30.11.14

Luz - Uma parede que quase fala, Portimão, Algarve

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Aqui temos uma parede quase a merecer honras de arqueologia. Só a Internet permite perceber alguns destes acrónimos. JAPBA é, pelas dimensões, o primeiro e mais importante. Trata-se da Junta Autónoma dos Portos do Barlavento Algarvio, com o seu orgulhoso Posto de Fiscalização, cuja sede deve ter sido em Portimão. Não posso afirmar que perdi muitas horas, mas dediquei algum tempo a tentar perceber o que tinha acontecido a esta JAPBA. Só sei que ainda vivia em 1995, pois Cavaco Silva e Mário Soares assinaram então uma lei que lhe dava poderes para concessionar actividades a terceiros. Depois disso, é o silêncio dos túmulos! O P.E., depois de investigação, servia para garantir que se tratava de “Património do Estado”. O PS é o Partido Socialista. E o Partido Comunista Português é o PCP. O anúncio ao comício a realizar em Portimão refere um importante dirigente da altura do PCP, Octávio Pato. A misteriosa LUA visível na parede, quase atrás da cabeça do senhor da esquerda é uma sigla diminuída. Na verdade, trata-se da LUAR, Liga de Unidade e Acção Revolucionária, grupo político dirigido e fundado, entre outros, por Hermínio da Palma Inácio e que ainda hoje se recorda por ter, antes de 25 de Abril de 1974, levado a cabo um audacioso assalto aos cofres do Banco de Portugal da Figueira da Foz. A Exposição Anti-colonial que se anuncia deveria ser o que diz ser, não parece ter deixado recordações conhecidas. (1974)

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DOMÍNIOS MORFOSSEDIMENTARES DE TRANSIÇÃO NA INTERFACE TERRA–MAR (5)

Lagunas 
Por A. M. Galopim de Carvalho
PARA ALÉM dos estuários e dos deltas, as lagunas, representam um outro tipo de ambientes na interface terra-mar. Referidas também por bacias parálicas , são corpos de água, geralmente pouco profundos, parcialmente fechados ao mar por uma barreira que pode ser de areia (as mais comuns), recifal nos (litorais intertropicais) ou, mais raramente, rochosa. A comunicação com o mar, temporária ou permanente, é feita através de vaus que, no caso das barreiras arenosas, podem fechar e abrir ou migrar para um lado ou para outro.(...)
Texto integral [http://sopasdepedra.blogspot.com/2014/11/dominios-morfossedimentares-de_30.html]

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27.11.14

O deputado Miguel Macedo em seu labirinto

Por C. Barroco Esperança
O ex-ministro Miguel Macedo, que tão depressa ocupou o lugar de deputado a que tinha direito, em temos penais só responderá perante a Justiça, e se for solicitado, mas deve ao país uma explicação, politicamente mais pertinente, depois de ter resistido ao escândalo dos serviços secretos em 2012.
A coincidência das relações pessoais e nomeações, onde o azar lhe bateu à porta, podem deixar suspeitas no cidadão comum, que deve interrogar-se sobre a ocorrência do atraso na nomeação de um alto funcionário para a China onde deveria fiscalizar a atribuição de vistos dourados, e a que o próprio Governo teria pedido urgência. (...)
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24.11.14

Dor e consternação ou nem isso

Por Pedro Barroso
SOU INSUSPEITO, creio. Nunca amei Passos Coelho e considero, em quase tudo o que este governo tem feito, que representa um insulto e roubo permanente, perigoso, despudorado e progressivo aos funcionários públicos, aos reformados, aos mais desfavorecidos.
Mas este episódio da detenção de Sócrates levanta lebres de todas as já previsíveis tocas. E espanta outras na mais disparada correria - procurando novos mimetismos. Que pândega. Até "dor e consternação" como dizem Lacão e Vieira (sic) !!! Oh meu muito pequenino Deus!! Senti isso quando morreu o Zeca, a Amália, o Solnado, o Salgueiro Maia. Isso sim. Dor e consternação?! Serão coisas que esta gente sente? Não. São coisas que esta gente diz. Ou tem de dizer, pois "obeissance oblige".
Sócrates foi dos mais desejados primeiros-ministros. Por defeito. De facto, Santana Lopes, - o play boy que quer ser, ao que parece, Presidente, nem que seja no mais recôndito secreto de si mesmo...- caíra; por colapso de birras, indigência mental e uma espécie de governação de vídeo game barato, adolescente, leia-se mesmo, humorística. Fora breve o consulado. Não houve paciência para tanta barraca seguida e saiu por uma porta muito pequena, bem adequada à envergadura anã de tão estranho e inefável mandato.
Sócrates apareceu então, quase como o "desejado". O salvador possível dos anéis, talvez já só dos dedos. Mas breve, o círculo de mesmismo se instalou. Breve se percebeu que ali havia rato, - pois nem gato ousaria dizer. O estilo, a crispação, a vaidade pessoal, as decisões, a mentira da licenciatura, o nebuloso passado como "assinador barato" de projectos dos outros, as luvas quase óbvias mas nunca provadas dos Freeport e quejandas epopeias.
O afundamento geral das finanças do país. E ele a dizer que não a tudo. E nós a vermos que sim. E o país a submergir dia a dia. Enfim.
Nunca odiei tanto um PM como tal putativo "salvador"; já então exangue e autista, culminando no ódio que em mim ferveu no seu 2º mandato. A contracorrente da Cultura, da Lógica, da correcção, dos bons costumes, do bom senso, do equilíbrio, da responsabilidade governativa.
Só, portanto, por cega obediência seguidista hoje alguém pode alimentar tamanha dor.
Politico - perdoe-me discordar, senhor PM actual e gestor dos tais anéis que foram...- é mais coisa menos coisa, isto mesmo. O que hoje é, amanhã não sabemos. E, de logro em logro, de má gestão em descalabro maior, lá definhou o povo, desde Manuel, o venturoso. E desde Abril de 74 que queimamos lenha já ardida trinta vezes no lume de uma esperança que morreu. E o património de homens públicos que possuímos para mostrar ao mundo é o que está à vista nos últimos dias:
- Directores do SIS que ajudam, ao que parece, a limpar escutas a pedido de amigalhaços?! Directores do SEF afinal mais interessados em montar negócio de imobiliário em comércios de nos pôr os olhos em bico?! Presidentes dos próprios registos e notariados que se venderão (ou não, até prova em contrário, claro... mas...) fabricando tolerâncias suspeitas, ostentando lucros, comissões, usando influências para enriquecer despudoradamente?!
O país afinal é governado assim? E não se mexe também, já agora, com aqueles que souberam de antemão o descalabro do BES e venderam as suas acções rapidamente, as tais que, dias depois, nada valeriam?
Que curtimenta vestem, de que tecido são feitos, afinal, os salgados donos disto tudo? Que imagem exportamos de um país que deu mundos ao Mundo? Peço desculpa mas... Não se pode mesmo ser... Sei lá... Suíço? Norueguês? Talvez até... Turco?

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23.11.14

Luz - Tourém, Trás-os-Montes

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Aldeia perto da fronteira entre Portugal e Espanha. Fronteira, aliás, praticamente inexistente hoje. Não longe de Montalegre e do Gerez. Por ali andei, há quase quarenta anos. Esta formidável debulhadora deveria ser o símbolo de maior modernidade e de mais avançada tecnologia existente na aldeia. O cereal que se debulha aqui é centeio, típico de solos pobres, de climas frios e de cultivo em sequeiro. Ao fundo da eira, quase imperceptíveis, podem-se identificar um ou dois espigueiros, aqueles “armazéns” de granito e madeira que protegiam o cereal, o grão, às vezes uns utensílios ou produtos da horta. Protegiam-se das chuvas, dos fungos e dos ratos. Ainda há gente a viver em Tourém. Mas cada vez menos. E jovens, poucos.(1980)

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DOMÍNIOS MORFOSSEDIMENTARES DE TRANSIÇÃO NA INTERFACE TERRA-MAR (4) - Estuário do Tejo (conclusão)

Por A. M. Galopim de Carvalho

O ESTUÁRIO do Tejo, como hoje se nos apresenta, sucedeu a uma situação anterior (no Pliocénico) definida como um sistema múltiplo de canais anastomosados, com uma ampla foz na que é hoje península de Setúbal. Este sistema pode mesmo ter tido uma divergência para sul da cadeia da Arrábida, espraiando-se também na planura que é hoje ocupada pelo estuário do Sado. Nesta eventualidade, muito provável, a Arrábida terá sido como que uma ilha a dividir e a separar a drenagem do pré-Tejo em dois ramos divergentes um, a norte, desta jovem montanha e outro, a sul, para o qual convergia, de sul para norte, a drenagem da região não muito diferente da actual bacia do Sado. (...)
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22.11.14

Dos Dourados ao BES

Por Antunes Ferreira

ZANGAM-SE as comadres, dizem-se as verdades. O ditado precisa de adaptação aos dias de hoje e basta um ponto de interrogação no seu final para a coisa estar feita; Zangam-se as comadres, dizem-se as verdades?
A comissão de inquérito parlamentar sobre os infelizes Vistos Gold ainda vai ter de suar as estopinhas durante muito tempo, quiçá a legislatura não chegue. O que, sendo lamentável, não é difícil. Marcelo Caetano dizia nas suas aulas, ouvi-o eu, que em Portugal quando se nomeia uma comissão é muito raro ela chegar ao fim e muito menos a conclusões definitivas. Tinha razão o herdeiro do dr. Salazar? Parece-me que sim, ainda que me tenha chumbado em Direito Administrativo…
Até à data (escrevo na sexta-feira, 21) há uns quantos suspeitos de desonestidade e sobretudo corrupção – activa e/ou passiva – aliadas a trocas de influências, manejos políticos, e quejandos, em prisão preventiva; mais precisamente cinco. São pessoas importantes, actores e decisores políticos a um nível muito alto. A Polícia Judiciária fez (e faz) buscas domiciliárias, a locais de trabalho, a tudo cheira mal. Nunca as mãos lhe doam.
Mas tem-se debatido com circunstâncias indescritíveis, como por exemplo computadores de suspeitos absolutamente “limpos” cuja “limpeza” fora mandada fazer por outros suspeitos, aparentemente nos “termos da lei” expressão utilizada mas com muitos sentidos. São considerados “normais”, mas com vírgulas a mais, o que resulta em buracos por entre os quais se foge sinuosamente, mas sempre explicado na base das disposições “nos termos da lei”
Todos sabemos que a corrente parte sempre pelo elo mais fraco; no caso dos sinistros Vistos Dourados, ela quebrou-se por elos mais fortes. Ou, pelo menos, por gente que acreditava que vivia nos cornos da Lua, que se considerava insuspeita de qualquer pecado. Mas, quando a ponta do icebergue apareceu foi o princípio de um afundamento impossível. Ter-se-ão esquecido do caso Titanic, ou nem sequer sabiam dele.
Deste imbróglio parecia não poder-se escapar. Fazia sentido recordar o labirinto de Creta em que reinava o Minotauro que comia todos os que o tentavam eliminar. Julgava-se o misto de corpo de homem e cabeça de touro que era impossível vencê-lo; mas um dia apareceu o herói Teseu que, superando o que Dédalo construíra, eliminou o Monstro. Acabara o impossível…
Porém a comissão de inquérito decidiu ouvir o cidadão que trouxera os Dourados para Portugal, o seja Paulo Portas, que, curiosa coincidência, também é vice- Presidente do Conse,…, perdão, vice primeiro-ministro deste (des)Governo; poderia perfeitamente não ter lá ido, mas num verdadeiro rasgo de urbanidade, solidariedade e patriotismo foi declarar que sim, que os desgraçados Vistos eram muito importantes para trazer investimentos em Portugal.
Se acabassem com eles, os “investidores” iriam “investir” para outros países que também os concedem e acabava-se o investimento para o progresso e desenvolvimento do país e para salvar a construção civil que estava de rastos. Quando ao progresso e desenvolvimento do país estávamos (e estamos) conversados. Já no que respeita à construção civil são outros quinhentos mal réis.

Na verdade os “investidores” dourados vêm comprar a um belo preço imóveis. Dizem que o fazem para lavar dinheiro sujo, desde chineses até angolanos com ucranianos e quiçá russos à mistura. Mas não há provas em “termos legais”. Boa maneira de desenvolver Portugal e alavancar o seu progresso técnico, tecnológico e mais, nos domínios da ciência, da indústria, da agricultura e do berlinde às três covas, principalmente este que é altamente deficitário entre nós.
Lê-se, ouve-se e vê-se o que os órgãos de comunicação benignamente nos ofereceram – pagos – e começa a descobrir-se que os Vistos Gold são uma panaceia universal, no mínimo para Portugal. Nós, os portugueses, andávamos (quase) todos enganados sobre o valor e a bondade deles. Ainda [está para] durar a trabalheira atribuída à comissão parlamentar de inquérito. Só em audições espera-se [que] demorem tanto – ou mais – do que a que [teve] a tarefa de investigar a gigantesca fraude do Espírito Santo (não me refiro ao da Santíssima Trindade) que é quase Deus pois está por toda a parte como um polvo tsunâmico com montanhas de tentáculos.
Há quem lhe chame Hidra, por mor das muitas cabeças que fazem parte dele, mas de uma maneira ou doutra está para durar até às calendas – se a PJ deixar ou se deixarem a PJ continuar. A investigar.

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20.11.14

O Governo e os vistos dourados

Por C. Barroco Esperança
Enquanto Cavaco Silva faz de morto e Passos Coelho de primeiro-ministro, o Governo desintegra-se. Os ministros da Justiça, Educação e Negócios Estrangeiros arrastam-se num barco que perdeu as velas e o leme, à espera que lhe indique o rumo a luz de que o faroleiro não sabe onde fica o interruptor.
A demissão de Miguel Macedo, cuja permanência política era insustentável, o que só o PM não percebia, permitiu um exercício de rara bondade, de sequazes e adversários, a incensar o desapego ao poder e a clarividência do político. Até Soares e Sócrates, num ataque de bonomia, fizeram coro no panegírico ao defunto ministro das polícias (...)
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18.11.14

Deveres de Consciência

Por Pedro Barroso
...se um simples cidadão vulgaris lineus fizer um degrau, uma janela, uma serventia; se dever uma prestação à Segurança Social, uma mensalidade ao Banco, uma letra do carro; se pisar um risco numa ultrapassagem, atravessar fora da passadeira, cuspir no chão, insultar o governo, o fiscal de finanças; se não tiver as licenças em dia, o boletim preenchido, provisão na conta. 
Se. Não acabaria mais. 
O cidadão é multado, extorquido, esquartejado, perseguido, preso, condenado, chateado, incomodado. 
Percebi. 
Para a próxima, retiro 5000 milhões - o que quer que isso seja, meu deus...- e terei direito uma prestigiosa e colunável Comissão de Inquérito, dúvidas do Banco de Portugal sobre quando intervir e o que fazer, muitos milhões cautelosamente guardados na Suiça ( talvez em Bensafrim, Odelouca, Portelosa do Semicúpio... ). A coisa vai demorar.
Falo ao Oliveira e Costa, que ele sabe do assunto e anda por aí. Mas atenção. Ponho um ar distante e pesaroso. Declaro que fui derrotado pela crise em luta heróica pelo Bem comum. Pela economia nacional. Talvez me ergam uma estátua um dia. Faça-se justiça, claro. Investigue-se - darei toda a minha colaboração. Por minha honra. 
Puxarei de uma cadeira e esperarei sentado. Fumo um charuto caro, bebo um scotch de trinta anos, um porto de cinquenta. Dou uns passeios em jacto privado. Apetece-me ir jantar a Paris, fazer compras, ver os amigos. 
Vou preparando a defesa, ocultando papeladas, apagando factos. Sorrio para mim mesmo, senhorial, devagar. Uso Armani e fragrâncias parfum made para mim. Tudo baratíssimo. Muito acessível. Visto camisas por medida. Seda natural que sou alérgico a porcarias.
Vou à ópera amanhã, sou uma pessoa de bom gosto - aprecio Verdi. 
Talvez  encontre um cidadão menor pelo caminho, mendigando. 
Ver se não me esqueço de lhe dar uma moeda.

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16.11.14

Luz - S. Petersburgo, Rússia

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A primeira vez que tinha estado nesta cidade fora nos anos sessenta. Nem a cidade, nem eu, éramos iguais ao que somos hoje. S. Petersburgo chamava-se então Leninegrado (depois de já ter sido Petrogrado por uns poucos anos), do nome de Lenine, o revolucionário russo, depois chefe do partido comunista da União Soviética, o fundador e primeiro ditador daquele país (tal como havia Estalinegrado, de Estaline, o segundo ditador). Nessa altura, era impensável ver um militar russo, ou soviético, sentado num banco no meio da rua ou de um jardim, com uma lata de cerveja no chão, ao lado de um jovem de T-shirt e mangas à cava, talvez também militar. S Petersburgo, maravilhosa cidade, voltou a ter o nome que tinha desde a origem (foi aliás o Czar Pedro que a fundou no início do século XVIII). Estes dois jovens estão sentados num banco público dos jardins em frente à catedral de Santo Isaac e perto de hotéis famosos, o Astoria e o Angleterre, onde pernoitaram, desde há cem anos, todos os importantes deste mundo, capitalistas ou comunistas, russos ou americanos, militares, políticos e escritores. A catedral de Santo Isaac, acima referida, tem uma história curiosa. Após a revolução, os comunistas decidiram que aquele local deveria ser encerrado ao culto e às trevas. Assim fizeram e transformaram-na, pouco depois, num “Templo do Conhecimento”, apetrechado de um “Pêndulo de Foucault”. O Museu ficou a chamar-se “Museu da História da Religião e do Ateísmo”. Agora, perdeu a vertente “ateísmo” e ganha gradualmente a sua vocação religiosa. (2010)

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DOMÍNIOS MORFOSSEDIMENTARES DE TRANSIÇÃO NA INTERFACE TERRA–MAR (3)

Por A. M. Galopim de Carvalho
Estuários 
OS ESTUÁRIOS são corpos de água localizados em reentrâncias da costa, coincidentes com as desembocaduras dos rios, nas quais a água do mar penetra e circula segundo um esquema que, em cada caso, se estabelece entre o regime do rio e as marés. É antiga e longa a discussão sobre o que é, exactamente, um estuário, sendo vários os critérios salientados pelos diferentes autores na sua definição. Todavia, uma característica comum a todos eles é a ocorrência de diluição da água do mar em água doce, de jusante para montante, o que não acontece nem nas lagunas nem nas fozes fluviais não estuarinas.(...)
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15.11.14

O marido (malcriado) da ministra



Por Antunes Ferreira

Tricas entre jornalistas, como entre outros membros de classes profissionais, são muito frequentes. Normalmente acabam em bem, mas há guerras entre o alecrim e a manjerona que dão que falar e prolongam-se ao longo do tempo. São inevitáveis, se há problemas entre eles, nós, em tempos dirimiam-se à pistola ou à espada, os famosos duelos. Hoje, porém, já ninguém sai à estacada para duelar. Uma boa polémica substituiu a utilização das armas.

No entanto, são raras as vezes em que um jornalista move uma acção contra outro – o que é válido também para uma ou outra – caindo no foro judicial, indo a tribunal, responder ao processo que foi levantado com o contraditório. De resto, com a (in)Justiça que hoje temos por cá, mesmo tendo em conta o famigerado Citius, as acções andam (?) a passos de tartaruga, se não mesmo de caranguejo, deixando passar o tempo para se alcançar a tão ansiada prescrição, o procedimento judicial é mais uma farsa.

Foi tempo em que figura da Justiça era uma dama vendada empunhando na mão direita uma espada e na esquerda uma balança. Neste país da treta, a pobre senhora perdeu a espada e na balança tão pesado é um do pratos  que o outro não consegue o desejado equilíbrio. No primeira cresce o dinheiro e a corrupção, o poder (?) mancomunado com a banca, o tráfico influências de braço dado com as drogas, a traficância mais criminosa, a venda (e compra) de armamento e a prostituição. E fico-me por aqui sob pena de enunciar uma velha lista telefónica que já deu o que tinha a dar.

Além disso a venda – se é que ainda existe – é uma falácia. Mesmo dando de barato que ela ainda tapa os olhos da Justiça, é transparente. Não quero dizer com este quadro que todos os intervenientes nos autos são os proprietários do descalabro  que antes enunciei , no prato mais pesado de uma balança não aferida. Generalizar seria impossível, porque continua a haver juízes, advogados, meirinhos, oficiais de diligências e administrativos que vêm tentando ter as coisas em dia e lutando contra o Citius, plataforma malvada. Penso que na maioria dos casos o profissionalismo, a isenção, a verticalidade, a equidade  vão sobrevivendo.

Vem tudo isto a propósito de uma peixeirada entre dois jornalistas, um dos quais marido de uma ministra. O caso é do conhecimento público, mas aqui o alinhavo. António Albuquerque, marido da ministra das Finanças e ex-jornalista do Diário Económico , foi alvo de um queixa no Ministério Público por ameaças e pressões a um jornalista do mesmo órgão da comunicação social.  Em causa está uma troca de mensagens em que António Albuquerque insulta e ameaça Filipe Alves por causa de um artigo de opinião publicado no jornal.

Na base da troca de sms estava um artigo, publicado na edição de 22 de Setembro do Diário Económico, com o título "O que acontece se o Novo Banco for vendido com prejuízo?", em que Filipe Alves questiona as eventuais consequências para os contribuintes da venda do Novo Banco.  Este passou a receber várias mensagens, que Albuquerque, o autor delas, confirmou ter sido o seu autor. Este saiu despropositadamente em defesa da sua dama Maria Luís Albuquerque, a ministra das Finanças.

Entre os “mimos” enviados por António Albuquerque destaco: “Tira a minha mulher da equação ou vou-te aos cornos” ou “Não sabes quem é que eu sou. Metes a minha mulher ao barulho e podes ter a certeza que vais parar ao hospital”. Alves ainda deu um prazo para Albuquerque lhe pedir desculpas da má e educação que usara;  António Albuquerque enviou uma carta ao jornalista a ameaçar com um processo por este ter descoberto a sua morada. Perante as perguntas que órgãos de informação lhe fizeram  Albuquerque confirmou ser o autor das mensagens e recusou pedir desculpas: “Antes ser condenado”.

Por isso Alves avançou com uma queixa junto do Ministério Público. E espera ver o que daí resulta na barra do tribunal, sede própria para a resolução desta estúpida questão. Mas, eu não espero pelo que quer que seja. Tenho a minha opinião – é melhor ter uma (que até pode estar errada) do que não ter nenhuma. Duvido que do caso saia um coelho (sem caixa alta); penso que poderá ser o mons parturiens. Mas também penso que o facto de ser marido da ministra das Finanças não o devia ilibar das ameaças e impropérios que se deu ao luxo de utilizar.

Porém estamos num país que se chama (ainda) Portugal em que os habitantes dele somos nós, os Portugueses, a quem falta energia e sobretudo coragem para afrontar o (des)Governo que nos agride todos os dias. Habituámo-nos a estar agachados perante o poder (?), perdemos a vergonha, copiando os desenvergonhados que saltam entre Belém e S. Bento, passando pelo Terreiro do Paço, pela 5 de Outubro e outros locais também mal-afamados.

Temos aquilo que quisemos quando depositámos os votos nas urnas (permitam-me a salvaguarda, eu não o fiz): Fomos enganados? Fomos. Mas o marido enganado é sempre o último a saber…

Com abortos destes nem escrevi sobre os casos da famigerada legionela ou dos vistos gold. Ficam porém guardados.

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13.11.14

Trabalhos para casa (TPC) no país do mestre-escola

Por C. Barroco Esperança
Quando Portugal está para a legionela como a Serra Leoa, Libéria e Guiné para o ébola, emergiu de S. Bento o mestre-escola, num rali pelas adegas alentejanas, a mandar fazer trabalhos de casa aos políticos da oposição. 
 Surgiu desenvolto, a censurar gestores da PT, depois de atribuir ao PDG uma das mais altas condecorações do Estado; mandou estudar a Constituição a quem a compreende e defende; e insistiu que há de castigar o país, até ao último dia, com o seu Governo. (...)
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12.11.14

MAIS UM MONUMENTO À GEOLOGIA DOS AÇORES - Editado por Victor Hugo Forjaz



Por A. M. Galopim de Carvalho
DESTA VEZ é o Vulcão dos Capelinhos, na bela Ilha do Faial, surgido do mar perto da costa, no extremo ocidental da ilha, em 1957.
Victor Hugo Forjaz, Professor Catedrático Jubilado  da Universidade dos Açores, foi meu brilhante aluno na Faculdade de Ciências de Lisboa e, terminado curso, meu Assistente.
O editor desta colectânea de artigos versando a Geologia do Faial, em geral, e da sua história vulcânica, em particular, já nos habituou  a estas suas múltiplas,  extensas e valiosas obras.
Nesta agora dada à estampa, sobressaem, entre outros, estudos de geólogos e geógrafos de grande prestígio, com destaque para Frederico Machado, Orlando Ribeiro, Fernando Torre de Assunção, Custódio de Morais, Haroun Tazieff,  Raquel Soeiro de Brito, Correia da Cunha, Georges Zbyszewski,  Júlio Quintino e o próprio editor.
Com 823 páginas e dezenas de figuras (desenhos, esquemas e fotografias) este tem capa de cartão com 32x24x4,8 cm.  
O livro pode ser adquirido via e-mail  <vforjazovga@gmail.com> pelo preço de
12 euros mais portes, estes da ordem dos 10€, visto tratar-se de obra
subsidiada pelo Governo dos Açores e sem direito a lucros financeiros .

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11.11.14

Autismo

Por Antunes Ferreira
NÃO GOSTO da troika; desta. Não gosto de nenhuma. Mas, por vezes até chego a concordar – muito a contragosto – com alguns procedimentos da “nossa” (?) Nesta última visita, só para ver como andavam e andam as coisas, os membros dela deram um raspanete no (des)Governo dos srs. Coelho, Portas, Crato, Cruz, Marilu et aliud. Que nas anteriores viagens a Lisboa tinham constatado que os membros dessa quadrilha (o termo é meu) eram muito competentes e muito bem mandados e comportados pois cumpriam as ordens que lhe davam, isto é, dava a sr.ª Merkel. Abreviando: que eram muito bons alunos, citação que lembra outros tempos no Cavaquistão.
Desta feita, porém, a roda tão bem oleada, desandou Ao longo de três anos em que todos eram muito amigos e muito abraços e muitos elogios, a visita na passada quarta-feira veio dar para o torto. Os inúmeros e consecutivos elogios, uns quantos “atenção” e recomendações, poucos, a troika a la portuguesa descobriu afinal que quando se ausentara as coisas tinham começado a derrapar, a descer um caminho inclinado, enfim a desandar. Acentue-se: com ela presente com regularidade, os Portugueses precisavam de fiscalização, quer dizer de chicote sem cenoura.
Daí concluiu o trio que em relação aos desafios que a economia portuguesa tem de ganhar, pelos vistos tinha. O (des)Governo abrandara a aceleração metera o travão (quase) a fundo e estava o caldo entornado. O BCE parece ter entrado mudo e saído calado. Mas o Fundo Monetário Internacional, FMI e a Comissão Europeia não se quedaram. Que porque assim, que porque assado, sem eles a mandar em Portugal o jogo não só não valia, nem sequer terminara empatado: era o princípio de uma cabazada isto para usar termos futebolísticos tão do agrado da lusa gente, que até tem o Cristiano Ronaldo e o José Mourinho
Esta foi a primeira de várias monitorizações pós programa que irão continuar a ser feitas até que Portugal pague a maior parte dos seus empréstimos: já se sabia, mas agora foi oficial. A galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha, ou seja, venham os euros que emprestaram acompanhados dos respectivos juros. E não demorem muito. A troika achou que, ao fim de seis meses fora do país, que Portugal já está a ir pelo caminho errado. Para eles, claro, os agiotas que dominam os idiotas que todos nós (ou quase) somos. Foi o prelúdio de umas orelhas de burro; e já não falo nas palmatoadas da menina dos cinco olhos.
Especifico. Washington e Bruxelas apontaram duas áreas em que em seu entender Portugal, ou seja o (des)Governo tem metido mais o pé na poça – o défice e as reformas estruturais. E ambos os pecados resultaram dos (des)governantes terem “deixado de se esforçar”. Mau Maria, a coisa estava mesmo a dar para o torto. E apontaram o caminho a (re)seguir para que os credores dos Portugueses vejam as suas notas a regressar aos respectivos lares, engordando-os, portanto. E nós a emagrecer dia após dia.
E os dois organismos foram apontando o que estava errado em especial no famigerado OE 2015. As previsões do (des)Governo português apontavam para um défice inexplicável. Logo na terça-feira a Comissão tinha avisado que o saldo negativo das contas públicas seria de 3,3% contra o que os (des)governantes apontavam: 2,7% que tinham sido prometidos pelo (des)Executivo (que conseguira alargar os 2,5% inicialmente acordados).
Foi uma verdadeira machadada. Mas faltava o pior; o FMI que fez uma análise semelhante disse que o tal sado negativo não seria de 3,3% mas sim 3,4%. Ora bolas: uma décima a mais ou a menos não é importante, são peanuts. E a ministra Marilu, impávida e serena de cara fechada como é seu hábito, manteve as contas a la portuguesa. Não disse, mas deve ter pensado que “eles” eram umas cavalgaduras e quem sabia da poda era ela. E ponto.
Ao invés da ministra das Finanças (?) os agora dois carrascos consideram que as derrapagens (des)governamentais, ainda por cima nas costas deles, resultaram principalmente do aumento do salário mínimo e de outras medidas que tinham sido tomadas por São Bento. O aumento, diz Bruxelas, “poderá tornar ainda mais difícil a transição para o mercado de trabalho para os grupos mais vulneráveis”; o FMI pinta o quadro com tintas mais negras: a decisão “vai tornar mais difícil para os trabalhadores não qualificados manter e encontrar novos empregos”.
Resumindo: de submissos e cumpridores passámos a despesistas desbragados. E no (des)Governo todos ignoram o recado e assobiam para o lado. No fundo a “receita” dos nossos credores é mais austeridade com a correspondente autoridade: Há quem chame ao procedimento dos que nos (des)governam autismo.

10.11.14

Curiosidades do (M/F) - 6

9.11.14

Luz - Jardim de um palácio na República Democrática Alemã

Fotografias de António Barreto- APPh

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Posso errar e tenho dificuldade em encontrar fontes e vestígios, mas creio tratar-se dos jardins do palácio Sans Souci (ou Sanssouci), em Potsdam, perto de Berlim. O palácio, em estilo Rococó, foi mandado construir por Frederico, o Grande, em meados do século XVIII. Era a sua residência preferida, a tal ponto que exigiu ficar lá enterrado numa campa descaracterizada, coberta por uma laje simples, ao lado das campas onde, sem mais nem menos requintes, ele mandou enterrar os seus cães. Em cima do seu túmulo, há por vezes uma flor e geralmente umas batatas, ao que parece em homenagem ao facto de ter sido ele o seu introdutor na Prússia. Os jardins são monumentais, com árvores, repuxos, pérgulas, vinhas, ramadas e escadarias. Visitei-o durante o período comunista e voltei lá há poucos anos. Esta fotografia data da primeira viagem, ainda nos anos 60/70. Era um domingo, feriado para toda a gente, a começar pelos militares que assim se passeavam com as famílias. Num canto sossegado, as famílias de três militares russos, na altura dizia-se soviéticos, passeiam, convivem e fazem-se fotografar num ambiente de paz e calma. Como se sabe, nesses anos, a Alemanha de Leste estava militarmente ocupada pela União Soviética, enquanto os exércitos aliados dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França, ocupavam a Alemanha ocidental. (Ca. 1970)

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DOMÍNIOS MORFOSSEDIMENTARES DE TRANSIÇÃO NA INTERFACE TERRA–MAR (2) (continuação)



Delta do Mekong, no Vietnam

Por A. M. Galopim de Carvalho
Entre as várias propostas de classificação dos deltas, merece referência a divulgada por Robert W. Galloway, em 1975. Com base num diagrama triangular, em cujos vértices situa a importância relativa do rio, das ondas e das marés na modelação da frente deltaica em progradação, o autor distingue, assim: (...)
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8.11.14

Curiosidades do (M/F) - 5

6.11.14

O PR e a condecoração a Durão Barroso

Por C. Barroco Esperança
Cavaco manteve o silêncio perante o drama dos portugueses desempregados e não disse uma palavra de censura durante sucessivos escândalos, desde a SLN/BPN ao GES/BES, talvez amargurado com a vergonha que atinge velhos amigos e correligionários. Com a funesta governação, de que é fiador e único sustentáculo, e com as inéditas disfunções institucionais, de que é suposto ser o guardião, finge-se morto ou em retiro espiritual no eremitério de Belém, para emergir do torpor na cerimónia de homenagem a Barroso. (...)
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5.11.14

O futuro dos meus netos

Por Maria Filomena Mónica

QUANDO OLHO o rosto melancólico da Rita, a alegria espontânea da Joana ou os olhos marotos do Miguel, dou por mim a imaginar se os tempos que os esperam serão melhores ou piores do que aqueles que conheci, eu, nascida em plena guerra mundial, num país tão pobre que nem dávamos pela fome a nosso lado, num mundo tão fechado que as aldeias nem precisavam de muralhas para encerrar os horizontes dos seus habitantes.

Os dias estão sombrios e é fácil entregarmo-nos às delícias da auto-flagelação. Mas não nos deveríamos orgulhar, nós, aqueles que nos entusiasmámos com a Revolução de 1974, do que legámos aos nossos filhos e netos? A liberdade política, a abertura do país à Europa e a redução da miséria não são coisas menores. É verdade que todos os dias me queixo, esquecendo que vim de uma noite tão escura que me parece irreal.

Não é popular dizê-lo, mas a minha geração devia orgulhar-se do que fez. Não custa imaginar que o desaparecimento de um Império, o fim de um regime autocrático e a existência de um partido comunista cujo estalinismo era único na Europa democrática pudessem ter conduzido a tumultos mais graves do aqueles a que assistimos. Hoje, ainda há corrupção, mas não mais do que nalguns países europeus; ainda há desigualdades sociais, mas nada que se compare à dos anos 1960; há partidos descredibilizados, mas não temos uma polícia política, nem uma censura, nem deportamos gente para o Tarrafal. As Universidades são más, mas não piores do que aquela que frequentei. O analfabetismo desapareceu e a taxa da mortalidade infantil colocou-nos num lugar de que nos podemos orgulhar. Portugal mudou e mudou para melhor.

Há dias, perguntei à minha fisioterapeuta, uma rapariga de 30 anos, se a avó dela, uma camponesa pobre de Viseu, teria sido mais ou menos feliz do que ela. Sem hesitar, disse-me: «Mais, e sabe porquê? Ela nunca saiu da aldeia onde nasceu, não tinha expectativas, contentava-se com o que a terra lhe dava; ora, eu quero doutorar-me, sei que posso ter uma vida melhor se voltar para a Suíça, onde fiz o ensino secundário até o meu pai, que para ali emigrara como pedreiro, ter tido um acidente.» Sorrindo, acrescentou: «Sim, eu quero subir na vida e é por isso que sofro mais do que a minha avó».

Muito poderia ter sido feito de forma mais justa e eficiente, mas isso não nos deve levar a menosprezar o que conseguimos, de que há a destacar o Serviço Nacional de Saúde, que salvou da morte a minha neta Joana, que acompanhou a minha mãe até aos últimos dias e que agora se ocupa de mim. É importante lembrar isto num momento em que tudo, à nossa, e à minha, volta parece ruir. Não podemos cruzar os braços, desistindo de tentar fazer mais e melhor.

Ao pensar que posso não viver muitos mais anos, quero acreditar que o futuro não será menos doce só porque parti. Os meus netos ficarão por cá, guardiões, segundo espero, dos valores em que acredito e nos quais foram criados. O futuro é deles. E é por consideração por eles que, embora existam razões, não me entrego ao pessimismo. Tenho a certeza de que cada um à sua maneira saberão escolher o seu caminho.
«Expresso» de 1 Nov 14

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3.11.14

E o plural de "artesão" é...

Oiçam, jornalistas: não se faz

Por Ferreira Fernandes 
O destaque dizia: "Estava sozinho num estado deplorável" - [diz] testemunha." É verdade e é mentira, como se vê nas duas páginas abertas do jornal. José não estava sozinho, estava acompanhado por canalhas que se aproveitaram dele inconsciente para o filmar. O facto imoral - não se abusa de um homem inconsciente - estava demonstrado pela indignidade do jornal que espalhava seis fotos do desacordado José, retiradas do vídeo. Testemunha não era quem falou - testemunha, pessoa que atesta a verdade de um facto, foram todos os leitores com o jornal nas mãos. Testemunha não era, como diz o jornal, "um dos rapazes que partilhou com Zeca uma das últimas noites de excessos, antes do ator decidir internar-se numa clínica de desintoxicação". Esse rapaz é só um chantagista que foi vender as imagens ao jornal, hipótese um, ou um tolo que em nome do sacrossanto direito de todos sabermos tudo foi dá-las ao jornal, hipótese dois. Hipótese dois que o jornal sugere, ilibando o rapaz da venda porca, mas não o iliba a si próprio, jornal, de meter nojo. Deplorável, enfim, não é a palavra certa. Deplorar é respeitar a fraqueza, e não o fizeram com José. Não sei quem ele é, além do que o jornal apresentou: um ator de telenovelas que anda perdido e se internou numa clínica de desintoxicação. As páginas, e não foram só aquelas duas, que o jornal dedicou àquele homem, de quem não ignora a aflição e o grito de socorro, não se fazem. Não se fazem, ponto.
«DN» de 3 Nov 14

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2.11.14

Luz - Fátima

Fotografias de António Barreto- APPh

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Dias antes de uma peregrinação, quando o santuário e a alameda da Cova da Iria estavam quase desertos. Fátima é uma verdadeira tentação para um fotógrafo. Em todos os seus estados, com peregrinos ou sem eles, com o comércio dos vendilhões ou as velas e os círios das promessas, à noite ou de madrugada, com sol em brasa ou sob fria chuva… Fátima é local de grande fotogenia. E não é de certeza pela beleza natural, que não é muita. Ou mesmo nenhuma. Esta fotografia data ainda dos tempos anteriores à nova catedral e todo o local era mais despojado. Estas duas irmãs criam uma impressão estranha. Zanga? Polémica? Ralhete? Indicação de percurso? Direcção de caminho? Instrução? É difícil imaginar o que uma diz à outra, mas a pose da primeira revela uma autoridade e uma energia mais forte do que a redondeza da outra. (1994)

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DOMÍNIOS MORFOSSEDIMENTARES DE TRANSIÇÃO NA INTERFACE TERRA–MAR (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho
Introdução 
Entidades morfossedimentares por excelência, deltas, estuários e lagunas são, na grande maioria, formas e ambientes químicos, hidrodinâmicos e ecológicos situados na fronteira ou na transição dos meios continental e marinho. Neles se fazem sentir, simultaneamente, as acções químicas, físicas (sobretudo dinâmicas) e biológicas destes dois meios. Deltas e estuários representam, em geral, duas situações opostas na dialéctica que, na foz de muitos rios, se estabelece entre a sedimentação e a erosão.(...)
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1.11.14

O ovo ou a galinha?

Por Antunes Ferreira 
E, DE REPENTE, os noticiários laçaram uma bomba: o substituto de Steve Jobs saíra do armário. O CEO da Apple, desde que o “patrão” Jobs decidira abandonar o cargo, foi e é Tim Cook. Com êxitos na condução do gigante da informática ele, que já fizera um percurso profissionalmente impecável e rápido na empresa, assumira normalmente o posto mais importante dela. Muito se falava dele face aos resultados da Apple que indiciavam que Jobs fora bem sucedido quando o indicara para seu sucessor. Mas também se insinuava que a sua opção sexual tinha a ver com homens. 
Finalmente num artigo que publicou nesta semana, Tim Cook assumiu a sua homossexualidade, garantindo que sê-lo foi uma das maiores dádivas que Deus lhe deu. Pertencer a uma minoria deu-lhe "a pele de um rinoceronte" contra o preconceito e a adversidade. Isto quer dizer que embora muito se fale de igualdade sexual entre os parceiros de um relação, mesmo nos Estados Unidos o preconceito sobre a matéria ainda tem muita força. 
Cook ainda disse mais: "Embora eu nunca tenha negado a minha sexualidade, eu também nunca a reconheci publicamente, até agora. Deixem-me ser claro: orgulho-me de ser gay, e considero ser gay uma dos maiores dádivas que Deus me deu". O texto dado à estampa correu o Mundo, nomeadamente através da via informática. Pelos vistos a globalização também está na liberdade sexual… Com os meios informatizados as notícias estão na casa de cada um que utiliza o computador. 
Mas, os restantes meios da informação social não quiseram deixar de difundir a notícia explosiva. Nunca me esqueço daquilo que na minha primeira experiência jornalística como profissional, mais precisamente no “Diário Ilustrado” (que hoje pouca gente sabe o que foi) no primeiro dia na Redacção, o falecido Victor da Cunha Rêgo veio ter comigo. “Ouve lá, ó semiputo, nunca te esqueças do que te vou dizer.
Era o tempo em que os subordinados se dirigiam aos superiores tratando-os por Senhor. E que a condição sine qua non do Sindicato dos Jornalistas para se entrar na profissão era saber ler e escrever. Sem saudosismos piegas, tenho a certeza que a conditio devia continuar. Cunha Rêgo disse-me – o que nunca mais esqueci – “a notícia não é quando um cão morde num homem, mas sim quando um homem morde num cão…”
Tudo isto me entrou pela massa cinzenta quando li o escrito por Tim Cook; Em Portugal, por mais que se diga o contrário, ainda somos puritanos, as mais das vezes falsos, mas somos. E perante as afirmações do actual CEO da Apple, nos EUA, as coisas também subsistem. A chegada dos Peregrinos, que depois passaram a ser chamados Founding Fathers, os Pais da Pátria, trouxe embrulhado na Bíblia o puritanismo. 
Daí que no nosso país as reacções foram a demonstração da frase que se tornou calina entre os heterodoxos: “não tenha nada contra os homens que se deitam com outros homens… desde que não seja comigo…” Os órgãos da comunicação social descobriram a mina que Cook havia colocado, e praticamente nenhum aplaudiu o texto assinado pelo autor. Mas ainda há alguns que não se limitaram a embarcar no barco geral e do texto que se tornou viral.
Entre eles o “Expresso” foi ouvir Isabel Fiadeiro Adveirta, a vice-presidente da ILGA, a Intervenção Lésbica, Gay. Bissexual e Transgénero) que afirmou que “ao contrário do que acontece em países como Espanha, Itália ou França, Portugal nunca teve um ministro ou um destacado responsável político a assumir publicamente a sua homossexualidade” e que “mesmo a nível de deputados, houve apenas um caso, o do antropólogo Miguel Vale Almeida, cuja eleição pelo PS esteve associada à defesa da legalização do casamento gay”. E quanto a políticos e grandes empresários? A dirigente da ILGA não se coibiu: ” a este nível, o receio não estará relacionado com despedimento mas com o medo de que o facto de revelar publicamente a sua orientação sexual os impeça de virem a aceder a determinados cargos.” 
 Não sou defensor do homossexualismo, ninguém me mandatou para o ser, mas não gosto do exibicionismo. As manifestações homossexuais têm todo o direito de serem organizadas e de desfilarem ostentando dísticos a favor dessa orientação sexual. A Liberdade também é isto e a Democracia igualmente. Mas, pergunto-me se é necessário fazer tais exibições. Já se imaginou uma manifestação de heterossexuais para defenderem a sua prática? Já aconteceu.
E ainda se pode pôr a eterna questão: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

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