31.5.07

Amanhã, sexta-feira,...

...teremos, pelo menos, a habitual crónica quinzenal de Pedro Barroso, a solução do passatempo com prémio «100 anos de Hergé» e a proposta de um outro passatempo com prémio a propósito do Dia Mundial da Criança.

Foi você que falou em Sociedade da Informação?

As duas imagens que em baixo se vêem são da mesma maquineta - está no Edifício do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (o Nº 1 da Avenida de Roma, em Lisboa), e o seu interface (um écrã táctil) dá para a rua.
A imagem da esquerda mostra-a quando estava ao serviço (?) da Imprensa Nacional Casa da Moeda; a da direita mostra-a como está há uns 8 ou 9 meses, ao serviço (?) do Infocid.

Pois bem. A primeira pessoa que, até ao próximo dia 31 de Dezembro, me mostrar esta maquineta a funcionar durante 1 minuto (e desloco-me para ir confirmar, pois moro perto) ganha, de imediato, metade dos livros que ainda não tenham sido entregues nos actuais passatempos (neste momento há 68).

Como brinde neste concurso «Como é gasto o nosso dinheiro», ofereço ainda um molhinho de cartões PMB e NetPost que, além de ainda terem saldo, são óptimos para usar como calços para mesas mesmo que não se consigam usar em lado nenhum (como sucede comigo, porventura por ser azarento).

Talvez tenha funcionado
No dia da inauguração;
Depois, deve ter-se cansado
E, com fastio, pensado:
- Trabalhar?! Isso é que não!

Actualização (2 Jan 09): O prémio, entretanto, passou para €50 (em breve subirá para €100), e é válido para qualquer destes aparelhos, em qualquer ponto do país... desde que funcione devidamente.

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Amanhã, Dia Mundial da Criança...

... haverá aqui um prémio especial, em moldes ainda a definir. No entanto, para adiantar serviço, pede-se aos leitores que sugiram qual dos 5 livros seguidamente indicados deverá ser o prémio.
O prémio deverá ser

As Viagens de Gulliver

12 Aventuras de Sherlock Holmes

Jeremias dá uma Mãozinha

Pato Donald

A Rapariga da Cave

NOTA: O último não é para crianças. É acerca de Natascha Kampusch, a menina que foi raptada e esteve 8 anos fechada numa cave.

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PEDRAS À SOLTA

A diplomacia do Vaticano
Por Carlos Barroco Esperança
HÁ MUITO QUE SE DIZ que Blair é católico, facto que deveria ser do domínio pessoal, não fora a sua decisão de explicitar publicamente a condição de cristão, antes da invasão do Iraque.
O anúncio da eventual visita de Blair ao Vaticano, pela própria Rádio oficial, é motivo de alguma surpresa e perplexidade, bem como a referência à especulação da imprensa britânica sobre a condição católica do ainda primeiro-ministro inglês.
A suspeita da duplicidade do Vaticano na destruição do Iraque começa a ser um pouco mais do que meras coincidências.
O Papa João Paulo II condenou publicamente a invasão enquanto os líderes católicos que, ao contrário do que é hábito e salubre em Estados laicos, explicitavam abertamente a sua fé, apoiaram entusiasticamente o belicismo protestante evangélico de Bush.
Foram os casos de Aznar, com ligações ao Opus Dei, a seita mais reaccionária da Igreja católica, de Durão Barroso, Berlusconni e dos líderes da Polónia, Áustria e Irlanda. Só faltava Blair para serem todos católicos os que apoiaram Bush na trágica e criminosa aventura iraquiana.
É difícil esquecer, de Robert Hutchison, «O Mundo Secreto do Opus Dei» - Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o Radicalismo Islâmico.
Só a atitude dúplice do Vaticano permite conceber que os seus mais devotos partidários tenham sido também os mais entusiastas da invasão iraquiana, sem que a mentira, a iniquidade e o sacrifício do direito internacional os dissuadisse.
E o Vaticano, que condenou a invasão, não censurou os invasores! Recebe-os com pompa e circunstância.

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Parece que hoje se comemora O «Dia Europeu do Vizinho»

Aqui ficam, então, duas pequenas histórias a propósito:

Da colectânea Humor Antigo - Ano de 1926

Das notícias do dia, do «DESTAK» de hoje

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Amanhã, quinta-feira...

Como habitualmente às quintas-feiras, amanhã teremos aqui mais uma crónica de Carlos Barroco Esperança, desta vez intitulada «A diplomacia do Vaticano».

30.5.07

Grande número!

TALVEZ SEJA DA IDADE, mas se há coisa para a qual já não tenho pachorra, em dias de greve-geral, como hoje, é ouvir as discussões em torno dos números de grevistas e não-grevistas.
Como se sabe, sindicatos e governos dizem o que mais gostariam que fosse verdade, chamam-se mutuamente de mentirosos, e o mundo continua a rodar... até à próxima.
No entanto, hoje, fomos surpreendidos com uma novidade: o governo lembrou-se - e muito bem - de usar os dados do consumo de energia como indicador da redução da actividade económica do país motivada pela greve.
«Boa!» - pensei eu - «Ora aí está uma medida inteligente!».
Só que não estava preparado para a revelação que veio a seguir: o consumo de energia... aumentou!
Ou seja: já não temos 20% de grevistas, nem 10%, nem mesmo zero:
Pelos vistos, pelo menos hoje, até houve... um número negativo deles!

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Os 100 anos de Hergé - Passatempo com prémio

Do álbum «As 7 Bolas de Cristal»
Ao contrário do que por vezes se diz, são muitas as incorrecções existentes nos livros de Tintin. A maior parte não tem importância (ou são mesmo artifícios de narrativa, normais em BD), e outros foram sendo corrigidos de umas edições para as outras.
No entanto, a que aqui se vê é uma excepção, pois trata-se de um erro grave, de Física, e que nunca foi corrigido.
Pergunta-se: QUAL É?
O prémio, que será enviado ao primeiro leitor que der a resposta certa (em «Comentário»), serão 3 livros de BD (da Biblioteca RTP - Clássicos em Banda Desenhada), à escolha do vencedor entre os seguintes: «Moby Dick», «O Homem Invisível», «A Revolta na Bounty», «Ivanhoe», «O Último Moicano», «Lobos do Mar» e «Ben Hur» - mas só serão aceites respostas que forem dadas depois de o site meter (em rodapé desta página) indicar 275572.
NOTA: Não ligar ao "castanho" que se vê neste arco-íris, pois trata-se de um problema relacionado com a digitalização da imagem do livro. Neste (em papel), está vermelho.
-oOo-
O vencedor do passatempo é o leitor RUI PALMA, a quem se pede que escreva para sorumbatico@iol.pt, indicando quais os livros que prefere e morada para o respectivo envio.

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RETRATO DA SEMANA

Enfim, só!

Por António Barreto

A SAÍDA DE ANTÓNIO COSTA para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam. Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal. A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas? Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado? Uns saneados, outros afastados. Uns reformaram-se da política, outros foram encostados. Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão. Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro. Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo. Manuel Alegre resiste, mas já não conta. Medeiros Ferreira ensina e escreve. Jaime Gama preside sem poderes. João Cravinho emigrou. Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe. António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão. Almeida Santos justifica tudo. Freitas do Amaral reformou-se. Alberto Martins apagou-se. Mário Soares ocupa-se da globalização. Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores. João Soares espera. Helena Roseta foi à sua vida independente. Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância. O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado. Os sindicalistas quase não existem. O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice. O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista. Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos. Sem hesitar, apanhou a onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito. As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento. Mas nada de essencial está em causa. Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente. As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro. É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais. Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente. Mas tratava-se, politicamente, de questão menor. Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo. Mas nada de semelhante se repetirá.

O estilo de Sócrates consolida-se. Autoritário. Crispado. Despótico. Irritado. Enervado. Detesta ser contrariado. Não admite perguntas que não estavam previstas. Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber. Deseja ter tudo quanto vive sob controlo. Tem os seus sermões preparados todos os dias. Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação. O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado. O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão. A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa. A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação. As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si. Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa. Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado. Nomeia e saneia a bel-prazer. Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos. É possível. Mas não é boa notícia. É sinal da impotência da oposição. De incompetência da sociedade. De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade.»

«Público» de 27 de Maio de 2007 - [PH]

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A visita das quartas-feiras...

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PORQUÊ TANTOS DENTES À VOLTA DE TÃO FRACO OSSO?

Por João Miguel Tavares
PASSEI 15 DIAS FORA DO PAÍS. Antes de ir, a Câmara de Lisboa era um caco inapresentável, com uma dívida estimada em mais de mil milhões de euros. Depois de vir, encontro uma dúzia de candidatos aos pulinhos, cheios de vontade de presidir à coisa. Afinal, o que é que mudou? A dívida da câmara esfumou-se? Os seus 9659 funcionários prescindiram voluntariamente do lugar nos quadros a bem da solvência financeira do município? Nã. Nã me parece. Portugal não mudou assim tanto em dois séculos, quanto mais em duas semanas.
E, não mudando, só há duas formas de encarar esta contradição alfacinha entre a qualidade da oferta e a quantidade da procura. Uma delas, jovial e muito optimista, diz assim: a sociedade portuguesa esbanja saúde, está cada vez mais activa, as ideias políticas fervilham, os pequenos partidos querem fazer ouvir as suas vozes (ainda que algumas, tipo Garcia Pereira, soem a vinil riscado da década de 70) e há cada vez mais candidatos independentes dispostos a romper com as lógicas partidárias. É uma tese muito bonita, cuja divulgação deveria ser feita ao som de violinos celestiais.
Só que depois vem a forma pessimista, cinzenta e soturna de encarar os 12 apóstolos de Lisboa: na sua maioria, rapaziada interessada noutros campeonatos, que aproveita as eleições na capital apenas para se autopromover/agradar ao chefe/ limpar a honra/saltar para um pedestal mais alto (riscar o que não interessa). No meio disto tudo, a câmara é um apêndice - e não, como seria suposto, o centro da questão. Porque se ela, e o seu funcionamento, fosse o que realmente conta, garanto-vos que não haveria tanta alminha de dedo esticado. Imaginemos que Lisboa era uma grande empresa, e já agora falida, como efectivamente está: alguém acredita no aparecimento de uma dúzia de empresários para tomar conta de um negócio que tudo indica ser inviável?
Mas como os políticos portugueses não são responsabilizados pelo que fazem nem punidos por maus actos de gestão, ser presidente da Câmara de Lisboa é suficientemente sexy para justificar a correria. Daí os 12. Daí a confusão. Daí as ideias mais delirantes que já circulam por aí, em busca de uma nesga no telejornal. Querem exemplos? Olhem os dois independentes que supostamente deveriam trazer ideias "frescas". Roseta anda a pregar o conceito de "acupunctura urbana", com o qual pretende salvar a cidade, como se espetar agulhas num cadáver o fizesse ressuscitar. E Carmona escolheu como slogan de campanha "O meu rio é o Tejo. A minha canção é o fado. O meu partido é Lisboa", cuja intepretação freudiana só pode ser esta: eis um lisboeta triste, que mete muita água. Profético, diria eu.
«DN» de 20 de Maio de 2007 - [PH]

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29.5.07

Amanhã, quarta-feira...

Como habitualmente às quartas-feiras, amanhã teremos aqui duas tiras da BD «Van Dog», além da crónica de João Miguel Tavares intitulada «PORQUÊ TANTOS DENTES À VOLTA DE TÃO FRACO OSSO? », publicada no «DN».

Proposta de discussão: «Estará aqui mais uma Lei-da-Treta?»

http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=36564


Propõe-se aos leitores do SORUMBÁTICO que opinem sobre o assunto, mas convém ler, primeiro, as notícias completas, pois incluem informações - aparentemente - contraditórias.

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Como habitualmente...

Periodicamente, lá vem à baila a discussão acerca da abertura (ou não) dos hipermercados ao domingo.
O curioso é que ficamos a saber tudo acerca do que pensam os comerciantes grandes, médios e pequenos (que, por sinal, dizem invariavelmente o mesmo), e na ignorância do que querem uns chatos que dão pelo nome genérico de consumidores. Nem de raspão os interesses destes são referidos - quanto mais tidos em conta...
-oOo-
aborda esse aspecto do problema:
«Mais de 60 por cento dos portugueses está de acordo com a abertura dos hipermercados aos domingos e feriados, revela o Barómetero DN/TSF/Marktest. Entre os que não concordam com esta opção, 36 por cento admitem que os "hipers" podem abrir algumas horas nestes dias».
Curiosamente, tal não impede que, na hora de decidir, isso seja o que menos pesa...

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A propósito do "post" anterior (*)

Quem Anda à Chuva...
UMA TARDE, ESTAVA EU A FAZER-LHE COMPANHIA, quando me apercebi que ele se ligara à Internet e se preparava para usar um programa muito conhecido para se fazer recordar de um compromisso qualquer.
A ideia era vir a receber uma mensagem numa determinada data e hora (enviada por ele para si mesmo!) a tempo de ser avisado para fazer qualquer coisa importante.
Já não me lembro do que se tratava nem isso interessa muito agora. O essencial é que, ao ver a atenção que eu prestava, interrompeu o que estava a fazer e comentou:
- Amigo Jeremias, acho que nunca lhe contei como é que comecei a usar estas modernices, pois não?
Não percebi se se referia ao tal programa de reminder, à Internet, ou à informática propriamente dita. Mas, como a resposta era a mesma nesses três casos, confirmei; e ele, recostando-se para trás na cadeira e saboreando a oportunidade de poder contar uma história saborosa – coisa que lhe dava sempre grande prazer – prosseguiu:
- Desde muito novo que eu sempre fui uma pessoa de fraca memória, tendo que tomar apontamentos de tudo e mais alguma coisa para não me esquecer até das tarefas mais corriqueiras!
- Mesmo na sua actividade militar?!
– estranhei eu.
Acenou que «sim» com a cabeça, riu-se (decerto recordando alguma peripécia mais picaresca), e continuou:
- Pois, um belo dia, fiz um nó no lenço para me lembrar de uma determinada coisa. Só que, em seguida, tive que dar outro nó para me lembrar do primeiro!
- Estou mesmo a ver
– comentei, sorrindo – acabou por encher o lenço com nós!
Confirmou que fizera quatro, um em cada canto, e à medida que a história se ia aproximando do fim mais vezes tinha que interromper devido ao riso que a recordação da cena lhe provocava.
- Pois... nessa altura já estavam a aparecer as agendas electrónicas para nos recordar das coisas... Mas eu não tinha nenhuma, e até nem achava graça a essas modernices. E computadores também ainda não havia muitos.
- Então e depois?
– perguntei, ao ver que ele se interrompia para continuar a teclar como se já tivesse contado tudo.
«Querem ver que o homem é, de facto, tão esquecido que se esqueceu da história que estava a contar acerca dos esquecimentos?!» - pensei eu. Se calhar fora isso que se passara, mas, a meu pedido, acabou por retomar a narração.
- Ah, pois... Como estava dizendo... Saí nesse dia à rua, e, a certa altura, começou a chover a cântaros. Não havia onde me abrigar e tive a ideia de pôr na cabeça o lenço que, como já estava com quatro nós, ficou mesmo bem!
Não contive o riso ao imaginar um garboso militar naquela figura. Mas não comentei, ele também se riu, e continuou:
- Quando a chuva parou tirei o lenço da cabeça e, ao torcê-lo, é que reparei bem nos nós. Comecei, então, a desfazê-los sucessivamente e a reconstituir o que os motivara.
- E conseguiu lembrar-se?
- Claro! É que, logo de manhã, como já estava a contar ir à rua e o céu estava muito nublado, eu tinha dado o primeiro nó para não me esquecer de levar o guarda-chuva!

_________
(*) Capítulo 5 de «Jeremias e o Incrível Coronel Reboredo», disponível em PDF em www.jeremias.com.pt

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Passeio Aleatório

Vale a pena correr à chuva?
Por Nuno Crato
NA ÉPOCA DAS CHUVAS não pensamos muito: andamos protegidos e procuramos manter-nos em locais abrigados. Mas, chegados os aguaceiros ocasionais, hesitamos sempre antes de nos meter à chuva. Corremos? Vale a pena correr? Ou será melhor ir devagar, para não cortar a chuva e para não nos molharmos à frente e dos lados?
Curiosamente, físicos e matemáticos ocuparam-se já deste problema, que é menos trivial do que parece. Para fazer as contas, é necessário assumir alguns pressupostos simplificadores, tais como admitir que a chuva cai na vertical e que o nosso corpo funciona como um sólido rígido. Se tivermos de andar à chuva um tempo x fixo, quanto mais devagar formos, melhor. Parados é mesmo o ideal: apanhamos a mesma chuva no toutiço, mas não nos molhamos dos lados. Só que isso não é muito realista, pois habitualmente queremos ir de A para B e não estar um tempo fixo à chuva. O problema então é saber qual a maneira de menos nos molharmos no percurso. Feitas as contas, verifica-se que a quantidade de água que nos cai em cima é directamente proporcional ao tempo que estamos à chuva, pelo que, para poupar o penteado, o melhor é correr como um atleta. Mas a chuva que cortamos com o corpo depende da velocidade a que nos movemos. Quanto mais depressa formos maior o ritmo a que a chuva nos molha pela frente. Mas também menos tempo estamos a ser molhados...
Feitas as contas, e há quem as tenha feito e publicado, a matemática diz-nos que é indiferente. É muito curioso. Ao fazermos um determinado percurso, cortamos sempre a mesma quantidade de água e ficamos sempre igualmente molhados no corpo. O problema está na cabeça e nos ombros. O melhor é correr.
Adaptado do «Expresso»

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28.5.07

Amanhã, terça-feira...

Como habitualmente, amanhã teremos aqui a crónica das terças-feiras de Nuno Crato (desta vez intitulada «Vale a pena correr à chuva?»), a que se seguirá uma pequena história do Incrível Coronel Reboredo, a propósito dela. Também será posta à discussão [o que parece ser] mais uma Lei-da-Treta.

O SORUMBÁTICO, ontem, na Antena-1

O SORUMBÁTICO foi o tema do programa de ontem, de Pedro Rolo Duarte, na Antena 1.
Pode ser ouvido em http://multimedia.rtp.pt/index.php?prog=2344 , clicando em Audio WMA ou Audio Real, conforme o leitor que se tenha - Windows Media Player ou Real Audio.

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A propósito da crónica anterior...

Humor-negro em 1931

25ª HORA

Fulano & Sicrano
Por Joaquim Letria
FULANO FICOU RADIANTE com o recorde do desemprego de Sócrates. Não porque seja do bota abaixo. Está convencido de que deste meio milhão de desempregados vai brincar com muitos.
Fulano está para os pobrezinhos como os juízes estão para as leis. Os juízes dizem: “Não fomos nós que as fizemos, limitamo-nos a aplicá-las”. Fulano diz: “Não fui eu que os meti no desemprego! Limito-me a brincar com eles!”.
Sicrano é outro que tal. Dá informações aos pedintes como um serviço de assistência social devia ser capaz. Desbobina moradas onde podem dormir, receber comida quente ou um cabaz de compras, tomar banho e lavar a roupa.
“Não lhes dou peixe. Ensino-os a pescar”, gaba-se Sicrano sempre que desfia o rosário do bom coração.
Fulano é mais truculento. Se lhe pedem umas moedas para comprarem um pão, ele diz logo:
“Não dou, pá! Não vais comer pão a esta hora!! Depois, não jantas!!!”
E ri-se como um alarve, este grandíssimo Schindler à portuguesa.
«24 horas» de 23 Mai 07

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Passatempo com prémio - Atenção ao nº 274.000


Bem a propósito das questões que o Professor Carlos Fiolhais levanta no 4º parágrafo da crónica anterior («Como se trata de educação (...), agora que se volta a falar de regionalização...»), aqui fica um prémio a oferecer ao primeiro leitor que fizer o seguinte:
Recorrendo ao Copy/Paste, afixar aqui, em Comentário, esse parágrafo completo - mas SÓ DEPOIS DE O CONTADOR de visitas, que se vê em rodapé deste blogue, ter indicado o número 274.000.
NOTA: Para receber o livro autografado pelo autor (Alfredo Barroso), será preciso que o vencedor envie nome e morada para sorumbatico@iol.pt antes das 12h30m de amanhã.
-oOo-
O prémio foi ganho por "Sailor Girl".
O livro, com dedicatória de Alfredo Barroso, já foi enviado pelo correio.

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O RESPEITINHO É MUITO BONITO

Por Carlos Fiolhais
HOUVE QUEM FICASSE ADMIRADO com a votação que Salazar obteve num recente programa televisivo. Foi uma maioria silenciosa, uma maioria que não se sabia bem onde estava. A Senhora Dona Margarida Moreira acaba de tornar público o seu voto. E ela está, ai de nós, à frente da Direcção Regional da Educação do Norte.
Era uma portuguesa anónima, justa e merecidamente anónima. Mas hoje sabemos que existe porque levantou um processo disciplinar a um professor destacado naquela Direcção que teria dito em privado uma frase jocosa relativa à licenciatura do primeiro ministro. A Directora, ou melhor a Excelentíssima Senhora Directora (não vá ela levantar outro processo), parece saída de um Portugal que julgávamos passado: o país das paredes com ouvidos, do respeitinho é muito bonito e daquilo que Alexandre O’Neill chamou o “modo funcionário de viver”.
Julgava que a liberdade de expressão era um direito adquirido, mas agora já não estou tão certo disso. A tradição dos caciques locais agradarem aos chefes ainda é o que é. Não tenho quaisquer dúvidas que o governo eleito da nação respeita os valores básicos da democracia, a começar com certeza pelo primeiro ministro. Mas já não estou tão certo que todos os nomeados pelo governo tenham a mesma atitude. Nomeadamente, a avaliar pela amostra, os directores regionais. Mesmo dando de barato que não tenha sido uma graçola mas um insulto (e quem é que vai dizer onde acaba uma e começa outro?), não lembraria a ninguém que se use a máquina do Estado para desagravar o putativo insultado. É que não foi em público, mas entre as quatro paredes de um gabinete.
Como se trata de educação, atrevo-me a pensar que este caso pode ser pedagógico: agora que se volta a falar de regionalização, e da possibilidade de um novo referendo, eu acho que não convém regionalizar à pressa quando o que está regionalizado já funciona dessa maneira tão funcionária. Não tenho nada contra as competências regionais, mas tremo só de pensar na proliferação de incompetências que uma regionalização mal feita pode causar. Se, quando ainda não há regiões, tem sido um fartar vilanagem, pergunto-me como será quando as houver. As clientelas partidárias, que se têm alimentado de lugares do Estado, estão sedentas de mais... Atrevo-me até a ser mais radical: se, de hoje para amanhã, se extinguissem as Direcções Regionais, da Educação e do resto (por mim, podem também acabar com os Governos Civis, um resquício do tempo em que não havia comunicações rápidas), o país ficaria seguramente melhor. Além de que seria bastante mais barato.
O facto de ser uma Directora Regional do Ministério da Educação a mostrar serviço de uma maneira tão zelosa indica também, em particular, a necessidade de aliviar a máquina burocrática daquele Ministério. Uma parte dela serve para fazer escutas internas? Registar denúncias? E levantar processos (“procedimentos”, conforme eufemisticamente lhe chamou um Secretário de Estado, a sacudir a água do capote)? Não têm mesmo mais nada que fazer? A educação nacional, com o funcionamento que está à vista, continua doente. Está refém não só de alguns pedagogos, mas também de alguns funcionários. Não basta fechar escolas, é preciso também fechar repartições.
Muitas piadas têm corrido à custa da Universidade Independente e, se o Ministério da Educação as quer proibir, vai ter muito com que se entreter. E, sobretudo, não será um acto inteligente. A falta de sentido de humor é, em geral, uma manifestação de burrice. Eu, como muita gente, sentia-me feliz por a televisão pública transmitir programas humorísticos que faziam referência à licenciatura do primeiro ministro. Mas a Excelentíssima Senhora Directora deu-me sérios motivos para inquietação ao vir lembrar que o respeitinho é muito bonito. Eu tenho muito respeito pelo respeito, mas nenhum pelo respeitinho. Receio agora que os “Gatos Fedorentos” levem com outro processo em cima (já têm um do Pinto da Costa). A sorte deles é não estarem dependentes de nenhuma Direcção Regional da Televisão do Norte.
«PÚBLICO» de 25 Maio de 2007 - [PH]
O blogue do autor, DE RERUM NATURA, onde esta crónica também está, merece bem uma visita!

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27.5.07

Amanhã, segunda-feira...

Como habitualmente sucede às segundas-feiras, amanhã (logo pela manhã) será aqui anunciado mais um passatempo com prémio.

Entre o pântano e o deserto...

Todos nos recordamos da revolta de Guterres contra o pântano. Qual é o espanto, pois, que apareçam correlegionários seus a DRENá-lo com eficiência?!

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Uma anedota e uma curiosidade

Esta anedota, retirada do «ALMANACH BERTRAND» de 1931, surge aqui por vir a propósito da crónica anterior. Mas tem um outro motivo de interesse: trata-se da suástica que aparece em baixo, um ícone usado profusamente nesses almanaques (como separador) durante mais de 10 anos consecutivos - pelo menos até 1941.

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25ª HORA

Remédios assassinos
Por Joaquim Letria
TENHO UM AMIGO QUE SOFRE DOS OSSOS e padece grandes dores articulares. Por isso, nomeei-o meu assessor para os anti inflamatórios, medicamentos em que a dor o especializou. Quando o meu esqueleto emperra, pergunto-lhe o que devo tomar.
O meu amigo está desorientado. Há anos, foi o Viox. Disseram que dava ataques cardíacos que eram uma beleza e houve gente que terá marchado nesses badagaios, embora para as dores das articulações aquilo fosse melhor do que valvulina ou massa consistente.
Os laboratórios iam estoirando, as acções caíram nas bolsas das grandes praças, doentes e familiares abicharam milhões com processos em todo o mundo.
Agora, parece a vingança do Viox. Uma dica de que a concorrente nimesulide desfaz o fígado e mata que se farta, e lá vão biliões de euros à vida. Para alguém, um novo ciclo de negócio está em marcha.
Para suportar as dores, o meu amigo tem de escolher: ou morre do coração, ou morre do fígado. Vou regressar às papas de linhaça, às ventosas e ao azeite quente e descobrir um médico do Leste, ilegal, que não me venda a um laboratório. Os remédios matam que se fartam!
«24 Horas»

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Nova série «Humor Antigo» - 1931

Terminada a série «Humor Antigo» correspondente ao ano de 1925,
começou hoje a ser publicada a de 1931 - Ver [aqui]

A ESTRANHA MALDIÇÃO

Por Nuno Brederode Santos
VERGADO A UMA ESTRANHA MALDIÇÃO, Marques Mendes lançou uma candidatura que recria, ponto por ponto, aquela que levou à actual situação de Lisboa. "Ingovernável", definiu-a ele.
Revelando ter aprendido a lição do candidato Carmona Rodrigues - um independente sem qualquer peso no partido e, por isso, dele dependente a cem por cento - MM virou-se para os militantes. Paula Teixeira da Cruz, presidente da distrital de Lisboa e da assembleia municipal, teve de explicar publicamente por que razão não era candidata e, ao fazê-lo, colocou o PSD na difícil posição de impedir que as próximas intercalares abrangessem esse órgão. Manuela Ferreira Leite usou do seu especial estatuto partidário para não ter de se explicar. E Fernando Seara, presidente da Câmara de Sintra, escusou-se por razões pessoais. Na falta de um militante de nome sonoro para travar o seu combate, MM acabou por convidar Fernando Negrão, um independente sem qualquer peso no partido e, por isso, dele dependente a cem por cento. Não saliento aqui a "quarta escolha", que é um critério demasiado linear para ser usado sem análise fina das circunstâncias. Saliento apenas que, para quem procura fugir com o rabo partidário à seringa das responsabilidades políticas e usa uma linha de argumentação muito baseada na "independência" de Carmona Rodrigues, não vai ser fácil convencer o eleitorado da bondade da escolha de outro independente. Mesmo que MM saiba que, em regra, só um cabeça de lista independente é que, depois de eleito, se presta a ir à sede do PSD para receber orientações para a câmara a que preside.
O princípio do fim de Carmona foi a ruptura da aliança com o CDS, publicamente ilustrado por uma tensa guerra verbal entre Paula Teixeira da Cruz e Maria José Nogueira Pinto. Essa guerra, fomentada pela primeira e pelo aparelho da distrital, mais se impôs a MM do que foi por ele desejada. Contudo, aparentando não se aperceber do peso de mais essa responsabilidade, ele deixou transparecer a ideia de que a decisão fora sua. Com isso pretendeu esconder a sua incapacidade para se impor à distrital, preservar a sua autoridade e adiar esse duelo para melhor ocasião.
Mas a ocasião era agora, na formação da lista com que Negrão se apresenta. Por isso mesmo (e conforme revela a imprensa), muitas terão sido as vozes do partido que defenderam uma renovação integral da lista. Não que fosse politicamente necessário substituir Marina Ferreira ou Amaral Lopes, mas para mais discretamente diluir as necessárias saídas dos "controleiros" da distrital: Sérgio Lipari e António Proa. Não tendo o candidato força política para se impor na constituição da equipa, MM tinha de travar pessoalmente essa batalha. A fazer fé nos jornais de sábado, 26, o eleitor entra em melancólica letargia: ou MM capitulou sem luta ou travou-a e perdeu. Porque os nomes que podiam não sair são os que saem e os nomes de que importava libertar o candidato são os que ficam.
O que resta a Negrão para tornar convincentes os ataques, de dia para dia mais duros, que vem dirigindo a Carmona? Quem acreditará na viabilidade do combate à corrupção que um independente, politicamente anémico, quer travar, quando o vir rodeado da gente que, no mínimo, o não travou durante a presidência do anterior independente politicamente anémico? Quem poderá repousar na convicção de que, desta vez, seriam os interesses da cidade a nortear a acção da autarquia, se a única mudança visível é a troca de um compagnon de route por outro? Quem assegura que, daqui a dois anos, não teremos um Negrão escorraçado e culpabilizado por outro independente, sem peso algum no aparelho do partido e, por isso, dele dependente a cem por cento?
Não sei se, num Congresso em Outubro, MM poderá manter-se. Sei que, com esta candidatura autárquica, ele ilustrou da pior maneira a falta de autoridade que o tolhe. E sei que, com um mau resultado nas urnas, ele demonstrará o paradoxo que há muito revelou: é ser ele próprio o ventre mole do núcleo duro da sua liderança.
«DN» - 27 de Maio de 2007

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26.5.07

Amanhã, domingo,...

...a seguir ao noticiário das 11h, o SORUMBÁTICO será o tema do programa que Pedro Rolo Duarte tem, na Antena 1, sobre blogues (*).
Além disso, e como habitualmente, teremos aqui a crónica de Nuno Brederode Santos, publicada no «DN». Mais tarde, será a vez de uma outra, de Joaquim Letria, intitulada «Remédios assassinos», publicada no «24 Horas».
(*) Depois, poderá ser escutado em http://multimedia.rtp.pt/index.php?prog=2344

Piratas das Caraíbas - 3



O trailer
Não é novidade para ninguém que estes filmes têm tudo o que faz as delícias dos apreciadores de histórias de piratas: cofres, olhos-de-vidro, papagaios, ilhas perdidas, abordagens, bandeiras com caveiras, enforcamentos, duelos, barris de pólvora a explodir, mapas misteriosos, mortos-vivos...
Nos desta série, concretamente, quase estamos à espera de ver quando é que aparece em cena o Sandokan ou o Capitão Kid - para já não falar do nosso Fernão Mendes Pinto que não destoaria, aos pinotes num junco, ali para os lados de Singapura!
Há várias cenas inesquecíveis, nomeadamente o congresso dos piratas (onde se reúnem todos os tipos do nosso imaginário) e o combate naval travado num gigantesco redemoinho (maelstrom).
Um único "senão": este filme, sendo o terceiro de uma série, tem um grande problema (para além do cheiro e do barulho das pipocas e das conversas dos putos que, na assistência, não se calam): a história torna-se quase incompreensível para quem não viu os dois filmes anteriores.

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CML – Falsos independentes

Por Carlos Barroco Esperança

DISSE UM DIA RAUL REGO, referindo-se a Mário Soares, de quem era indefectível amigo e correligionário, que quem está sempre de acordo não é amigo, é um satélite.
Mas estar sempre em desacordo não revela independência de espírito, talvez manifeste imaturidade ou culto da personalidade. Pode acontecer por vaidade, despeito e falta de convicções. Ou oportunismo.
Em política é preferível descobrir quem está mais próximo do que quem mais se afasta. A animosidade dos dissidentes traduz, quase sempre, a revolta de quem não conseguiu dentro do partido a vitória das suas posições ou ambições.
Há uma plêiade de independentes profissionais, com lugar cativo na comunicação social, prontos a apontar a mediocridade dos políticos e a acorrer pressurosos a integrar comissões de honra e empresas de consultores.
Alguns resguardam-se nos conselhos de administração das Empresas Públicas e fazem ciclos de nojo, até às eleições seguintes, enquanto os que se comprometem sofrem as vicissitudes eleitorais, os riscos das decisões políticas e a devassa da vida privada.
Quem vive a política não pode ser independente. Pode não sentir motivação para militar num partido, mas sentirá o apelo das ideias, do programa e práticas do partido de que se sentir mais próximo.
Sair de um partido e vestir o fato de independente, sem período de nojo, é uma forma de enganar eleitores e atrair cúmplices aflitos para exibirem a suposta superioridade moral.
Se um político destacado abandona o partido para abraçar um projecto independente é de um projecto pessoal que cuida. Nessas circunstâncias lembro-me sempre da jovem que entrou num autocarro cheio e desabafou:
- Já ninguém dá o lugar a uma senhora grávida!
Um cavalheiro, que logo lhe ofereceu o seu, ainda ripostou:
- Não se nota!
- É só há meia hora.

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Como habitualmente, aos sábados...


Aqui fica o habitual post-aberto dos fins-de-semana, para quem o quiser utilizar.


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25.5.07

Amanhã, sábado...

Como habitualmente aos sábados, amanhã teremos aqui o post-aberto de fim-de-semana para quem o quiser utilizar.

Jornalismo cuidadoso

Se, em relação à notícia de cima, apenas há a notar a falta de cuidado com que foi redigida (estas gralhas, muito comuns nas edições online, mantêm-se indefinidamente - vá lá saber-se porquê...), na de baixo há outros motivos de interesse. Lê-se no blogue Grande Loja do Queijo Limiano:
«... gostaria de chamar a vossa atenção para esta notícia da edição online do jornal Sol, onde se relatam os resultados de uma sondagem realizada a uma amostra representativa dos eleitores residentes em Portugal Continental, e onde o PS surge com 46,8% das intenções de voto válidas. O título da notícia resume "Sondagens dão maioria ao PS na Câmara de Lisboa". Errar é humano. Mas se há ministros que não deviam fazer discursos depois do almoço, há jornalistas que não deviam escrever notícias antes do pequeno-almoço».
No entanto, a crer no que se lê nesta notícia do «Sol-online», tudo indica tratar-se de um barómetro ligado aos TSD (Trabalhadores Sociais Democratas) - e, portanto, insuspeito de pretender favorecer o PS...

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Um pouco mais de rigor não faria mal nenhum...

Já se sabe que a pressa (aliada à necessidade de resumir, numa dúzia de palavras, uma determinada declaração) pode dar resultados destes: ao contrário do que se lê na legenda (e tem sido propalado), Mário Lino não disse que a Margem Sul era um deserto. Como se pode confirmar, ele apenas chamou deserto(s) às zonas específicas para as quais têm sido propostas alternativas para a localização do Novo Aeroporto de Lisboa - o que é um pouco diferente.

Por outro lado, e talvez para compensar, este resumo omite a parte em que Mário Lino, gesticulando, desata a falar nos milhões de pessoas que seria preciso deslocar! Milhões!, e aquela outra em que "colocou" no Alto Alentejo essas zonas do país que - seja qual for o Manual de Geografia que ele use - não são de lá.

Como brinde, pode-se ainda saborear o inesquecível jamais! jamais! [já-mé!, já-mé!], bem integrado no estilo exuberante de toda a intervenção - que o realizador ilustrou, intercalando elucidativas imagens das mesas do fim do almoço...

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A QUADRATURA DO CIRCO

Adivinha
Por Pedro Barroso
LEVANTADA A POLÉMICA sobre o ex futuro talvez quase engenheiro, e da crise de valores que tudo isto determina, gostaria de levantar hoje de novo o esplendor de Portugal. Por entre a bruma da memória.
Eu disse isto assim? Peço perdão. Más influências; ando a ver demasiados cartazes do Partido Nacionalista, está visto…
O que quereria dizer seria, talvez, que me proponho abordar, uma vez mais, um tema quente que parece perturbar esta nação à beira-mar plantada.
E espero que, ao levantar esta opinião – que sei e desejo contraditória – isso desperte egrégios avós e heróis do mar às armas da pena do raciocínio, que é o sítio onde devíamos ter o entendimento. Em vez do sítio da carteira, onde as ideias ficam perturbadas pelo volume – ou não – doutros mais prosaicos sentimentos.
E quanto a brumas, nada de enganos – há que erradicar, de todo, brumas deste aporte. Sobretudo porque vou falar de Aeroportos. Isto é, vou andar sobre a terra e sobre o mar.
Serei, de resto, desta vez, muito racional. O que me chateia enormemente. Não era a minha vontade nem é a minha vocação.
Não há nada de poético nem de subjectivo nesta análise. Por isso passarei a apresentá-la, talvez, sob a forma de adivinha.
Uma espécie de adivinha de razões pois a solução é dada à cabeça.

Então aqui vai.
Saberão os portugueses que já existe um Aeroporto que:

1-É o mais central do país?
2-Que melhor potenciaria o desenvolvimento e acessibilidade directa tanto para o litoral centro, como para o interior?
3-A uma hora de Lisboa (120 km) Évora (130 km) e Coimbra (125 km); mas ainda mais perto de Santarém (50 km), Castelo Branco (97 km), Portalegre (92 km) Leiria (60 km) e a 45 km de Fátima, o pólo turístico mais visitado de Portugal quer se goste, quer não…?
4-Que é quase geometricamente central em relação ao espaço do continente?
5-Que não obrigaria a gastos de aquisições e loteamentos, pois já é propriedade do Estado?
6-Que já sendo actualmente aeroporto, possui direitos, estudos, estatísticas meteorológicas, cartas de voo já instituídos; bem como pistas, safeways, torres de controlo, terraplanagens feitas, etc.?
7-Que tem terrenos mais do que suficientes no seu complexo militar para um enorme aeroporto civil?
8-Que tem óptima visibilidade e poucos dias de nevoeiro por ano e não está em zona de ventos fortes nem perigosos?
9-Que ficaria “10000” vezes mais barato que a nova Ota?
10-Que faria a junção múltipla com A1, terminais ferroviários e futuro TGV – devido a proximidade do Entroncamento (18 km!...), onde se prevê a grande conexão interface central do país?

Note-se ainda, já agora, que:
Este aeroporto está implantado no Vale do Tejo, num conjunto de grandes belezas naturais e patrimoniais de referência nacional (Castelos do Almourol, Belver, Porto de Mós, Leiria, Alcanede, Torres Novas, Abrantes, Penela…; pertíssimo de Tomar, capital templária, com o seu Castelo e o Convento de Cristo; relativamente perto da Batalha e de seu Mosteiro; Alcobaça idem; toda a velha Santarém e sua monumentalidade. Enfim, possui uma situação que poderia constituir-se como uma entourage de charme e de beleza aos visitantes, em itinerários novos e de grande potencialidade turística, além de propulsionarem o desenvolvimento do tal interior ostracizado...?
Além das muito próximas Fátima – capital religiosa do país e seus milhares de peregrinos – e Golegã, capital nacional do cavalo, que atrai turistas aficionados de todo o mundo - outras proximidades mais relativas não são despiciendas, como da Extremadura espanhola (passaria a ser o seu mais próximo aeroporto, até ver), da Serra da Estrela, etc.
Esse aeroporto existe. Em Tancos.
Agora… se puder tente adivinhar porque não se usa essa hipótese?!

Resposta: é que aí não seria necessário comprar terrenos! Nem atribuir loteamentos! Nem pagar indemnizações, etc.!!!!!
Ora bem!... Já todos sabem os grandes argumentos da Ota. A persistência autista do Governo, contra quase toda a gente, em insistir nessa opção. Falam-nos das grandes decisões nacionais, das grandes opções institucionais em proveito da Nação, dos estudos já realizados, da proximidade da capital, etc.
Mas, reflectindo sobre tudo isto, apetece perguntar:
O novo Aeroporto não será mais que um negócio de especulação gigantesco? Um lucro de triliões?

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Em matéria de humor "non-sense", esta não fica atrás das do Gato Fedorento...

HISTÓRIAS PARA LER E DEITAR FORA

Praia com pôr-do-sol e corpo ao fundo
Por Joaquim Letria
O SOL ERA UMA BOLA VERMELHA e o céu, junto ao mar, estava também incandescente. Sabia que, quando escurecia assim, o dia seguinte era de muito calor, bom para a praia. Depois, achava também que era muito bonito, aquele pôr-do-sol, a tarde a acabar quase sem vento, o mar a desfazer-se em murmúrios na areia, manso e transparente. Os pescadores puxavam os últimos barcos, metendo chulipas debaixo dos costados e empurrando, enquanto outros homens e algumas mulheres remendavam as redes, segurando as malhas com os dedos grossos dos pés.
Foram os miúdos quem deu o alarme.
Correram, em bandos, do outro extremo da praia, junto às rochas, seminus, escuros e a gritar:
- Está ali um homem morto!
As poucas famílias que observavam o pôr-do-sol correram também, com os pescadores, para onde os miúdos regressavam sem nunca terem deixado de correr, igualmente. Lembra-se que o avô, que sempre ajudara os pescadores a puxarem os barcos, dentro duns grandes calções de caqui coloniais, foi ver se era verdade o que os miúdos diziam ter descoberto. Esquecido, ele também foi, sem que ninguém procurasse impedi-lo. Só quando espreitava, por entre as pernas dos homens e das mulheres, o vulto na areia, deram por ele e o avô lhe disse com secura, como nunca lhe falara:
- Vai para casa. Vá já para casa!
Conseguiu, no entanto, ver que era um homem, ainda novo, vestido, sem um bocado da cara, com a barriga cheia de água, inchado e com a roupa rebentada, olhando de olhos abertos a roda que se formara, olhando-o também a ele, enquanto todos lançavam hipóteses ditas com grande certeza, mas todos falando só por falar, tentando decifrar que azares atiraram com aquele corpo, morto, para ali, num pôr de Sol vermelho, que por norma antecede sempre mais um lindo, brilhante e quente dia de praia.
Choramingou, ao regressar a casa, mas não deu explicações. Não entendeu porque ninguém se preocupara com os outros miúdos da praia, que lá haviam ficado a olhar o homem morto e, a ele, o haviam mandado embora. Na cozinha, a avó rezingou:
- O teu avô ainda não acha que são horas de jantarmos?
- Ele mandou-me embora, – choramingou.
-Vai chamá-Io. O jantar vai já para a mesa.
- Ele não vem!...
- Vai chamá-Io, anda, tás parvo, ou quê?
- Ele não vem. Está a ver o homem morto.
O jantar já não foi para a mesa. A avó e as outras mulheres puseram todas casacos de lã pelos ombros e partiram, apressadas, para o círculo que havia engrossado, de pessoas na areia, todas a olharem para o homem morto. No grupo estava, nessa altura, também o cabo-do-mar. Acompanhou as mulheres e ficou, de longe, sem se atrever, junto a um barco, a ver o que todos faziam. Dali, o homem morto podia ser só um monte de roupas ou de algas, como os que se formavam na altura das marés vivas.
Jantaram todos muito tarde, naquela noite. E, à mesa, a conversa foi sempre sobre o aparecimento do homem morto. A tia queria saber se o homem era, ou não, um pescador. Se tinha caído de um barco, o que é que o cabo-do-mar dissera, se alguém o tinha morto e depois o atirara a água, e onde é que o corpo ia ficar. O avô, de poucas falas, ia esclarecendo o que sabia explicar. Acreditava que o homem estivesse na água há diversos dias, não era daquela aldeia, ninguém o conhecia, mas não devia ter caído de um barco, porque se assim fosse tinha-se ouvido falar. Ele atreveu-se a fazer uma única pergunta:
- Avô, porque é que o homem não tinha um bocado da cara?
E a resposta, seca, dera-Ihe arrepios de febre e fizera-o perder a pena que tinha dos peixes, sempre que os via, ainda vivos, a saltarem nas redes que puxavam para a praia
- Foram os peixes -que o comeram – dissera o avô.
Quando se deitou, não conseguiu adormecer. O vulto, de costas, vestido, a olhar para cima, sem um bocado da cara, não lhe saía da cabeça e pensava que nunca tinha visto antes um morto e que nem todos deviam ser assim. Pelo menos, nos filmes, os mortos não faziam impressão e, quando alguém morria, a avó explicava-lhe:
- Morreu, foi para o céu.
Dizia sempre isto com o ar de quem invejava quem tinha partido para a vida melhor, mas este, se foi desta para melhor, tinha sofrido muito e ele quase chorou, com pena do morto, que mal observara, rodeado de pés e de pernas por todos os lados.
Foi nessa altura que ouviu um grande alarido em casa, gritos de medo e choros, das mulheres e, depois, grandes gargalhadas do avô e as mulheres também a rirem, nervosas. Levantou-se, com muito medo mas com mais curiosidade, o que era natural porque aquela era a primeira noite do seu primeiro morto.
A tia e uma amiga choravam e riam, ao mesmo tempo, os corpos nus e morenos soltos, dentro das camisas brancas até aos pés. O avô ria-se, agarrado a uma vassoura e a dobrar uma toalha branca. A avó recriminava-o:
- Nunca mais tens juízo, homem...
E ele soube, então que o avô decidira brincar com a filha e a amiga da filha, metendo-lhes um susto com a toalha branca a agitar-se na janela do quarto, embrulhada na vassoura. E que as duas raparigas, que dormiam juntas na mesma cama de ferro, com colchão de palha, se haviam levantado com o susto, pois estavam naquela altura ainda a conversar sobre o morto quando sentiram, primeiro, e viram, depois, a vassoura vestida de branco abater na janela do quarto de ambas.
- Elas julgavam que era o fantasma – ria-se para ele o avô.
- O que é um fantasma? - perguntou, e como resposta mandaram-no deitar.
- Não são horas de um menino da tua idade estar acordado – sentenciaram.
E ele foi-se deitar, mas não dormiu, como certamente as duas raparigas também não dormiram, com os dois corpos morenos agarrados um ao outro, e só de manhã, depois de o Sol ter nascido na praia, os olhos se Ihes fecharam.
Durante muitos anos, ao entardecer, não foi capaz de ir junto das rochas atrás das quais o Sol se punha, e onde havia visto o seu primeiro morto, sem um bocado da cara que os peixes haviam comido.
Lisboa, 1987

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24.5.07

Amanhã, sexta-feira...

Como habitualmente em sextas-feiras alternadas, amanhã teremos aqui mais uma história de Joaquim Letria. Será «Praia com pôr-do-sol e corpo ao fundo», do seu livro «Histórias para ler e deitar fora».

Façam-no lá onde quiserem, mas - se não for pedir muito... - poupem-nos...!

Nostalgia... com "mini-prémio"

Qual o nome da sala de cinema que se vê na imagem do lado direito?
A quem der a resposta certa (em e-mail para sorumbatico@iol.pt), será enviado o conjunto «15 Fotos Antigas de Cinemas de Lisboa» (1,65 Mega).
(Env. por J. Oliveira)

Uma iniciativa interessante

Em «Comentário» ao post anterior, pode ler-se:
Este blog [SORUMBÁTICO] foi nomeado para o prémio "Blog com Tomates". Para mais informações visite http://blogcomtomates.blogspot.com

PEDRAS SOLTAS

O Islão e a Democracia
Por Carlos Barroco Esperança
NAS SOCIEDADES EM QUE A RELIGIÃO É OBRIGATÓRIA o condicionamento da opinião pública começa na infância pela manipulação e fanatização das crianças que conduz ao martírio e ao crime.
O Islão de hoje não é diferente do catolicismo medieval; mas este, graças à descoberta da cultura helénica e do direito romano, encontrou forças para usar a razão e contestar a fé, para fazer a Reforma e retirar ao Papa o poder temporal.
O direito divino, como origem do poder, foi substituído pela legitimidade democrática e a secularização tornou as sociedades abertas, tolerantes e plurais. A fé foi remetida para a esfera privada e as convulsões surgem quando os crentes pretendem fazer proselitismo através do aparelho de Estado.
Hoje é o protestantismo evangélico que lidera o fundamentalismo cristão nos EUA, em clara violação da Constituição e da vontade dos seus fundadores. A Igreja Ortodoxa tem dificuldade em aceitar a separação do Estado e tem uma exegese de pendor francamente reaccionário.
Mas é no Islão que os constrangimentos sociais e a violência clerical empurram os crentes para a irracionalidade da fé e a aceitação acrítica do Corão. Como há muito desistiram de questionar o que o clero diz que o Profeta disse e quer, há um permanente conflito com a modernidade e uma violência incompatível com a civilização.
A laicidade que libertou o Ocidente da tutela clerical é impensável onde o clero tem o poder absoluto no campo económico, político, militar, assistencial e ideológico.
Tal como durante a inquisição era impossível contestar a autoridade do Papa e o seu poder, também nas teocracias islâmicas é impossível discutir a misoginia, o adultério, a poligamia, o repúdio, a guerra santa, a homofobia e o pluralismo.
As religiões são, por natureza, totalitárias e avessas à modernidade. Ao atribuírem aos livros sagrados a vontade literal de Deus, ditada a um eleito como versão definitiva, impedem a discussão e ameaçam a vida do réprobo enquanto a separação entre a Igreja e o Estado não se afirmar.
É esse passo que parece estar cada vez mais distante nas teocracias islâmicas e que propicia o confronto entre a fé e a modernidade.
Contrariamente ao que têm afirmado os bispos católicos, os árabes não temem a liberdade religiosa que, segundo sondagens, é o que mais apreciam no Ocidente. São os clérigos que se assustam com a possibilidade de verem os crentes a renunciar à fé.
A liberdade, a democracia e, sobretudo, a perda da hegemonia sobre a mulher, assusta-os. É por isso que não renunciam à sharia nem dispensam uma boa decapitação de um apóstata, uma alegre lapidação à mulher adúltera ou uma divertida amputação a um ladrão.
Está em curso a luta desesperada contra a modernidade por uma civilização falhada.
Setembro de 2006

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23.5.07

Amanhã, quinta-feira...

Como habitualmente às quintas-feiras, amanhã teremos aqui mais uma crónica de Carlos Barroco Esperança. Será «O Islão e a Democracia», seleccionada do seu livro «Pedras Soltas».

Quem quer discutir este assunto?


Algumas dicas para discussão:
* Quem não ouviu já frases como «Se o chefe me chateia muito, dou parte de doente»?
* Então e os médicos que dão essas baixas fraudulentas... Como é?! Não acontece nada?
* E os que passam atestados-médicos a pedido (há casos de alguns que nem chegam a ver os doentes), declarando, por escrito e por sua honra, que Fulano está incapacitado para trabalhar (quando o têm ali na sua frente, são como um pêro)... Como é?! Não acontece nada?
* O que diz a Ordem dos Médicos a situações como a dos atestados falsos dos alunos de Guimarães - que foram centenas? A ideia generalizada de que a Ordem pactua com isso é injusta?
* Mas, inversamente, o que pode fazer um médico - por mais honesto que seja - quando lhe aparece um falso doente a queixar-se de náuseas, de nervoso-miudinho ou de «uma dor não sei onde, mas que só eu sei...»?
* Os falsos doentes que são apanhados em fraude descarada (e comprovada por junta médica) não deveriam devolver o dinheiro que - alguns durante anos! - receberam indevidamente dos outros contribuintes?
* Se as únicas penalizações forem fechar a torneira e ter de regressar ao trabalho, onde é que está o desincentivo à repetição da fraude?
* Porque é que, quando há acções contra as falsas baixas, os sindicatos aparecem sempre com um paleio desculpabilizante, dando a entender que estão mais do lado de quem comete a fraude do que de quem é vítima dela? Ou não é isso que sucede?
* Na província, as fábricas queixam-se das baixas sazonais, nas alturas das colheitas, das vindimas, da apanha da azeitona... Como encarar (condenar) essas baixas fraudulentas, sabendo-se que são um recurso de quem ganha pouco - para poder ir trabalhar para outro lado, arredondando o dinheiro que é escasso?

Direitos atropelados


Por Manuel João Ramos
O MAIS IMPRESSIONANTE num atropelamento rodoviário é o modo como o peão é projectado pelo ar em pirueta para depois se estatelar no asfalto como uma marioneta desarticulada, com os ossos fracturados e o corpo ensanguentado.
Há três semanas, uma velha amiga foi atropelada em Benfica, por um ligeiro que atravessava uma zona residencial a 100 km/h (a velocidade é presumida pelo rasto de travagem de 30 metros). Está neste momento internada num inferno hospitalar lisboeta com uma fractura craniana, o corpo contundido e a necessitar de reconstituições plásticas.
Foi atropelada porque, para atingir a passadeira onde deveria atravessar, foi forçada a caminhar pela rua, já que o passeio estava totalmente ocupado por automóveis. O condutor não reconheceu qualquer responsabilidade no atropelamento. Considerou legítimo, como aliás 80% dos condutores portugueses, conduzir em velocidade excessiva numa zona urbana, e, pelo que declarou, mostrou não ter consciência da regra do Código da Estrada que estabelece que um veículo se encontra em excesso de velocidade quando não consegue evitar colidir com um obstáculo.
A sua eventual responsabilidade criminal será apurada judicialmente. Mas a culpa da autarquia e das entidades policiais que não promovem uma necessária e urgente acalmia do tráfego, e a dos proprietários dos automóveis estacionados no passeio que provocaram indirectamente o desastre, não será apurada. Porque, quando um magistrado julga um crime rodoviário, nada na lei induz à consideração das suas causas indirectas e à responsabilização das entidades públicas.
A actual legislação vê os peões como incómodos obstáculos à livre circulação automóvel, legitimando, por omissão, o atropelamento generalizado dos direitos pedonais no meio rodoviário. Duas associações cívicas, a ACA-M e a APSI, elaboraram uma Carta dos Direitos do Peão que se rege, completando-a, por uma resolução da ONU. Lançaram um repto a várias câmaras municipais para que a subscrevessem e lançassem programas de protecção dos peões. Propuseram também ao Ministro da Administração Interna que este considerasse a incorporação, num Código da Estrada renovado, dos princípios expostos nessa Carta, de modo a alterar práticas de condução eticamente condenáveis e humanamente intoleráveis.
Poder-se-ia contra-argumentar justificando o presente estado de caça ao peão com a mentalidade do condutor português, com o seu fascínio pelo automóvel e pela velocidade, ou com a inconsciência de muitos peões perante os vários perigos que as autarquias e as entidades fiscalizadoras promoveram ou não souberam impedir. Mas a justificação “cultural” das práticas tendencialmente criminosas de um número excessivo de condutores portugueses é do mesmo teor daquela que justifica o uso da burca pelas mulheres afegãs, a prática da excisão em vários países africanos e o porte de arma nos Estados Unidos: em todos os casos, estamos perante argumentos desculpabilizadores do abuso e da negação de direitos humanos.
Adaptado do «Expresso» de 1 Dez 01

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25ª HORA

Espécie de “esquimó fresquinho”
Por Joaquim Letria
HÁ JORNAIS que, tal como os gratuitos, nos impingem exemplares à borla, mal a gente se distrai. Ao pagarmos a gasolina, ou uma bica, numa área de serviço ou numa loja de conveniência, levamos com eles. Falam de gente e de coisas que não interessam nem ao menino Jesus. Por isso, nem de borla o pessoal leva cromos destes, nem o tempo aconselha folhas de jornal para embrulhar castanhas, que vão melhor nas Páginas Amarelas.
Com raras excepções, a Rádio é música de elevador rápido, a separar o ruído duma língua estranha que faz lembrar o Português.
A Televisão está melhor: tem a Sport TV, a BBC, a Sky, a Fox, o AXN, a SIC Radical e o Gato Fedorento, para além do “snooker” e as séries em DVD na Fnac ou na Amazon. As revistas são lidas porque são a cores, fazem sonhar, invejar, desejar, recusar, desprezar.
A salvação é a diversidade da oferta. Lembram-se dos tempos do “baunilha ou chocolate”, do “prego ou bifana”, “sandes ou cachorro”? Estávamos bem tramados, se hoje os media fossem uma espécie de “esquimó fresquinho”.
«24 horas» de 21 Mai 07

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Aprendam com quem sabe!

Porventura dentro do princípio do «Se não se pode combater uma ilegalidade, então legalize-se», aqui se vê como, em Lagos, se contornou sabiamente o problema do estacionamento em cima do passeio na avenida principal: com uma placa de «autorizado».
Aos peões, é oferecida uma passadeira e um semáforo que podem accionar - para que, se quiserem, passem para o outro lado e não chateiem nem estorvem.
Salomónico, perfeito, cinco estrelas!

Uma adivinha "politicamente incorrecta"

Estas duas fotografias foram tiradas em Lisboa, em anos diferentes, mas no mesmo local e, sensivelmente, à mesma hora do dia (sei isso, porque era quando eu ia passear o cão... ).
Pergunta-se: nessas alturas, a cidade era governada por uma Coligação de Esquerda ou por uma Coligação de Direita? E, em caso de diferença, qual das fotos corresponde a qual vereação?

Curtas-letragens

Náufrago
Por Miguel Viqueira
O RAMALHOSA TINHA CINQUENTA E SETE ANOS quando de madrugada caiu ao mar durante o seu quarto de vigia ao largo da Namíbia. Acordou na água gélida como se uma chuva de punhais o despertasse e com horror viu o barco afastar-se no pavoroso silêncio da noite até se perderem no negrume as pálidas luzes de bordo. Um golpe de lucidez lembrou-lhe que os arrastões vão e vêm na mesma linha de rumo: poderia ser uma questão de tempo, de sangue frio e sorte...
Deixou-se então boiar no mesmo ponto onde caíra, combatendo o frio a esfregar os membros, movendo-se em pequenos círculos, com temperança, o indispensável para se manter à tona, para não queimar mais calorias que as indispensáveis. Ao amanhecer foi descoberto nas águas por uma bandada de gaivotas que sobre ele se abateram sem piedade e o atacaram em tropel com fúria de ratazanas, as ratazanas do mar.
Defendeu-se como pôde das bicadas raivosas que lhe procuravam os olhos e lhe retalhavam as mãos, e aos poucos, coberto de rasgões e cortes que sangravam e enfureciam mais ainda as gaivotas, foi perdendo as forças e a fé, engolindo água, afundando-se na espuma tingida do seu sangue. Quando se dava por perdido, quando julgava que ia mesmo morrer, as gaivotas de repente abrandaram os ataques, um remoinho nas águas à sua frente denunciou uma presença estranha que afastou as aves.
As gaivotas desapareceram, fugindo daquela massa escura que se aproximava. Com definitivo horror avistou então o Ramalhosa um grupo de leões marinhos que nadavam para ele grunhindo, presas em alto. Estremeceu, dando-se por morto e afrouxou os músculos, benzendo-se e encomendando-se a Deus e aos anjos, fechou os olhos e estendeu-se nas vagas, esperando inerte as arremetidas das feras.
Mas os leões rodearam-no sem agressividade nenhuma, antes com delicadeza. Um deles, o maior de todos, colocou-se atravessado contra a sua barriga, para que pudesse flutuar, e outros dois flanquearam-no sob os braços para o manter direito e lhe dar calor. Assim se mantiveram, imóveis, silenciosos, longo tempo, até que o Ramalhosa acabou por perder os sentidos, de exaustão e espanto.
Quando enfim acordou, meio-dia volvido, ainda aconchegado pelos leões, viu ao longe a proa do barco que se aproximava, ouviu gritos e vozes familiares, distinguiu acenos na distância. Os animais só o largaram quando foi finalmente içado para bordo. Deram ainda uma volta em redor do arrastão antes de que o Ramalhosa pudesse vê-los afastar-se com os seus grandes bigodes e as suas inconfundíveis presas, contentes no seu olhar terno de míopes.

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