30.9.12

Os pinta-paredes - (5)

Como não chegam as carruagens da CP, os taipais das lojas, as paredes das casas e tudo o mais que se sabe, aqui estão "eles" a atacar os portões das garagens - um destes é do prédio onde eu moro.

O que eles fizeram pelas Ciências da Terra (30)

 René Just Haüy (1743 - 1822)
Por A. M. Galopim de Carvalho
CÓNEGO honorário de Nôtre Dame de Paris, por vezes designado por Abade Haüy, foi um mineralogista francês, pioneiro no estudo da geometria dos cristais e da piroelectricidade.
Ao definir espécie mineral, usando, em simultâneo, as características químicas e cristalográficas, Haüy ficou considerado como o fundador da Mineralogia como ciência exacta, tendo contribuído para o grande desenvolvimento da cristalografia morfológica que caracterizou o século XIX e boa parte do XX. (...)
Texto integral [aqui]

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A propósito de "grafia"...

Alguém sabe o que é que estas duas letras estão aqui a fazer?
(Como habitualmente, haverá uma actualização, com a resposta)
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Actualização:
Pois bem, a habitual porta vermelha está lá, mas foi tapada! Aparentemente, o proprietário da casa (na Av. Almirante Reis, em Lisboa) achou ela que destoava na fachada. Assim, fotografou os azulejos verdadeiros e fez um grande autocolante (com as respectivas imagens) com que tapou a porta! Mas teve o requinte de recortar o autocolante em torno das letras, por forma a que ficassem visíveis!

Coisas da "nova grafia"?

Lisboa - Casa do Alentejo

Luz - Vale do Douro, 2006

Fotografias de António Barreto- APPh

Clicar na imagem, para a ampliar.
Mais uma vista do Vale deste maravilhoso rio. Fotografia tirada de dentro do rio, a bordo de barco de turismo. A localização é no chamado “Douro superior”. Na margem esquerda, à direita nesta imagem, consegue ver-se uma inscrição numa pequena casa branca: “Quinta do Vesúvio”. Não é o edifício principal da quinta, quase monumental, é apenas uma inscrição de identificação. A Quinta do Vesúvio, mais uma da “Ferreirinha”, a Dona Antónia, era uma das mais famosas daquela senhora e daquele grupo ou família. Há poucos anos, foi vendida ao mais importante grupo de vinho do Porto, o dos Symington. À esquerda da imagem, na que é a margem direita do rio, as escarpas mostram paredes de granito, presente em certos troços de uma região com bem mais xisto. Na rocha, umas estranhas “pinturas” amarelas: são pólenes de árvores e arbustos que dão um curioso colorido a certas partes do vale. (2006).

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Surto de vozes excitadas

Por Ferreira Fernandes
NADA melhor para mostrar as nossas incertezas e fraquezas do que ouvir gente que nem disso se dá conta. De um lado, o consultor do Governo para as privatizações, António Borges, a dizer que "os empresários que se apresentaram contra a medida [mudanças na TSU] são completamente ignorantes". Do outro, o líder sindicalista Arménio Carlos a garantir que "se o Governo não ouve o povo a bem, ouve a mal". 
A falta de dúvidas de Borges é terrível, da função dele esperar-se-iam pontes entre o Governo e os empresários, não insultos. Ora o que ele disse tem como precedente a incapacidade de se lhes ter explicado o que de bom traria a mudança na TSU - o quase unânime repúdio dos patrões sobre o assunto mostra que algum erro deve ter havido da parte dos explicadores. 
Chamar burros a quem se explicou mal indicia que Borges não aprendeu com o erro (dele) e que vai continuar por aí. Impante e sem dúvidas é exatamente o tipo de responsável de que não precisamos hoje. 
A ameaça de Arménio Carlos também é terrível, porque acena com uma força indevida. Encher as ruas e as praças de protestos pode ser um termómetro, alerta - serve para isso, não mais. É prudente ouvir esse termómetro, mas ninguém é obrigado, nem o Governo. Obrigatório, mesmo, é outro instrumento. Chama-se eleições, e da última vez encheu as praças (neste caso, urnas) com 2.813.729 eleitores (soma PSD e CDS). Só as seguintes obrigam a ser ouvidas, "a bem ou a mal".
«DN» de 30 Set 12

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29.9.12

Os pinta-paredes - (4)

Lisboa, prédios devoluto na Av. Almirante Reis

Apontamentos de Lisboa

Martim-Moniz
Entre uma casa e um palácio, uma 'residência'. É modesta, mas sempre é um ex-libris da capital...

Pedaço nacional feliz (só 15 dias)

Por Ferreira Fernandes
ENFIM! Depois de meses de discursos sobre a crise, os portugueses vão ter direito a duas semanas de esperança - basta, já a partir de amanhã, desligarem-se do retângulo e só prestarem ouvidos aos políticos açorianos. 
Com as eleições regionais marcadas para 14 de outubro, o socialista Vasco Cordeiro (candidato do Governo, no arquipélago, e camarada da oposição nacional) e a social-democrata Berta Cabral (candidata contra o Governo, no arquipélago, e companheira do Governo nacional), apesar de tão distantes, comungam do mesmo credo: com eles não haverá austeridade. Oiçam-nos, insisto: o anticiclone dos Açores pode ser um poderoso anti-depressivo. Só que efémero, dura 15 dias, depois os Açores serão portugueses como nunca. Quinze dias de vozes doces (violinos, ao fundo) a meterem o maior número possível de palavras na mais pequena das ideias: elejam-me. 
Um dia, um político americano, Adlai Stevenson, deixou fugir uma confissão: "Não chega que cada uma das pessoas inteligentes do país vote por mim. Preciso de ter a maioria." A crença na maioria burra é própria de todos os homens e mulheres que se apresentam a votos. Em tempos normais, será uma brincadeira inocente; em tempos destes, terríveis, é uma indecência. 
Mas não sou eu que vou, agora, deprimir-vos. Aproveitem os próximos 15 dias, parece que há umas ilhas felizes. Oiçam de lá as promessas, durante muito tempo talvez as últimas em território nacional. 
«DN» de 29 Set 12

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28.9.12

Os pinta-paredes - (3)

Recentemente, mostrou-se [aqui] uma inscrição de teor anti-consumista feita por um pinta-paredes de Lagos. Aqui fica uma outra, com a mesma mensagem, mas agora da autoria de um moralista-da-treta de Lisboa. 
Ah!, e aproveitemos para dar conta do estado do velho cine-teatro Odéon...

Apontamentos de Lisboa

Praça de Alvalade, junto à ADSE.
Um dos vários lugares de estacionamento 'normais' (em cima) e um outro 'especial' - este sem árvore, decerto para que os deficientes, a quem o lugar é destinado, se movimentem melhor...

Da série: Não Somos Belgas

Por Ferreira Fernandes
NUMA sofisticada revista chamada Monocle (monóculo, em português), de sede londrina e temas entre a política internacional, a moda e o design, caí sobre uma velha palavra portuguesa: alpargatas. É o nome de uma empresa de São Paulo centenária, que começou com sandálias rústicas para frades e é hoje a principal produtora de calçado da América Latina, dona da marca universal Havaianas. As Havaianas são brasileiras, mais não podiam ser, pela cor e alegria no pé, mas o facto é que são feitas por uma empresa que se chama Alpargatas, desde 1907, essa é que é essa. Alpargatas. 
Toda esta Monocle (edição de outubro) é sobre essa coisa difusa que ora une portugueses e brasileiros, ora macaenses e angolanos, ora brasileiros e moçambicanos, isso que na capa da grossa revista (253 págs.) se chama: "Geração Lusofonia." 
Gostei do caldeirão em que a revista nos metia. Por exemplo, no mesmo artigo sob o título "Brasileiros em França", dizia-se 1) que 14 por cento dos imigrantes em França são portugueses e 2) que o brasileiro é o 4.º turista que mais reclama a devolução do IVA ao deixar de Paris... 
Faz dessas misturas que eu gosto. Numa das páginas, a revista dá esta sugestão: todos os países lusófonos têm costa, não é tempo de uma armada lusófona? Monocle não é só de dandy, permite mesmo ver, focar melhor. 
Mare Nostrum, Atlântico Sul, triângulo do futuro, com uma base imensa, Rio-Luanda, e a ponta inicial no Tejo. Só não vê quem é cego. 
«DN» de 28 Set 12

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27.9.12

“O Presente no Futuro – Os Portugueses em 2030”

Por António Barreto
(...) É UMA boa altura para olharmos para nós e para tentarmos descortinar o que podemos ou queremos ser dentro de duas ou três décadas. Com as projecções que serão analisadas ao pormenor durante estes dias, vemos que a população portuguesa se encontra numa fase de extraordinária importância. Alguns cenários sugerem que Portugal pode perder entre dez a trinta por cento da sua população em vinte a trinta anos! (...)
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Alguém sabe o que é isto?
(Como sempre, haverá uma actualização, com a resposta)
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Actualização:

Uma semana cheia de ironias

Por Ferreira Fernandes
PRIMEIRO, foi Mitt Romney a dizer que convinha que as janelas dos aviões fossem de abrir e fechar. Ele sorria mas, que importa, ele era americano e republicano, logo, burro. Gozaram-no. Valeu-lhe o New York Times vir dizer o óbvio: o homem ironizava. 
Logo a seguir, foi Madonna a dizer que apoiava Obama "negro e muçulmano." A própria logo a seguir teve de dizer, porque o escândalo já despontava, que com "muçulmano" ironizava. 
O mundo esta semana descobriu que os americanos ironizam. É um pouco tarde descobrir isso 102 anos depois de Mark Twain ter morrido. E é injusto descobrir-se ironia nos americanos só quando eles a praticam fracota, como nos dois exemplos acima. São duas ironias pequenas mas um grande passo para a Europa: aprendeu a não menosprezar os americanos. 
Quem usa ironia a torto e a direito, e mesmo só a torto, não pode ser burro. Ironia é um falar que conta com a inteligência dos outros. 
Exemplo de ironia: "A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar as crianças", frase de Monteiro Lobato (1882-1948), mestre brasileiro que pôs os miúdo a gostar de ler (O Picapau Amarelo é dele). Às vezes ele escrevia sério, por exemplo: "O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões", do conto Negrinha, onde denunciava o que os negros sofriam. Agora, há quem queira proibir o conto nas escolas brasileiras porque "o negro não pode ser visto como eterno escravizado." Olhem, outra ironia.
«DN» de 27 Set 12

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Porta Nova (11) - Caçadores e aficionados da festa brava

Por A. M. Galopim de Carvalho
PARA além dos meus companheiros de escola e de brincadeiras na rua, tive o privilégio de conviver com alguns adultos. São boas as lembranças que guardo destes meus amigos que marcaram positiva e profundamente a minha vida. Na mercearia do Anselmo, o Barrão, caixeiro ali formado desde rapaz, deixava-me passar para trás do balcão, onde eu procurava ajudar, aviando os fregueses, pesando o que fosse de pesar, medindo o que fosse de medir.(...)
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O presente que nos ameaça e o futuro que nos espera

Por C. Barroco Esperança
ENQUANTO a Grécia se transforma no mausoléu da cultura que pôs a Europa na vanguarda da civilização e a Espanha se desagrega com esperada violência, Portugal dissolve-se na espiral recessiva que alimenta o medo e a depressão coletiva.
A prosperidade, o bem-estar, a solidariedade e a paz que a Europa construiu, depois da guerra de 1939/45, parece estar à beira do abismo e à espera do último empurrão que os agiotas aguardam. (...)
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26.9.12

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Alguém viu e quer comentar?

O que é para nós a Espanha amputada?

Por Ferreira Fernandes
ELA É TAL a sucessão de crises que nem damos por esse facto enorme e de consequências incalculáveis que vai aqui ao lado. Na verdade, não damos nós nem a editora do telejornal da noite da TVE, a emissora estatal espanhola, que no passado dia 11, da manifestação gigantesca em Barcelona pedindo a independência catalã, remeteu a notícia para o minuto 20. E, no entanto, é terramoto que continua a abanar Espanha: ontem, anteciparam-se as eleições autonómicas para 25 de novembro, a meio do mandato do parlamento catalão, e pela primeira vez um presidente da Generalitat, Artur Mas, apelou à independência. 
A pouca importância que a TVE deu à manifestação seria irrelevante não fosse sinal do grande temor de Madrid. A Catalunha querer ser independente, chegar a uma meta quando os outros estados europeus estão a sair dela (não estamos todos cada vez menos independentes?), até é comovente. 
Como negar a uma adolescente a sua primeira viagem interRail? E nem vale a pena preveni-la contra doenças contagiosas, ela já apanhou a mais grave: está a desfazer-se de uma das três ou quatro maiores línguas do futuro para se aninhar no seu mirandês pátrio (as universidades de Barcelona só vão ganhar com isso, não é?). 
Coesa e cheia de si a Catalunha nem sabe o que perde, está noutra. O problema é Espanha, a amputada. Essa sabe o que perde. E nós, sabemos o que isso nos significa? O raio da dívida e do défice não nos deixam pensar em mais nada. 
«DN» de 26 Set 12

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Mais do mesmo no Marquês...

Por Manuel João Ramos 

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Os pinta-paredes - (2)

Com as paredes de Lisboa já todas "preenchidas", os pinta-paredes têm agora de esperar pelo fim-de-semana - quando algumas lojas, 'correndo os taipais', disponibilizam mais uns quantos metros quadrados a bem da arte urbana.
Repare-se na última foto, que mostra como o dono, com uma ingenuidade comovedora, tenta minorar os estragos...

O desfazer dos mitos

Por Baptista-Bastos
"QUE MAIS me irá acontecer?", perguntava, numa telenovela, há anos, a personagem desempenhada por Nicolau Breyner. Faço uma paráfrase e coloco a pergunta no plural. Que mais nos irá acontecer?, embora para desgraça já baste. A insensibilidade trágica de Pedro Passos Coelho talvez esteja associada à funesta incompetência de que faz constantes provas, e à "crença" entendida, largo senso, como modo efectivo de representação ideológica. Ele disse que é determinado, mas não intransigente. A frase, inócua, está longe de definir os princípios políticos que fundamentam a sua acção, caracterizada pela obediência cega a modelos que constituíram malogros clamorosos.
O incidente com a taxa social única devolve-nos a imagem de um homem que funciona através de momentos emocionais. A intransigência, mascarada de "determinação", esteve próximo de ocasionar danos gravíssimos, ainda maiores do que aqueles provocados pela cegueira ideológica, causadora da actual desestruturação social.
A maior parte das categorias da nossa vida intelectual e política funciona no sentido do medo, do desassossego e da insegurança. Passos Coelho é o arauto e o motor desses estados. E a surpresa maior é que, talvez, nem ele próprio disso se dê conta. Cedeu, de má vontade, à supressão da TSU, mas logo arranjou um substituto convergente, por igual pernicioso: aumento do IRS, fora o que está para surgir - o aumento caudalosos dos impostos e dos constrangimentos nos quais estamos a viver.
Ele demonstra que não possui ideias de seu: funciona na base de registos nunca garantidos pelas ciências sociais e, até, negados pela História recente. O ultraneoliberalismo de que se faz eco encaminha-nos para uma situação irremediável, de que os últimos acontecimentos são resultado e prova. O poderoso protesto de 15 de Setembro provou não só o descontentamento transversal e generalizado, como o aviso declarado de um poder, o das redes sociais, que revelou a natureza impetuosa da reafirmação de princípios fundamentais, e as debilidades da Imprensa actual, a qual não nos fornece o retrato do que, realmente, acontece. É impressionante a qualidade literária e jornalística de muitos blogues, e as fraquezas do texto de quase todos os jornais. A democracia de superfície provoca a aparição de uma Imprensa superficial. As pessoas de recta intenção não querem uma e detestam outra.
Foi, aliás, nas redes sociais onde o combate feroz às injustiças generalizadas mais se fez ouvir. O lado oculto, sombrio e inquietante deste Governo encontrou, na net, respostas demolidoras, colocando, sob a luz da razão e do entusiasmo crítico, a sua índole criptofascista. Creio que se desfez o mito da passividade colectiva. Simultaneamente, os partidos foram advertidos de que assim - não.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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«DN» de 26 Set 12

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25.9.12

Parâmetros termodinâmicos e químicos da petrogénese

Por A. M. Galopim de Carvalho
NO QUE toca os ambientes petrogenéticos há hoje unanimidade em considerar apenas três: o magmático, o sedimentar e o metamórfico. Esta separação já havia sido estabelecida pelo inglês Charles Lyell, em 1835, e reafirmada em 1862 pelo alemão C. B. von Cotta (1808-1879). As diferenças existentes entre eles são definidas em termos termodinâmicos (geotérmicos e geobáricos) e geoquímicos.(...)
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Há 130 anos era assim...

Por Ramalho Ortigão
VEJA-SE como em cada legislatura se propõe e se discute uma das poucas questões graves de que o parlamento ainda se ocupa. Referimo-nos à coisa a que, no calão oficial em que tem degenerado a língua pátria, se chama — a questão da fazenda.
Reunidas as câmaras e aberto perante elas o orçamento do Estado, começa-se invariavelmente por constatar, num trémulo elegíaco de sinfonia fúnebre, que continua a existir o déficit. Cada um dos três governos a quem a coroa alternadamente adjudica a mamadeira do sistema encarrega-se de explicar aos taquígrafos essa ocorrência — aliás desagradável, cumpre dizê-lo — mas de que ele, governo em exercício, não tem a culpa. A responsabilidade cabe ao governo transacto, bem conhecido pelos seus esbanjamentos e pela sua incúria.
Para cada um desses três governos sucessivamente encarregados de trazerem o déficit ao regaço da representação nacional, o governo que imediatamente o precedeu nesse mesmo encargo é o último dos imbecis.
Tal é o conceito formidável em que cada um dos referidos três governos tem os outros dois!
A coroa pela sua parte — e é este o mais augusto do todos os seus privilégios — é sucessivamente da opinião de todos os três ministérios; e depois de haver retirado, com sincero nojo, a sua confiança aos imbecis do grupo n.º 1, n.º 2 e n.º 3, a coroa torna a restituir a citada confiança, com uma efusão de júbilo tão sincero como o nojo anterior, a cada um dos grupos de imbecis já referidos mas colocados cronologicamente em sentido inverso daquele em que estavam, ou sejam, por sua ordem, os imbecis n.º 3, n.º 2 e n.º 1.
Trocadas as descomposturas preliminares sobre a questão da fazenda, decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao crédito, e faz-se um novo empréstimo. No ano seguinte averigua-se por cálculos cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda mais uma vez ao país, e cria-se um novo imposto.
Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os juros dos empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso, mas ingénuo, o déficit — por uma estranha birra, admissível num ser teimoso, mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma não existência, — aumenta sempre através das contribuições intermitentes com que se destinam a extingui-lo já o empréstimo contraído, já o imposto cobrado.
Assim como os alforges dos antigos pobres das feiras e das extintas ordens mendicantes, o déficit tem dois sacos, um para diante outro para trás, ambos destinados a receber o vácuo. Num dos sacos mete-se a dívida flutuante, no outro mete-se a dívida consolidada. De quando em quando há um relâmpago de júbilo, porque parece por um momento que o alforge do déficit está vazio, isto é, que está sem vácuo dentro: é a dívida, que se achava em estado de flutuação no saco da frente, que passou no estado de consolidação para o saco de trás.
A alegria fugaz mas intensa que provém da ilusão desta gigajoga vale o dinheiro que custa, mas custa sempre alguma coisa, porque de todas as vezes que eles mexem na dívida, seja para o que for, mesmo para a mudar de saco, ela cresce.
Pela parte que lhe respeita o país espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque estará colectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.
No entanto o problema de aumentar a riqueza — único meio de prover aos encargos — é considerado como absolutamente estranho à questão da fazenda. E todavia nem toda a gente ignora que a riqueza não aumenta senão pelo desenvolvimento progressivo do trabalho e que este se acha ligado aos progressos da indústria. (...)
«As Farpas» (Vol. 6) - Junho de 1882

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Sair da crise à pedalada

Por Ferreira Fernandes
LERAM a reportagem do Público, ontem, sobre Noca, o "alfaiate de bicicletas"? Meia dúzia de Noca, e saíamos da principal crise, a descrença. 
Dinis Ramos, Noca, é designer, vive na Gafanha da Nazaré, terra plana, de bicicletas. Ele teve sempre uma, na garagem dos pais. Um dia, pôs-se a olhar para aquela coisa sempre igual e deu a pedalada da sua vida: inventou um guidão original, pintou o quadro de cor única, acrescentou um toque no pedal... Ao longo do tubo maior do quadro, escreveu: "Concept by Noca." 
Evidentemente toda a gente gostou, muitos fizeram perguntas e alguns quiseram também uma bicicleta assim, uma "Concept by Noca." Eu explico o "evidentemente" (não sei ajustar um selim, mas as evidências nunca me escapam). Apesar de só ter sido inventada no princípio do séc. XIX, os conceitos que fazem uma bicicleta são conhecidos desde a Idade Média. É um mistério o seu aparecimento tardio e é outro mistério a sua resistência às novidades tecnológicas - e esses dois mistérios convivem com a sua principal característica: é simples. Simples como o pão e com futuro como o pão. O que restava fazer com ela, o Noca fez, fê-la única. E é assim que já chovem encomendas do estrangeiro. 
Percebi nas palavras do Noca um toque de artista, ele querer fazer uma a uma, as suas bicicletas. Eu preferia que ele fosse mais ambicioso, mesmo como artista, e se tornasse um grande industrial. Como aquele alfaiate, o Yves Saint Laurent. 
«DN» de 25 Set 12
NOTA (CMR): encontrar uma imagem para ilustrar esta crónica não foi tão fácil como eu esperava. A primeira que me apareceu foi esta, datada de Agosto de há 2 anos.

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24.9.12

Os pinta-paredes - (1)

Lagos
Pior do que "pintar paredes", só fazê-lo com erros de ortografia...

Sobretudo não efabulem

Por Ferreira Fernandes
A FRASE de Miguel Macedo é de leitura lisa, não tirada do contexto: "É nestes tempos difíceis que é preciso ter esta pedagogia: nós não podemos ser um país de muitas cigarras e poucas formigas", disse ele. Quer dizer, é em pleno olho do ciclone desses "tempos difíceis" que o responsável político decide não ser nem uma coisa nem outra. 
Não fora os tempos difíceis, esta crónica derretia-se em ironias. A crítica de Miguel Macedo poderia ser apresentada como indício de mais uma fratura governamental: afinal, o seu primeiro-ministro é barítono, frequentou aulas de canto e até foi aprovado num casting de Filipe La Féria para o musical My Fair Lady. Um ministro português menosprezar cigarras seria como a ministra Hillary Clinton evocar a cabana do Pai Tomás numa reunião com Obama. 
Não fossem estes tempos difíceis, eu também evocaria aqui o poema de Alexandre O'Neill Minuciosa Formiga (que Amália canta tão bem), em que todos os versos apontam o dever ser da formiguinha "ao trabalho e ao tostão", para nos dois versos finais se destruir a ideia certinha: "Assim devera eu ser/ Se não fora não querer." 
Mas não vou por aí, porque os tempos são difíceis, de facto. Duplamente: 
1) pela crise (a mãe de todas) 
2) pela crise conjuntural (a desconfiança recente do povo em relação ao Governo). 
Por 1), sim, devemos ser todos formiguinhas. E por 2), não, nenhum governante pode dizer, sugerir ou efabular que os portugueses são cigarras.
«DN» de24 Set 12

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23.9.12

Apontamentos de Lisboa

Entrecampos

O que eles fizeram pelas Ciências da Terra - (29)

Roger Bacon (1214-1294)
Por A. M. Galopim de Carvalho
CONSIDERADO o mais proeminente cientista da Idade Média, Roger Bacon (1214-1294), filósofo e alquimista inglês, foi pioneiro na estruturação do método experimental, como forma de validação do conhecimento científico. O seu nome ficou ainda ligado à matemática (trabalhou na correcção do Calendário Juliano) e, principalmente, à óptica. Neste domínio descreveu o olho como uma máquina onde se formam imagens e, após ter compreendido o fenómeno da refracção da luz, aperfeiçoou instrumentos de óptica, tendo sido o primeiro a sugerir que as lentes poderiam ser usadas como óculos. O seu papel nas ciências da Terra decorre, sobretudo, da sua visão sobre a ciência em geral. (...)
Texto integral [aqui]

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Luz – Tourada, Terceira, Açores, 2011

Fotografias de António Barreto- APPh

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Não gosto de touradas, muito menos quando os bichos estão presos com cordas puxadas por uns tantos rapazolas, bem protegidos atrás dos muros, das árvores ou dos candeeiros. Mas também reconheço que esta modalidade, sem sangue nem farpas ou bandarilhas com arpões, tem muito menos violência do que as outras touradas, a pé ou a cavalo. Já aqui publiquei uma ou duas fotos relativas a uma destas corridas em São Mateus, perto de Angra do Heroísmo. São festas sociais ou romarias onde se come, bebe, intriga, namora e faz negócios. (2011)

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Escrevendo como se fala

 "AUTEDOR"
(Ao km 40 da A2, sentido Norte-Sul)

Diz lá qualquer coisa que serve

Por Ferreira Fernandes
POR ESTES dias demo-nos conta do nascimento de uma (enfim, duas) palavra oficial, rapidamente caída no goto de políticos, jornalistas e comentadores, tão nebulosa como devem ser as palavras oficiais mas, esta, com uma cândida confissão. Era tão sem nada para dizer que nem era uma, mas duas: ora modelação, ora modulação, e dizia-se uma delas ao calha. 
Uma ou outra foi dita por Passos Coelho quando, os acontecimentos obrigando-o a arrepiar caminho, ele afirmou que poderia mudar a sua proposta da TSU. Mas disse ele "modelação"? Isto é, tornear, ajustar... Ou ele disse "modulação"? Isto é, passar o canto ou a harmonia para um tom diferente... 
A primeira hipótese é verosímil, própria do jogo de cintura de qualquer político; mas a segunda também é, vinda de Passos Coelho, que não destoa ao cantar "chamava-se Nini/vestia de organdi". 
O uso da palavra inócua não teria interesse, não fosse sindicalistas e políticos, na esteira do primeiro-ministro, passarem a citá-la como crucial. Tão decisiva que uns diziam "modelação" e outros "modulação"... E os jornalistas faziam-lhes eco, ora modelando, ora modulando. 
Paulo Pinto, professor da Universidade Católica, propôs no blogue Jugular uma palavra nova: "mudlar", a síncope do "e" ou do "u" poupando-nos esta vergonha. Esta. Para as outras, nascidas do mesmo vício, fica a mezinha tradicional. De cada vez que falarmos, pôr esta dúvida: de que estamos a falar quando estamos a falar?
«DN» de 23 Set 12

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21.9.12

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Continuam juntos, só falta o resto

Por Ferreira Fernandes 
PEDRO Passos Coelho e Paulo Portas somam décadas de vida política, isto é, de acordos desfeitos e refeitos e de eu sei que tu sabes que eu sei aos montes. E agora quiseram os comentadores que o banalíssimo rearranjo de relação de forças entre parceiros pusesse em risco a convivência dos dois. Nada mais pode voltar a ser igual!, decretaram, solenes. Experimentados, Pedro e Paulo agradeceram que os holofotes se virassem para si próprios, apreciaram dar o corpo ao manifesto, pois enquanto o pau vai e vem, folgam as costas da sua política. 
Passamos assim uma semana em que o assunto foi os protagonistas e não o trabalho para que os indigitámos protagonistas. Ontem, à falta de resolver Portugal, a coligação resolveu-se. De manhã, Passos Coelho e Portas reuniram-se em São Bento e, ao princípio da noite, dez altos dirigentes, cinco de cada partido, reuniram-se no Hotel Tivoli. Suspiremos de alívio, correu tudo bem: vão continuar juntos. Para quem dizia que o Governo era ineficaz, o desmentido: há dias detetou-se uma crise e logo ontem foi resolvida. 
Vão continuar juntos, agora só falta o resto. Eu estou otimista, nem tanto pelo anúncio do Conselho de Coordenação da Coligação (ideia gira: os dois partidos criam um organismo para lembrar que estão coligados), mas pela pujança da sociedade civil que vi à porta do Hotel Tivoli. Enquanto saíam os dez na reunião, vi passar o triplo de homens de negócio angolanos.
DN de 21 Set 12

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20.9.12

Jesus ter mulher dá bandeira queimada?

Por Ferreira Fernandes 
SOU A FAVOR de certos atentados, como os que, por legítima defensa, poderiam (e deveriam) ser feitos contra o homem que fez o tal filme anti-Islão. De que atentados falo? De um encharcado nas trombas do realizador, cristão copta egípcio que, no bem-bom da Califórnia, acirrou cáfilas de exaltados que se aproveitam do menor pretexto para atacar os cristãos coptas egípcios que, esses, vivem no Egito sem proteção da polícia americana. Encharcado pespegado, não vejo mais que violência possa ser justificada neste caso. Até o canalha desse realizador copta tem direito de fazer uma xaropada sobre a pretensa vida sexual do Maomé. Que isso pode ofender muçulmanos? Pode. Mas parte do mundo aprendeu que podem coexistir o direito a sentir-se ofendido e o direito de dizer (filmar, pintar...) mesmo com o risco de poder ofender outros. Não é má ideia. Não fosse assim, ontem, a minha porteira não se teria sentido só perplexa quando ouviu no telejornal que um milenário papiro copta (estes parecem danados para a ofensa, mas foi só coincidência) revelava que "Jesus tinha mulher." Ela ouviu aquilo, ofendeu-se (acreditou toda a vida na pureza sexual de Jesus) mas limitou-se a abanar a cabeça. Não foi para a rua queimar bandeiras e invadir a primeira embaixada. Se a minha porteira conseguiu fazer uma figura decente, julgo que os clérigos muçulmanos que se engasgam com o tal filme também podiam conter-se. E se não puderem, tratem-se. 
DN de 20 Set 12

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O islão, a violência e a fé

Por Carlos Barroco Esperança
A FÚRIA que ataca os crentes de uma religião não se distingue da que aflige o adepto de um clube de futebol ou o fanático de um partido político.
Cada religião considera falsa todas as outras e falso qualquer outro deus que não seja o seu – e certamente todas têm razão –, o que faz de qualquer crente um ateu em relação à religião dos outros. Aliás, o ateu só considera falsos mais uma religião e mais um deus. No fundo, todos somos ateus. (...)
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19.9.12

Ele há homens e ele há homens

Por Ferreira Fernandes 
É CONHECIDO o verso do poema de Lorca dedicado ao toureiro Ignacio Sánchez Mejías: "Eran las cinco en punto de la tarde." Menos conhecido, até porque não há, é o verso: "Eran las seis y veinte y dos en punto de la tarde." Não há mas devia haver. Por essa exata hora do dia 23 de fevereiro de 1981, em Madrid, o Parlamento foi invadido por um bando e o chefe deste, um tenente-coronel bigodudo, subiu à tribuna e gritou: "Quieto todo el mundo!" Assistiu-se à humilhação: todos os deputados (quer dizer, toda a nação) encafuaram-se que nem coelhos sob as cadeiras e o tampo das mesas. Um militar na tribuna com uma pistola na mão - cujo disparo para o teto convenceu os hesitantes - dominava a casa dos representantes do povo. 
Mas quer a história que por vezes haja uns mais representantes do que outros. Três homens não obedeceram: um velho general, então ministro da Defesa, Gutiérrez Mellado, um homem de direita, o chefe do Governo demissionário, Adolfo Suárez, e um homem de esquerda, o comunista Santiago Carrillo. O general levantou-se para interpelar o bando e foi agredido, Suárez e Carrillo mantiveram-se sentados, soberbos. O general morreu em 1995, Suárez perdeu a lucidez e vive retirado e Santiago Carrillo morreu ontem. 
O último verso de Lorca diz: "Eran las cinco en sombra de la tarde." No poema que não foi escrito, o das seis e vinte e dois de 23 de fevereiro de 1981, a palavra não seria sombra, mas luz. Graças a três homens. 
DN de 19 Set 12

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Apontamentos de Lisboa

Fazendo o que o mupi sugere..

A consciência da rua

Por Baptista-Bastos 

AS IMPONENTES manifestações que chamaram, às ruas de quarenta cidades portuguesas, um milhão de pessoas, possuem um significado que se não exprime, apenas, pela grandeza dos números. Elas são um despertar da consciência cívica nacional e um rebate contra os perigos que este Governo corporiza. Não foi, somente, como alguns pretendem fazer crer, um desagrado ante a anunciada taxa social única. Essa propositada intenção pretende minimizar a extensão do protesto. Os que foram para as ruas demonstraram a sua repulsa por Pedro Passos Coelho e pela inexcedível incompetência maléfica da ideologia que representa. O homem empurra o País para o abismo, e é urgente impedi-lo de o fazer.
António Capucho veio a terreiro advertir-nos. Habitualmente reservado e cuidadoso, as circunstâncias levaram-no, na televisão e no jornal I, a propor a necessidade de "um Governo de salvação nacional, mas sem Passos Coelho". Classificando os propósitos do primeiro-ministro de "ultraneoliberais", afirma: "O Governo não está com falta de apoio das pessoas; o Governo está com o ódio das pessoas."
Capucho é a ponta do icebergue de descontentamento e fúria que lavram e alastram no PSD, onde numerosos dirigentes e outros se interrogam sobre a legitimidade dos actos governamentais. A aplicação deste sistema de domínio, sem regras e sem limites morais, requer um método de respostas de que a natureza dos protestos de 15 de Setembro foi, unicamente, uma expressão serena. Porém, não deixou de ser a exposição de um outro poder, o popular, enfrentando e contestando o outro, por injusto e agressivo.
É preciso não esquecer de que, por vezes, a legalidade, ao exceder- -se, se inscreve na ordem de uma violência que a coloca fora da lei. É o que tem acontecido. Um preopinante anunciou, enfaticamente, ter Passos Coelho perdido o País. Não se perde o que se não tem, e se houvesse dúvidas acerca da impossibilidade de qualquer Governo deter a afeição de um país, as manifestações que chamaram às ruas um milhão de portugueses dariam que reflectir.
Como escrevi, nesta coluna, na última quarta-feira, o ciclo fechou-se sobre Passos e a sua obstinada soberba. E ainda não se registara a explosão ética de cidadania. Depois, surgiram as declarações de Paulo Portas. As características de uma coligação já trémula na essência assinalaram a proximidade da ruptura. Portas é uma personalidade cuja dualidade se conhece. As exigências de uma generalidade governamental não lhe calham bem. E Passos Coelho é suficientemente sobranceiro e autoritário para ceder a vez e desaproveitar a voz. Os dados estão lançados. Mas a alternativa é inexistente. A não ser que a consciência cívica se erga, de novo, e exija que esta nefasta indigência entre o PS e o PSD seja substituída por outras possibilidades. Que as há.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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DN de 19 Set 12

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18.9.12

Mas eles não ouvem o que dizem?

Por Ferreira Fernandes
NENHUM político dos partidos que vão a votos para nos governar (PSD, PS e CDS) diz outra coisa desta crise: ela é séria. Séria? Muito séria. Muito, mesmo? Mesmo. É o que me têm dito. Eu ainda na dúvida, isto passa, mas eles, definitivos: a crise é séria. Eles convenceram-me. 
No dia 6 de junho de 2011 - deixem-me lembrar o dia: tínhamos ido votar na véspera para o Governo que deveria combater essa séria crise - eu já estava convencido. Sei-o porque, nesse dia 6, escrevi aqui que, sendo tamanho o desafio, eu esperava tudo de todos. Se fosse preciso trabalhar mais, eu iria trabalhar mais, se fosse preciso ganhar menos, eu iria ganhar menos, e assim por diante. 
Dos políticos dispostos a governarem-nos isso significaria que, sendo a crise o que era, desses políticos, eu esperaria que nos governassem. Juntos, porque a crise era de todos; comprometidos, porque as soluções não eram evidentes e teria de haver muito diálogo; e fortes, porque precisávamos de reconhecer liderança em quem nos ia exigir tantos sacrifícios. Conservadores, o PSD, o CDS e o PS preferiram a solução fácil e fraca: um governo só de direita. "Só" é a palavra certa, quer dizer pouco para o que era necessário. Conservadores, o PSD, o CDS e o PS foram também incoerentes: então a crise não era mesmo séria? 
Um ano e três meses depois reparo que a incoerência se agrava, até a solução tipo "só" estremece... Nem é pedir muito, oiçam o que dizem: a crise é séria.
«DN» de 18 Set 12

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Deixei de Acreditar neste Governo

Por Maria Filomena Mónica
NINGUÉM pode dizer que não tentei. É verdade que o fiz a custo mas, após a queda do engº Sócrates, decidi que o Executivo, qualquer que fosse, teria o meu apoio. Nem todo o «crescimento» é bom, como nem toda a «austeridade» é má. Nos últimos anos, «crescimento» significou, à cabeça, estádios de futebol, onde ninguém joga, fundações como a «Magalhães», que oferecia computadores, e obras em aeroportos, como o de Beja, onde não pousam aviões. Chegámos à situação caricata de sermos o país da Europa com mais auto-estradas per capita e uma população que não tem dinheiro para a gasolina.
Tentei aceitar a «austeridade», não porque goste de ver o país arrastando-se pela miséria, mas por estar consciente que de tal forma Portugal se endividara que não tinha outro remédio. Contudo, ao ouvir o mais recente discurso do Ministro das Finanças, a minha resignação foi substituída pela fúria. Depois de ter perdido mais de 30% na reforma, eis que Vítor Gaspar veio anunciar, com aquele seu arzinho de professor catedrático, que me iria retirar mais 10%.
Trabalho desde os 19 anos, fiz uma licenciatura como trabalhadora-estudante e, após uma das mais dolorosas decisões da minha vida, doutorei-me numa prestigiada Universidade estrangeira. Ao longo de quarenta anos, descontei para a Caixa Geral de Aposentações, na convicção de que, ao chegar o dia, usufruiria de uma boa reforma. Enganei-me.
Como se isto não bastasse, há a questão do aumento nos impostos. Nunca contra eles protestei, por considerar que tinham uma função redistributiva: era justo que os ricos dessem uma parte do seu rendimento aos que menos tinham, quando estes se encontrassem doentes ou desempregados. Estava à espera que Vítor Gaspar anunciasse, não só o que me iria retirar, mas o que aconteceria aos ricos a sério, isto é, às pessoas que vêem os seus rendimentos aumentar todos os anos com base nos contratos feitos com o Estado, as chamadas Parcerias Público-Privadas.
Além de não oferecerem risco, as PPP permitem que os privados obtenham elevadas taxas de remuneração do capital. Demonstrando o tipo de empresários que por cá existe, o país tornou-se rapidamente no líder europeu deste tipo de negócio. Enquanto, de um lado, os lucros se acumulavam, do outro, os cofres públicos esvaziavam-se. Segundo Carlos Moreno, em 2009, a estimativa dos encargos, assumidos e previstos assumir, pelo Estado, no domínio das infra-estruturas de transporte rodoviário e ferroviário e na área da saúde, é de cerca de 50 mil milhões de euros. A pagar por nós, pelos nossos filhos e pelos nossos netos.
Sendo isto assim, como aceitar que quem ganha mais de cem, mais de mil, mais de um milhão de vezes o que aufiro se mantenha alheio a um esforço que se diz colectivo? Para que uma sociedade funcione, não bastam truques contabilísticos, é preciso que os cidadãos sintam que há uma base moral para o que lhes é exigido. Não, sr. Ministro, não estou disposta a fazer mais sacrifícios.
«Expresso de 15 Set 12
                       

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17.9.12

Portugal, um País de Cidadãos

Por A. M. Galopim de Carvalho
SE É CERTO que a política é uma ciência que se estuda e ensina, da qual, devo começar por dizer, não tive escola, a política partidária afigura-se-me como uma arte que visa adaptar a dita ciência ao sabor de interesses, nem sempre confessados, pela qual nunca me senti atraído e pela qual me não deixei envolver, logo ensinada às juventudes partidárias e bem aprendida por estas, como está bem à vista, e apenas para citar dois exemplos, na actuação de dois dos seus rapazes mais brilhantes, bem parecidos, bem falantes e convencidos, mas sem a imprescindível preparação e experiência de vida: o que recebeu de nós a missão de governar e o que, por direito e dever, assume o principal papel da chamada oposição. (...)

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Explicar-se bem é o melhor remédio

Por Ferreira Fernandes
JÁ VI manifestações grandes e pequenas, de boas e más causas, violentas, comovedoras, grandiosas, mas para definir as de sábado escolheria outra palavra: desiludidas. 
Estamos dentro de um túnel e com a suspeita de que, se surgir uma luz, alguma coisa prolongará o túnel. Estamos apagados - e isso é muito pior e mais perigoso do que os euros que nos estão a descontar. 
Ontem, há duas gerações, vivíamos com menos salário e piores condições, mas não estávamos tão quebrados. Isto para dizer que os remédios económicos e financeiros são necessários, mas a política é essencial. Precisamos de um memorando de entendimento sobre o entendimento. Não sei se a TSU isto ou aquilo, mas eu não apresentaria, hoje e aqui, uma medida que, basicamente, tira aos empregados e dá às empresas sem me armar de uma mão cheia de argumentos curtos e claros. Isto é, eu não o faria sem ter uma política. Por exemplo, não afogaria numa entrevista de 76 minutos, como fez o primeiro-ministro, a cenoura de prováveis baixas nos transportes. Não sei se a TSU pode consegui-lo, sei é que Passos Coelho não fez esforço para me convencer (nem mentir-me bem tentou ou soube). 
Preocuparem-se em convencer-me é o mínimo que peço. Olhem como Paulo Portas falou ontem: claro e incisivo. Claro, ele está a tentar reequilibrar as forças no Governo, mas agradeço-lhe ter falado de forma a eu entender. Não poderemos recuperar a esperança sem que o discurso político melhore. 
«DN» de 17 Set 12

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16.9.12

Os dinossáurios não passaram de moda…

UMA consequência muito positiva da mediatização dos dinossáurios foi, nas últimas duas décadas, o arranque para uma fase de estudo sem precedentes na história da paleontologia deste grupo de vertebrados. Os dinossáurios não passaram de moda nem estão em hibernação. O que, em meu entender, acontece, é que tem havido menos acções de qualidade científica e pedagógica viradas ao grande público e um menor número de interessados a falarem deles nos media.(...)
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