30.9.08

Alertas do ministro

Por Joaquim Letria
O MINISTRO DA AGRICULTURA do nosso Governo, que é funcionário em Bruxelas e ficou conhecido em Portugal quando proibiu a Depuralina antes deste dietético espanhol se vender como nunca, para emagrecer os Portugueses, emitiu agora um alerta de controlo à importação de produtos lácteos da Ásia.
Este alerta de Jaime Silva, a quem Marcelo Rebelo de Sousa chamou injustamente, como se comprova, uma nulidade, impede a entrada em Portugal de produtos de Taiwan, Hong Kong, Singapura e Japão e é a principal acção que o departamento de Planeamento e Políticas desencadeou por ordem do ministro, activando as Direcções Gerais de Agricultura e Pescas e Regiões Autónomas.
Estes alertas do ministro ordenam o impedimento de entrada em Portugal a derivados do leite, leite, soro de leite, leite em pó, leitelho, natas, manteigas, caseína de leite e caseínatos. Depois da Depuralina esta é a maior acção do gabinete do ministro da agricultura português.
«24 Horas» de 30 de Setembro de 2008

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23 Set 08
É com esta bandeira portuguesa - em versão chinesa - que o Centro de Artesanato de Lamego faz as honras da casa a nacionais e estrangeiros...

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Humor Antigo - Ano de 1928

Senhoras Donas, por favor!

Por Alice Vieira
CADA PAÍS (CADA LÍNGUA, CADA CULTURA) tem a sua maneira específica de se dirigir às pessoas. Mal passamos Vilar Formoso, logo toda a gente se trata por tu, que os espanhóis não são de etiquetas nem de salamaleques.
Mas nós não somos espanhóis.
Também não somos mexicanos, que se tratam por “Licenciado” Fulano.
Nem alinhamos com os brasileiros, para quem toda a gente é “Doutor”, seguido do nome próprio: Doutor Pedro, Doutor António, Doutor Wanderlei, etc.
Por cá, Doutor é seguido de apelido, e as mulheres, depois de passarem por aqueles brevíssimos segundos em que são tratadas por “Menina”, passam de imediato - sejam casadas, solteiras, viúvas ou amigadas, sejam velhas ou novas, gordas ou magras, feias ou bonitas, ricas ou pobres – à categoria de “Senhora Dona”.
Mas parece que uns estranhos ventos sopraram pelas cabeças das gerações mais novas que fizeram o “dona” ir pelos ares ou ficar no tinteiro.
Quando recebo daqueles telefonemas que me querem impingir tudo o que se inventou à face da terra - desde “produtos” bancários que me garantem vida farta, até prémios que supostamente ganhei por coisas a que nunca concorri — sou logo tratada por “Senhora Alice.” Respondo sempre: “trate-me por tu, se quiser; ou só pelo meu nome, se lhe apetecer; mas nunca por Senhora Alice”.
(...)
Texto integral [aqui]

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Humor Antigo - Ano de 1928

29.9.08

Leite com ASAE

Por Joaquim Letria
TENHO BEBIDO LEITE DE SOJA, leite com chocolate e iogurtes chineses e não me fizeram mal. Naturalmente que após as notícias das crianças afectadas na China regressei ao Vigor e à UCAL e ao iogurte natural do LIDL, mas confesso que nenhum dos produtos chineses me fez mal, ainda que a apregoada actividade da ASAE me tranquilize, preferindo que ela cumpra a sua missão, a que a não cumpra.
Pelo sim, pelo não, regressei aos produtos nacionais, que recentemente parecem ter deixado de encher os portugueses de brucelose, e leio os jornais internacionais acerca da crise que em seis anos matou quatro bebés, intoxicou 53 mil e fez com que 12 mil fossem internados em hospitais chineses.
As coisas vistas na sua real proporção até deixam a ASAE melhor no retrato. E ficamos todos mais descansados, a começar pelos comerciantes chineses que em Portugal tão injustamente tratados estão a ser, vá-se lá saber porquê.
«24 Horas» de 29 de Setembro de 2008

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Nas entrelinhas de Machado

Por Nuno Crato
É QUASE IMPOSSÍVEL passar hoje por uma livraria brasileira sem notar o destaque dado a um escritor que muitos em Portugal apenas conhecem de nome. Não se trata de Jorge Amado nem de Graciliano Ramos. O homem que tem obras em todas as vitrines usava óculos e bigode. Era filho de uma lavadeira açoriana e de um pintor mulato, por sua vez filho de escravos. Chamava-se Machado de Assis (1839–1908) e há uma quase unanimidade da crítica em apreciá-lo como o maior escritor de sempre da grande nação sul-americana. Harold Bloom considera-o «até hoje, o supremo escritor de origem negra». Agora, que se assinala o centenário da sua morte, ocorrida a 29 de Setembro, há escaparates inteiros com os seus livros. Há exposições nas bibliotecas. Por toda a cidade do Rio de Janeiro, onde Machado nasceu, viveu e morreu, há cartazes e bonecos de pano que o representam e chamam a atenção para as suas muitas reedições, biografias e estudos.
Machado viveu momentos de grandes mudanças. Viveu o fim da escravatura no Brasil e a implantação da república. Protagonizou a transição do romantismo literário para o realismo. Nesse percurso, criticou o romance Primo Basílio, de Eça de Queirós, vindo-se depois a arrepender de outras críticas ao escritor português. Na realidade, Machado foi homem de poucas polémicas, preferindo intervir pela subtileza da sua criação literária — onde há muito a ler, nas linhas e nas entrelinhas.
(...)
Texto integral [aqui]

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Um projecto inovador

Por A. M. Galopim de Carvalho
A CRÓNICA FICCIONADA é uma via que procura ser eficaz na intervenção cívica por parte do cidadão que se julga no direito e no dever de a fazer. E se essa crónica tiver um pendor divertido, a sua eficácia, em minha opinião, aumenta seguramente. Um exemplo desse propósito transparece no post que divulguei neste mesmo espaço comunicacional há pouco mais de três meses e que intitulei “A Invasão das Beatas”, não a das santas religiosas mas a das vulgares pontas de cigarros.
Voltando ao tema e ao método ocorreu-me criar aqui a situação de um multimilionário do País do Sol Nascente, Lee Fiong, de seu nome. Encorajado pela simpatia gerada, entre nós, pelo sucesso dos Jogos Olímpicos de Beijim - 2008, este dinâmico empreendedor acaba de contactar a Câmara Municipal de Lisboa e outras autoridades portuguesas competentes, no intuito de instalar, nos arredores de Lisboa, uma unidade industrial destinada ao fabrico de placas isoladoras térmicas e acústicas, tendo por matéria-prima, imagine-se, as ditas pontas de cigarro.
(...)
Texto integral [aqui] - Esta e outras crónicas do mesmo autor estão também no seu blogue, Sopas de Pedra.

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Passatempo-relâmpago

QUASE SEMPRE, as crónicas que Nuno Crato publica, aos sábados, no Expresso, são aqui afixadas três dias depois. No entanto, desta vez ela vai aparecer um dia mais cedo, pois é dedicada a Machado de Assis, e faz hoje 100 anos que o escritor faleceu.
*
O Sorumbático oferece um exemplar do «Dom Casmurro» ao primeiro leitor que, em comentário à crónica do Nuno Crato (que vai ser afixada durante o dia de hoje a uma hora-surpresa!) escrever as seguintes quatro palavras: Quero eu o livro.
Actualização (15h45m): o passatempo já terminou.

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28.9.08

Urgência

João Paulo Guerra
O pluralismo é assim mesmo. Cada um pode dizer o que bem entenda, pois haverá sempre quem diga o contrário.
E FOI ASSIM que tendo António Arnaut, o autor da lei do Serviço Nacional de Saúde, declarado que o ex-ministro socialista Correia de Campos foi quem deu “a machadada final” no Serviço Nacional de Saúde, o próprio ex-ministro tem vindo com insistência a manifestar opinião diametralmente contrária, altamente favorável à sua actuação na alegada reforma do serviço público. Não havendo quase ninguém para louvar a sua obra – coroada com o afundamento em todas as sondagens de opinião e com o despedimento do Governo –, louva-se Correia de Campos num livro acabado de publicar e em entrevistas que se multiplicam a propósito da iniciativa editorial.
Em palavras, o ex-ministro é agora tão socialista como no PREC foi gonçalvista. Acontece que há mais alguma coisa, para além das palavras, para avaliar hoje o ex-ministro da Saúde. Há uma sistemática liquidação de estabelecimentos e serviços públicos de saúde, em localidades onde, obviamente por coincidência, se aprontam ou perfilam alternativas privadas. E ninguém convence ninguém que os privados avancem onde não haja potenciais utentes em número suficiente para responder à oferta de serviços e estabelecimentos de saúde.
Ontem, em entrevista ao 24 Horas, o ex-ministro verteu o derradeiro argumento a favor da sua alegada dedicação ao Serviço Nacional de Saúde: “Se tiver um acidente na rua peço por tudo que me levem a uma urgência pública”. O ex-ministro que peça principalmente às alminhas que, no caso de se verificar tão infausta como indesejada situação, a urgência pública mais próxima não tenha sido fechada durante o seu consulado.
«DE» de 26 de Setembro de 2008 - c.a.a.

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Continuando a divulgar o «Sem Cura Possível», colectânea de textos de André Brun, aqui fica o início de mais um capítulo - texto integral [aqui].

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A absolvição do banqueiro

Por J. L. Saldanha Sanches
ERA UM PEQUENO BANCO PORTUGUÊS, surgido do nada e cheio de gente vinda da política. Com especulação imobiliária, lavagem de dinheiro e traficâncias várias conseguiu singrar.
Ninguém percebia como. Os auditores fugiram horrorizados e explicaram porquê mas como não metia futebol ninguém ligou. Depois veio a crise, o banco ficou à beira do colapso, parecia que ia ter de ser salvo com os dinheiros do contribuinte, mas talvez pela sua pequena dimensão arranjou quem o comprasse.
A nova administração passou as contas a pente fino, elaborou volumosos dossiers com provas circunstanciadas dos desfalques. O Banco de Portugal e a Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários enviaram para tribunal caixotes e caixotes de prova. Tarde, mas enviaram.
O país ficou à espera do resultado.
O juiz não gostou do que viu. Preferia julgar vadios por assaltos à mão armada. A prova era abundante, mas não tão simples como o assassínio na esquadra de Faro. E mesmo esse caso...
(...)
Texto integral [aqui]
«Expresso» de 20 de Setembro de 2008 - www.saldanhasanches.pt

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Humor Antigo - Ano de 1928 - 30ª

27.9.08

Pagantes

Por João Paulo Guerra
O ciclo de quatro eleições que aí vem vai custar 100 milhões ao Estado.
MAS AS PROMESSAS ELEITORAIS continuam de borla. O Estado aumentou a subvenção aos partidos políticos, o que sempre é mais transparente que o financiamento oculto pelos privados, embora não elimine totalmente os compromissos com os interesses e respectivas contrapartidas.
O que não é justo é que o Estado pague a vendedores de ilusões que prometem lebre e nem gato servem à mesa. Se o Estado tivesse maneira de taxar as falsas promessas eleitorais, das duas, uma: ou recuperava o investimento na subvenção da democracia eleitoral, ou os partidos passavam a falar verdade e a prometer o razoável.
Nas campanhas eleitorais, políticos que vivem habitualmente no limbo dos interesses e do dinheiro, que se mantêm arrogantemente afastados do povinho que desprezam, descem às feiras, romarias e outros ajuntamentos para prometer o Céu. Já houve quem prometesse salário para as donas de casa. E todos prometem ajudar os pobrezinhos, cuidar dos velhos, tratar os enfermos, dar futuro aos jovens e outras obras de caridade. Chegam ao poder e é o inferno do costume: menos dinheiro, menos saúde, menos trabalho, menos segurança, mais impostos, mais sacrifícios, mais restrições. Mais por menos dá menos qualidade de vida e menos democracia.
Vem aí um ciclo de quatro eleições. E os candidatos vão acrescentar novas promessas sem sequer prestarem contas das que não cumpriram nos mandatos que vão terminar. Claro que isto desacredita a democracia. Mas com o descrédito da democracia bem pode a classe política que saiu na rifa aos portugueses. O ideal será o dia em que se declararem vencedores de eleições por falta de comparência do eleitorado.
«DE» de 25 de Setembro de 2008 - c.a.a.

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Humor Antigo - Ano de 1928 - 29ª

O suicídio dos polícias

Por Joaquim Letria
TRÊS MILITARES DA GNR e um agente da PSP suicidaram-se no espaço de cinco dias em diferentes pontos do País. O mais novo tinha 26 anos, o mais velho 33.
Alguma coisa não está bem na vida profissional dos milhares de profissionais destas forças de segurança para semelhantes actos sucederem a este ritmo e nesta proporção, já que é difícil acreditar nas justificações de “problemas passionais”. Também se desconhecem situações de dívidas e de crises familiares que chegassem ao ponto de levar homens feitos e profissionais experientes a atingirem o desespero de tão trágicos desfechos.
Nas forças de segurança, o apoio médico é insuficiente e o comando e organização terão de ser deficientes para se chegar a esta situação. Homens armados e em situações extremas não podem viver sem margem de confiança por quem deve ser protegido ou tem de ser combatido dentro da lei.
«24 Horas» de 26 de Setembro de 2008

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Luís Bonito oferece, aos leitores do Sorumbático, um conjunto de problemas com fósforos - v. [aqui]. Por seu lado, Antunes Ferreira propõe um passatempo com prémio relacionado com as dimensões de um livro - v. [aqui].

Há dias em que

Por Antunes Ferreira
MANUELA fechou, pensativamente, o livro, depois de assinalar o local de intervalo na leitura com o marca-páginas. Curioso: era publicidade de um laboratório de produtos farmacêuticos, a cartolina num azul forte e polido, os comprimidos revestidos branqueando, o nome em times bold a negro e o faz bem a em verdana itálico e vermelho. Chamativo.
Levantou-se, e iniciou o seu percurso de fuga e retirada, como dizia o avô Geraldo. Caminhou devagar, como se estivesse numa nuvem celestial de algodão branco contemplando o Filho. Não o dela, obviamente, mas o outro, de Maria. E, naturalmente, de harpa melodicamente empunhada.
Sorriu-se interiormente, sabia lá, a nível do ventrículo esquerdo, que nisto de teclados da parte de dentro nunca se localizavam com grande precisão. Quem sabe? Talvez com o sextante adaptado pelo Gago Coutinho, pelos idos de 1919, se bem se lembrava. A sôtora Miquelina, no Maria Amália, até lera um texto escrito pelo próprio inventor, em que se referia ao horizonte artificial ou algo assim.
(...)
Texto integral [aqui] - Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue Travessa do Ferreira.

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26.9.08

O sobretudo

ERA AMARELO-TORRADO, macio, leve e quente. No seu interior, uma discreta etiqueta garantia «100% caxemira». Caía a direito, depois de ligeiramente cintado, e, só por si, conferia distinção e estatuto a quem o vestisse. Era um belo sobretudo.
Para além da sua função protectora e calorífica, era um distinto tapa-misérias. Não importava o que se vestisse por baixo, nem que fosse um pijama de flanela às riscas, o sobretudo garantia ao seu dono o aspecto de quem vem dum elegante night-club, o ar de quem parte para uma selecta recepção numa embaixada, o porte de quem carrega sobre os ombros importantes decisões a tomar ou de quem conhece decisivos segredos de Estado.
Durante meses, namorara aquele sobretudo na montra da elegante alfaiataria que o oferecia ao mercado. Chegara mesmo a entrar, a tocar-lhe e a prová-lo, mirando-se frente ao espelho com pequenas piruetas e pondo uma perna à frente da outra, agora a esquerda, logo a direita.
(...)
Texto integral [aqui] - Esta e as «histórias» anteriores estão também em Histórias de Chorar por Mais

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Passatempo-relâmpago

Desafio: substituir os asteriscos por letras no seguinte texto:
********- *******, no seu famoso romance «*- ****- ******-**-**********», divulga alguns ditados portugueses pouco conhecidos, tais como: «Negro é o carvoeiro, branco é o seu ********»; «Dos inta para os enta, se não casa *********»; «A quem Deus não dá filhos, dá o Diabo *********».
O prémio, a atribuir ao primeiro leitor que responder a tudo correctamente, será um exemplar do livro cuja capa aqui se mostra.
Actualização (18h35m): o passatempo terminou. Ver comentário-6.

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900

Por João Paulo Guerra
Segundo contas do Diário de Notícias há 900 processos por corrupção pendentes em Portugal.
MAS O NÚMERO PECA certamente por defeito para uma estatística da criminalidade de colarinho branco em Portugal. 900 são os processos abertos e pendentes por corrupção. Há depois os processos entreabertos, os entrelinhas, os entreactos, os encobertos, os geralmente muito nublados, os nebulosos, os fechados, os engavetados. Em Portugal só não haverá processos por corrupção nos sectores da sociedade e do Estado que não foram convenientemente investigados.
E depois, corrupção é uma maneira de dizer. Porque há processos para todas as modalidades que a mente humana em geral, e a portuguesinha em particular, engendrou para meter a mão no saco do Estado e no bolso dos contribuintes: corrupção propriamente dita, peculato, participação económica em negócio, branqueamento de capitais, gestão danosa, prevaricação, fraudes, crimes fiscais, crimes de tecnologias informáticas. Para um cardápio completo seria questão de espreitar para baixo dos tapetes do Estado, que é para onde se varre a porcaria acumulada.
Infelizmente, as notícias perdem com muita frequência o rasto dos seus conteúdos. Pois seria muito interessante e educativo saber-se, daqui por uns tempos, o destino dos 900 processos por crimes económicos pendentes neste momento em Portugal. Quantos chegaram a julgamento? Quantos deram condenações? Quantos não deixaram rasto? Um dia terá que fazer-se uma memória das instituições criadas em Portugal para prevenir e combater a corrupção, da antiga Alta Autoridade cujos arquivos estão sepultados numa sub-cave da Torre do Tombo, ao futuro Conselho de Prevenção. E, já agora, uma estatística da sua eficácia.
«DE» de 24 de Setembro de 2008 - c.a.a.

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Humor Antigo - Ano de 1928 - 28ª

25.9.08

Vamos ser astronautas

Por Joaquim Letria
PELO QUE PERCEBI da vinda a Portugal do patrão da Virgin, que ora está falida, ora não está, Portugal vai fazer cá uma estação espacial. Ou seja, milhares de portugueses vão ser astronautas.
Penso eu que os primeiros deverão ser, entre muitos outros, os patrões daquela empresa de Barcelos cujos donos desapareceram e deixaram mais umas centenas de trabalhadores com salários em atraso e sem uma palavrinha de adeus ou de explicação.
Não tive ocasião de conversar com o Richard Branson, porque ele tinha ido ouvir o fado e falarem-lhe do “Allgarve” e da fábrica de aviões de Évora, mas tenho a certeza de que esses patrões de Barcelos até já estão em órbita, com muitos colegas, numa estação espacial que a Virgin vai reservar para filhos da mãe - portugueses sem cara, sem nome, sem vergonha, nem carácter. Vai ser aí que vão criar o caldo de cultura para os líderes do futuro da nossa bem amada Pátria!
«24 Horas» de 25 de Setembro de 2008

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Luz - XXIV

Fotografias de António Barreto - APPh
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Uma bela mancha de terrenos preparados para uma nova vinha. À volta, vêem-se os mortórios. (2007).
NOTA: estas fotos, juntamente com crónicas diversas do mesmo autor, estão também no seu blogue Jacarandá

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Touros de morte e tradição

Por C. Barroco Esperança
O FORAL DE BARRANCOS é um anacronismo que pôs fim ao folclore mediático que levava forasteiros e provocadores ao paupérrimo concelho alentejano. Com um golpe de rins tentou pôr-se cobro ao desafio à lei e justificar, com a tradição, um acto bárbaro. Foi uma decisão que desonrou quem a subscreveu.
Os touros de morte, tal como as lutas de galos, cães e outros espectáculos de violência, que estimulam a crueldade e põem em delírio indivíduos que encontram aí a forma de fazerem a catarse das suas frustrações, são um sinal de atraso civilizacional e um mau sintoma da saúde cívica de um povo.
A tradição é o argumento mais abominável que pode ser invocado. Desde as lapidações e vergastadas, que ainda hoje se aplicam sob os auspícios do Corão, até à violência doméstica nos lares cristãos e à pena de morte mantida com zelo evangélico nos EUA, todas as abjecções se podem justificar em nome da tradição.
A euforia com que na Idade Média se aguardavam os churrascos de bruxas e hereges ou o entusiasmo com que se compravam escravos, dá-nos ideia dos sentimentos perversos que a civilização reprimiu.
A morte do touro em Monsaraz, uma reedição da farsa de Barrancos, foi um sintoma do atraso de uma população mais medieval do que a encantadora vila alentejana.
Condescender com estes espectáculos bárbaros, estimular ou simplesmente ignorar este desafio à lei, é ser cúmplice da manutenção de tradições que nos envergonham como povo e nos aviltam como cidadãos.
Perante a reincidência destas diversões boçais e marialvas recordo-me sempre do turista que, antes da tourada, viu um sujeito a serrar os cornos a um touro e lhe perguntou: «também gostava que lhe fizessem o mesmo»?
NOTA: outras crónicas do mesmo autor encontram-se no blogue Ponte Europa.

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24.9.08

"Know-how"

Por Joaquim Letria
O SECRETÁRIO-GERAL DA NATO, Hoop Scheffer, é um democrata. A tal ponto que manifestou a sua esperança em que a Geórgia continue o caminho das reformas no sentido de poder vir a transformar-se numa democracia. Já não é mau.
Tenho amigos americanos a viverem de negócios do petróleo na Ossécia e na Abkásia, os quais, nos últimos anos, me têm contado histórias muito interessantes destas regiões em geral e da Geórgia em particular a não há Sicília, Catânia, Calábria ou Moscovo onde o crime e o seu domínio sobre a sociedade tenha atingido tão requintado desenvolvimento, a par duma região fisicamente de tanta beleza.
Desde o princípio dessas histórias que tenho grande curiosidade pela Abkázia e pela Ossécia e agora quero ver as carreiras dos três polícias portuguses que vamos mandar para lá, integrados numa força europeia. Decerto que vão recolher a última palavra do “know-how” da especialidade.
«24 Horas» de 24 de Setembro de 2008

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Humor Antigo - Ano de 1928 - 26ª
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23.9.08

Os democratas Brown e Mugabe

Por Joaquim Letria
GORDON BROWN ANDA NO ARAME a ver se não cai antes de Robert Mugabe no Zimbabwe, onde o escocês herdeiro da terceira via de Blair manifesta a sua democraticidade. Agora, que a Europa está quase a abichar o que quer e Mugabe já só tem 13 ministérios contra 15 do democrata Tsvangirai e outros três do dissidente Mutambara, parece que, afinal, o combatente pela independência já não é tão ditador como os 27 totós europeus diziam, fazendo o mesmo triste papel do que se seguiu à Declaração Unilateral de Independência ( UDI) de Ian Smith, que tanto assustou os democratas colonialistas europeus, principalmente por causa do “pipe-line” Beira-Umtali, a ligação petrolífera da antiga Salisbúria à colonial cidade moçambicana da Beira, que incomodava muito pouco os democratas europeus.
Quase 40 anos mais tarde ver outros europeus a fazerem o mesmo papel de palhaços, choca bastante. O circo já evoluiu muito…
«24 Horas» de 23 de Setembro de 2008

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«Acontece...» - Passatempo com prémio

Por Carlos Pinto Coelho

Clicar na imagem para a ampliar
Na imensidão marroquina, um pastor solitário e os seus animais. Se esta imagem for inspiradora de um texto criativo, isso pode valer um prémio (em livros, como sempre). O passatempo terminará às 20h de 29 Set 08.
NOTA: Esta fotografia, como todas as outras aqui afixadas em posts com o título genérico «ACONTECE...», é da autoria de CPC.
Actualização (CMR): ver a opinião do júri no comentário-10.

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Equinócio

Por Nuno Crato

NA PRÓXIMA [passada] SEGUNDA FEIRA, dia 22 de Setembro, tem [teve] lugar o equinócio de Outono. Todos sabemos do que se trata. É o momento que marca o fim do Verão e o começo do Outono; é a altura em que o Sol aparece tanto tempo acima do horizonte como abaixo dele. Os astrónomos definem-no de uma maneira precisa: é o momento em que o Sol nos aparece no equador celeste.
É uma data mais difícil de determinar do que parece. Não é verdade que tenha os dias exactamente iguais às noites. E entre dois equinócios não passam exactamente 365 dias, passa um pouco mais, passa quase um quarto de dia, que se recupera nos anos bissextos.
Há milhares de anos que o equinócio é um dia especial. O que significa que há milhares de anos que se sabe registá-lo. Se pensarmos bem, trata-se de um feito extraordinário.
Imagine que o leitor e um grupo de amigos naufragam e ficam uns anos numa ilha deserta. Imagine que pode escolher esses amigos entre as pessoas mais inteligentes e dotadas que conhece. Mas que não pode escolher nenhum que saiba astronomia. Nessa ilha deserta, sem relógios, sem calendários, sem telefone, sem televisão e sem Internet, tentem agora determinar o dia do equinócio. Imaginem que têm anos para o fazer e que podem ir fazendo experiências.
Os astrónomos da Antiguidade conseguiam detectar o equinócio com grande precisão. Não iam ao rigor do segundo, que hoje se consegue. Mas não se enganavam na data. Vestígios arqueológicos indicam que, mesmo antes da escrita, algumas civilizações também assinalavam os equinócios.
Podemos sugerir um processo ao alcance dos nossos naufragados. Ao longo dos dias, marquem as sombras projectadas por uma vara espetada verticalmente no solo; esperem pelo dia em que as sombras do nascer e do pôr do Sol se encontram exactamente na mesma linha recta. É o dia do equinócio. Os antigos seguiam este processo e alguns outros semelhantes.
Parece simples, mas tente o leitor fazê-lo. Verá que os problemas práticos são imensos: como colocar a estaca exactamente na vertical, como registar a sombra com o sol exactamente no horizonte, como fazê-lo dia após dia...
Este pequeno exercício de imaginação ajuda-nos a perceber que a astronomia antiga não era tão inútil e ingénua como por vezes parece — muita gente gosta de ironizar dizendo que antes de Copérnico nem sequer se sabia que a Terra orbitava o Sol; no entanto, o saber acumulado era imenso.
O exercício ajuda-nos a perceber uma outra coisa ainda: é totalmente desavisado esperar que as crianças descubram por si factos como estes. E é uma mistificação. São conhecimentos que parecem elementares, mas que representam muitos séculos de esforços pela compreensão do mundo. O ensino tem de ser a transmissão organizada e acelerada de conhecimentos. Quanto mais activa for a aprendizagem tanto melhor. Mas tem de ser, na melhor das hipóteses, uma redescoberta orientada. Nenhum jovem tem à sua disposição séculos para descobrir tudo por si.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 20 de Setembro de 2008 - adapt.

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22.9.08

A indemnização de Pinto da Costa

Por Joaquim Letria
O ESTADO FOI CONDENADO a pagar uma indemnização ao Sr. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, entendendo a sua detenção desnecessária uma vez que o próprio se apresentara o tribunal pelos seus meios e de livre vontade. Mesmo na dúvida da validade do mandado de detenção, a multa ao Estado é baixa para compensar a vítima da lamentável cena de polícias pimpões a empurrá-lo, depois de terem convocado jornalistas e chamado as televisões. Não são as três horas de detenção que são bem pagas. É a triste figura que organizaram para Pinto da Costa fazer, para o resto da sua vida, que não há dinheiro que pague.
Interessante como neste caso a mesma escumalha gostou e aplaudiu e no caso do Dr. Pedro Caldeira, o popular corretor financeiro preso na América pelo FBI, que o meteu no avião para Portugal na rota da absolvição, se mostrou tão condoída. Ele há coisas…
«24 Horas» de 22 de Setembro de 2008

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Que Deus a livre da ASAE!

Por A.M. Galopim de Carvalho
QUE DEUS A LIVRE A ELA, a dona Ivone (nome fictício), e a todos nós, fieis frequentadores da sua tasquinha, na mira gulosa do melhor choco frito da Península Ibérica. Nem os mais afamados calamares, de nuestros hermanos, comidos em Ayamonte, sempre que ia de férias para o Algarve, lhes ficam à frente.
Neste pequeno estabelecimento, ao estilo das mais humildes e velhas tabernas, entra-se por uma espécie de loja com um balcão ao comprimento da sala, atrás do qual esta nossa amiga confecciona, num fogareiro a gás, os petiscos que serve, ali mesmo, aos clientes que entram para beber um copo e confraternizar de pé. É também ali que lava copos e loiça, numa pia de lioz, com água fria a correr da torneira. Levantando uma parte do tampo do balcão, junto à parede, passa-se a uma sala interior, com apenas quatro pequenas mesas, forradas a oleado, e as respectivas cadeiras e bancos. Uma outra porta desta divisão dá para um minúsculo pátio a céu aberto, que é preciso atravessar para ir ao sanitário, um cubículo à moda dos avós, daqueles que se resumem a um buraco no chão.
(...)
Texto integral [aqui] - Esta e outras crónicas do mesmo autor estão também no seu blogue, Sopas de Pedra
*
NOTA (CMR): Sugere-se que a leitura desta crónica seja acompanhada pela de «Eles estão doidos!», [aqui], e «Eles estão doidos! (II) - Comentário aos comentários», [aqui], ambas da autoria de António Barreto.

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21.9.08

(...)
CONTINUANDO a divulgar a colectânea de textos «Sem Cura Possível», de André Brun, [aqui] fica mais um capítulo.

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A propósito da crónica anterior

A PROPÓSITO de poluição sonora e daquilo a poderíamos chamar «direito ao sossego» (v., [aqui], um comentário a esta crónica de António Barreto), aqui deixo duas fotos.
A da esquerda mostra uma carripana estacionada em permanência na Rua do Carmo, em Lisboa, e que debita, em volume generoso e de manhã à noite, fados, fados & mais fados. A foto estaria bem (mas não veio a tempo) para ilustrar a crónica «A Baixa sem Música» que Alice Vieira publicou [aqui].
A foto da direita mostra o café aonde eu ia todas as manhãs ler o jornal. Além de ser barato e o pessoal muito simpático, era o único, nas redondezas, onde se podia estar sossegado sem ter de apanhar com um dos programas da manhã das televisões. Mas, como se vê, o dono já resolveu o problema: arranjou uma elegante estrutura em cantoneira perfurada e prantou-lhe em cima uma toalha e uma televisão... Passe bem, pois!
NOTA: Ainda pior (pois daí não é tão fácil fugir) são as salas de espera dos hospitais, das clínicas e dos consultórios: há dias, fugi duma, fui para outra... mas em vão - a única possibilidade que me davam era a de poder escolher entre dois programas diferentes ("diferentes"?).

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Muzak...

Por António Barreto
AS FESTAS DE NATAL E DE FIM DE ANO são sempre um ponto alto numa das misérias mais nefastas dos séculos XX e XXI: o barulho! Televisões, rádios, buzinas de carros, altifalantes nas ruas, árvores de Natal sonorizadas, foguetes, apitos de toda a espécie: as forças do mundo unem-se neste propósito desumano e incompreensível que é o de fazer barulho. Como se este fosse uma expressão da alegria, um sinal de felicidade ou um sintoma de satisfação. Como se os decibéis fossem a medida exacta do bem-estar! Não há canto e recanto que escape. Casas particulares, comércios, ruas, alto das montanhas, monte alentejano e escarpa duriense: em todo o sítio chega o barulho da festa, a estridente manifestação de que alguém está vivo e pretende assinalar a todos a sua condição. Ainda não percebi exactamente se as pessoas têm medo de passar desapercebidas, se querem afugentar o diabo que trazem nelas ou se simplesmente querem dar nas vistas. Uma coisa é certa: fazem barulho. Ou não se importam que outros o façam. Tem-se a impressão de que um indivíduo tem receio da solidão e do silêncio. Que já não quer ouvir os ruídos naturais da vida, nem sequer ser ouvido. Que a própria voz humana é incómoda.
(...)
Texto integral [aqui].
Esta e outras crónicas do autor estão também no seu blogue, o Jacarandá

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19.9.08

Comunas e burguesia

Por Antunes Ferreira
PRONTO. O Presidente do Governo Madeirense afirmou ontem no Funchal que Portugal está a viver «em cima de uma panela de pressão». E disse mais. De acordo, ainda, com a Comunicação Social, Alberto João Jardim acentuou: «Isto tudo é de uma grande irresponsabilidade», tendo considerado como sendo facto «insólito, em qualquer democracia europeia», que em Portugal as sondagens recentemente publicadas indicarem que há «uma intenção de voto de 20 por cento nas organizações comunistas todas somadas». O que, para ele, Jardim, «é impensável em qualquer país da União Europeia». Assim, disse ainda «um em cada cinco eleitores está disposto a votar no partido comunista».
O governante madeirense opinou também que enquanto se assiste a este cenário «a burguesia portuguesa, com a sua tradicional incultura, acha que está tudo bem, que os direitos sociais dos trabalhadores podem continuar a ser violados, porque o que interessa é ganhar dinheiro e que o mercado continue a funcionar selvaticamente».
(...)
Texto integral [aqui]
NOTAS: blogue do autor: Travessa do Ferreira; cartoon cedido por Sergei

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O que se pôde arranjar...

Humor Antigo - Ano de 1928 - 20ª
UM DIA DESTA SEMANA, foi notícia o facto de os Serviços de Urgência, em Odemira, estarem a ser garantidos por um médico dentista.
Como não podia deixar de ser, a senhora ministra da Saúde, entrevistada pela TV, desvalorizou o problema (se é que problema havia...), chamando a atenção para o facto de «o clínico, antes de ser dentista, ser médico». Deu, assim, o assunto por encerrado - e foi pena, pois podiam ter-lhe perguntado como reagiria ela se fosse parar a esses serviços...

Passatempo-relâmpago

Caos, lixo e biomassa
Será premiado, com um exemplar do livro «Cidade Escaldante», de Chester Himes, o primeiro leitor que responder correctamente à seguinte pergunta-dupla: em que cidade e em que local (parque, praça, praceta, beco, travessa, rua ou avenida) foi tirada a foto que aqui se vê?
Cada leitor poderá dar uma única resposta (dupla), que não deverá ser na forma interrogativa.
Comentário: reconheço que os moradores na cidade em causa estarão em vantagem neste pasatempo. Mas, que diabo!, sendo eles obrigados a viver no meio destas realidades (que, além de tristes e vergonhosas não dão quaisquer mostras de melhoria), será demais compensar uma dessas vítimas com um livrito?
Actualização (15h50m): o passatempo terminou; ver comentário 15.

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18.9.08

Esmolas

Por João Paulo Guerra
Portugal recebeu 12,5 milhões de euros da União Europeia para matar a fome aos seus “carenciados” e com esse dinheiro vai comprar alimentos para distribuir por instituições de solidariedade. E assim vai a coesão no espaço europeu e em Portugal.
BEM SE SABE QUE HÁ POBRES e pobreza que não podem esperar pelos efeitos de políticas e reformas e que a fome dos muito pobres exige uma resposta imediata. O que é extraordinário é que duas décadas e muitos triliões de euros depois da integração europeia Portugal precise de estender a mão à caridade dos parceiros para socorrer um quinto da sua população.
Há países da União que tinham economias bem mais atrasadas que aquela que Portugal apresentava nos anos 80, que passaram entretanto por crises financeiras e apertos orçamentais, mas que ultrapassaram os problemas. A Irlanda e a Finlândia, países tantas vezes aludidos quando se trata de prometer este mundo e o outro, perceberam que melhor que dar esmola aos pobres é dar-lhes formação para o futuro. Hoje estão milhas à frente do Portugal que, tal como dissipara o ouro do Brasil, malbaratou os fundos de Bruxelas e hoje pede esmolas. Ou seja: em alguns países europeus os fundos estruturais foram investidos para criar riqueza; em Portugal foram distribuídos para fabricar “ricos” num país desigual. A questão é que a educação, o sucesso escolar, a formação não são susceptíveis de ser inaugurados para efeitos mediáticos. Mas o betão, mesmo com derrapagens e obras a mais, isso sim.
Portugal, país do primeiro-mundo rico, tem hoje dois milhões de cidadãos que necessitam de ajuda alimentar. Com a persistência da política anti-social, mitigada por esmolas, daqui por uns anos terá três milhões.
«DE» de 19 de Setembro de 2008 - c.a.a.

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ESTAMOS FARTOS DE VER, na TV, cenas de assaltantes que são filmados por câmaras de vigilância sem que isso pareça desmotivá-los nem adiantar muito para efeitos de captura. A mim, já me roubaram a carteira no interior de uma dependência bancária com vídeo-vigilância, e quando apresentei queixa vim a saber que estava desligada - porventura seguindo o exemplo dos nossos tribunais (mas, nestes, "a culpa é do governo anterior").
Pois bem; para evitar esses e outros problemas (como represálias. p. ex.), não há nada como instalar as câmaras da forma inteligente que a foto documenta...
NOTA: esta imagem faz parte de um conjunto de 12 que se pode ver [aqui].

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O "Blogger" enlouqueceu?!

Hoje, o Blogger deu-lhe para atribuir a mesma hora aos posts (9h03m a todos, incluindo ESTE). Como se fosse pouco, ainda está a virar de pernas para o ar a ordem de afixação de alguns! No entanto, isso não sucede só neste blogue. Alguém sabe o que se passa?!

As eleições presidenciais dos EUA

Por C. Barroco Esperança
APÓS DOIS MANDATOS de George W. Bush, a eventual eleição de McCain é aterradora. Depois de um presidente que invadiu o Iraque por ordem divina, indiferente à verdade e ao direito internacional, talvez sequelas do alcoolismo, conviria alguém com cultura e sensibilidade para usar o imenso poderio militar e económico dos EUA a favor da paz.
Quando se esperava que a demência dos neoconservadores fosse punida nas urnas e os democratas reiniciassem um período civilizado de relacionamento com a Europa e de respeito pelos outros povos, sem ameaças à Rússia nem apoio incondicional a Israel, eis que a América rural e beata viu na inculta Governadora do Alasca a versão feminina de Dick Cheney, para persistir na tragédia dos republicanos ligados ao petróleo e à oração.
Se o senador McCain for eleito e o Senhor servido de o chamar à sua divina presença, e se algum azar ou interesse particular lhe reservar o destino de Kenedy, os EUA terão a primeira mulher presidente e o mundo razões para ter medo.
Já alguém se deu conta do que seria uma apaixonada por armas, a mulher que à leitura de um livro prefere uma caçada, a criacionista convicta e militante, à frente dos EUA?
A entusiasta da pena de morte, contrária ao aborto nos casos de violação e incesto, pode tornar-se presidente dos EUA por acaso da sorte e vontade do eleitorado que demorou a detestar Bush mas, distraidamente, lhe pode prolongar a política.
É difícil prever as consequências do colapso financeiro em curso e dos desmandos do liberalismo económico nas próximas eleições, mas os ventos republicanos semearam tempestades de efeitos imprevisíveis. Bush já ultrapassou largamente Hugo Chávez na dimensão das nacionalizações a que procedeu. E como as abominava!
NOTA: Esta e outras crónicas do mesmo autor encontram-se em Ponte Europa.

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APARENTEMENTE, o enunciado deste problema é tonto: se o Fernando sabe o preço do livro e (ao que parece) tem o dinheiro na mão, porque é que precisa de fazer contas (somas e subtracções em que entra o dinheiro da irmã - para já não falar no sistema de duas equações a duas incógnitas!) para saber se tem que chegue para fazer a compra?!
Independentemente dessas considerações, o Sorumbático oferece um livro infanto-juvenil ao primeiro leitor que apresente a solução do problema, dando a justificação sob a forma algébrica - qualquer coisa como: «Seja "f" o dinheiro que o Fernando tem; seja "i" o dinheiro que a irmã dele tem», etc.
Actualização (15h05m): o passatempo terminou. Pede-se a Bruno Santos que, nas próximas 24h, escreva para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio do prémio.

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Carlos Queirós

Por Joaquim Letria
ESTOU MUITO FELIZ com o Carlos Queirós a comandar a selecção. Antes de mais, sabe quem joga, onde joga, como está a jogar e o jeito que dá à equipa de todos nós. Não é como aquele brasileiro que passou por cá que emprenhava de ouvido, tinha gente a espiar jogadores e ganhava porque estava condenado a isso, apesar de nunca ter estado perto do que fez o Otto Glória, nem o Fernando Cabrita, nem o Humberto Coelho. Bom, e também não fez nada parecido do que Queiroz fez com os nossos miúdos!
Depois, Queiroz tem outra virtude: não vem com a história do “mata”,”mata”, nem com o tudo ou nada, bandeirinha na barguilha!
Queiroz reduz o futebol à sua verdadeira proporção. E põe os rapazes a jogarem melhor. Não é “Lá para dentro e ai de vocês se não comem relva”!
Com os anos de Portugal e os rublos no sapatinho para ir passar o natal ao Brasil saiu-lhe a sorte grande. Vão ver se não acaba por vir viver para cá!
«24 Horas» de 18 de Setembro de 2008

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Luz-XXIII

Fotografias de António Barreto - APPh
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Homens aos cestos - Depois de despejadas as uvas nos lagares, os homens regressam às vinhas para recomeçar. Cada cesto tinha entre 60 e 70 quilos de uvas. A subir e a descer os montes e os socalcos, a caminhar em cima das pedras de xisto a arder, tudo isto com 30 ou 40 graus de calor e durante alguns quilómetros, era um enorme esforço! À noite, estes mesmos homens ainda iam fazer duas ou três horas de pisa de uvas, a pé, nos lagares. Todas estas imagens passaram para a literatura turística, sendo geralmente estes homens representados com um imenso sorriso! Pareciam levitar de prazer e folclore! Na verdade, tratava-se de um dos mais penosos trabalhos que se fez na agricultura de qualquer parte do mundo! Hoje, já quase não se repete esta cena. Os “cestos” são muitas vezes de plástico e com menos de trinta quilos. Entre as vinhas, tractores ou camionetas esperam pelas caixas, já não é necessário aquele calvário! (1979).
NOTA: estas fotos, juntamente com crónicas diversas do mesmo autor, estão também no seu blogue Jacarandá

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17.9.08

“Best seller” japonês

Por Joaquim Letria
OS JAPONESES entre os 20 anos de idade e os 40 estão a ler um livro como há muito não acontecia: “The Crab Ship” (“O navio dos caranguejos”) escrito em 1929 por Takiji Kobayashi, um jovem escritor torturado até à morte em 1933 por causa deste e de outros escritos.
Nas duas últimas semanas “The Crab Ship” vendeu meio milhão de exemplares e a tendência é para subir exponencialmente.
O que causa surpresa é o livro ser uma história completamente marxista que conta um motim a bordo dum barco de pesca cujos pescadores eram forçados a trabalhar em condições infra humanas em 1929, até que se organizam e criam um sindicato.
Curioso como fenómenos idênticos a este, que sucede com o livro de Kobayashi, se repetem um pouco por todo o mundo onde a miséria e o desemprego crescem assustadoramente. Menos por cá, evidentemente, onde o “O Lugre” e outras peças de Bernardo Santareno… parecem mal.
«24 Horas» de 17 de Setembro de 2008

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O argumento da honra

Por Baptista-Bastos
A ÉTICA REPUBLICANA iluminava as virtudes do carácter e a grandeza dos princípios. As revoluções, idealmente, não são, apenas, alterações económicas e substituições de regimes. Transportam a ideia feliz de modificar as mentalidades. Essa mistura de sonho e ingenuidade nunca se resolveu. A esperança no nascimento do "homem novo" não é exclusiva dos bolcheviques. O homem das revoluções jamais abandonou o ideal de alterar o curso da História e de modelar os seus semelhantes à imagem estremecida das suas aspirações.
É uma ambição desmedida? Melhor do que ninguém, respondeu Sebastião da Gama: "Pelo sonho é que vamos/comovidos e mudos./Chegamos? Não chegamos?/Partimos. Vamos. Somos." A ética republicana combatia a sociedade do dinheiro, da superstição religiosa, da submissão, e pedia aos cidadãos que fossem instrumentos de liberdade. As "raízes vivas", de que falou Basílio Teles.
(...)
Texto integral [aqui]

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16.9.08

Portugal para turistas

Foto obtida [aqui]
Por Alice Vieira
NEUZA TEM 23 ANOS, nasceu em Brasília, onde vive com um namorado português, meu amigo, que lhe prometeu mostrar a pátria assim que pudesse.
Caíram-me há dias no colo.
Traziam no corpo mais de dois mil quilómetros em estradas portuguesas, e agora ela queria conhecer Lisboa.
“Tenho um almoço de negócios”, disse-me ele ao telefone, “podes tratar dela esta tarde?”.
Nunca fui grande cicerone, ainda por cima agora, que um vírus qualquer anda a fazer-me a vida negra, provocando-me tantas dores no corpo e um tal cansaço que parece que passo dias inteiros na estiva.
Mas não podia dizer que não, e lá fui apanhar a Neuza à esplanada da Brasileira – completamente fascinada pelas pessoas, pelo bacalhau, pelos pastéis de nata, pelos ovos moles, pelos palácios, pelas caves de vinho do Porto.
(...)
Texto integral [aqui]

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O magistrado e a candonga

Por Joaquim Letria
PARECE QUE A ASAE deitou a mão a um magistrado que no intervalo de pedir condenações gravosas para pequenos delinquentes e mãos pesadas para todos os que não cumpriam a lei, se dedicava ao mercado negro de bilhetes na candonga. Verdadeiro empreendedorismo na justiça!
O senhor teria comprado bilhetes para o concerto da Madonna por 70 euros e estava a vendê-los por 450!
A sociedade é muito injusta! Por um lado, passam a vida a dizer-nos “organizem-se, façam a sociedade civil funcionar, mostrem iniciativa, não sejam subsídio-dependentes! Montem negócios rendosos!”
Depois, um magistrado faz uma pequena fuga ao fisco, é ligeiramente fraudulento e leva pela medida grande. Então um procurador-geral adjunto da república a vender bilhetes na candonga como os professores da Universidade que vendem sebentas é algo extraordinário?!
Moral da história: ou pedes penas de cadeia para ciganos, ou te juntas a eles...
«24 Horas» de 16 de Setembro de 2008

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O Fim dos Dinossauros

Por Manuel João Ramos*

QUE O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA tenha sido eleito por um em cada nove lisboetas não é normal. Que o seu grupo de vereadores tenha poder de planear e gerir projectos tão estruturais como a terceira travessia do Tejo, a frente ribeirinha, urbanizações e reabilitações de vastas áreas do território da cidade é quase um golpe de estado.
É urgente que um ciclone varra a classe política instalada, que uma tempestade curte-circuite o espectro partidário, que uma onda gigante leve os maçons para França, os opus dei para Itália, o compadrio para a Sicília e as cunhas para Espanha (cuña = berma).
A população portuguesa está-se nas tintas para o socialismo, borrifa-se para a social-democracia, marimba-se para a democracia cristã, considera o comunismo uma anedota, e o bloquismo de esquerda uma espécie de loja do canhoto.
(...)
Texto integral [aqui]
* Cidadão de e por Lisboa

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NO MEIO DE TANTAS, há sempre uma velha anedota que pode ser usada para comentar qualquer coisa. Esta, do arquivo Humor Antigo, ano de 1928, vem a propósito do post anterior, pois documenta a fé no poder protector das ferraduras (ou antes pelo contrário, se elas ainda tiverem um ou dois cravos agarrados...)
*
Actualização: quem concebeu esta anedota partiu do princípio que o supersticioso é o calceteiro rural, por oposição ao citadino, a quem, a priori, atribui um espírito mais racional. Quanto a isso, só posso dizer que conheço pessoas altamente cultas (e licenciadas) que padecem das mais espantosas superstições. Se falarmos com elas sobre o assunto, reconhecem a irracionalidade do seu comportamento, mas - dizem - é mais forte do que elas.

O buraco negro e a aposta de Pascal

Por Nuno Crato
AINDA AQUI ESTAMOS? Sim, eu pelo menos ainda aqui estou... ou estava, quando acabei de escrever este artigo. E se o leitor o está a ler é porque ainda aqui está, neste nosso mundo, apesar dos avisos catastróficos dos que diziam que o LHC iria criar um buraco negro que engoliria a Terra e todo o sistema solar.
De onde surgem estes medos? Por que razão sempre que a ciência avança há quem queira fazer-nos retroceder às superstições dos tempos das cavernas?
Quem menos ajuda a compreender o fenómeno têm sido algumas corrente antropológicas e sociológicas que identificam conhecimento e superstição — seriam tudo crenças impossíveis de provar de forma absoluta — e chegam a dizer que a ciência é uma construção social como outra qualquer, portanto entre crendice e conhecimento científico haveria apenas uma distinção de grau, se é que existiria alguma.
O LHC está de pé para provar a diferença. A superstição jamais conseguiria construir um aparelho tão perfeito, tão bem pensado e com tanto sucesso. A ciência constrói modelos teóricos e testa-o com os factos. Usa a razão e a dúvida sistemática. Confronta as previsões teóricas com as observações. Usa a experimentação e submete-a à análise estatística. Constrói.
(...)
Texto integral [aqui]
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Pergunta para passatempo (o prémio é um exemplar deste livro, oferta da Gradiva): «Qual a 1ª letra da 1ª palavra do 1.º parágrafo do 1.º capítulo do livro?». O vencedor será o leitor que, até às 20h de 17 Set 08, mais se aproximar da resposta certa, considerando-se a ordem alfabética das 26 letras de A a Z. Cada leitor poderá dar uma única resposta. Actualização (11h50m): o passatempo terminou, pois a resposta certa já foi dada.

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15.9.08

“Mamma Mia”

Por Joaquim Letria

QUANDO ERA ADOLESCENTE a minha família queria ver a Cid Charisse, a Ginger Rogers, o Fred Astaire, a Esther Williams e eu queria a Silvana Mangano, a Anna Magnani, o Vittorio Gassmann. O meu avô dizia-me: “Oh filho, para chatice já basta a vida!”. E eu zangava-me!

Pois hoje venho fazer a apologia dum filme recomendável a adolescentes e idosos, segundo verifiquei pela frequência da sala repleta de gente feliz onde o vi.

Refiro-me a “Mamma Mia”. Não via Meryl Streep a cantar como ela sabe desde “Postcards from the edge”. Nunca achara graça a Pierce Brosnan em nenhuma história de John Le Carré ou de Ian Fleming, e ele foi sempre impecável, nunca liguei aos “Abba”. Pois bem, juntem tudo isto e vão ao cinema. São duas horas sem pensar em filhos da mãe, nas leis do Sócrates, no “car jacking”, nos tribunais, nas taxas de juro, no desemprego dos filhos, e sorrimos sem ter de ouvir piadas ordinárias. O meu avô tinha razão: para chatice basta a vida!
«24 Horas» de 15 de Setembro de 2008

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Convite

Quinta-feira, 18 Set 08 - 20h - Museu de Cáceres
Exposição "Propuestas/Propostas"
Fotografia de Carlos Pinto Coelho

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14.9.08

Pontapés na Lógica

Por A. M. Galopim de Carvalho

Aristóteles
OS QUE TIVERAM O PRIVILÉGIO DE ESTUDAR, aprenderam que a lógica é o ramo da filosofia que ensina a pensar correctamente na busca séria do conhecimento. Aprendemos ainda que foi Aristóteles, no século IV a. C., o introdutor desta metodologia do pensamento da Grécia Antiga, o mesmo que ainda regula as nossas vidas. A lógica é, pois, como que a ferramenta do pensador. Conta-se que um jovem curioso de saber se dirigiu a este que foi discípulo de Platão, e mestre de Teofrasto e de Alexandre, o Grande, dizendo-lhe que queria aprender com ele coisas sobre animais e invertebrados. Como resposta, o estagirita (que também foi naturalista e quem primeiro dividiu os animais em vertebrados e invertebrados) ter-lhe-á dito, complacente:
- Meu jovem, a tua frase conduz a um erro grave, posto que, logicamente, pressupõe que os invertebrados não são animais. E a verdade é que são. As formigas ou os mosquitos são tão animais como os cavalos ou os cães.
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Texto integral [aqui]
NOTA (CMR): Esta e outras crónicas do mesmo autor estão também no seu blogue, Sopas de Pedra.

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CONTINUANDO a divulgar a colectânea de textos «Sem Cura Possível», de André Brun, [aqui] fica mais um capítulo.

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Luz-XXII

Fotografias de António Barreto - APPh
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Torres do World Trade Centre, Nova Iorque - Vi-as pela primeira vez no início dos anos setenta. Voltei lá várias vezes. Eram magníficas de leveza e transparência. No terraço de uma delas, passei horas a ver a cidade. O seu derrube foi, em si, um acto criminoso. Sem falar, evidentemente, nas pessoas e no terror. Fez agora sete anos! Estas imagens datam de 1978. A enorme tapeçaria do Miró estava exposta à entrada de uma das torres. As suas cores davam alegria a todo o edifício. Ao contrário do que se diz, nunca pensei que estas torres fossem o símbolo e o orgulho do capitalismo. Essas características vão muito melhor com outros edifícios, em especial a torre da Chrysler. Se estas poderiam simbolizar alguma coisa, na sua pureza de linhas e formas, era muito mais a ciência e a tecnologia modernas.
NOTA: estas fotos, juntamente com crónicas diversas do mesmo autor, estão também no seu blogue Jacarandá

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