30.4.13

Apesar de ser um dos que ajudam a pagar isto, confesso que nem sabia que existia...
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29.4.13

Apontamentos analfabéticos

1ª página do Correio da Manhã de ontem
Ao ler-se este título, fica-se com uma dúvida:
Não será que falta um "é" (ou um "sob") entre a 1ª e a 2ª palavras, permitindo uma interpretação completamente diferente do que se quer transmitir - e que só fica esclarecido ao ler o resto da notícia?

Eça e os Concursos do MNE

Por Maria Filomena Mónica 
HÁ DIAS, um jovem candidato a diplomata telefonou-me a saber se a resposta certa à pergunta sobre o escritor que «inspirara» O Crime do Padre Amaro era Dostoievky. Imaginando que os autores do teste em questão deveriam ter considerado que a correcta seria Zola, aventei a hipótese de todas as respostas estarem erradas. Uma semana depois, o MNE anulou a prova, por não estarem asseguradas «as condições de igualdade entre todos os candidatos, uma vez que, em algumas salas, foi autorizada a substituição do enunciado da prova e, em consequência, de respostas rasuradas». Que explicação mais estranha. 
Mas voltemos a Eça. A questão dos chamados plágios queirozianos vem de longe. Em 1878, Machado de Assis acusou Eça de ter «imitado» Zola, uma impossibilidade cronológica, visto o primeiro ter deixado, em Dezembro de 1874, o manuscrito do referido livro nas mãos de Batalha Reis, o qual, em Fevereiro, o começou a publicar na Revista Ocidental. Ora, a obra de Zola só veria a luz do dia após essa data. A coisa diverte-me, porque Eça teve de se submeter igualmente a um concurso. Em 1870, pensou que o melhor que tinha a fazer na vida era ser nomeado cônsul na Baía. Consultei, no arquivo do Ministério, as provas por ele redigidas. Previsivelmente, denotam uma cultura superior.
Eça era um génio, mas não era um santo. Ficou logo irritado quando soube que alguém, que não ele, ficara em 1.º lugar. Os candidatos, em número de oito, haviam sido obrigados a satisfazer vários requisitos: às habilitações académicas, tiveram de acrescentar atestados de «bom e efectivo serviço» na administração pública, o que o seu rival possuía em grau mais elevado. Apesar de não ter qualquer experiência administrativa, Eça apresentou uma certidão de bons serviços, assinada pelo governador civil de Leiria, com data de 1 de Agosto de 1870, um facto que só se pode compreender, se pensarmos que alimentava a ilusão de que ninguém compararia datas. Quem o fizesse, veria que o governador civil apenas tivera um dia, no máximo dois, para apreciar o seu trabalho. Mais tarde, em As Farpas, publicou um artigo (que não incluiria em Uma Campanha Alegre) onde afirmava não ter ficado em 1.º lugar, entre outras coisas, devido aos «empenhos» utilizados pelo seu rival, Manuel Saldanha da Gama. Ao contrário do que sucede com este, há provas de que Eça usou cunhas para tentar obter o emprego. Eça era um malandro, mas é o meu malandro. Por isso, não gosto que utilizem o nome dele em vão. 
Sei que este ano se candidataram 2.000 licenciados a 20 vagas, mas isso não é desculpa, até porque o Ministério sabe que tal avalanche já existiu e que voltará a acontecer. A massificação do ensino superior e a elevada taxa de desemprego juvenil conduziu, como se vê, a um aumento de apetite pela diplomacia, o que, ao contrário do que alguns pensam, não justifica o tipo de testes utilizados. Caso vivesse hoje, duvido que Eça de Queirós tivesse conseguido entrar na carreira diplomática. 
«Expresso» de 27 Abr 13

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28.4.13

Apontamentos de Lisboa

Av. Almirante Reis
Variações sobre um logótipo

Entrada do Santo Sepulcro, Jerusalém 2012

Fotografias de António BarretoAPPh
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O local é literalmente incrível! A Basílica, no local onde é admitido que Cristo tenha sido crucificado e sepultado, já atravessou séculos, guerras, destruições incêndios e reconstruções. É ainda hoje um local único de peregrinação com as habituais misturas de fanatismo e de meditação, de exoterismo exibicionista e de introspecção fundamental! De fé e de crendice. O ambiente e o clima são irrepetíveis! Há, ali, em quantidades improváveis, vida e morte! Força e fragilidade! Alegria e medo! Diz-se que os sítios exactos onde Cristo foi ungido e morto estão ali, assim como o lugar onde ressuscitou. Consta que a mãe do Imperador Constantino, Helena, encontrou ali a “verdadeira cruz de Cristo” (ou “Vera Cruz”, como passou à história e foi festejado por pintores e outros artistas, entre os quais o grande Piero della Francesca). Estes locais santos e a cidade de Jerusalém já “pertenceram” a Judeus, a Romanos, a Muçulmanos não islamitas, a Cristãos, a Palestinianos, a Cruzados europeus, a Otomanos, a Muçulmanos Islamitas, a Israelitas… A Basílica e o respectivo sepulcro já estiveram a cuidado de vários cultos cristãos e diversos católicos, assim como de judeus e islamitas. Nos últimos séculos, foram entregues em co-gestão a ordens católicas e ortodoxas, sendo que os cooptas egípcios, os ortodoxos arménios e os cooptas sírios também colaboram no arranjo, na limpeza, na guarda e na segurança, na manutenção das velas e das flores, etc. (2012)

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26.4.13


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Uma citação bem a propósito

Por Ferreira Fernandes
DE UMA nação situacionista - é ouvir a apoteose que acolheu Marcelo Caetano no estádio de Alvalade, semanas antes do 25 de Abril -, passámos para um país citacionista - basta ouvir os discursos de ontem no Parlamento. "Comecei a ver há minutos as comemorações na AR e já ouvi citar Shakespeare, Kant, Jaspers, Habermas, entre outros. Não é por falta de erudição que estamos onde estamos...", escrevia no seu blogue, a quente, Medeiros Ferreira, uma das poucas pessoas que conheço capaz de saber quem foram os muitos ontem trazidos aos discursos. Citar génios misturados em textos nossos é imprudente: traz o risco de que seja notório que o bom do discurso não seja nosso e o que é nosso não seja bom. Dito isto (até a última frase, que citei já não sei de quem), há que dizer que trazer o Henrique V, de Shakespeare, para o debate político português (citação feita pelo deputado Carlos Abreu Amorim) foi particularmente oportuno. Na peça de Shakespeare, como enquadrou o deputado, o rei inglês passeou-se, embuçado, entre os seus soldados, antes de uma das batalhas da Guerra dos Cem Anos - quem mandava, Henrique V, queria conhecer quem ia comandar. Claro, o discurso não apelava para igual truque dos governantes portugueses, mas destapou uma das feridas mais graves da nossa democracia: por vezes é nauseante ver como os de cima ignoram tudo sobre os de baixo.
"DN" de 26 Abr 13

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25.4.13

Ele há dias assim que são o dia

Por Ferreira Fernandes
A GENTE diz "foi há 39 anos". Não é muito, é meia vida de um homem. Mas foi mesmo há muito, no outro século. Pouco antes, no abril anterior, em 1973, cinco bracarenses estavam na casa de um deles. A PSP bateu à porta e multou-os por não terem avisado da reunião. O 1.º Juízo da Comarca de Braga confirmou a multa. E no jornal República, corajoso, o jornalista Vítor Direito, corajoso, tinha de escrever crónicas assim: "Manhã de nevoeiro transforma a cidade. Não se vê um palmo em frente do nariz. Andam por aí uns senhores a prever "boas abertas". Mas o nevoeiro persiste." 
E no Porto, a comemorar o 31 de Janeiro, houve um comício no Coliseu. Um estudante ia a meio do seu discurso quando o representante do Governo Civil (cuja presença era obrigatória) se ergueu e disse: "O senhor cale-se!" O estudante meteu o discurso no bolso. 
E ainda em janeiro, mas em Lisboa, António José da Glória, da tabacaria na Alameda, frente ao Técnico, disse, enquanto servia uma cliente: "Ontem, lá houve mais bordoada entre estudantes e polícias." Um guarda da PSP, desfardado e também cliente, logo lhe deu voz de prisão. O sr. Glória foi a tribunal por "propagação de boatos". Veio nos jornais. E em fins de fevereiro, alguém escrevia, no Comarca de Arganil: "Que aconteceu ao boateiro? Ficava bem uma lição eficaz." 
Hoje é o 25 de Abril. Eu amo-o como se fosse ontem. Sobretudo por pequeninas coisas que me recordam que antes dele foi há mais de um século.
"DN" de 25 Abr 13

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Esta é a noite que trouxe no ventre a madrugada

Por C. Barroco Esperança
ESTA noite não é para dormir, é para esperar a madrugada em que floriram, nos canos das espingardas, cravos. É a vigília amarga que aguarda o doce alvorecer do dia em que um punhado de capitães resgataram, de 48 anos de tirania, a Pátria secular. 
 Estou a 14 km da fronteira onde o capitão Augusto Monteiro Valente havia de chegar para prender os pides que logo apagariam os cigarros com que queimavam as vítimas e poria termo aos gritos que ecoavam da fronteira até à estação dos caminhos de ferro.  (...)
Texto integral [aqui]

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24.4.13

Pergunta de algibeira

Quem sabe o que significa a palavra contraceção?
(Uma dica: está relacionado com aborto...)

Acho que isto é para a secção Desporto

Por Ferreira Fernandes 
É UM PRAZER ver os teutónicos do Barcelona esfrangalhados pelos mediterrânicos do Bayern. Este jogava em casa e, como gente do Sul, toca a encharcar o quintal porque sem uma pequena batota jogar não sabe tão bem - na tribuna, o presidente do Bayern, que esta semana se soube andar a fugir ao fisco (está-lhes no sangue, aos do Sul), sorriu com a malandrice. Já o Barcelona entrou com o nariz empinado, confiante no seu Messi-Benz. O azar é que os últimos Messi andam com problemas de ignição. Não importa, pensaram as Angelas desta vida, há sempre o árbitro do Banco Central Europeu (UEFA) para fazer o que lhes ditamos: e, de facto, logo na primeira parte o Mario Draghi do apito perdoou ao Barcelona duas mãos na área. Isso e os contabilistas - guarda a bola Xavi, dois passitos, vira, guarda a bola Busquets, investe certinho, nada de loucuras - isso devia bastar. Já os nossos - os meus são sempre uma equipa com treinador despedido e um maluco com uma navalhada na cara (vê-se logo que veio de Marselha) -, os nossos, dizia eu, pareciam fornecidos pelo dealer que tinham lá atrás, carapinha desgrenhada, ar dantesco e nome a condizer, Dante. Futebol ganzado está despenalizado no meu código penal, sobretudo quando dialoga com colecionadores de tempo de bola. Vai buscar, vai buscar, vai buscar, vai buscar, é para saberes o que é ir ao mercado... Graças aos cipriotas de Munique ficámos a saber que é possível derrotar o Ecofin das Ramblas.
"DN" de 24 Abr 13

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O dia do milagre perfeito

Por Baptista-Bastos 
OLHO para os rostos destes que nos têm governado e não reconheço neles qualquer semelhança com os nossos rostos comuns. Observem bem: abreviados, ausentes. As sombras que neles poisaram são repintadas de vigílias tétricas em que se arredaram o bater comovido do coração humano e o pulsar da mais escassa ternura. Como conseguem viver nesta miséria de fazer mal, de nos fazer mal? Têm-nos extorquido tudo e ainda querem mais, numa obscura vingança, cujo propósito decidido e inclemente é o de nos tornar infelizes. 
Pobres sempre o fomos. O domínio de uma classe sobre as outras exige essa forma escabrosa de brutalidade. E sempre houve quem se prestasse ao papel de serventuário do poder. Mas leiamos a História e ela no-lo ensina a resistir e a combater. Vejam 1383, 1640, os Atoleiros, as Linhas de Torres, o 5 de Outubro, o 25 de Abril. "Salta da cama, Bastos; a revolução está na rua!" A Isaura beija-me: "Toma cuidado!" Andei por muitas, e ela demonstra, com serena apreensão, os receios que a assaltam. "Desta vez vou só escrever." Temos dois filhos, o terceiro nascerá em pleno festim da liberdade, atravesso a madrugada de Lisboa e as ruas já exprimem uma espécie de selvagem alegria. Foram despertas pela voz de Joaquim Furtado que, no Rádio Clube Português, avisa-as de que aí está "o dia inicial inteiro e limpo", por que esperávamos.
Chego ao jornal, o Diário Popular, claro!, e já lá estão o Corregedor, o Fernando Teixeira, o Abel, o Zé de Freitas, o Jacinto, o Magro, o Bernardino, o Zé Antunes. A tensão é muito grande, e o desassossego que se nos impõe torna os nervos numa teia reticular quase dolorosa. Olhamo-nos e vamos às nossas tarefas. Os telefones azucrinam, os telexes retinam, os gritos soltam-se. Correm as horas. Andamos, uns e eu, num vaivém entre o Carmo e o jornal. Até que a História retoma os seus direitos. "Zé", digo para o Zé de Freitas. "O fascismo caiu." As lágrimas corriam-nos. E ele: "Vamos lá ver, vamos lá ver." Céptico por muito ter visto e em excesso ter sonhado. Telefona-me, de Beja, o Manuel da Fonseca. "Vem para Lisboa! Caiu o fascismo!" Ele: "Eh pá! Eh pá! Eh pá!" Mais nada; não era preciso dizer mais nada. "Não te esqueças de mandar provas à Censura", avisa o Fernando Teixeira. E o Zé de Freitas: "Ó Fernando, nesta altura, a Censura já foi para a p... que a pariu!"
Onde é que eu estava no 25 de Abril? Onde devia estar: com os meus camaradas inesquecíveis, a ajudar a escrever um jornal exacto, infalível, jubiloso, exaltante e alvoroçado. Este número não foi visado pela Comissão de Censura. 
Vocês, reverentes e autoritários, não têm nada disto, nem nada a ver com isto. Memórias de um dia que se não fazia noite, um dia elementar e tão claro e liso como um milagre perfeito.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
"DN" de 24 Abr 13

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23.4.13

Apontamentos de Lisboa

A notícia, pelo que nos dizem, é da Lusa. E a foto ilustrativa da frente ribeirinha (do... Barreiro?!) também é da mesma agência?

«Dito & Feito»

Por José António Lima
ANTÓNIO Pires de Lima apareceu, mais uma vez, no decurso da reunião do Conselho Nacional do CDS, no papel do irritante grilo falante de Paulo Portas para as questões do Governo e da coligação.
E qual foi o recado que veio desta vez transmitir? O desejo do CDS de que a substituição de Miguel Relvas por dois ministros fosse apenas «o primeiro acto de uma remodelação» mais alargada do Governo. Pires de Lima foi até mais longe, sugerindo que essa remodelação dê «outro peso à economia» e que isso «já só se fará se elevarmos o Ministério da Economia à categoria de Ministério de Estado, para estar no mesmo plano do Ministério das Finanças». O CDS, Portas e o seu boneco de ventríloquo não pecam pela modéstia das suas sugestões.
Significa isto que o CDS quer o Ministério da Economia numa remodelação já a seguir? Pretende o Ministério com a actual orgânica ou já subdividido? E quer ser ele próprio, Pires de Lima, conhecedor do mundo empresarial, a ocupar a pasta? Ou não está disposto a abdicar dos milhões como gestor privado pelos tostões de uma pasta governativa? Pode é estar a dar a Passos Coelho a ideia, numa futura remodelação, de entregar mesmo ao CDS o Ministério da Economia, comprometendo mais Portas com os deveres governativos e com o tão falado quanto longínquo crescimento da economia. Em qualquer dos casos, era bom que Portas e Pires de Lima pusessem fim a esta rábula de birras e gosto político duvidoso.
É claro que o CDS pode ter a sua opinião. Própria, distinta e livremente assumida. Mas, estando no Governo do país, seria natural dar a conhecer os seus insatisfeitos estados de alma com menos espalhafato público. E, sendo eleitoralmente o menor dos dois parceiros da coligação, seria curial alguma humildade e contenção que evitasse abusivas intrusões na esfera de competências do primeiro-ministro.
Acresce, finalmente, na situação de emergência a que o país chegou, que o CDS deve ser um elemento de coesão do Governo e não um potenciador de crises políticas. Como, irresponsável e infantilmente, parece cada vez mais tentado a ser. 
«SOL» de 19 Abr 13

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Parabéns pelo n.º 300!

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Passos lança Berta para agradar a Angela?

Por Ferreira Fernandes
COMO muitos neste país na penúria, o coronel Manuel Cracel, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), anda agastado com o Governo. Ao saber que Berta Cabral foi nomeada secretária de Estado da Defesa, o coronel disse ser uma "surpresa" e estar esperançado: "Ser mulher confere-lhe alguma sensibilidade para ter uma perceção mais adequada e correta do papel das Forças Armadas e para que servem os militares." Nestas palavras não vislumbro nenhum acinte para com as mulheres. A surpresa é natural pois Berta Cabral é a primeira governante portuguesa na Defesa, ministra ou secretária de Estado. E, por ela ser mulher, emprestar-lhe maior capacidade para resolver os assuntos militares não me parece insulto (pode é ser esperança vã). No entanto, choveram comentários deste género: "Olhem-me este militarão, não aceita ser comandado por uma mulher!" Gente culta (e com acesso ao Google) lembrou logo várias heroínas, mulheres e guerreiras. Repito, nada nas palavras do coronel Cracel justificava a tese de machismo. Mas como em vez da opinião dos outros preferimos confirmar a opinião que temos dos outros, de um patrão da AOFA só podia vir uma bojarda antifeminista... É má-fé. Seria como dizer que com esta nomeação o Governo faz tudo para agradar aos alemães. E perante a perplexidade geral, lançar: "Sabem como se chamava ao mais terrível canhão alemão da I Guerra Mundial? "Big Bertha"!" 
«DN» de 23 Abr 13

22.4.13

Apontamentos de Lisboa

?

O Silva seria um grande candidato

Por Ferreira Fernandes
CADA povo é um caso. A nós dá-nos para sonhar com o Presidente a ir embora. Já os italianos pedem ao seu, com 87 anos, para ficar mais sete. Giorgio Napolitano bem implorou a reforma e, ele, político respeitado, bem a merecia. Mas o país, há dois meses sem Governo, via-se com outro impasse: os partidos também não encontravam hóspede para o Quirinal. 
Em Itália, o presidente é votado pelo Parlamento (Senado e Câmara de Deputados). Os deputados e senadores escrevem um nome num papel e este é pronunciado alto e contabilizado. Em 1992, alguém escreveu "Sophia Loren". É comum aparecerem candidatos bizarros ou só para espicaçar: na semana passada, Veronica Lario, ex-mulher de Berlusconi, teve um voto. Incómodo, porque do ex-marido ninguém se lembrou. Mas o grande momento foi quando foi lido o voto onde estava escrito "Raffaello Mascetti" e o Parlamento deu uma gargalhada: era como se alguém por cá quisesse em Belém o "Leão da Estrela" do António Silva. Mascetti, interpretado pelo Ugo Tognazzi, é personagem do Amici Miei (Oh! Amigos Meus), um dos grandes filmes da comédia italiana (1975). Mascetti introduziu na língua italiana o neologismo "supercazzola", que é um falar sem dizer nada. Mascetti só teve um voto e, na votação seguinte, Napolitano aceitou candidatar-se e ganhou. Ainda bem. 
Já por cá, mesmo só em memória, António Silva seria melhor presidente do que qualquer outro Silva. Cada povo é um caso.
«DN» de 22 Abr 13

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21.4.13

Apelo

Fotografias de António BarretoAPPh
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Publiquei esta fotografia no Sorumbático e no Jacarandá há dois ou três anos. Dei-lhe então a identidade que julgava verdadeira: Solar no Romeu. Parece que me enganei. Já recebi vários desmentidos e diversas sugestões em substituição. Uma convincente, mas nenhuma definitiva. A mais provável será a de um solar em Barrô, na margem esquerda do Douro, perto de Resende, diante de Barqueiros ou de Porto de Rei… A fotografia terá sido feita a partir da margem direita. 
Na impossibilidade de lá me deslocar de imediato, apelo aos leitores e curiosos: onde fica esta casa? Em que estado se encontra hoje? Ainda em ruínas?

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Jacques Tati - «Trafic»

Hoje, 21 Abr 13, às 15h
No Cinema Nimas, em Lisboa

Do “eureka” de Arquimedes à isostasia, vinte e três séculos depois.

Por A. M. Galopim de Carvalho
QUANDO, no banho, Arquimedes de Siracusa (282-212 a.C.) sentiu a impulsão da água, empurrando-o para cima, e, depois de reflectir sobre esse efeito, formulou o princípio sobre o equilíbrio hidrostático que o celebrizou, não sabia que vinte e três séculos depois, os geólogos falavam de um equilíbrio gravitacional afim, numa relação entre a litosfera e a astenosfera, Este outro equilíbrio implica que, uma sobrecarga num dado sector da litosfera (por acumulação de sedimentos, de mantos basálticos ou de uma calote glaciária) provoca o seu afundamento nessa camada menos rígida do manto, ocorrendo o inverso, ou seja, uma subida quando o seu peso diminui, o que acontece por erosão do relevo ou pela fusão de uma cobertura de gelo suficientemente espessa, como aconteceu na Escandinávia com o recuo do grande inlandsis do Würm.
Texto integral [aqui]

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Jornalismo de aproximação

Por Ferreira Fernandes
HÁ ANOS, andei pelos Estados Unidos em reportagem para o livro Os Primos da América. Em Cambridge - agora muito falada porque viviam lá, na Rua Norfolk, os irmãos terroristas chechenos - conheci alguns imigrantes portugueses, o meu assunto. Não longe fica o prestigiado MIT, mas para os lados da Norfolk é América dos pobres, dos imigrantes. Com bares onde os endireitas dão consultas e um português me contou: "Sabe, o meu pai emigrou com 52 anos. Não falava uma palavra de inglês, apanhava o metro, ali, no fim da rua, e perdia-se... Todos os dias, oiça bem, todos os dias, o meu pai chorava antes de ir para o trabalho. Nunca perdoarei isso à América." Palavras de há 20 anos. Mas nunca se ouviu falar daquele meu imigrante. Ele era tão loser, perdedor, como o tio dos terroristas chamou há dias aos sobrinhos, mas esse meu português não tinha aquela justificação demente que faz os radicais islâmicos pousarem a bomba aos pés de famílias e seguirem viagem. 
Os meus primos da América às vezes não a perdoam, porque ela é dura, mas quase sempre acabam como os portugueses quando partem: ficam filhos da nova terra, leais. Eu admiro-os. Por isso, quando explodem acontecimentos longínquos e vejo as televisões e jornais de cá a desencantarem os nossos imigrantes (sempre os há) como testemunhas frívolas do lugar mais famoso do noticiário mundial, faço crónica como a de ontem. Terrorista cortou cabelo em barbeiro da Murtosa, pois.
«DN» de 21 Abr 13

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20.4.13

Apontamentos de Lisboa

Depois dos protestos de alguns (poucos...) lisboetas que ainda se preocupam com a degradação do espaço público, o outdoor da Alameda (que tapa a vista da Fonte Monumental) foi agora colorido de verde (imagem de baixo, foto de ontem). 
Assim, já está bem, pois fica perfeitamente harmonizado com a relva.
Bem-hajam!

Jornalismo de puxar a brasa à nossa sardinha

Por Ferreira Fernandes
A DONA Ermelinda, da minha rua em Benfica, tem uma panela de pressão Fagor. As panelas de pressão Fagor são espanholas e vendem-se muito em Portugal. E em Boston também, soube-se agora pelos irmãos Tamerlan e Dzhokhar. O mais velho, Tamerlan, tinha o hábito de usar um boné preto, de pala para os olhos. O caçula tinha boné branco, mas pala para trás, clássico. No meu bairro também há rapazes com bonés americanos. 
Olha, aproveitando aquilo das bombas na maratona, dava uma grande reportagem, aqui, com o Fagulhas, esse é pala sempre para trás, e o Tony do mercado, de pala à frente. É pena não serem irmãos, mas a coincidência é tremenda. Ainda por cima, o Fagulhas viveu em Boston. Quer dizer, não foi bem assim, mas quase: um primo é que esteve para ir para Newark e não teve visto. 
Nisto de reportagens precisamos de ser rigorosos, por isso não meto o Bertinho porque esse põe a pala de lado e não tenho nenhum checheno para comparar. Outra coisa que falha: por cá ninguém anda com panelas de pressão nas mochilas. Mas tendo chegado à fala com a dona Ermelinda, ela revelou-me: "Na mochila, não, mas quando fui comprar a minha Fagor ao Continente trouxe-a num saco de plástico." 
Parem as máquinas: tenho uma grande história! Num saco de plástico, dona Ermelinda? "Isso, e atrás vinha a minha cunhada com outra Fagor. Estavam em promoção", disse ela. Incrível, eram só cunhadas e não usavam boné, mas é uma história igualzinha à da América.
«DN» de 20 Abr 13

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19.4.13

Onde é que está o gato?

Anteontem, fui comprar comida para este gato vadio (que me visita de vez em quando) a uma loja que vende comida a peso. 
O jovem que me atendeu disse-me o preço por quilo, eu vi quanto tinha no porta-moedas, e pedi-lhe 2€ dela. 
Pois bem... Ele embatucou, porque não foi capaz de fazer a conta! 
Ou seja: se eu lhe pedisse x kg, ele sabia o preço. Como pedi y euros, já não soube.
Acabou por me impingir um saco, com preço já marcado...

Eu seja ceguinho!

Por Joaquim Letria
NUNCA houve nada escrito por mim que fosse tão lido como uma prosa que na net me atribuem e que eu nunca escrevi. É verdade! Não é que me preocupe, pois aumenta-me a popularidade (nem imaginam!) e hoje, com os servidores e motores de busca é não só fácil provar que se não é autor daquilo que querem à força dizer erroneamente que é nosso, como não é difícil chegar-se à verdadeira autoria da vilania.
De resto, os meus textos são facilmente identificáveis: se são verdadeiros, passaram pelo “Sorumbático” e pelo “Mosca Varejeira” e receberam o imprimatur do meu querido amigo Carlos Medina Ribeiro. São falsos, nunca nenhum de nós os viu, ficamos de cara à banda e rimo-nos muito no fim, o que se há-de fazer!? Pois se até inventam comunicados falsos ao ministro da saúde, porque não hão-de inventar crónicas mentirosas para alguns de nós?! Não me digam que esta última também veio da Polónia ou da Hungria…

Entre 2008 e 2012, em Espanha, foram despedidos 10 mil jornalistas e 70 órgãos de comunicação social desapareceram. Só no ano passado, mais 4800 jornalistas foram dar banho ao cão. A Federação dos Jornalistas de Espanha acredita estar ainda a tempo de “proteger os direitos dos jornalistas e dignificar a profissão”. Recusa-se a aceitar que está atrasada.

Entretanto, não é natural que, com tanta gente a perder o emprego, também nos “media” e  produtoras de rádio e TV portuguesas, se intensifique esta estranha produção de textos de geração espontânea , uns que dizem que são meus, outros que juram a pés juntos serem da Clara Ferreira Alves, ou do Nicolau Santos. Mas não são. Nem de uns, nem de outros. Basta conhecer as respectivas prosas para se saber. Eu por mim, juro! Eu seja ceguinho! E muito obrigado pela preferência…

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Apontamentos de Lisboa

Santa Apolónia

Mais um reformado acima das suas posses

Por Ferreira Fernandes
UM SEXAGENÁRIO de Penacova armou-se em Hercule Savinien Cyrano de Bergerac e agora tem a PJ à perna. Através das redes sociais, hi5, Facebook e essas coisas com um olho maroto no écran, o nosso beirão lançou a rede para socializar com mulheres: apresentou-se como Mickael Carreira, de 27 anos (típico de reformado português a viver acima das suas posses: ser Tony Carreira, 49 anos, já não lhe chegava). Elas despiam-se frente ao computador e na casa do sexagenário - que está reformado mas, pelos vistos, nem todo (a parte "sex", não) - a PJ encontrou fotos de dezenas de mulheres. 
Discute-se agora a pena. Se o mariola não tentou vender as fotos nem com elas chantagear as parceiras de um amor ilusório (não são todos?), tem em mim um advogado, como passo a expor. 
Se bem se lembram, não talvez do próprio Cyrano, que é demasiado antigo (1619-1655), nem da peça de teatro ("Cyrano de Bergerac", 1897), mais recente mas chata, de Edmond Rostand, mas do filme com Depardieu, ainda não tão gordo mas pencudo, este não fez menos do que o nosso beirão. Depardieu (Cyrano) escondia-se atrás de uma sebe, expunha um barão de boa figura e declamava poemas à bela Roxane, na janela do convento. 
O sexagenário de Penacova escondia-se atrás do Mickael, e então? De cada vez que passo à frente de uma loja Nespresso e cruzo uma mulher bonita, faço de conta que está a cair um piano. Com o truque à Clooney já ganhei dois sorrisos. Posso ser preso?
«DN» de 19 Abr 13

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18.4.13

Apontamentos de Lisboa

Arte urbana

Desculpem qualquer coisinha

Por Ferreira Fernandes
CLARO que vocês sabem quem são, não estão é a relacionar... Ele, o Kenneth "Oops!" Rogoff, e ela, a Carmen "Oops!" Reinhart, ainda são primos do Vítor "Ai, Onde é que Tinha a Cabeça!" Gaspar. Primos por parte da folha do Excel. 
Já estão a ver? Não? Outra ajudinha, lembram-se daquele piloto que fala inglês com pronúncia de conhaque, o comandante Frederico "Ups!" Manchique? Esse. Um dia, o nosso "Ups!" dos Boeing avisou da cabina: "Srs. passageiros, por um erro de cálculo meti libras de fuel, em vez de quilos. O depósito está vazio, desculpem qualquer coisinha..." O comandante, que Deus tem, também era um Excel. 
Bom, então os "Oops!", a Carmen e o Kenneth, professores de Economia em Harvard e antigos quadros do FMI, publicaram em 2010 um rigorosíssimo estudo, um paper como eles chamam. O "Growth in a Time of Debt" foi traduzido para português, pelo "Ai, Onde é que Tinha a Cabeça!" Gaspar, com o título "Gastaram, Não Foi? Agora Dancem!", com a chancela Povo Livre Editora, de Massamá. Esse livrinho dos "Oops!" foi a bíblia que pôs a Europa no caminho da salvação e da austeridade. Por estes dias, porém, diz-se que o tal paper ponderou mal os países estudados e até tinha um erro no Excel (como se o erro não fosse o encanto desta família)! Pura inveja, claro. 
Um abraço ao professor Gaspar! Ele não me conhece mas fui operado a uma unha encravada por um tio dele, o cirurgião João "Lá me Enganei!" Mendonça. Agora só tenho um rim.
«DN» de 18 Abr 13

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Apontamentos de Lisboa

2 Abr 13
Bizarra publicidade de uma escola de... condução

«Dito & Feito»

Por José António Lima
NO MOMENTO em que o BCE e o FMI fazem saber que não autorizarão o desembolso da próxima tranche de 2.100 milhões de euros de ajuda a Portugal, enquanto o Governo não apresentar soluções alternativas às medidas chumbadas pelo Tribunal Constitucional, o que sugere o líder do PS?
Na sua pomposa declaração de segunda-feira, António José Seguro veio propor a «renegociação dos juros» a pagar à troika e o «reembolso dos lucros obtidos pelo BCE na compra de dívida soberana». Como se Portugal estivesse em posição de impor alguma destas exigências lunáticas aos seus, até agora, pacientes credores. Não está mal vindo de alguém, como Seguro, que tem esbarrado numa indulgente indiferença dos decisores internacionais – do FMI ao BCE – aos seus pedidos de atenção e às cartas que diz ter escrito, mas se vem depois a apurar que não foram enviadas.
Seguro sabe que está a pedir uma impossibilidade e a vender uma ilusão. Mas insiste, com a crença de que poucos o levarão a sério e ninguém se dará ao trabalho de contrariar tais fantasias. Pior ainda. No momento em que a urgência do país é baixar a despesa do Estado, para reduzir o défice e a dívida, Seguro vem propor o aumento do salário mínimo e das pensões mais baixas, o alargamento dos apoios aos desempregados ou a diminuição do IVA da restauração – ou seja, aumentar a despesa pública e em simultâneo contrair a receita. Parece viver noutro planeta.
Seguro, reconheça-se, não tem a vida fácil. De um lado, tem Mário Soares a gritar que «este Governo está moribundo» e Manuel Alegre a entoar em coro que «este Governo não tem condições para governar», quais velhos dos Marretas do PS. Do outro lado, tem o regressado José Sócrates, no seu tempo de antena televisivo, a fazer ajustes de contas políticos e pessoais, ultrapassando a liderança do PS em contundência verbal.
Não admira que Seguro, entalado entre tais forças de pressão, venha radicalizando artificialmente o discurso e repetindo a exigência de eleições antecipadas. Que mergulhariam o país num mais que certo caos político. Para já, terá que se contentar com as disputadas e concorridas eleições directas no PS, este fim-de-semana. E com Soares, Alegre e Sócrates. Além de Ferreira Leite e Pacheco Pereira, claro. 
«SOL» de 12 Abr 13

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Apontamentos de Lisboa

Praça de Alvalade
Arte urbana, ou capacidade de previsão (com um caixote de lixo de reserva)?

A mentira, o terrorismo e a catástrofe

Por C. Barroco Esperança
QUANDO um Governo provoca e chantageia os Tribunais não cria um problema político, transforma-se num caso de polícia e a sua substituição já não é só um imperativo ético, é uma necessidade de higiene pública.
O chumbo de quatro artigos do OE 2013 continuam a ser a arma de arremesso com que o génio que a troika recomendou para ministro das Finanças encobre a sua derrapagem orçamental.
Se, por hipótese, o PR reincidisse na incúria de não pedir a fiscalização do OE 2013, se os deputados da oposição e o Provedor de Justiça se tivessem abstido de zelar pela CRP, isto é, se o Governo tivesse visto aprovar o Orçamento com que quis afrontar o TC, nem assim se teriam equilibrado as contas públicas. (...)
Texto integral [aqui]

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17.4.13

Quem será mais louco?

Por Joaquim Letria 
O SENADOR McCain, antigo candidato à presidência dos Estados Unidos, chamou psicopata ao actual líder da Coreia do Norte e disse que já o pai era doido e o avô era maluco.
Não sei se o senador se baseava em algum relatório genético e em regras de hereditariedade para insultar tês gerações de grandes líderes e acabar na ofensa ao Kim Il Sung. Mas que queria ofender um dirigente político de uma nação soberana e, pelo caminho, vilipendiar todo um povo patriótico, não restam dúvidas a ninguém.
Os americanos parecem não ter os cinco alqueires bem medidos. Assim se afigura, ao pensarmos que diante dum jovem dirigente, inexperiente e instável, dependendo das velhas hierarquias, se comportam deste modo e é com este folclore ofensivo que acompanham provocadoras manobras militares. E nestas não incluo os exercícios militares junto à fronteira do Norte, envolvendo milhares de soldados, grandes baterias de artilharia pesada, bombardeiros “stealth” e dezenas de navios de guerra. 
De cada vez que vou a Seoul, e fico no Hilton, a sala de pequenos almoços do hotel parece a messe dos oficiais americanos, todos de camuflado e com ar de quem já está atrasado para chegar à guerra. Não fora a discreta presença dos russos e japoneses, a autoridade dos chineses e o bom senso de Seoul, daquele clima paranóico já tinha saído asneira da grossa a norte do Paralelo 38.
Um presidente americano inteligente, racional e equilibrado entenderia que se está no momento exacto de suspender estes jogos de guerra, inequivocamente. É verdade que ao longo de gerações e após a brutal guerra da Coreia, que todo aquele povo sofreu, a guerra psicológica dos americanos, a qual nunca abrandou, pode bem criar um caso de demência colectiva. Mas a comportarem-se assim, contra uma nação que dispõe de armamento nuclear e mísseis capazes de transportar ogivas, sob a direcção política que se conhece, não sei quem será mais louco. Se PyongYang, se Washington.

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Os heróis sprinters da maratona trágica

Por Ferreira Fernandes
APRPRIANDO-SE do único cowboy que não é seu, os Estados Unidos, tal como Lucky Luke, disparam mais rápido que a sua própria sombra. Sendo a sombra feita de explosões, eles disparam heróis ainda antes da nuvem de pó pousar. 
Incomoda ver os bons jornais americanos à cata dos heróis instantâneos que irão alimentar os próximos sucessos de Hollywood. Depois das sagas de bombeiros nova-iorquinos, vamos ter os maratonistas, ou assistentes da maratona, bostonianos. É o homem de chapéu de cowboy que fez garrotes e foi muito solicitado para entrevistas com a bandeira americana ensanguentada - e que veio a revelar-se um manancial para o sorvedouro dos jornais (teve um filho morto no Iraque, teve outro que se suicidou e ele próprio tentou imolar-se pelo fogo). É o antigo jogador da equipa de futebol americano que se imortalizou numa foto levando uma mulher ao colo até à ambulância. É o "ícone" (é assim que já lhe chamam), o velhinho maratonista, 78 anos, que tropeçou com o sopro da primeira bomba... Gente que devia ser considerada o que é (e que já é enorme): estavam no lugar de uma tragédia. 
Dramatizar uma tragédia com heróis é não entender a dimensão da coisa. E a coisa maior é a simplicidade para cometer o horror: duas panelas de pressão, pregos, pólvora preta, um relógio de ignição, no sítio certo, e é notícia em todo o Mundo. Sendo assim, seria mais prudente não precipitar a procura de heróis. Dá ideias a doidos.
«DN» de 17 Abr 13

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A coligação que já foi

Por Baptista-Bastos
AS COISAS do Governo parecem opacas, mas não o são. Tudo se torna mais claro, quando os pormenores se juntam, e o que entra a correr mundo deixa de pertencer aos domínios do segredo mal cerzido. A coligação é uma rima trôpega. Não são só as declarações de Pires de Lima que denunciam o mal-estar e o desacordo no CDS quanto à "remodelação"; são os nomes e a ofegante escassez da parada. É a ausência de Portas na cerimónia de posse dos novos "governantes." E é, sobretudo, a frase trucidante do Marcelo Rebelo de Sousa: "O primeiro-ministro perdeu a paciência com Paulo Portas e com o PS." Ao dizê-lo, revelou à puridade que Passos não é maleável às contrariedades próprias da democracia, e que tem da democracia um conceito de carroça. Mas, também, que o presidente do CDS não é lenço para se assoar, e que os seus impulsos não se limitam às divertidas consequências de uma vichyçoise.
A coligação é, afinal, o retrato de dois temperamentos e de dois caracteres, dissociados por natureza, cultura e educação. O que torna cada vez mais embaraçosas e contraproducentes as conexões entre os dois partidos, e as relações internas em cada um deles. A verdade é que o primeiro-ministro, quando declara, implícita e explicitamente, que fará o preciso e o não-prescrito para ir em frente, até contra uma porta, tem-no efectuado, inúmeras vezes, sem consultar o colega de aliança, o que deixa muitos dirigentes centristas em estado de indignada fúria. Esta tibieza de espírito de Portas, a sua doçura e contemporização têm deixado muita gente estupefacta, registando-se, entre muitos CDS's, uma tendência alastrante para a intriga e para a malevolência. Haverá razões ocultas para tal alteração de índole?, perguntam-se.
Declaradamente, algo se passa. Paulo Portas, do que de ele se conhece, sempre foi um homem de ideias de seu, culto e lido, conservador mas não neoliberal, e as políticas do Governo têm atropelado, violentas, as suas convicções e estatura ética. A regressão inclemente que o Executivo tem imposto a Portugal e aos portugueses não se lhe coaduna, nem aos costumes nem à cultura e muito menos à percepção que sempre demonstrou possuir da política e da história.
Estas pequenas perversões podem servir de gáudio a comentadores apressados e a socialistas em trânsito, mas nada resolvem dos nossos padecimentos, dia a dia mais gravosos, com o aumento dos infortúnios e o desespero de percebermos que nada se solucionará com a substituição de um partido por outro. A Europa tem servido de respaldo a muitas patifarias que nos têm sido feitas. A verdade, porém, é que a subserviência de Passos como a adulação anterior de Sócrates à chanceler Merkel e aos seus objectivos não ajudam a desembrulhar o imbróglio, porque nem um nem outro tiveram ou têm a preocupação de mudar o mundo e de transformar a vida. Compreenda quem quiser compreender.
«DN» de 17 Abr 13

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16.4.13

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O essencial que nas notícias nos escapa

Por Ferreira Fernandes
DIZIA ontem um jornal: "Sabe-se para já muito pouco." Errado, sabe-se quase tudo. O que falta são pequenas circunstâncias, acasos vários, riscos insignificantes na moldura de uma história extraordinária: Emanuel Estevinha trabalhava, aos 82 anos, no turno da noite de um hotel. Alfred Hitchcock, que dormia com um caderninho para apontar sonhos, um dia teve um que lhe pareceu o mais belo. De manhã, leu: "Um homem ama uma mulher." Ele também saberia o que fazer com um bilhete assim, também tão direito ao essencial: "Emanuel Estevinha trabalhava, aos 82 anos, no turno da noite de um hotel." Claro, mestre do suspense, Hitchcock poria umas cenas com a chegada da carrinha do pão ao hotel de duas estrelas, pelas sete da manhã, a porta que ficou aberta enquanto o velho rececionista ia compor o pequeno-almoço dos hóspedes, os ranhosos que aproveitaram para entrar, ignorantes sobre um hotel de hoje não ter dinheiro e o cofre de um de duas estrelas não ter os diamantes da mulher do magnata russo, a pancada por isto ou aquilo, o arrastar do corpo cansado que 60 anos antes foi de um basquetebolista, a mulher da limpeza dando com o colega morto, o espanto dos hóspedes (que começaram por pensar em si próprios) e da pequena multidão que se juntou à porta, na rua estreita de Faro, e alguém, abanando a raiva: "Por 100 euros! Era o que havia no cofre, 100 euros!"... 
Pormenores, enfim. Mas a história caberia no bilhetinho de que eu já falei.
«DN» de 16 Abr 13

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15.4.13

Os pinta-paredes (56)

De saudar o facto de estas portas verdes (ao contrário do que sucede com a da Farmácia Azevedos, ali perto) terem sido re-pintadas, eliminando os grafitos. (Esta foto e as anteriores foram tiradas na mesma tarde).

Confiança garantida

Por Joaquim Letria
TENHO um amigo que vive no prédio dum importante ministro. Todos os dias, pelas 7 da manhã, o meu amigo quando sai para passear o cão encontra no elevador a mulher do ministro, que vai correr. Todos eles figuras públicas e conhecidos de longa data, cumprimentam-se amistosamente. Mas o meu amigo não resiste a contar-me o que a mulher do ministro responde à sua pergunta de “então, vocês estão bem?”
Com um sorriso bem disposto e com a voz firme de quem sabe do que está a falar, a senhora responde invariavelmente: 
“Então não havíamos de estar! Claro que estamos bem, a afundar-nos alegremente”! O meu amigo distrai-se com o cão e a senhora põe os auscultadores antes de começar o seu “jogging”.
Mas quando o meu amigo regressa para tomar banho, ou almoça comigo, não resiste a rebobinar e a pensar que se um ministro essencial como aquele acha que o país se está a afundar todos os dias, é porque isso é mesmo verdade.
Quando o meu amigo me contou a história pela primeira vez, num tom de grande segredo, eu pensei que a senhora era uma irresponsável e que o marido não seria melhor. Mas agora, depois de ler que Christine Lagarde, directora do FMI, disse que até ao fim do ano haverá bancos que vão fechar em Portugal, penso que estão todos bem uns para os outros e que nós é que estamos entregues aos bichos, com gente desta a dar-nos confiança garantida na competência de quem nos governa e no futuro que nos vai acolher.

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Os pinta-paredes (55)

Lisboa - Fachada da Farmácia Azevedos do lado da Rua 1.º de Dezembro

Trinta anos de avanço e, no entanto...

Por Ferreira Fernandes
TOMADA da Bastilha? Ora, ora, o 14 de Julho já era, agora é o 15 de Abril e o striptease dos políticos franceses. 
Hoje, ao fim do dia, todo o cidadão francês já pode ir à Internet, ao portal do Governo, e saltar do castelo do ministro da Educação para o pacote de ações da Total da ministra da Justiça. Se é que os há, tais bens, até agora legitimamente escondidos do povo. Mas, a partir de hoje, a exposição pública da riqueza dos ministros é obrigatória (e em breve o será para os deputados). O ministro do Trabalho, Michel Sapin, queixa-se mas compreende: "É uma brutalidade, mas responde à violência de um ministro que devia perseguir quem se mete em fraudes e, foi-se a ver, ele próprio..." Falava do ex-colega, Jérôme Cahuzac, que enquanto legislava austeridade para os outros tinha contas escondidas no estrangeiro. 
Para hoje, então, o suspense: quem são os ministros mais ricos? Todos ansiando, na declaração do património, passar por nouveaux pauvres. É que a França é a pátria de Proudhon, aquele filósofo anarquista que decretou: "Toda a propriedade é um roubo"... 
Hoje era talvez um bom dia para alguém, deste Portugal do tal extremo Sul trafulha, lembrar à francesa Lagarde, do FMI: "Sabe, essa inovação francesa, a declaração do património dos eleitos e o direito de todos a conhecerem, temo-la desde 1983..." O pior é se ela pergunta a razão, então, para não sermos tão transparentes quanto temos direito. 
«DN» de 15 Abr 13

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14.4.13

Fascismo/antifascismo

Por Alberto Gonçalves
NOS CAMPOS da internet onde apascenta a extrema-esquerda, reina a felicidade graças à morte de Margaret Thatcher, vulgo "a fascista". A aplicação do epíteto, em Portugal de resto muito desprendida, é elucidativa do tipo de estrutura mental que o aplica. A sra. Thatcher venceu três eleições populares? Fascismo. A sra. Thatcher desembaraçou o Reino Unido do jugo sindical que a generalidade da população não elegera? Fascismo. A sra. Thatcher encolheu o peso do Estado em prol da escolha individual? Fascismo. A sra. Thatcher modernizou económica e socialmente o Reino Unido? Fascismo. A sra. Thatcher venceu nas Falkland uma guerra iniciada por uma ditadura decidida a vergar a autodeterminação da comunidade local? Fascismo. A sra. Thatcher ajudou a derrubar os totalitarismos do Leste europeu? Fascismo, fascismo, fascismo. 
Se bem percebo, um governante "fascista" é aquele que favorece a democracia, promove a liberdade, desampara a vida dos cidadãos e, se possível, combate regimes fascistas a sério. Em contrapartida, um líder "antifascista" que se preze desrespeita eleições, professa a submissão dos cidadãos, arrasa a economia e, se adicionar uns pozinhos de culto da personalidade e o adequado castigo dos dissidentes, parece-se imenso com um fascista de facto. Ou a extrema-esquerda é ainda mais tresloucada do que aparenta ou a ciência política anda redondamente enganada há largas décadas. Por mim, aposto na segunda hipótese. 
«DN» de 14 Abr 13  (parte)

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Luz - Douro, Pinhão, Vindimas 1985

Fotografias de António BarretoAPPh
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Esta imagem encerra um pequeno mistério. Como, aliás, tantas outras, na nossa vida fotográfica! Este rapaz surgiu de repente no meio das vinhas. Ia a passar. Tem ar simpático e afável. Depois de o fotografar, gesto a que ele respondeu com um doce sorriso, pequenos incidentes (duas pessoas chegaram, alguém me chamou, foi preciso tratar de um assunto qualquer…) fizeram com que eu não falasse com ele de imediato. Quando o procurei, tinha desaparecido. Não sei se chegava ou se ia embora. Se era dali, ou de fora. Se ia ou vinha trabalhar. Se aquele cesto estava vazio ou carregado de bens pessoais. Nunca saberei. (1985)

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Soares, Cavaco, D. Carlos e Buíça

Por Ferreira Fernandes
A FRASE é tola. Duas frases, aliás, publicadas ontem no jornal i e ditas por Mário Soares: "O Presidente Cavaco Silva devia lembrar-se da história do século XX. Por muito menos que isso foi morto D. Carlos, que, aliás, era bon vivant e chamava ao seu país piolheira." 
Perguntei à entrevistadora, Ana Sá Lopes, jornalista que respeito como a poucos, se havia palavras de Soares, antes e depois das referidas frases, que, por lapso, acaso técnico ou interpretação jornalística da autora, não tivessem sido publicadas. Ela disse-me que não. Logo, já que as frases não estão tiradas do contexto, repito: tolas. 
O rei D. Carlos foi morto nem por mais nem por menos, no que se refere a causas que possam justificar o regicídio: não devia ter sido morto, ponto. Foi morto porque a história dos homens, mesmo quando melhora, não é imune a cabeças quentes e erradas: avançamos para republicanos apesar de Buíça; não graças a ele. Trazer um erro que foi cometido com aquele chefe do Estado, para advertir o atual Chefe do Estado, é tolo. 
Um, porque Cavaco deve fazer o que deve fazer (e não está), não porque deve temer, mas porque deve fazer o que deve. 
Dois, porque Cavaco vai continuar a chefiar o Estado mal, porque só isso sabe, e, continuando, depois da advertência de Soares, pode indiciar coragem, no que não acredito. 
E, três, porque a última coisa a aconselhar a Cavaco é a não ser bon vivant. Se ele o fosse um poucochinho ganhávamos todos.
«DN» de 14 Abr 13

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Conversas com os reis de Portugal

Por A. M. Galopim de Carvalho
MAIS de quatro dezenas de anos de convivência muito próxima e assídua com os professores das nossas escolas básicas e secundárias, mostraram-me que, salvo algumas honrosas excepções, os que ensinam nas áreas das “Ciências” sabem muito pouco da nossa História e que os das áreas das “Letras” sabem igualmente muito pouco ou quase nada de Geologia.
Esta constatação no que respeita o binómio “Ciências” versus “Letras” está, aliás, dentro do panorama nacional da parte da população que teve oportunidade de estudar. E só me refiro a esta parte dos portugueses porque a restante, infelizmente demasiado numerosa, não beneficiou dessas oportunidades e revela um desconhecimento confrangedor e preocupante em quaisquer destas duas áreas. Mas sabe tudo ou quase tudo sobre o mundo do “pontapé na bola”. Este tema do “desporto” tem público assegurado e vende bem. O que não falta são jornais e tempos de antena na rádio e na televisão a manter, inteligentemente, esta alienação.
Texto integral [aqui]

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O que é a Felicidade?

Por Maria Filomena Mónica 
NOS INTERVALOS do debate sobre o irresolúvel conflito na Síria, a ONU decidiu criar o «Dia Internacional da Felicidade» celebrado este ano pela primeira vez no passado dia 20. A ideia, originária do reino budista do Butão, destina-se a reconhecer «a felicidade e o bem-estar como objectivos universais para a vida da Humanidade». O Secretário Geral da ONU espera que, através desta celebração, seja «reforçado o compromisso para com o desenvolvimento inclusivo e sustentável do ser humano», uma vez que, na sua opinião, o mundo necessita de «um novo paradigma económico que reconheça a igualdade dos três pilares do desenvolvimento sustentável», isto é, os aspectos económicos, sociais e ambientais. Resta lembrar que, em vez do conhecido PIB - no qual figura bastante abaixo – o Butão adoptou como estatística oficial a «Felicidade Nacional Bruta».
Dos economistas, sociólogos e organizações internacionais, estou à espera de tudo. Por isso não me espantei quando vi publicada nas revistas da especialidade os resultados de sondagens destinadas a medir a felicidade dos povos. Se, no caso individual, medir uma coisa tão subjectiva quanto a felicidade é impossível, imagine-se o absurdo de fazer cálculos para apurar a felicidade das nações.
Apesar disso, no dia comemorativo, fiquei a reflectir sobre o assunto. Dado que outras coisas, como um interruptor eléctrico estragado, me preocupavam mais, acabei por esquecer a questão metafísica. Eis que, passados três dias, li no Diário de Notícias uma entrevista a um casal, vivendo numa aldeia isolada do concelho de Moncorvo, que me fez voltar ao tema. Em tempos antigos, o povoado fora relativamente próspero, mas depois as pessoas começaram a partir e os mais velhos a morrer. Maria de Jesus Rodrigues, de 81 anos, e o marido, Francisco Lemos, de 82, eram agora os seus únicos habitantes. 
O casal tinha tudo – a pobreza, o isolamento, o analfabetismo – para ser infeliz, mas as respostas demonstravam o contrário. Eis o que Maria de Jesus disse: «O que morreu hoje era meu irmão, mas o desgosto não é muito, porque estamos na idade de partir». Após o que acrescentava: «Vou ficando por cá, com o meu marido, de quem gosto muito». E depois: «Os nossos seis filhos estão longe, mas, de vez em quando, vêm cá». Em tom carinhoso, ele complementava: «Cá me vou entretendo com a patroa, amparamo-nos um ao outro e vamo-nos entretendo com a horta, as vinhas e as oliveiras». Depois de contar que o carteiro tinha a amabilidade de lhes ler as cartas recebidas, concluía: «Somos felizes, porque estamos no nosso cantinho, só nós dois». 
Estas vozes, sem dúvida comoventes, pertencem um universo cujo fim não lamento. No que me diz respeito, sei exactamente por que não sou feliz. Quis sempre mais da vida, incluindo «as impressões fulminantes» de que falava Camilo, do que ela tinha para me oferecer. Ban Ki-moon bem pode esforçar-se: comigo, a coisa não pega. 
«Expresso» de 30 Mar 13

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13.4.13

Apontamentos do Caos

O advogado canalha e suas consequências

Por Ferreira Fernandes
HÁ ANOS, no Tribunal de Instrução Criminal, mandaram-me para uma salinha de espera. Já lá estava sentado um negro solitário, mãos a apoiar a cara e olhos no chão. Pouco depois, entrou um cavalheiro, pasta e sapatos com berloques. Apresentou-se ao negro: era advogado e estava ali porque alguém - "o seu primo", disse ao infeliz - lhe pedira. Olhou à volta, não gostou de me ver, tentou sair com o cliente mas um polícia, no corredor, proibiu-o. Foram para um cantinho e o advogado tranquilizou-se com a atenção que eu devotava a uma revista. A sala pequena permitiu-me adivinhar a história: nessa manhã, chegado no voo de Bissau, o negro fora preso com um pacote de droga na mala. Os pormenores ouvi-os sussurrados pelo advogado: "Não, você não sabia o que havia no pacote. Foi um tipo - você não sabe quem, mas vocês africanos são assim, uns para os outros - que lhe deu o saco e você até pensou que era para feitiços. Vocês africanos acreditam nessas coisas, não é?" O outro dizia que sim com a cabeça... 
De vez em quando lembro-me da cena. Ontem, outra vez, quando li, no Público, a história de Lucinda Barbosa, ex-diretora da PJ em Bissau, e de Carmelita Pires, ex-ministra da Justiça guineense, que lutaram para que o seu país não fosse abocanhado pelos narcotraficantes, e perderam. Ambas mulheres de Direito e direitas. O advogado dos berloques se um dia se cruzar com elas trata-as de "ilustres colegas". O que é só meia verdade.
«DN» de 13 Abr 13

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12.4.13

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E se Obama fosse antes ao cinema!?

Por Joaquim Letria 
QUANDO li a frase de Obama, achei aquilo que ele disse um exagero. Mas como gosto muito da senhora, fiquei todo contente, e elogiei o discurso presidencial tanto como aquele que lhe escreveram para ele dizer no Egipto há uns anos, que toda a gente gostou muito, eu incluído.
Demorei algum tempo a perceber que quando Obama disse, desta vez, que “O MUNDO PERDEU UMA DAS GRANDES ADVOGADAS DA LIBERDADE”, não se estava a referir à minha querida Sarita Montiel, mas a Margareth Thatcher, morta no mesmo dia, deixando entre os órfãos, pelos vistos, o “Tory” Blair e o Barack Obama, a par do Gorbatchev e do Lech Walesa.
Tenho amigos em Londres que sofreram com a morte da rainha do Alzheimer, porque são conservadores e admiram aquela que foi a primeira mulher a chefiar um governo no Reino Unido, o que eu respeito. Mas também tenho amigos que foram a Brixton, às festas de alegria com que se comemorou na Grã-Bretanha o desaparecimento da “Bruxa”. Gosto da sinceridade e recusa de hipocrisia, também como foram as festas dos mineiros do Norte, a quem a baronesa tanto prejudicou, como por certo na Argentina se terá festejado o desaparecimento da madrasta das Malvinas.
Eu, por mim, marimbo-me na baronesa, um Gaspar de saias e com substância que desgraçou milhões na Grã Bretanha e lançou a Europa nesta crise do capitalismo em que ainda estrebuchamos e recolho-me ao meu luto pela Sarita, a rainha do “couplé”, a madrilena de olhos ardentes e voz quente que nos anos 50-60 provocava erecções aos jovens da minha geração a cantar “besame, besame mucho”. 
Sarita fez mais de 50 filmes. Tornou-se mundialmente famosa com Vera Cruz e filmou com Gary Cooper, Burt Lancaster e outras grandes vedetas. Estreara-se em 1944,em “Te quiero para mi” e até 1974 rodou meia centena de filmes, ainda que sempre entregue à música e sempre inebriante com as suas canções sensuais, como em “Violetera” e muitas outras películas que em Portugal provocavam enchentes durante meses, em grandes salas de cinema como “Eden”, “Condes” e “Odeon”, hoje todas elas desaparecidas.
Casada quatro vezes, senhora de grande beleza voluptuosa e não escondendo uma grande sensualidade, Sara Montiel foi uma advogada da liberdade maior que a baronesa que foi amiga do ditador Pinochet. 
O ministro espanhol da Cultura,José Ignacio Wert,disse que Sarita era “um ícone do cinema espanhol e ibero-americano, capaz de encher o grande écran como ninguém”. Estou plenamente de acordo, e ainda acho que Sarita não encheu as ruas de Londres de sem-abrigo nem prejudicou ninguém, como a Thatcher. Talvez o ministro Wert possa mandar dois DVDs ao Obama… um sobre uma e outro acerca da outra…

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Apontamentos de Lisboa

Se podem ir à boleia, porque não haviam de poder ir ao volante?
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Daquelas hesitações que dão esperança

Por Ferreira Fernandes
Django Libertado, o filme de Tarantino, acaba de receber um Óscar ou lá o que é isso de estar a estrear há um minuto, apagar-se a projeção e aparecer alguém explicando: "O Organismo de Estado para o Cinema telefonou a dizer que a estreia tem de ser adiada." Aconteceu, ontem, em Pequim. Em mandarim, aquela frase quer dizer: "Django Libertado está proibido aos chineses e às crianças do Mundo inteiro." 
Um filme de Tarantino, de facto, não é para ser visto por almas inocentes - ver um homem a ser capado não é para jardins escolas -, mas o Governo de Pequim vai ter agora de explicar aos seus cidadãos porque os acha tão sensíveis. Ao que se sabe, o durão do Quentin Tarantino até se tinha amaciado: na perspetiva de poder ser distribuído no mais populoso país do Mundo, permitiu que o seu magnífico spaghetti western não tivesse tanto ketchup. O sangue das cópias chinesas de Django Libertado ganharam cor mais aguada. Ser um dos 34 filmes estrangeiros a poder ser anualmente estreados na China é tão aliciante que pode levar um cineasta radical a ceder: Pequim bem vale que se apague uns glóbulos vermelhos... Pelo que se viu, a sua cedência não foi o suficiente, mas na ótica de negócio, que o cinema também é, percebe-se. Já se entende menos a censura chinesa. Censura é daquelas coisas que não se compadecem com ser duro um minuto depois de se ter acendido o projetor. Ou se é, ou não. Espero que faça muitas destas, para ruir em breve. 
«DN» de 13 Abr 13

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