30.4.20

Sérgio Moro – o candidato a PR

Por C. B. Esperança
Assistir ao branqueamento do ex-juiz e ministro de Bolsonaro nos média portugueses, como se fosse um cidadão virtuoso e democrata, é algo que arrepia.
Esqueceram que Temer, corrupto com fartas provas, deixou de ser perseguido após ter aderido ao golpe contra Dilma Rousseff, em proveito próprio e do gangue que assaltaria a presidência da República com Bolsonaro como líder.
Basta substituir um corrupto abrutalhado por um corrupto sofisticado para que tudo se mantenha igual num país onde as oligarquias não deixam perdurar a democracia se não estiver sob o seu domínio.
Parece esquecida a participação de Sérgio Moro, indivíduo sem escrúpulos nem pudor, na criação do ambiente que levou à destituição de Dilma; as escutas ilegais à PR feitas e divulgadas por ele para tornar aceitável na opinião pública o golpe da destituição sob o estranho pretexto das “pedaladas fiscais”; a sua recomendação de nomes de testemunhas aos procuradores para garantir condenações e promover-se a justiceiro do Lava-Jato.
Surpreende que não tenha procurado averiguar de onde partiu o plano para assassinar a vereadora Marielle Franco e é muito comprometedora a troca de mensagens divulgadas pelo Intercept em julho passado, mostrando que o coordenador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol temia que o ministro da Justiça Sérgio Moro, protegesse Flávio Bolsonaro para não desagradar ao PR e pôr em risco a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF), como tinha antecipado Jair Bolsonaro em maio de 2021. (Fonte)
A demissão de Moro deve-se à incapacidade do PR para compreender que o cerco ao filho Flávio deixara de depender dele quando a ordem de investigação partiu do STF.
Demitiu-se depois de ver gorada a indigitação para o STF, quando não pôde impedir a investigação contra Flávio, e vingou-se com as acusações que levaram o Tribunal que mandou investigar o filho a mandar investigar agora o PR, por ingerência na Polícia Federal, abrindo espaço para a sua candidatura à sucessão.
Sérgio Moro é outro Temer, mas faltou-lhe ser vice-presidente para ser o PR na queda próxima de Bolsonaro. Resta-lhe agora conspirar com o treino da Operação Lava Jato e esperar que não haja melhor candidato para os que, com a sua cumplicidade, levaram Bolsonaro a PR.
Convém lembrar que, quando era juiz do Lava Jato, em conferência no Estoril, chamou bandido a um arguido português, ex-PM, ainda sem acusação. A linguagem, digna de almocreve, é uma boçalidade, adequada a um jagunço do gangue Bolsonaro, e uma ofensa à Justiça portuguesa onde não há um único juiz capaz de apelidar dessa forma um cidadão brasileiro, mesmo depois de a condenação transitar em julgado.
Quem mente, conspira e corrompe, à semelhança de Temer, não pode ser branqueado.

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29.4.20

No "Correio de Lagos" de Abr 20

Em épocas de crise, como aquela que actualmente vivemos, vem ao de cima o melhor e o pior de cada um — e não é necessário dar exemplos, pois basta olhar à nossa volta. Ora, dentro das coisas boas que o Ser Humano tem (e que, por sinal, só ele possui), conta-se o senso-de-humor, não faltando, portanto, quem agora o exercite, em proveito de todos nós, ou, pelo menos, de quem o sabe apreciar.

E foi assim que, de entre as inúmeras anedotas, piadas, vídeos e fotomontagens que encontrámos, escolhemos esta que, tomando como base uma foto da Praia da Solaria, se integra no esforço dos lacobrigenses para convencer os “forasteiros” a não virem para cá nesta altura, sem necessidade de os insultar como, infelizmente, por aí vemos. O seu autor (que não conseguimos, a tempo, saber quem é) está de parabéns pela qualidade, humor e oportunidade do “achado”, que não precisa de legendas — a menos que a Lacoste se quisesse associar à campanha do “fique em casa”...

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O Oito e o Oitenta

À esquerda: autoestrada de Los Angeles.
À direita: petroleiros ancorados, na Califórnia, sem poderem descarregar o crude.

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28.4.20

Limpe as nossas praias...

Há algum tempo, divulguei o cartaz da esquerda, cuja autoria estava a crédito da "região de turismo do algarve" (sim, com minúscula), onde, pelo que se percebe, se recomendava que se varresse o lixo para o mar.
Quanto ao da direita, não sei quem o fez, mas talvez ilustre bem a ideia de ter (e manter) as nossas praias desertas, pelo menos até 1 de Junho.

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26.4.20

Grande Angular - Porque deles é o reino dos céus…

Por António Barreto
As polémicas nacionais atingem por vezes graus inesperados de empenho irracional. É o tom das grandes emoções. É impressionante a fúria dos ataques às comemorações do 25 de Abril! Correm petições a exigir a demissão de Ferro Rodrigues. Reclama-se a destituição do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa! Já se sugere a realização de novas eleições, porque os deputados não respeitariam a vontade dos eleitores. Os argumentos são delicados como vetusta artilharia. Não se comemora a Páscoa, não se reza ao domingo, não se acompanham os mortos ao cemitério, não há casamentos nem baptizados, nem sequer se celebra o dia da Pátria, o dia de Camões… Mas há políticos a festejar Abril, a festejarem-se a si próprios e a proteger os seus privilégios! Nunca se viu um tal desplante dos comunistas e dos maçons! Passados perto de cinquenta anos, quase meio século, meu Deus, ainda há quem queira marcar aquela data, quem a considere superior à crença religiosa, ao amor de família, às festas da pátria…
Mas também é perturbador, cinquenta anos depois de fundada a democracia, em plena pandemia que mata três dezenas de pessoas por dia, ao mesmo tempo que a vida social está suspensa, este absurdo que é o de ver todos os órgãos do Estado, os seus partidos e as suas instituições, comemorarem, em romagem de saudade ou romaria festiva, a revolução de 25 de Abril! A lembrar os anciãos do 5 de Outubro ou os decrépitos do 28 de Maio! Fechadas as escolas, proibida a circulação de um concelho para o outro, interdito o enterro dos mortos, afastados os passeios dos jardins, limitados os giros de cães, silenciadas as missas, cerrados os bares e impedidos os circos, mas aberto o Parlamento numa incompreensível cerimónia que não honra ninguém!
Os insultos trocados e que variam entre fascistas, comunistas, maçónicos e beatos, fazem tremer os pilares da República! Revolucionários crentes e destemidos defendem, com ar seráfico, a necessidade de respeitar os rituais celebrativos da democracia! Liberais exigem a proibição das comemorações! Conservadores vituperam as cerimónias de culto da memória! Esquerda e direita acusam-se de crimes de lesa-pátria ou de atentado contra a liberdade. Verdade é que a tolice e a inutilidade destas celebrações só são comparáveis à histeria daqueles que as atacam. As comemorações em miniatura e com cenografia de afastamento social são tão ridículas que não deveriam despertar mais do que desdém e piedade. Mas não! Acordaram verdadeiras iras democráticas e republicanas! E Ferro Rodrigues foi transformado em temerário defensor da democracia por uns, monstro jacobino por outros.
Mais uma vez, vivemos dentro daqueles círculos de fogo onde não se consegue pensar diferente dos fanáticos, meditar com inteligência fora das labaredas assassinas, nem tentar compreender longe das hordas dos pensadores oficiosos. E, tal como antigamente, só há dois campos, o da democracia ou o do fascismo. O da revolução ou o da reacção. Forçam-se pessoas, sob pesado opróbrio público e debaixo de fortíssima condenação moral, a tomar partido, a garantir que se está do lado da Pátria ou da Liberdade!
É espectáculo inesperado ver socialistas e comunistas, verdadeiros bolchevistas, reclamar o direito de levar a cabo a liturgia democrática e o dever da República de realizar as comemorações celebrativas, enquanto Republicanos jacobinos criticam a operação com veemência! Recordar antigos revolucionários que, em seu tempo, consideravam os republicanos das romagens do 5 de Outubro uns patetas impotentes que pouco mais valiam do que discursos vácuos e ramos de flores nos cemitérios… Vê-los hoje a exigir celebração dá vontade de sorrir… Recordar Republicanos maçónicos que, durante décadas, nunca falhavam as romagens da República e vê-los agora a considerar de mau gosto umas pindéricas festas do 25 de Abril provoca estupefacção!
Ver e ouvir conservadores, nacionalistas, liberais e democratas de direita aproveitar a pandemia para finalmente se exprimirem contra a democracia, o Parlamento, a Assembleia da República e os seus deputados, mas em nome da decência e da liberdade, é quase cómico.
E, no entanto, é tudo tão simples… As comemorações do 25 de Abril são obsoletas. Mas são inocentes e não prejudicam ninguém, a não ser a democracia. As celebrações do 25 de Abril em plena quarentena são absurdas. Mas inofensivas, a não ser para quem lá for sem protecção profilática. Criticar seriamente estas festividades é perda de tempo e desperdiçar argumentos.
Esta polémica tem revelado o pior do ambiente em que vivemos. Assim como as dimensões mais sombrias da democracia que temos. Um projecto inconsequente obrigou pessoas e instituições a tomar posição com ar desassombrado e solene. Os políticos pensam que agredir a população é a melhor maneira de salvar a política. Os democratas sentem-se no dever de recordar aos cidadãos que eles são os proprietários. Os Jacobinos repetem os mesmos erros de sempre, fecham as portas, protegem as suas hostes, expulsam os liberais e os conservadores, mandam calar os oposicionistas, insultam as vozes livres.
Os democratas de consciência pesada entendem que não podem deixar de tomar partido, sob pena de serem considerados fascistas. Socialistas e comunistas entendem que este é o momento de cerrar fileiras por um novo bloco histórico de esquerda, mesmo que tenham de se aliar com simples democratas e republicanos filhos de Portugueses honrados! Ateus defendem as cerimónias de Páscoa, ora silenciadas, argumento bom para criticar a excepção aberta para estas tristes festas de Abril. Arruaceiros por inclinação, os populistas de esquerda revelam uma propensão inesperada para o bom comportamento institucional.
Realizar as comemorações do 25 de Abril em quarentena, depois de proibir funerais e baptizados, aulas e cinemas, missas e jantares, concertos e velórios, é simplesmente ridículo, revela políticos inseguros, pobres diabos novos ricos da política… Criticar a sua realização com fúria redentora e hordas de cavaleiros da virtude e aproveitar para desencadear uma operação de limpeza moral é tão caricato quanto levar a cabo cerimónia tão patética.
O reino dos céus espera por ambos…
Público, 26.4.2020

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25.4.20

Isto tem algum jeito?!

Acompanhado por umas quantas "personalidades" civis e militares e com as câmaras de TV atrás (e à frente...), Marcelo distribui comida a sem-abrigo. "Vergonha alheia" deve ser isto que sinto.

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DE SAUDAR!!

25 Abr 20 - 10 h
25 Abr 20 - 21h
Depois de reiterados protestos (no Facebook e no "Correio de Lagos", em 2016, 17, 18 e 19), é com MUITA satisfação que vejo que o monumento a Salgueiro Maia recebeu, finalmente, a atenção merecida:
Foi limpo, tem dois projectores novos e uma coroa de flores não assinada.
(Não me venham com o "Mais vale tarde do que nunca", pois embirro com a frase).

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24.4.20

Há, pelo menos, quatro categorias de gralhas

Por Joaquim Letria
As primeiras são as que se subtraem ao bom critério de quem lê, mas que carecem de importância ainda que molestem a vista. As segundas são as que trocam uma palavra por outra, correcta em si mesma, que são as mais perigosas porque podem induzir a desorientações e a alguns erros. As terceiras são aquelas gralhas que inventam uma palavra e são capazes de confundir filólogos e outros estudiosos da língua. Por fim, as quartas, que são aquelas que levam o ouvido a confundir duas noções diferentes, muito utilizadas nos meios audiovisuais e outros propagadores da cacofonia.
As primeiras são muito cordatas. Escrever, por exemplo, “choclate” em vez de chocolate , numa frase em que se refere o pequeno almoço com torradas, manteiga e geleia de laranja.
As segundas podem ser incómodas, uma vez que a leitura parece correcta. Por  exemplo, falar do open do pénis da Austrália em vez do desporto da Navratilova e do Federer.
Das terceiras dei uma vez notícia delas quando uma aluna minha leu um texto meu e me perguntou o meu propósito quando ali escrevi que “comer uma maca por dia mantém o médico à distância”. Só nesse momento conheci que tinha uma gralha no  texto e pude então esclarecer que onde o tipógrafo por lapso escrevera “maca” se devia ler maçã, o que fazia sentido e correspondia à correcta tradução do provérbio inglês que nos ensina que uma “apple a day keeps the doctor away”.
Quanto à quarta categoria de gralhas, todos nós temos experiência constante e surge com frequência nos actos solenes e nos rodapés dos noticiários dos audiovisuais e podem não ser mais do que  transcrições fonéticas da errónea conjunção copulativa “e” com o adjectivo “responsável”, tomando-se por certo o insulto que atinge o “experiente e responsável político” ao lhe chamar “experiente irresponsável”. Mas não faz mal. Desde que temos este acordo ortográfico já não se sabe bem o que se escreve, o que se lê e o que está certo. Por isso, há que manter sempre um sorriso e não lhes dar grande importância.
Publicado no Minho Digital

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23.4.20

DGS — Uma sigla, pelos vistos, muito apropriada

A famosa frase «Quem troca LIBERDADE por SEGURANÇA não merece uma nem outra» — é bonita, soa bem, mas... qual é o animal que não faz essa troca se for para escapar de um perigo grande ou, no limite, salvar a vida?
E será o Ser Humano excepção?

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O leão, o coxo e o coronavírus

Por C. B. Esperança
Todos conhecem histórias da evasão do leão, da jaula do circo, e as reações de quem assistia ao espetáculo, desde a do espetador sentado no meio de duas tábuas soltas e que deixou levantar os outros, antes de ser entalado por uma parte anatómica sensível, e, na pungente castração traumática, clamava a gemer, não fujam…, o bicho é manso…

Ou a do coxo, que viu o leão a forçar as grades para se evadir, com a multidão em fuga, antes da solidariedade com que, de longe, já sem perigo, gritava: o coxo…, o coxo…, e ele a mancar, a arrastar-se penosamente e a gritar, o coxo…, o coxo…, o diabo!, o leão é que escolhe…

Lembrei-me desta segunda história durante os noticiários terroristas com que procuram alarmar-me os canais televisivos que andam desolados com o baixo número de vítimas e que exultaram com um compatriota infetado num paquete, nas costas do Japão, a salvar a honra do provincianismo luso e fizeram dele herói nacional, recebido em apoteose, no regresso, por ser a primeira vítima da COVID- 19. Um feito histórico!

Ainda agora, face ao entusiasmo com que anunciam a nova marca diária, numa espécie de competição para chegar à meta, e ao gáudio com que referem as percentagens mais elevadas de letalidade entre os mais velhos, eu sorrio, do alto dos meus 77 anos…

…os mais velhos, um raio, o coronavírus é que escolhe 😊
😉 
Ponte Europa / Sorumbático

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22.4.20

Alguém me ajuda?


Numa altura em que o número de infectados pela Covid-19 já ultrapassou os 20 mil, revejo este mapa, publicado pela "Visão".
Confesso que não percebo muito bem — nem o optimismo em título, nem as datas, nem os valores nele indicados.

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21.4.20

O GRANITO NA GEOLOGIA E NA CULTURA PORTUGUESAS

Citânia de Briteiros

Torre dos Clérigos
Por A. M. Galopim de Carvalho
Comecemos por dizer que a palavra granito (termo que alude à textura granular da rocha) surgiu em Itália, em 1596, introduzida por Andrea Caesalpino (1519-1603), radica no latim granum, que significa grão.
Praticamente, não há quem, entre nós, não conheça o granito. Grande número de portugueses ainda dizem que é uma rocha formada por quartzo, feldspato e mica e a maioria dos nossos rapazes e raparigas saem da escola a saberem que é uma rocha magmática plutónica e um pouco mais, equipados com uma informação estereotipada e acrítica, simplesmente memorizada para vencerem a fasquia do exame final, fruto de um conjunto de deficiências que, desde sempre, venho denunciando.
Estou aqui a falar de granito “lato sensu”, isto é, no seu sentido mais amplo, ou seja, o conjunto das rochas afins do verdadeiro granito tal como os petrógrafos o definem (aquele em que o feldspato é essencialmente sódico (albite) ou potássico (ortóclase ou microclina)). Com efeito, são várias as rochas a que o vulgo chama granito (pois que em amostra de mão e sem recurso a equipamentos adequados, como é, por exemplo o microscópio petrográfico) e que diferem do dito verdadeiro, em especial, na natureza mais cálcica dos feldspatos, aqui designados por plagióclases. Os petrógrafos chamam-lhe granitóides (semelhantes a granito) e entre eles deixo aqui para quem quiser saber, uma breve referência a dois deles.
O granodiorito diferente do granito apenas por ser mais pobre em silício, potássio e sódio, e mais rico em cálcio, ferro de magnésio. Assim, pode ter ou não feldspato potássico (microclina e/ou ortoclase), mas tem sempre uma plagióclase ligeiramente cálcica (oligóclase). Como minerais escuros (ferromagnesianos) contêm geralmente biotite e/ou horneblenda.
O quartzodiorito difere do granito porque contém menos quartzo (menos de 10%, contra os 20 a 40% do granito) e uma plagioclase um pouco mais cálcica (andesina). Como mineral escuro e horneblenda é mais frequente que a biotite.
Posto este esclarecimento, podemos dizer que o granito “lato sensu” é a rocha predominante na crosta continental, ou dito de outra maneira, na ossatura do substrato rochoso dos condimente (em oposição ao basalto “lato sensu” que assume essa predominância no substrato rochoso dos fundos oceânicos). Portugal continental não é excepção. Com efeito o granito abunda no nosso país, em especial, no Minho. Trás-os-Montes e nas Beiras tendo ainda larga reperentação no Alto Alentejo.
São desta rocha as velhas muralhas, os muros e as paredes de pedra solta (em choças) de muitos castros e povoados surgidos por volta de 1200 anos a.C., com a penetração do território nacional pela civilização Celta, num período, grosso modo, coincidente com a Idade do Ferro. São desta época as frustes representações escultóricas em granito, conhecidas entre nós por “porcas”, como a Porca de Murça, abundantes no Norte do país. Da mesma rocha foi talhada a estátua do Basto, de Celorico de Basto, datada do século I a.C.
Durante os cerca de cinco séculos de ocupação romana, os hábeis arquitectos e construtores, aperfeiçoados nessa importante e vasta civilização, usaram o granito no levantamento de muralhas, empedramento de estradas, construção de pontes, talhe de cantarias urbanas que resistiram ao tempo, e que hoje, volvidos mais de dois mil anos se converteram em conhecidos pólos de atracção turística.
Na Idade Média, muitos dos castelos árabes e das igrejas e catedrais românicas e góticas do Centro e Norte de Portugal tiveram no granito aparelhado, a pedra por excelência. Do mesmo modo, este foi a pedra de cantaria da construção civil urbana e rural, abundante e característica desta grande região do país. Durante o Renascimento, o ponteiro e o cinzel de escultores continuaram a dar forma ao granito, sendo de destacar, como exemplo destas artes e deste tempo, a notável Igreja da Graça, em Évora, fundada em 1511, com projecto do arquitecto da Casa Real Miguel de Arruda. No Porto, a arquitectura religiosa, desde a Sé, da primeira metade do século XII, às igrejas barrocas, com destaque para a Igreja e Torre dos Clérigos, do arquitecto italiano Nicolau Nasoni (1691-1773), fez uso do granito, a rocha que constitui o subsolo local e que caracteriza a monumentalidade da capital do Norte. 

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19.4.20

Grande Angular - Purificação

Por António Barreto
Tanta gente quer aproveitar a pandemia para ajustar contas! Os argumentos parecem suspiros. Uns dizem com ar compenetrado “Nada ficará como dantes!”, após o que os optimistas mostram como se deve aproveitar para mudar a sociedade e corrigir defeitos, enquanto os cépticos, além do desemprego, antecipam perda de direitos, regresso da censura, aumento da exploração, explosão da dívida e crescimento da desigualdade. Os mais políticos garantem que “é necessário corrigir políticas a fim de evitar outras crises”.
Assim é que não faltam os que querem aproveitar a oportunidade. Uns consideram que é a altura ideal para acabar com o capitalismo. Dado que o Estado tem obrigatoriamente de intervir, depois de resolvidos os problemas, fica por lá e nacionaliza empresas: a TAP, por exemplo, a EDP, a GALP, os bancos e outras. Não se admite, dizem, que o Estado tome conta quando há problemas e saia quando estes estão resolvidos. Como a economia não é tudo, a mesma decisão de centralização assegura o exclusivo do Estado na saúde e a educação. Hospitais e escolas devem ser nacionalizados o mais rapidamente possível, só assim se põe termo à evidente desigualdade de tratamento durante a epidemia.
Por via do comércio de produtos farmacêuticos, de desinfectante, de máscaras, de luvas e de viseiras, esta crise revelou a necessidade absoluta de reexaminar o funcionamento da economia desses sectores: muitos defendem com convicção a necessidade imperiosa de os nacionalizar imediatamente.
Outros afirmam que é o momento adequado para acabar com o racismo. Durante a pandemia, todos têm de ser tratados por igual, o que faz com que os dispositivos de discriminação positiva fiquem em vigor por longos anos. No mesmo ímpeto, os estatutos dos estrangeiros, as autorizações de residência, as portas abertas aos pedidos de refúgio e uma atitude tolerante relativamente à imigração devem entrar imediatamente em vigor.
Outras espécies de cidadãos julgam ter bem percebido a origem da pandemia. É evidentemente do estrangeiro que vem, foi na China que tudo começou e é através das migrações que o contágio se processa. Não restam dúvidas: travão a fundo na imigração e proibição de residência a Asiáticos e Africanos. Há mesmo quem inclua Judeus e Muçulmanos nesta lista de perigos. Segundo estes preclaros defensores da portugalidade, a Nação e a Europa estão em perigo. Salvar uma e outra implica fechar portas e impedir mestiçagens.
Depois há os que querem acabar com a União Europeia. A falta de solidariedade entre europeus, a ausência de um poder democrático e eficiente, o império da Alemanha e das grandes empresas privadas, a influência das maçonarias e os novos costumes fazem com que o “projecto europeu” se tenha transformado num mau serviço prestado aos cidadãos.
Não escondendo um oportunismo de gigantescas proporções, os planeadores e os engenheiros de almas e de sociedades não disfarçam as suas ambições de melhorar radicalmente o mundo em que vivemos. Assim, aproveitar a crise e a emergência para reforçar o poder do Estado, acabar com a desordem urbana, liquidar os excessos de consumo e de lucros são condições para um futuro melhor.
Os partidários de uma racionalidade bem diferente, amigos declarados da autoridade e defensores de uma cuidadosa vigilância, consideram urgente controlar os cidadãos, combater os excessos de defesa da privacidade, registar os movimentos de cada um, vigiar as redes sociais, gravar conversas e seguir os passos de todos: só assim se conseguirá evitar mais contágio e novas epidemias. É urgente, dizem, aproveitar esta oportunidade.
Os pensadores mais abstractos e seguramente mais ameaçadores elevam o tom do debate e consideram, todos os dias nas páginas dos jornais e nos ecrãs de televisão, que é urgente mudar o modelo de sociedade, substituir os valores vigentes e alterar os padrões de consumo. Para esses visionários, só nos salva um novo paradigma de relações sociais e de hábitos! É este o momento!
Infelizmente, em muitos aspectos, as condições excepcionais da pandemia em nada alteraram os debates tradicionais. Os simpatizantes da esquerda apoiam tudo o que for aumento do Estado e eliminação do que seja privado. Os simpatizantes da direita… vice-versa! É um confronto de posições adquiridas, não é um debate político. É um confronto que serve para contar partidários, não para elaborar ideias.
É verdade que da situação actual podem resultar perigos e ameaças. Direitos dos cidadãos ameaçados. Privacidade violada. Trabalho sem protecção. Despotismo dos poderosos no Estado ou na empresa. E mais… Mas não tenhamos dúvida de que grandes perigos vêm dos que querem salvar a humanidade, mudar paradigmas e substituir modelos de sociedade. São esses engenheiros, por ninguém mandatados, intelectuais de boulevard ou da favela, que inventam sociedades e transformam a crise em alavanca. Para eles, a miséria é purificadora e precede o renascimento. A história e a mitologia estão cheias desses momentos de redenção. O mais famoso talvez seja o Dilúvio, inundação planetária contada nos livros do Génesis ou nos Puranas hindus. As Pragas do Egipto, contadas no Êxodo, são outra forma de castigo. A peste, Negra ou Bubónica, faz parte do mesmo rol. Muitas outras catástrofes, inundações, fomes, terramotos, vulcões e grandes incêndios marcaram, ao longo dos séculos, a história dos povos. Muitas atingem números inimagináveis de dezenas de milhões de mortos! Sem falar noutras desgraças, como a varíola, a tuberculose, o SIDA e o sarampo cuja acção fatal se prolonga por vários anos ou décadas.
Como é sabido, grandes pragas ou desastres podem transformar-se depois em pretextos para esclarecer o poder. O nosso Marquês de Pombal é um exemplo, real ou mitológico, de como é possível aproveitar um desastre para estabelecer um ditador.
Tal como os que desejam aproveitar as catástrofes, também os belicistas defensores do apuramento da humanidade repetem a ideia de que é necessária uma guerra para purificar. Porque há gente a mais. Porque há fome. Porque há declínio das sociedades com costumes degradados. Perante estes desenvolvimentos, uma nova guerra poderia fazer jeito. Reduziria as bocas e diminuiria a pressão dos estrangeiros.
A ideia central destas reflexões é a de que uma guerra purifica. Partindo do princípio de que morrem os maus e ficam os bons. Com a pandemia actual, não andamos muito longe desses devaneios. É impressionante o número de pessoas que esperam que uma catástrofe seja a oportunidade para resolver problemas. Eles não sabem o que dizem… 
Público, 19.4.2020

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18.4.20

Numa cidade cuja Câmara Municipal tem maioria absoluta do PS...

No 30.º Aniversário do 25 de Abril, a CML inaugurou este monumento a Salgueiro Maia, na rua com o seu nome, sendo o pedestal e o correspondente busto iluminados por dois holofotes. 
E estaria tudo muito bem, se não se desse o caso de, a certa altura, o da direita (muito apropriadamente...) ter sido desligado, pois alguém resolveu aplicar, ali, o chamado «Plano de Contenção Energética» — como se podia ler no autocolante de que, por sinal, ainda lá há vestígios. 
Portanto, quando, mais tarde, a outra lâmpada se fundiu, o Dia da Liberdade foi comemorado da forma que a foto da esquerda mostra. 
Este ano, no 45.º aniversário da mesma data, o monumento apresentava o aspecto que aqui se documenta, voltando a receber apenas luz da esquerda — e, nesse aspecto, não há nada a dizer, pois assim é que “bate tudo certo”... 
Quanto aos cravos vermelhos que se vêem junto ao busto, eles foram ali colocados por um anónimo, por contraponto às coroas de flores que, em Lagos, estão reservadas para a estátua do Infante — que, essa sim, tem sempre direito, a 13 de Novembro, a reportagem e fotos para a posteridade. 
Apesar de tudo, e pelo que conhecemos do generoso herói, achamos que ele preferiria ficar assim — discreto, fora das luzes da ribalta, e, claro, bem longe daqueles que são o oposto de tudo o que ele foi e representou. 
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NOTA: julgamos que não teria encarecido a obra colocar o par de datas 1944-1992 que, aliás, é o mínimo que se exige num monumento destes.
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Este texto foi publicado no Correio de Lagos em Maio do ANO PASSADO. Será que ainda vai estar actual no mês que vem?
Entretanto, as flores artificiais ainda lá continuam, metidas num garrafão de plástico (que de vez em quando cai), e os cravos murcharam e sumiram há muito. Mas está tudo perfeitamente de acordo "com o resto".

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17.4.20

A VERGONHOSA SURPRESA DA HEMODIÁLISE DE VIANA



Por Joaquim Letria
O principal atributo dum jornal é surpreender os seus leitores, evidentemente para além de ser bem escrito, ter uma apresentação atractiva através dum grafismo apelativo, e ter um grande equilíbrio entre a opinião e a informação, susceptível de informar, formar e entreter o público a que se destina e a sociedade em geral.
Foi isto que me ensinaram, ainda muito jovem, e que eu sempre procurei fazer em todos os meios por onde passei, dos jornais às revistas, rádio e TV. Em todos os jornais que comecei, informar surpreendendo era a preocupação máxima. Foi assim com o Expresso, o semanário “O Jornal” (hoje revista Visão) e com o Tal & Qual, jornal de papel com que resisti à censura dum programa de TV, mais tarde assassinado para satisfazer o “downsizing” (como agora se diz) do grupo dirigido por analfabetos que acabou a liquidar os maiores títulos da Imprensa portuguesa, a ponto do centenário “Diário de Notícias” desmentir o seu próprio cabeçalho ao ser publicado e posto nas bancas uma única vez por semana…
As surpresas dos jornais podem ser desagradáveis e agradáveis. Geralmente são desagradáveis. Jornais há que são tão desagradáveis que se a gente os espremer deitam sangue. Jornais há, como também sabemos, que vivem disso…
O Minho Digital, dirigido por um grande jornalista que muito admiro e respeito, vive da informação séria e duma panóplia de opiniões de diversos colaboradores livres. Também o MD tem essa capacidade única dos grandes jornais de surpreender os seus leitores. Foi assim com o assassínio do prédio Coutinho, foi esta semana com a denúncia do vergonhoso escândalo da hemodiálise em Viana do Castelo.
Como é possível vermos sem nos indignar as fotos dumas instalações dignas e capazes dum serviço de saúde, sem uso há três anos e ainda por inaugurar, e olharmos para as fotos do amontoado dos pobres doentes que têm de fazer hemodiálise, sem que os façam respeitar as distâncias que as precauções a que o COVID19 obrigam e as condições em que o pessoal clínico que ali os assiste no exíguo quão perigoso espaço cedido provisória mas perigosamente pela ULSAM (Unidade Local de Saúde do Alto Minho)
São 72 doentes que a hemodiálise ali amontoa com o credo na boca, perante a impotência da NEFROSERVE (empresa concessionária que ali investiu) . Oxalá se não contaminem nem nenhum daqueles técnicos, enfermeiros e médicos se infectem. Porque se isso acontecer os culpados que poderão ser apontados a dedo são os senhores da ERS (Entidade Reguladora de Saúde), da ULSAM, da ARSN, da ACSS e da DGS. Esta última, que eu saiba, depende da senhora ministra da saúde que, ao que parece, o melhor que faz é aparecer em conferências de imprensa apesar de não se lhe reconhecer credibilidade nem muito jeito para isso.
Publicado no Minho Digital

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16.4.20

COVID- 19 – Que fazer no dia seguinte?

Por C. B. Esperança

Por maior que seja a incerteza quanto à data do dia seguinte e à tranquilidade possível, há na catástrofe natural que nos flagela, razões para reflexão e para os cientistas de áreas variadas ajudarem os governos a planear o futuro no único Planeta que nos coube.
Pode faltar outra chance para ponderar o modelo de sociedade e preservar as conquistas civilizacionais face ao aquecimento global e escassez de recursos. Respeitar o ambiente, reduzir o consumo, conter a explosão demográfica e combater a fome e a doença, são as obrigações mais imediatas. Esta pandemia e a sua provável e incerta repetição, com uma bactéria ou outro vírus, demonstram que as fronteiras são acidentes precários no mundo global, para o bem e para o mal.
Pode não se fazer ideia do que é possível fazer, mas há certezas de erros que não devem ser repetidos. O trabalho e os rendimentos serão bens cada vez mais escassos e que urge repartir, para que as desigualdades obscenas entre países e, dentro destes, entre cidadãos não conservem níveis de injustiça a que o neoliberalismo condenou milhares de milhões de pessoas.
A guerra não é uma fatalidade, é uma fonte de riqueza para alguns e de sofrimento para multidões, que urge erradicar. Os arsenais nucleares são inúteis, perante as catástrofes, e obsoletos os mísseis para lhes porem termo.
É preciso ser demasiado ingénuo ou excessivamente crédulo para imaginar que a brutal destruição de bens, de postos de trabalho, do tecido económico e perturbação social não terão reflexos no bem-estar de cada um, num mundo empobrecido onde a satisfação das necessidades básicas se tornará o alvo principal a atingir.
Só o medo da perda da vida pode levar os avarentos a prescindir do supérfluo, e nunca mais deixará de ser o Estado, a nível nacional, regional ou global, a obrigar-se definir as regras pela quais todos teremos de nos pautar.
Apavora a possibilidade de um Estado totalitário substituir democracias pluripartidárias, e uma civilização alheia à matriz greco/romana e iluminista impor-se  à Europa e a nível global.
Ponte Europa / Sorumbático

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15.4.20

PERGUNTA DE ALGIBEIRA

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Sabendo que se fosse 100% menos seria zero, quanto será 300% menos mortos? 
Serão nascimentos?! Ou ressurreições, porventura aproveitando a época da Páscoa?

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EUTANÁSIA AO DOMICÍLIO

A IDEIA de enclausurar os velhos até haver uma vacina para a Covid-19 (que, como no caso da SIDA, pode nunca chegar a existir) tem uma nuance que explica a calma que por aí vai:
É que ainda ninguém disse claramente qual a idade ( X ) a partir da qual se é considerado VELHO (IDOSO é um eufemismo mais simpático). 

Será 65 anos? 70?
As pessoas, em geral e no fundo, se calhar até concordam... mas desde que não sejam abrangidas. 
E é esse o "xis" da questão.
Se o X for muito elevado, os abrangidos serão menos, e pouco dados a revoltas, até porque não terão voz, muito menos nas redes sociais, que é onde se decidem as opiniões e as revoltas do nosso tempo.

NOTA 1 - A idade de reforma actual é 66,5 anos, e vai continuar a aumentar. Assim, se se considerar que idoso é quem tem mais de 65 anos, essas pessoas vão para casa em tele-trabalho durante 18 meses (incluindo canalizadores, jardineiros e dentistas)?
NOTA 2 - Se se considerar que idoso é quem tem mais de 70 anos, vou ter como parceiros de prisão Marcelo Rebelo de Sousa, Joaquim Letria, Galopim de Carvalho, António Barreto, Carlos B. Esperança, etc  (com muito prazer).
Quanto a Ferro Rodrigues, que também fará parte da equipa, não me pronuncio.

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14.4.20

Sim, mentir para quê?

Tem sido muito comentada a discrepância entre o número de infectados divulgado pelo governo e o divulgado pelas autarquias, sendo a ideia generalizada que o número real é o apresentado por estas, e sempre maior do que o oficial.

Pois bem; nem sempre é assim, pois conheço um caso concreto em que se passou o oposto:
Apesar de saber que o número oficial estava correcto (ou até pecava por defeito), o autarca veio a público dizer que não era verdade, e que o real era... MENOR!
Para azar dele, o número em causa não era muito grande, e os infectados REAIS eram conhecidos.
Porque mentiu, então? Não se sabe. Talvez para tentar passar a mensagem de que "cá na terrinha somos exemplares!"...

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13.4.20

O "CONDOMÍNIO"


TAL COMO muitas outras terras, Lagos também teve a sua própria Gafaria (de "gafo", "leproso"), um local “reservado”, fora das muralhas, onde os leprosos, devidamente isolados do resto da sociedade, ficavam até morrer. Ali perto, e muito apropriadamente, existia o respectivo cemitério, cujas ruínas ainda são visíveis junto do Parque de Estacionamento do Anel Verde. 
Está tudo preparado, portanto, para uma nova edição: a segregação dos mais velhos até à descoberta de uma vacina para a Covid-19. 
Vamos ver qual será o critério. Se, como tudo indica, "idoso" for "quem tiver mais de x anos de idade", então apenas será preciso decidir qual o valor de "x" — e, de passagem, não deixar escapar os que fazem "x anos" entretanto. 
Dar-lhes-emos os Parabéns?

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Sugestão

Em princípio, os que, de carro, furaram o "bloqueio pascal" para rumar ao Algarve vão regressar em breve às suas residências — pelo menos, a maioria assim fará. Seria muito interessante, pois, uma nova operação STOP para, desta vez, perguntar: "Desculpe... Só por curiosidade... Pode dizer-nos de onde vem?". 
NOTA: Isso não teria de ser, necessariamente, no local da foto, pois seria preciso não infernizar a vida das pessoas que moram na margem sul e que trabalham em Lisboa (e que, mesmo nesta fase, são alguns milhares) — e não faltam bons locais, mais a sul, em praças de portagem ou outros.

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12.4.20

E esta, hein?!

Isto é tão absurdo que parece ser falso. Mas não é, a senhora é conhecida; sabe-se quem é, e até onde tem casa. 
De qualquer forma, tem a vantagem de mostrar claramente o que pensam os milhares de pessoas que, nestes dias, vieram até aqui, ao Algarve. Estou à janela, e os turistas são uns a seguir aos outros.

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Grande Angular - As cidades mortas

Por António Barreto
Em tempos difíceis, ouvem-se frases inesperadas e lêem-se pensamentos surpreendentes. Entre estes últimos, um dos mais espantosos diz respeito às cidades. Ao estado em que se encontram. Desertas! Silenciosas. Sem turistas. Sem movimento. Sem ruído. Sem buzinas. Sem poluição. Há quem diga explicitamente “Ai que bom! Deveria ser sempre assim”. Ou então “Assim é que a cidade é bonita e dá vontade de viver!”. Há quem pense e quem diga a sério que as cidades não deveriam receber mais turistas (pelo menos tantos…), nem cruzeiros (se fossem menos…), nem estrangeiros (a não ser os que se portam bem…). E também não deveria haver automóveis (a não ser os nossos…). Nem autocarros ou aviões por cima das cabeças. Há quem pense que o exemplo das cidades durante a epidemia deveria ser uma lição e levar as autoridades a fazer com que as cidades, depois, um dia, fossem mais ou menos o que são hoje: quase desertas. Ou com a beleza do silêncio dos cemitérios.
Tanto disparate! Sabe-se que a morte pode ser fotogénica e que a dor dos outros pode ser atraente. Mas daí a estabelecer a beleza destas cidades mortas vai um passo que roça a loucura ou a tolice. Pode haver sossego em cidades silenciosas e ruas vazias, com comércios fechados e sem passeantes? Pode haver paz em cidades sem vida, sem cheiro, sem ruído de fundo e sem agitação? Pode haver alegria em cidades sem urbano, cidades sem conversa e sem intriga, cidades sem correrias, sem atrasos, sem reuniões, sem idas para o trabalho, sem escolas, sem crianças e sem sirenes de ambulâncias? Pode haver cidades sem polícias e ladrões?
As cidades desta epidemia são cidades sem vida, paradas no tempo, sem alegria, são cidades cemitérios. São cidades depois da bomba de neutrões que poupa as coisas, mas mata os seres humanos e os animais. As cidades com vida são grandes criações humanas, quase obras de arte, mas sem dúvida obras de génios, do génio de planeadores e de génios de milhares de indivíduos e de milhões de decisões que, sem plano, convergem e criam. A cidade é um dos cumes da criação social. É na cidade que existe cultura, igualdade, democracia, discussão e tolerância. Sabemos que também pode haver crime, roubo, doença, acidente, mas tudo isso é nada comparado com a liberdade e a criação que a cidade nos dá. Nem com a alegria que nos proporciona. Até porque a cidade também é protecção e segurança.
O mistério, o encanto e a alegria da cidade foram analisados e cantados pelos melhores. Por Lewis Mumford que, apesar da sua visão crítica das cidades contemporâneas, realçou como poucos a ideia de que a cidade, mais do que matéria e engenharia, é obra de espírito. Por Italo Calvino que, melhor do que ninguém, mostrou que as cidades são como os sonhos, feitos de medos e de desejos. Por Santo Agostinho, que gravou as expressões Cidade de Deus e Cidade da Terra, com as quais quase resumiu a condição humana. Por Augusto Abelaira que, na Cidade das Flores, nos levou, há mais de cinquenta anos, a uma Lisboa disfarçada de Florença, onde sugeriu que a palavra e a arte acompanhavam os desejos de juventude e que política e amor podiam andar juntos. Por Jacques Le Goff que nos garantiu que, desde a Idade Média, foram as cidades que permitiram e criaram as ciências e as letras. E até por Alphonse Allais que escarnecia dos que vociferavam contra os problemas urbanos, recomendando-lhes que simplesmente deveriam construir as cidades nos campos!
Para Marco Polo e o Kublai Khan, segundo Calvino, havia pelo menos 55 tipos de cidades. É possível. Todas elas com ideia e espírito. Todas com história e vocação. Todas com um lugar no património da humanidade. E parece que não há duas cidades iguais. Nem sequer parecidas. Há Veneza, única. Atenas e Esparta. Cuzco e Machu Picchu. Tróia, Cartago e Alexandria. Babilónia e Roma. Palmira, Constantinopola e Aleppo. Foi nas cidades que se fizeram as universidades e as bibliotecas. Mas também as orquestras e os museus. Cada cidade é um resumo de vida e de história. Há nomes de cidades que nem precisam de ser ilustrados. A Cidade Proibida, da autoridade. A Cidade Aberta, da liberdade. A Cidade República e a Cidade Império. A Cidade de Arte. A Cidade Antiga. A Cidade Medieval. A Cidade Ideal, do Renascimento. A Cidade Industrial. A Cidade Luz. A Cidade do Vinho. Ou a Cidade ao lado das Serras. E as duas cidades das cenas no tempo da revolução francesa! Há cidades mágicas, invisíveis, felizes, operárias, financeiras e burguesas. O que não há são cidades mortas, cidades desertas, cidades cemitérios, cidades ruínas… Ou antes, não deveria haver. São contradições nos termos.
Um povo sem cidade é um povo triste. Ou atrasado. Ou conquistado. Ou escravo. O Imperador louco pegou fogo à cidade, Roma. Os deuses destruíram e castigaram as cidades de maus costumes, Sodoma, Gomorra e Pompeia. Quando fizeram campos de concentração na Alemanha, esvaziaram cidades. Quando sonharam com a reeducação de cidadãos na China, foram estes enviados para o campo. Quando pretenderam castigar os adversários e os homens livres na Rússia, foram deslocados para os campos. Quando os tiranos desejaram consolidar o seu poder no Camboja, tiraram milhões de pessoas das cidades. Napoleão e Hitler queriam as cidades, quiseram Moscovo, em Moscovo esbarraram e a guerra perderam. Os ditadores não se sentem bem nas cidades. Nem gostam de quem vive nas cidades, porque a liberdade é citadina. E porque cidadania vem de cidade.
As cidades são antros de crime e pecado. Têm noites malvadas e esquinas fatais. Têm escadinhas de droga e de assalto. Têm becos de má fama e calçadas de reputação duvidosa. Têm tango e fado. Têm esplanadas de espiões e mirones. Têm especuladores e açambarcadores. Têm criança abandonada, mulher explorada, homem bandido, velho adoentado e jovem batido. Têm minorias oprimidas e máfias tribais. As cidades têm crime e doença, têm violência e drama, mas é nas cidades que encontramos o sentido criativo, a invenção e o progresso. As cidades têm exploração e despotismo, mas é nas cidades que temos liberdade. Aliás, a liberdade é urbana.
Público, 12.4.2020

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11.4.20

No "Público" de 11 Abr 20

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O Voto Electrónico

Acho que devíamos começar a pensar a sério no VOTO ELECTRÓNICO, uma necessidade que vai surgir já nas próximas eleições nacionais, se se mantiverem as limitações actuais (ou mesmo que sejam aligeiradas).
Não falta tempo para se pensar nisso, nomeadamente para corrigir o que tiver de ser corrigido, etc.
Relacionado com isso, refiro o absurdo de, p. ex., uma pessoa ter de atravessar o país para votar no P. R., não o podendo fazer, mesmo que PRESENCIALMENTE, em qualquer assembleia de voto.
Então eu posso mandar milhares de euros para qualquer parte do mundo (de casa ou numa vulgar ATM), e não posso enviar o meu voto de Tavira para Santo Tirso — só para dar um exemplo real?
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NOTA: Inicialmente, eu estava a pensar apenas nas próximas autárquicas e presidenciais, mas o que mais há por aí são outras eleições, onde não falta quem recorra a essa ferramenta — para não falar nos muitos países que já a usam há muitos anos.
Há problemas? Claro que há. Mas então que se resolvam, não falta gente para isso, e o que está em causa não é nada de transcendente
Além disso, poderá sempre manter-se o voto presencial para quem quiser.

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PORQUE NOS TOMAM POR PARVOS?

Mais uma vez questionada acerca do uso (ou não) das máscaras, Graça de Freitas, Directora Geral de Saúde, voltou a dizer que segue as directivas da OMS, que não as recomenda. 
Mas toda a gente já percebeu que as máscaras, mesmo que não sejam "5 estrelas" e não protejam totalmente O PRÓPRIO, PROTEGEM OS OUTROS, e, se a DGS não as recomenda — ainda... —, é porque não há em quantidade suficiente, e receia uma corrida semelhante à que sucedeu com o papel higiénico. 
NOTA 1: Em Macau (com 600 mil habitantes) e em Hong-Kong (com 7 milhões) TODA A GENTE usa máscara, pelo menos nos espaços públicos. Nesses dois territórios, a Covid-19 é residual, e em Macau há até uma forte censura social contra quem a NÃO usa. 
 
NOTA 2: Se se vier a provar que o uso das máscaras poderia ter evitado infecções e salvado vidas... como ficamos? Quem andou a dizer o contrário vai conseguir dormir sossegado(a)?!

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