualidade inferior”, denegrir o “sector da Justiça que causa aflição” ou agitar o papão de “uma ditadura sem rosto ao virar da esquina”. Para obstar a tamanha degradação, Rio sugere receitas tão básicas e perigosas como as de “a abstenção eleger cadeiras vazias no Parlamento” ou “o voto obrigatório”. Tudo o mais no seu périplo conferencista são tiradas politicamente balofas dirigidas aos desencantados com os partidos.
Parece que Rui Rio, apesar desta vacuidade populista, tem ambições de chegar alto no partido e na política nacional. Porque não? Não chegou, também, Luís Filipe Menezes a líder do PSD? Tudo é possível.
«SOL» de 20 Dez 13

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Apontamentos de Lisboa

Rossio e Praça da Figueira - Natal de 2013
Na minha ingenuidade, eu ainda acho que alguns locais (especialmente os mais emblemáticos - como praças, monumentos, etc.) deviam ser objecto de cuidados elementares, estando ao abrigo de certas intervenções (nomeadamente as comerciais e as dos "engraçadistas").
(Note-se que estas fotos foram tiradas a partir dos enfiamentos pelos quais as estátuas são melhor observadas).

Ateu, graças a Deus

Por C. Barroco Esperança
Há quem por graciosidade ou provocação goste de dizer aos que elegem a consciência como única fonte de valores, que são «ateus, graças a Deus».
E não é que têm razão? Deus é uma explicação por defeito para todas as dúvidas, uma boia para todos os naufrágios, um arrimo para todos os medos – especialmente, para a mãe de todos os medos –, o medo da morte.
Não fora a invenção desse ser imaginário, à semelhança dos homens que o criaram, não haveria necessidade do contraditório. Não há antítese sem tese, nem síntese sem ambas. (...)
Texto integral [aqui]

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25.12.13

E quando sair, não?!

Pergunta de algibeira

Lisboa - Av. Guerra Junqueiro
Alguém sabe o que significam as letras TP (gravadas nesta tampa de caixa-de-visita subterrânea)?
Actualização-Resposta:
Trata-se de letras gravadas num par de tampas dos extintos TLP (actualmente PT). A da direita, cuja imagem se vê em baixo, é que está correcta. Na outra, faltou o "L"...

24.12.13

Os pinta-paredes (88)

Este prédio, na esquina da Av. dos EUA com a R. Conde de Sabugosa (em Lisboa), é uma das muitas vítimas habituais dos pinta-paredes. Para eliminar os gatafunhos, as fachadas (em placas de calcário 'picotado') foram pintadas de branco...
Depois dos escafandristas de Évora (de que falava o saudoso Solnado), eis que temos ondas gigantes nas cidades - nomeadamente em Leiria...

Pergunta de algibeira

Haverá algo errado aqui?
.
Actualização:
Ao contrário do que possa parecer, a imagem da Fénix (a mitológica ave renascida das cinzas) está bem afixada - é mesmo assim, pois a empresa em causa chama-se XINEF.

Uma Noite Silenciosa

Por Maria Filomena Mónica
A INTUIÇÃO vale muito, mas a Ciência vale mais. Desde há anos que suspeitava sofrer de hiperastesia (sensibilidade anormal ao barulho), mas não tinha provas. Agora, possuo-as. A fim de verificar quando tinham lugar os arrasadores «picos» da minha tensão arterial sistólica, o médico obrigou-me a estar ligada a uma máquina que a mede ao longo de 24 horas. Acabo de receber os resultados: está tudo bem até ao momento em que entro num Centro Comercial.
Sempre me defendi do barulho: na Universidade, depois de me ter refugiado num corredor húmido do antigo Convento das Trinas (hoje ISEG), mandei colocar fibra de lã nas paredes do meu gabinete da Rua Miguel Lupi, com o intuito de me defender das conversas dos colegas que ocupavam os escritórios vizinhos. Só me sentia bem em bibliotecas, fosse ela a Nacional, em Lisboa, ou a Bodleian, em Oxford. Quando os meus filhos saíram de casa, optei por vir trabalhar para uma cave onde não chega o rumor do mundo. Não desejo a paz do sepulcro, mas tão só a oportunidade para me ouvir pensar. O silêncio é-me tão essencial quanto o oxigénio que respiro. 
Para quem pensa como eu, chegou a pior época do ano. A estes, lembro que a arte é um antídoto espiritual ao materialismo do Natal moderno. Foi por saber isto que ressuscitei as reproduções que possuo de algumas telas de V. Hammershoi, um pintor dinamarquês praticamente desconhecido em Portugal. Vi a sua pintura, pela primeira vez, na Tate Modern. Estava eu junto a uma sala de onde saíam ruídos de uma qualquer «obra-prima» contemporânea, quando, na secção «Natureza Morta, Objectos e Vida Real», me deparei com um quadro diferente. Em «Interior, Luz do Sol no Soalho» (1906), raios do sol poente penetram por uma janela, ao lado de uma porta fechada. Apesar de o pintor ser nórdico, nada há ali de gélido. Pelo contrário: a luz doce, reflectindo-se no soalho, consola. É um daqueles momentos de harmonia que, uma vez por outra, os deuses nos oferecem ao fim da tarde. 
No passado mês de Outubro, quando fui a Paris, voltei a encontrar um dos seus quadros no Museu d´Orsay. Em 0 Repouso (1905), vemos uma mulher de costas, sentada a uma mesa onde, sobre uma toalha grossa, está uma taça branca. Lembrei-me de outro quadro, presente numa exposição organizada, em 2008, pela Royal Academy de Londres, no qual a mesma mulher, ainda e sempre de costas, está a tocar música (Interior com uma Mulher num Piano, 1901). A figura é Ida, sua mulher e sua musa. Mas não é ela que me atrai, mas a paz que à sua volta se respira. 
As telas de Hammershoi constituem o oposto do Natal moderno, rodeado de barulho, de objectos e de sentimentos desencontrados. Apesar de, em menina, ir à Missa do Galo numa capelinha em S. Pedro de Alcântara, onde ouvia o Adeste Fideles  (supostamente composto pelo nosso rei D. João IV), não permaneci uma adepta. A canção natalícia de que mais gosto é a austríaca Stille Nacht. A todos, um Natal silencioso, é o que desejo. 
«Expresso» de 21 Dez 13

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23.12.13

Contributos para o debate sobre a calçada portuguesa (4)

Lisboa - Zona do Largo da Mouraria
Na realidade, não há nada a objectar em relação às 3 primeiras fotos - a utilização da calçada portuguesa como faixa de rodagem é, ali, autorizada, e manda quem pode...
O reparo está apenas na imagem de baixo: quando, como é inevitável, o empedrado é danificado, entram em cena os esforçados profissionais do "é igual ao litro"...

22.12.13

Contributos para o debate sobre a calçada portuguesa (3)

Av. de Roma, frente ao n.º 10
Uma vez levantada a calçada, por um motivo qualquer, a reposição das pedras da imagem do Pato Donald foi feita como se vê. É a calçada portuguesa entregue à malta do "é igual ao litro"...
NOTA: repare-se nas pedras especialmente trabalhadas que formam o laço, o rabo e os botões do pato. Tudo indica que tenha havido um molde próprio para a figura - o mesmo sucedendo, aliás, no caso das outras duas ("marcas registadas").

Roby Amorim

Por Ferreira Fernandes 
Uma das minhas canções é La Mer, Charles Trenet canta-a no feminino, como é em francês, e eu sempre a ouvi sem estranhar o género. Alguém me disse que o mar, enquanto foi calmo e doce como o Mediterrâneo, era assim, mulher, mas quando se transformou connosco mar-oceano, brutal e viril, mudou de género - "o mar" como dizem os Albuquerques. Acontece às palavras ao saltar das fronteiras e, até, ao passar do tempo. Disse-me alguém: "Fim" em francês é feminino, "la fin", e por cá também já o foi. No túmulo de Pedro I e Inês, escreve-se na pedra: "Até a fim do mundo." Em aldeias do Minho, às ruazinhas estreitas chamava-se cangostas, de angusta, estreito. Mas de que me serve sabê-lo quando os becos já não se chamam assim?, perguntei a alguém. Encolheu os ombros, talvez seja quase inútil, mas terei eu reparado que angusta também deu angústia, a do aperto no coração, a do nó na garganta, a da estreiteza algures em nós?... Esse alguém, Roby Amorim, começou a ser jornalista no ano em que nasci, conheci-o quando ele publicou um livrinho: Elucidário de Conhecimentos quase Inúteis. Era sobre a sua ferramenta, a palavra. Falei com ele uma só vez, como deve ser com os jornalistas, que são para uso breve. Roby Amorim tinha cara de poucas palavras porque estava ocupado com elas: "É fascinante saber porque se designa um certo animal por cão, uma peça de mobiliário por cadeira..." São fascinantes os homens apaixonados, digo eu. Morreu ontem. 
«DN»de 22 Dez 13

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Luz - Local de embarque no porto de recreio de Barcelona

Fotografias de António Barreto- APPh

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É um ponto de encontro entre o velho e o novo. Atrás das árvores, começa a grande “Rambla”. À direita, iniciam-se as docas restauradas dos Olímpicos. (2012).

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Pedras bulideiras

Por A. M. Galopim de Carvalho
PEDRAS bulideiras ou baloiçantes são expressões usadas em diversos lugares do país para designar grande penedos ou fragas de granito, mais ou menos arredondados, com uma base mínima assente sobre um afloramento rochoso da mesma natureza, o que lhes permite balouçar ou oscilar. Há ainda quem lhes chame pedras cavaleiras ou pedras encavaladas.(...)
Texto integral [aqui]

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21.12.13

Os pinta-paredes (87)

Merkel fora da Feira da Ladra?

13 a 0, o resultado sem dó

Por Ferreira Fernandes 
Albert Einstein, como tão bem sabem, escreveu "Folgerungen aus den Kapillarität Erscheinungen". Quando a prestigiada revista científica Annalen der Physik publicou o artigo, em 1901, os jornais portugueses no dia seguinte devem ter sido enfadonhos. A mecânica dos fluidos, para aqui, a tensão de superfície, para ali, o princípio de Bernoulli e as equações de Navier-Stokes devem ter enchido as gazetas... Não li, mas suponho porque ontem li e ouvi os nossos comentadores. Desta vez é sobre constitucionalismo, como há cento e tal anos era sobre os fenómenos de capilaridade de Einstein - continuamos todos a saber tudo. Somos, para tudo, o que o Luís Freitas Lobo é para o futebol - refinadíssimos especialistas. Isso é bom, com um porém: às vezes, aparece um William de Carvalho e não damos por ele. 
Ontem, no meio da multidão do constitucionalismo, ninguém fez uma conta simples: 13 a 0. Era o essencial do assunto. 
O Tribunal Constitucional tem de subordinar as leis à Constituição. O TC são dez juízes escolhidos pelos partidos e três pelos próprios juízes - se as votações são renhidas pode suspeitar-se de que o partidarismo teve alguma influência. Mas se a votação for unânime, uma coisa é certa: quem fez a lei é um nabo incapaz de prever o óbvio. Como um chumbo atrasa e prejudica o País, esse governante que nem sabe ver uma obviedade deve ser apontado. 
O 13 a 0 era para ser dito e passar a outro assunto, 13 a 0 é um resultado sem dó. 
«DN» de 21 Dez 13

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Lisboa, Reino do Absurdo

Av. da Igreja
Rua L. Augusto Palmeirim
Rua Frei Amador Arrais
As fotos mostram 5 carros estacionados numa estranha "2ª fila" ("estranha", pois nem sequer há, ali, 1ª fila). Apesar do espaço disponível para um estacionamento correcto (e, em certos casos, gratuito!), esta gente prefere estorvar meio-mundo, amiúde provocando engarrafamentos monstruosos numa das principais entradas de Lisboa (para quem vem do Norte) sem que nada lhes aconteça...

«Dito & Feito»

Por José António Lima
No momento em que se celebra a grandeza da figura política de Nelson Mandela, a esquerda portuguesa não resistiu à tentação de utilizar demagogicamente a morte do líder sul-africano como arma de arremesso em mesquinhos ajustes de contas caseiros.
No Parlamento, o PCP, pela voz de António Filipe, apareceu a acusar Cavaco Silva de ter votado na ONU, em 1987 (quando era primeiro-ministro), contra uma resolução que exigia ao regime do apartheid a libertação incondicional de Mandela. Helena Pinto, do Bloco, apressou-se a acrescentar que “em 1987 Portugal estava do lado errado”. E foi quanto bastou para o tema alastrar em indignadas proclamações nas redes sociais e nalgumas rádios e televisões.
Acontece que, nessa ocasião, Portugal votou a favor uma resolução da ONU pela “eliminação do apartheid” e que pedia “a libertação imediata e incondicional de Nelson Mandela e de todos os outros presos políticos”. Apenas votou contra um outro documento que incitava à violência para derrubar o regime sul-africano. Recorde-se que, nessa altura, em 1987, as ex-colónias portuguesas vizinhas da África do Sul, Angola e Moçambique, estavam mergulhadas em violentas e intermináveis guerras civis.
Mandela conseguiu, também, essa proeza em que quase ninguém acreditava: substituir o mais odiado regime colonialista de segregação racial, o do apartheid, por uma democracia e em paz - sem mergulhar a África do Sul num banho de sangue, sem provocar a debandada em massa dos brancos como acontecera em todas as ex-colónias africanas, sem desencadear incontroláveis confrontos tribais e partidários pelo poder.
Mandela foi um exemplo único de luta pela liberdade, pela reconciliação, pela dignidade humana e pela convivência multirracial. Tornou-se o mais inspirador dos líderes da política contemporânea. Era, por isso, a figura mais admirada em todo o mundo, da América à China, da África ao Japão - por todas as raças, todas as religiões e todos os regimes. “Um gigante da História”, na feliz definição de Obama. Em Portugal, a esquerda do PCP e do Bloco quis reduzir essa dimensão de Mandela à pequenez das baixas querelas partidárias. Sem pudor. E sem sucesso. 
«SOL» de 13 Dez 13

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20.12.13

Os pinta-paresdes (87)

Recentemente, saudou-se aqui a limpeza dos gatafunhos que decoravam a enorme parede (do lado direito e ao fundo) existente junto ao LIDL de Alvalade, em Lisboa. Os artistas atacaram, então, a do lado esquerdo...

Plano B: Governo vai fazer de advogadas!

Por Ferreira Fernandes 
Neste Governo, minirremodelação é pleonasmo. Ninguém espera que saia grande coisa de um buraquito. Mas anunciada uma mini junto ao chumbo do Tribunal Constitucional parece termos um grande problema. Calma: há um plano B! Embora este seja outro pleonasmo: com este Governo, o plano é sempre B, deve saltar-se o A. Nos Conselhos de Ministros, quando um ministro diz "chefe, tenho uma ideia!", Passos Coelho devia dizer: "Deixa cair essa, diz-me lá a seguinte." É o nosso sonho era ter um Governo q.b., de medida certa, mas calhou-nos um Governo Pb, símbolo de plumbum, chumbo. O chumbo é um metal tóxico, pesado e maleável. Confere. E mau condutor de eletricidade (olha, vender a EDP deve ter sido a sua única medida certa...) Enfim, este é um Governo chumbado a zagalote do TC, mas, felizmente, há um plano B: fazer um vídeo. O enredo já meio Portugal conhece, há só que mudar as personagens. Aparece uma ministra que tenhamos loura, de passada firme pelos passeios de Lisboa, enquanto se ouve uma voz ao fundo: "Maria Luís Albuquerque e Associados é hoje uma boutique vocacionada para a recuperação de impostos." Entretanto, vão aparecendo um a um os morenos do seu escritório. Passos Coelho no Terreiro do Paço, de cabelos esvoaçantes (há que fazer, rápido, o vídeo...), Paulo Portas a entrar para um táxi, Aguiar-Branco numa arcada... No fim, todos os morenos à volta da loura. E a voz-off: "Os resultados obtidos falam por nós." Oh quanto!
«DN» de 20 Dez 13

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19.12.13

“A Identidade Cultural Europeia”, Vasco Graça Moura

Por António Barreto
TENHO um grande prazer e muita honra em apresentar o livro de Vasco Graça Moura. É um grande pequeno livro, de enorme oportunidade, de indiscutível interesse e de uma evidente erudição. Sublinho este último aspecto: numa altura em que as frases feitas, os lugares-comuns e os clichés têm cada vez mais saída, é reconfortante ver as virtudes da erudição, sentir que uma cultura sólida nos pode ajudar a compreender o mundo em que vivemos e que se nos apresenta, de modo crescente, como um mundo confuso, complexo e incerto. Para já não dizer inseguro. É um pequeno livro sobre um tema difícil e complexo, mas um livro claro, que nos satisfaz um prazer em perigo de extinção: o prazer de saber, de conhecer, de perceber. (...)
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Os pinta-paredes (86)

Recentemente, saudou-se aqui a limpeza dos gatafunhos que decoravam esta enorme parede de um edifício de Entrecampos. Pois bem; estas imagens são de ontem à noite...

Dois lados, pelo menos, dois lados

Por Ferreira Fernandes
Não é mais do que uma guerra do alecrim e manjerona, trava-se entre dois países amigos, EUA e Índia. Mas já chegámos ao ponto de a Índia retirar as barreiras de betão que protegem a embaixada americana em Nova Deli... Causa do conflito: uma criada. Na semana passada, Devyani Khobragade, vice-cônsul indiana em Nova Iorque, foi presa pela polícia. Meteram-na numa cela com outras detidas e foi revistada na modalidade strip-search, que inclui apalpar cavidades. A vice-cônsul era acusada de ter apresentado dados falsos para o visto de trabalho da sua empregada doméstica, que trouxe da Índia, e de lhe pagar um terço (2,5 euros à hora) do que é o mínimo em Nova Iorque. Para ser libertada, ela teve de pagar caução de 190 mil euros e vai a tribunal. O escândalo focou-se na violação da imunidade diplomática (há controvérsia legítima sobre isso) e na brutalidade policial. As duas razões levaram o Governo indiano a retaliar como já vimos (além de deixar de permitir que a embaixada americana importe whisky). Esse o lado, digamos, de salão da questão. O outro é a condição humilhante com que algum pessoal doméstico de diplomatas é tratado. 
Na peça Guerras do Alecrim e Manjerona - e já no século XVIII -, o nosso António José da Silva, se falava dos conflitos dos de cima, não deixou de se ocupar dos amores de Semicúpio e Sevadilha, simples criados. A vida é multifacetada, como os espelhos das embaixadas mostram. 
«DN» de 19 Dez 13

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A mulher, a eterna ameaça e vítima ancestral

Por C. Barroco Esperança
Há dias publiquei esta foto de Annette Kellerman (1886/1975) a promover o Direito das mulheres ao uso do maiô, em 1907. Era um fato de banho que apenas deixava o pescoço e os braços à mostra. Valeu-lhe a prisão. 
A nadadora australiana, atriz e escritora, foi presa por atentado ao pudor. Não podia ser o que descobria a causa de tão cruel punição, era o medo da emancipação, da igualdade de género que, durante milénios, justificou a violência das instituições contra a mulher, como se a humanidade pudesse existir sem ela, como se cada um de nós pudesse nascer, sem ser asfixiado, de pernas atadas, como os homens a queriam. (...)
Texto integral [aqui]

18.12.13

O (ex) tiro de Draghi

Por Antunes Ferreira
Debaixo dos pés levantam-se os trabalhos. O acerto deste ditado é total no que respeita ao tema dum programa (chame-se-lhe o que se quiser, desde cautelar até segundo resgate) que não se vê bem onde e quando parará. O (des)Governo começara a embandeirar em arco e, de repente descobriu que metera água – e de que maneira.
Não adianta tecer mais comentários sobre o que foi o tiro de Mario Draghi ao declarar em Bruxelas que o nosso país vai precisar de mais um programa quando o actual programa de resgate terminar, de tal forma ele atingiu o porta-aviões de São Bento, os submarinos de Portas, a nau Catrineta do Imóvel de Belém que os vai levar a naufragar, para não dizer mesmo, a ir ao fundo. (...)
Texto integral [aqui]

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Quem está por trás de Cristiano Ronaldo

Por Ferreira Fernandes
Se calhar, Cristiano Ronaldo é mesmo de natural boa índole - e o facto é que não foge aos impostos como o seu adversário maior. Mas, nisto de ser e parecer, vale sempre a pena ter um bom assessor de imagem. Já repararam no percurso sem falha que ele tem feito este ano? Quando Mourinho saiu do clube comum, foi deselegante com Cristiano Ronaldo e, querendo dizer que falava do brasileiro Ronaldo, o Fenómeno, especificou: "Ronaldo, o verdadeiro." O português não deu bola à polémica. Depois, sobre a Bola de Ouro que este ano, para ele, é uma questão de vida ou de morte, Cristiano Ronaldo teve as palavras certas: não é uma questão de vida ou de morte. Se sim, muito contente, se não, paciência: "Ficar contente ou triste é a lei da vida." 
A qualidade da atitude deste Cristiano Ronaldo está nas pequenas frases que tem, certas. Entre o Quim Berto que diz "o Quim Berto acha" e o Valdano que escreve como um bom romancista, Cristiano Ronaldo encontrou o lugar certo: fala como Zidane recebia a bola. Depois foi o discurso na homenagem ao seu "pai no futebol", Alex Ferguson. Tudo certo e comovente. Agora, foi a carta ao tribunal que julga o fã que saltou para o relvado em Miami e, sendo estrangeiro, arrisca a expulsão... 
Não sejamos ingénuos, nos casos raros em que distribui o génio, o destino só dá um por pessoa. Então? Se Passos ou Seguro descobrem quem aconselha Cristiano Ronaldo ainda nos arriscamos a vê-los interessantes.
«DN» de 18 Dez 13

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Contributos para o debate sobre a calçada portuguesa (2)


Uma vez retirados os equipamentos (cartazes, anúncios, mupis, semáforos, caixas dos CTT, quiosques, postes de sinalização, etc.), os respectivos suportes são, frequentemente, simplesmente cortados rente ao chão (em vez de desmontados, com a subsequente reposição das pedras da calçada).
As imagens que aqui se vêem foram obtidas na mesma avenida, sendo apenas uma pequena amostra do que nela se pode ver... e, já agora, tropeçar...).

O PS não está cá

Por Baptista-Bastos
Os dois principais membros do Governo (a saber, para quem ignore: Passos e Portas) têm andado numa maratona de encontros, reuniões, declarações, que fazem pensar, feita a soma, de nada terem a dizer às pessoas. Um velho realejo de música encardida, ressurgida com as banalidades do costume. Aos jotas da sua tribo, Portas presenteou-os com um contador do tempo, que vai encolhendo os dias à medida que se aproxima o fim da presença da troika em Portugal. A empresários do Norte, num discurso emperrado por supressões contínuas da preposição, e pejado de adjectivos cujo sainete e clareza são desconhecidos, Passos Coelho afirmou, inconvicto e lúgubre como agora anda, que o Governo está atento. Não disse a quê nem a quem. A António José Seguro não é, porque este desapareceu completamente, sem brio nem timbre, deixando-o a ele, Passos Coelho, tão feliz que já revelou ir recandidatar-se. Sabe que os seus inimigos estão no interior do PSD, como a intriga larvar que rasteja no PS é ameaça de morte para Seguro. Assim não vamos lá. Já avisou Soares, perante o vazio sem alma desta oposição que se diz socialista, é raro falar em trabalhadores, e suprimiu dos seus comícios o punho esquerdo cerrado. 
De vez em quando aparece um atrevido expondo, timidamente, o velho símbolo de uma esquerda que se desfaz. Já se sabe o que deseja este PSD: deixar-nos de mão mais estendida do que até agora, esmoleres de uma ideologia feroz e sem detença. Mas o PS, o PS de almofadinha e algodão em rama, que quer este PS? Soares sabe muito bem o que está em causa, e que a debilidade do PS corresponde a uma perda de identidade que arrastará consigo uma mais funda resignação nacional. Esperam-nos grandes desesperos e liças terríveis. A inquietação de quem "veio da luta", de quem provém de antigos combates foi salientada, igualmente, por Jerónimo de Sousa, no final da reunião do Comité Central do PCP, o qual aludiu à linguagem intraduzível utilizada pela Direita para induzir em erro os que crêem não haver "alternativa." Jerónimo de Sousa expressou a ideia de que as teses defendidas, com insistência de rataplã, pelos panegiristas deste sistema, têm deixado, atrás de si, um rasto de fome, de desgraça e de miséria, mas que nada está encerrado. 
O exercício de hipocrisia a que assistimos, tendo como protagonistas os sorrisos de Portas e a gelada serenidade de Maria Luís Albuquerque, ao falarem da décima "avaliação" da troika, não convenceu ninguém. E chega a ser doloroso assistir aos comentários dos habituais "analistas" e "politólogos" debruçados a escavar palavras que justifiquem os estipêndios. Uns e outros equivalem-se. E a encruzilhada política em que nos encontramos constitui uma espécie de charneira entre duas visões do mundo e um conceito de sociedade de cuja defesa o PS parece ter-se ausentado.
«DN» de 18 Dez 13

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17.12.13

O nosso oficial de ligação com invasões

Por Ferreira Fernandes
O Governo colocou o ex-diretor nacional da PSP, Paulo Valente Gomes, como oficial de ligação na embaixada em Paris. Paulo Gomes vai tratar de terrorismo, droga e migrações ilegais, no âmbito do projeto de segurança G4 (Portugal, França, Espanha e Marrocos). Numa reunião, em janeiro passado, os ministros das polícias desses países decidiram que haveria oficiais de ligação em três cidades. E só falaram dessas três: a espanhola Algeciras (a do célebre Museu Municipal, com sete salas), a senegalesa Dacar (a dos melhores bubus em pano estampado) e a ganesa Acra (a dos bares, na Avenida Kwame Nkrumah, que chegam a ter cerveja fresca). Destinos de sonho que foram logo cobiçados por quem tinha as melhores cunhas. Tendo sido preenchidos esses lugares tão desejados - foram, não foram?... -, Portugal decidiu mandar também um oficial de ligação para Paris, a dos bidonvilles. Claro que ninguém quis ir e só patrioticamente se encontrou quem aceitasse. Onde está o problema? Não será no profissionalismo de Paulo Gomes, do qual não duvido. Está numa imagem, que eu vi. Em novembro, Paulo Gomes demitira-se de diretor nacional da PSP por, na famigerada manifestação dos polícias, [se] ter deixado as barreiras de segurança serem derrubadas e os polícias subirem a escadaria do Parlamento aos gritos: "Invasão! Invasão!" 
Hmmm... Para discutir como se guardam as fronteiras, não seria possível encontrar um oficial de ligação com outra imagem? 
«DN» de 17 Dez 13

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16.12.13

A tragédia dos seis e o drama dos seus

Por Ferreira Fernandes
Sete jovens, numa praia em noite de luar. O mar pode ser encrespado ou chão de onde saltam ondas raras e vigorosas, mas a praia é larga e engana. A onda veio mesmo, levou os sete e só um devolveu com vida. No Meco, seis jovens envolvidos numa tragédia daquelas que não podem ser medidas pelos de fora. As mortes políticas ajudam os correligionários a cerrar fileiras e, aí, a tragédia ganha um sentido. As mortes cometidas por criminosos têm o mérito de nos relembrar a maldade. 
As mortes de acidente alertam-nos para os erros cometidos, da velocidade a mais, numa estrada, aos crimes contra a natureza, nos tufões... São todas mortes com sentido, embalam causas, acirram revoltas e até educam. No Meco foram sete jovens numa praia de areal vasto a quem um destino inesperado veio pedir contas. Levou seis, devolveu um, em contas de deuses. Não há lição a tirar, há só que aceitar o balanço. Não há nada a aprender para o futuro, não há como apontar culpados. Então, à tragédia dos seis junta-se o drama dos seus. Nem raiva podem ter. Os seus foram-se sem porquê. Ou porque sim, convencer-se-ão com o peso que arrasta as comissuras dos lábios para baixo e faz encolher os ombros. Esse drama dos amigos e familiares de uma tragédia sem sentido obriga-nos a todos, os de fora, ao silêncio. Eu também remeter-me-ia a ele, não fosse ter lido os nojentos comentários no online do meu jornal. Só passei por cá para dizer que estou envergonhado.
«DN» de 16 Dez 13

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15.12.13

“E assim, acontece”

Por A. M. Galopim de Carvalho

“E ASSIM, ACONTECE” era a frase com que Carlos Pinto Coelho rematava as emissões do seu magnífico magazine cultural na RTP 2.
Completam-se hoje, dia 15 de Dezembro de 2013, três anos sobre o falecimento do saudoso autor e apresentador do também saudoso ACONTECE, iniciado em 1994 e estupidamente extinto em 2003. O ministro da tutela, Morais Sarmento criticara a quantidade de dinheiro gasto para produzir o programa, dizendo “ser mais compensador oferecer uma volta ao Mundo a cada espectador”. Na sequência, o presidente da RTP, Almerindo Marques, anunciava o fim do programa.
No dia do seu funeral, ainda sob a comoção do seu súbito e doloroso desaparecimento, escrevi no «sopasdepedra» e no «sorumbático»: “Acontece a todos. Uns hoje, outros amanhã. Sempre assim foi e assim será. Foi agora a tua vez. Amanhã será a dos que te viram partir. De todos, sem excepção. Dos bons como tu, que fazem falta à sociedade e que nós desejaríamos ter por cá muito mais tempo, e dos outros, incluindo os que não prestam, como aqueles que, estupidamente, te cilindraram na RTP, privando-nos do único e, até hoje, o melhor programa cultural televisivo em Portugal, e aqueles que, afastada a rapaziada que sancionou esse atentado à inteligência, não quiseram ou não souberam ir buscar-te e repor-te no lugar de onde nunca devias ter saído”...”Vais deixar saborosas saudades em muitos dos teus concidadãos e eu sou um deles. É um privilégio póstumo de que nem todas as almas se podem gabar. Mas com a tua, isso acontece”.
Carlos Nuno de Abreu Pinto Coelho, de seu nome completo, nasceu em Lisboa a 18 de Abril de 1944. Foi um jornalista de muito prestígio, professor de jornalismo durante dois anos na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Tomar, tendo revelado notáveis aptidões para a fotografia e a literatura.
Viveu em Moçambique desde a idade de um ano até aos dezoito, em 1963, tendo regressado a Lisboa para cursar Direito, licenciatura que abandonou a poucas cadeiras de concluir a licenciatura.
A sua carreira de jornalista iniciou-se, em 1968, como repórter, no Diário de Notícias, e prosseguiu como um dos fundadores do Jornal Novo, redactor da Agência Noticiosa de Informação (ANI), correspondente em Portugal da rádio Deutsche Welle e redactor da revista Vida Mundial, dirigida pela igualmente saudosa Natália Correia. Na RTP foi director-adjunto de informação da direcção, chefe de redacção da Informação/2, director de programas e director de Cooperação e Relações Internacionais. Na rádio, deixou obra na TSF, na Rádio Comercial, na Antena 1 e na Teledifusão de Macau.
Numa carreira de pouco mais de três décadas, o autor do ACONTECE foi conferencista no Instituto de Altos Estudos Militares, membro do Conselho de Administração da Europa TV, coordenador dos Encontros de Televisões de Língua Portuguesa, presidente dos Comités Est-Ouest e Nord-Sud da Université Radiophonique et Télévisuelle Internationale, representante da RTP nos Comités de Informação e de Programas da União Europeia de Radiodifusão, da União das Rádios e Televisões Nacionais de África e da Organização das Televisões Iberoamericanas, representante do Ministério da Cultura na Reunião de Televisões Ibéricas, júri dos Prémios Emmy de Jornalismo de Investigação e dos Festivais de Cinema de Troia, Fantasporto, Cinanima e ICAM.
Pela vultuosa e útil obra que realizou, este nosso amigo foi distinguido como comendador da Ordem do Infante D. Henrique, oficial da Ordre des Arts et des Lettres do Ministério da Cultura da França, Prémio Bordalo, na categoria de Televisão, pela Casa da Imprensa, o Grande Prémio Gazeta, do Clube dos Jornalistas e o Prémio Carreira Manuel Pinto de Azevedo Jr., de O Primeiro de Janeiro.
Hoje, mais do que nunca, sentimos a sua falta.

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