31.1.19

De facto, acho que mais depressa a maioria das pessoas aceitaria perder um dedo do que ficar sem telemóvel durante uma semana...

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Notas Soltas – janeiro/2019

Por C. Barroco Esperança
Brasil – A posse de Bolsonaro como PR, através de eleições, foi a legalização do golpe de Estado contra Dilma, urdido pela traição de Temer e outros políticos corruptos, com a conivência do sistema judicial. Sérgio Moro, ora ministro, foi essencial no golpe.

Mário Centeno – Considerado o melhor ministro das Finanças do ano, na Europa, pela revista The Banker, um suplemento do Financial Times, é o primeiro oriundo do sul. O esforço inglório da direita, em minimizar o facto, não desmerece a escolha.
   
Espanha – A Igreja recusa o acesso ao Vale dos Caídos para a exumação de Franco, o genocida de que a Igreja católica foi cúmplice e que continua a inspirar os fascistas que visitam o túmulo. O clero franquista ainda julga o País um protetorado do Vaticano.

China – A China alunou uma sonda no “lado negro” da Lua e tornou-se o primeiro país a aterrar no lado ‘oculto’ da Lua. É mais fácil o salto de gigante na tecnologia, rumo ao futuro, do que um pequeno passo em direção à democracia, no presente.

PR – A ida à posse de Bolsonaro, apesar de ter sido um líder europeu isolado, ou pior, sendo o outro o PM húngaro, Viktor Orbán, era aceitável, mas a audiência solicitada ao “irmão Bolsonaro” foi um ato lamentável.

Banif – O banco da Madeira, UNITA, Fátima e Horácio Roque, e dignitários da RAM, já custou mais de 3 mil milhões de €€ ao erário público. É surpreendente que sejam à porta fechada as audiências em que os alegados lesados exigem indemnizações.

Andaluzia– A geringonça entre o PP, Ciudadanos e Vox é legítima para impedir que o partido mais votado (PSOE) forme governo, mas a aliança ao partido fascista – VOX –, que exige o fim dos partidos e limita os direitos da mulher, é indigna e alarmante.

Pedro Sánchez – O líder do PSOE, ao denominar “as três direitas” (PP/C’s/VOX), de "voxonaros" da política espanhola, não criou apenas uma palavra demolidora, resumiu a deriva reacionária que remete para Bolsonaro a atual direita espanhola. 

Parlamento Europeu – Os líderes dos grupos 'popular' e liberal, que integram o PP e C’s, respetivamente, no dia da investidura andaluza, evitaram a imprensa, para se furtarem a declarações sobre a aliança com o partido fascista VOX, que os envergonha.

VOX – O financiamento muçulmano ao partido espanhol era estranho, mas a exigência da suspensão da lei sobre a violência doméstica, para o acordo partidário, fundamenta o investimento da religião que recusa direitos humanos à mulher. 

Brexit – O referendo oportunista de Cameron trouxe o medo à U. E. e o caos ao Reino Unido. Este país sabia onde estava, agora não sabe para onde vai, e o Parlamento nega aos eleitores a possibilidade de reverter a decisão em que foram manipulados.

PSD – Luís Montenegro tem mais tempo de antena do que Rui Rio, líder do partido, tal como aconteceu com Francisco Assis em relação a António Costa. Enquanto der jeito à direita mais à direita, ele e os adversários do líder têm a comunicação social por conta.

Suécia – A coligação de social-democratas e verdes formou governo graças à abstenção dos conservadores que preferiram um governo de esquerda a partilharem o poder com a extrema-direita, de raízes nazis. Fica o exemplo para a Europa. E para a esquerda.

Luís Montenegro – Homem de mão de Passos Coelho, assustado com a possibilidade de ver o PSD devolvido à matriz original, escolheu mal o momento para reconduzir os fiéis à AR e ao Parlamento Europeu, desafiando Rui Rio e beneficiando o CDS.

Flávio Bolsonaro – O filho do PR do Brasil recebeu 22.500 euros, num só mês, em 48 depósitos iguais, do ex-assessor de Bolsonaro, Fabrício Queiroz. A investigação já foi suspensa por decisão provisória do juiz Luiz Fux, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal.

PR_2 – A ingerência nos assuntos internos do partido a que presidiu arriscou o prestígio de que goza e prestou um mau serviço ao PSD e ao País. Ao receber o adversário de Rui Rio, agora mero militante de base, deu-lhe uma importância que prejudica o líder. 

Marques Mendes – O mais mediático comentador televisivo, e de maior ressonância na imprensa escrita, compromete a reputação pela excessiva parcialidade, clamorosos erros de previsão e, sobretudo, por ser considerado o moço de recados de Belém.

Polónia – O discurso do ódio que a extrema direita levou para o poder já fez uma vítima emblemática, o presidente da câmara de Gdansk, esfaqueado por um fascista enfurecido com o carácter liberal e tolerante do popular autarca. Foi um assassínio político. 

Reino Unido – Depois de silêncios táticos, o Partido Trabalhista defende uma proposta de alteração ao plano de Theresa May, que o parlamento possa votar a realização de um segundo referendo à saída da União Europeia, proposta que May recusa.

António Guterres – O S-G da ONU, com imensa sabedoria, teme que a luta contra as alterações climáticas esteja a ser perdida, e é cada vez mais evidente ser insustentável o modelo económico que explora os recursos do Planeta e ignora a sua finitude.

Bolsonaro – O PR brasileiro defendeu durante 3 décadas, no Parlamento, que a melhor forma de combater a criminalidade era esterilizar os pobres, agora decidiu que a solução é liberalizar o uso de armas, num país onde já se matam a tiro 64 mil pessoas por ano.

Bairro da Jamaica – A pobreza e exclusão incitam à violência e repressão. Urge evitar as causas e eventuais abusos policiais. A Dr.ª Cristas, na AR, exibiu falta de tato, talvez ainda contaminada pela supremacia branca, usuais no lugar e no tempo em que nasceu.

Ponte Europa / Sorumbático

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30.1.19

UM FUTURO PREOCUPANTE

Por A. M. Galopim de Carvalho
No meio de uma campanha eleitoral antecipada e sem qualidade, mais se afirma a preocupação que não podemos deixar de ter sobre o futuro da humanidade.
É nas pedras, ou nas rochas, como se quiser dizer, que se encontra registada a longa e complexa história da Terra e da Vida. E nós estamos a escrever, note-se bem, o último capítulo. Segundo o relatório da ONG Oxfam internacional, agora publicado, 26 bilionários têm mais dinheiro de metade do mundo e essa metade são os 3800 milhões de pessoas mais pobres do mundo. Insaciáveis pelo dinheiro, estes “donos disto tudo”, à escala do planeta, dominam a economia, a políticas e a justiça (nuca foi tão visível a diferença entre a justiça dos ricos e a dos pobres) e estão a poluí-lo material e moralmente. O mar, os solos, os rios, os aquíferos e o ar, estão cada vez mais contaminados e são hoje evidentes os sinais de destruição e esgotamento deste nossa “casa”. A imensa, desmedida, desgovernada e impune agressão de determinadas indústrias privatizam os lucros e socializam a poluição que geram. A par desta situação, que os cientistas não se cansam de denunciar, assiste-se ao aumento da desigualdade entre pobres e ricos, “o que alimenta a raiva no mundo", afirmou Winnie Byanyima, diretora executiva da Oxfam.
Escrevi há dias que num brilhante e arrasador ataque ao neoliberalismo, o plutocrata bilionário americano Nick Hanauer, avisou que “as forquilhas usadas pelo povo na Revolução Francesa, estão de novo prestes a chegar”, forma bem expressiva de dizer que a desigualdade crescente entre pobres e ricos “está prestes a empurrar as nossas sociedades para um estado parecido com a França pré-Revolução”, em finais do século XVIII.

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Apontamentos de Lagos

No Correio de Lagos deste mês

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28.1.19

Grande Angular - Uma sensação estranha

Por António Barreto 
É indelével a sensação de que algo na Justiça não está a correr bem e de que se preparam grandes acções. Ou reviravoltas. Não se esconde a ideia de que a Justiça pode ser fonte de surpresas a breve prazo. É uma questão inescapável: estará em curso um movimento de revisão dos grandes processos pendentes?
É uma hipótese com fundamento: será que nos devemos preparar para más notícias no domínio dos casos em que são visados os poderosos? Nos últimos meses, houve mudanças muito importantes no universo da Justiça, designadamente nos tribunais superiores e em alguns departamentos vocacionados para estes processos. Tem havido substituições, algumas aparentemente de rotina, na Procuradoria-geral da República, no Conselho Superior de Magistratura, no Conselho Superior de Magistratura do Ministério Público e no Supremo Tribunal de Justiça. O que também se verifica entre os dirigentes das polícias de investigação.
Coincidindo com estas mudanças, há sinais inquietantes: o número de arguidos diminui; o número de acusações decresce; há arguidos que deixam de o ser; há penas que são reduzidas; por alegada falta de consistência de provas indícios, caem acusações… Devagar, como quem não quer a coisa, algo se passa.
Ora, estão em curso processos de extrema gravidade e de excepcional importância. Está em causa a honra de dezenas de figuras notáveis. Dezenas de políticos, incluindo Primeiro-ministro, ministros, secretários de Estado, deputados e autarcas de vários partidos estão profundamente envolvidos. Muitos dirigentes económicos e financeiros, talvez alguns dos mais poderosos banqueiros portugueses, além de bancários, empresários e gestores também se encontram visados. Contam-se ainda dirigentes de algumas das mais importantes empresas portuguesas públicas e privadas, sendo que umas tantas foram objecto de destruição deliberada e roubo. A este elenco, acrescentam-se militares e polícias de todas as patentes, assim como dirigentes dos mais poderosos clubes de futebol. Nunca nada de parecido se viu na história.
Movimentos quase imperceptíveis, aparentemente de pouca importância, alteram os comportamentos dos Conselhos Superiores, do Ministério Público, dos Tribunais, das associações de magistrados e outros profissionais da Justiça. Uma nomeação aqui e outra ali. Uma substituição sem motivo evidente e outra em resultado de ciclos e de escalas. Processos que se atrasam sem razão, outros que aceleram de modo imprevisível. Há uma espécie de erosão nas acusações, nas suspeitas e nas pronúncias. No universo da corrupção, do peculato, do favoritismo, do branqueamento de capitais, da prevaricação, do segredo de justiça, da fuga de informação, da legislação feita por encomenda e dos contratos entre o público e o privado, os processos são objecto de atraso, de esquecimento, de dificuldades imprevistas, de investigação alegadamente mal feita, de acusação não fundamentada, de gravações desaparecidas e de escutas mandadas destruir. Que se passa? Má investigação? Má acusação? Má instrução? Vingança pessoal? Envolvimento partidário? Mudança de sentido político no seio do Ministério Público? Tentativa de recuperação por parte dos principais arguidos da política, da banca e dos negócios? Que se passou na destruição de provas e de escutas? A política de “bica aberta” relativamente às provas e às escutas tem explicação? A publicação, a ocultação e a destruição de escutas continuam a ser suspeitas.
A recente polémica a propósito da tentativa frustrada de alteração da composição do Conselho Superior da Magistratura do Ministério Público teve o efeito de revelar o jogo de tensões e pressões no interior e à volta dos grandes corpos de profissionais da Justiça. Quase coincidindo, no tempo, com esta discussão, a substituição da Procuradora-geral da República, a mudança do juiz de instrução do caso da Operação Marquês e alegadas anomalias na distribuição de processos confirmaram a existência de sérios confrontos institucionais.
Nos processos dos políticos e do dinheiro, a justiça tem dificuldade em resolver. Há quem atrase e deixe prescrever. Ou oculte evidência e provas. Da Justiça, vem uma ideia de favoritismo e parcialidade. É inegável a imagem de vulnerabilidade da justiça, que se traduz em fraqueza dos cidadãos. Ora, o que acontece é simultâneo com alguns progressos.
A Justiça melhora os seus meios, progride na sua administração quotidiana e na profissionalização, mas parece estancar diante das rivalidades entre os seus corpos mais importantes, magistrados, procuradores, oficiais, advogados e polícias.
A Justiça moderniza-se, aumenta a eficácia, diminui as pendências, aumenta a produtividade e recorre a especialistas, mas parece estancar diante dos processos que envolvem governantes, políticos, poderosos das finanças e das empresas e altos funcionários da Administração Pública.
A Justiça afirma gradualmente a sua independência, mas constrói uma autogestão orgulhosa que intimida e paralisa o legislador e que a afasta do povo soberano e das fontes de legitimidade democrática.
A Justiça reclama a sua isenção, mas mostra-se vulnerável às pressões e lutas em que intervém interesses secretos e discretos, religiosos e laicos, económicos e financeiros, partidários e corporativos. A Justiça proclama a sua distância aos interesses do dia, às lutas de corpos e de classes, aos grupos e associações, mas organiza sindicatos e similares, ameaça e leva a cabo greves e reivindicações tanto profissionais como políticas.
A Justiça exige garantias e condições de investigação e julgamento, defende o recato e protege as suas prerrogativas de trabalho, mas aceita ou estimula o mais fétido clima de fugas de informação e de falhas deliberadas de segredo de justiça.
A Justiça invoca um alto espírito de respeito pelo Direito, pela Lei e pelo Processo, no que tem seguramente razão, mas utiliza métodos duvidosos e privilegia as escutas que valida ou elimina com intenções estranhas.
A Justiça portuguesa teve dificuldade em adaptar-se à democracia, aos tempos modernos, à Europa, aos Tribunais europeus, ao digital, ao capitalismo e à sociedade de informação.
A Justiça tem como missão dirimir conflitos e defender as liberdades e os direitos humanos.
Público, 27.1.2019

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27.1.19

Apontamentos de Lagos

Colaboração no CORREIO DE LAGOS de Janeiro 2019.

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26.1.19

Um livro muito interessante


Um livro que vai muito para lá do que se passa com Trump — especialmente certeiro quando aborda os "silos sem janelas" em que a maior parte das pessoas se acantona, incapaz de ouvir os outros:
"É mais fácil manipular 1000 pessoas com mentiras que querem ouvir, do que convencer uma delas com verdades que lhe desagradam".
Particularmente interessante é o tema das "bolhas filtradas":
Uma vez que vivemos alegremente encerrados nas nossas "bolhas" de ideias-feitas e preconceitos, estamos sujeitos a algoritmos que nos enviam os 'links" e as notícias em função das nossas preferências, sejam elas clubísticas, políticas ou outras.
Assim, duas pessoas podem fazer A MESMA PESQUISA ao mesmo tempo e obter resultados opostos, em função daquilo que "eles" sabem que elas querem ler.
Anúncios, vídeos do YouTube, etc. já fazem isso... e a malta gosta.

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Pergunta de algibeira

Esta é uma velha adivinha infantil que consiste em encontrar caras de pessoas. As primeiras 4 são evidentes; depois, com atenção, vão aparecendo mais e mais... 
Eu cheguei a 10, mas há quem diga que vê 11 e até 12!

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25.1.19

A propósito da crónica anterior


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Ler bem e ler mal

Por Joaquim Letria
Na minha modesta opinião existem dois modos distintos de ler os autores. Um deles é muito bom e útil, o outro é inútil e chega mesmo a ser prejudicial.
É muito útil e agradável ler quando se medita sobre aquilo que lemos, quando se procura, pelo esforço da mente, resolver questões que os títulos dos capítulos enunciam e propõem, mesmo antes de se começar a lê-los , quando se ordenam e comparam as ideias, confrontando umas com as outras. Em síntese, quando se usa a razão.
Ao contrário é inútil ler quando não entendemos aquilo que lemos, chegando a ser perigoso ler e formar conceitos daquilo que lemos quando não analisamos suficientemente aquilo que foi lido, para julgar com cuidado, sobretudo se temos memória bastante para reter os conceitos firmados e imprudência bastante para concordar com eles.
O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumentando a sua capacidade de entendimento. O segundo diminui o entendimento e enfraquece-o gradualmente tornando-o obscuro e confuso.
Acontece que a grande maioria daqueles que se vangloriam de conhecer a opinião dos outros estuda somente o segundo modo. Estes, quanto mais lêem, mais confusas tornam as suas mentes.
Publicado no Minho Digital

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24.1.19

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As autonomias das Regiões dos Açores e Madeira

Por C. Barroco Esperança
A dimensão imponderada das autonomias insulares impediu a necessária regionalização do continente português e espanta a facilidade com que os excessos autonomistas foram vertidos na lei, por razões meramente eleitoralistas.
Os eleitores, na sua iliteracia política, que 44 anos de democracia ainda não corrigiram, ávidos de chamarem corruptos todos os políticos, dissimulando a inveja, confundindo a parte com o todo, alhearam-se, numa imoral negligência cívica, dos estatutos regionais e da obscena dimensão autonómica que encerram.
A situação, comum aos Açores e Madeira, tornou-se mais detestável na Madeira, onde o sátrapa autóctone insultou durante quatro décadas o continente e chantageou Lisboa. Lá voltou ele agora à campanha eleitoral a ensinar a Miguel Albuquerque, mais sensato e urbano, a vantagem de ser troglodita, com a experiência adquirida nas festas do Chão da Lagoa e carnavais madeirenses.
É assim que o candidato do PSD-M, Miguel Albuquerque, rejeita “imposição colonial” de Lisboa, como se a situação colonial, a existir, não fosse inversa.
Poucos portugueses sabem que cerca de 40% do Orçamento das Regiões, onde é retida a totalidade das receitas fiscais aí auferidas, é contributo do Orçamento de Estado e da UE para cujo Orçamento só o Governo Central contribui. As Regiões Autónomas, além de beneficiarem de fundos de coesão pagos, na íntegra, pelos contribuintes do Continente, não têm despesas com Tribunais, defesa nacional, segurança e representação externa do País, nem contribuem para a ONU, NATO e UE, e a própria polícia e Universidades são totalmente pagas pelos contribuintes do Continente, incluindo os das zonas mais pobres. Deve-se-lhes o milagre económico que perpetuou no poder Alberto João Jardim, 1 dia mais do que Salazar, não de coibindo de morder a úbere teta da República.
A Madeira tem dimensão territorial e populacional semelhante ao concelho de Sintra, agregando apenas duas ilhas, e possui um aparelho de Estado faraónico onde diretores de serviços se denominam Secretários Regionais e ganham como Secretários de Estado da República. Na Assembleia Regional os 47 deputados são equiparados aos da AR.
A autarquia regional divide-se em 11 municípios e 54 freguesias, um luxo escandaloso na segunda região mais rica de Portugal, com PIB per capita de 103% (acima da média Europeia).
A lei que obstou – e bem – à acumulação de pensões e vencimentos, que tanto enxofrou Cavaco Silva, não foi aplicada na Região Autónoma da Madeira, no tempo de Jardim.
Afinal, especialmente o Minho, Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo têm sido vítimas da «imposição colonial» da Madeira, e não o contrário.
Tal como para as regiões do interior, a solidariedade para com as regiões insulares é um dever nacional, mas os insultos e abusos devem ser contrariados.
E as contas auditadas.

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23.1.19

As Desigualdades Sociais e a Saúde

Por Filomena Mónica
Por mera coincidência, andava eu a ler a obra de R. Wilkinson e K. Pickett, The Spirit Level: Why Equality is Better for Everyone, quando me dei conta de que ex-Presidente do BCP, Jardim Gonçalves, recebe, desde 2005, uma pensão de reforma de 167.000 € por mês (285 salários mínimos). Há muito que este banqueiro anda envolto em controvérsia, tendo chegado a ser acusado pelo Banco de Portugal de infracções com dolo, ficando inibido do exercício de cargos em instituições de crédito. Sucederam-se peripécias jurídicas para mim incompreensíveis envolvendo reivindicações variadas (carros, motoristas e seguranças) no valor de 2.124 milhões de Euros.
 Tratando-se de um banco privado, o dinheiro destinado à sua reforma não sairá, julgo, do meu bolso, mas o que está em causa não é tanto a legalidade desta pensão, mas a sua moralidade. Aliás, o argumento de que os banqueiros têm de ser altamente remunerados devido à sua competência não colhe: nenhum deles, note-se, foi capaz de prever a crise de 2009 e apenas um, Horta Osório, foi contratado por um banco sedeado em Londres. Espanta-me ainda que uma figura conotada com a Opus Dei, como é o seu caso, acabe a sua carreira desta forma. Será que algum vez leu o que o Evangelho diz sobre a ganância?
Há muito que me dei conta de ser Portugal um dos países mais desiguais da Europa. Do que não estava ciente – embora isso me pareça agora óbvio – era da forma como isso afectava a saúde das pessoas. O livro acima citado, escrito por dois epidemiologistas, demonstra a maneira como as desigualdades sociais não só minam a coesão social mas têm efeitos deletérios sobre outros aspectos- O quadro 13.1 relaciona as doenças e as desigualdades sociais. Aí se vê a posição, negativa, de Portugal e a positiva dos países escandinavos e do Japão. Veja-se ainda o quadro 13.2, onde aparecem as estatísticas dos diabetes, da hipertensão, do cancro, das doenças pulmonares e do coração em Inglaterra e nos EUA: é neste país, um dos mais ricos do mundo, que a origem de classe conduz a uma maior morbilidade. No final, estes autores concluíram que existe uma correlação elevada entre a saúde e a desigualdade social. Percebo agora a irritação de uma amiga diante da falta de comparência, na última 4º Feira, da sua empregada doméstica. «Esta gente», disse-me, «passa a vida nos hospitais». 
A ideia de que não podemos ter, ao mesmo tempo, igualdade e liberdade ganhou força durante a Guerra Fria. A União Soviética parecia ter demonstrado que uma maior igualdade só podia ser obtida à custa de uma menor liberdade. Acontece que, como o evidenciam as democracias escandinavas, isto não é verdade. A desigualdade social portuguesa mantém-se porque não há partidos responsáveis. Mas esta conversa levar-nos-ia para o tema da necessidade de uma alteração na lei eleitoral, um assunto que aqui não cabe.
“Expresso” de 19 Jan 19
                        

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22.1.19

Apontamentos de Lagos

Colaboração no CORREIO DE LAGOS de Janeiro 2019.

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VERGONHA NA CARA

Por Joaquim Letria 
Governo, partidos e sindicatos entretêm-se muito a discutir o justíssimo fim dos cortes nas pensões dos trabalhadores com longas carreiras contributivas, ou seja, daqueles que começaram a trabalhar muito cedo e descontaram a vida toda, em muitos casos ao longo de 46 e mais anos.
Porém, como estes trabalhadores já não descontam para os sindicatos, nem vão nas camionetas que estes e os partidos mandam para as manifestações, ninguém quer saber deles e por isso continuam com os ignominiosos cortes que os políticos ordenaram que lhes fossem feitos. 
Acham que alguém se preocupa com eles!? Para assim ser seria necessário que aqueles que decidem tivessem vergonha na cara. 
Publicado no Pasquim da Vila

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21.1.19

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Grande Angular - A política de proximidade, a democracia distante

Por António Barreto 
É um dos grandes mitos da política contemporânea: os políticos estariam cada vez mais distantes dos eleitores e mais longe do povo! Parece ser o mal de qualquer país ocidental. É uma das explicações mais banais para os problemas actuais da política.
Nada é menos verdade! Nunca os políticos estiveram tão perto dos eleitores. Dirigem-se aos cidadãos em qualquer dia e a qualquer hora. Passam grande parte dos fins-de-semana em viagem pelas freguesias e em visita pelos distritos. Vão a inaugurações, lançamentos, primeiras pedras e aniversários de nascimentos ou de mortes. Deixam placas comemorativas em cada esquina. Não faltam aos acidentes, desastres, mortos, quedas, incêndios, naufrágios e enterros. Fazem reuniões deslocalizadas, descentralizam, desconcentram, abrem presidências e conselhos de ministros, estabelecem roteiros de jovens, de velhos, de estudantes, da ciência, dos pobres e de tudo quanto mexe. Vão aos desafios de futebol, condecoram os desportistas, assistem a missas (mesmo não sendo crentes), distribuem medalhas, a cada volta dão um giro e passam pelo partido. Fazem-se acompanhar por jornalistas sempre prontos para o movimento e levam colossais comitivas de comunicação a qualquer parte do país ou do estrangeiro. Pagam transporte e alojamento. Dão entrevistas breves, pequenas, médias, longas e de uma vida, assim como grandes entrevistas e conversas informais. Jornais, dezenas de canais televisão e rádio, redes sociais, telemóveis, telefones, computadores e todas as vias imagináveis são frequentadas com assiduidade. As entrevistas rápidas e as declarações à porta de qualquer lugar público são aos milhares. Os chefes de partido e os ministros são os mais próximos de todos, os que mais frequentemente aparecem nos comícios de sexta-feira, nas inaugurações de sábado e nas sessões de esclarecimento de domingo.
Nunca, como hoje, houve tantas emissões em directo e em “prime time”, ou “horário nobre”, com declarações políticas, debates entre políticos fora ou dentro do Parlamento, transmissões de sessões de comissões de inquérito ou não e audiências parlamentares de toda a espécie. Olhe-se com olhos de ver para os costumes parlamentares e televisivos de há trinta ou quarenta anos: era o silêncio das abadias ao lado das romarias de hoje.
Tudo isto contribui para que nunca, como hoje, os políticos estivessem tão perto dos cidadãos e os eleitores tão próximos dos políticos. Tão perto e tantas vezes. Nunca, como hoje, os políticos perderam e gastaram tanto tempo a contactar as populações, a fazer reuniões em todos os sítios, a viajar em aviões, comboios e autocarros rodeados de pessoas e jornalistas. Nunca, como hoje, foi tão fácil a qualquer pessoa, amigo ou inimigo, apoiante ou adversário, falar com um político, contactar um deputado ou um secretário de Estado. Não deve haver cidadão em todo o país que não tenha estado meia dúzia de vezes com o Presidente, o Primeiro-ministro, o ministro, o secretário de Estado, o deputado e o presidente da Câmara. Nunca, como hoje, houve literalmente milhões de pessoas que guardam pelo menos uma fotografia em companhia do presidente, do ministro ou do chefe de partido.
Os grandes temas, as grandes orientações para os novos políticos e para os novos democratas são as políticas de proximidade. Tudo se resume a esta formidável etiqueta, “proximidade”. Saúde de proximidade. Justiça de proximidade. Educação de proximidade. Urbanismo de proximidade. Protecção civil de proximidade. O que tem como imediato resultado a demagogia, sobretudo a dos orçamentos de proximidade e dos orçamentos participativos. As inaugurações são quotidianas e repetem-se, sobretudo em anos eleitorais, tudo em nome da proximidade. Sucedem as reportagens de televisão (cujas estações se prestam miseravelmente ao propósito), com rostos atrás do protagonista do dia. Anuncia-se tudo: o anúncio, a primeira pedra, o primeiro dia de obra, a avaliação, o acompanhamento, a preparação da inauguração e a inauguração.
Então… por que não funciona? Pelo carácter mecânico e artificial. O político pensa e fala como um vendedor de produto. A sua proximidade com o cidadão é preparada. Mediatizada por jornalistas, agências de comunicação, encarregados de relações com a imprensa e empresas de eventos. Sabe-se as horas e a duração do encontra casual, estabelece-se o roteiro informal, quem quiser encontrar por acaso o povo ou o político sabe-o com antecedência. O artificialismo destrói a sinceridade. As arruadas de campanha eleitoral permitem encurtar distâncias, aproximam políticos e cidadãos, são totalmente destituídas de um qualquer sentido, de reconhecimento ou de conteúdo. São excelentes substitutos das sessões de esclarecimento do século passado ou até dos comícios: numas e noutros, apesar da demagogia, era necessário pensar, informar e falar. Com as arruadas, estamos próximos das feiras e das romarias. É sobretudo necessário sorrir, agradecer e beber um copo.
Aquilo de que muitos verdadeiramente se queixam não é da distância, é de os políticos não lhes darem o que querem, o que prometeram e o que deveriam dar. As expectativas criadas e as necessidades estimuladas pela política de massas, de encontros populares permanentes, de populismo moderado e estabelecido, essas ambições permitem aos eleitores desejar tudo, saúde, educação, emprego, subsídios, estradas, creches e obras. São enormes as ambições, mas absolutamente impossíveis de satisfazer em tempo de vida seja de quem for. Mas são essas promessas não cumpridas, essas expectativas não satisfeitas, que criam esta ilusão de distância, que criam as bases deste mito. A saúde dos Noruegueses, a educação dos Finlandeses, as estradas dos Alemães, os empregos dos Americanos, os direitos sindicais dos Franceses e as férias dos Ingleses são direitos inalienáveis dos cidadãos Portugueses. Quem lhes faltar com isso, não cumpre os seus deveres. Ora, os nossos políticos prometem tudo isso.
Em contraste com os políticos, que estão cada vez mais perto e junto dos eleitores, são as decisões que estão cada vez mais longe, mais distantes, mais incompreensíveis, em Bruxelas, em Berlim, nos centros financeiros, em Washington, em Pequim, talvez em Moscovo. Este paradoxo da proximidade dos políticos em contraste com a distância da decisão pode ser fatal para os políticos. Talvez o seja também para os cidadãos!
 Público, 20.1.2019

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19.1.19

Apontamentos de Lagos



Colaboração no CORREIO DE LAGOS de Jan 19

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ESCRITURÁRIO

Por A. M. Galopim de Carvalho
Escriturário ou empregado de escritório, foi a profissão do meu pai na antiga Companhia Alentejana de Seguros, “A Pátria”, e, aos fins de semana, em mais uma ou duas pequenas empresas (os filhos a criar eram muitos). A vê-lo trabalhar, aprendi o que era, nesses anos, esta profissão, na maioria dos casos, masculina. Havia, mas eram raras as mulheres escriturárias. 
Escriturário, nos anos 30 e 40 do século que passou, era aquele que fazia a escrita de quaisquer instituições ou empresas comerciais e industriais com dimensão que exigisse essa actividade. E dessa escrita fazia parte a contabilidade, o expediente, a administração e tudo o que envolvesse trabalho feito à secretária, de caneta ou lápis na mão
Ser escriturário ou guarda-livros, como também se dizia, nesses anos, tinha estatuto social acima do dos empregados de comércio, designados por caixeiros, e dos operários das poucas indústrias. Não tinha salário, tinha ordenado, em média, acima do destes profissionais. Usava chapéu de feltro do tipo vulgar nos homens desses anos. Digo vulgar porque havia um “chapéu à diplomata”, com abas enroladas para cima, usado por alguns eborenses tidos ou assumidos como mais importantes do que o vulgo. Por dever de ofício, o meu pai vestia fato completo, de calça, colete e casaco, e camisa com gravata. Alguns homens desta classe usavam “polainitos” de feltro a cobrir os sapatos. Botas, só se fossem de cabedal fino. Nos casos de que me lembro, os escriturários gozavam do regime laboral dito de “semana inglesa”, isto é, além do Domingo de folga, tinham também as tardes de Sábado.
Nos cafés e nas sociedades recreativas conviviam com patrões do comércio local e da pequena indústria, graduados do exército e profissões liberais. Daí que a expressão “manga-de-alpaca”que, em sentido figurado, se lhes referia, era dita depreciativamente, em tom de despeito, por uns, e no de desdém, por outros.
Em sentido real, as mangas de alpaca eram duas mangas postiças, uma para cada braço, numa prática vinda do século anterior e ainda utilizada pelos escriturários da primeira metade do século XX. Eram feitas de um tecido leve, primitivamente alpaca,vestidas por cima do casaco ou da camisa, desde os punhos até ligeiramente acima dos cotovelos e apertadas nas extremidades com um elástico, de forma a não danificar as respectivas mangas durante o serviço.
Como o nome indica, o escriturário escrevia, não como hoje, nos teclados dos computadores, mas à mão, com caneta e aparos de molhar na tinta (solução aquosa de pigmentos e outros aditivos), via de regra, a azul e, para determinados destaques, a vermelho. Escreviam em livros e, daí, o nome de “guarda-livros” que também se lhes dava. Esses livros, adequados ao tipo da empresa, registavam a respectiva contabilidade e outros procedimentos da administração, incluindo, balanços e actas das reuniões da direcção ou das assembleias no caso das sociedades. Para tal, os interessados nesta profissão saíam do curso de Comércioda então Escola Industrial e Comercial Gabriel Pereira(situada no edifício do antigo Colégio do Espírito Santo),onde, além das disciplinas teóricas adequadas e da dactilografia, aprendiam a escrever em caligrafias convencionais, então muito em uso, como a francesa, a inglesa e a alemã ou gótica, usadas em títulos, em palavras e frases a destacar. Havia aparos próprios para cada um destestipos de caligrafia. Fendidos na ponta, alguns deles permitiam desenhar letras com traço mais fino ou mais largo (fazendo mais ou menos pressão sobre o papel) no respeito pelo tipo de caligrafia escolhido.A caneta de tinta permanente, uma invenção de escrever a tinta, sem precisar de tinteiro,já fazia parte do material escolar dos alunos do Liceu, mas não era a mais usada no escritório.
O uso de tinta líquida exigia o uso do “mata-borrão”, um papel encorpado, sem goma na sua constituição e, por isso, bom absorvente da tinta. Assim evitava-se que algo que passasse sobre a escrita acabada de fazer, a borrasse. Um pequeno suporte baloiçante, de uso manual, com uma superfície cilíndrica forrada com este papel, fazia parte dos objetos colocados sobre a secretária.
À mão do escriturário e indispensáveis ao seu trabalho, havia ainda a “raspadeira”, uma lâmina muito afiada, adaptada à ponta de um cabo, no género de um bisturi, com a qual raspava uma letra, uma palavra ou uma frase que tivessem de ser apagadas. Com o mesmo fim, podia utilizar os líquidos de dois frasquinhos, um com água, para diluir a tinta da palavra ou do conjunto a apagar, molhando com a ajuda de uma pequena vareta de vidro fixa à respectiva rolha e outro, com um soluto de hipoclorito de sódio (o mesmo da vulgar lixívia), colocado logo a seguir, com idêntico procedimento, o que, imediatamente, exercia a sua acção branqueadora.

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18.1.19

Empréstimos & Dívidas

Por Joaquim Letria
Penso que seria bonito, útil e honesto que as nações ricas e credoras explicassem às suas populações que estão a tratar delas o melhor possível cuidando e protegendo as suas poupanças ao ajudarem os países mais pobres e periféricos como por exemplo a Grécia e Portugal.
A alternativa ao que fazem e se vangloriam seria aceitarem a perda dos empréstimos feitos e recapitalizar directamente os bancos. No entanto, admitir isso seria aceitar que as suas políticas tinham sido estrepitosamente erradas. Todavia, esse reconhecimento seria uma grande ajuda. 
De facto, poderíamos ir mais longe. A admissão de que foram cometidos erros graves quer pelos virtuosos quer pelos pecadores seria uma condição essencial para se criar e consolidar a vontade política de desenvolver e reforçar o sistema.
Porém, permanecem diante de nós terríveis desafios capazes de nos fazerem sofrer dentro de pouco tempo, com mais uma crise mais ou menos grave como aquelas que ciclicamente experimentamos. Seria mais claro e mais fácil se todos confessassem – uns e outros – a sua contribuição para esta confusão e ameaça em que vivemos.
Tanto aqueles que emprestaram duma forma louca, sem rei nem roque, como os que aceitaram endividar-se sem retorno e não dando mostras de explicarem como tencionavam pagar estão implicados na terrível situação que mais cedo ou mais tarde teremos de enfrentar. Não nos esqueçamos que “it takes two to tango”.
Publicado no Minho Digital

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17.1.19

A direita no seu labirinto

Por C. Barroco Esperança

O PSD anda em polvorosa, como é da tradição, quando está fora do poder e minguam os lugares para quem se julga ungido para os ocupar. Luís Montenegro cometeu um erro que dificilmente lhe será perdoado, desafiando o líder num dos piores momentos que o partido atravessa e quando o seu desespero pode acelerar a implosão, com benefício dos partidos à sua direita (do PSD, não de Montenegro, Passos Coelho ou Maria Luís).

Não é fácil ser homem de mão de Passos Coelho e tentar um golpe para fazer regressar à AR a tralha que vendeu as principais empresas do Estado ao preço da uva mijona.
A Dr.ª Cristas é a mais perseverante adversária do PSD, embora sem tropas e qualidades de comando, mas Santana Lopes, cujo passado autárquico, governamental e de gestor da Misericórdia de Lisboa devia ter vacinado os eleitores, pode ser o grande beneficiário da derrocada eleitoral do PSD, que Montenegro acelerou de forma canhestra.
Há na esquerda quem se sinta feliz com esta dissolução da direita, sem pensar que a pior direita ainda não apareceu. O Menino Guerreiro, num país de memória curta, pode vir a ser o fiel da balança, a roçar os extremismos que grassam na Europa. E até já se permite ser arauto da luta contra a corrupção. Quem diria!
O PR, com a enorme popularidade de que ainda dispõe, tem força e vontade suficientes para impedir a esquerda de crescer de forma consistente, mas mingua-lhe a capacidade para travar uma onda populista de extrema-direita.

A direita representa um terço das intenções de voto, mas tem enorme poder nos sectores económicos e financeiros, na comunicação social e aparelho de Estado, nos bombeiros e IPSSs, nas fundações e Ordens profissionais e, pasme-se, nos sindicatos selvagens que emergem através das Ordens.
A direita dissolve-se, sem ideologia nem projetos, e unir-se-á em torno dos interesses, enquanto a esquerda se digladia, com forte ideologia e projetos que tendem a dividem.
A agitação social, onde coexistem reivindicações justas, difíceis de atender, e exigências obscenas, indignas de acolhimento, têm constituído o caldo de cultura de que a direita precisa para eleger a ordem e a segurança como trunfos para eliminar direitos e incitar a rivalidade entre trabalhadores do sector público e do privado.
Em França já é claro que a grande beneficiada das manifestações dos coletes amarelos é a extrema-direita de Marine Le Pen. Espero que o exemplo seja vacina em Portugal.

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14.1.19

Grande Angular - Em defesa do Parlamento

Por António Barreto
É a instituição que melhor representa a democracia. Com muitos ou poucos partidos, com ou sem maiorias absolutas, o Parlamento é condição de democracia. Não há democracia sem Parlamento. Ainda não se inventou melhor. É talvez a instituição que melhor defende a democracia. Mas do Parlamento também podem vir perigos. Um Parlamento que não se dá ao respeito é letal para a democracia.
Os partidos tratam-no com se fossem seus patrões, proprietários ou cônjuges com direito a assédio. Fazem o que querem. Nem admitem que os cidadãos se metam com eles. E assim danificam o Parlamento. Há hoje casos em que o Parlamento estraga a democracia, como na Venezuela, no Brasil ou na Hungria. Iniciativas antidemocráticas vêm liquidando os respectivos parlamentos há vários anos. Quer dizer, estes podem ser as primeiras vítimas deles próprios. É verdade que o Parlamento é a instituição que melhor representa o povo e que confere mais legitimidade aos governos. Mas nem sempre é a instituição que melhor defende o povo.
Com duas eleições, este formidável ano de 2019 poderia oferecer a oportunidade para uma reflexão aprofundada, sem preconceitos, sobre o papel dos parlamentos nacionais. É bem provável que o futuro da democracia dependa em parte do seu regresso a uma posição central, deixando de ser a instituição cada vez mais subsidiária que é actualmente. Melhor seria, por exemplo, fazer com que os parlamentos nacionais desempenhassem funções essenciais no plano europeu. Ou até que substituíssem o Parlamento europeu. Com um Parlamento de Babel e parlamentos nacionais despidos de soberania e despojados de poderes reais, a democracia europeia ficará pobre e sem sentido.
Entre os parlamentos nacionais raquíticos e o parlamento europeu obeso, vai-se criando um espaço vazio, rapidamente preenchido. Por quem? Pelos movimentos populistas, grupos de pressão, empresas multinacionais, vanguardas políticas, associações criminosas, organizações de traficantes e toda a espécie de confrarias financeiras.
O Parlamento português parece cada vez mais uma fortaleza de defesa dos deputados e dos seus privilégios. Com inusitada frequência surgem no espaço público notícias sobre irregularidades e vilanagem. E logo se ouve um deputado declarar que tem “a consciência tranquila”, cliché cada vez mais utilizado pelos corruptos. Ou o seu presidente garantir que não tem lições a receber de ninguém e que não “compactua” com as pessoas que criticam o Parlamento.
No Parlamento, nem toda a irregularidade é corrupção. Há formas de roubo que o não são. Há anormalidades que também não são. É o local de eleição para as artimanhas que, sendo vigarices, não são corrupção. As faltas dos deputados. Os passwords que se fornecem aos amigos. As assinaturas feitas por procuração. As inscrições em ficheiros informáticos. As falsas declarações de deslocações e estadias. As ajudas de custo indevidas. As viagens em grupo mas contadas como individuais. Os endereços de empréstimo. As declarações de património “marteladas”. As contas de familiares maquilhadas. O “dinheiro vivo” que não deixa rastos. Este universo de trapalhice não é corrupção. É mais desvio e mentira.
Alguns deputados ilustram-se com declarações de fidelidade moral, outros ficam escandalizados quando alguém denuncia os trafulhas (indignados com quem denuncia, não necessariamente com o culpado…). Outros ainda, mais solenes, queixam-se das “campanhas antidemocráticas”! Como é cada vez mais evidente e se tem descoberto, os autores das piores campanhas contra o Parlamento são os deputados. Pelo que fazem. Pelo que não dizem. Pelo que deixam correr, sem apurar responsabilidades.
A democracia tem geografia (círculos eleitorais) e indivíduos (uma pessoa, um voto). Com este sistema proporcional e sem responsabilidades pessoais, com disciplina de voto e com os votos colectivos (que se podem observar todos os dias na televisão), o que vigora é uma democracia de anónimos e de responsabilidade limitada, sem comunidades e nem individualidade. Nenhum deputado é pessoalmente responsável. Nenhum eleitor pode pedir contas ao “seu” deputado. Nenhum deputado deve a sua eleição a um eleitorado real. Tudo o que um deputado é deve-o ao partido.
Assim se vai o Parlamento debilitando. Brevemente, sem liberdade de voto, bastará um deputado de cada grupo votar por todos. Os hipotéticos rebeldes ficam calados ou são convidados a sair da sala. O actual modo de votação por colectivo, sem nome nem contagem, é já há muito o anúncio deste admirável Parlamento novo, em que qualquer deputado é substituído por doença, casamento, férias, emprego, lazer, negócios ou interesse do partido… As aparentes boas intenções dos responsáveis parlamentares são inúteis. Querem curar com adesivos os pés da cadeira partida. Toda a lógica actual dos grupos, da disciplina de voto, das listas partidárias e das substituições sem eleição é a mesma dos sistemas de faltas, de ajudas de custo, de transmissão de passwords, de votos por barriga de aluguer e de marcação de presenças por ausentes. O que parece ser uma falta grave para a opinião pública é praticado há décadas por muitos membros dos grupos parlamentares. Não todos. Mas muitos.
O método de votar por procuração e “tirar a falta” tem quarenta anos. Antes dos computadores, muitos deputados tinham nas suas carteiras fac-simile de assinaturas de amigos, em geral da província, por quem rubricavam. Viam-se alguns mais descarados tirar a agenda do bolso para copiar a rubrica dos faltosos. As sextas-feiras eram dias particularmente cheios de trabalho para os procuradores. Nesse dia, uma assinatura valia por três, pois incluía o fim-de-semana, a ajuda de custo e a deslocação. Os passwords não fizeram mais do que modernizar a tramóia.
Votar em colectivo, com disciplina, não é muito diferente de tirar a falta. O deputado pode estar lá dentro, em comissão, no seu gabinete, no Chiado, na Avenida dos Aliados ou em Tavira! Qual é a diferença, neste mundo informatizado?
Há três anos, foi criada uma Comissão especializada para tratar destes assuntos relativos à fraude parlamentar. Ao fim de três anos e dezenas de reuniões, não há conclusões! Típico! Em três anos, os deputados não conseguiram chegar a um acordo sobre o Código de Ética, as faltas, as incompatibilidades, os deveres de lealdade, de cumprimento de deveres e de declaração de despesas… Parece que nem o Parlamento, nem os partidos, conseguem estimular a honestidade de todos os deputados!
Público, 13.1.2019

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À ATENÇÃO DAS PROFESSORAS E PROFESSORES DAS NOSSAS ESCOLAS.

Por A. M. Galopim de Carvalho
Se não acrescentarmos algo de cultural e/ou de histórico às matérias curriculares da nossa responsabilidade, ficamos como os papagaios e os nossos alunos também. Maneira singela de dizer que, se nos limitarmos a debitar o manual em uso, estamos a amestrar os alunos a acertarem nas perguntas a afrontarem nos exames, mas não estamos a formar cidadãos. 
Esclareço que limito estas linhas ao ensino da Geologia, embora colegas me digam que outro tanto se passa em outras áreas. Por outro lado, faço questão de tornar claro que estou, sobretudo, a visar o sistema 

- em que, insensatamente, as sucessivas tutelas parecem estar mais interessadas nas estatísticas do que na qualidade do ensino;
- em que os programas oficiais amarram os professores, não lhes dando tempo para “divagações desnecessárias”;
- em que os professores vivem sobrecarregados em tarefas administrativas e outras de que deveriam estar rigorosamente libertos;
- em que muitos deles vivem longe das famílias ou perdem horas nos caminhos diários de ida e volta a casa e a contarem os tostões; 
- numa sociedade que lhes retirou a dignidade e o respeito a que têm direito. 

É, pois, neste quadro e na convicção de que os que ensinam (hoje são mais as professoras do que os professores) devem saber muito mais do que o estereotipado no deficiente manual de ensino, que aqui deixo um exemplo que poderá ser ideal mas, nem por isso, recusável. 

Suponhamos que temos de falar de calcários. Para além de sabermos qual a sua natureza, o seu significado como documentos indispensáveis para o conhecimento da história da Terra e o seu interesse como importantíssima matéria-prima, será interessante sabermos que a palavra radica no latim “calcariu”-, termo relativo a cal, que cal, também do latim, “calx”,traduz a ideia de pedra e, a partir daqui, podermos abrir portas a duas das mais importantes e úteis capacidades do ser humano – aprender e pensar.

Um parêntese para lembrar que, desde que haja apetência, a nossa capacidade para aprender é praticamente ilimitada. Cabe a quem ensina ter arte de criar essa apetência.

Neste texto, que exemplifica uma possibilidade de complementar a, matéria curricular com algo de cultural e/ou histórico que contribua para a formação dos alunos como cidadãos, destaco, em maiúsculas, as principais palavras do léxico português radicadas no acima referido étimo “calx”. 
Comecemos pelo CÁLCIO, o elemento químico isolado pela primeira vez em 1808, pelo químico inglês Humphry Davy, que hoje sabemos ser o 5º mais abundante na crosta terrestre, com 3,6% na escala ponderal, e que entra na composição do mineral CALCITE, já conhecido ao tempo de Plínio. o Velho (século I), que hoje sabemos ser um carbonato de cálcio (CaCO3) descrito, em 1836, pelo alemão Johann Carl Freiesleben, mineral essencial na constituição do CALCÁRIO.Vulgarmente conhecido por pedra-de-cal, o calcário é a rocha sedimentar que, submetida a CALCINAÇÃO(decomposição térmica), produz CAL,o óxido de cálcio (CaO), substância sólida, branca e alcalina,vulgarmente referida por cal-viva,. Uma vez regado com água, o óxido de cálcio gera o respectivo hidróxido ((OH)2Ca), bem conhecido por cal-apagada que, em suspensão aquosa, dá a cal com que ainda se branqueiam as paredes nas aldeias e montes que caracterizam o Alentejo e o Algarve. Cal designa, ainda, a argamassa de cal-apagada que se usava antes da era do cimento. CALEIRAouCAIEIRA(termo usado no Alentejo) é o forno de cal, CALEIROouCAIEIRO, o homem que a fabrica e/ou a vende, eCAIADOR, oque se serve da cal para CAIAR.Lá longe, nosmares recifais das Caraíbas, onde sabemos ter sido importante a presença dos portugueses (lembremos a muito provável naturalidade de Cristóvão Colombo na vila alentejana de Cuba), deu-se o nome deCAIOS(Caio Largo e Caio Coco)àspequenas ilhas cubanas, rasas e exclusivamente feitas de areia calcária bioclástica.
CALEIRArefere ainda o sulco ou rego inicialmente empedrado, tendo o nome sido generalizado, depois, ao mesmo tipo de aparato, ainda que feito com outros materiais.CALCIMETRIAé o procedimento químico destinado a quantificar o teor de cálcio, do seu óxido ou do seu carbonato, em rochas ou em terrenos,CALCÍMETRO, o aparelho que, no laboratório, é usado com esse fim, e CALCEMIA, o teor de cálcio ionizado no sangueEra com pedras, a servirem de lastro, que se CALAVAMos barcos quando, sem carga, se faziam ao mar. Com o mesmo étimo, dá-se o nome de CALADOà profundidade a que se encontra o ponto mais baixo do casco de uma embarcação, em relação à superfície da água onde se encontra mergulhada. Com a mesma origem,CALÇADAé o revestimento de ruas e praças com pedras eCALCETEIRO,o artista que celebrizou no mundo a calçada portuguesa. Paralelamente, CALÇARtanto é enfiar o pé no CALÇADO, como é meter um CALÇOpor baixo daquilo que queremos que fique firme, eCALCARo chão é dar-lhe a compactação da pedra.CALCANHAReo respectivo osso, o CALCÂNEO, têm a mesma etimologia.
A terminar, a palavraCÁLCULO, do latim calculus (de calx(pedra) + sufixo diminutivo -ulus), que significa pedrinha, é o termo erudito para designar a pedra nas litíases biliar e renal e CALCULISTA, a pessoa que tudo calcula ou que não procede senão por interesse. Na Antiguidade, era com pedrinhas (cálculos) que se contava e se faziam contas, ou seja, se CALCULAVA, operaçãoque hoje fazemos, por via electrónica, nas modernasCALCULADORAS
Na sequência desta exploração semântica, poderíamos dissertar, menos ou mais detalhadamente, sobre cada uma das palavras lembradas atrás, mas fixemo-nos, por exemplo, em CALCÁRIOCALÇADAe, aqui, vale a pena começar por dizer que, no essencial, a “calçada portuguesa” consiste no calcetamento com pedras de calcário brancas e pretas (que, na realidade, são cinzentas), criando figurações plásticas de notada beleza. 
Na origem, as pedras pretas eram de basalto, que há muito na região de Lisboa, tenho sido aqui intensamente explorado, num passado recente. São Sebastião da Pedreira deve o nome à pedreira de basalto que ali existiu. 
Há, ainda, pedras de calcário de outras cores (avermelhadas e amareladas), mas apenas usadas em casos pontuais. No que se refere às referidas pedras, basta olhar para o chão de praças ou avenidas, ou navegar na “Net”, para vermos que umas não têm talhe uniformizado, ditas ao “malhete”, e que outras, nas calçadas mais aperfeiçoadas, foram aparelhadas ao “quadrado” ou “sextavadas”. A “calçada portuguesa” surgiu em Lisboa, em 1842, com o calcetamento de parques, praças, passeios e outros espaços pedonais, com um simples motivo em zigue-zague (“ondas do mar largo”), a branco e preto, realizado por “grilhetas”, nome que, na época, se dava aos presidiários. A calçada portuguesa alastrou rapidamente por todo o país, pelo Brasil, pelas então colóniase pelo estrangeiro, numa expressão de arte muito nossa, tendo sido criada, em 1986, uma Escola de Calceteiros da Câmara Municipalde Lisboa.
Em 2015, a Agência de Publicidade MSTF Paterns, promoveu a implantação, na rua Garrett (em Lisboa), doprimeiro código QR (sigla de Quik Response, ou código de resposta rápida), feito em calçada portuguesa,com pedras brancas e pretas, talhadas ao quadrado. Com uma área de,aproximadamente, um metro quadrado, esta novidade mundial da calçada portuguesa permite aceder a informações turísticas sobre esta zona de Lisboa. 
Como nota final, saiba-se que o Código QR, de múltiplas utilizações, à semelhança do já familiar Código de Barras, foi inventado no Japão em 1994.
Sugiro a visita aos “sites”, de que há muitos e bons no Google, alusivos à calçada portuguesa.

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