31.10.12

Apontamentos de Lisboa

EM relação ao eixo viário Av. da República / Av. Fontes Pereira de Melo pode considerar-se, com um pouco de imaginação, que a Praça do Saldanha tem 4 cantos principais, cada um deles com um edifício emblemático (lembram-se do Monumental?).
Pois bem;  3 deles já foram 'remodelados'. O 4.º, do canto noroeste (que se vê na imagem inferior - devoluto), já está preparado para, em termos arquitectónicos, se juntar à família.

CDS: Um Paulo de 2 bicos

Por João Paulo Guerra 
O CDS, simples ou com PP, tem uma longa história a derrubar governos de coligação, derrubando-se a si próprio. Foi assim com o Governo PS/CDS, quando a propósito do SNS o Prof. Freitas tirou o tapete ao Dr. Soares; foi assim no Governo Balsemão quando, a pretexto de uns resultados autárquicos, o CDS deixou o primeiro-ministro a falar sozinho.
No longo consulado do cavaquismo, não podendo deitar abaixo governos, Paulo Portas deitou ao chão vários ministros, nas páginas de O Independente. E nos tempos da liderança do Prof. Marcelo, um novo projeto de coligação tipo AD abortou por efeito de uma ‘vichyssoise’ e de uma entrevista na SIC.
O Governo Durão não deu tempo para nada. Mas quando o Governo Santana foi apeado, com motivo na sucessão de “episódios” aos quais o CDS/PP e o respetivo líder não foram de modo algum alheios, a maioria via-se constantemente envolvida em zangas e reconciliações de opereta. Exemplo: Correio da Manhã, 16 de Novembro de 2004 - Os líderes do PPD e do PP almoçaram ontem “em segredo”, para sanar as feridas abertas na coligação pelo Congresso do PPD/PSD. As fotos do almoço em segredo, no restaurante BBC, que se prolongou por toda a tarde, vêm no 1ª página do Diário de Notícias.
Agora com o Orçamento foi o que se viu: um silêncio ensurdecedor. E à refundação de Passos Coelho, Paulo Portas interpôs a "proactividade" com a Troika. Mais uma manivela para o realejo. Quanto às autárquicas é o que se verá. Mas começa bem, com o CDS a roer a corda da ponte que Menezes lança para a outra margem. Do Rio. 
A tempo - Os jornais de quarta-feira confirmam a previsão de terça: O primeiro dia da discussão parlamentar sobre o Orçamento ficou marcado pela reforma do Estado (Diário Económico); Foi a refundação e não o Orçamento que dominou o debate parlamentar (jornal I).
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In "Diz que é uma espécie de democracia"

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Furacão arrasa discurso político

Por Ferreira Fernandes 
COM o furacão Katrina, em 2005, no início do segundo mandato, George W. Bush mostrou-se incapaz de liderar o país num momento de desgraça. Houve tempo para ele ser julgado politicamente pelo descaso com que tratou a Federal Emergency Management Agency (FEMA), a agência nacional que coordena os desastres. 
Nas eleições de 2008, McCain apanhou por tabela pelos erros do seu colega republicano e Obama foi eleito um pouco graças ao Katrina. 
Menos poderoso mas mais oportunista, o furacão Sandy decidiu atacar a uma semana das eleições. Também ele influenciará a votação? O julgamento em tempo tão curto é aleatório, o que é certo é que ambas as campanhas vão servir-se de Sandy. 
O jornal New York Times fez um editorial em que lembra palavras pouco cautelosas, ainda há poucos meses, de Mitt Romney. Perguntado se a coordenação nacional dos desastres, a tal FEMA, deveria ser descentralizada, Romney foi claro: "De cada vez que se passa alguma coisa do governo federal para os estaduais, vai-se na direção certa, e se puder ir-se mais longe e passar para o setor privado, ainda melhor." Quer dizer, ironiza o jornal, "no combate ao furacão Sandy, não só cada estado deveria estar por sua conta, como as empresas privadas fariam melhor o trabalho...". 
O New York Times já declarou o seu apoio a Obama e o seu editorial deve ser lido tendo isso em atenção. Mas nada como um bom furacão para estilhaçar os absurdos do discurso do estado mínimo.
"DN" de 31 Out 12

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Este homem é perigoso

Por Baptista-Bastos
PEDRO Passos Coelho gosta de dizer coisas. Já se sabe. Poucas vezes, porém, as diz acertadas. Há, neste homem envelhecido, acabrunhado e notoriamente consumido, a revelação subjacente de que se envolveu num labirinto cujo término ignora. As políticas que desenvolve, com desvios, evasivas, recuos, imperfeições, criam desesperos, angústias e perplexidades. Completamente desorientado com o rumo dos acontecimentos que não domina, descobriu, nas jornadas parlamentares do PSD-CDS, o verbo "refundar", e originou não só o pasmo nas suas hostes como a perturbação nas de António José Seguro. 
Marcelo Rebelo de Sousa explicou a natureza do erro e a dimensão do tolejo político. Passos, incisivo e fatal, declarou que a "refundação" do protocolo de ajustamento com a troika nada tinha a ver com "renegociação"; é outra coisa. Mas não explicou a natureza das suas elucubrações. Os participantes nas jornadas saíram em silêncio, entreolhando-se, porém, com a farpa da dúvida cravada no ânimo. "Ele parece lelé da cuca", disse alguém. 
Estamos entregues às insuficiências de um homem que baralha tudo e que presume enganar os outros com atropelos semânticos. O nosso cansaço advém de já termos compreendido que a inépcia de Passos Coelho não é uma escolha entre contradições, sim um processo mental complicado, pela obstinação no erro e pela recusa em o admitir. 
Alguém de recta consciência e no perfeito domínio das faculdades elementares pode apoiar e sustentar o representante de uma ideologia que, sem pudor, já se não esconde nem sequer se dissimula? A sociedade, transversalmente, critica, execra e até expele, com insultos nunca vistos e ouvidos, este Executivo; e o dr. Cavaco (também objecto de escárnio e maldizer) cala-se, admitindo a redução da democracia ao funcionamento processual. O descalabro associa-se à pouca vergonha. 
O poder já não dispõe de suporte legítimo porque espezinhou as delegações sociais, políticas e morais que lhe foram atribuídas. Ainda não há muito se dizia que um "governo celerado" era o que desdenhava da própria qualidade das pertenças mútuas. Os conflitos de valores inultrapassáveis, que dilaceram a nação e nos transformam em títeres de uma experiência maléfica, irão resultar em que confrontos imprevisíveis? A responsabilidade do caos só pode ser atribuída ao dr. Cavaco. Já lhe dissemos que não queremos esta gentalha. Então? Por muitíssimo menos, Jorge Sampaio escorraçou Pedro Santana Lopes. 
A "refundação" do protocolo de ajustamento não é uma falácia: corresponde a uma manobra sórdida, que repõe a questão do poder e da liberdade, entre a pluralidade das escolhas e os ínvios atalhos da "inevitabilidade." Atentemos nas evidências: Pedro Passos Coelho não é aquele sujeito afável que se apresentou aos costumes. É perigoso, e cada vez mais, quando se lhe avizinham as tormentas.
"DN" de 31 Out 12

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30.10.12

Justos e Pecadores

Por Joaquim Letria
HÁ POUCO mais duma semana, seis cientistas e um representante do Governo foram condenados a 6 anos de cadeia por terem tentado tranquilizar as populações de L’Aquila, pedindo-lhes que não entrassem em pânico por causa duma onda de sismos que se fez sentir naquela região de Itália em 2009. Mas pouco depois, a 6 de Abril desse mesmo ano, um terramoto destruiria ali povoações e mataria um total de 309 pessoas.
Aqueles que aprovaram edifícios que não foram construídos pelas regras anti-sísmicas obrigatórias,  não foram sequer julgados. Mas meia dúzia de cientistas que participaram numa reunião com o representante do Governo e concordaram em dizer que uma série de sismos não antecedem, necessariamente, um terramoto sempre imprevisível, foram achados culpados e condenados a prisão efectiva.
Os geólogos foram ingénuos ao darem o seu nome e a estarem presentes num evento mediático organizado  para tranquilizar a população assustada. Principalmente, ao nem terem sequer controlado os termos do comunicado final que agora os inculpou.
Não comento a incongruência da sentença, cujo acórdão desconheço. O mal vai ser, de futuro, os cientistas recusarem-se a dar opiniões sobre fenómenos que não podem prevenir. O bom é que, daqui em diante, os cientistas  se mostrem mais independentes do poder político, qualquer que este seja. 

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Os “filhos-da-curta”

Por A. M. Galopim de Carvalho
QUEM ANDA pela rua, nos supermercados, nos transportes públicos, ouve a toda a hora dizer que estamos a voltar aos tempos do antigamente.
- Mas há uma diferença substancial. – Dizia-me um reformado, meu vizinho de longa data. – Agora vivemos em democracia, podemos falar e escrever o que nos vai no pensamento, sem receio de “ir dentro”. Não há tribunais plenários, nem presos políticos. Podemos fazer manifestações de rua e as forças policiais não perturbam os manifestantes e só actuam contra meia dúzia de provocadores a mando de quem a gente não sabe nem sonha. No “tempo da outra senhora” havia bufos por todo o lado. Não podias abrir a boca. Comias e calavas. (...)
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O Papa abençoa a zona de conforto

Por Ferreira Fernandes 
MUITOS séculos a proclamar a importância do Verbo dão nisto: conhecer o valor das palavras. 
Ontem, o Papa Bento XVI, depois de referir a importância do direito a emigrar - que é poder partir porque se quer - lembrou: "Não emigrar é um direito fundamental." 
Regressado de peregrinações recentes ao Médio Oriente, onde as comunidades cristãs são empurradas, obrigadas a sair, o Papa, além desse drama, falou também da emigração por causas económicas e sociais, desse "calvário para sobreviver, onde homens e mulheres aparecem mais como vítimas do que como responsáveis pela aventura da emigração". 
No discurso, atente-se à repetição da palavra "direito". Direito a emigrar, direito a não emigrar. Os direitos exercem-se ou não, conforme a vontade do sujeito da ação, do homem que aqui interessa: aquele que parte, porque quer, ou fica, porque quer. Aos outros não cabe meter o bedelho nessa decisão. 
Claro que estas palavras sábias de Bento XVI, se ditas há um ano, teriam poupado ao nosso primeiro-ministro um erro de comunicação notório. Não recear ir para fora da sua zona de conforto, olhar a vida de peito feito, querer partir, é decisão individual. Quem a pondera pode estar disposto a ouvir conselhos de um amigo. De um chefe de Governo, ouvir a sugestão de que parta, soou-lhe a não sei o quê. Agora, já sabe, disse o Papa: é tentativa de violação do seu direito a não emigrar. 
Resumindo, emigrar, alguns gostam, empurrados, ninguém.
"DN" de 30 Out 12

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Os "rankings" das escolas

Por Maria Filomena Mónica                      

OS JORNAIS publicaram recentemente as listas de rankings, ou seja, a ordenação das escolas segundo as notas obtidas pelos estudantes. À cabeça, surgem as privadas, o que nos pode levar a pensar que os seus docentes são melhores do que os das públicas. Erro: o êxito académico não depende apenas do que se passa dentro das instituições, mas de uma multiplicidade de factores, de que a origem social, associada à localização, é um dos mais importantes. Basta lembrar que, por hora, os filhos dos ricos são expostos a mais 1.500 palavras do que os dos pobres, o que leva a que, aos 4 anos, exista já uma diferença, a favor dos primeiros, de cerca de 32 milhões de palavras.
Uma vez que as públicas têm de cobrir o território nacional, as do interior exibem elevadas taxas de insucesso. A secundária de Portalegre não conseguiu uma única média positiva; na da Guarda, três das cinco melhores escolas não conseguiram atingir os 10 valores; na freguesia de Rabo de Peixe, na ilha de S. Miguel, verificaram-se, no exame do 9.º ano, as piores classificações do país. O Presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares lembrava que, em vez de se concentrarem no lugar nos rankings, os docentes se deviam preocupar antes com «a mais valia» que as escolas traziam aos alunos, após o que, com razão, salientava que nada é uma fatalidade, ou seja, que mesmo os alunos desfavorecidos podiam alcançar bons resultados. Era esse o caso das Escola Básicas de Rio Caldo (Braga), Dr. Manuel Magro Machado (Portalegre) e Couço (Santarém) que, nos exames de Matemática e de Português do 9ª ano tinham subido mais de mil lugares.
Felizmente, as leis sociológicas não são férreas. Não foi em Lisboa que as melhores notas foram obtidas. No universo das públicas, destacaram-se a B+S de Vila Cova (Barcelos), com a média mais alta do país em Matemática A (142,55) e a Secundária da Gadanha da Nazaré, com a mais elevada nota em Geometria Descritiva (178,25). Curiosamente, provando que as pessoas são mais importantes do que os edifícios, o Liceu Passos Manuel cujo restauro, no âmbito da Parque Escolar, exigiu ao Estado 26 milhões de euros, ficou em 481.º lugar, com uma média de 7,8 valores, o que o coloca entre os dez piores. É sabido que o grupo social que mais importância dá à educação é a classe média. Não me espanta assim que a melhor escola secundária de Lisboa tenha sido a José Gomes Ferreira, em Benfica, cujos pais têm uma participação nas reuniões na ordem dos 70 a 80 %.
Portugal teve de fazer um grande esforço depois de 1974. Nem tudo correu bem, mas o país conseguiu escolarizar a maior parte dos jovens, facto que levou a que as escolas sejam hoje muito diferentes das que existiam na minha adolescência, quando, ao terminar a primária, apenas 2 em cada 10 alunos continuava a estudar. Para muitos, a escola contemporânea representa um mundo radicalmente novo. É por isso que o difícil não é ensinar filhos de privilegiados mas sim jovens que, em casa, nunca viram os pais abrir um livro. 
«Expresso» de 27 Out 12

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29.10.12

Hoje já clicou com o seu vizinho?

Por Ferreira Fernandes
NA ÚLTIMA 'Sábado', o jornalista Luís Silvestre conversa com a cientista britânica Susan Greenfield, especialista dessa transformação tremenda que está a acontecer no nosso cérebro com os computadores e outros saberes de ponta dos dedos.
Já uma vez, na pré-história, os dedos - o facto de o polegar ser oponível aos outros - nos aumentaram o cérebro. 
Pois há dias vi um movimento em sentido contrário. Um desenho, naturalmente feito por computadores, do homem do futuro: vamos ser mais feios, cabecinha mais de ervilha, porque não precisamos de tanto espaço para a memória. 
Como eu percebo essa previsão. No liceu eu era campeão das capitais, até sabia de nomes hoje desaparecidos de cidades, como Santa Maria Bathurst (fui ver: hoje, Banjul, capital da Gâmbia), mas custava-me horas a decorar. Agora, com dois dedilhares, sei quantas pizarias há em Mendoza, Argentina, e em que rua ficam. E logo esqueço, estreitando, se não a minha cabeça, a dos meus descendentes. 
Voltando à entrevista da cientista, encontro um alerta para uma perda, não essa hipotética do tamanho da cabeça, mas não menos preocupante: a da empatia. Susan Greenfield diz: "As relações entre as pessoas precisam de muito treino, cara a cara, e há uma nova geração que só comunica por computador." Tele, isto, tele, aquilo, vamos cada vez mais longe, quando o que mais falta nos faz é falar com o vizinho. 
Foi bom ouvir uma cientista falar da necessidade do "cara a cara". 
«DN» de 29 Out 12

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Apontamentos do caos

UM VIZINHO meu, vaidoso da sua nova "vespa", estaciona-a assim (desprezando o parque gratuito), para que todos a vejam e, se possível, tropecem nela... Como não lhe sucede nada, outros seguem-lhe o exemplo, com carros e motos. 
A 2ª e 3ª fotos mostram um dos cegos que se têm de desviar para passar por ali.

NOTA: as fotos foram tiradas em três dias diferentes, sendo a de baixo a mais recente de todas. Repare-se como o condutor desviou a "vespa", passando a colocá-la onde mais possa estorvar. 
Quanto ao carro que se vê na imagem do meio, esteve assim durante várias horas, sem ser incomodado. O que mais espanta não é a inacção de quem é pago para que isto não suceda, mas sim a naturalidade com que 'toda a gente' encara estas situações.

28.10.12

Vílnius, Lituânia, 1995

Fotografias de António Barreto- APPh

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Numa igreja da capital. Várias mulheres rezam. Ao fundo, umas imagens queimadas denunciam um potente reflexo de ouro e prata. Nesta cidade, é impressionante o número de belas igrejas que cruzamos por todo o lado. De pequenas capelas a imponentes catedrais. De todos os estilos e de todas as tradições. Passa-se com facilidade das influências romanas às germânicas e destas às russas. O culto é sobretudo católico. Mas também há ortodoxos e alguns protestantes. (1995)

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O magmatismo na diferenciação do planeta e na petrogénese (continuação)

Por A. M. Galopim de Carvalho
COM a diferenciação magmática da crosta teve lugar a correspondente libertação de vapor de água e de dióxido de carbono, à semelhança do que acontece no vulcanismo actual. Formou-se então uma atmosfera primitiva rica destes dois componentes, que antecedeu a que hoje respiramos. A atmosfera actual, na qual o oxigénio resulta da actividade biológica das plantas com clorofilina, é, pois, uma consequência, embora indirecta, do magmatismo (...)
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A virgem e o selim

Por Ferreira Fernandes
CINCO jornais europeus, incluindo o francês L'Équipe e o inglês The Times, exigiram à UCI (União Ciclista Internacional) que ponha regras num sector que só cede o pódio da sem-vergonha aos banqueiros do subprime. Os jornais, em manifesto conjunto, dizem-se fartos de se emocionarem com mentiras. Custa fazer com gosto e talento o culto de heróis e vir a saber que são fraudes laboratoriais como Lance Armstrong. 
No mesmo dia, The New York Times, nas suas páginas de economia, dedicava também um artigo ao ciclista texano. Aquela brasileirinha que não quer ser chamada de galdéria por vender por 600 mil a sua virgindade ("é só uma vez...", diz) tem uma desculpa que Armstrong não pode alegar. As poucas-vergonhas no Tour de França foram feitas e refeitas por sete vezes, o que nem a mais sofisticada cirurgia estética consegue com o hímen. E deram mais vantagens: a fortuna de Lance Armstrong está avaliada em cem milhões de euros. 
Ah, mas agora, trafulhices provadas, ele vai ter de devolver... É disso que o New York Times duvida. As marcas patrocinadoras preferem esquecer. Estão a ver a FRS, honesto suplemento vitamínico, dizer em tribunal: "Nas televisões dizia que nos tomava mas, afinal, ele metia na veia sei lá o quê..." E a UPS, patrocinadora da equipa de Armstrong por 32 milhões, que teve cem milhões de dólares de retorno, vai queixar-se de quê? 
Mais depressa o japonês que comprou a virgindade terá razões para se arrepender.
«DN» de 28 Out 12

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27.10.12

É tempo de dizer ‘basta!’

Por Alfredo Barroso
1 - O PAÍS está à beira de um enorme desastre económico, financeiro e social. Mas o Governo – que há mais de um ano põe em prática sucessivas e brutais políticas de austeridade, nem sequer legitimadas pelos que o elegeram – mantém-se em contínuo estado de negação. E insiste, aumentando a brutalidade dessas políticas que estão a conduzir o País para o abismo.
A proposta de Orçamento do Estado para 2013 é, no mínimo, uma proposta alucinante, que aposta na punição fiscal e salarial da esmagadora maioria dos portugueses, na destruição do que ainda resta da classe média, no sacrifício cruel e desumano dos mais desfavorecidos.
Esta proposta de OE não deve ser aprovada - e, se o for, não pode ser aplicada - sob pena de provocar uma gravíssima ruptura social e uma verdadeira catástrofe económica e financeira. (...)
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Apontamentos de Lisboa

ESTE conjunto de fotos (onde se vê um belo edifício da Fontes Pereira de Melo em adiantado estado de degradação) mostra uma coisa curiosa, com um cheirinho a armadilha-caça-níqueis:
O pessoal incauto vê aquilo com ar de abandonado, vê carros lá dentro e lugares vagos... e estaciona ali. Só que se arrisca, ao voltar, a encontrar os portões encerrados - e só nessa altura é que presta atenção ao que o AVISO diz...

À procura do eleitor dançarino

Por Ferreira Fernandes
PARA A SEMANA, abalo para a América das eleições. Vou para o Ohio, e penso encontrar o eleitor que decide essas coisas. 
Como se sabe, há estados, Califórnia e Texas, por exemplo, que apesar de grandes não põem o olho nos candidatos durante a campanha presidencial. Uma é democrata desde sempre, tal como o outro é republicano e já se sabe que voltarão a sê-lo a 6 de novembro. Como no sistema americano todos os votos eleitorais de um estado vão para o partido vencedor, ninguém tenta convencer os texanos e californianos, já convencidos. Mas como no Ohio se ganha sempre de resvés, ora um, ora outro, nesta campanha já passaram 41 mil anúncios de Obama e de Romney nas televisões do estado. 
O Ohio, além de dançarino, tem esta particularidade: quando se inclina para um, esse ganha no país. Desde 1896, só se enganou em 1944 e 1960. Só não lhe chamo oportunista porque ele não é como esses que mudam de casaca, ele é que entrega a casaca ao vencedor. 
Ora o Ohio, sendo dançarino e perspicaz, tem um condado (digamos, um concelho nosso) que não lhe fica atrás: Stark, 375 mil habitantes, acerta sempre dando 50% e uns pozinhos ao vencedor nacional. Resumindo, em Ohio, dançarino e acertador, há Stark, condado dançarino e acertador - e é aí que eu quero encontrar o eleitor que, variando bem, acertou sempre nos últimos 80 anos. 
As eleições americanas sendo tão caras, se eu encontrar o tal eleitor talvez ajude a resolver a crise. 
«DN» de 27 Out 12

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26.10.12

«007 - Skyfall»

Alguém viu e quer comentar?

Publique-se a lenda

Por Ferreira Fernandes
UMA PEDRA de 40 toneladas veio num glaciar e foi depositada na foz de um rio americano, há 13 mil anos. Isso é história de pedras. Como história de homens, o bloco de arenito tem marcas cinzeladas - um mistério. 
Um reverendo viu nelas, em 1690, palavras de Deus. 
Um conde francês, em 1781, sinais de fenícios. 
Em 1837, um professor dinamarquês, Carl Rafn, leu lá a saga do viking Thorfinn. Até os números romanos "CXXXI" confirmavam os companheiros do viking, 151. Mas CXXXI não é 131? Homens de pouca fé, em nórdico antigo "C" vale por dez dúzias, 120, o que somado ao resto dá os tais 151... 
Entretanto, o objeto da controvérsia, depositado no rio Tauton, no Massachusetts, EUA, já era conhecido como pedra de Dighton. 
Em 1918, o americano Edmund Delabarre notou que as inscrições, afinal, diziam em latim, "1511" e "Miguel Corte-Real, pela vontade de Deus, aqui chefe dos índios" e tinham cruzes de Cristo e quinas. 
Escrito na pedra é como ler na água, é o que os homens quiserem. 
Miguel, filho de João Vaz Corte-Real, de quem se diz que chegou à América 20 anos antes de Colombo. Irmão de Gaspar que partiu e não voltou, Miguel também partiu e nada mais se soube dele até aquela pedra lhe ter, talvez, revelado o destino. 
No domingo, morreu, aos 86 anos, o médico Manuel Luciano da Silva, o português que mais fez pela versão portuguesa da pedra de Dighton. Há quem diga que ele divulgou uma ilusão. Eu digo, abençoados os homens das lendas. 
«DN» de 26 Out 12

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Apontamentos de Lisboa

Rua Luís Augusto Palmeirim
Praça de Alvalade
Praça de Londres
 Av. Fontes Pereira de Melo
 Rua Carlos Mardel
NA FOTO de cima, vêem-se dois cegos - o senhor acaba de tropeçar na boca-de-incêndio.
Passemos à frente das três fotos seguintes, e repare-se na última, onde se vê que a boca-de-incêndio (essa, sim) tem uma protecção - mas é para os carros, não para os peões. Ou estarei a ser injusto em relação a quem trata destas pequenas coisas?

25.10.12

O Super-Homem e a crise dos jornais

Por Ferreira Fernandes
ACONTECEU, dizem as notícias, que o Super-Homem se despediu do seu jornal. Não exatamente ele, ocupado que está a arrancar a mocinha dos braços do bandido, mas ele antes de mudar de roupa. 
Toda a gente culta sabe que o super-herói, na vida real, é um tímido jornalista chamado Clark Kent, que tira os óculos e a gravata para envergar o célebre "S" ao peito. Pois esse, o tal Clark, desde ontem deixou de trabalhar no seu jornal, o Daily Planet. A notícia em si é uma tristeza, uma banda desenhada deve voar, como as águias e os imigrantes vindos de Krypton, nos altos territórios da imaginação dos garotos de oito anos e não baixar para comer no nosso dia a dia - e está bom de ver que esse autodespedimento é para colar o Super-Homem à atual crise da imprensa mundial. 
Por cá, nos jornais portugueses, ainda mais agónicos, logo se epilogou sobre a justificação de Clark Kent. Isso de um jornalista ter um dever com "a verdade", como ele diz, que não se compagina com o seu jornal ser "comprado por um conglomerado", pareceu assunto local. Curiosa justificação, digo eu. 
Desde logo, porque Kent entrou para os jornais ainda no tempo do citizen William R. Hearst, mais patrão metediço nunca houve. 
Segundo, porque a verdade que a cidade de Clark Kent queria saber, ele sempre a escondeu: quem era o Super-Homem? 
E, terceiro, porque há um condicionante maior para o jornalista que o seu patrão: o que o jornalista quer e deve fazer de si. 
«DN» de 25 Out 12

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O magmatismo na diferenciação do planeta e na petrogénese

Por A.M.Galopim de Carvalho
O ESTUDO das rochas das terras altas lunares, essencialmente formadas por anortositos (com cerca de 4 500 Ma) apontam para a existência de um “oceano” de magma de que resultou, por arrefecimento, aquela crosta primitiva, ainda ali conservada em grandes áreas de relevo mais saliente e mais luminosas, em contraste com as planuras basálticas (com cerca de 3 200 Ma), mais escuras, habitualmente referidas por “mares”. A Terra, com uma massa muitíssimo superior, acumulou, certamente, maior quantidade de calor, sendo correcto admitir que, nos seus primórdios, após a acreção e a contracção gravítica, também tenha estado envolvida num “oceano” de magma em resultado da fusão da sua parte mais externa, “oceano”, cuja profundidade, segundo algumas estimativas, teria atingido centenas de quilómetros. (...)
Texto integral [aqui]

Os pinta-paredes (15)

Lisboa, Av. de Paris
(No início do mês e ontem)
Recentemente, no post n.º 10 da triste série dedicada aos pinta-paredes, mostrou-se aqui a foto de cima, por contraponto com uma outra, tirada ali ao lado a uma esquina semelhante, essa outra devidamente limpa.
Pois bem;  é com prazer que aqui se assinala que o mesmo esforço de limpeza se estendeu ao lado Norte da avenida. É esse, até ver, o método mais eficiente (embora caro e trabalhoso) de afastar os artistas do gatafunho, cuja maior ambição é verem a sua arte exposta ao público.

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado e os direitos humanos

Por C. Barroco Esperança 
É SEMPRE com uma ponta de comiseração que, nos meus passeios diários, pela cidade de Coimbra, observo o Carmelo onde a Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado ou, simplesmente, Irmã Lúcia, para os amigos, passou seis décadas de intensa clausura.
Saía apenas para votar na União Nacional quando as listas eram únicas, guardada por outras freiras, e, durante a democracia, de que a Virgem nunca lhe falou, para votar não se sabe onde. A estas saídas precárias acrescentou duas idas a Fátima, para ser exibida com dois Papas de turno, Paulo VI e João Paulo II, em distantes 13 de maio. (...) 
Texto integral [aqui]

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24.10.12

Apontamentos analfabéticos

Por aqui se vê que até um semi-analfabeto consegue usar um computador

Apontamentos de Lisboa

QUANDO a monumental Alameda D. Afonso Henriques foi concebida, a ideia era ter, no topo nascente, a Fonte Luminosa e, no oposto, o Instituto Superior Técnico.
A seu tempo, porém, a sabedoria lisboeta encarregou-se de, no primeiro caso, meter por trás uns quantos prédios e, no segundo caso, afinfar-lhe com um par de cubos pretos, de construção ilegal, que João Soares - ao tempo presidente da CML - tentou, sem êxito, embargar.
As duas imagens de baixo, além de completarem o cenário, dão uma achega para a resolução do problema em termos político-estético-partidários.

Os 500 anos da Madeira

SERÁ impressão minha, ou sumiu da agenda mediática o "buraco" das contas da Madeira - a que A. J. Jardim chamava "uma coisa pequenina" e "abençoada dívida"? Os últimos números oficiais avaliavam-no em 8 mil milhões de euros, um valor face ao qual tudo o que se anda para aí a discutir são trocos.
A título de exemplo: aquando da introdução das taxas moderadoras na saúde, Correia de Campos esclareceu que elas permitiriam encaixar 16 milhões por ano. Ou seja: essa tal "coisa abençoada", de que agora parece que ninguém fala, corresponde a 500 anos de taxas moderadoras - a menos que eu tenha feito mal as contas...

Apontamentos de Lisboa

A História de O
Se encontrarem por aí um "O", o arquitecto agradece...

Como, em Lisboa, os transportes públicos são acarinhados

23 Out 12 - 16h25m
O que aqui se vê é uma cena de todos os dias na Rua Carlos Mardel (a Arroios): os inúmeros carros estacionados em 2ª fila obrigam os outros que vão no mesmo sentido a entrar na faixa BUS... e os autocarros que esperem, claro.

Povo adora culpar e leva com deuses

Por Ferreira Fernandes
SEIS cientistas italianos da Comissão de Grandes Riscos e o respetivo coordenador governamental foram condenados por não terem previsto o terramoto em Áquila, a 6 de abril de 2009 (300 mortos). 
Tinha havido uma sucessão de avisos sísmicos desde dezembro de 2008, mas a comissão concluíra não haver perigo maior. Os cientistas eram reputados e um deles, o professor Enzo Boshi, era o presidente do Instituto de Geofísica e Vulcanologia. Todos condenados a seis anos de prisão. 
Apaziguado pela sentença, o familiar de uma das vítimas disse: "Esperamos que agora os nossos filhos tenham as vidas mais seguras." Provavelmente ele está convencido de que, daqui para diante, o tribunal emitirá atempadamente um edital sobre o próximo terramoto. Terá de ser tribunal, terá de ser juiz, pois são as únicas entidades humanas imunes ao erro. 
Como se sabe, se amanhã houver provas de que aquele sismo de Áquila era absolutamente impossível de prever - e, logo, a sentença ter sido errada -, o juiz que esta semana condenou não responderá pelo erro. Ele está protegido pela lei. Já o sismólogo Boshi, como o médico Fulano que não curou o cancro ou o piloto Sicrano que não aguentou a turbulência na aterragem estão sujeitos ao atira a pedra na Geni, maldita Geni. 
A ânsia de encontrar culpado sempre foi própria do povo. Agora arranjou um aliado de peso e, ou muito me engano, vai ser corneado na parceria: o próximo deus vai vestir toga. 
«DN» de 24 Out 12

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Os pinta-paredes (14)

A maioria dos gatafunhos com que os pinta-paredes nos brindam têm as funções de "demarcação de território" e de "eu estive aqui". As imagens documentam duas situações dessas: 
Na de cima (Rua Conde de Sabugosa), um pinta-paredes chama nomes a outro.
Na de baixo (Campo de Santa Clara), a informação "eu estive aqui" já é dada com recurso a moldes - tem a vantagem de ser uniformizada e rápida de executar...

A dívida infame

Por Baptista-Bastos
MARIA do Céu Guerra, a grande actriz Maria do Céu Guerra, uma das duas ou três nossas maiores, esteve, na segunda-feira, no programa da SIC Querida Júlia com mais três convidados.
Depuseram acerca do triste tempo português, onde o infortúnio cauteriza feridas e os desgostos sobrepõem-se aos desgostos. O programa de Júlia Pinheiro, sobre ser de entretenimento, não sustenta, apenas, uma futilidade imbecil. Ali se fala de crime sem castigo, das dores do viver português, e, até, numa rubrica de economia, comentada por uma mulher jovem, indignada e fervorosa, das mentiras e fraudes dos diversos poderes. Esses "espaços" colocam em evidência um certo modo de interrogação do presente, habitado pela suspeita, pela dúvida e pelo desespero.
Ao usar da palavra, Céu Guerra, sob a clara definição de uma figura unívoca, disse, da "dívida", ser uma "dívida infame", da qual não somos responsáveis. Explicou que a contraconduta em que sobrevivemos é-nos aplicada como um castigo insuportável, por uma gente que está "do outro lado"; quer dizer: uma gente inacabada e irresolvida. Céu Guerra não cultiva a neutralidade de espírito, e o fervor com que diz o que tem a dizer empolga-nos e avisa-nos de que está "do nosso lado." Sempre esteve.
Os efeitos do domínio que "eles" exercem em nós, e do medo inculcado, levaram a actriz a afirmar que esta autoridade arbitrária acentuou nos portugueses a chaga da culpa. Somos "culpados" de querer ser felizes, de ambicionar viver melhor, de existir com dignidade e decência, de ter possibilidades de escolhas afirmativas. Esta nossa educação para o remorso é um dos graus da servidão exercida pelos dominantes e associa-se ao conceito religioso do pecado, que nos persegue e manieta.
Foi um momento de luz oferecido por uma mulher intrinsecamente ligada ao nosso tempo. A recusa da obediência pertence ao próprio desejo de liberdade que o homem acalenta. Há anos, em Santiago de Compostela, assisti, num teatro apinhado, a uma plateia que, de pé, e durante muitos minutos, aplaudiu a figura franzina da portuguesa, terminada a interpretação genial de uma peça cerzida por Hélder Costa de textos de Gil Vicente. Nessa mesma noite, durante uma homenagem a Manuel Maria, na presença, entre outros, de Mendez-Ferrín, o poderoso autor de Bretanha Esmeraldina, Céu Guerra recitou o poema dedicado a Camões por Sophia. "Vais ao Paço pedir a tença/ E pedem-te paciência [...] Este país te mata lentamente." Inesquecível.
Ao vê-la e ao ouvi-la, como tantas e tantas vezes a vi e ouvi em palco e nos grupos das afinidades electivas, dando asas à esperança sequestrada, ora uma face sombria ora iluminada, ora terna ora colérica, recordei tudo isto, para vos lembrar de que a força da razão impõe-se sempre à brutalidade do capricho e às veleidades da prepotência.
«DN» de 24 Out 12

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23.10.12

A malta do "é igual ao litro"

ATÉ MEADOS do século passado, o apelido Medina era, pelo menos em Lisboa, relativamente raro - na lista telefónica só se encontravam dois, e ambos da minha família. Lembro-me bem que, por causa disso, muitas pessoas escreviam o meu nome como sendo Madeira ou Medeiros, situação que só se alterou quando Medina Carreira, pela sua notoriedade pública, fez com que o nome fosse considerado menos exótico;  e de tal forma que, a partir daí, o erro passou a ser ao contrário, com muita gente a chamar-me Medina Carreira em vez de Medina Ribeiro o que, por sinal, ainda hoje sucede com alguma frequência.
Veja-se agora uma outra curiosidade, que estas imagens documentam:
Ontem, a LUSA chamou Medina Ferreira a Medina Carreira - o que passaria sem reparo como uma gralha normal, não fosse o caso de jornais como o «SOL» e o «JN» (e, se calhar, muitos mais...) transcreverem o erro, devido a um copiar/colar acrítico que nos dá que pensar acerca de quem está à frente dessas coisas da edição.

Rir ainda não paga imposto

Por Joaquim Letria 
NA MANIFESTAÇÃO de 15 de Setembro, contra a austeridade do Governo e da troika, houve diversos sinais de humor, criatividade e boa disposição de que nos podemos orgulhar. São símbolos do melhor da nossa identidade colectiva e não deixam de nos acompanhar nos períodos mais difíceis e controversos. Infelizmente, os nossos humoristas profissionais perderam a graça toda, entregues a encomendas de longa duração, e os nossos jornalistas têm muitas e boas razões para se preocuparem com outras coisas, acabando nós, assim, por só darmos por aquilo que nós próprios vemos.
O melhor cartaz da manifestação de 15 de Setembro era o que não queria que o ministro Gaspar transformasse o nosso País num “irremediável POORTUGAL”. Notáveis a graça, o poder de síntese e o efeito que a revista britânica “The Economist” teve a distanciação suficiente, o profissionalismo e o golpe de asa de recuperar e de destacar, atribuindo-lhe acertadamente a sua autoria “à rua”.
Graciosamente, o autor do artigo sobre Portugal e a sua dramática situação económica e financeira não resiste a comparar este “rebranding” popular à criação do ministério do Dr. Manuel Pinho, ministro de Sócrates, quando fez uma campanha internacional para vender o “ALLGARVE”.
Mas havia outros cartazes notáveis nas ruas de Lisboa, durante a manifestação de 15 de Setembro. Um deles, de que não me esquecerei, explicava: “Este Governo é como o meu marido. Não sabe o caminho, mas não pára para perguntar”.
Esta capacidade de humor recorda-me algumas outras frases que em 74-75, em pleno PREC, iam fazendo rir a “revolução”. Como a inscrição na Avenida 5 de Outubro que garantia que “tudo na vida tem um fim, menos o chouriço que tem dois.” Ou a Igreja dos Mártires apresentando numa porta “Entrada dos Leões” e, noutra, “Entrada dos Cristãos”.
E o humor popular tem sempre algo de interactivo. Vejam a frase escrita sobre o símbolo católico do peixe “Cristo vem aí!” a que alguém respondeu, com outra tinta e caligrafia “Venho já”!
Poderíamos ficar aqui a recordar muitas outras expressões do nosso genuíno humor popular. Tanto, que em vez disso atrevo-me a pedir ao SORUMBÁTICO que solicite aos seus contribuidores e leitores para aqui enviarem frases destas de que se recordem, a fim de todos nós podermos rir-nos um pouco, apesar da crise! Há dias, um jovem enfermeiro que teve de emigrar pediu ao Presidente que não aprovasse uma lei com taxas sobre as lágrimas e a saudade. Eu, aqui, não peço mais nada a ninguém. Lembro só que, por enquanto, rir não paga imposto!

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Marcelo e o vídeo para alemão ver

Por Ferreira Fernandes
NO DOMINGO, na TVI, Marcelo disse que queria fazer um vídeo para explicar Portugal aos alemães. Da última vez que vi Marcelo a explicar alguma coisa em vídeo era sobre o aborto e ele (Marcelo, não o aborto) tinha a voz parecida com a do Ricardo Araújo Pereira. Se querem que seja sincero, acho melhor não. Marcelo em vídeo é demasiado imaginativo, contraditório e brilhante para explicar alguma coisa a um povo quadrado. Já estou a vê-lo, mãos esvoaçantes ao sabor dos argumentos (quando os alemães gostam mais de mão hirta): "A austeridade é má para os portugueses? É! Mas eles não a merecem? Merecem! Uma coisa é austeridade nos portugueses... Outra coisa é auuuuutoridade dos alemães..." 
E assim por diante. Receio que os alemães, vendo um reputado professor universitário tão espalhafatoso, decretem: estes tipos não podem ser levados a sério. E nos apertem ainda mais a tarraxa. 
Os alemães adoram passar multas a povos com professores que saiam da norma. Um vídeo bom para eles tinha de ter um professor de voz arrastada e de conclusões inexoráveis: é assim e aguentem. Olhem, o Vítor Gaspar explicava-nos bem aos alemães. Os alemães têm aquilo, a "Schadenfreude", um motor de alma (é, eles não têm estados de alma) que os faz ter alegria com o mal dos outros. 
De um vídeo com Vítor Gaspar eles gostavam, riam muito e erguiam a caneca, limpavam a espuma com as costas da mão e mandavam-nos trabalhar. 
«DN» de 23 Out 12

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22.10.12

Apontamentos de Lisboa

A foto de cima, tirada no passado dia 2, às  17h28m (a dois passos da Assembleia Municipal de Lisboa!!), mostra bem como, nesta cidade, se respeitam os direitos dos deficientes.
As duas outras, tiradas esta manhã no mesmo local, acrescentam uma nota curiosa: trabalhadores reparam a calçada, auxiliados por uma camioneta que se encarrega de lhes garantir o posto de trabalho...

Parece que foi hoje…

Por Joaquim Letria

O MINISTRO Victor Gaspar disse, a quem o quis ouvir, que a sua proposta de Orçamento de Estado não pode ser mexida. “Não há margem”, explicou ele.” No máximo,” explicou ele”, há uma margem mínima para correcções”.
O pessoal ficou compreensivelmente chocado. Ele atreve-se a dizer que não podem modificar nada?! Então e o Parlamento? Os deputados representam os papéis que lhes encomendam, mas dito assim, à frente de todos, parece muito mal! Por que raio não conta o Parlamento numa coisa tão importante para todos como esta, pergunto eu!?
Porque o Governo do Estado Moderno é apenas um comité de gestão de negócios comuns de toda a classe burguesa. Na sociedade burguesa, o capital é independente e pessoal enquanto o indivíduo que trabalha não tem independência nem personalidade. Impedida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo, necessita estabelecer-se em toda a parte, explorar em toda a parte, criar vínculos em toda a parte.
A resultante obrigatória dessas transformações foi a centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes foram unidas numa só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
Em virtude da concorrência crescente e devido às crises comerciais que daí resultam, os salários tornam-se cada vez mais instáveis.
O preço médio que se paga pelo trabalho por conta de outrem é um mínimo de salário, ou seja, é a soma dos meios de subsistência necessários para que o trabalhador viva como trabalhador.
Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber o seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia: do proprietário, do retalhista, do banqueiro, etc.
As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos, camponeses, caem nas fileiras do proletariado.
De que maneira consegue a burguesia vencer as crises? Por um lado através da destruição violenta de uma grande quantidade de forças produtivas; por outro lado pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? À formação de futuras crises, mais extensas e destruidoras, e à diminuição dos meios capazes de evitá-las.
Toda a explicação utilizada para responder à pergunta que formulei no segundo parágrafo foi escrita há 164 anos e consta do Manifesto do Partido Comunista. É Marx e Engels sem tirar nem pôr. Quem me ajudou a encontrar esta citação que se aplica aos nossos tempos de hoje com plena actualidade foi o Pedro Tadeu, mas quando se lê o que os teóricos escreviam regressamos com eles ao século XIX, muito próximo afinal, de onde nos encontramos agora.

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Obama entre a maldição e o bruxo

Por Ferreira Fernandes
EM 2008, na véspera das eleições americanas, escrevi uns números cabalísticos de que prometi revelar o significado no dia seguinte. Fi-lo, confirmando que o blogue Five Thirty Eight, de que eu passara a ser leitor assíduo na minha viagem americana, acertara nos resultados. O autor do blogue era o matemático Nate Silver, de 30 anos, que se notabilizara a fazer estatísticas para o campeonato de basebol. Para as eleições fizera um blogue a que, amante de números, chamou Five Thirty Eight, porque 538 são os membros do Colégio Eleitoral que decidem o Presidente americano. 
Nate Silver escreve agora no New York Times, numa coluna "de cálculos políticos", e é, por estes dias, a única boa notícia para o campo de Obama. Segundo Silver, depois de escalpelizar todos os cenários possíveis, o atual Presidente tem 67,9 por cento de hipóteses (dados da edição de ontem) de continuar na Casa Branca. O que aparentemente contraria as sondagens que, lidas uma a uma, mostram uma tendência firme de subida de Mitt Romney. No Ohio, um estado dançarino que parecia desta vez inclinado para Obama, a separação já é de um por cento, e a Pensilvânia, que era dada definitivamente democrata, passou a estar tremida. 
Então? Terá a América o mesmo destino que fez cair todos os governos europeus (com a crise vota-se sempre no "outro") ou o mago das estatísticas tem razão? 
Maldição ou bruxo - estranho dilema num assunto de números. 
«DN» de 22 Out 12

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