31.1.07

O grande resolvedor

Em Sesimbra, há 8.000 fogos, dos quais só dois ou três mil é que estão ocupados em permanência, com moradores.
Quanto ao edifício que aqui se vê (feito ao arrepio de tudo quanto se possa imaginar), costumava dizer-se que, em certos dias, era possível pescar-se da varanda.
Mas já estou como dizia um amigo meu - pessoa que já viveu muito: «Sosseguem, que o mar resolve»
A partir de agora, Carlos Barroco Esperança passa a fazer-nos companhia como colaborador deste blogue.

Actualizada a colectânea «Humor Antigo» até 1926-32
Ver [aqui]

A Festa de Santa Filomena

NO INÍCIO DA DÉCADA DE SESSENTA um brasileiro bem sucedido voltou ao Cume para rever amigos e embasbacar os autóctones com o sucesso. Trouxe presentes, distribuiu pentes e rebuçados, lançados aos garotos à rebatina e, à igreja, ofereceu um guião e dois pendões que mandou vir do Porto, uns paramentos a estrear e dinheiro suficiente para a festa de Santa Filomena.
A bem-aventurada tinha provas dadas na cura de animais, designadamente ovelhas, que a gripe dizimava e estropiava no Inverno e, quanto maior a desgraça, mais crescia o pasmo pelas que escapavam e maior era a devoção. Tinha sido o caso, nesse ano, por causa das chuvas e dos sempre insondáveis desígnios divinos. Era a primeira homenagem pública, a augurar o início de uma tradição e de um amparo ainda maior. A festa há muito que a merecia a santa, mas os proventos da arrematação dos pés e orelhas de porco, de duas ou três dúzias de ovos e de alguns enchidos provenientes do pagamento de promessas, mal chegavam para lhe pagar a missa e comprar algum adorno.
Valera a generosidade do brasileiro que pôs os paroquianos em excitação, com recados enviados a parentes e amigos e data da festa anunciada.
Com farinha peneirada, ovos guardados e açúcar comprado, apalavrada a banda da Parada e encomendado o foguetório no Porto da Carne, a uma semana da festa, veio o pároco anunciar, durante a missa, que Sua Santidade tinha declarado falsa a santa, sacrílega a devoção e, assim, era impossível a festa. Manifestou tristeza suficiente, por solidariedade para com os paroquianos, que da decisão papal não cabia recurso. Ainda propôs outro santo, com certificado de garantia, de sexo diferente e idêntica virtude, para a substituir nos festejos. Deixou à reflexão dos paroquianos. E do brasileiro, subentendia-se. Qual quê? Goradas as expectativas, enxovalhada a crença, arruinadas as orações cuja permuta de intenções não admitia retroactividade, só restava um vago ressentimento e uma sensação de injustiça e impotência.
O brasileiro, a quem a generosidade assegurara lugar cativo na primeira fila da igreja, ficou lívido, primeiro, a vacilar na fé e nas pernas, ressentido depois e a remoer vingança.
Impediu-o o medo do Inferno e a inutilidade de demandar o Papa de exigir a devolução do óbolo, ficando-se pela desolação e algumas obscenidades com sotaque, enquanto os paroquianos se dividiram entre o brasileiro e os sacramentos, a devoção e o padre, a santa e o Papa, acabando por regressar ao redil e à fé dirigida de Roma. Apenas o brasileiro, por brio, passou a frequentar a missa em Vila Fernando, com outro padre, no tempo em que ainda se demorou. Manteve a devoção mas trocou de corretor.
Ninguém percebeu porque se demitiu do altar uma santa que lograra prestígio igual ao de Santa Bárbara a amainar trovoadas e maior que o de S. Sebastião que, para além de mártir, não se lhe conhecia na paróquia outro feito que o recomendasse, não desfazendo, é claro, na seta que o trespassava em perpétuo sofrimento. Era difícil rezar a santos que não faziam milagres quando se apeava quem os fazia.
Creio que ao medo do castigo divino e à falta de alternativas se ficou a dever a persistência na fé, posta em causa de forma demolidora por motivos insuficientemente explicados e com despesas já feitas.
Não estralejaram foguetes, não se ouviram os acordes da banda, não se provaram as guloseimas. A imagem, ferida na estimação e na virtude, foi parar à sacristia, por decreto, condenada à solidão e ao esquecimento, à espera de que algumas gerações de crentes se finassem para reaparecer, quem sabe, com outro nome e renovados poderes. Assim a fé e a sociedade o consintam ainda. Os mordomos ficaram designados para as próximas festividades conservando o prestígio e as prerrogativas.

A santa e o brasileiro nunca mais foram ressarcidos da desgraça.

Oferta do autor aos leitores do SORUMBÁTICO

Uma carta curiosa no «DESTAK» de hoje

ATESTADOS
O Governo faz muito bem em complicar a apresentação de atestados médicos, porque a maioria deles são uma aldrabice. Pelo menos todos os que me foram passados e das pessoas que eu conheço, assim foram e fizeram um jeitão. Não sei se a medida proposta será eficaz, mas isto não pode continuar, dado o estado a que chegaram as finanças públicas. Talvez as medidas sejam insuficientes e deviam-se estabelecer penalidades para ambos os lados. É preciso não prejudicar quem na verdade está doente e não proteger os que vão para o médico queixarem-se de uma maleita que não têm, como as falsas dores de cabeça, esgotamentos, etc... Ou isto é mentira!
CARVALHO HENRIQUES

30.1.07

O humor de F. Santos

(Oferta do autor)
1926-21

Maria

SE A ALVA E MEIGA SENHORA que em 1917 poisou numa azinheira, vestida com um manto de luz, para gáudio de três inocentes pastorinhos, por erro de navegação celeste houvesse poisado numa azinheira errada e encontrado um só pastor, mancebo de vinte e tantos anos; se uma falta de energia lhe tivesse apagado o manto, sendo a beleza tanta quanto dela disseram as criancinhas, e entre o manto e o corpo nada houvesse, como é de crer, por ser a luz que resplandecia o único vestido que a cobria, poderia o dito pastor chamar-se José, como o humilde carpinteiro de Nazaré, e a história seria outra.
Se o dito pastor, mancebo de vinte e tantos anos, na flor da idade e do desejo, impelido pelos sentidos, fosse tão rápido e eficaz a tomar a dita Senhora como o era a conduzir o rebanho, não seria o Papa, muitos anos depois, a entrar em êxtase; seria ele, pastor, ali e então. E, em vez de criancinhas a ouvirem eu sou a Nossa Senhora, pitoresca apresentação que só ouvi a um sargento, falando aos soldados, eu sou o nosso primeiro Vieira, em vez dessa apresentação que os exegetas atribuem à Virgem Maria, teria ouvido o pastor, mancebo de vinte e tantos anos, mais afeito ao rebanho que ao corpo feminino, à guisa de apresentação e despedida, com voz lânguida e conformada, eu sou Maria.
Tudo leva a crer que a referida Senhora, de tão rara beleza, teria esquecido a conversão da Rússia, poupado o dito pastor à oração e, em vez de duas ou três aparições, teria tentado outras, sabendo embora que não era a azinheira certa aquela em que poisava, mas adivinhando à sua sombra o pastor, mancebo de vinte e tantos anos.
É preciso aumentar a probabilidade de novas aparições, seja pela duplicação do número de azinheiras ou do número de crianças que, vítimas da fome e da ignorância, prefiram a oração à escola e se dediquem à pastorícia, de preferência longe dali, que os milagres raramente se repetem perto, e, se acontecem, como há sobejas provas na Ladeira e noutros sítios, nunca são reconhecidos por se desconfiar da abundância e se temer a concorrência.
E se, no futuro, apenas houver pastores crianças, com joelhos no chão e olhos no Céu, não haverá qualquer pastor na flor da idade e do desejo, mancebo de vinte e tantos anos, a ofender a virtude e a mudar o sítio às azinheiras, a perturbar a circulação celeste e os milagres.
Oferta do autor aos leitores do SORUMBÁTICO

29.1.07

1926-19

TLEBS matemáticas

Sebastião e Silva
NUMA AULA DE MATEMÁTICA para estudantes recém-chegados à Universidade nenhum dos jovens presentes sabia o que queria dizer a palavra «biunívoco». Trata-se simplesmente da correspondência um a um. Assim, por exemplo, entre casais constituídos de acordo com a lei portuguesa há uma correspondência biunívoca: a cada marido corresponde uma e uma só mulher e a cada mulher corresponde um e só um marido. Em vários países islâmicos, por exemplo, não se passa dessa forma. O termo é importante em matemática. Como é possível que estudantes que durante doze anos tiveram essa disciplina não o reconheçam? Na mesma aula, perguntados se conheciam as palavras «injectivo» e «bijectivo», os estudantes afirmaram que sim, embora muitos não as soubessem definir. São esses os termos usados em muitos manuais de matemática e que muitos professores preferem, por serem mais precisos. Mas outros dizem serem exemplos de exageros terminológicos que se propagaram nos anos 1980, depois de ter falecido Sebastião e Silva, o grande investigador e pedagogo que orientou entre nós a modernização do ensino da matemática. No manual que então escreveu adoptava o termo «biunívoco» e referia «outras maneiras de dizer» (1, 1, IV-7). Em matemática, como em linguística, a precisão terminológica é necessária. Mas sempre que possível é melhor usar termos comuns. O rigor académico não sofre com isso — ao contrário do que parecem pensar os promotores dos exageros terminológicos gramaticais conhecidos como TLEBS —, e ajuda-se os estudantes a aplicar o que aprendem. Não conhecer o sentido de biunívoco é tão grave em matemática como na vida.
Adaptado do «Expresso»

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1926-8
Actualizado o «Humor Antigo»
até 1926-14 - ver [aqui]

Os Desafios aos Poderes

EM 1962, com as Universidades de Lisboa e Coimbra em greve, os dirigentes associativos foram inesperadamente convocados para S. Bento: Correia de Oliveira, Ministro da Presidência e número dois do regime queria falar com eles.
Contudo não se tratava de negociar uma saída para a greve na Universidade – um facto então inaudito dado o pequeno grupo de privilegiados que nessa altura a frequentavam unidos num movimento subversivo. A reunião era para lhes transmitir a posição do Governo:
“O poder não pode ser desafiado”.
Era, viu-se depois, um poder já muito enfraquecido.
Só um poder muito frágil, corroído pela sua falta de legitimidade, pode sentir-se desafiado porque uns milhares de estudantes deixam de ir às aulas num protesto moral, simbólico e sem qualquer poder efectivo.
O mesmo que se passa com o sargento de Torres Novas.
Tudo o que se está a passar – um sargento que entre a obediência ao tribunal e a cadeia escolhe a cadeia para proteger a sua filha – a intervenção espontânea de juristas com as mais diversas posições, os abaixo-assinados e as tomadas de posição individual tem um sabor estranho, recordam outros tempos e outras campanhas.
Não vale a pena discutir a questão jurídica como fazem os magistrados que vão à televisão defender o colega despejando conceitos mal assimilados. Toda a gente já percebeu que os seis anos de cadeia e os 30.000 euros de indemnização, enorme para os critérios habituais, só aconteceu porque os juízes se sentiram desafiados.
Desafiados pelos pais adoptivos dispostos a tudo para defender a criança comportando-se como verdadeiros pais, desafiados pela polícia que não a consegue encontrar, agora desafiados pela opinião pública que não percebe as complexidades processuais do caso e fala do que não sabe.
Mas só com uma tremenda crise de legitimidade, uma desconfiança profunda da opinião pública a respeito do poder judicial, isto se pode passar.
Que se passa com os juízes portugueses que não conseguem fazer justiça em nome do povo? Como foi possível quebrar-se aquele laço profundo que nos leva a reconhecermo-nos na decisão judicial mesmo quando dela discordamos?
Tudo isto é mais um sintoma do que uma doença: as reacções autoritárias, a arrogância judicial perante pessoas indefesas juntamente com a subserviência para com os poderosos têm minado a relação de confiança entre a comunidade e os magistrados.
Milhares de decisões sérias por magistrados competentes que só os interessados conhecem podem ver os seus efeitos destruídos por duas ou três decisões impensadas que de repente são títulos de jornais. É muito mais fácil destruir a confiança do que construí-la.
Em especial quando o mesmo presidente do sindicato dos juízes que teve uma posição exemplar em relação aos juízes do futebol ao constituir-se em advogado oficioso de uma colega que exorbitou, vem transformar um erro individual numa posição da classe.
O Juiz Robert Jackson que participou no julgamento de Nuremberga dizia que os tribunais julgam os casos, mas os casos também julgam os tribunais. Para um caso como este não se pode encontrar uma citação mais adequada.
Adenda: ficámos a saber no caso de Sintra que os beneméritos que se dedicam ao contrabando têm advogados pagos com os nossos impostos.
É justo: todos sabemos que economia está em crise e nem o sector do contrabando escapa. Além disso qualquer contrabandista que se preze tem sempre no bolso um atestado de pobreza passado pela sua Junta de Freguesia.
«Expresso» - 27 Jan 07

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28.1.07

O sr. Beja, um novo investidor?


Predestinados

AVISO JÁ que este enredo se desenrola entre personagens que não são santos da minha devoção.
Mas sucede que voz amiga me sugeriu a visita a um blogue unipessoal que eu não conhecia - o "luisfilipemenezes" - para que lesse um texto intitulado "Novo terramoto de Lisboa", no qual o unipessoalizado em título comenta a catástrofe em curso na Câmara Municipal da capital.
Assim fiz e eis o que encontrei. Luís Filipe Menezes, autarca de Gaia e candidato confesso à liderança do PSD, extrai dos factos lisboetas uma útil doutrina em cinco pontos. Vejamos.
Primeiro: não há nada a dizer sobre a constituição de dois arguidos, que até se leva à conta do nosso "furor justicialista" e de uma "cultura generalizada da suspeição".
Segundo: Marques Mendes não apoiou Valentim Loureiro e Isaltino Morais e impôs a Santana Lopes (e ao partido e à cidade) a candidatura de Carmona Rodrigues.
Terceiro: assim, MM "assumiu por inteiro a candidatura a Lisboa, responsabilizando-se pessoalmente pela constituição da equipa, de toda a equipa, pelo que teria de ser um inevitável sucesso de um novo paradigma de gestão autárquica", não podendo, por isso, tirar agora o cavalo da chuva.
Quarto: LFM não defende eleições intercalares, mas sim que "os principais responsáveis do estado a que se chegou devem assumir as suas responsabilidades".
Quinto: mais concretamente, MM deve "assumir por inteiro as consequências políticas da sua decisão de há dois anos", demitindo-se.
Esta doutrina reveste-se de grande desenvoltura moral e de assinalável audácia no plano da lógica formal. Porque estabelece uma cadeia de juízos sem elos. A vereadora, muito para além da mera presunção de inocência, é afinal a vítima dos estranhos e referidos furores e culturas. Sendo assim, o episódio em causa não deveria servir para ilustrar "o estado a que se chegou", que é o fundamento de uma severa apreciação de CR, mas que não chega ao ponto de o mandar, expressamente pelo menos, "assumir responsabilidades". Ora, sem admissão de culpas para a vereadora e sem equacionar sequer a demissão de CR, de que é que MM deveria tirar ilações? Se estamos perante, mais do que de uma aberrante cumplicidade num crime sem autoria, a própria inexistência de crime, por que bulas iria então MM demitir-se, a não ser para abrir as grandes alamedas do glorioso destino que LFM entende ser o seu?
Há políticos cujo sentido de serviço se circunscreve a servirem de chefes aos que os servirem a eles.
«DN»- 28 Jan 07

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27.1.07

Terminada a série de 1932, iniciou-se a de 1926 [aqui]

O Síndrome Artur Jorge

DESDE A DÉCADA DE 80 do século passado que o treinador de futebol Artur Jorge tem ganho fortunas a ser despedido pelo mundo fora. Os gestores públicos descobriram este segredo e muitos deles não querem outra coisa.
Mas se no futebol os despedimentos se relacionam com resultados, nas empresas públicas o segredo é o da “confiança”, questão que não deveria sequer surgir num universo em que o patrão é o mesmo.
“Confiança” serve para justificar a nomeação dos “nossos”, depois de se despedir os “outros”. Quando são despedidos, os outros não perdoam e recebem uma pipa de massa. Foi assim que o verbo indemnizar passou a ser conjugado na forma reflexa, com grande elegância: nós indemnizamo-vos, vós indemnizai-nos.
O banco comercial do Estado gastou 4,2 milhões de euros a mudar de gestores no mesmo ano. O Tribunal de Contas recomenda maior transparência nas demissões das administrações das empresas do Estado. Com as novas empresas estatais que aí vêm, desde hospitais até escolas, vai crescer o regabofe.
«25ª HORA» - «24 horas»

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1932-72
1 -73 ver [aqui]

Ando preocupado

A ESTEFÂNIA DE SANTA JUSTA interrompeu o noivado com o barão de Strapafurdisch, o que é supremamente injusto, depois das juras de amor que ambos haviam publicamente trocado a semana passada no Exclusive Clube do Mónaco, sito, ao que parece, ali para o Alto Pina. São coisas que não se fazem.
O famoso hoquista Nuno do Pau Galhofas foi visto a namorar com a Pipinha Castro Menezes em vez de estar em casa da Núncia da Purificação com quem mantém, como é sabido, uma relação duradoura que já vai em três meses e meio. Não devia.
Elsa Raposo está mesmo grávida. Ora isso é muitíssimo preocupante.
José Castelo Branco teve um programa de televisão, vai ser actor, talvez padre, performer, cocheiro, domador e ilusionista, além de marchand. Tal incursão tão abrangente pelo mundo das artes ainda poderá determinar a sua nomeação como Director do São Carlos. De chicote na mão.
São coisas que emocionam e preocupam.
Li numa capa que a Sónia Araújo ganhou o Dança Comigo e aceitou as desculpas do Luís Gouxa. É bonito. Chorei de feliz.
São momentos assim que nos fazem esquecer que a reforma é uma merda, que a malta anda toda mal paga e que os salários há nove anos que não conseguem cobrir a inflação. Mas isso, claro, é o menos.
O pior é que a Dª Antonieta Amarilis Spagethi da Horta cortou relações coma sua velha amiga Condessa da Berlenga Maior, o que prenuncia um tsunami de recriminações e bombásticas acusações mútuas que fazem tremer tudo o que é gente neste país.
Como artista, estou preocupado, naturalmente.
Vai ficar exposto publicamente que eu sou gordo, perverso, maldizente, provavelmente, até, adepto do Belenenses.
O mundo de revelações que se aproxima com tal zanga vai seguramente interferir no caso apito dourado; talvez até surja um caso do apito platina, muito mais chique.
A Bibá Estevens Motard da Cunha, foi vista na neve aos beijos com um desconhecido com pinta de porteiro de circo, mafioso ou talvez tratador de gorilas, mas, enfim, isso também a Stephanie do Mónaco já nos habituou, não é dramático.
Aliás, no real caso referido, terá sido, dizem as más-línguas, com o próprio circo. Inteiro, completo. Incluindo arrumadores.
O país preocupa-me. Não há sucessor ainda para o trono em idade maior e aproximam-se imensas eleições republicanas. Aliás o Palácio da Ajuda continua requisitado tipo OPA hostil à coroa e a toda a dinastia de Bragança, abusivamente no meu entender. Deste modo os Braganças continuam desalojados de um bem que lhes pertence e onde o mau gosto do Carrilho e o nosso dinheiro já operaram alterações faraónicas nas casas de banho. Está mal.
A República já devia ter atribuído ao D. Duarte Nuno um palácio em condições ou indemnização de valor semelhante. E repondo casas de banho monásticas, de gosto beirão.
Entretanto as jóias da Coroa foram para a Holanda, país onde se vende haxixe nas lojas do Estado, e, claro, foram roubadas e nunca mais voltaram. Preocupa-me.
O baile das debutantes da Bolsa do Porto não correu tão bem como habitualmente e isso também me deixa contristado. Era ver a cara da Rosinha Cupertino Raviolli a chorar por ninguém ter ido dançar com ela a noite toda, talvez devido ao pequeno pormenor estrábico e à ligeira incapacidade psicomotora ainda por corrigir. Está mal. Fico triste.
Preocupa-me que o Cristiano Ronaldo também não assente; era necessário que criasse herdeiros, de preferência onze, todos varões e futebolistas. O rapaz não se casa, só quer é brincar e isso inquieta-me.
Por outro lado, isso lembrou-me que o empregado do Zé Bolas viu-me um dia a falar com a Merche Romero na TV e agora quer que eu lhe apresente a rapariga. Ora ela, entretanto, acho que já arranjou novo ocupante para o seu coração, muito justamente aliás, e eu não sei o que fazer.
O homem vai ficar desiludido. Vai começar a atirar-me com a sobremesa. Estas coisas preocupam-me.
Andam a levar as cadeiras e os móveis ao Vale e Azevedo e eu acho mal, claro. Como é que uma família pode sentar-se à mesa sem cadeiras? É chato. Está mal. Preocupa-me.
Entristece-me que tenham dito aquilo do marido da Sofia que eu não sei o que foi, mas que deixava no ar a sugestão de que… enfim, ele, etc. e tal, mais não sei bem o quê. Ora isto são coisas que não se fazem. Chateia profundamente. Irrita-me.
A Clara de Sousa e o Penim, por exemplo, ao fim de dezassete anos de casamento separaram-se com rumores de infidelidade. Isto admite-se?! É um acontecimento terrível e que vai, obviamente, afectar as notícias de todo o país. Talvez o próprio Orçamento de Estado. É mais que preocupante. É trágico.
O país está doente. Isto está péssimo para a minha úlcera. Assim tenho de deixar de ler tablóides honestos e vou passar a só ler Júlio Dinis.
Ou talvez dicionários onde eu aprenda novos sinónimos para vida, imprensa, notícia, famosos, namoro, arte, amor, cultura, casamento, ligação, jornalismo.
Porque acho que sou eu de certeza quem anda, de facto, totalmente desactualizado.
Eu bem tento estudar tanta matéria, mas não consigo.
E isso preocupa-me.
Chiça. Preocupa-me mesmo.

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26.1.07

Um filme que dá que pensar...

No post-aberto de hoje, o leitor Fernandes recomenda vivamente este pequeno vídeo [ver aqui]. Trata-se, segundo nos informa, de «um anúncio português, premiado internacionalmente, mas que *não* passou na nossa televisão». Pode também ser visto no YouTube [aqui].

O asno e as asneiras


(Do Dicionário da Texto Editora)

Bandeira, sempre atento e certeiro, no «DN» de hoje

Como se sabe, as propostas de João Cravinho para combate à corrupção deram alguma luta, nomeadamente duas, que ele viu serem rejeitadas pelo grupo parlamentar do PS:
Cravinho acha que, nas declarações de rendimentos, devem constar também as contas à ordem - e há quem ache que não.
Nos casos de exibição de sinais exteriores de riqueza (enriquecimento ilícito), ele acha que a pessoa em causa deve poder ser convidada a explicar de onde lhe veio o dinheiro - e, também aqui, há quem ache que não, pois "é inconstitucional".
Comentando, ontem, essas ideias, Sócrates - sempre finíssimo! - classificou-as de ASNEIRAS, uma expressão cuja origem é a que em cima se vê.

Humor actual

(Enviado por J. Oliveira)

Artistas de coturno

O GOVERNO VAI ENCERRAR 17 consulados para os substituir por seis vice-consulados honorários e por uma secção vice-consular em 8 países. Ou seja, fecha e vem embora, mesmo parecendo mal. Onde pura e simplesmente não pode fazer isso, deixa nativos seleccionados, pagos em álcool e tabaco isentos de taxas, e automóveis ao preço de fábrica, para gerirem, em part-time, os negócios de Portugal.
A política externa era o instrumento essencial da nossa projecção no Mundo. Já não é mais assim. Em causa poderão ainda ficar os deveres constitucionais a que o Estado se obriga para com os portugueses no estrangeiro, onde estes ficam privados da assistência e da protecção devidas.
A iniciativa é de louvar. Assim se poupa para pagar a quem se abotoa com ajudas de custo, a gestores e entes de pequeno porte que sacam alcavalas para virem a Lisboa, cobrando quilómetros do carro do Estado. Artistas deste coturno não podem ser comparados aos quatro milhões de portugueses que ganham a vida honestamente, lá fora.
«25ªHORA» - «24 horas»

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Intervalo para publicidade

Ecografias

O JORNAL ESPANHOL “El País” dizia que a melhor maneira de evitar que 70% das mulheres que pensavam abortar, o fizessem, era mostrar-lhes uma ecografia do feto na sua barriga.
Esta informação do “El País” tem origem numas clínicas norte-americanas que informam com a maior clareza possível as suas pacientes do que lhes vão fazer. Aqueles que se submetem a algum acto médico, cada vez mais exigem saber o que lhes vão fazer, não seja o caso de saírem do bloco operatório com a surpresa duma perna a menos ou com a prenda inesperada das trompas terem sido laqueadas por decisão unilateral do cirurgião, preocupado com a carreira profissional da jovem mamã e com o desgastante “stress” que filhos a mais lhe poderiam causar.
O resultado do estudo daquelas clínicas americanas não é mais do que a consequência da boa informação. Quando a informação é boa, os resultados podem mudar. Muitos resultados poderiam ser diametralmente opostos se fosse respeitada a exigência das pessoas que querem ser bem informadas.
Que ecografia teríamos de mostrar aos governantes para eles não quererem fazer asneiras tão grandes?
JOAQUIM LETRIA - «25ªHORA» - «24 horas»

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O EMBARAÇO DA ESCOLHA

APROVEITO ESTA COLUNA para aliviar um pouco a consciência em relação á escolha que fiz dos 10 portugueses mais importantes da nossa História, respeitando as regras do jogo que o DN estabeleceu. O embaraço da escolha foi grande, face à primeira lista que fiz, pois integrava cerca de meia centena de personalidades portuguesas mais relevantes, quer da vida política quer da vida cultural. Foi a partir dela que tive de eleger apenas 10. É essa lista mais longa que aqui vou referir, poupando justificações que não cabem num espaço tão exíguo para o efeito. O critério é subjectivo e a ordem é cronológica.
Primeiro a Monarquia (1143 -1910). Entre reis e outras personalidades políticas, elegi: D. Afonso Henriques (1108-1185), D. Dinis (1261-1325), D. João I (1357-1433), D. Duarte (1391-1438), o Infante D. Pedro (1392-1449), D. João II (1455-1495), Vasco da Gama (1469-1524), o Marquês de Pombal (1699-1782), D. Pedro IV (1798-1834), Mouzinho da Silveira (1780-1849) e Fontes Pereira de Melo (1819-1887). Para a minha lista dos 10, acabei por eleger D. João II, D. Pedro IV e Fontes Pereira de Melo.
Entre homens de cultura durante a Monarquia, elegi: Fernão Lopes (1380-1459), Gil Vicente (465-1536), Grão Vasco (1475-1542), João de Barros (1496-1570), Damião de Góis (1502-1574), Pedro Nunes (1502-1578), Fernão Mendes Pinto (1510-1583), Luís de Camões (1524-1580), Padre António Vieira (1608-1697), D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666), Carlos Seixas (1704-1742), António José da Silva (1705-1739), Luís António Verney (1713-1792), Domingos Bontempo (1771-1842), Almeida Garrett (1799-1854), Alexandre Herculano (1810-1877), Camilo Castelo Branco (1825-1890), Eça de Queiroz (1845-1900) e Cesário Verde (1855-1886). À lista dos 10, apenas foram parar Luís de Camões, António Vieira, Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós.
No século XX, elegi Teixeira Gomes (1860-1941) e Afonso Costa (1871-1937), entre os políticos da I República. Saltei por cima do Estado Novo, já que Salazar (1889-1970) só é relevante pelas piores razões. Quanto à resistência à ditadura, ao 25 de Abril e à II República, optei por Álvaro Cunhal (1913-2005), Salgueiro Maia (1944-1992) e Mário Soares (1924), único dos vivos que citei, por ser o símbolo da democracia e da integração europeia. Só Afonso Costa e Mário Soares couberam na lista dos 10.
Percorrendo a cultura portuguesa do século XX, elegi, entre os que já morreram: Raul Brandão (1867-1930), Teixeira de Pascoaes (1877-1952), Fernando Pessoa (1888-1935), Amadeo de Souza-Cardozo (1887-1918), Aquilino Ribeiro (1885-1963), Vieira da Silva (1908-1992), Jorge de Sena (1919-1978), Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), Amália Rodrigues (1920-1999), Mário Cesariny (1923-2006), Alexandre O’Neill (1924-1986) e José Cardoso Pires (1925-1998). Vieira da Silva está entre os 10. O embaraço da escolha foi grande. Mas alivio a consciência expondo a lista toda.
«DN» - 26.Janeiro.2007

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"Post-aberto" EXCEPTO anedotas




Este post destina-se à afixação, pelos leitores, de tudo o que entendam por bem divulgar.
No entanto, para anedotas & larachas recomenda-se o anterior.

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"Post-aberto" - SÓ para anedotas



Aqui fica ele, como habitualmente às sextas-feiras.

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25.1.07

Medo do futuro

MILHARES DE JOVENS FRANCESES manifestaram-se nas ruas de Nantes, na noite de Ano Novo, gritando “Não a 2007!”. Não foi porque 2006 lhes tenha sido particularmente grato, a ponto de não querem mudar de ano, mas porque, tal como também gritavam, eles eram “Contra o futuro!”.
O futuro já não é um destino luminoso, nem um amanhã que canta, como muita gente acreditava. O futuro é uma incerteza que nos sai ao caminho, com muito mais vontade de nos encontrar do que nós a ela. Por isso, os jovens de Nantes soltaram o seu grito inútil de “Não a 2007!” pouco antes das simbólicas badaladas da meia noite.
Civilização é a capacidade de prever. Todavia, carregados de tecnologia, cheios de novos aparelhos, não prevemos nada e olhamos sem ver.
Por isso há tantos a quererem fugir para trás.
Ver jovens a manifestarem-se contra o futuro, como nós nos manifestávamos contra o passado, é tão perturbante como as cegonhas deixarem de emigrar.
«25ªHORA» - «24 horas»

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Intervalo para publicidade

Bollywood

PENA QUE A COMITIVA do Presidente Cavaco à Índia não tenha aproveitado a boleia para pôr os olhos onde São Francisco Xavier pôs a mão. Ou que não tivessem tomado chá com alguma missionária, irmã do Sagrado Coração de Maria, para que esta lhes mostrasse os “dalit”, ou seja, os “descastados”, quero dizer, os ostracizados e banidos, a quem é somente consentido dormir e viver na rua, onde morrerão.
Lástima que também não tenham visto televisão, por perderem uma oportunidade rara de desfrutarem da riqueza da Bollywood. Por simples curiosidade, o Oxford English Dictionary, diz-nos que Bollywood é a cidade do mundo em que mais filmes e séries e novelas para a TV são produzidas, alcunha para Bombaim que agora se chama outra coisa qualquer que me recuso a pronunciar.
Paciência! Perderam os “reality shows” em que meninas têm de acasalar com cobras, animais em que os seus namorados se convertem. Deixem lá. Fica para a próxima!
«25ªHORA» - «24 horas»

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1932-61ª
1ª a 63ª ver [aqui]

Raly?!

(Foto enviada por "Obsecado sic")
Alguém sabe explicar esta matrícula "P"?

E já que falámos do PMB...

... falemos também do seu primo, o genial «net post»

Na imagem seguinte, pode ver-se um pormenor de um dos inúmeros quiosques de venda de selos espalhados pelo país. Ao contrário do indicado, nenhum dos dois cartões é aceite - aliás, nem sequer entram. Se alguém conhecer um único quiosque destes que funcione, diga-me onde é. Terei muito gosto em lhe oferecer os meus cartões PMB que ainda devem ter algum saldo.

Uma imagem que já aqui se mostrou, mas que se volta a afixar porque vem a propósito: um dos inúmeros ciber-postos que ainda se podem ver por todo país e que, segundo me informaram nos CTT, estão sem funcionar (ou «out of order», como se diz na folhinha A4).

A crer numas pequenas etiquetas que as ornamentam, estas maquinetas (juntamente com tudo o que lhes está associado) foram co-financiadas pelo FEDER e pelo Plano Operacional para a Sociedade do Conhecimento. Também para elas é válida a oferta: se alguém conhecer uma única que funcione, diga-me onde é, pois terei muito gosto em lhe oferecer o meu cartão que ainda deve ter algum saldo.

NOTA: Claro que deve haver óptimas razões para que alguém tenha entregue, a uma caterva de pândegos anónimos, uns largos milhares de euros para brincarem às informáticas...

E já que falámos de parquímetros...

Esta imagem é antiga - daí, a pergunta: o que é feito do PMB (portamoedas multibanco)?

E esta, hem?!

Oferta de "Obsecado sic"
Na evolução histórica das grandezas, há duas em que a influência dos babilónios (com as suas divisões em sexagésimos) continua a ser mais forte do que o sistema decimal: são as que estão relacionadas com o tempo e com os ângulos.
Porém, e como não há regra sem excepção, aqui se mostra esta: um parquímetro, na Av. Duque de Loulé, em Lisboa, que aderiu à norma da «hora com 100 minutos».

A Paixão do Futebol

SÓ DEPOIS DOS DEZ ANOS comecei a perceber o motivo de, até aí, nunca me ter sido recusado lugar nas equipas de futebol que nasciam espontâneas entre garotos. Talvez sentisse a falta de entusiasmo dos parceiros, mas no calor da disputa não via os esgares de dor que os erros de pontaria frequentemente provocavam quando, por inabilidade, a bola que tinha como alvo era substituída pelas canelas dos companheiros que se atravessavam na trajectória do meu pé.
Nunca, antes, me tinha interrogado sobre as qualidades para um desporto que exercia em mim uma atracção irresistível. Jamais me dera conta da pouca habilidade que pudesse ter. Pelo contrário, algumas vezes tinham sido os outros a perguntar se não queria jogar à bola e a procurar convencer-me para ficar à baliza, lugar que a minha impaciência desprezava e eles tinham como o mais adequado ao meu perfil.
Só então me dei conta de ter sido dono da única bola, durante a instrução primária.
Depois, no liceu, perdida a protecção materna e o respeito devido, medroso e inábil, fui-me transformando no bode expiatório dos insucessos alheios, alvo de tareias com que os outros garotos se vingavam de um medíocre menos a Português ou de um mau grande a Matemática, numa crescente fama que ultrapassou a turma, a qual em breve perdeu o monopólio das sovas a mim destinadas. Era medroso, já o disse, não é por me gabar, e a alcunha de Nené era um incentivo eficaz para avanços mesmo dos mais timoratos.
Foram dois anos de excelentes notas e sólidas tareias, umas e outras em vias de extinção. As tareias terminaram quando reagi ao medo patológico e passei de bombo da festa a carrasco que desfeiteou dois colegas, em momentos diferentes, com violenta carga de pontapés fortalecidos pelo susto perante o gáudio de outros colegas que, em vez de me ovacionarem, apuparam as vítimas com expressões tão demolidoras como até do Nené te deixaste bater. Quanto às notas tive de esforçar-me menos, bastou o absentismo escolar, tendo quem respondesse por mim à chamada, abjurar os livros e começar a subir na consideração dos colegas, já ressarcido da ignomínia de ter frequentado o quadro de honra.
Alguns benefícios tive, pois, além de notas mais toleráveis pelos idolatrados cábulas, estes acolheram-me generosamente e não me deixei marcar por uma plêiade de incompetências pedagógicas nem tive necessidade de aprofundar a ciência sobre os estames da papoila e o órgão sexual da minhoca, ensinamentos que faziam corar os professores e emudecer de vergonha os alunos pelo carácter deletério, precursor da educação sexual que algumas décadas depois viria a ser objecto de reivindicação. Também me defendi de decorar o clima dos vários países, a fauna e a flora das colónias que a história se encarregaria de transformar em nações e outras inutilidades que levam as pessoas de então a repetir nostálgicas – nesse tempo é que se aprendia!
Mas o futebol continuou a exercer em mim uma irresistível atracção e a permitir-me suportar estoicamente o escrutínio dos outros jogadores, cada vez mais difícil, para participar. Era comum estarem seis ou sete garotos de um lado e menos um do outro, única situação em que podia aspirar à selecção. Dizia-me a experiência que o regozijo seria de pouca dura e que à primeira canelada era corrido à chapada e a pontapé, para bem longe, negando-me o simples privilégio de espectador. Mesmo assim aguardava ansioso o momento da selecção.
A minha entrada era sempre precedida de silêncios estranhos e insuportáveis delongas, apesar da evidente utilidade de as equipas começarem patas em número de jogadores. Por fim alguém dizia, com ar de enfado, aquela merda que jogue, decisão que me inundava de felicidade não obstante os termos pouco estimulantes e o epíteto moderadamente depreciativo com que o convite era formulado.
Do livro «Pedras Soltas», de Carlos Barroco Esperança. Oferta do autor aos leitores do «SORUMBÁTICO»

Quem responde?

(Clicar na imagem para a ampliar)
NOTA: A resposta já está dada (e justificada) em "Comentário".

As dores dos consumidores

1932-55ª
1ª a 56ª ver [aqui]

Estão de volta...?


Regressaram os saudosos «PARODIANTES DE LISBOA», ou já por aí andavam há algum tempo e havia quem não acreditasse?

«ACONTECE...»

Convite aos leitores do «SORUMBÁTICO»

Importante: confirmar a presença, até ao dia 31 de Janeiro de 2007:
Tel: 21 427 22 00; sjalmeida@textoeditores.com

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1932-50ª [v. arquivo aqui]


(De um conjunto enviado por JL)

24.1.07

[1932-46ª]

Problemas no «New Blogger» (ex-Beta)

O novo blogue «Humor Antigo», associado a este, já foi feito com a nova versão do Blogger e, até há pouco, estava tudo bem - afixei até ao post [1932-50].
No entanto, surgiram dificuldades nas últimas horas:
Além de ter aparecido um indesejado «Word Verification» (o que não é grave, mas não sei como surgiu...), a ordem de PUBLISH deixou de ser cumprida. Aparece uma mensagem de «Aguarde...» e, ao fim de alguns segundos, volta a pedir-me o username e a password. Uma vez introduzidos esses dados de novo... volta tudo ao mesmo e o post não entra.

Alguém tem também esse problema?
Já agora: alguém sabe como desactivar o «Word Verification» (nos posts, não nos comentários), visto que não encontro nenhuma opção para isso nos settings?

Desportos surreais

Para receber o conjunto completo (28 imagens, um Power-Point com 944k), basta enviar um e-mail para sorumbatico@iol.pt escrevendo em assunto desportos surreais
[1932-42ª]
NOTA: Por cada uma destas "anedotas antigas" aqui colocadas, há várias outras que são apenas afixadas no blogue «Humor Antigo» que, como se disse, se criou para esse efeito [ver aqui].

As dores dos "procuradores"

Face à verdadeira praga nacional que são as baixas fraudulentas, até se compreende esta decisão.
Mas não é isso que se pretende aqui fazer sobressair. Repare-se que, perante esta medida, quem aparece a defender a honra e isenção dos médicos não é a respectiva Ordem (nem nenhum dos seus sindicatos) mas sim... a CGTP!

Para desenjoar...

Para desenjoar de «humor do passado» (*), aqui fica uma amostra de «humor do futuro»...
(*) O blogue Humor Antigo foi actualizado há momentos.

Alguém quer discutir isto?

Como se sabe, as mulheres portuguesas que o podem fazer vão abortar a Espanha, ao abrigo da lei espanhola.
A lei espanhola, embora sendo mais permissiva, foi inspirada na nossa.
A lei portuguesa actual, simplesmente, não é cumprida.
Como tantas vezes sucede quando uma lei, em Portugal, não é cumprida, o legislador muda-a. Quanto a fazê-la cumprir, é um assunto que nunca preocupa ninguém verdadeiramente - a começar pelos que são pagos para isso.

Humor antigo


Seguindo o precioso conselho dado por um leitor (em "Comentário" ao post anterior), e sem prejuízo de, aqui, se continuarem a afixar anedotas antigas, criou-se um blogue só para elas [aqui].

O que fazer...?

Em relação às anedotas ilustradas dos "Anos 20 e 30" que têm sido aqui afixadas (e de que ainda existem muitas em arquivo)...
... o que fazer?
Continuar a fazer como até aqui
Continuar a afixá-las, mas menos por dia
Já chegam!!!
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Ver o post a seguir a este

23.1.07

A Ivone ou de como o ódio se transformou em amor

EM MEADOS DO SÉCULO PASSADO transbordava a fé nas aldeias de Portugal. O terço era, em Maio, uma obrigação quotidiana, exortada pela Irmã Lúcia, a rogo da Senhora de Fátima. Agradecia-se a ausência de Portugal na guerra de 1939/45 e o Salazar que a Providência nos designou.
Ninguém suplicava já o regresso do rei, implorava-se a conversão da Rússia.
As festas religiosas tinham data certa e regozijo garantido com um bailarico profano que amofinava o padre e alvoroçava a juventude e o acordeonista. As procissões reuniam os paroquianos e as missas diárias tinham boa clientela apesar da faina agrícola. As mulheres arranjam sempre tempo para a devoção por mais tarefas que lhes caibam ou solicitações domésticas que não possam alijar. Até nas rezas substituem os maridos e os filhos.
No mês de Maria o terço não se resumia aos cinco mistérios e respectivos padres-nossos e ave-marias. Havia cantoria litúrgica para seduzir o divino e desimpedir o caminho do Céu, quando a hora chegasse, à alma dos executantes. Para isso servia a igreja e para evitar que a fé desse lugar ao sono domiciliário onde, à lareira, chegava no primeiro mistério.

Ao excesso de fé, à pressa das orações ou a ânsias mais profanas se deveu a velocidade com que umas raparigas da aldeia passavam pela igreja, sem parar a tempo, indo cair na vinha em frente. Não lhes escasseava compaixão pelo martírio do seu Deus a avaliar pelos gemidos.
A aldeia murmurava que fora enganada a Pedra, desonrada a Ivone e muitas já não estavam como deviam. E não sabiam as pessoas, da missa, metade.
Andavam muitas na boca do mundo que é como quem diz nas conversas de quem gosta de falar da vida alheia. Honrava-se quem casasse e perdiam-se as enjeitadas.
Intimidaram-se com ameaças alguns mancebos e cuidaram de arranjar papéis, limitaram-se outros a ouvir gritos de coitanaxas ensinadas à porrada a conter o alvoroço e as hormonas. Mas, para as que encheram, vinha tarde a pedagogia e o sermão.

O Zé Ferreira preferiu a PSP ao enlace, e abalou para Lisboa deixando prenha a Ivone. Acabou polícia e casado, sem a Ivone que o pai prometera matar. Assustei-me ao escutar a ameaça e os nomes que lhe gritava para que a aldeia ouvisse. Adivinhei as lágrimas e a vergonha da cachopa, enganada e cheia, dentro das paredes da casa térrea.
Nem todas encheram mas foram sete as que em Fevereiro do ano seguinte deram à luz, unidas, umas, pelos santos laços do matrimónio e pela obrigação de continuarem a parir, ficando outras com a vergonha e um único filho.
Quando nas férias grandes voltei à aldeia roía-me a curiosidade e o medo de que a Ivone tivesse acabado às mãos do pai, vítima da honra que soía lavar-se. Passei várias vezes à porta para saber se vivia. Não a via e temi o pior. O Zé Ferreira – disseram-me – abalara para Lisboa.
No dia em que tive a certeza de que a Ivone vivia rejubilei. Era uma criança sensível que não me conformava com a morte embora soubesse que as famílias tinham, nesse tempo, códigos de honra que não permitiam que alguém fizesse pouco das filhas sem vingarem a afronta. Se a desgraçada tinha irmãos cabia a estes sangrar o machacaz, caso contrário a rapariga era posta na rua, levava uma malha ou as duas coisas.
A caminho da Fonte do Vale não vi a Ivone, mas, nos braços do avô, sentado na soleira da porta, uma criança de meses era embalada ternamente. Compreendi então que a vida vale mais do que os preconceitos e que uma criança é capaz de transformar em amor o ódio que explode em momentos de exaltação e de vergonha.

Publicado no «Jornal do Fundão» em 18 Jan 07.
Oferta do autor, Carlos Barroco Esperança, ao «SORUMBÁTICO»

«Vamos brincar aos Choques Tecnológicos?»