31.5.20

Grande Angular - O vírus é injusto

Por António Barreto
democracia tem sido, desde o início desta pandemia, uma questão permanente. É natural que assim seja. Conhecemos quem a queira arranhar e quem entenda que é necessário defendê-la. Há toda a espécie de ideias contraditórias. A democracia ajuda a resolver a crise sanitária, afirmam uns. Com democracia, não se pode tratar da saúde das pessoas, garantem outros. Os mais pragmáticos declararam que não se deve curar a saúde sem tratar da democracia. Os mais cépticos advertem que só com uma revolução é possível cuidar ao mesmo tempo da saúde e da democracia. Estes últimos dividem-se, evidentemente, em dois grandes grupos, os que entendem que só a Europa integrada e una consegue tal proeza e os que estão convencidos de que só o regresso ao Estado nacional é capaz de proteger a democracia e a saúde.
Não vale a pena tratar de estúpidos ou ignorantes os que pensam diferente de nós. Nem de dizer que os que não têm as mesmas ideias que nós são hipócritas e corruptos. O debate tem sido, infelizmente, um pouco esse. Mas podemos pelo menos ter a certeza de que as divergências e as contradições são reais e merecem ser ouvidas: só assim se poderá encontrar um caminho.
Continuam vigorosas as ideias radicais, sempre formuladas em tom exclusivo. Só uma revolução socialista poderá dar saúde a toda a população. Só uma mudança de modelos de consumo e de produção será eficiente. Só uma transformação do modelo de sociedade garantirá saúde e liberdade para todos. Só a globalização e as economias competitivas podem garantir tal desígnio. Só as nações proteccionistas podem defender e proteger a liberdade de todos. Só um Estado com muita autoridade pode levar à prática uma estratégia de saúde para o seu povo.
Todos estes pontos de vista traduzem convicções. Todas estas crenças têm direito à vida e correspondem a ideais de sociedade. Mas o que realmente poderá vingar e o que, em última análise, vencerá a luta política é o que dá tanta importância à democracia quanto à saúde. Ora, nada disso se obterá com o Estado nacionalista ou com a revolução socialista; nem com globalização capitalista ou alternativa; muito menos com novos e abstractos modelos de sociedade. E ainda menos com a necessidade de aproveitar a oportunidade para resolver também a pobreza, o racismo, a corrupção, o terrorismo e a imigração ilegal.
Todos aqueles combates globais e revolucionários têm o seu tempo, menos agora, em cima da doença e da emergência. Apesar de terem direito à existência, nunca ou quase nunca tais ideias totais e globais superam as soluções reformistas, discutidas, justas e graduais. O inventário das soluções radicais e globais dos últimos séculos é de tal modo trágico que já poderíamos estar ao abrigo dessas fantasias. Infelizmente, não. Mas as fantasias também têm direito à vida. É bom que assim seja. 
São as soluções práticas, reformistas, discutidas e debatidas, que asseguram mais eficácia. Podem por vezes conter o veneno da desigualdade, com certeza, mas a liberdade e a democracia estão aí para permitir a denúncia e a correcção. São as reformas que permitirão resolver as formas de tratamento igualitário, a descoberta e a generalização das vacinas e as medidas de prevenção. São as soluções empíricas que permitem consolidar um serviço nacional de saúde prestigiado e devidamente equipado. Como são as políticas práticas que permitem a coexistência entre o sector público e o privado, indispensáveis a uma eficiente política de saúde para todos.
Como são as soluções práticas que permitem encontrar um destino rápido e eficiente para o Bairro da Jamaica e para todos os equiparados e similares, nódoas da nossa sociedade. Faz mais pela democracia quem resolve o Jamaica, quem destrói aqueles pardieiros, quem constrói alojamentos decentes em poucos meses e quem realoja os seus habitantes, do que quem passa os seus dias a rosnar contra os fascistas e os patrões. A desigualdade é veneno. Como disse Susana Peralta, há dias, aqui no Público: “ … aguentar o confinamento depende muito da qualidade do sofá, da velocidade da Internet e da variedade do que há no frigorífico”! É difícil, em tão poucas palavras, ser mais certeira! O que diz é comovedor, sem ser piegas. E põe nos devidos termos muitas das polémicas actuais.
É a democracia prática, quotidiana, que permitirá tratar igualmente os pobres e os desempregados brancos, amarelos e negros, muito melhor do que quem vocifera pelos comícios chiques ou vingativos contra o racismo. Faz mais pela liberdade quem procura controlar os fluxos de imigração e a legalização dos trabalhadores e suas famílias, do que quem gasta o seu tempo e a nossa paciência a exigir portas abertas a todos, liberdade total de imigração e legalização imediata de todos os candidatos. É o controlo dos fluxos de imigração e o esforço para dominar a demagogia da sociedade aberta que permitem combater e condenar os negreiros que garantem o transporte de refugiados e estimulam as aventuras quase suicidárias de candidatos à emigração.
É a democracia prática e são as instituições livres que permitirão julgar os corruptos, capitalistas ou políticos, muito melhor do que alinhando teses sobre a globalização democrática e socialista, numa narcisista viagem de satisfação de egos enormes disfarçados de solidariedade palavrosa.
É a democracia prática e a liberdade sem reticências que permitirá julgar os adultos que batem nos velhos e nas crianças, os homens que agridem e matam mulheres e filhos, não são os esforços tonitruantes de quem pretende elaborar planos totalitários anticapitalistas de igualdade de género que não têm qualquer efeito.
A pandemia faz mal a milhões de contaminados. A milhares que morrem. E a centenas de milhões que vivem em condições de vulnerabilidade. Mas também tem danos colaterais. E não são poucos. Dos governantes que se exibem e fazem propaganda. Dos directores gerais que se enganam e não reconhecem o erro. Dos jornalistas que vão na onda e não corrigem. Dos comentadores que sabem mais do que enciclopédias. De todos os que cultivam a demagogia fácil e dos que procuram o lucro indevido. 
É tão fácil incriminar os demónios de todos os males! Acusar os fascistas. Denunciar os brancos. Culpar os pretos. Pendurar os comunistas. Castigar os patrões. Mas a melhor solução ainda parece ser a da liberdade individual e das instituições democráticas. Com a ajuda da ciência!
Público, 31.5.2020

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30.5.20

MOLDAR O BARRO, DA PRÉ-HISTÓRIA AOS DIAS DE HOJE


Por A. M. Galopim de Carvalho
1) CERÂMICA, TECNOLOGIA E ARTE

Desde muito cedo, no Paleolítico superior, o Homem conheceu a moldabilidade do barro molhado, teve a percepção de que, uma vez seco, este se comportava como um sólido pouco rígido e macio, que se deixava riscar facilmente pelas unhas. Verificou que, humedecido de novo, voltava a ser moldável. Verificou, ainda, talvez por acaso, que, por aquecimento ao fogo, o barro endurecido pela secagem consolidava de vez, tornando-se coeso e rígido. Nasceram assim, entre outros objectos achados, as conhecidas Vénus paleolíticas.
Tais características físicas do barro determinaram, desde então, o seu uso numa tecnologia/arte, a que foi dado o nome de cerâmica, a partir do termo grego, "Kerameikos", nome de uma área de Atenas, localizada a noroeste da Acrópole, conhecida como o bairro dos "kerameis", os artesãos que trabalhavam o barro ("kéramos"), ou seja, os oleiros, nas suas olarias, palavra que radica em "ola", o nome antigo da panela de barro.
Uma realidade em todos os tempos e em todas as latitudes, a cerâmica acumula hoje uma indústria e um artesanato com assinalável importância económica, criando e desenvolvendo uma ampla diversidade de produtos de características muito diferentes, tendo a argila, na sua diversidade, por única ou principal matéria-prima. Entre os produtos mais conhecidos figuram o barro vermelho, a porcelana, a faiança e o grés.
Vista como uma tecnologia e, em muitos casos, uma arte, a cerâmica evoluiu e afirmou-se a partir do Neolítico, em especial, sob a forma de vasos, certamente para cozinhar e conservar alimentos. Uma importante expressão desta arte (no sentido de técnica ou habilidade) está na base da chamada Cultura do Vaso Campaniforme, de há 3000 anos a.C. e com origem no Castro Calcolítico do Zambujal, na Estremadura (Torres Vedras), tendo-se expandido depois pela Europa. Diga-se, ainda, que o termo campaniforme deve o nome ao facto de os vasos de cerâmica decorados, encontrados ali em contexto funerário, terem a forma de um sino invertido.
Gravada em tabuletas de argila, pelos sumérios, a partir de cerca de 3200 a.C., com auxílio de objetos em formato de cunha e, por isso, designada por escrita cuneiforme é, a par dos hieroglifos egípcios, o mais antigo tipo conhecido de escrita.
Descobriu-se muitíssimo depois, já no período histórico, que, em excesso de água e um tratamento adequado, a argila se desagrega, formando suspensões algo viscosas (do tipo de uma lama muito fluida), mantidas por tempo suficiente para fazer moldes por vazamento, conhecidas na indústria cerâmica por barbotinas (do francês "barboter", verbo que refere o agitar de um líquido), cuja estabilidade depende das dimensões das partículas e das suas características físico-químicas, bem como das do meio líquido, a água, à qual foi adicionado um desfloculante necessário para manter as referidas suspensões.
O cozimento (na gíria profissional) da pasta cerâmica a temperaturas elevadas, a partir de cerca de 900 ºC, conduz à criação de novas fases cristalinas, entre as quais (em função da natureza da pasta), cristobalite (polimorfo de sílica de alta temperatura), mulite (silicato de alumínio), cordierite (aluminossilicado de ferro e magnésio) e espinela (óxido de alumínio e magnésio), transformando-a num material, a partir daí, coeso (não-desagregável), rígido (não deformável) e frágil (quebradiço).
Desde os vasos mais frustes dos nossos ancestrais, à mais fina porcelana, passando pela indústria de barro vermelho, pela faiança e pelo grés, a cerâmica dos dias de hoje assenta nas caraterísticas físicas e químicas dos argilominerais (minerais próprios das argilas, com destaque para caulinite, ilite e esmectite) presentes hoje bem conhecidas em grande pormenor, mas que extravasam os propósitos generalistas deste texto.
A natureza dos respectivos argilominerais e o seu natural grau de finura (nanométrica) determinantes da maior ou menor plasticidade da argila, face à adição de água, permitem distinguir argilas gordas e argilas magras. As gordas, em grande parte esmectíticas, são demasiado plásticas, de aspecto untuoso, colocando dificuldades à moldagem. As magras, de natureza essencialmente ilítica e/ou culinítica, caracterizam-se pela reduzida plasticidade, colocando, igualmente, dificuldades ao trabalho do oleiro. Cabe a este artesão, sempre que necessário, proceder à mistura de ambas, de modo a obter a pasta cerâmica trabalhável.
Para determinados produtos, as respectivas pastas, além da componente plástica (os argilominerais), contêm uma outra não-plástica representada por partículas, ou grãos, de feldspatos, quartzo, calcite ou dolomite. Acrescente-se que o quartzo forma o esqueleto do produto final, que o feldspato actua como fundente de alta temperatura, e que a calcite e a dolomite funcionam como fundentes de baixa temperatura.
Num discurso mais simples, mas suficiente, podemos definir cerâmica como a actividade industrial, artesanal e/ou artística, produtora de objectos utilitários ou decorativos, a partir de pastas cerâmicas trabalháveis, num processo em que estas, depois de moldadas ou enformadas, são cozidas a temperaturas elevadas (próximas ou superiores a 900 ºC), a fim de os produtos obtidos adquirirem coesão, rigidez e, em certos casos, a cor.
Os produtos cerâmicos obtidos, quaisquer que sejam os grandes tipos (barro vermelho, faiança, grés e porcelana) variam, primeiro, na composição da pasta e, depois, na forma como são produzidas, duas entre outras variáveis que lhes conferem diferentes características adequadas a finalidades distintas.

Dos lambazes (tijolos burros, maciços e rudimentares) ou dos ladrilhos, à mais fina chávena de porcelana Vista Alegre, passando pelos pratos de cavalinho (estátua) de Sacavém, pelas peças decorativas das Caldas da Rainha pelos azulejos da fábrica Viúva Lamego, pelo galo de Barcelos e pelos bonecos de Estremoz, pelas cantarinhas de Nisa ou pela loiça de São Pedro do Corval, tudo é cerâmica, uma indústria/artesanato e arte de que Portugal se orgulha, sem esquecer os vasos campaniformes do Calcolítico do Zambujal, no concelho de Torres Vedras.

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29.5.20

PREITO AO GALAICO DURIENSE E AOS GALEGOS QUE RESISTEM

Por Joaquim Letria
Não posso deixar passar esta semana sem falar no galego, nossa língua irmã se é que antes de 1385 não terá mesmo sido a alma mater do português, antes de nos enrolarmos com o castelhano traindo nas suas origens o galaico duriense.
Por estes dias desta semana, - 17 de Maio, foi o Dia das Letras Galegas - os galegos celebram e honram a sua língua materna, hoje uma desamparada resistente ao castelhano que a história, e dentro desta, em particular, o franquismo, impuseram e obrigaram no ensino e nos hábitos dos galegos mais jovens, sem que isso, nem sequer o Rio Minho, bastasse para nos separar. 
Todavia, há dois pontos que, antes de escrever o que aqui me traz, muito gostaria de destacar e que não esqueço:
O primeiro é que muito antes de Portugal ouvir o “Grândola Vila Morena” esta canção foi cantada por José Afonso na Galiza, onde também ficaram a saber que “dentro da cidade é o povo quem mais ordena”, disto fazendo a voz do poeta eco, perto de Viana do Castelo.
O segundo é que a Galiza construiu uma estátua ao nosso poeta e deu o seu nome a uma praça que nos deve, e muito, orgulhar. Estas são coisas que não vemos acontecer em Portugal onde tanto esquecem aquele que encheu as suas canções de poesia e transformou alguns belos poemas seus em armas que lutaram pela liberdade que ainda temos hoje.
Recordo-me do amor que o meu amigo José Afonso tinha pela Galiza e pelos galegos, onde contava inúmeros amigos, entre os quais venerava – como uma vez me disse com as lágrimas nos olhos, citando-lhe palavras, a eterna Rosalia de Castro.
Hoje, na Galiza, são principalmente os avós quem fala galego com os netos, dos quais só 1,2 por cento recebe o ensino da língua. Os velhos também falam com os filhos, ainda que muitos destes pensem que “o galego não serve para nada, o castelhano e o inglês é que são úteis”.
Curioso como na comunidade onde mais museus e bibliotecas foram encerradas pelo poder político são ainda hoje os galego-parlantes aqueles que mais defendem a memória e cultivam as palavras.Com um carinho e rigor que nós, portugueses, a quem estropiaram a língua com um acordo ortográfico que brasileiros e africanos têm vergonha de assinar, também podíamos ter e sermos solidários com os nossos vizinhos do outro lado do Rio Minho onde ainda se pode praticar o galaico-duriense duma pureza que, do lado de cá, já conseguiram que olvidássemos.
Publicado no Minho Digital

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28.5.20

A banalização do mal e o adormecimento das consciências

Por C. B. Esperança 

A jornalista Hannah Arendt acompanhou, em Israel, o julgamento de Adolfo Eichmann e, quer o carrasco nazi fosse ou não o homem comum que a jornalista viu nele, intuiu a tragédia da “banalidade do mal”, expressão que usou no livro que, a seguir, escreveu, “Eichmann em Jerusalém – Um relato sobre a banalidade do mal”, onde diagnostica a origem dos totalitarismos.
A expressão é hoje frequente, porque as consequências são devastadoras e repetitivas, e está longe de provocar a reflexão que devia. A democracia tem descurado a sua defesa, mesmo quando a Constituição a protege sem ambiguidades.
O advento de partidos neofascistas é hoje evidente, na Europa e no Mundo, e Portugal não foge à regra, apesar de a CRP os proibir.
O Tribunal Constitucional errou ao legalizar o ‘Partido Cidadania e Democracia Cristã (PPV/CDC)’, onde aparece a sigla referente a ‘Portugal pró-Vida’, permitindo o nome, por serem ilegais as referências confessionais. Fê-lo, aliás, contrariando a sua própria jurisprudência.
Já no caso do Chega é difícil dizer que errou. É fácil apresentar um programa aceitável constitucionalmente e ter uma prática delituosa, incompatível com a CRP, a decência e a salubridade política.
No primeiro caso foi uma decisão infeliz, mas sem riscos; no segundo foi uma decisão legítima, mas perigosa. Ser reacionário não é crime; ser fascista, é. A ideologia fascista, em si, é um mero anacronismo, mas a sua práxis é delituosa. O aparecimento de um partido que defende abertamente a subversão democrática, que promove o racismo e incita ao crime cai sob a alçada legal, mas sabemos como é frouxa a democracia a defender-se dos adversários. É, aliás, o único regime que os permite.
O partido nazi/fascista, que goza de amplas cumplicidades nos média, nas redes sociais e em nostálgicos da ditadura, vai-se infiltrando nas forças policiais, militares e sindicais, e normaliza o que, ainda há pouco, raros ousavam verbalizar. É o guarda-chuva aberto a marginais, terroristas ideológicos, membros de seitas e outros indivíduos de mau porte.
As semelhanças com o ambiente dos Anos Trinta do século passado causam perplexidade e calafrios. A publicidade concedida ao Chega e a displicência com que é tratado, como se fosse um partido democrático, amedrontam os que sofreram a ditadura.
Falar do mal é dar-lhe publicidade, mas ignorá-lo é deixá-lo à solta a envenenar os que esqueceram a mais longa ditadura europeia e suportaram 13 longos e dolorosos anos de guerra colonial.
A tragédia da pandemia não faz mais do que adensar receios de novos totalitarismos, como aconteceu com a gripe espanhola, há um século. E os totalitarismos podem ser de natureza antagónica.

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27.5.20

No "Correio de Lagos" de Mai 20

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26.5.20

CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS

Por A. M. Galopim de Carvalho
Toda a gente sabe que classificar é separar por classes, mas nem todos sabem que  as mais antigas classificações das rochas, à semelhança das dos seres vivos, eram designadas por Sistemas (do grego “systema”, que significa reunião de diversos objectos num só corpo, grupo ou conjunto) e, assim, classificar é o mesmo do que sistematizar e classificação é sinónimo de sistematização. 
Nesta óptica, a expressão classificação sistemática é uma redundância desnecessária que, não obstante, se lê frequentemente.
Cada disciplina tem o seu tipo de classificação. Em biologia e também em paleontologia fala-se de DomínioReinoFiloClasseOrdemFamíliaGénero e Espécie. Em geologia, por força da própria natureza dos “objectos” (rochas), este tipo de classificação não tem cabimento.
Por exemplo, no seu célebre Natursystem des Mineralreichs, Karl von Lineu (1707-1778) tentou, sem êxito, adaptar aos minerais e às rochas os seus critérios que tão bem se têm mantido na sistemática e nomenclatura biológicas. Segundo ele, o arenito pertencia à classe “Petrae” (pedras), à ordem “Agregata” e ao género “Arena” (areia), no qual distinguia várias espécies, como, por exemplo, “Arena riparia” (areia fluvial). Acontece, porém, que o conceito de espécie, tal como o entendemos para os seres vivos e, até, para os minerais, não tem aplicação nas rochas, face às quais se fala, sim, de tipos e não de espécies
Sem esquecer as abordagens divulgadas por Avicena, Agricola e muitos outros, ao longo da Idade Média, o século XVIII foi pródigo na procura de classificações dos produtos do “Reino Mineral”. Minerais e rochas figuravam ainda, lado a lado, nas várias propostas de arrumo.
Além da de Lineu, ficaram na história das ciências da Terra as classificações do século XVIII de Bromel (1730), Woltersdorf (que introduziu o uso do termo rocha nas classificações), Lehman (1759), Cronstedt (1771), que usou o termo latino sax, para referenciar as rochas, Werner (1774), Vallerio (1778) e Daubenton (1784). Além destas, distinguiu-se a classificação do sueco, Torbern Olof Bergman (1735-1784), químico e mineralogista de grande prestígio. No seu Manual do Mineralógico ou Esboço do Reino Mineral (1782), traduzido para português em 1799, as rochas a que chamamos sedimentares estão repartidas por algumas das classes em que foram divididos os objectos do “Reino Mineral”. Entre as “Terras”, distinguia: “terra calcária”, “terra argilosa” (barros) e “terra quartzosa” (areias siliciosas). Os “Sais” incluíam a “pedra de platre” ou “cal vitriolada” (gesso) e o sal-gema, entre outros. Nesta classificação falava-se, ainda, em “pedras simples”, entre as quais, calcários, xistos argilosos, sílex e outras rochas homogéneas à vista desarmada; e em “pedras compostas”, onde figuravam conglomerados e brechas, consideradas não cristalinas, a par de outras ditas cristalinas, como os granitos e os gnaisses; finalmente, sob a designação de “substâncias inflamáveis”, considerava os “combustíveis fósseis” (expressão que ainda hoje se mantém), que incluíam, entre outros, os carvões, o petróleo, e o âmbar (succinum).
Em 1823 foram publicadas, na Universidade de Coimbra, as Tábuas Mineralógicas, da autoria do lente Manuel José Barjona (1758-1831), obra inspirada no Sistema de Vallerio. Nesta altura, em que se não separavam os minerais das rochas, estas tábuas consideram os produtos do “Reino Mineral” distribuídos em cinco classes: “Terras”, “Pedras”, “Sais”, “Sulfuretos e Betumes” e “Metais e Semimetais”. Falava-se então de “pedras argilosas” (argilas, barros, ocres, xistos e margas) e de “pedras salinas” (calcários e gesso), de “sal-gema” e de “combustíveis não metálicos” (petróleo, carvão e betume). É interessante notar que estas propostas classificativas conservavam, ainda, uma forte influência do saber medieval. Com efeito, Avicena, na viragem do séc. X para o XI, no seu tratado sobre as pedras, De Lapidibus, já distinguia “terras”, “pedras” e “sais”.
Nota: O conceito que então se tinha de “terra” era o de materiais (minerais ou rochas) decompostos e ou desagregados pelos agentes atmosféricos, de aspecto mais ou menos pulverulento ou arenoso. É nesta óptica que os franceses chamam “terre” (e os ingleses “earth”) ao barro e que nós, com toda a propriedade, chamamos terra à fracção mineral, desagregada, do solo e, até, ao próprio solo.

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25.5.20

No "Correio de Lagos" de Mai 20

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24.5.20

Grande Angular - Esquerda! Direita! Volver!

Por António Barreto
Vinte anos são poucos para qualificar um século. Mas não se pode negar que o XXI começou mal! As duas primeiras décadas são aflitivas. No mundo inteiro.
Logo no inicio, as Torres de Nova Iorque. A partir daí, o terrorismo islâmico instalou-se. E quase inspirou outros que se seguiram. A invasão do Iraque foi exemplo de desastre. Na Líbia e na Síria, as guerras atingiram inimagináveis graus de violência. As democracias árabes, esperança precoce, transformaram-se rapidamente em desastres autoritários. As guerras de drones, conduzidas pelas nações mais poderosas, sobretudo pelos Estados Unidos, trouxeram uma nova arma de que a humanidade não se vai orgulhar.
As alterações climáticas marcaram o planeta, muitas das suas consequências são já irremediáveis. Perante elas, a incapacidade humana é a mais evidente realidade. Alguns desastres ditos “naturais” deixaram recordações perenes. O furacão Katrina de Orleães mostrou a vulnerabilidade do país mais rico do mundo. O Tsunami asiático revelou a amplitude possível da devastação. Os piores incêndios florestais da história da humanidade queimaram a Califórnia, a Amazónia e a Austrália, assim como a Grécia e Portugal. As piores secas e as mais severas inundações ficaram na memória de gente. 
As crises financeiras abalaram o mundo. Gigantescas falcatruas revelaram a infinita capacidade criminosa do dinheiro. As crises das dívidas soberanas diminuíram a força das entidades políticas. A UE exibiu a sua debilidade política. As migrações ilegais em massa e a procura de refúgio político na Europa e na América serviram para revelar desumanidade e impotência. A desigualdade social atingiu graus inesperados, assim como o crescimento obsceno de fortunas em poucas mãos.
A crise (comercial, financeira e política) entre os Estados Unidos e a China ameaça o mundo inteiro e não dá sinais de ter um termo à vista. Consolidou-se o fiasco definitivo do socialismo e do comunismo, apenas sobrando, desse modelo político, um país, a China, que produziu a aliança improvável entre dois absolutos, o da ditadura política e o do capitalismo desenfreado. As ameaças à democracia chegam-nos de todos os lados, de quase toda a África e de grande parte da Ásia, dos Estados Unidos, do Brasil, da Venezuela e da Hungria. É crescente a perda de importância da nobre Europa e da sua União, em plena decadência política, como todos os fidalgos. 
Em Portugal, fomos poupados a muitas desgraças, como seja, até agora, o terrorismo. Mas tivemos também a nossa quota-parte. Incêndios florestais como nunca se tinham visto. Vinte anos de crescimento económico quase zero. Partilhámos, até com excesso, as crises financeiras e de austeridade. Conhecemos a maior trapaça financeira da história do país. E talvez o mais corrupto governo de sempre.
A pandemia sanitária e a profunda crise económica e social que se vai seguir exigem excepcionais esforços de convergência. E até de patriotismo, conceito em desuso. Nenhum partido sozinho será capaz de resolver o que é necessário. A esquerda, sozinha, não tem soluções em liberdade. E talvez não tenha também para o investimento e o desenvolvimento. Por sua vez, a direita, sozinha, não tem soluções para a protecção social e a justiça. E talvez também não tenha para a liberdade.
E, no entanto, quando se pensa que as soluções políticas podem vir do esforço conjugado de várias forças, logo cai o Carmo e a Trindade! Bloco central não! A esquerda sozinha é que é boa. A direita sozinha é que é boa. Para a cultura política nacional, tudo o que não seja puramente esquerda ou direita cai mal. O “centrão”, o bloco da corrupção, o caldeirão central… Todas essas soluções são malditas!
Ora, em democracia, já tivemos uma dúzia de anos de governos de direita sozinha, assim como outros tantos de esquerda sozinha. Também tivemos outros anos de um só partido ou de misturas. Uma coisa é certa: não há regras nem padrões. Já houve bloco central e governos de um só partido e governos só de esquerda e só de direita. Ninguém, nenhuma solução monopolizou o erro, o disparate ou fragilidade. As várias soluções mostraram tudo aquilo de que foram capazes: trabalho patriótico, crescimento, liberdade e honestidade… e o seu contrário! Não é possível dizer que o bloco central é necessariamente corrupto ou que a esquerda e a direita sozinhas são a instabilidade e a violação da liberdade.
Foi com governos de uma só cor que se assistiu aos desastres financeiros, às políticas de austeridade, a alguns dos piores episódios de corrupção e ao desenvolvimento da porta giratória entre o governo e os interesses. A destruição do sistema bancário e do que sobrava do capitalismo português foi metodicamente levada a cabo pela esquerda e pela direita, ora aliadas, ora a governar sozinhas.
Não se percebe por que razão é tão difícil encontrar soluções governativas de maioria alargada, sem união nacional. Tantos países, na Europa, tiveram de recorrer a essa solução e a maior parte não se arrepende. Dói ver a enorme atracção que tantos revelam pelos desastres dos outros, mesmo sendo os desastres do país! É tentador pedir boleia à desgraça das instituições e do povo para criar um salvador, pessoa ou partido. A direita pede um novo clima ético, uma nova atitude patriótica e a refundação da pátria, se preciso for. A esquerda reclama novos modelos sociais e políticos, uma democracia alternativa e um novo sistema político! Todos aspiram a aproveitar o desastre! Era bom pensar que, se desastre houver, muitos deles são capazes de naufragar também. Como é possível imaginar que a salvação, a liberdade ou o desenvolvimento nascem de milhões de precários e desempregados, de milhares de mortos e infectados, de falências e fraudes sem fim?
Quem havia de dizer que, nas esquerdas e nas direitas, encontraríamos um dia reminiscências das teorias de Schumpeter sobre a destruição criadora do capitalismo? Aflige ver a exigência de novos modelos de sociedade, de economia, de consumo e de Estado e acreditar que esses modelos, ou lá o que forem, estão à espreita de uma oportunidade para vingar por cima dos escombros da sociedade actual. Por cima do capitalismo e da democracia actuais, e até, ironia maior, por cima do esquerdismo actual.
A esquerda sozinha não consegue resolver os próximos anos. A direita sozinha também não. Muito menos um só partido. Não custa reconhecer o inevitável. Mesmo quando este não nos agrade. Eis por que prever e prevenir são actividades nobres. Eis por que preparar-se é um dever.
Público, 24.5.2020

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No "Correio de Lagos" de Mai 20

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22.5.20

Sem Pão nem Circo

Por Joaquim Letria
Não me parece estar a prestar-se grande atenção às dificuldades extremas que muitos  milhares de portugueses estão já  a viver em consequência da pandemia.
As pessoas ligam a números e estatísticas mas esquecem-se de traduzir esses números e variáveis, como agora também é moda dizer, em pessoas de carne e osso, em velhos solitários, em crianças subnutridas, em trabalhadores desempregados, em comerciantes sem comércio, em inquilinos sem dinheiro, em senhorios sem rendas, em lojistas sem lojas, em fábricas fechadas, em pessoas com fome, muitas das quais trabalhando, nem que seja em parte time ou permanecendo em regime de “lay-off”.
O Banco Contra a Fome fez saber que está a receber mais de mil pedidos de géneros por dia para gente com extrema necessidade e a Presidente do Banco esclareceu que os mais de mil pedidos diários não correspondem ao mesmo número de pessoas. A maior parte dos pedidos são feitos por instituições e há num único pedido, por vezes, quantidades destinadas a asilos, paróquias, lares, escolas, que esmolam cada um quantidades superiores às necessárias a um mínimo de 150 pessoas.
Os políticos são fraquinhos e andam noutra. A gente vê-os preocupados com os fundos, com a sorte do Centeno, com as discussões europeias, os 850 milhões de mais dinheiro público para um banco privado sem conhecimento do Primeiro Ministro e antes que façam uma auditoria a esse banco. Também ficamos admirados com as cabecinhas pensadoras que estudam o distanciamento social nas creches e nas praias, proíbem as visitas aos lares de velhos ou mexem na vida dos jogadores do futebol que desejam que regresse mesmo à porta fechada. Depois há o entretenimento dos totoCOVID 19, com os seus mortos, cuidados intensivos, recuperados, infectados, por idades, regiões, províncias, países e continentes.
Para além da miséria que a maioria não vê e outros não querem ver, mas que está aí, há outras duas misérias ainda mais dolorosas: a miséria escondida e a miséria envergonhada. Não sei se cabem nestas duas categorias a situação dos circos e a das bandas de música. Há mais de 30 pequenos circos fechados, espalhados pelo país, sem dinheiro para pagarem despesas e enfrentando a má vontade da maioria das autarquias, sem que lhes perdoem taxas e impostos de veículos pesados parados, que pagam tanto ao Estado como os camiões das transportadoras. Também dezenas de bandas de música, que através do país substituem muitas vezes o Estado, no ensino e formação profissional de músicos, constituindo mini—conservatórios, real alfobre de talentos que vemos despontar em Portugal e no estrangeiro, estão na mais difícil situação sem que lhes chegue uma merecida e possível ajuda, nem uma palavra sequer.
A pouco e pouco vamos ficando sem pão nem circo…
Publicado no Minho Digital

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21.5.20

Os bancos e a economia

Por C. B. Esperança
Sei pouco de tudo e ainda menos de macroeconomia. A microeconomia, gestão de bens próprios, fui-a compreendendo empiricamente, mas não faria um voto consciente se não refletisse nas opções que os vários partidos me propõem, incluindo o campo económico.
Aprendi alguma coisa sobre finanças em 1973, por experiência própria. Em março tinha 80 mil escudos disponíveis e, como ia entrar com excelente remuneração, no início de abril, na multinacional onde acabaria a minha vida ativa, decidi converter as economias em ações de empresas cotadas na Bolsa de Lisboa.
Era solteiro, não precisava do dinheiro, e deixei-as ficar. Em fins de agosto, de regresso das férias em Itália e Jugoslávia, fui passar a última semana com os meus pais, e pensei vendê-las. Valiam duzentos e muitos contos, à cotação de 1 de setembro, altura em que regressei ao trabalho. Por esse valor podia ter comprado um T-3 novo em Coimbra. Não o fiz e, nesse mês, a subida do barril do petróleo de US$ 10 para 20 dólares levou ao encerramento da Bolsa e acabei por perder a totalidade das economias.
Conto este episódio, que a direita gosta de atribuir ao 25 de Abril, porque aprendi então que eram voláteis os valores mobiliários, como, aliás, os imobiliários e a própria vida. Serve também para refletir sobre a recente encenação da alegada obrigação de os bancos ajudarem os contribuintes, porque estes já os ajudaram no passado. E a saga continua.
Rui Rio referiu a obrigação e Marcelo coreografou a reunião por videoconferência com banqueiros, isto é, CEOs dos bancos, finda a qual garantiu aos portugueses que estavam empenhados nessa ajuda, promessa que, a ter sido feita, não podia ser cumprida.
Não entendo como os bancos, penalizados nos seus ativos financeiros, podem estar em condições de injetar dinheiro na economia. Aliás, por muito que custe aceitar, são os banqueiros quem mais dinheiro perde nas atuais circunstâncias. Basta lembrar a falência do banco Lehman Brothers, a crise financeira que provocou e a tragédia que se seguiu nos países de economias mais débeis.
Apesar de alguns economistas afirmarem o contrário, tenho por adquirido que a falência de um banco arrasta outros, efeito dominó, e atrai vampiros à espera dos cadáveres. No sistema capitalista, único que existe, os bancos são os órgãos do aparelho circulatório da economia e não podem falir. Quanto à propriedade, é outro assunto. De Gaulle estatizou alguns e, mais tarde, lamentou não os ter nacionalizado a todos.
A experiência ensinou-me que as ações de bancos, construtoras, seguradoras, empresas de comunicações ou outras, não valiam um centavo após a falência.
Estou convicto de que uma Europa mais pobre não pode ressarcir os prejuízos, mesmo os países mais ricos. Prevejo que a desvalorização da moeda, a subida de impostos ou a redução efetiva de vencimentos e pensões seja inevitável. Só assim se compreendem as resistências de alguns países ricos à generosa proposta de Merkel e Macron.
Se não tivéssemos o euro, como moeda, há muito estariam depreciadas as remunerações dos trabalhadores e, sobretudo, as pensões. Lembro-me da excelente pensão do meu pai (1971) e da modéstia a que estava reduzida quando faleceu (1997).
E, se não integrássemos a União Europeia, era provável termos já perdido a democracia.
Ponte EuropaSorumbático

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18.5.20

No "Correio de Lagos" de Abr 20

Este país não é para velhos - (*)
I — HÁ UNS ANOS, Miguel Esteves Cardoso, numa das suas saborosas crónicas, comentava o facto de os portugueses gastarem tanto tempo a NÃO LER, referindo-se àqueles que dizem que é assim porque “não têm tempo”, mesmo quando tempo é coisa que não lhes falta. Ao escrever isso, MEC talvez estivesse a pensar na Inglaterra, que conhece bem, e que se caracterizava por estar cheia de gente a ler livros e jornais — nomeadamente nos transportes públicos — ao contrário do que por cá sucedia, fosse em que circunstâncias fosse.
Pois bem, “tempo para ler” é coisa que agora não escasseia, e muito menos sugestões de obras relacionadas com o drama que vivemos; e como o tema incontornável é o Coronavírus, não podem deixar de vir à colação as que abordam aquilo que, dantes, mais se lhe assemelhava: a PESTE. 
Nessa linha, e para referir apenas três clássicos, aí temos o “Decameron” (de Boccaccio), “A Máscara da Morte Vermelha” (de Poe) e, claro, “A Peste” (de Camus); no entanto, o “Ensaio Sobre a Cegueira” (de Saramago) e “O Amor em Tempos de Cólera” (de Garcia Marquez) também não ficam mal no rol, para já não falar n’ “A Ameaça de Andrómeda”, de Michael Crichton, cuja “personagem principal” é, precisamente, um vírus de origem desconhecida. 
Obviamente, muitas outras obras se poderiam aqui citar, com diferentes níveis de qualidade e verosimilhança, mas permitam-me que refira uma que, talvez por não ser de ficção, é extremamente certeira: trata-se de “O Gene Egoísta”, de R. Dawkins, que expõe uma verdade incómoda: todos os seres vivos (sejam eles animais ou plantas, bactérias ou seres humanos) têm, como primeira prioridade, a sua sobrevivência, o que os leva, em caso de perigo iminente, a passar por cima de tudo e de todos, num exercício cego de «cada um por si», que despreza a lógica e a solidariedade, numa pulsão a que não escapam, sequer, os seres mais racionais das sociedades desenvolvidas.
Claro que, relacionados com o EGOÍSMO, há o MEDO e o PÂNICO, mas trata-se de mecanismos biológicos de sobrevivência, ancestrais e automáticos, que permitem a segregação da adrenalina necessária para a luta ou a fuga — e é por isso que são tão ineficazes os apelos de “Tenham calma!” quando dirigidos a quem está a ser confrontado com um perigo desconhecido e invisível, como sucede com o que, por estes dias, nos atormenta.

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II — ENTRETANTO, por esse mundo fora, quase todos os responsáveis políticos foram “apanhados com as calças na mão”, reagindo tarde e mal, mas, mesmo assim, melhor do que aqueles que preferiram comportar-se como a avestruz, ficando estes ao abrigo de qualquer comentário, por manifesta escassez de adjectivos apropriados. Mas os ”simplesmente distraídos” também não têm desculpa, pois não faltaram, nos últimos tempos, avisos bem fundamentados acerca do que aí podia vir, de que se destacou, pela sua clareza e impacto mediático, a proclamação de Bill Gates em 2015, em que ele previu, com uma lucidez que hoje nos faz arrepiar, TUDO o que agora está a acontecer. De facto, numa sua “TED Talk” (disponível no YouTube), está lá TUDO: TUDO aquilo que hoje nos apoquenta foi lá dito, previsto e explicado em todos os seus aspectos: o vírus-assassino, a sua rápida propagação (global e exponencial), os meios de o combater, a indispensável prevenção local e colaboração internacional, os custos em dinheiro e em vidas (do que se fizer e do que não se fizer)... tendo sempre, como pano de fundo, a proverbial incapacidade de previsão e incompetência dos políticos incapazes de perceber a realidade, mesmo quando o inimigo, tal como no conto de Poe que atrás refiro, já lhes entrou em casa.
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(*) – Título de um romance de Cormac McCarthy, adaptado ao cinema pelos irmãos Coen.
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No “Correio de Lagos” de Abril 2020

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17.5.20

Grande Angular - Justo furor

Por António Barreto
Algures para os lados de Peniche, uma menina, Valentina, foi assassinada. Tudo leva a crer que os autores tenham sido o seu pai e madrasta. Com irmãos espectadores. Com pancadaria, sofrimento, tortura e encenação escabrosa. Não falta quem reclame justiça privada para castigar aquelas bestas. Nem quem considere que é o momento chegado para restaurar a pena de morte para certos casos, como o assassinato de crianças. Há quem prefira a prisão perpétua. É sempre assim: perante um excesso de violência e de crueldade, logo aparece o excesso de vingança. Ódio com ódio se paga. É o pior que se pode fazer. Basta que se aplique a lei actual e que se proíba a redução. Poder-se-á aumentar a duração da pena? Talvez. Tudo o resto, prisão perpétua, pena de morte e justiça por mãos próprias, é do domínio da vingança, da raiva e não da justiça. 
Há um justo furor, uma revolta contra a violência e a maldade de um adulto, de um pai, de uma mãe ou de um marido, que chegam a este ponto de desumanidade. Fúria contra os que vieram primeiro dizer que se tratava de bons vizinhos, para depois os quererem linchar. Fúria também contra os serviços de protecção de menores e contra os que deviam ter responsabilidades. Fala-se de crianças sinalizadas, mas esquecidas. Diz-se que já havia ficheiros constituídos. Que havia… 
Sinalizados assassinados não faltam. Já não é o primeiro caso. Nem o segundo. Ora crianças. Ora velhos. Ora doentes. Ora mulheres. Sinalizados assassinos também não faltam. À solta. O Estado é só incompetente? Burocrático? Não tem leis que cheguem? Não tem pessoal? Não tem equipamentos? Será que há problemas de carreira? Tudo parece ser possível. Mas uma coisa é certa: num país como o nosso onde é tão fácil pedir ao Estado dinheiros e regalias, empregos e benesses, há receio de pedir ao Estado que proteja as crianças, as mulheres, os doentes e os velhos.
Estamos mais uma vez diante de dilemas. Neste caso, os do papel do Estado e dos serviços de protecção. Pode o Estado retirar membros de uma família para os proteger? Pode retirar crianças aos pais? Tem o dever de esconder mulheres? Pode guardar idosos? Não estamos mais uma vez a pensar que o Estado resolve, que o Estado é justo, que o Estado é ama, padrinho e mãe?
O que tem piores consequências? Meter o Estado dentro de casa? Trazer para dentro das famílias as leis, os assistentes sociais, os serviços de protecção, os juízes, os psicólogos e a polícia, retirar crianças e jovens menores aos pais, colocá-los em instituições, violar as tradições familiares, fazer tábua rasa de velhos hábitos, ignorar que dentro de casa os pais são os reis, mas tentar salvar a vida ou a integridade física de crianças? Ou deixar as famílias resolver os seus problemas, permitir que os conflitos se tratem dentro de quatro paredes, não violar a intimidade e não contribuir para que se destrua ainda mais a família e o seu meio de cultura, afecto e cuidado? E se a intervenção do Estado foi excessiva e não se justificava? E se a protecção do Estado foi mal calculada e não chegou a horas? O que é mais grave? Educar crianças em meio institucional, dando o flanco aos abusos conhecidos e às organizações de exploração sexual e laboral? Ou deixar educar crianças em ambientes violentos, disfuncionais e perigosos, mas familiares?
Verdade é que há qualquer coisa que não está certa com as instituições de protecção às crianças e com serviços que devem protecção aos fracos, aos idosos, aos deficientes e aos internados em lares. Ou aos hóspedes temporários de hostels de imigrantes. Há qualquer coisa errada com as crianças “sinalizadas” e que acabam por ser assassinadas ou abusadas. Ou com as mulheres “sinalizadas” e que os maridos matam ou sovam. Ou com os velhos “sinalizados” e que os bandidos ou os presumíveis herdeiros espancam e roubam. Ou com os candidatos a refugiados que conseguem entrar no país, são “sinalizados” e depositados aos cinco e aos dez por quarto em pousadas geridas por negreiros, com o silêncio ou a cumplicidade de serviços públicos.
Veja-se o que se tem passado com os lares no decurso da presente pandemia. Velhos quase a monte, residências sobrelotadas, taxas de contágio absurdas e contaminados às dúzias. Onde está o Estado? Onde estão os serviços de protecção? Será que se trata de mais uma discussão ideológica sobre o papel do Estado? Será que se pensa que não se pode retirar crianças à família, porque a família é sagrada? Porque os pais e as mães naturais são sagrados? Será que se acredita sempre mais na palavra do pai porque é pai, da mãe porque é mãe? Mesmo quando são bêbedos, bandidos e criminosos? O Estado tem receio da Igreja que considera sagrada a família? O Estado entende que só em última instancia é que se pode e deve intervir, quando é certo que a última instancia é quase sempre tarde de mais. Quantas vezes se ouve dizer que a criança estava sinalizada, que o velho estava identificado, que a doente estava referenciada e que a mulher estava registada? E quantas vezes se ouve dizer que estes todos, mortos, estavam sinalizados?
Os números são cruéis. Nas duas últimas décadas, pelo menos trinta crianças assassinadas. Milhares de mulheres batidas e violadas em casa e no espaço público. Trinta mulheres assassinadas por ano. Centenas de velhos feridos ou mortos em casa. Os serviços de protecção, as polícias, os magistrados, os assistentes sociais e as autarquias estão mal preparados para prevenir. Provavelmente mal equipados. Seguramente sem meios. Mas sobretudo mal formados, parece. Na verdade, a ideologia da família, à luz da lei, da Igreja e dos costumes, faz com que se deixem os mais fracos abandonados. A família é capaz de tudo, do melhor e do pior. Mas é sabido que a maior parte dos crimes contra as crianças, os velhos e as mulheres ocorrem em “ambiente familiar”. E que a grande maioria dos crimes de abuso sexual têm igualmente a família como cenário e decoração.
O que é preciso de crueldade e de falta de humanidade, para espancar, matar e esconder uma criança de nove anos? O que é preciso de barbaridade para deixar os velhos literalmente amontoados a morrer, sem dignidade, sem serviços de inspecção e sem protecção da autarquia, do Estado ou seja de quem for? O que é preciso de selvajaria para espancar uma mulher, a sua mulher, a mãe dos seus filhos até a matar ou deixar desfigurada? O que é preciso de brutalidade e de grosseria para espancar ou matar os velhos indefesos e doentes! Estes crimes não têm desculpa, nem perdão. Nem atenuantes, sejam eles a miséria, a ignorância, as origens, o desespero, o álcool ou a droga…
Público, 17.5.2020

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PERGUNTA DE ALGIBEIRA (Cont.)

16.5.20

PERGUNTA DE ALGIBEIRA

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Há aqui qualquer coisa que merece reparo. O que é?

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15.5.20

TRATAM TODOS MAL E DEPOIS CHAMAM-LHES HERÓIS

Por Joaquim Letria 
Nunca pensei que a minha última crónica neste jornal acerca de médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de saúde pudesse despertar as reacções contraditórias que despertou. Há anos que defendo os profissionais de saúde. Por isso, se me dão licença, vou continuar. E se outros argumentos não tivesse, tenho um indesmentível.
Por mais duma vez salvaram-me a vida em hospitais públicos, sem saberem quem eu era nem eu saber em que mãos me metiam, quem me curava, quem de madrugada vinha ver como eu estava e ajudar-me, fosse em quartos, fosse em enfermaria. E isto não se paga, mas reconhece-se.
Nunca é demais recordar o número de anos que um médico ou um enfermeiro especialista têm de estudar para terem uma formação idónea e de confiança. Ninguém ignora os anos necessários até alcançarem uma experiência prática suficiente em qualquer das especialidades. Tudo isto deixou de ser reconhecido há décadas em grande parte como consequência do bloqueio político da progressão  das carreiras, muito em particular no caso dos profissionais hospitalares.
A verdade é que a formação e experiência de todos eles é cada vez mais completa e melhor, na proporção inversa do reconhecimento das profissões de saúde que são premiadas com salários cada vez piores, assim como os benefícios secundários lhes são negados ou progressivamente reduzidos.
Curiosamente, apesar deste desgaste injusto que acompanha a dureza dos horários, das condições de trabalho e das situações clínicas, não encontramos os profissionais de saúde desmotivados ao ponto em que deviam estar, sabendo também eles que nem os sindicatos lhes servem para grande coisa. No fundo, são os doentes que dão sentido à sua vida e preenchem o seu dia a dia, ao mesmo tempo que os expõem às injustiças de que são vítimas. 
E se se investiga a origem dos fundos de solidariedade duma greve, como vergonhosamente aconteceu com os enfermeiros, saiba-se que também os médicos são fiscalizados ao enriquecerem a sua formação, cada vez mais complexa e dispendiosa. Eles têm de prestar contas por cada uma das acções de formação, suportadas quer pela indústria farmacêutica, quer pelos produtores de novos dispositivos médicos, e para as quais nem o Estado nem as estruturas hospitalares contribuem com um único euro.
No fundo, nestes últimos 20 anos, não houve a menor vontade política de dignificar estes funcionários do Estado, verdadeira alma do Serviço Nacional de Saúde, nem eles próprios lutaram o suficiente devido à sua real preocupação em não descuidar os doentes, apesar das condições verdadeiramente penosas que lhes são impostas.   
E agora, mesmo continuando a recusar-lhes o reconhecimento de terem uma profissão de risco, chamam-lhes heróis…
Publicado no Minho Digital

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14.5.20

No "Correio de Lagos" de Abr 20

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A Liberdade de expressão e os seus limites

Por C. B. Esperança
Quando se volatilizam direitos inalienáveis, não por regresso à ditadura ou por reflexo do estado de emergência, mas por medo do vírus que provocou a maior catástrofe das nossas vidas, urge refletir sobre os direitos que restam e a forma de readquirir os que suspendemos.
Apesar do equilíbrio precário entre deveres e direitos não podemos aceitar que o adágio popular “o meu direito termina onde começa o do outro” se converta em axioma. Basta a reprovação social para levar a constrangimentos inaceitáveis.
A moral é a ciência dos costumes e não um princípio universal para todas as épocas e culturas. As únicas restrições aceitáveis são as que o Código Penal de uma democracia impõe. Há divergências entre o crime e a moral. O adultério, v.g., é, na minha opinião, imoral, mas não é crime, e não esqueçamos que crimes como o incesto, a escravatura ou a tortura foram legais e considerados morais. Até a antropofagia! Ainda hoje, há países onde o adultério feminino e a homossexualidade são crimes graves, e a pedofilia, sob os auspícios do matrimónio, é legítima. Homens de 50 anos podem comprar e desposar crianças de 9 anos!
Se o facto de ferirmos preconceitos, convicções ou normas morais, individuais ou de grupo, limita o direito de expressão, privamo-nos dele. Sabemos que a defesa de uma ideologia fere quem perfilha a contrária, a defesa do clube desportivo ofende adeptos do clube adversário, a carne de porco e o álcool horrorizam mais de 20% da Humanidade, a defesa dos Direitos Humanos é abominada por metade dos homens, etc., etc.
Há um crime de sabor medieval que persiste no Código Penal português com pena ‘até um ano de prisão’, a blasfémia, sabendo-se que é blasfémia considerar os sacramentos placebo e inútil a liturgia, como já foi blasfémia defender o movimento de rotação da Terra ou a evolução das espécies. Felizmente, a jurisprudência portuguesa privilegia a liberdade de expressão.
Quem persuade islamitas a aceitarem direitos iguais para homens e mulheres ou hindus a abolirem a divisão em castas, a dessacralizar as vacas e a aceitarem que a viúva não se desonra por não se deixar cremar com o defunto ou por voltar a casar?
A homofobia, o racismo, a xenofobia e a misoginia já foram virtudes, hoje são crimes.
Quem explica aos judeus ultraortodoxos que o porco ou a beleza feminina não ofendem o deus deles e a muitos cristãos que os transplantes não são blasfemos?
Defendo o direito de injuriar o ateísmo, a social-democracia e a República, valores que perfilho, e o de satirizar as crenças, a monarquia e quaisquer outros modelos políticos, económicos ou religiosos. É o direito a combater ideias que defendo, não o de molestar pessoas que as perfilhem.
A defesa dos mortos, por mais criminosos que tivessem sido em vida, ou das tradições, por mais abjetas que sejam, é uma forma de condicionar o espírito crítico, de defender o imobilismo e castrar o livre-pensamento.
Sem direito ao contraditório, não há liberdade de expressão. Sem neutralidade do Estado, não há liberdade religiosa ou política.

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12.5.20

No "Correio de Lagos" de Abr 20

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11.5.20

A HISTÓRIA ENSINOU-NOS QUE QUEM FAZ A LÍNGUA É QUEM A FALA E ESCREVE

Por A. M. Galopim de Carvalho
Para o geógrafo ou para o geólogo o termo “arriba” designa os escarpados menos ou mais elevados, próprios de margens de rios muito encaixados (p. ex. no vale do Douro Internacional) ou de litorais catamórficos (forma erudita de dizer que estão expostos à erosão das vagas), observáveis em grandes extensões da Costa Vicentina ou nos Cabos Espichel, da Roca e Mondego.
Podemos encontrar este mesmo conceito referido pelo termo “falésia”. Acontece que ambos os termos podem ser lidos tanto em textos científicos como em outros pedagógicos, de divulgação ou de ficção.
Arriba e falésia são duas maneiras de dizer a mesma coisa. Arriba é uma palavra antiga que fomos buscar ao latim “ripa”. Falésia é um aportuguesamento relativamente recente da palavra francesa “falaise”. Autores há que, numa atitude purista da língua, repudiam este último termo, apodando-o de francesismo desnecessário.
O meu professor Carlos Teixeira (1910-1982), grande referência no engrandecimento e valorização da Geologia em Portugal, senhor de uma linguagem escrita sem intenções ou preocupações de estilo literário, mas impecavelmente correcta, repudiava liminarmente o vocábulo “falésia” e riscava-o, nos muitos textos dos seus alunos e colaboradores, entre os quais me contei, que pacientemente lia e corrigia, ensinando-nos a escrever em bom português.
Também o professor Orlando Ribeiro, geógrafo e humanista de craveira internacional, senhor de muitos saberes, que expunha numa linguagem falada e escrita de invulgar correcção e beleza, não raras vezes poética, que marcou a minha maneira de encarar as ciências da Terra, a um tempo, naturalista e cultural, rejeitava, igualmente, o termo “falésia”.
Acontece, porém, que na toponímia oficial, a par de designações como “Arribas do Douro”, no Parque Natural do mesmo nome, no distrito de Bragança, e “Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica”, conhecemos as de “Aldeia da Falésia” e “Praia da Falésia”, no Algarve.
Uma atitude idêntica destes mestres tinha lugar face aos vocábulos “barranco” e “ravina”, duas formas de referir os sulcos menos ou mais profundos escavados pelas enxurradas pluviais nas cabeceiras dos cursos de água. O mesmo se passando com os termos derivados “abarrancado” ou “ravinado” e “abarrancamento” ou “ravinamento”.
De origem pré-romana, barranco (ou barroca) é palavra popular autóctone adoptada no vocabulário geográfico e geológico. À semelhança de falésia, ravina entrou-nos por aportuguesamento do francês “ravin”, num testemunho da francofonia que foi tónica no nosso meio académico nos anos que antecederam o último quartel do século XX.
Neste período áureo da penetração da inteligência gaulesa na nossa vida cultural e científica, em particular no ensino superior e na investigação científica, a língua de Molière dominava nos compêndios e manuais de estudo. Porém, os anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) deram hegemonia ao inglês, situação que se tem vindo a acentuar com a globalização de múltiplos sectores da actividade dos povos deste planeta já referido por alguns por “aldeia global”. No léxico geológico assisti à invasão de vocábulos como riple, rifte, silte, gnaisse, grauvaque, loess, intertidal, e muitos outros, por aportuguesamento de termos anglo-saxónicos e, por falta de termos nacionais, à adopção pura e simples de termos estrangeiros, como “horst”, “graben”, “iceberg”, “tsunami”, “terra rossa”, “raña”, “palygorskite”, entre muitos outros.
Praticamente, todos os dias a nossa língua vê o seu léxico aumentado por via dos progressos científicos e tecnológicos. Eu próprio criei, em 1988, o neologismo “exomuseu” incluído na expressão “Exomuseu da Natureza”, designação ainda não oficial de uma estrutura museológica dispersa no território nacional, constituída por vários pólos situados onde quer que ocorram elementos considerados de interesse em termos de património natural, fazendo parte de um conjunto coordenado a partir de um ou mais centros com competências científica e pedagógica adequadas (uma Universidade, um Município, uma Fundação). Não constando ainda dos dicionários, o termo “exomuseu” existe nos protocolos assinados entre o Museu Nacional de História Natural e diversas autarquias.
A miscigenação cultural decorrente da facilidade e rapidez das comunicações na sociedade cada vez mais mundializada é outra via para o dito aumento.
Não prescindimos hoje de palavras da nossa vida corrente como, por exemplo, “evoluir”, “implementar” e “controlar”. E que dizer de “clicar” e outros termos hoje habituais na sociedade das novíssimas tecnologias e da informática?

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