30.4.09

Corin Tellado

Por Joaquim Letria
HÁ 30 ANOS, num programa de TV, entrevistei uma espanhola que toda a gente conhecia em Portugal. A senhora disse-me que sim à primeira. E deu-me uma entrevista muito mais interessante do que os bem-pensantes, e eu próprio, imaginávamos que ela fosse capaz.
No bilhete de primeira classe de ida e volta na Ibéria que pedi que lhe fosse entregue em Madrid, preenchi o nome de Maria del Socorro Tellado Lopes. E foi assim que ela desembarcou na Portela, onde a fui esperar para a acompanhar ao hotel na véspera do programa.
Se hoje fizesse um inquérito, descobriria sem surpresa que pouca gente se recorda daquela senhora, conhecida em todo o mundo como Corin Tellado, uma escritora de romances de amor que pôs muitas portuguesas a gostarem de ler através dos seus livrinhos cor de rosa da Agência Portuguesa de Revistas.
Morreu agora, aos 82 anos, depois de ter escrito 4 mil títulos e tendo vendido cerca de 500 milhões de exemplares. Uma mulher interessante na pujança dos seus 50 anos de idade quando me lembrei de a trazer à RTP.
«24 Horas» de 30 de Abril de 2009

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"Aramada"?!

78 horas

Por João Paulo Guerra
Mais de um século após as greves de Chicago de 1886 pela conquista da jornada de 8 horas de trabalho, consagrada quatro anos depois e que institucionalizou o Dia Mundial dos Trabalhadores no 1º de Maio, a Europa, berço da civilização, da democracia e dos Direitos do Homem, abre a porta à semana de trabalho de 78 horas.
POR ESTE ANDAR, não tardará que sejam derrogadas a semana de seis dias de trabalho, depois cairão as jornadas de 10, de 13, de 18 horas. Mais uns anos e teremos restaurada a escravatura.
A possibilidade da derrogação até às 78 horas, para a qual a Europa se encaminha atrelada a países do Leste recentemente e à pressa reciclados para a democracia, representa um retrocesso de mais de um século na legislação laboral e nos Direitos Humanos. Seria uma vergonha, se o neoliberalismo de uns e o "socialismo" ou "trabalhismo" de outros tivessem pinta de vergonha na cara. Não têm.
O neoliberalismo é uma praga muito pior que a gripe suína: para além de ter promovido e dado cobertura à delinquência financeira - dos "ladrões" como lhes chama D. Januário - que colocou o mundo à beira do colapso, reduziu os Direitos Humanos a miragens anteriores à Revolução Francesa. Como se não bastasse, tem dizimado os recursos da Terra e envenenado o ambiente.
A questão é que o neoliberalismo, só por si, não teria forças para tamanha cruzada. Foram necessárias muitas cumplicidades para que a ideologia neoliberal conseguisse pôr em prática o projecto para desarmar os estados e os enquadramentos legais de maneira a potenciar a rapina e a exploração. Os neoliberais fazem o seu papel e não enganam ninguém. Mas pelas leis do mercado, os seus cúmplices deveriam ser julgados e condenados por publicidade enganosa.
«DE» de 30 de Abril de 2009

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A EXPLICAÇÃO para a existência deste elemento rural no coração das avenidas novas de Lisboa (o tufo de ervas que se vê no canto inferior direito) está [aqui]...

Sem novidades de cá

Por Baptista Bastos
A RTP1 RESOLVEU, anteontem, "pensar Portugal". É uma ideia comovente, tanto mais que o maciço conceito que lhe subjaz seria sugestivo, acaso, no nosso país, alguém pensasse no País. (...)
Há 30 anos que desfilam as mesmas caras, se ouvem as mesmas vozes, se lêem as mesmas frases com monótona aridez. O País é domado por um grupo sem prestígio mas com poder. Esperávamos um sistema, emergiu um domínio. A erupção do "bloco central de interesses" (ou seja: a divisão do bolo entre PS e PSD) assinala a degenerescência de Abril num atoleiro. Deixou de haver afinidades ideológicas e as convicções foram substituídas por uma cronologia contínua, destinada ao enriquecimento de alguns, e que encobre, afinal, as ausências de carácter e as trapalhadas das mudanças de partido. (...)
Texto integral [aqui]

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Luz - LIV

Fotografias de António Barreto - APPh

Metalúrgico, IMO, Felgueiras
ESTA EMPRESA, IMO, fica em Felgueiras. Mais propriamente na vila da Longra, freguesia de Rande e concelho de Felgueiras, Douro Litoral. Faz móveis de vanguarda (incluindo camas articuladas e informatizadas para hospitais) que exporta para o mundo inteiro. Mas metalurgia é... metalurgia! Há sempre trabalho sujo, há sempre trabalho manual. Nesta fotografia, gosto especialmente daquela espécie de fusão ou de dissolução do homem, entre fumos e fogos. A fonte de luz vem de dentro do trabalho, não de fora. Contra a parede, uma imagem inesperada: em vez das tradicionais mulheres nuas dos calendários, uma imagem de Jesus Cristo! (2006).

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Beata Alexandrina de Balasar

Por C. Barroco Esperança
SE A INFALIBILIDADE papal não fosse um dogma, e a de João Paulo II uma evidência, não se acreditaria que a bem-aventurada Alexandrina de Balasar tivesse vivido os últimos treze anos e sete meses de vida em jejum total e anúria. Apenas tomava a comunhão, como confirmou publicamente o referido Papa, que viveu com odor a santidade.
Pode até pensar-se que a morte pudesse ter ocorrido por falta de consagração da última hóstia, descuido que a terá privado do único alimento que a mantinha. (...)
Texto integral [aqui]

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29.4.09

Rua Carvalho Araújo - Lisboa
EM TEMPOS, falaram-me de um estabelecimento que tinha uma tabuleta à porta, informando: «Aqui, tratamos toda a gente por "Doutor"».
Seria este?

O situacionista

Por Joaquim Letria
HOJE, SER SITUACIONISTA é muito mais cómodo e fácil do que no “ancient regime”. Nem tem comparação. Começa logo pela farda da legião, pelas polainas e pelas botas altas. Hoje, pode ser-se situacionista Armani, Versace ou Calvin Klein, sem ter de andar fardado, a menos que se seja dos bombeiros ou da protecção civil.
Já não é obrigatório residir num bairro social, pode-se usar o carro distribuído, dar piparotes no cartão de crédito da empresa no fim do almoço, falar horas do telemóvel de serviço. Hoje, ser situacionista deve dar gosto. Antigamente, era uma trabalheira.
Contem quantos situacionistas vivem uns com os outros (ou dão a mesma morada) à volta de Lisboa para receberem ajudas de custo e outras alcavalas por se deslocarem para os locais de trabalho em concelhos limítrofes. Há deslocalizações, em Portugal, que valem a pena. Ser-se situacionista, aqui, rende e é uma garantia que não há crise que lhes entre. Sempre foi e continua a ser assim.
«24 Horas» de 29 de Abril de 2009

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Passatempo-relâmpago

Clicar na imagem para a ampliar
ONTEM, a propósito do livro O Acento Agudo do Presente, um leitor comentou (e com razão) que o passatempo era demasiado fácil, pois a resposta encontrava-se de imediato na Internet. Será o mesmo para este caso, em que se trata de identificar o autor do que aqui se lê?
NOTA: o título do capítulo do livro de onde foram extraídos estes dois parágrafos começa com as palavras «O meu 25 de Abril». O prémio, a atribuir ao 1.º leitor que der a resposta certa, será um exemplar de Fascismo e Comunismo, cuja capa se vê do lado direito.
Actualização: a resposta certa já foi dada, às 16h11m, por João Rodrigues.

Dito & Feito

Por José António Lima
À MEDIDA que o ano 2009 avança, o retrato da crise em Portugal vai-se definindo com números cada dia mais negros (...). E o Orçamento do Estado que o Governo aprovou para 2009 é já um exercício de pura ficção. (...)
MUHAMED al-Sahaf, lembram-se? O delirante ministro da Informação de Saddam Hussein que assegurava, à beira do desastre: «Posso dizer, e sou responsável pelo que estou a dizer, que os soldados americanos começam a suicidar-se às portas de Bagdade». Que garantia, em tom alucinado: «Têmo-los cercados nos seus tanques», «Já os repelimos», «Temos o controlo total da situação». E que, já a verem-se em cenário de fundo as tropas dos EUA nas ruas da capital iraquiana, jurava com o seu ar lunático: «Dou-vos triplamente a garantia de que não há soldados americanos em Bagdade».
Teixeira dos Santos afiança, com idêntico autismo, que mantém o controlo total da execução do Orçamento. (...)
«A despesa está perfeitamente controlada. O Governo está a gastar onde planeou gastar». A sério?
Teixeira dos Santos está a converter-se, rapidamente, no Muhamed al-Sahaf da política portuguesa.
Texto integral [aqui]

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Clicar na imagem, para a ampliar- Blogue do Van-Dog [aqui]

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28.4.09

O 26 de Abril - no entender de muita gente

Anteontem, às 16h 20m, nos 'Dias da Música' do CCB
.
Sem que se veja um polícia, uma multidão de amadores de música invade os relvados de Belém
(Pormenor)
O TÍTULO deste post, que esteve para ser, apenas, «O 26 de Abril», podia parecer provocatório, mas tinha uma justificação: é que no dia 25 de Abril de 74 muita gente pensou que, a partir daí, podia fazer-se o que se quisesse, ao mesmo tempo que boa parte das autoridades se demitia das suas funções - nomeadamente das repressivas.
O facto de estas fotos terem sido tiradas num dia 26 de Abril acaba por ser uma metáfora dessa perversa forma de encarar a Liberdade conquistada.

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O 25 de Abril

Por Joaquim Letria
HÁ 35 ANOS que se festeja o 25 de Abril. Quem não devia festejar, também festeja. É uma festa de Borda d’ Água. Comemoram a data e dizem todos mal da ditadura.
Numa das sessões a que fui este ano, um militar de Abril explicou que o fascismo era tão mau que obrigava rapazes e raparigas a andarem em escolas separadas, que os cabos do mar, na praia, proibiam os calções de banho curtos e bikinis, e no intervalo dos cinemas a gente era multada se não tínha licença de isqueiro. Fiquei com a impressão de que já parece mal falar de 48 anos de partido único, guerra colonial, serviço militar obrigatório, censura e polícia política.
Um miúdo cheio de “piercings”, brincos e tatuagens, e inteligência, perguntou como seria hoje Portugal se não tem havido ditadura. Arranjou uma discussão em que ninguém se entendeu. Deve estar a fazer a mala para emigrar e eu vim para casa a imaginar uma Áustria cheia de portugueses. 25 de Abril, sempre!
«24 Horas» de 28 de Abril de 2009

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«Analfabetismo à solta» - Passatempo com prémio duplo

TALVEZ por se tratar de uma região vinhateira, o pessoal responsável pela sinalização rodoviária lá do sítio faça alguma confusão entre tonel, tunel e túnel.
De qualquer forma, estas barbaridades, cometidas alegre e impunemente por gente com responsabilidades públicas, dão que pensar - especialmente quando se assiste a acesas discussões acerca do Novo Acordo Ortográfico ou, mais recentemente, a propósito dos 12 anos de escolaridade obrigatória!
*
Passatempo com prémio duplo: o Sorumbático oferece dois exemplares do livro cuja capa aqui se vê nas seguintes condições:
1 - Qual a palavra omitida no título da obra? (Act.: prémio já atribuído)
2 - Afixar, em comentário, a frase «Uma boa 4ª classe ainda faz muita falta!», mas num momento tal que a soma dos 4 algarismos da 'hora:minuto' dê 13, que é o número de letras da palavra analfabetismo. Se necessário, poderão ser feitas várias tentativas. (Act.: prémio já atribuído).

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Insólito

Por João Paulo Guerra
Portugal cada vez se parece mais com a caricatura de um país: o que se faz é essencialmente para o boneco. Agora é a PSP que vai passar a prender por quotas.
JÁ HAVIA LEIS para tapar buracos logísticos do sistema prisional. Agora há políticas de segurança e combate à criminalidade que funcionam para as estatísticas. O JN de ontem dava exemplos: nos termos de instruções passadas a escrito, a Esquadra da PSP da Rua da Boavista, no Porto, vai ter que prender 250 até ao fim do ano.
Ou seja: a política de combate à criminalidade deixa de se fazer em função do crime mas sim para apresentar serviço. A esquadra da Rua da Boavista tem que prender 250 desde Fevereiro até Dezembro, quer haja criminalidade que o justifique ou não. Se a meta pecar por defeito arrebanham-se uns tantos inocentes para a cadeia. E se o objectivo for cumprido lá para o Verão, a esquadra entra em velocidade de cruzeiro e dedica-se essencialmente a ajudar velhinhas a atravessar as ruas.
Já havia sinais inequívocos, por exemplo na educação, de que muitas das políticas passaram a ter como objectivos a exposição e o espavento. Mas o exemplo agora trazido a público em matéria de segurança e de combate à criminalidade, revela uma verdadeira política de cabo de esquadra.
O aparelho político e a máquina burocrática que dirigem o país entraram em paranóia com a definição de objectivos, o estabelecimento de metas, o traçado de alvos e a avaliação de tudo isto. Deve haver departamentos do Estado que não fazem mais nada que avaliar-se, responder a papeletas e preencher formulários. Agora chegou a vez das esquadras de polícia: a da Rua da Boavista, no Porto, tem que prender 250 em 10 meses, 25 ao mês, ou seja 83 centésimos de preso ao dia.
Se ao menos taxassem o ridículo...
«DE» de 28 de Abril de 2009

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O homem útil e o génio

Por Nuno Crato
QUEM ESTEJA a aproveitar os eventos do Ano Internacional da Astronomia para observar o Sol em segurança terá notado que a nossa estrela se apresenta agora sem as famosas manchas escuras. Assim tem acontecido há já algum tempo. Em 2008, o Sol apresentou-se limpo 266 dos 366 dias desse ano. E, em 2009, o número total de dias limpos ultrapassa já 90, ou seja, cerca de 90% dos dias decorridos. É vulgar o Sol apresentar-se sem manchas. Mas não é habitual observar uma pausa tão prolongada. Desde 1913 que tal não acontecia.
As manchas solares são tempestades magnéticas gigantescas que originam erupções de matéria, provocam aumentos bruscos do campo magnético e emitem uma radiação intensa, nomeadamente nos ultravioletas. (...)
Texto integral [aqui]

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27.4.09

O Caso Mesquita Machado (II)

Por J.L. Saldanha Sanches
O MINISTRO DAS FINANÇAS quer criar uma taxa especial de 60% contra os rendimentos não declarados nem declaráveis? Já há uma igual no IRC e, em princípio, nada impede que se seja criada uma outra no IRS. Mas quem a irá pagar?
As leis fiscais são aplicadas por uma estrutura administrativa que está na dependência directa o Ministro das Finanças. Acreditamos que o Sr. Ministro quer aplicar a lei com a imparcialidade que a Constituição proclama e usar o dever de pagar impostos como uma arma contra a economia paralela e a corrupção. (...)
Ora, há muito pouco tempo, um jornal diário publicou os resultados de uma investigação ao Presidente da Câmara de Braga (...) que mostrava o vasto património acumulado por este autarca e pela sua família. O Ministério Público arquivou-a. E a Administração fiscal o que fez? (...)
A suspeita de que os poderes discricionários da Administração irão conseguir que os destinatários da norma sejam apenas os inimigos do Governo vai ser confirmada. (...)
O caso Mesquita Machado transformou-se, assim, num teste à seriedade das intenções do Governo (...)
Texto integral [aqui]

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Já estão anunciados, [AQUI], os nomes dos 4 vencedores do passatempo «O Banqueiro Anarquista» / «Quanto indica a balança?».
Actualização: os 4 prémios já foram enviados.


A capinha (*)

Por Joaquim Letria
AO CABO DE UMA DÉCADA a escrever ao relento, todos os dias sem falhar, arranjam-me uma capinha para me agasalhar.
De hoje em diante, passo a escrever abrigado por esta capa, neste cantinho onde me deixam continuar a dizer o que penso, ao mesmo tempo que espreito o que me rodeia.
Já aqui aconteceu muita coisa, já passou por aqui muita gente e até já tive boa vizinhança, quando aqui alojaram a Clara Pinto Correia, alugando-lhe uma parte de casa antes dela partir para os fins-de-semana. Senhora do seu nariz, nem um olá retribuiu, quando me debrucei da coluna para a ver e cumprimentar. Feitios…
Já ouvi dizer que me vão arranjar novos vizinhos. É natural. Com a crise da habitação e com a subida do “spread”, não posso exigir só gente de bem. Não me pronuncio. Por mim vai ser “bom dia” e “boa tarde” e ala que se faz tarde, que os tempos não estão para salamaleques.
De qualquer maneira, fico contente, com esta capinha que me deram para estrear hoje. Devem ter ouvido, como eu, que “quem tem capa, sempre escapa”. Oxalá que com o “24Horas” também seja assim.
«24 Horas» de 27 de Abril de 2009
.
(*) Explicação (CMR): Estas crónicas de JL têm sido sempre publicadas na última página do «24 Horas». A partir de hoje, no entanto, o jornal passou a ter uma capa, pelo que a coluna foi transferida para duas páginas atrás - ficando, como diz o autor, protegida por uma "capinha".

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«Um Amor de Perdição» - Passatempo com prémio

TAL COMO anunciado, o Sorumbático desafia os leitores que viram este filme de Mário Barroso a darem a sua opinião acerca dele.

O prémio, a atribuir ao autor do melhor comentário, será um exemplar da obra de Camilo em que o realizador se inspirou ou, em alternativa, O Romance dum Homem Rico, do mesmo romancista. Em princípio, o passatempo terminará às 20h da próxima sexta-feira, dia 1 de Maio, podendo, no entanto, o prazo ser prorrogado se, até essa altura, houver poucas respostas.

Actualização (1 Mai 09/20h50m): vão ser atribuídos, aos 2 participantes, os 2 livros referidos, o que será feito de uma forma muito simples: a partir deste momento, João e 'Mg' deverão dizer, em comentário, qual das obras preferem. O primeiro a responder receberá o livro que indicar. A seguir a isso, terão 48h para esreverem para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio.

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Maia

Por João Paulo Guerra
Entrevistei Fernando José Salgueiro Maia dois meses antes da sua morte e nunca mais esqueci a sinceridade, a autenticidade e a pureza que transpareciam das palavras do capitão.
AQUELE FOI UM DOS HOMENS que fez uma revolução, arriscando a vida para devolver a liberdade ao povo, e não reclamou nem quis nada para si. Mas a revolução foi ingrata: um revolucionário não tem que ser recompensado pela revolução mas é injusto que seja lesado. E Salgueiro Maia morreu no posto de tenente-coronel, depois de cumprir um final de carreira em bolandas por ter sido corajoso e abnegado. Não ia em grupos, não era de panelinhas, pelo que recebia coices de todos os quadrantes. E o mesmo governo que lhe cortou as pernas à carreira militar recusou uma pensão à viúva. Diz-se que as revoluções devoram os revolucionários mas no caso de Salgueiro Maia quem o devorou foram reaccionários de todos os matizes, de direita e esquerda, porque um homem que não quer nada para si é um péssimo exemplo numa sociedade alimentada pela ganância e movida por esquemas.
Ao ler notícias sobre os jogos florais do PS e parte do PSD para fugirem a uma questão tão clara e essencial como a criminalização do enriquecimento ilícito, ao ouvir a procuradora Maria José Morgado dizer que a corrupção ao mais alto nível do Estado é, neste momento, quase incontrolável, recordo uma frase da entrevista de Salgueiro Maia: "Não foi para isto que se fez o 25 de Abril". Pois não. Mas foi para isto que se segregaram e de alguma forma puniram alguns dos mais generosos capitães de há 35 anos. Com o capitão Salgueiro Maia, à cabeça da lista.
Alguns dos que tramaram Salgueiro Maia andaram por aí a pavonear-se nos 35 anos da reconquista da liberdade.
«DE» de 27 de Abril de 2009

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Gravar Zeca por cima de Ravel

Por A.M. Galopim de Carvalho
NESSE TEMPO, há precisamente 35 anos, ainda conservava o hábito, que me ficara da juventude, de estudar até tarde, pela noite fora, com música de fundo num rádio-gravador portátil. Fora assim também em Paris, na preparação do doctorat en Sédimentologie e, mais tarde, em Lisboa, com a redacção da tese que me casou com a Universidade. Era o contrário do que faço agora, que acerto o horário pelo das galinhas, sendo na solidão e no sossego da madrugada que gosto de escrever. De igual entre esse tempo e o de agora, só a rádio com música de fundo.
Se fosse hoje, tinha sido dos primeiros a ouvir o comunicado do Movimento das Forças Armadas, que viria a chamar-se Movimento dos Capitães. Mas ouvi “E depois do Adeus”, pelo Paulo de Carvalho, por mero acaso, numa daquelas muitas rodagens do botão do condensador, em busca do tal fundo musical. (...)
Texto integral [aqui]

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26.4.09

Doze anos obrigatórios

Por António Barreto
O GOVERNO ACABA DE APROVAR a lei que estabelece a escolaridade obrigatória de doze anos. Há muito que se esperava e estava anunciada pelos programas deste e de anteriores governos. Aliás, a medida fora já aprovada por um governo do PSD, mas, no trânsito entre Barroso e Santana, o Presidente da República, Jorge Sampaio, não tinha homologado o decreto-lei. Ao mesmo tempo, o governo anuncia uma decisão de aumentar o número de bolsas de estudo para os alunos que teriam dificuldades económicas em frequentar o ensino secundário. Esta medida não suscita objecções de maior. Uma escolaridade de onze a treze anos é geralmente considerada como adequada e necessária. Há já muito que em Portugal deveria vigorar esta norma. Aplauso, pois. Mesmo considerando que a noção de “escolaridade obrigatória” é obsoleta. Na verdade, esse imperativo aplicava-se aos pais que, desde o século XIX, não estavam facilmente predispostos a dispensar os filhos de trabalhar. Hoje, a educação é mais um direito social do que uma obrigação. Admita-se, todavia, que a escola compulsiva ainda faz sentido. (...)
Texto integral [aqui]

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Uma "acentuada" economia...

NOS ARREDORES de Vila Velha de Ródão, contam-se muitas placas que referenciam a vila. Em algumas (poucas), o nome está bem escrito; na sua grande maioria (incluindo a que está mesmo à entrada da localidade!), o nome passa a ser Rodão, como nesta se vê. Terá sido para poupar a tinta do acento?
Já agora: os autarcas não são pagos para se preocuparem, também, com estas coisas? Ou o "amor à terra" não se aplica a 'ninharias' como o respectivo nome? Ou já reclamaram junto dos analfabetos-de-serviço e responderam-lhes que 'o assunto está em estudo'?

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Lisboa e a “nova moeda”

Por Helena Roseta
ESCREVI EM 2002 que se estava a assistir ao florescimento de uma “nova moeda”: os metros quadrados de construção permitidos ou admissíveis, um verdadeiro “mercado de futuros” que estava a dar cabo do ordenamento do território.
Em Portugal a “nova moeda” tem sido utilizada pelo próprio Estado para pagar obras para as quais não há capacidade orçamental. Foi com ela que se pagou, por exemplo, grande parte dos estádios do Euro 2004, através de direitos de edificabilidade cedidos a clubes de futebol, muitas vezes por simples protocolo.
O governo, através da Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, acaba de aprovar um decreto regulamentar que irá limitar a passagem de solos rurais a solos urbanos. Sabe-se que é nesta mudança de uso que se constroem mais-valias urbanísticas mirabolantes. É por isso que a pressão sobre autarquias e entidades públicas que decidem ou dão pareceres sobre o ordenamento do território é tão forte. O caso Freeport é apenas um exemplo desta pressão. (...)
Texto integral [aqui]

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25.4.09

Coincidência interessante

COMO já se anunciou, o próximo passatempo a propor aos leitores do Sorumbático está relacionado com o filme Um Amor de Perdição, realizado por Mário Barroso. Por outro lado, também a obra de José Rodrigues Miguéis tem aqui sido, e com frequência, referida.
É, pois, com interesse que me preparo para ver hoje, às 22h43m, na RTP2, O Milagre Segundo Salomé, do mesmo realizador.
Alguém [já] o viu?
NOTA: sobre o filme, ver também [aqui].
O acento que falta nos anúncios da Renault, talvez tenha ido ornamentar o dos "eléctrodomésticos" desta loja de Armamar que, por sinal, também vende tubos e "acessórias".

Os retratos

Por Alice Vieira
ANA DAVA AULAS numa escola no meio do nada, para lá do sol posto, sem as mínimas condições para nela se ensinar fosse o que fosse. Ana dizia muitas vezes que aquilo devia ser o Ministério a testar as suas capacidades pedagógicas e a sua resistência física.
A escola não tinha nada, absolutamente nada, do mínimo que uma escola devia ter: não tinha mapas, não tinha a caixa de sólidos para ensinar geometria, não tinha nenhuma espécie de material, até mesmo o quadro preto já se limpava com dificuldade, tantos os anos de uso. (...)
Texto integral [aqui]

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Passatempos em curso

1- Terminou, às 20h de ontem, o passatempo «Acontece...». Ver a decisão do júri em "actualização".
2- Prossegue, até às 20h da próxima segunda-feira, o passatempo «Quanto indica a balança?».
3- A seguir: «O que pensa do filme Um Amor de Perdição, recentemente estreado?»

Um feriado no sábado?

Por Antunes Ferreira
RAIO DE POUCA SORTE. O feriado, hoje, caiu logo no sábado. Já nem os feriados são como os do antigamente, certinhos, ordeiros, calmos, pacíficos, até mesmo nacionalistas. Outros tempos, outras saudades, outras convicções. Pensando bem, o que é que terá acontecido para que haja este feriado? Dia santo – não me parece, não vejo nenhum membro da corte celestial dar o nome dele a este dia. Deve haver, todos os dias têm um Santo, mas há-os mais destacados ou importantes do que outros. Deste, não me recordo. Absolutamente.
Vinte e cinco de Abril? Por certo aconteceu, nesta data, qualquer coisa destacada para merecer o dom do feriado. (...)
Texto integral [aqui]

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24.4.09

Uma mulher formidável

Por Joaquim Letria
UMA VEREADORA da Câmara do Seixal lavou roupa suja em público, em boa hora! Como foi bom ver 2500 t-shirts lavadas no mega estendal de Corália Loureiro, uma professora que deixou muitas saudades na Cultura mas que também na Acção Social põs o Seixal no mapa, por bons motivos.
A segunda Semana Social do Seixal terminou com essa “instalação” monumental. Milhares de pessoas, de 180 parceiros sociais, animaram a iniciativa, que congregou jovens e idosos, mobilizando contra os atentados aos direitos humanos consagrados na Constituição, como a saúde, educação, justiça, emprego e direito ao pão.
Corália Loureiro faz muita falta à Cultura. Mas quem gosta do Seixal sabe que ela trabalha bem onde for preciso.
Sem faltar a sessões cívicas e culturais, Corália também não perde o teatro nem os concertos, estimulando todos, como ninguém, e interessando os outros a irem, também. Corália Loureiro é uma mulher formidável!
«24 Horas» de 24 de Abril de 2009

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À porta da Renault, em Alvalade
E que tal começar mesmo pelo "inicio"... e aprender a escrever?

Não se queixe muito

Por Pedro Lomba
TERÇA À NOITE, sintonizo a RTP para mais hora e meia da vida gloriosa de José Sócrates. O primeiro-ministro nunca surpreende. Números avulsos para o ar, odes à governação e uma mensagem que só passa na medida em que ninguém o confronte a sério. É assim com a crise. Sócrates não pode negar que Portugal já vivia em crise antes da crise financeira e continuará em crise depois dessa crise terminar. Mas a crua verdade do facto não importa muito a Sócrates, que responsabiliza prosaicamente o mundo por todos os males que nos assolam.
De qualquer maneira, a entrevista inócua que deu à RTP teve, pelo menos, um mérito: mostrou o quanto os jornalistas irritam o primeiro-ministro. (...)
Texto integral [aqui]

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Foi actualizado o blogue Humor Antigo,
com a afixação das anedotas ilustradas 16 a 22 do ano de 1922

Estradistas

Por João Paulo Guerra
Muito sugestiva a imagem usada pelo primeiro-ministro, na entrevista à RTP, sobre as relações do Governo com o Chefe de Estado: “Em política cada um pedala a sua própria bicicleta”.
MUITO SUGESTIVA mas não totalmente fiel à pedalada da política portuguesa nos últimos três anos. O velocípede, comum a Belém e São Bento, não tem sido a bicicleta mas o ‘tandem' - 2 selins, 4 pedais - embora nem sempre com pedalagem sincronizada.
É possível que daqui até às eleições - com três contagens para o prémio da montanha - cada um pedale em sua direcção, com vista a melhorar a classificação geral colectiva, por equipas. Mas durante as etapas dos últimos anos o PSD furou várias vezes e atirou mesmo alguns líderes para o carro-vassoura, pelo que é evidente que precisa que um reboque ou de um empurrão para chegar à meta. E o PS quer ganhar tudo, individualmente e por equipas, mais o prémio da montanha e as metas volantes. Mas até agora não tem havido contra-relógio, nem sequer verdadeira competição entre os dois estradistas.
Pelo contrário. Até ao momento cada um tem dado ao pedal consoante a pedalada do outro. E é mesmo de crer, no que diz respeito à equipa de São Bento, que nenhum outro competidor lhe consentiria tantas e tais fugas em frente. É questão de cada um recordar o quadro da pré-selecção para Belém. Que outro corredor faria tão perfeita parceria com a bicicleta de São Bento? Nenhum, naturalmente.
Pode bem acontecer que as bicicletas entrem em pista nesta fase para o ‘sprint' eleitoral. Até pode suceder que, no pós-eleitoral e em função dos resultados, as bicicletas venham a dar lugar ao triciclo. Mas até agora, e para lá de um ou outro truque de ilusionismo, o ‘tandem' tem sido o veículo da coabitação.
«DE» de 24 de Abril de 2009

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Foram actualizados os blogues de Joaquim Letria «Histórias de Chorar por Mais» e «Arroz Doce». Este último terá uma nova actualização amanhã, com a crónica «Confidencial» do fim-de-semana.

Quero ter o meu deputado

Por Maria Filomena Mónica
«O MEDO é que guarda a vinha»: o provérbio pode ter alguma base, mas por muito intactas que as videiras se mantenham sob cativeiro acabarão sempre por esmorecer. Vem isto a propósito da lei eleitoral portuguesa: elaborada em 1974, num momento de desconfiança em relação aos eleitores, está a destruir o regime. Com receio dos cidadãos, os políticos congeminaram um esquema que permite retirar aos eleitores parte do poder de decisão. Na prática, apenas vamos às urnas para escolher entre as listas de nomes cozinhadas pelos partidos. Assim se evitariam, pensou o legislador, os dislates do caciquismo.
Dou de barato que o medo talvez se justificasse, mas, passados trinta anos é aberrante que continuemos a não poder seleccionar o nome do indivíduo que gostaríamos de ver como representante no Parlamento. (...)
Texto integral [aqui]

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23.4.09

JÁ QUE TANTO se fala de bancos e de banqueiros, os anunciados passatempos a propósito dos filmes «Um Amor de Perdição» e «Gran Torino» vão esperar mais algum tempo - e este entra já, com a pergunta do costume: quanto indica a balança? E mais: para comemorar o DIA MUNDIAL DO LIVRO, haverá prémios para o 2.º e 3.º classificados.
Cada leitor poderá dar uma única resposta, terminando o passatempo às 20h do dia 27 Abr 09. Poderão ser enviados "palpites" para sorumbatico@iol.pt até 30 minutos antes. O 1.º prémio, a atribuir a quem mais se aproximar do valor certo, será um exemplar deste «O Banqueiro Anarquista», de F. Pessoa. O 2.º e 3.º serão livros-surpresa. Uma "dica": o valor certo está entre 1250 e 2250 gramas. A resposta certa já está programada para aparecer automaticamente às 20h01m [aqui].
Actualização (27 Abr 09 - 20h10m): ver resultado [AQUI]

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“Remakes” e “Castings”

Por Joaquim Letria
OLIVEIRA E COSTA do BPN vai ser o criminoso de colarinho branco da democracia na nova versão de “Sucesso”, do BIP de Jorge de Brito, do “ancient regime”.
Bibi será o pedófilo da democracia, um “remake” actualizado dos “ballets roses” do salazarismo. Pedro Caldeira protagonizará “A Bolsa ou a Vida”, um “thriller” para substituir “O Ladrão do Fascismo”, interpretado por Ramiro Valadão.
Mesquita Machado, Fátima Felgueiras e Ferreira Torres serão os três pastorinhos da nova versão de “Fátima” e a justiceira Maria José Morgado incarnará “O Baltazar Garzon da Piolheira”.
Albarran pode produzir “Assalto à Embaixada” e “Crime em Ponte de Soure” e Dias Loureiro, com “Amnésia Fatal”, substituirá Mário Soares em “O Mistério do Fax de Macau”. Catarina Furtado será a nova Tatão, Eduarda Maio fará de Barradas de Oliveira e Afonso Camões dará vida ao Dutra Faria do novo regime. José Sócrates personificará “O Homem Enguia” no filme de terror ”Freeport”, passado em Alcochete.
“Remakes” são sucesso garantido. Basta acertar nos “castings”.
«24 Horas» de 23 de Abril de 2009

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VEJA-SE, [AQUI], o que podem esperar alguns dos futuros fregueses do TGV quando forem comprar os seus bilhetes...

Jaime Neves – general de caserna

Por C. Barroco Esperança
A PROMOÇÃO DO COR. JAIME NEVES a oficial-general, 28 anos depois da reforma e sem nunca ter mostrado aptidão ou desempenhado funções a esse nível, revela a imensa vontade que a direita tem de reescrever a história e ajustar contas com o 25 de Abril.
Há factos que ajudam a compreender o atropelo e a obsessão de falsificar a História.
Jaime Neves foi um militar que se distinguiu em África pela valentia e crueldade com que combateu os guerrilheiros dos movimentos de libertação das colónias.
Entrou no 25 de Abril, por engano, com grande fascínio por um general fascista, Kaulza de Arriaga, e não se lhe conheceu êxito nas missões que lhe foram confiadas na Revolução – a prisão de individualidades importantes do regime fascista. (...)
Texto integral [aqui]

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Luz - LIII

Fotografias de António Barreto - APPh

Clicar na imagem, para a ampliar
A CODIZO é uma fábrica de sapatos situada perto de Felgueiras. Isto é, na vila da Longra, freguesia de Rande e concelho de Felgueiras, Douro Litoral. Pertence a dois irmãos. Há dez anos, estava à beira da falência.
Com muito trabalho, conseguiram vencer a crise. Inovaram, inventaram máquinas de corte de couro (que já exportam para os Estados Unidos), adaptaram as mais modernas tecnologias do mundo, investiram fortemente no design e na moda, diminuíram as unidades de produção em Portugal, abriram uma sucursal em Marrocos, estão a pensar em abrir outra na Ásia... Nesta imagem, no primeiro plano, equipamentos pertencendo às máquinas que inventaram. No segundo plano, os trabalhadores, sobretudo mulheres, encarregam-se do acabamento dos sapatos. (2006).

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22.4.09

Valha-nos a Igreja

Por Joaquim Letria
A RECENTE REUNIÃO da diocese de Lisboa para reunir vontades, mobilizar esforços e organizar recursos é digna do maior agradecimento.
A principal razão para nos mostrarmos agradecidos é o alívio mínimo para muitos necessitados, sem que mais ninguém tenha feito tanto. Os que gostariam de fazer mais, não podem. Os que podem, não fazem nada, limitando-se a ajudar os amigos e a cobrar dos indiferentes.
Não fossem certas paróquias e determinadas juntas de freguesia e não aparecia ninguém junto dos mais necessitados e dos que sofrem. Infelizmente, as instituições, na sua maioria, são agências de emprego para camaradas, amigos e familiares, tal como a função pública. Muitas das câmaras municipais são fontes de enriquecimento lícito e ilícito. Políticos e banqueiros andam demasiado ocupados a criarem novas dificuldades para venderem mais facilidades para lhes sobrar tempo para fazerem bem a alguém. Valha a Igreja a quem necessita.
«24 Horas» de 22 de Abril de 2009

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O bom senso faz falta

Por Manuel João Ramos

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Foi actualizado o blogue Humor Antigo,
com a afixação das anedotas 7 a 15 do ano de 1922

Prejuízo

Por João Paulo Guerra
Os portugueses estão a dar um imenso prejuízo a Portugal.
PAGAM MENOS IMPOSTOS porque a matéria colectável entrou em queda muito antes da crise, fazem menos compras, do que resulta menos IVA para o Estado, e ao mesmo tempo estão a consumir muito mais prestações sociais, em particular subsídios de desemprego. Por este andar, os portugueses tornam Portugal insustentável. Ou, dito de outro modo: a sustentabilidade do país, por este andar, exigirá que Portugal descarte os portugueses.
Já houve quem dissesse que o grande problema de Portugal é ter portugueses a mais. Na altura, o autor da barbaridade foi mais ou menos dado por imbecil. Mas o mundo pula e avança, ou recua, e talvez haja agora mais quem pense do mesmo modo, embora ainda não considere oportuno dizê-lo em voz alta. A questão é que, feitas as contas, os portugueses têm saído caríssimos a Portugal. É certo que o Estado lhes vai aos salários mas tão escassa é a massa salarial que o tributo não dá para tudo. E é assim que a saúde dá prejuízo, apesar de sobretaxada, tal como a educação, apesar das propinas, a segurança, a justiça, as obras e os serviços públicos. Tudo isto é agravado porque o mundo está em crise.
E Portugal está em crise há muito mais tempo que o mundo. Tirando meia dúzia de anos em que houve ouro de Bruxelas para dar uma ilusão de prosperidade, Portugal viveu a crise pós-revolucionária, com fome e salários em atraso, mais a crise orçamental, com sucessivos apertos de cinto à medida dos furos do défice, e agora a crise propriamente dita. Tudo somado, os portugueses são um atraso de vida para Portugal e vice-versa.
Noutros tempos houve o recurso à emigração. Agora, ao que dizem, só resta esperar por D. Sebastião. Quer venha ou não.
«DE» de 22 de Abril de 2009

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«São bandidos, mas cá da nossa terra!»

NESTA publicação de - apenas - uma dúzia de páginas, podem ler-se algumas considerações de Fernando Pessoa, tão certeiras quanto actuais, acerca do provincianismo lusitano. Uma das características analisadas é a obsessão pela "minha terrinha" - não será isso o que se passa quando políticos (de Marcelo Rebelo de Sousa a José Sócrates) apoiam Durão Barroso essencialmente por isso? Será que essas pessoas, se tiverem de procurar alguém para lhes gerir os negócios privados, vão colocar esse critério à frente de outros - como o passado, a seriedade, a competência...? Então, porque é que para um cargo político de topo, na Europa, já o adoptam?
Passatempo com prémio:
Num livro de Graham Greene, há um episódio em que são julgados uns contrabandistas que, além de terem sido apanhados em flagrante, mataram um guarda. Os réus são 'velhos conhecidos' das autoridades, os crimes são dados como provados, mas os jurados, por unanimidade, absolvem-nos... porque são da sua terra, enquanto o morto é de outra.
Pergunta-se: qual o título desse livro? O prémio, a atribuir ao 1.º leitor que der a resposta certa, será um exemplar de O Cônsul Honorário, desse autor. Cada leitor poderá dar uma única resposta. Actualização (12h22m): a resposta certa já foi dada no comentário-4.

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A revolução que falhou

Por Baptista-Bastos
QUE VAMOS COMEMORAR no sábado? O "dia inicial inteiro e limpo" [Sophia de Mello Breyner]? Mas que resta desse dia? As ruínas de uma história que se perdeu nela própria. A avenida encher-se-á, como de hábito, e os discursos, no Rossio, alegres e decididos, dissimulam a melancólica gravidade de uma peregrinação que se faz por uma memória feliz, tornada triste e antiga.
(...)
Sabe-se quem travou a marcha ruidosa e feliz. Conhece-se os nomes daqueles que, na sombra e no silêncio, isolaram e subjugaram, de novo, as nossas emoções. "Acabou a tua festa, pá!", cantou Chico Buarque de Holanda. O epitáfio definia o cansaço e a derrota. Aí estão as sobras demoradas da nossa juventude. Aí está o refugo de um sonho que tinha a dimensão do homem.
Afinal, vamos comemorar a nostalgia.
Texto integral [aqui]

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Clicar na imagem, para a ampliar- Blogue do Van-Dog [aqui]

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21.4.09

Os próximos passatempos com prémio serão...

A propósito dos que apoiam Durão Barroso "porque é português": um exemplar do livro «O Cônsul Honorário», de Graham Greene.
A propósito do filme de Mário Barroso, a estrear em breve: um exemplar de «Amor de Perdição», de Camilo.
A propósido das diferenças culturais: o livro «Cristão e Mouros», de Daniel Pennac (prémio não reclamado no passatempo sobre o filme Gran Torino).
NOTA: Todos os prémios correspondentes aos passatempos que já terminaram já foram enviados.

Um animal lusitano

Por Joaquim Letria
SE JÁ TÍNHAMOS UM BARROSO em Bruxelas, porque não ter também um cão de água português em Washington, na Casa Branca!?
“Bo” é um animal limpo, não andou a bater as patinhas de contente com a Guerra do Iraque, não vendeu ninguém para o Kosovo ou para a Bósnia, não deu serventia à CIA, não deve favores ao Rumsfeld nem fez pedidos ao Carlucci.
“Bo”chegou ao topo mundial pelas suas qualidades, como o José Mourinho, o Cristiano Ronaldo, o José Saramago, o Manoel de Oliveira, o Eusébio, o António Damásio e a Paula Rego. Pertence a esse universo exclusivo de escassa meia dúzia de eméritos.
“Bo” é cão dum só dono, apesar de o terem criado no Texas, posto à experiência em Washington e educado em Boston.
Explorado por todos, o cão de água português é sério e trabalhador, à antiga. Dá-se ao respeito, embora não ganhe nada com isso. Mas admiram-no. ”Bo” é um verdadeiro animal lusitano.
«24 Horas» de 21 de Abril de 2009

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«Acontece...» - Passatempo com prémio

Por Carlos Pinto Coelho

Como habitualmente sucede nestes passatempos, os leitores são desafiados a proporem uma legenda ou um comentário para esta fotografia (até às 20h da próxima sexta-feira), sendo os melhores premiados com livros.
NOTA: Esta fotografia, como todas as outras aqui afixadas com o título genérico «ACONTECE...», é da autoria de CPC.
Actualização (25 Abr 09/13h): o júri decidiu premiar Sofia e Carlos Antunes, a quem se pede que escrevam sorumbatico@iol.pt nas próximas 48h. Obrigado a todos(as)!

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20.4.09

Os Xutos são os maiores!

Por Joaquim Letria
OS “XUTOS E PONTAPÉS” celebraram 30 anos de vida e de sucesso por dois motivos: são a melhor banda de “rock” portuguesa de sempre e os seus músicos, além de competentes, são uns gajos porreiros.
Conhecer a música dos “Xutos” e conhecê-los pessoalmente ajuda a perceber como os “Xutos” não só não acabam, como renascem com uma música adoptada pela esmagadora maioria dos portugueses.
“Sem Eira nem Beira” não é um manifesto. É um hino à necessidade de todos resistirmos à corja que está a dar cabo do que resta de Portugal.
A surpresa maior é por a cáfila da rádio e dos discos ter feito desaparecer “Os Vampiros”, com que o Zeca Afonso retratou o salazarismo e, como ninguém fala francês, não conhecem Boris Vian. Do disco rígido também apagaram o “Não posso mais”, do Abrunhosa, com que nos despedimos do cavaquismo e do Dias Loureiro.
Por estas e por outras, “Vivam os Xutos”! São os maiores!
«24 Horas» de 20 de Abril de 2009

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«Pilha-galinhas» e «Pilha-milhões»

Por Alfredo Barroso
UM «PILHA-GALINHAS» é ladrão e vai ser julgado em tribunal dois anos depois de ter roubado duas galinhas. Um «pilha-milhões» é um génio e hão-de passar muitos anos até que o seu improvável crime prescreva, enquanto ele continua a sacar milhões de papo para o ar. Roubar industriosamente é engenho, assaltar galinheiros é desaforo.
Não espanta a diferença, numa sociedade em que os próprios indicadores oficiais mostram que as desigualdades sociais aumentaram na última década, e em que a justiça se arrasta com a lentidão de um «D. Elvira» no Rally das Camélias quando se trata de julgar os ricos e os poderosos que, por azar, chegam a tribunal. Pois pudera!
Quando constatamos que se cava cada vez mais fundo o fosso que separa ricos e pobres, ao mesmo tempo que se alarga a enorme distância entre o poder e os cidadãos, o que espanta é que tudo isto aconteça numa sociedade governada, rotativamente, há três décadas, ora por pretensos socialistas ora por pretensos social-democratas.
Como dizia Camilo: «Falta-nos a virtude e a moral; falta-nos o respeito à lei, e a lei que deva respeitar-se; falta-nos esse quase nada que faz dum povo de traficantes e de corruptos uma sociedade de irmãos e de amigos». «Esta frioleira dispensa-se», acrescentava ele, referindo-se a roubos, desaforos, prepotências e «outras bagatelas que desaparecem debaixo dos alicerces dum pomposo caminho-de-ferro». Bruxo!
NOTA: As crónicas do autor são também afixadas no seu blogue, «Traço Grosso». Os desenhos foram feitos por CMR para a VALOR e a DÍGITO.

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Darwin tinha razão

Por A. M. Galopim de Carvalho
CONTRA A VISÃO da Igreja da então, que impunha para a idade da Terra uma cifra de escassos milhares de anos, o escocês James Hutton (1726-1797), considerado o pai da moderna Geologia, afirmava que os fenómenos geológicos tinham durações de muitos e muitos milhões de anos. Charles Lyell (1797-1875), continuador do pensamento de Hutton, advogava a necessidade de um tempo geológico suficientemente longo que permitisse explicar a grandiosidade dos efeitos da erosão e as consideráveis espessuras de sedimentos acumulados, na ordem de milhares de metros. (...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR): 'idades do mundo' sugeridas por diversas religiões e culturas (e até por várias pessoas da mesma) podem ver-se [aqui].

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19.4.09

Justiça mal parada

Por António Barreto
A FACILIDADE com que, em Portugal, um caso de justiça se transforma num caso da justiça! É este um dos piores sintomas do estado a que chegou este sistema público. A menina desaparecida no Algarve quase deixou de ser assunto e preocupação, para que o processo, as querelas entre polícias, a competição entre poderes e tutelas, os erros de investigação e as fugas de informação se tornassem no assunto realmente importante.
A criança disputada entre o pai biológico e a família adoptiva (ou que pretendia sê-lo) depressa passou a ser um pretexto para rivalidades entre tribunais e psicólogos.
O processo Casa Pia vai ficar nos anais da justiça portuguesa sobretudo por causa das influências políticas, dos erros de instrução, das fantasias dos interrogatórios, das práticas insólitas de investigação, das quebras de segredo de justiça e das quezílias entre magistrados ou entre polícias. (...)
Texto integral [aqui]

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Visto, está conforme

Por Nuno Brederode Santos
POR MUITO DISTRAÍDO que eu andasse, era impossível deixar de reparar na sucessão, em quarenta e oito horas, do discurso de Cavaco Silva (...) e mais uma entrevista de Luís Filipe Menezes à SIC Notícias. Não para sugerir um nexo entre os dois factos, mas porque ambos formalizam, segundo os meus subjectivíssimos critérios, o arranque da pré-campanha das próximas eleições europeias. (...)
O governo explicará que não é com ele e, perante um caso ou outro mais difícil, dirá que a crítica é para quem empata a governação. As oposições proclamarão exactamente o contrário: que tudo é contra o governo. (...) Todos parecerão acreditar no princípio segundo o qual o melhor argumento é o mais ruidoso, pelo que a gritaria que se segue terá a vantagem cultural de nos mandar a todos para o cinema.
Menezes, (...) Voltou a protestar lealdade e a declarar-se pronto para a primeira linha do combate partidário. O pior vem a seguir e é sempre mais rápido do que se julga. É quando ele desce: primeiro ao galho baixo, depois ao chão. Se o aproveitarem, dá sarilho. Se o ignorarem, também. Vimos este filme mais vezes do que A Túnica. Boa noite e boa sorte.
Texto integral [aqui]

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CONVITE

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18.4.09

Dito & Feito

Por José António Lima
PELO ATRASO COM QUE APRESENTOU o seu candidato às europeias – mais de um mês depois de o PS ter colocado o seu cabeça-de-lista no terreno e quando falta pouco mais de mês e meio para as eleições – a líder do PSD parece não ter valorizado devidamente a importância e as consequências que este primeiro acto eleitoral de 2009 terá para o seu partido. E para a sua liderança.
Acontece que as eleições do Parlamento Europeu se apresentam como as mais incómodas para Sócrates e para o PS, pois são tradicionalmente aquelas em que os eleitores mais fácil e descomprometidamente expressam o seu voto de protesto com o Governo em funções. E o clima de crise acentuada e de desemprego crescente potencia ainda mais esse voto de descontentamento. (...)
Texto integral [aqui]

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FOI ACTUALIZADO o blogue «Arroz Doce», de Joaquim Letria, com mais uma crónica «Confidencial».

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DADO que o prémio correspondente ao N.º 777.777 do sitemeter não foi atribuído, aqui se propõe mais um desafio de salto-de-cavalo para lhe dar destino. Atenção, no entanto, ao seguinte: como está em causa um(a) autor(a) muito conhecido(a), é natural que haja a tentação de, após a decifração das primeiras palavras, procurar o resto com recurso ao Google. Pouco há a fazer quanto a isso; no entanto, pelo menos uma das palavras aqui ocultas escontra-se em grafia antiga, e é essa que deve ser apresentada na solução. Deverá ser indicado, também, o nome do(a) autor(a). O prémio será um exemplar de um livro dele (a). Ah! E para que não haja precipitações desnecessárias nas respostas, elas só serão válidas depois de o sitemeter indicar o n.º 777.850.
Actualização: o passatempo já terminou e foi ganho por 'Mg'. Entretanto, acabou por chegar o print-screen 777.777, que também vai ser premiado.

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Cantigas, leva-as o vento

Por Antunes Ferreira
PARA COMEMORAR os seus 30 anos de carreira, os Xutos & Pontapés editaram um novo disco. Tim e os seus acompanhantes tornaram-se uma referência da música portuguesa e o seu estilo continua a defender bravamente o rock da pesada. Isto não teria nada de especial, seria mais uma notícia a juntar às milhentas que o grupo tem coleccionado.
Porém, do álbum consta uma canção intitulada Sem eira nem beira, expressão que, é bem sabido, rotula normalmente situações muito desagradáveis em especial no que diz respeito ao desgoverno em que muita gente vive. Não ter eira nem beira é motivo para a piedade, mas também para a reprovação de quem não… sabe por onde vai e, pior, para onde vai. (...)
Texto integral [aqui]
NOTA (CMR): um vídeo-clip pode ser visto [aqui]

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17.4.09

Figurantes

Por Joaquim Letria
FAZ MUITA IMPRESSÃO ver as pessoas fazerem de cenário de TV. Ganhas dinheiro por sessão, estás divertido e não gastas, só fazes xi-xi quando deixarmos e levantas-te quando dissermos e só sais no fim de tudo, as boazonas atrás dos apresentadores, o resto cala a boca e faz o que mandarmos.
Geralmente, são pessoas idosas, reformadas, como se fossem de pau, não ouvem sequer o que ali se diz. Salvo o “Preço Certo” e a figura de Fernando Mendes naquele programa, onde as pessoas reagem no tempo natural aos preços e ao apresentador, só bates palmas quando mandarmos, que os figurantes são piores do que papel de parede.
Os mais tristes de todos são os que vão para os supostos debates, tipo “Prós e Prós”, convencidos que vão ter a palavra e, depois, ninguém os manda falar.
Faz muita impressão ser cenário de TV, principalmente na era do ”crome acquis”. Se eles soubessem francês e percebessem de vídeo nunca punham lá os pés.
«24 Horas» de 17 de Abril de 2009

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JÁ QUE TANTO se tem falado, nos últimos dias, de corrupção e enriquecimento ilícito, aqui fica uma velha anedota sobre luvas, com que se inaugurou a série 'Humor Antigo' dedicada ao Ano de 1922.

O Tratado de Lisboa e o Referendo

Por Maria Filomena Mónica
DEPOIS DE UM LONGO ciclo ditatorial, sofrendo os traumas de uma descolonização apressada, a Europa foi a salvação do nosso país. Nem tudo correu bem, mas os percalços ficaram a dever-se mais às características indígenas do que às imposições externas. Agora, fala-se muito da necessidade de um referendo sobre as mudanças constitucionais europeias: uma Europa a 27 necessita evidentemente de regras diferentes das que vigoravam quando apenas uma dúzia de países dela faziam parte, mas o que está sobre a mesa não me agrada, porque as instituições centrais da União Europeia são irresponsáveis, burocráticas e corruptas. (...)
Texto integral [aqui]

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Passatempos em curso

1- Já está afixada a decisão do júri relativa ao último passatempo «Acontece...» - ver a respectiva "actualização".
2- Termina às 20h de amanhã a 1.ª fase do passatempo a propósito do magno problema do dressing code.
3- Sugere-se ao leitor que venha a deparar-se com o número 777.777 (no sitemeter que se vê em rodapé) que faça um print-screen e envie a imagem para sorumbatico@iol.pt.
Actualização: o print-screen 777777 acabou por aparecer. O número calhou a Sofia Regalo, que vai receber o prémio previsto: um exemplar de «Sonetos», de Antero de Quental.

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