30.9.06

OS EPÍGONOS DE LEO STRAUSS (*)

INICIARAM a sua militância ideológica, sobretudo, na Universidade de Chicago, da qual eram professores o venerado mestre - o filósofo Leo Strauss (1899-1973) - e vários discípulos e colaboradores próximos, como Allan Bloom (o Ravelstein de Saul Bellow), autor de um ensaio, tão inteligente e populista como ressentido e reaccionário, intitulado The Closing of the American Mind, que foi um sucesso de vendas em 1987.

Chegaram a organizar «esquadrões da verdade straussiana», bandos de vigilantes intelectuais e autênticas milícias morais que interrompiam aulas dos professores que não pensavam como eles, para os provocar e intimidar, no estilo dos «guardas vermelhos» maoístas ou dos «guardiães da virtude» que hoje «patrulham» as ruas do Irão.

Optaram pela política, rumaram a Washington e infiltraram-se nos bastidores do poder. Colaboradores da Rand Corporation, participaram na elaboração do Project for a New American Century. Aconselharam Ronald Reagan, mas ficaram desiludidos com George Bush sénior, por não ter derrubado Saddam Hussein durante a primeira Guerra do Golfo. Investiram em Dan Quayle, vice-presidente débil e pobre de espírito.

Fizeram a travessia do deserto durante os dois mandatos de Bill Clinton, até que George Bush junior lhes caiu nos braços e aconteceu o 11 de Setembro. Tomaram conta do Pentágono, dos serviços secretos e da política de Defesa. Criaram o Office of Special Plans, tutelado por Paul Wolfowitz e dirigido por Abram Shulsky, co-autor do livro Leo Strauss and the World of Intelligence. Forjaram as provas da existência de armas de destruição maciça no Iraque e de ligações entre Saddam Hussein e a Al Qaeda.

Após a imprevista invasão do Afeganistão, Bin Laden continuou à solta, mas o Iraque foi finalmente invadido e ocupado com os resultados desastrosos que continuam à vista. O que obstou à execução integral do plano delineado por Wolfowitz, que previa a invasão da Síria e do Sul do Líbano (Israel bem o tentou, tarde e a más horas).

Estes epígonos de Leo Strauss (especialista em Platão e discípulo de Heidegger, que aderiu ao nazismo, e de Carl Schmitt, jurista do IIIº Reich) admiram a autocracia e cultivam a política como arte da dissimulação e da manipulação – e privilégio das elites, por via do que Leo Strauss considera «direito natural». As massas precisam de religião, nacionalismo e guerra, porque a paz universal e a harmonia entre povos são sinónimos de «facilidade» e «preguiça», contra a «vida árdua» e o «esforço» para expandir a fé e o império - americano, obviamente. Faz parte da cartilha dos neo-conservadores.

Em Leo Strauss and the Politics of American Empire, Anne Norton acusa-os de terem deformado e pervertido o pensamento do filósofo. Não é essa a opinião de Shadia Drury, em Leo Strauss and the American Right. Nem a de Seymour Hersh, em Chain of Command. Lendo os três, percebemos melhor o sarilho em que Bush filho nos meteu. E as razões por que tantos ex-maoístas se tornaram neo-conservadores e belicistas.

(*) Crónica de Alfredo Barroso no «DN» de ontem (não está online), aqui transcrita com sua autorização.

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29.9.06

De saudar, mas...

CLARO que são de saudar estas acções das autoridades, que já tardavam - especialmente depois de ouvirmos, no ano passado, António Costa a lamentar-se (como se não fosse nada com ele!) que «a lei existe mas não é cumprida...».
Pelos vistos, e à boa maneira lusitana, a primeira reacção foi aumentar as coimas. Seja. Mas, de caminho, repare-se na data do decreto.
A versão-base do texto é:

São só bocas!

DIZEM os livros que «Qualidade é a satisfação do Cliente ao menor custo». Infelizmente, muitos gestores (e os governantes também o são) só olham ao «menor custo» e esquecem-se da «satisfação do Cliente» - aquele que, por sinal, lhes paga o ordenado.

Vem isto a propósito da intenção do senhor Ministro da Saúde de aplicar taxas moderadoras a internamentos e cirurgias, uma decisão que, para além de desumana, não "tem pés nem cabeça" porque se trata de realidades a que ninguém se submete por gosto e, ao contrário de muitos casos que entopem as urgências hospitalares, não dependem do doente mas sim do médico.

Entretanto, já nos vieram dizer que «era só uma ideia...». Se assim for, temos um ministro que vem a público, larga uma "boca" grave, e depois fica a ver o que é que dá!

Obtusa forma de governar... Já conhecíamos a respiração boca-a-boca; será que agora temos a governação "boca"-a-"boca"?!

"Post"-aberto das sextas-feiras



AQUI fica o habitual post-aberto das sextas-feiras para quem o quiser aproveitar.

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28.9.06

"Links" para as «perguntas de algibeira» de Janeiro a Setembro 2005

Pergunta e resposta 1 - Meias lâmpadas

Pergunta 2 - Curiosidade matemático-telefónica

Resposta-2- Explicação

Pergunta + resposta 3 – Moedas falsas

Pergunta + resposta 4 – Produto das idades = 36

Pergunta + resposta 5 - Probabilidade da sexta-feira 13

Pergunta + resposta 6 - Libras e meias-libras

Pergunta 7 – Andar para Sul>Este>Norte

Resposta 7

Pergunta 8- Livros furados, 1ª versão


Resposta 8

Pergunta 9 - Bicicleta

Resposta 9

Pe
rgunta + resposta 10 - Som do elástico

Pergunta 11 - Rolo do faraó maluco

Resposta 11 - Solução 1

Resposta 11 - Solução 2

Pergunta + resposta 12 - Fogo balneário-1ªversão

Pergunta 13 - Reflexões

Resposta 13

Pergunta + resposta 14 – Saltos da pulga

Pergunta 15 - A sombra da esfera

Resposta 15

Pergunta 13 – Rolha com 3 formas

Resposta 13

Pergunta 13_A – 4 triângulos com 6 fósforos

Resposta 13_1_A

Resposta 13_2_A

Pergunta 14 – Parte do comboio andar para trás

Resposta 14

Pergunta + resposta 15 – 24 e 25 imagens/segundo

16 - Arquimedes – I – Área do círculo

17 - Arquimedes – II – Área da esfera

Pergunta + Resposta 18 – Quadrados de nºs 15-25...

Pergunta 19 – Desenhar sem levantar lápis

R
esposta 19

Pergunta + resposta 20 – Moeda lançada 1000 vezes

Pergunta + resposta 21_A-Moeda a rolar sobre a outra

Pergunta + resposta 22 - Formigas azarenta e com sorte

Pergunta + resposta 23 - O quadrado e diagonais


Pergunta + resposta 24 – O pastor que só contava até 7

Pergunta + resposta 25 – Sons agudos de diferentes instrumentos

Pe
rgunta + resposta 26 – Tampa de esgoto é circular porquê?

Pergunta + resposta 27 – Peso em monte e poço

Pergunta 28 – Túnel horizontal?

Resposta 28

Pergunta 29 - Um fósforo fora do sítio 7/1=1

Resposta 29

Pergunta + resposta 30 - Como é que continua esta sequência?

Pergunta 31 - Água+gás+electricidade

Resposta 31

Pergunta 32 - Jogo do pentáculo 1-2-3

Resposta 32

Pergunta + resposta 33 - Transportes-públicos, lucro e prejuízo

Pergunta + resposta 34 – Fios-do-prumo paralelos?

Pergunta + resposta 35 – Barco com peso dentro

Pergunta + resposta 36 – Barcos grandes precisam de rebocadores

Pergunta + resposta 37 – Marcas de pés em areia molhada

Curiosidade

COMO se sabe, a palavra guilhotina vem de Gouillotin (Joseph Ignace).
No entanto, ao contrário do que se julga, não foi ele quem a construiu - limitou-se a propô-la, em 1789, na Assembleia Constituinte, onde era deputado.
Quem, de facto, a fabricou foi um tal Tobias Schmidt (mecânico alemão), sob as ordens do cirurgião francês Antoine Louis.
Também contrariamente ao mito, o senhor Gouillotin não foi guilhotinado. Morreu em 1814.
Curiosidade adicional: depois de ensaiada com cadáveres, a máquina foi usada pela primeira vez "ao vivo" no dia 25 de Abril... de 1792.

Só em Portugal...?


PARA os que passam a vida a dizer «Isto só em Portugal!», aconselha-se vivamente o visionamento deste clip de vídeo com cerca de 3 minutos.
Mais espantoso do que o facto de o concorrente não saber a resposta, é a "ajuda" que lhe dá o público a que ele recorre.
A partir de certo momento, o fim é previsível - incluindo o prémio...

(Enviado por C.)

À espera do meio-dia...

(Enviado por C.)

Uma curiosidade "import/export"

O ESTRANGEIRISMO fetiche tem origem no português feitiço (do latim facticius - feito à mão), palavra usada no séc. XV para designar objectos como santinhos, rosários, etc.
No início do séc. XVII, foi apropriada por franceses e ingleses e, depois de alterada... acabámos por importá-la...

27.9.06

Pergunta de algibeira



QUAL a origem da palavra buldogue?

O cobra... dor


«Deixa-me dizer-te como é que vai ser:
«É um para ti, dezanove para mim,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos.
«Se 5% te parece pouco,
«Agradece eu não te levar tudo!

«Se guias um carro, eu taxo-te a rua;
«Se tentares sentar-te, eu taxo-te o assento;
«Se tiveres frio, eu taxo-te o aquecimento;
«Se fores dar uma volta, eu taxo-te os pés,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos.

«Não me perguntes para que é que eu os quero,
«Se não queres ainda pagar mais!

«Agora, o meu conselho aos que morrem:
«Declarem o valor dos vossos olhos,
«Porque eu sou o cobrador-de-impostos
«E é só para mim que vocês trabalham,
«O cobrador-de-impostos!
[«The Taxman» - The Beatles, 1966]

RTP - Parabéns

Cena em que o astronauta sobrevivente trata de matar o HAL 9000
DE SAUDAR a RTP que, ontem, no canal «Memória», transmitiu o «2001 Odisseia no Espaço» - e apenas com um pequeno (e muito bem-vindo!) intervalo para um chichi.

Alguém quer, aqui, discutir o filme, nomeadamente o estranho fim, a chegada a Júpiter?

Ai essa redacção...

http://jn.sapo.pt/2006/09/27/primeiro_plano/combate_a_corrupcao_ganha_mais_forca.html
LENDO o texto todo, parece evidente que a frase talvez ficasse melhor assim:
«Na Polícia Judiciária, o combate à corrupção foi reforçado (...)»
ou assim:
«A Polícia Judiciária reforçou o combate à corrupção (...)»
NOTA: é apenas uma opinião, pois convém não esquecer que, segundo os jornais, ainda esta semana se soube que partiu da PJ o aviso a Pinto da Costa de que iria ser alvo de buscas e detenção...
Nesse seguimento, Pinto da Costa foi dar uma voltinha até Espanha, enquanto na PJ foi demitido um funcionário - não o que avisou o cavalheiro, mas sim o que revelou o facto...

26.9.06

Sem palavras

(Enviado por V. Coelho)

Pergunta de algibeira

QUAL a origem da expressão encher chouriços, aplicada à escrita de textos?

25.9.06

Pergunta de algibeira

QUAL é a maior palavra da língua portuguesa?

NOTA: A maior que eu conheço tem 29 letras.

A propósito do "post" anterior

NESTA publicação de (apenas) uma dúzia de páginas, podem ler-se algumas considerações de Fernando Pessoa, tão certeiras quanto actuais, acerca do provincianismo lusitano (*).
No segundo e último texto, o autor divide a postura das pessoas perante o progresso em três categorias: a do campónio, a do citadino e a do provinciano.
Os responsáveis pela situação que Nuno Crato denuncia no post anterior entram, direitinhos, na última categoria...
(*) Artigos publicados no «Notícias Ilustrado» de 12 Ago 1928 e na «Fama» de 30 Nov 1932

ROUBARAM-NOS O MAR E O CÉU (*)

NESTES dias ainda quentes, há muita gente a passear no novo paredão que se construiu entre a praia de Santo Amaro e a Marina de Oeiras. Caminha-se junto ao rio e ao mar, vê-se o farol do Bugio, olha-se para a outra banda. Entrevêem-se ao longe as ondas, espumando junto aos bancos de areia. As passeatas estendem-se pela noite. O caminho está iluminado e é seguro. Mas parte da iluminação está virada de baixo para cima, com candeeiros embutidos no chão, como agora parece ser moda. Ao lado, alguns postes iluminam tudo, despejando jorros de luz sobre o paredão, sobre as rochas e sobre a areia. Pode-se passear à noite, mas a sensação é estranha. Parece que se está num ambiente totalmente artificial, apesar de se estar ao ar livre. A luz sobre os passantes é tanta que esconde o mar, ofusca as zonas menos iluminadas da outra banda e engole o céu. Não se vêem as estrelas, não se vê o rio, não se vêem as ondas. Alguns grandes prazeres desapareceram. O contacto com o céu nocturno, a descoberta das estrelas, o reconhecimento das figuras das constelações, tudo isso é impossível com a luz a bater-nos nos olhos. O próprio mar desapareceu. As ondas desapareceram.
E não é só em Oeiras. É um pouco por todo o país. Mas a natureza poderia não ter sido ocultada se as câmaras municipais, em vez de se comportarem como novos-ricos, estudassem a forma de iluminar os caminhos. Bastaria que seguissem o que há muito se sabe ser boa iluminação: iluminar o que é preciso, moderadamente, de cima para baixo e não de baixo para cima, sem apontar candeeiros aos olhos das pessoas e sem apontar holofotes para as nuvens. A poluição luminosa é também poluição. Não nos rouba o ar puro nem a água limpa, mas rouba-nos o mar e o céu. E sem céu não há astronomia nem poesia.
(*) Adaptado do «Expresso»

24.9.06

Curiosidades num estacionamento, em Lagos

O lugar preferido...

Entrando pelo jardim adentro para estacionar à sombrinha...

Dando o exemplo (local reservado a ambulâncias)

A ascese do Beato (*)

EM FEVEREIRO de 2004, o "Compromisso Portugal" reunia gestores e quadros superiores de empresa, solteiros ou viúvos da intervenção política, num ensaio de visibilidade política ainda um tanto experimental. Uns, sem paciência para a via-sacra partidária, apostariam só numa aventura pessoal na área do "centrão", enquanto outros visavam institucionalizar uma influência duradoura sobre o associativismo patronal (que então foi dito ser necessário unificar) e indirectamente sobre a coligação no poder.
Aprovaram então trinta "medidas" que ao Estado, e só a ele, competiriam. Mas, passada a girândola mediática, mergulharam em trevas de toupeira, raramente assomando à superfície - onde só o Sol é certo, os media não.
Volvidos dois anos e meio, reanima-se o Beato. Para alguns observadores, pouco terá mudado. Mantêm-se muitas das caras. Subsiste a vertigem estaticida (já que o Estado--porque-não é tão preconceituoso como o Estado-porque-sim). Ressurgem a pulsão anti-partidária, o liberalismo de vulgata e a crença de que uma boa política social é a que deixa que espontaneamente se afirmem todas as ambições individuais. Continua a postura magistral de quem acha que a gestão da coisa pública é uma tecnicidade que tratam por tu como ninguém. Mas algo, no contexto, os fez mudar. E agora já não está em causa unificar o associativismo patronal, mas "institucionalizar o movimento". Para as trinta medidas de 2004, já não há avaliação, nem remissão, nem memória. A pressa, hoje, é maior. Nem eles próprios têm tempo para fazer à escala das suas empresas aquilo que pedem ao Estado: a redução de 200 mil efectivos em cinco anos. Recomendam ainda o endividamento que, em ano e meio de sacrifícios, todas as políticas públicas visam combater.
Avesso a teses conspiratórias, sei que, na vida, a ambição de colher a laranja em geral só acomete quem está à sombra da laranjeira. Por isso, aceito que os tecnocratas liberais do "Compromisso" caminhem para a árvore ainda só a pensar na sombra dela. Mas a seu tempo virá a tentação de colher o fruto. E então, se não ficarem pelo caminho, abrir- -se-lhes-á uma de três vias de má sina: ou candidamente se propõem para estado-maior de um PSD reduzido, sem glória, a seu exército; ou suicidariamente pressionam uma aventura presidencial fora de prazo; ou, mais plausivelmente, querem combinar uma com outra. Seja qual for a via, não lhes gabo a sorte.
_
(*) Crónica de Nuno Brederode Santos no «DN» de hoje, aqui transcrita com sua autorização.

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Xenofonte e Sócrates

Escola de Atenas, de Rafael
1509-10
Stanza della Segnatura, Vaticano (*)

Pormenor: Xenofonte com Sócrates
O QUE MAIS salta à vista na leitura de «A Retirada os Dez Mil» talvez seja a democracia militar que os gregos praticavam, protagonizando episódios que não ficavam a dever nada aos do PREC:
Soldados e oficiais reuniam-se amiúde e, em animados plenários (por vezes à vista do inimigo), argumentavam, discutiam, votavam, julgavam, elegiam e demitiam chefes...
-
COMO se sabe, o Hezbollah, no Líbano, tem-se recusado sempre a entregar as armas, fazendo o mesmo que os mercenários gregos fizeram, muito antes da nossa era, durante as suas andanças pelo Médio-Oriente:

Quando os 13.000 gregos, que haviam acompanhado Ciro (*), preparavam a retirada, Artaxerxes, amigavelmente, pediu-lhes que entregassem as armas.

A resposta (ou não fossem esses soldados contemporâneos de Sócrates...) foi:

- Se nos queres como amigos, precisamos das armas para te ajudar. Se nos queres como inimigos, precisamos delas para nos defendermos de ti.

E não lhas deram - o que, por sinal, lhes salvou a vida e lhes permitiu regressar à Grécia com poucas baixas após uma longa retirada recheada de peripécias bélicas.
-
(*) Quando Dario, rei da Pérsia, morreu, o poder passou para o seu filho Artaxerxes - ficando o irmão, Ciro, com poderes menores. Este, então, contratou tropas locais (100.000 homens) e 13.000 mercenários gregos para se apoderar do trono. Em seguida, e sem nunca revelar aos exércitos o seu objectivo final, marchou para a zona onde agora é o Iraque e, numa batalha com o irmão, acabou por ser morto.

Os gregos, já não tendo mais que fazer por aquelas bandas, trataram de regressar à Grécia, o que não foi fácil visto estarem extremamente longe e rodeados de inimigos.
Dá-se então aquilo que Aquilino chama «A Retirada dos Dez Mil», na tradução que faz da obra «Anábase», atribuída a Xenofonte (o general que, sucedendo a Clearco, comandou a maior parte da retirada).

Fala quem sabe...

Alexandre Magno perseguindo Dario III (mosaico)
O Ocidente está a aprender à sua custa o que, já há mais de 2300 anos, Alexandre descobriu quando chegou ao Afeganistão: «Esta terra pode conquistar-se mas não se consegue controlar».

Diz o roto para o nu...

23.9.06

Pergunta de algibeira



COMO é que, no Pólo Norte, é visto o movimento aparente do Sol nos dias de equinócios?
Se eles são QUINZE é porque, se calhar, são precisos.
Se eles ganham uma pipa de massa é porque, se calhar, merecem.
Mas agora que sejam VITALÍCIOS (como reis...) é que já não percebo - e sendo esse, porventura, o aspecto mais bizarro, percebê-lo parece-me VITAL.

À BEIRA DO COLAPSO (*)

EIS O QUE disse o velho, sábio e céptico Solomon Kahn: «A humanidade devorou num século todos os recursos mundiais, que tinham levado milhões de anos a acumular, e nenhum dirigente ligou meia ou deu ouvidos a todas as vozes que tentaram avisá-los. Limitaram-se a deixar-nos produzir em excesso e consumir em excesso, até que agora o petróleo se foi, a terra fértil esgotou-se e desapareceu, as árvores foram derrubadas e os animais extintos. O planeta está envenenado e tudo o que temos em troca disso são sete milhares de milhões de seres humanos a lutar pelas migalhas que restam, vivendo uma existência miserável». Disse mais o velho Solomon: «Houve uma altura em que tivemos o mundo inteiro nas mãos, mas devorámos e queimámos tudo e agora acabou-se».
Este é o cenário aterrador de uma novela de ficção científica, Make Room! Make Room!, escrita em 1966 por Harry Harrison, que com ela conquistou o Prémio Nébula, e na qual livremente se inspirou Richard Fleischer para realizar, em 1973, o filme Soylent Green, ainda mais impressionante, pessimista e trágico do que a própria novela. Esta só foi editada em Portugal em 1986, pela Caminho, com o mesmo título atribuído ao filme: À Beira do Fim. Voltei agora a ler a novela e recordo o filme como se o visse hoje.
Numa megalópole com 35 milhões de habitantes, a esmagadora maioria vive ao relento, ou nas catacumbas de um metropolitano que já não funciona, ou em carcaças de automóveis abandonados em parques de estacionamento inúteis, ou em navios corroídos pela ferrugem e atracados há muito nos cais - uma shiptown. Falta a água e os alimentos escasseiam, tudo é racionado, mesmo certos produtos sintéticos de origem misteriosa que são distribuídos como substitutos dos alimentos naturais. No filme, é a descoberta desse mistério que levará Solomon Kahn a desistir de viver e a submeter-se à eutanásia, numa clínica onde morre a ouvir uma sinfonia de Beethoven e a contemplar as imagens filmadas de um mundo que ele ainda conheceu, mas que já desapareceu há muito.
Infelizmente, não é grande a distância que separa ficção e realidade. Se o futuro é relativamente imprevisível, o passado está cheio de exemplos de civilizações que não resistiram ao seu esplendor, entrando em declínio e queda irreversíveis, até à extinção. São os processos dessa extinção – sobretudo a tragédia da Ilha da Páscoa, a decadência e o fim do Chaco, o esgotamento e queda da civilização Maya, o desaparecimento dos Vikings na Gronelândia – que nos relata o historiador e cientista norte-americano Jared Diamond, num extraordinário ensaio intitulado Collapse. Recursos naturais explorados até à exaustão, alterações climáticas, destruição do meio ambiente, guerras, secas, fome e incapacidade de adaptação à mudança causaram verdadeiros ecocídios. Também vale a pena ler outro ensaio de Jared Diamond, já editado em Portugal pela Relógio d’Água: Armas, Germes e Aço, sobre os destinos das sociedades humanas. Se não aprendermos as lições, a ficção poderá tornar-se realidade e poderemos estar à beira do colapso.
_
(*) Crónica de Alfredo Barroso no «DN» de ontem, aqui transcrita com sua autorização. Não está no «DN-online».

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Não se devolvem...


MUITA gente já comentou o facto bizarro de o «Expresso» não devolver os faxes nem os e-mail que lhes são enviados.
Agora é o «Sol» que, porventura por ser feito com pessoas que saíram da concorrência, assume a mesma conduta...

22.9.06

Por favor!

DEPOIS de ouvir, hoje, as violentas e ameaçadoras palavras de Valentim Loureiro e de Luís Filipe Vieira (em registo de filme do «Padrinho»), só me apetece repetir o apelo que Miguel Sousa Tavares fez, há dias, na TVI:
«Por favor, devolvam-nos o futebol! Livrem-nos desta gente!»

"Post"-aberto das sextas-feiras



Aqui fica o habitual post-aberto das sextas-feiras para quem o quiser utilizar.

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Hoje Acontece (*)

UM CIDADÃO inglês saía de um cinema quando o primeiro-ministro sueco Olof Palme foi assassinado, perto dele, em 1986. Dois jornais suecos, Expressen e Aftonbladet, acusaram-no de ser o provável criminoso. Nada disso se provou. O cidadão, Anthony White, que agora vive na cidade da Beira, em Moçambique, processou os jornais exigindo indemnizações por ofensa ao seu bom-nome. Mas os tribunais suecos não lhe deram razão e ele decidiu recorrer para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Na terça-feira o Tribunal de Estrasburgo proferiu, enfim, sentença: absolveu os dois jornais. Porquê? Porque – disse o Tribunal - os jornais tinham cumprido o seu dever de informar: “O interesse público na publicação dessa informação sobrepunha-se ao direito do queixoso na protecção da sua reputação.”
Discordo. A menos que haja pormenores que desconheça, o que resulta daqui é muito simples: amanhã vou ao cinema, à saída matam alguém e no dia seguinte leio num jornal o depoimento de um senhor que diz que fui eu o assassino. Estou feito.
O jornalismo não pode ser praticado assim e os tribunais não podem condescender, brandamente, com o papão do poder mediático. Antes de ser jornalista sou cidadão e não gosto mesmo nada deste precedente.
No entanto, ainda anteontem subscrevi um apelo ao bom-senso do Parlamento por causa da proposta de lei de Estatuto do Jornalista. Que traz coisas do tempo da “Outra Senhora”, como o texto dos jornalistas poder ser mutilado sem aviso por um qualquer editor idiota, ou quando é preciso mais espaço para um anúncio. Que é lá isso?
Nem a sentença do Tribunal de Estrasburgo nem esta muito questionável proposta de lei convidam a melhores tempos. Não, não.
(*) Publicado no «metro» de 22 Set 06

O Envelope «Noves-fora-nada»

Brincando com coisas sérias


INSACIÁVEIS rima com irresponsáveis...
NOTA: Vale a pena ler um artigo no «DN» de hoje que mostra como as autarquias (não) usam a Internet. Uma análise a uma dezenas páginas revela, entre outras tristes realidades, que quase todas ignoram, olimpicamente, os e-mails para lá enviados...

21.9.06

E esta?!!

SEGUNDO Scott Adams, 40% dos dias de baixa dos funcionários públicos portugueses são às segundas e sextas-feiras! A que se deverá isso?

Da relevância do bife (*)

PARA que se não critique o carácter aparentemente prosaico do tema desta crónica, invoquemos em defesa o facto de ter sido ele nos idos de 60 objecto de um celebrado ensaio de Roland Barthes nas suas Mitologias: trata-se do... bife.
Em rigor, o bife até é relativamente acessório no tocante às conclusões que se pretende apresentar, mas pode dizer-se que, de facto, ao princípio era o bife! Em concreto, o bife à café, inventado ao que consta nas cozinhas do oitocentista café Marrare. Como se sabe, a esmagadora maioria dos cafés alfacinhas foi sucumbindo, as saudosas frigideiras dando lugar a cofres fortes bancários, secretárias e arquivos, aprestos todos eles incompatíveis com bifes e respectivos molhos. Resistiu um - o Império.
Há alguns meses os lisboetas foram confrontados com a perspectiva desse último baluarte do lombo e da vazia passar a adjacência da IURD.
Verificou-se aquilo a que é hábito chamar um sobressalto colectivo, sendo de elementar justiça sublinhar que papel determinante foi desempenhado pelos trabalhadores da casa, ali profissionais há anos e anos de casa e com aquela ligação ao "seu sítio", que é um dos mais fascinantes traços de identidade humana dessas pessoas que acabam a fazer parte da nossa vida, ali ao lado das mesas onde nos habituamos a jantar e almoçar.
Moções na câmara, artigos nos jornais, gente do património, enfim, alguma coisa se conseguiu. A IURD lá terá recuado e o Império foi anunciado como salvo. Fizeram obras.
Pode ter-se dúvidas sobre uns neons que andam por lá, mas as soluções de cozinha foram inteligentes; o grande ecrã é uma opção que a alguns desagradará, mas o mobiliário é agradável. E, sobretudo, o bife lá está - e o Império.
Isto já seriam tudo boas notícias, mas há melhor. É que, segundo tudo indica, a reabertura foi um êxito, excedeu todas as expectativas, já foi necessário admitir mais pessoal e, na realidade, 15 dias depois de reaberto o café até já adquiriu o ar de normalidade de sempre lá ter estado!
Nestes tempos em que preocupações se acumulam, uma vitória, mesmo no bife - ora pois andávamos a precisar disto.
Até porque, leia-se Roland Barthes, o bife é mitologicamente relevante...
_
(*) Crónica de Ruben de Carvalho no «DN» de hoje, aqui transcrita com sua autorização. Ver também uma outra sobre o mesmo assunto, da autoria de Paulo Ferrero, «Bife no novo Império? Não, obrigado»:

Uma resposta "Cinco estrelas"

BOB DYLAN é de opinião que as gravações feitas nos últimos 20 anos não prestam - porventura estará a referir-se ao que considera ser a menor qualidade do som dos CD comparada com a do vinil.
Assim, quando lhe perguntaram o que achava se as pessoas fossem à Internet fazer o download gratuito do seu novo disco, respondeu (cito de memória):
«Podem ir à vontade. A qualidade do som não presta para nada».

Ainda há coisas baratas...

NESTE livro, pode encontrar-se o célebre conto «A Biblioteca de Babel» que veio a inspirar a de «O Nome da Rosa».
O preço de €1,50, comum a todos os livros desta colecção, é uma agradável realidade.
Só é pena que a VISÃO não tenha resistido à tentação de afixar, à frente e atrás, o seu garrafal logótipo - a que se juntou a Novis, embora só na contracapa. Referências mais discretas teriam evitado que a colecção tivesse esse ar de «brinde da Farinha Amparo», que a desvaloriza desnecessariamente.
Mas cada um lá sabe de si.

20.9.06

O estilo Santana Lopes

DIZEM os livros que «Qualidade é a satisfação do Cliente ao menor custo».
Infelizmente, muitos gestores (e os governantes também o são) só olham ao «menor custo» e esquecem-se da «satisfação do Cliente» - aquele que, por sinal, lhes paga o ordenado.
Vem isto a propósito da intenção do senhor Ministro da Saúde de aplicar taxas moderadoras a internamentos e cirurgias, uma decisão que, para além de desumana, não "tem pés nem cabeça" porque se trata de realidades a que ninguém se submete por gosto e, ao contrário de muitos casos que entopem as urgências hospitalares, não dependem do doente mas sim do médico.

Entretanto, já nos vieram dizer que «era só uma ideia...».
Se assim for, temos um ministro que vem a público, larga uma boca grave, e depois fica a ver o que é que dá!

Obtusa forma de governar... Já conhecíamos a respiração boca-a-boca; será que agora temos a governação boca-a-boca?!

A grande gargalhada

VAI UMA grande revolta em Budapeste porque veio a saber-se que o Partido Socialista mentiu aos eleitores para chegar ao poder - escondeu os problemas do défice, omitiu (ou negou) que tencionava aumentar os impostos, despedir funcionários públicos, aumentar preços disto e daquilo, etc., etc.

Ora eu bem tenho tentado discutir esse assunto com alguns amigos portugueses, mas nenhum deles o consegue fazer seriamente: entre gargalhadas e comentários cínicos, todos encaram os revoltados húngaros com aquele ar de superioridade que, nos parques-de-diversões, arvoram os que já andaram no castelo-fantasma ao observar os que lá vão pela primeira vez...
(«DN» de hoje)
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Mal por mal...

Nas últimas eleições para um município de uma pequena cidade onde vou com frequência, a Oposição decidiu afixar por todo o lado uns curiosos cartazes, divididos em duas partes:

Do lado esquerdo constavam, devidamente ilustradas com fotografias, as promessas que o executivo cessante fizera para a campanha eleitoral anterior. Do lado direito, podiam ver-se outras, dos mesmos locais, mas tiradas quatro anos depois.

Tratava-se, sem excepção, de imagens de terrenos degradados, podendo ler-se, a legendar as do lado esquerdo, promessas como «AQUI VAMOS FAZER O NOVO CAMPO DE JOGOS!»; em contraponto, e tendo como legenda apenas a data, uma outra do mesmo local, onde só os excrementos de cão eram diferentes.

O curioso da história é que, tratando-se de verdades que pude confirmar, os "vendedores de mentiras, ilusões e promessas" foram reeleitos e com confortável maioria, pelo que eu, intrigado com o facto, pedi a alguns munícipes que mo explicassem.

As respostas não variaram muito, e em todas estava subjacente a convicção enraizada de que «eles são todos iguais».

No entanto, a melhor veio sob a forma de uma variante do ditado setecentista «Mal por mal, antes Pombal»:

«Aldrabão por aldrabão, deixa lá estar os que estão» - frase que, segundo me asseguraram, estava incorrecta... mas só em termos gramaticais.
(Este último texto veio a ser publicado no «Público» de 28 Set 06 e no «DESTAK» em 3 Out 06)

19.9.06

Uma grande guerra? (*)

TUDO parece indicar que em vários lados se prepara uma grande guerra religiosa. Só assim se podem entender as palavras do Papa Bento XVI no passado dia 12 na universidade alemã de Ratisbona. Teólogo, ou seja, racionalizador dos mistérios da fé, foi certamente com a cabeça fria que o actual bispo de Roma recuou até uma polémica ocorrida no século XIV, entre o imperador bizantino Manuel Paleólogo e um erudito persa, sobre o lugar da violência no confronto religioso. É verdade que Ratzinger adora a História das Ideias e ama ressuscitá-la com novidade e surpresa. Também é verdade que, como papa e bispo de Roma, se dirigia às elites alemãs na Alemanha católica do bispo colegialista Lehman: um antagonista religioso externo como o Islão pode ajudar à unidade hierárquica interna da Igreja. Situar essas declarações na Alemanha natal ainda faz sentido pelo menos por mais duas razões: por causa da existência naquele território de uma vasta comunidade muçulmana e pela aliança implícita que vários dirigentes islamitas estão a propor à RFA.
Bento XVI não ignorava certamente que as suas declarações sobre o modo como um dos últimos chefes do Império Romano do Oriente se referira ao contributo de Maomé para as guerras religiosas poderia ajudar a cavar o fosso entre cristianismo e islamismo. De certa maneira Bento XVI acaba de terminar com um longo período de paz entre o Vaticano e o mundo islâmico, ilustrado por entendimentos visíveis desde Jerusalém a Bagdade. Porquê? Essa é a grande discussão.
É verdade que o discurso de Ratisbona se destinava a um público ilustrado e que por isso mesmo se coloca intelectualmente numa atitude metacrítica sobre o que lhe é proposto. É verdade que o Vaticano está em plena transição entre a administração de João Paulo II e de Bento XVI, e que os novos responsáveis da Secretaria de Estado e da Secretaria das Relações com os Estados da Santa Sé, os cardeais Tarcisio Bertone e Dominique Mamberti ainda não entraram verdadeiramente em funções. É verdade que o Papa já lamentou mais do que uma vez as interpretações fundamentalistas dadas às suas declarações quer no Ocidente que no mundo islâmico.
É verdade que os esforços de apaziguamento da Cúria Romana impendem um imediato aproveitamento político do discurso de Ratisbona pelos fundamentalistas islâmicos e pelos ocidentais fundamentalistas. Mas o que a Igreja Católica anunciou pela voz do seu máximo representante foi o lugar que ela ocupará caso haja uma grande guerra religiosa, desencadeada ou não pelos fundamentalistas islâmicos. E este sinal é poderoso na comu- nidade católica europeia e mundial.
Não que eu acredite em guerras religiosas desde as cruzadas à jihad. São enganos do Espírito sobre as razões dos comportamentos violentos entre povos. Seria certamente incapaz de suportar a dogmática islamita em estados teológicos. Por isso admirei Kemal Attatürk e ainda hoje vejo na entrada da Turquia na União Europeia uma espécie de homenagem ao seu esforço de laicização do Estado e até da sociedade. Por isso também temo, e lamento, que as palavras de Bento XVI sejam aproveitadas para adiar esse confronto da União Europeia com uma real diversidade cultural. Afinal mais um teste à racionalidade das sociedades europeias depois das guerras religiosas...
Somos todos muito ciosos da nossa capacidade de assimilar a diferença de culturas e de valores sobretudo fora das fronteiras da nossa civilização. O edifício racional organização da sociedade é aquilo que se sabe, sempre dependente de acidentes e de pavores. Depois das Luzes a Europa já teve a deriva dos totalitarismos e do racismo. A soberba dos intelectuais ocidentalistas usufrutuários das liberdades públicas, que foram tão dificilmente conquistadas e reconquistadas e que são sempre reversíveis, não ajuda a entender o momento internacional que se vive. Ainda agora neste episódio do discurso de Ratisbona quantos violentos não se sentiram lesados pelas lamentações posteriores de Bento XVI? Esses são os partidários de uma grande guerra religiosa.
Não quero deixar de assinalar que o director do DN, António José Teixeira, num editorial lúcido e corajoso marcou um caminho de reflexão sobre as razões do discurso de Ratisbona.
Criticar as caricaturas também faz parte da liberdade de expressão. E Bento XVI sabe as matérias em que é falível.
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(*) Crónica de José Medeiros Ferreira no «DN» de hoje, aqui transcrita com sua autorização

"Boys" e futebóis

COMO se sabe, os erros dos árbitros, desde que cometidos de boa-fé (mesmo quando implicam a validação de golos irregulares) fazem parte do desporto e até do seu "encanto".
No entanto, quando são demasiadamente grosseiros ou têm influência decisiva nos resultados, já o caso muda de figura - e foi o que sucedeu recentemente no Brasil (com um golo marcado por um apanha-bolas!) e em Portugal com um outro marcado descaradamente com a mão.

Ora, a propósito dessas e de outras cenas semelhantes, é interessante ver um pequeno vídeo (disponível em http://video.google.com/videoplay?docid=-7388245397216025862) onde se pode apreciar um curioso episódio passado num jogo de futebol entre duas equipas holandesas:

A certa altura, há um jogador que pontapeia a bola em direcção à baliza adversária. Os outros que, por qualquer motivo, julgam que o jogo está interrompido, não fazem nada... e é golo - validado, evidentemente.
Perante a situação desagradável assim criada, o rematador desculpa-se e, pouco depois, sucede o impensável: a sua equipa resolve ficar parada e deixa a outra marcar um golo que compensa a injustiça do anterior!

Dito isto, segue-se uma pergunta ingénua relacionada com as duas cenas que no início se referem:

Será que os jogadores, dirigentes e adeptos dos clubes injustamente beneficiados festejaram os golos irregulares - mesmo sabendo que o eram?

Ou, lá no fundo da alma (como verdadeiros desportistas que imaginamos que são...), lamentaram que, por cá, não haja uma tradição semelhante à holandesa?

Talentos e Olímpicos (*)

NO FIM de semana passado, no Luso, além da costumeira festa de Setembro, com as suas habituais farturas, música e pechisbeque, houve uma outra festa. Uma festa da matemática. Foi a celebração do programa «Novos Talentos», promovido pela Fundação Gulbenkian e que teve este fim de semana o termo da sua sexta edição.
Durante um ano, duas dezenas de jovens universitários tiveram uma bolsa de estímulo ao estudo e estiveram acompanhados individualmente por investigadores que os orientaram num trabalho matemático. Tiveram assim oportunidade de conhecer tópicos avançados e de explorar autonomamente um problema.
No fim do ano, esses jovens e finalistas das Olimpíadas Portuguesas de Matemática participaram na Escola Diagonal. Aí ouviram palestras e dialogaram com conhecidos matemáticos estrangeiros e nacionais, que durante uma semana animaram a escola.
No fim, juntaram-se todos para este fim de semana no Luso, onde os jovens talentos apresentaram e discutiram os seus trabalhos e ouviram brilhantes palestras de matemáticos estabelecidos, tais como o brasileiro Elon Lages Lima, conhecido entre nós pelo seu livro «Matemática e Ensino» e por algumas outras obras. Os jovens ficaram noite fora a trocar experiências e a discutir os recursos que estão disponíveis para melhorar a sua formação.
As Olimpíadas da Matemática e o programa da Gulbenkian são dois excelentes exemplos. Ambos têm nova edição este ano. As candidaturas para as olimpíadas (www.spm.pt), são feitas através das escolas básicas e secundárias e estão abertas até 18 de Outubro. As do programa «Jovens Talentos» (www.math.ist.utl.pt/talentos), para universitários nos três primeiros anos, terminam 9 de Outubro. Falta pouco.
(*) Adaptado do «Expresso»

18.9.06

«25ª HORA» - «24 horas» de hoje

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Santa ingenuidade!

VAI UMA grande agitação no mundo muçulmano porque há dias Bento XVI, em conversa com alguns eruditos, citou, a dada altura, uma personagem e um determinado diálogo.
Claro que, lendo tudo com calma e tempo, se percebe que as palavras em causa, embora desagradáveis para os seguidores de Maomé, não eram dele, papa, mas sim da personagem referida.

Tudo bem, tudo muito racional.

Mas agora imagine o leitor que resolve dar conta, a uma multidão nervosa, hostil e pouco letrada, de um fragmento de um determinado livro que leu:

«Vocês são uma cambada de idiotas!» - começa por exclamar, convencido de que os ouvintes vão ouvir o resto, sossegados e em silêncio, percebendo, mais adiante e com um sorriso compreensivo, que se trata apenas de uma citação...

Se não é indiscrição: que reacção é que espera?
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Este texto veio a ser publicado no jornal «DESTAK» em 20 Set 06 e no «Diário Digital» no dia 22
ESTAS situações de tricas entre forças de segurança - tão recorrentes quanto irritantes - são o dia-a-dia em países atrasados.
Também temos de passar por essa etapa na longa marcha a caminho do desenvolvimento? Não poderemos saltá-la?

Torcer o pepino (*)

DEPOIS das aulas, era tempo de cowboys e índios. Os meninos rebolavam-se no tapete da sala. O índio gritava "Quero o teu escalpe" e o cowboy respondia "Vais morder o pó!" Ignorando os códigos da banda desenhada, o avô acorria a separá-los: "Porque é que vocês não são amigos? Vá lá, escolham: ou são ambos índios ou são ambos cowboys. Assim podem ser amigos e é muito mais engraçado." E os meninos, sentados no chão, solidários e desencantados, já tinham, da vida, a lição. Era tarde para levar o avô a Buffalo Bill e a Sitting Bull. A liberdade, ali, era crescer.
Anos mais tarde e chegada a hora dos matraquilhos, os rapazes já não iam para casa. Preferiam o salão de jogos de um café. Porque a mesa de matraquilhos que tinham na garagem fora virtuosamente subvertida pelo avô. Ao ver o jogo, ele mandara recolo- car ao contrário metade dos bonecos. Já não era um Benfica-Sporting, era um Benfica e Sporting unidos contra ninguém. Uma baliza tornara-se inexpugnável, com os dois guarda-redes lado a lado, em plantão fraterno e cooperante; a outra era um buraco negro, escancarado. À frente deles, dez férreos mocetões de vermelho e dez de verde, trespassados nos ombros por seis varões sucessivos, olhavam agressivamente a baliza vazia. O avô achava que era mais bonito assim: "todos", dizia, "a remar para o mesmo lado". Os rapazes percebiam que era tarde para o levar a ler A Bola. E sabiam já que a vida não era o companheirismo simplista de Lorde Baden-Powell, nem as unanimidades espontâneas de Kim Jong-Il. A liberdade, ali, era acabar de crescer.
Hoje, são adultos. Diferentes entre si, como é normal. Um gosta de carne, outro de peixe. Perderam ambos uma mulher que disputaram. Querem uma vida melhor, mas aceitam que não entendem por tal a mesma coisa. Sabem respeitar a diferença, mas sabem também que isso é afirmá-la. E preferem a festa possível, nas ruidosas tensões do século, à uniformidade organizada, nas sombras e silêncios da caserna ou do convento. E o avô? O avô ainda acredita que dois homens de boa-fé e com a mesma informação chegam naturalmente a uma mesma conclusão. É tarde para o levar a ler a mais sucinta vulgata de um qualquer Duverger. Se não conseguirem explicar-lhe, terão de respeitá-lo como ele é. Mas nos limites do respeito por si mesmos e com a consciência de que também já se fez tarde, aqui, para continuar a adiar a liberdade.
(*) Crónica de Nuno Brederode Santos publicada no «DN» de ontem (não está na Internet) e aqui transcrita com sua autorização.
Uma outra forma de ver o assunto está referida em «Comentário-1»

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17.9.06

NOTA: este texto já é antigo. O «Público» publicou-o só hoje, não percebo porquê.

16.9.06

Estás tramado, Steven!

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(Enviado por C.)

Curiosidade - III

JÁ TODOS nos deparámos com escadas desconfortáveis, nomeadamente aquelas cujos degraus não acertam com os nossos passos (ou vice-versa...).
Trata-se de casos em que não foi tida em conta a regra P = L + 2A
Ou seja: a largura (L) do degrau adicionada ao dobro da sua altura (2A) deve ser igual ao comprimento do passo-médio do utilizador-médio (P).

Curiosidade - II

PRECAVER, outro verbo de difícil conjugação
Veja-se, logo à partida, o rebarbativo "eu precavo"...

A vírgula marota

HÁ MUITOS jogos que consistem em tentar colocar a pontuação numa sequência de palavras por forma a que faça sentido.

São os casos (já em tempos aqui apresentados) de: «Um lavrador tinha um bezerro e a mãe do lavrador era também o pai do bezerro» e de «O que é é e o que não é não é não é é».
Hoje, propõe-se um diferente:
Na frase «Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de rastos à sua procura», deverá colocar-se uma vírgula a seguir à palavra "tem" ou a seguir à palavra "mulher"?