28.5.17

Sem emenda - Quem deve teme

Por António Barreto
Nas vésperas da cimeira da NATO, em Bruxelas, o ministro português da defesa prestou declarações às televisões. Não terão sido esclarecimentos formais, em ocasião oficial, mas o tom é elucidativo. Confirmou o ministro, com um sorriso de boa fé, que era verdade que Portugal não cumpria os seus deveres para a segurança colectiva, nem sequer o compromisso mínimo estabelecido para a despesa com a defesa nacional que é de 2% do PIB. Mas disse também que era preciso considerar a nossa contribuição qualitativa! Esta última é um mistério. As ilhas atlânticas? O mar? As praias? Algo que seja só nosso e mais ninguém tenha? Ou um jeito português especial?

Dos 28 membros da NATO, apenas cinco cumprem: Estados Unidos, Grã-Bretanha, Polónia, Estónia e Grécia. Todos os outros ficam abaixo dos 2%. Como Portugal, com 1,3%. Menção especial para a França, com 1,7%, a Alemanha 1,2%, a Itália 1,1% e a Espanha 0.9%!

Infelizmente, Donald Trump tem razão. Diz ele que os Estados Unidos não estão dispostos a pagar pelos outros, sem que estes cumpram os seus compromissos. E ameaça os europeus. Não se sabe bem de quê, mas deve querer dizer coisa má. O problema é que, neste caso, está certo. Cada país membro da NATO tem de pagar pela sua defesa. A maior parte não paga os 2%. Preferem gastar com coisas mais agradáveis e entregar-se à protecção do poderio americano. A ideia é simples: tudo quanto ameaça a Europa ameaça também os americanos. Como estes são mais fortes e mais ricos, eles que se ocupem disso. E nem sequer a União tem uma política própria de defesa, muito menos uma capacidade autónoma.

Pode ainda recordar-se que, há quase vinte anos, a maioria dos partidos parlamentares (se bem me lembro, a única reserva foi do PCP…) acabou com o Serviço Militar Obrigatório. Sem mais. Sem qualquer espécie de ideia sobre o que poderia ser uma contrapartida civil ou de solidariedade. Na verdade, foi a boa demagogia da facilidade e as velhas juventudes partidárias que forçaram a decisão! Mas a ideia estava dada: não se gasta com a defesa, há coisas mais importantes. E de qualquer maneira, a NATO e os americanos estão aí para nos proteger.

Há actividades assim, em que alguém paga, alimenta ou mantém outrem! Eis uma relação que tem tradicionalmente um nome bem feio… E que se aplica às relações entre americanos e europeus na área da defesa.

Portugal não é um caso raro, nem pior do que os outros. Há mais de vinte países da NATO que não respeitam os compromissos nem cumprem as suas obrigações. Dependem dos Estados Unidos. Até ao dia em que Donald Trump lhes dirá: “Não pagam pela vossa segurança? Então deixaremos nós de pagar. Ou não garantimos a vossa liberdade. Ou então exigimos contrapartidas políticas!”. Nesse dia, toda a Europa, com excepção da Grã-Bretanha e pouco mais, se elevará contra a prepotência imperialista americana.

Esta atitude não está isolada. Faz lembrar a de tantos que entendem que os credores devem obedecer aos devedores e que aqueles a quem devemos dinheiro têm de fazer o que queremos e aceitar as nossas condições. Há quem faça disso um programa político: viver à custa dos outros! A defesa é paga pela América. As dívidas serão pagas pelos credores. Os investimentos pelos europeus. Os estrangeiros que paguem a nossa protecção. Devem também pagar os juros e as dívidas, assim como aceitar a renegociação e o perdão da dívida. E devem subsidiar o desenvolvimento. Há mesmo quem queira obrigar os estrangeiros a pagar pela educação em Portugal, dado que depois se aproveitam dos emigrantes portugueses, cuja formação foi paga pelo país. É tão conveniente ter o nosso patriotismo pago por outros! E a independência subsidiada!

            Os povos e os Estados têm o direito de não pagar a defesa, nem as Forças Armadas. Como têm o direito de pedir emprestado a fim de financiar os seus investimentos. Não têm é o direito de exigir que outros os defendam, que outros paguem os seus militares e que outros arrisquem a vida em sua defesa. Nem têm legitimidade para exigir que lhes paguem ou perdoem as dívidas. Em poucas palavras: não têm o direito de viver às custas dos outros, ao mesmo tempo que reclamam a independência e o direito a ser tratado como igual. Até porque não são iguais. Nem independentes.

DN, 28 de Maio de 2017

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Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Cruzeiro no cais do Terreiro do Paço – É um navio da empresa Costa, conhecida pelos muitos que tem, sempre com Costa no nome. Como Costa Favolosa ou Costa Luminosa. O mais famoso era seguramente, pelas más razões, o Costa Concordia, que virou de bordo e afundou. Este aqui, à beira do Campo das Cebolas, é o Costa Deliziosa! Dentro de pouco tempo, estes navios ficarão todos mais a nascente, no novo cais em construção. Por agora, quem vem da Ribeira das Naus, ao chegar à Praça do Comércio, depara-se com este espectáculo a fazer logo pensar no “Navio dentro da cidade”, do escritor grego André Kedros que escreveu aquele romance nos anos quarenta. Graças aos cruzeiros (além dos voos low cost, com certeza), Lisboa está hoje uma cidade diferente do que era ainda há bem pouco tempo. À beira destes navios (antigamente, dizia-se paquetes…), que chegam a transportar mais de 3 000 passageiros e 1 000 tripulantes, nasceram centenas de tuk-tuk, de roulottes com comes e bebes e vendas de artesanato.

DN, 28 de Maio de 2017

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26.5.17

DOS CARAPAUS DE ESCABECHE AOS FILETES COM IDÊNTICO TRATAMENTO

Por A. M. Galopim de Carvalho

Naquele tempo, início dos anos 40, do século que passou,…
“A mãe, porém, preferia que eu fosse à praça. Os familiares da Porta Nova não vendiam mais barato. Pelo contrário.
         Vinte escudos no bolso, lá ia quase todas as manhãs, de alcofa na mão e algumas recomendações no sentido. Tantas vezes me incumbi dessa tarefa que, por fim, era lá na praça, junto aos produtos expostos, face ao que havia e não havia e consoante os preços do dia, que eu acabava por decidir o destino a dar ao pouco dinheiro que sempre levava.
– Olha, destina lá tu! – confiava-me a mãe, sem vagar nem paciência para pensar o que seria o almoço e o jantar desse dia.
– Se o cação estiver em conta, podes comprar, mas então tens de trazer coentros. Se não, trazes carapaus para fritar e tomate pouco maduro para salada. Para a sopa, ou trazes espinafres, ou nabiças... Olha, escolhe lá tu! – rematava, esgotada a imaginação. – Compra feijão encarnado para pôr de molho para amanhã.
Um dia, havia tanto carapau pequenino – os joaquinzinhos – que dos dez tostões o quilo, do seu preço habitual, passou para dez tostões três quilos. Não hesitei um segundo:
– Três quilos de carapaus! – pedi à Delfina, peixeira muito nossa amiga.
Chegado a casa, ufano da bela compra realizada, foi com surpresa que vi a aflição da mãe, face à enormidade da tarefa que lhe dei.
– Amanhar três quilos de carapaus dos pequeninos! E o tempo que eu vou levar, com tanta coisa ainda para fazer? E o azeite que isto gasta? Onde tinhas tu a cabeça, rapaz?.
Deitar fora não estava, porém, nos conceitos de economia da mãe. Fui ao Anselmo aviar mais uma garrafa de azeite. Almoçámos e jantámos, nesse dia e no outro, carapaus fritos, primeiro quentes, depois frios e, no fim, de escabeche, que só é bom quando temperado com o próprio azeite da fritura”.
Sejam de que peixe for, salpique-os com sal grosso e deixe-os, assim, no frigorífico, por uma noite.
No outro dia, pela manhã, passe-os por água para lhes retirar o excesso de sal e seque-os com um pano de cozinha.
De seguida, passe-os por farinha de trigo e frite-os em azeite (repito, em azeite) bem quente.
Uma vez fritos e bem frios, disponha-os numa travessa funda (das de ir ao forno) e tempere-os com 4 a 6 dentes de alhos bem esmagados, 2 a 3 folhas de louro e tantos pezinhos de salsa quanto o número de filetes.
Regue-os com um fio do azeite da fritura e, por fim, cubra-os com água fria e reserve-os para servir no dia seguinte.
Se desejar, pode complementar o aroma com orégãos.

É certo que os fritos e, sobretudo, o azeite ou o óleo de os fritar estão longe de constituir um alimento saudável. Mas esta receita não é a de uma confecção a ingerir com frequência. Começa por ser um prato a servir em tempo quente, aí uma vez por ano, no Verão, o que não traz qualquer problema.

Na casa de meus pais, até por volta dos anos 50, sempre se cozinhou em azeite, incluindo o fritar. A partir de então, o ataque cerrado feito a este nosso tradicional produto da azeitona por nutricionistas, dietistas e pelas grandes cadeias agroalimentares, levaram a generalidade dos consumidores a recear o seu uso e a trocarem-no, em grande parte, pelo chamado “óleo de fritar”. Nesta convicção, a minha mãe  passou a usar em todas a suas confecções uma mistura de azeite e óleo do tipo Fula, na proporção de 1 para 3, no propósito de, dizia ela, “não fazer tanto mal à saúde”. Acontece que o azeite sobreviveu, tendo-se afirmado  como um produto alimentar altamente conceituado. Parafraseando Alfredo o mestre na gastronomia, Saramago, o azeite “de mau passou a óptimo”,… “vendo-se hoje reabilitado».

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CONVITE

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25.5.17

Blasfémia e liberdade de expressão


Por C. Barroco Esperança
A blasfémia, definida como insulto a Deus, é um ‘crime’ sem vítimas, mas um conceito perigoso para a liberdade de expressão.
 A defesa da ofensa faz-se apenas nos Tribunais, de acordo com o Código Penal (CP), e é duvidoso que Deus se constitua como queixoso ou os crentes apresentem procuração para o representar.
 No entanto, o anacrónico “crime” medieval, que conduzia às fogueiras, ainda subsiste, no CP de 8 países europeus, laicos e civilizados (Dinamarca, Áustria, Finlândia, Grécia, Espanha, Irlanda, Itália e Portugal) e, disfarçado de “ofensa aos crentes”, desde 1972, em ‘França’, onde foi abolido em 1791. Até no Reino Unido, que o suprimiu em 2002, já apareceu o deputado Jeremy Corbyn a evocar a possibilidade de o reintegrar.
 A blasfémia é uma arma política para erradicar religiões minoritárias e um instrumento para condicionar a liberdade de expressão. O Islão serve-se da alegada ofensa para ver nela a apostasia (direto inalienável em países democráticos), para a condenação à morte.
 É curioso haver um ‘crime’ que não causa dano, e que muda de trincheira consoante a religião dominante. Chamar amoral a Maomé, quando a religião ainda permite práticas pedófilas, sob o disfarce de casamento, é motivo para condenação à morte.
 Criminalizar a blasfémia é confundir o bom ou mau gosto com um delito, e mantê-lo no Código Penal é um anacronismo de legisladores que preferem o comunitarismo à defesa dos valores individuais e sujeitar as sociedades ao risco da ‘verdade divina’.
 A jurisprudência lusa privilegia a liberdade de expressão em detrimento do anacronismo legal, mas o mimetismo islâmico aconselha a abolição da reminiscência medieval.
 As sociedades democráticas não acolhem bagatelas penais, aliás, injustas, mas a doença endémica das religiões – o fundamentalismo – pode irromper, sendo urgente eliminar a blasfémia do Código Penal e deixá-la no catálogo dos pecados com jurisdição exclusiva do Tribunal divino.
 Nada impedirá a forma popular com que os espanhóis se dirigem à hóstia ou nomeiam a Virgem e, ainda menos, as blasfémias italianas, em particular as calabresas, que juntam a bela sonoridade da língua italiana para se dirigirem ao seu Deus.
 É inconcebível que sendo a liberdade religiosa legitimada pela liberdade de expressão, possa aquela deslegitimar a fonte da sua própria legitimidade. 
 Ponte Europa / Sorumbático

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22.5.17

«O AVÔ E OS NETOS FALAM DE GEOLOGIA» - Lançamento



Lançamento previsto para dia 1 de junho de 2017, na abertura da Feira do Livro de Lisboa

PREFÁCIO
É difícil resistir ao primeiro impulso de… sentir "inveja" do Domingos, da Francisca e do Mateus. Apesar de ser um sentimento que não se deve cultivar, como não ansiar pela possibilidade de sermos personagens activas em torno daquela magnífica mesa de ardósia, onde as refeições vão alternando com histórias nas quais o quartzo e o basalto adquirem o mesmo encanto e mistério dos príncipes e dos dragões?
Mas não nos deixemos enganar ficando a pensar que ao longo do livro vamos encontrar histórias infantis que servem apenas para passar o tempo que se leva a lê-las. Aliando o fantástico dom de contador de histórias, a uma enorme experiência de Professor construída ao longo de mais de meio século o Professor, que foi e será sempre, vai claramente contra a moda que infelizmente é tantas vezes dominante no Mundo actual, de achar que os jovens têm que ser cativados com "historinhas" simples e de fácil apreensão recheadas de banalidades. Em torno da velha mesa de ardósia, aos jovens netos não é ensinado que o quartzo é formado por "bolinhas" muito pequeninas que são os átomos, e que há uma mais "pequenina" de silício, por cada duas "maiorzinhas" de oxigénio.  (...)
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Texto integral [AQUI]

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21.5.17

Sem emenda - Súplica ao Senhor dos Aflitos

Por António Barreto
São dias fastos. O défice abaixo de 1,4%! E a baixar… O crescimento a 2,4%! E a subir… O Presidente Marcelo já fala de 3,2%... A sorrir… O desemprego a 10%! A diminuir… O consumo privado a subir. Muito pouco, mas a subir… A poupança a subir. Pouco, mas para cima. O investimento a dar sinais. Poucos, mas bons… Os fundos europeus a chegar. Muitos e a aumentar… O turismo a subir. Muitíssimo… As exportações a subir. Sempre… Só a dívida não mexe…

O presidente Marcelo, o Primeiro-ministro Costa e o governo têm feito tudo o que podem para aproveitar a oportunidade boa conselheira e o vento favorável. E têm conseguido. Com alguns proventos que herdaram do governo anterior. Com a paz social, obra e graça dos sindicatos. Com a benevolência dos empresários, cansados de apertos. Com o clima geral económico de feição. Com os auspícios da Europa e do Ocidente. Com uma inédita conjuntura turística que ainda pode durar mais uns anos. Com uma coragem excepcional dos exportadores. Com a mudança de atitude europeia relativamente aos países do Sul, aos devedores e aos mais atrasados. Não estava escrito no céu, era possível não aproveitar os faustos. O mérito do governo é o de saber estar no sítio certo. E o do equilíbrio entre compaixão e austeridade.

Costa é muito hábil. Sim. Habilidoso. Sim, também. Sabe tudo de manhas e artimanhas. Sabe. É pragmático. É. Trata sem dogmas e resolve sem ideologia. Sim. Não perde tempo com o acessório. Não. O importante é manter-se. Sim. Tem enorme capacidade de negociar tudo. Tem. Pode durar mais do que se pensa. Pode. Tem sorte. Muita. Está a ser ajudado pelo mundo e pela Europa. Sim. Todos ajudam, a economia, a reacção a Trump, a derrota de Hollande, o receio de Merkel e as ameaças de Putin. Os comunistas estão por tudo. Estão. Sabem que é a sua última oportunidade. Sabem.

Vivemos aquele momento estranho que vem descrito nas teorias dos jogos. O PS quer ganhar e dispensar os dois outros. Os dois outros querem mostrar que são indispensáveis, mas desejam impedir que o PS ganhe com maioria absoluta. Se o PS ganhar, os dois outros podem ir para a rua. Ou ficar cortesmente lá, sem uso nem força. Ninguém sabe, nem PS nem os dois outros, quem bate com a porta, quem deve sair a correr ou ser corrido. Quem fica com as culpas e quem ganha. Quem ganha a perder ou perde a ganhar. Mas, até 2020, alguém vai perder… Esperemos que não sejam os Portugueses.

Há um clima favorável. Que é sempre o mais importante. É o bom clima que gera a confiança. Para isso, contribuíram os Portugueses e os estrangeiros, os empresários e os trabalhadores, a economia europeia e as autoridades portuguesas, a União Europeia e o governo português. É possível, perfeitamente possível, que tenhamos iniciado um período de retoma, de recuperação económica e de crescimento, a par de outros vividos aquando das crises do petróleo, da crise da revolução e das crises dos dois resgates dos anos setenta e oitenta. É possível. Depois do que sofreu, entristeceu e empobreceu durante quase vinte anos, é essencial este pobre país reconciliar-se consigo próprio. Seria ainda mais importante que, após três ou quatro anos de recuperação e restauro de forças, tivéssemos alguma esperança em que tudo não recomeçaria depois, mais uma vez… 

Esta é uma prece ao senhor dos Aflitos. Uma súplica para que os nossos dirigentes políticos não estraguem tudo outra vez, para que não abram desalmadamente os cofres, para que não voltem a meter ao bolso, para que não gastem o que não têm, para que não construam túneis e viadutos, para que não desperdicem como novos-ricos, para que não façam mais parcerias ruinosas em que os privados ficam com os lucros e o público com o prejuízo, para que não autorizem swaps, para que não voltem a recrutar dezenas de milhares de funcionários públicos, para que não aumentem salários acima do razoável, para que não voltem a bater nos pobres, para que não dêem aos ricos o que eles não precisam, para que não continuem a pensar que se pode viver eternamente com dívidas, para que parem de pensar que os credores têm a obrigação de socorrer os devedores, para que dêem espaço e liberdade aos empresários e para que não voltem a viver como se não tivessem filhos.

DN, 21 de Maio de 2017

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Sem Emenda - As Minhas Fotografias

Duas freirinhas chinesas repousam-se na igreja do Monte das Oliveiras, em Jerusalém – É uma espécie de avenida de acesso à Basílica. Nas paredes, painéis de azulejos em todas as línguas celebram o local, transcrevem o “Pai-nosso” e convidam à oração. É um local impressionante. O ambiente é de paz. E de alguma excitação: fica-se com a impressão de que os cristãos do mundo inteiro viveram sempre com a ideia de, um dia, irem a Jerusalém e aos chamados “locais sagrados”. Poucas horas de passeio são suficientes para ver e ouvir dezenas ou mesmo centenas de povos, trajes e línguas diferentes. Em todos os sítios visitados, Sepulcro, Natividade, S. João, Calvário, “Pater Noster”, Cenáculo e Túmulo do Rei David, era a mesma festa. Ao lado de ruidosos americanos e pesados russos, um grupo de mulheres etíopes vestidas de branco cantava pelas ruas e anunciava que as etíopes eram cristãs há mais de mil anos… Já estas freirinhas chinesas pareciam mais com vontade de descansar.

DN, 21 de Maio de 2017

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19.5.17

SALVADOR SOBRAL

Por A. M. Galopim de Carvalho
Como é sabido, não tenho condições auditivas para apreciar a música, nem entender as palavras que a acompanham quando cantadas.
Ontem, influenciado pelas notícias que deram conta da nossa passagem à final, assisti a grande parte do Festival Eurovisão e à actuação do Salvador Sobral. O retumbante êxito da nossa canção e os comentários sérios que ouvi e li, levaram-me a procurar na “net” a respectiva letra, que li e verifiquei  ter saído da pena da autora da música, a irmã do cantor, Luisa Sobral de seu nome. Não sou entendido para me pronunciar sobre a qualidade formal do poema, mas sei ver que a mensagem que encerra é, a um tempo, de grande e doída beleza.
Acontece que esta minha deficiência  me aguçou a capacidade de analisar as expressões do olhar, das mãos e do corpo todo e gostei do que vi.
“A verdade, os sentimentos, as emoções, o pensamento crítico, o amor, brilharam mais e mais alto que os fogos de artifício…”  escreveu, melhor do que eu diria, esta manhã, às 7 horas, aqui, no FB, Luis M. S. Garcia.
 “…Habemus talento aliado à inteligência”. escreveu também hoje e aqui, à mesma hora, a minha amiga  Carmen Almeida.
 Portugal está a viver uma fase de autoestima e de notada descompressão do sufoco de anos atrás. É a  Geringonça a demonstrar todos os dias que funciona, mau grado  os negros presságios de um oposição sem mérito e à procura de um caminho que não encontra, são a descrispação e os afectos trazidos pelo actual Presidente da República, são os êxitos e prémios internacionais no desporto, com o football  e o Ronaldo na primeira linha, na ciência, nas tecnologias e nas artes, é o número crescente e a diversidade dos cidadãos do mundo que anualmente nos visitam. Foi o António Guterres na Nações Unidas, foi, há dois dias, a vinda do Papa Francisco, e o que isso significou para a imensa maioria  dos portugueses, e foi  ontem, ao final da noite, o prémio no Festival Eurovisão 2017.

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18.5.17

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O número total de page-views desde 5 de Janeiro de 2005 é de
1 847 750.
A curiosidade está na sua origem geográfica (pelo menos nos dias mais recentes)...

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A laicidade é uma exigência democrática

Por C. Barroco Esperança
A palavra francesa (laïcité) entrou no dicionário Littré, em 1871, no ano da Comuna de Paris, que desejava a separação da Igreja católica do Estado. A violência de então, com fuzilamento de vários membros do clero, associou injustificadamente a ‘laicidade’ ao anticlericalismo, que combatia a permanência do clero nos corredores do poder.
 Talvez se encontre na autonomia do poder político face às Igrejas e destas em relação ao poder político, a animosidade dos parlamentares católicos que se opuseram à lei de 9 de dezembro de 1905 que, ainda hoje, vigora, enquanto os protestantes não a combateram. Estavam vivas as recordações da monarquia católica de direito divino que, ainda hoje, despertam a nostalgia da monarquia de crentes contra a República de cidadãos eleitores.
 O reconhecimento de uma ou de várias Igrejas pelos Estados democráticos, bem como a separação de qualquer confissão, não refletem maior ou menor liberdade religiosa, dado que as democracias liberais respeitam as crenças, descrenças e anti-crenças de cada um, enquanto as religiões, só obrigadas, se conformam com crenças alheias.
 A laicidade dos espaços públicos e a não discriminação são uma garantia da liberdade e da igualdade das diversas confissões religiosas. O exemplo da Igreja ortodoxa, sempre presente nas cerimónias do Estado e com vasto ascendente nas instituições políticas, ou o caso extremo do Islão, em que todos os poderes do Estado, as regras de alimentação e vestuário e a obrigatoriedade da fé estão contidas no Corão, deviam servir de vacina aos países onde predominam as práticas cristãs e serem as Igrejas a exigir o cordão sanitário que as separe da política.
 A Igreja católica está, hoje, longe de ser a mais ligada ao poder político, apesar da gula com que parasita os Estados com quem assina Concordatas. Além do caso patológico do Islão, existe a Igreja ortodoxa sempre ligada ao poder político (Rússia e Grécia) e no caso da Grécia, com a Constituição ainda promulgada em nome da Santíssima Trindade.
 No Brasil as Igrejas evangélicas já dominam os meios de comunicação e o aparelho de Estado e, até nos EUA conseguiu o domínio do Partido Republicano, apesar do Estado não poder subsidiar qualquer culto.
 No mundo globalizado, onde a diversidade religiosa passou a ser uma constante, não há outra forma de conter a vocação totalitária das religiões maioritárias, nem o proselitismo das minoritárias, sem reforço da laicidade, posição que desconhecem os oportunistas de vários partidos, na caça ao voto, e os devotos ensandecidos pela fé.
 Se o nazismo quiser gozar de imunidade e impunidade basta transformar-se em religião. Em vez de líder use nomes como mulá, bispo, mufti, aiatola, cónego ou rabino e dê aos livros com que intoxica os devotos a santidade com que as religiões sacralizam os seus, apresentando-o como palavra revelada que conduz à salvação. E os antifascistas serão acusados de racismo e nazifobia.
 «O Estado também não pode ser ateu, deísta, livre-pensador; e não pode ser, pelo mesmo motivo porque não tem o direito de ser católico, protestante, budista. O Estado tem de ser cético, ou melhor dizendo indiferentista» Sampaio Bruno, in «A Questão religiosa» (1907).
 Ponte Europa / Sorumbático

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15.5.17

PAPA FRANCISCO

Por A. M. Galopim de Carvalho

Eu, que faço parte das estatísticas do catolicismo porque os meus pais me baptizaram em recém nascido, 
que não sou praticante, 
que respeito a fé dos que a têm ou dizem ter, 
que não discuto com eles porque, em meu entender e no de muitos como eu, razão e fé não se misturam, 
que vejo o desrespeito dos ricos e poderosos católicos pela doutrina social da Igreja, 
admiro cada vez mais este Papa Francisco e a sua postura, em absoluto contrate com os grandes da hierarquia desta mesma Igreja.

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