29.1.15

A liberdade e o Charlie Hebdo

Por C. Barroco Esperança
À medida que minguam os que afirmavam “Eu sou Charlie”, crescem os que o não são e nunca se conciliam com a liberdade e, muito menos, com o que consideram excessos. Frases como «a minha liberdade termina onde começa a dos outros» ou «liberdade, sim, mas sem ofensa», são formas dissimuladas de a limitar.
A liberdade está ligada à democracia, instituição recente e geograficamente limitada, e nem aí é consensual, mas bastaria o mar de sangue dos que se bateram por ela para que a sua defesa fosse uma obrigação cívica.
O direito à ofensa é dos mais difíceis de sustentar mas, mesmo esse, é um direito cujos limites cabe aos tribunais apreciar e não pode haver outras sanções para além das que as sentenças judiciais determinarem. A justiça popular é o simulacro da justiça, a vindicta que satisfaz o ódio e a transforma em vingança.
Todos sabemos como Maomé odiava o toucinho, a ponto de os seus seguidores sentirem como ofensa a simples presença da fotografia de um porco. Temos obrigação de discutir se as idiossincrasias dos outros devem limitar a nossa liberdade. Por que razão devemos respeitar quem encara o abandono da religião – a de cada um –, como suprema afronta, punível com a pena de morte? A descrença é tão respeitável como a crença, e o humor e a sátira, por mais cáusticos que sejam, não passam da crítica legítima de quem discorda.
Os criacionistas, protestantes evangélicos, obrigam alguns estados americanos a ensinar como ciência o mito criacionista de Adão e Eva a partir do barro na olaria divina. Exige o bom senso que sejam zurzidos pelo riso, achincalhados pela sátira, humilhados pelas caricaturas até aceitarem que Darwin tinha razão e a evolução das espécies é ciência e o alegado método de criação um mito.
Não é indiferente o sítio onde cada um exerce a sua liberdade e um livro ou um jornal só os lê quem quer. Se alguém se sente ofendido por um jornal que nunca leu, não é crente, é censor. Os cartunistas do Charlie não enviaram desenhos satíricos a cada crente e, no entanto, os terroristas procuraram-nos no local de trabalho para os assassinarem.
Deixem-me rir, enquanto choro por dentro, das doutrinas que entendem que uma mulher adúltera deve ser lapidada, que a mulher violada deve manter uma gravidez do selvagem que a agrediu, da decapitação de quem renega a religião do decapitador, das normas que impedem a igualdade de género e o direito à felicidade.  Rio de dor, a sangrar por dentro e com fratura exposta.
Os que hoje apelam à liberdade «sem ofensa» são herdeiros dos que viam nas vacinas a ofensa ao projeto divino, dos que pensavam que o Sol parava, por milagre, e que girava à volta da Terra, merecendo pagar com a vida a ofensa ao que estava escrito.
Geralmente, apela-se à tradição para evitar a evolução. Devia estarrecer-nos o tormento dos que lutaram contra a escravatura, contra as tradições que dividiam a Humanidade em classes, contra as que impediam o acesso da mulher ao mercado do trabalho e contra diversas formas de discriminação que continuam a existir, agora de forma mais subtil.
O riso e a sátira são armas de quem as troca por ideias. Os terroristas são alienados que recusam as ideias e o riso, de armas em punho.
Ponte Europa / Sorumbático

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28.1.15

Os Jihadistas



Por Maria Filomena Mónica
ANTEONTEM, o novo director do SIS declarou não estar Portugal imune ao terrorismo jihadista. Talvez, mas o que importa notar é que, ao contrário do que muitos pensam, a fé muçulmana não é um monólito. Quando falamos de jihadismo estamos a referir-nos a uma franja extremista que deseja conquistar o universo através do terrorismo, o que é facilitado pela presença nos países ocidentais de milhões de emigrantes que juram por Alá. Nos EUA, na Europa e na Austrália, o Islão é o segundo credo; em França, um em cada dez habitantes segue a doutrina de Maomé; em Inglaterra, a percentagem de pessoas que reza nas mesquitas é mais elevada do que a que frequenta as igrejas anglicanas.
A primeira jihad teve lugar em 630 D.C., quando Maomé conquistou Meca e garantiu aos fiéis que, um dia, viriam a ocupar as duas maiores cidades cristãs da época, Constantinopla e Roma. Enquanto tal não acontecia, os seus exércitos treinaram-se na conquista da Síria, Palestina, Egipto, Espanha, sul de Itália, parte do norte de África e Portugal. Como se sabe, em 732 D.C, seriam derrotados em Poitiers.
Há dois anos, fui a Paris. Em vez de visitar o Louvre, decidi ir até ao departamento 93, Seine St-Denis, um dos subúrbios mais pobres da capital. Ao lado da cidade grandiosa, limpa e bonita, vi prédios desumanos albergando imigrantes. Na década de 1860, surgira o círculo de vias rodoviárias que separa a cidade da banlieu. A desproporção é imensa: a cidade intra-muros terá 2 milhões de habitantes, enquanto a área metropolitana albergará 12 milhões. Foi na banlieu que, em grande parte, cresceram Cherif e Said Kouachi, os terroristas que mataram os redactores do Charlie Hebdo.
Ao lado deste tipo de jovens, existem outros, pertencentes à classe média, que igualmente cederam à tentação do extremismo. Na esteira de Edward Said, alguns intelectuais estabeleceram uma correlação positiva entre pobreza e terrorismo, o que os torna incapazes de compreender o que se passa. Olhe-se, por exemplo, o percurso de Ed Husain, por ele descrito em The Islamist, o livro onde nos conta os anos em que militou numa ala terrorista do Islão. Nascido e educado no East End londrino, numa família oriunda do Bangladesh, tinha uma vida confortável. Aos 16 anos, foi convidado por um amigo para se inscrever no YMO (Organização dos Jovens Muçulmanos), tendo aderido a um grupo cujo objectivo era a construção do Califado. Em 1995, abandonava a militância e registava a sua experiência.
Entre nós, também há intelectuais, como Boaventura de Sousa Santos, que argumentam que o ódio muçulmano provém da miséria. Não só a tese é redutora, como, ao contrário do que pensa, esta religião contém muitas seitas. Basta comparar o que há poucos anos o sheique al-´Arifi, o imã da mesquita frequentada pelos membros da Academia da Defesa saudita, afirmava - «Controlaremos a terra do Vaticano; Roma será nossa e introduziremos o Islão nesta cidade» - com o que o imã David Munir, da Mesquita Central de Lisboa, disse há pouco: «O Estado Islâmico é um bando de loucos».  
«Expresso» de 24 Jan 15 

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26.1.15

ARROZ DE MEXILHÕES E COGUMELOS DE COENTRADA


Por A. M. Galopim de Carvalho 
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 (Para dois adultos)
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1 chávena de chá  bem cheia de arroz carolino

1 saqueta de mexilhões frescos (como as que se compram nos supermercados)

1 lata pequena de cogumelos fatiados

1 caldo de marisco Knorr

0,5 dl de azeite

1 cebola

4 dentes de alho

1 folha de louro

1 bom molho de coentros picados

2 a 3 colheres de sopa de pimento vermelho cortado em cubinhos ou às tiras fininhas.

Piri piri facultativo

Corcuma  facultativo

Não necessita de sal
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Depois de bem limpos, abra os mexilhões ao natural num tacho tapado. Rejeite as cascas e reserve a água que libertam.

Num outro tacho ou no mesmo, depois de seco, faça o refogado (sem deixar queimar) com a cebola, os alhos, metade dos coentros picados, o louro e o piri piri.

Salteie o arroz e, a seguir, junte quatro chávenas de água (onde incluiu toda ou parte da água da cozedura dos mexilhões) e os caldos de marisco. Se necessário (e se for esse o seu gosto) vá acrescentando água de modo a deixar o arroz malandrinho.

No final da cozedura, junte os mexilhões, os cogumelos depois de escorridos e passados por água, o pimento vermelho e o resto dos coentros.
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Bom apetite e dias felizes!

25.1.15

Luz - Exposição de fotografias de rua, Barcelona

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Nas ruas e avenidas que levam à Praça da Catalunha, assim como às Ramblas, estava uma curiosa exposição de fotografias. Estas eram de boa qualidade, bem impressas, de grande formato e colocadas em “outdoors” (Creio que é assim que se lhes chama hoje… Há uns anos, pelo menos em Lisboa, chamávamos-lhes “bombocas”, por causa de um dos primeiros produtos que tinha recorrido a este truque publicitário…). A exposição tinha um fio condutor, ou um traço comum a todas as imagens: sendo provocatórias, as fotografias tinham como objectos pessoas, ângulos e formas pouco ou nada fotogénicos. Como é o caso desta senhora idosa, com rugas e celulite. A ideia era simples: destruir os conceitos datados, mercantis e convencionais que estabelecem os critérios do belo, da moda e do que é esteticamente valorizado. Não era inédito, nem excepcionalmente interessante. Mas era curioso, até pelo dispositivo: imagens misturadas com as pessoas e a publicidade, nas ruas, entre os transeuntes, obrigando-nos a parar um segundo para pensar. (2012)

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22.1.15

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS - FALANDO DOS SOLOS (1)



Por A. M. Galopim de Carvalho
Uma caminhada de dois séculos

ENTRETIDOS com outros temas e outras notícias mil vezes mais “interessantes”, os media deixam para trás a celebração de 2015 como Ano Internacional dos Solos, declarado na 68ª Sessão da Assembleia Geral da Nações Unidas, reunida em 2013. São muitos, mesmo entre os responsáveis da administrações, os que andam esquecidos de que estamos cada vez mais dependentes de um recurso fundamental à sobrevivência da humanidade neste nosso “Planeta Azul”. Só os media podem dar voz suficientemente alargada aos avisos dos pedólogos e de outros investigadores focados no conhecimento do solo. Infelizmente ainda são muitas as decisões que utilizam mal, degradam, ou mesmo, destroem este recurso natural a um tempo grandioso e frágil.  (...)
Texto integral [aqui]

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A burka e a liberdade


O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) considerou em 20-01-2015 “legítima” a proibição do uso de véu integral em França, rejeitando um pedido de uma francesa que reivindicava o direito a usar o niqab ou a burqa.
 Parece um paradoxo que a decisão mereça o aplauso de quem defende as mais amplas liberdades e a censura dos que geralmente as negam, mas são os mais permissivos nos costumes que condenam o analfabetismo, a recusa de vacinas ou o uso da burka. Quanto a normas de higiene, a regras de saúde ou hábitos de educação, por exemplo, não devem permitir-se sistemas alternativos. Incoerência? A democracia proíbe e a teocracia impõe.
 Há, quanto à burka, um argumento irrefutável se for comparada aos capacetes, máscaras ou outros adereços que impeçam, por motivos de segurança, o reconhecimento de quem os usa. Basta esse fundamento para legitimar a decisão proibitiva do Estado.
 Mas vamos à sub-reptícia defesa da liberdade de religião, também apelidada de cultura. É natural que uma mulher criada numa sociedade ou família onde se incentive o uso, se sinta disponível para o aceitar ou defender, mas, por cada mulher a quem se recusa esse símbolo de humilhação, há milhares a quem é imposto, se a lei o não impedir. Os filhos de escravos adaptavam-se mal à liberdade e houve escravos que preferiam permanecer.
 Não se trata do conflito entre culturas diferentes, digladiam-se a civilização e a barbárie, a modernidade e o anacronismo, a igualdade de género e a submissão da mulher.
 Quem sustenta que não se pode satirizar uma religião, entende talvez que não se deva impedir o uso público da burka porque, depois, se persegue a excisão do clitóris, a seguir a lapidação de mulheres e, finalmente, se esvazia uma religião pacífica quando se impedir a amputação de membros, a decapitação de hereges e a venda de noivas.
 A situação é diferente quanto ao uso da palavra e da imagem. Se hoje proibimos uma revista satírica, amanhã condenamos a pornográfica, depois o filme que é ofensivo e, finalmente o livro. Voltamos à censura e reiniciamos as guerras que nos outorgaram a liberdade.
 A laicidade vai ganhando terreno. Lenta e penosamente.
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Ponte Europa / Sorumbático

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20.1.15

O QUE É A LUZ?

Por Carlos Fiolhais
Vale a pena, neste Ano Internacional da Luz, voltar a esta questão muito antiga. Ao longo da história, foram-lhe sendo dadas diferentes respostas. Para os atomistas gregos,  a luz era, como aliás tudo o resto, constituída por partículas. No início do século XVIII, o físico inglês Isaac Newton recuperou esta teoria, uma vez que ela permitia explicar, entre outros fenómenos ópticos, a propagação rectilínea da luz, a reflexão (embate da luz na superfície de um espelho) e refracção (desvio da luz ao passar de um meio para outro).

Contudo, um outro físico, o holandês seu contemporâneo Christian Huyghens, conseguia explicar os mesmos fenómenos usando ondas. Apesar do enorme prestígio de Newton, foi a teoria ondulatória que acabou por prevalecer no século XIX: logo no início desse século, uma famosa realizada pelo inglês Thomas Young, exibindo a interferência de luz que passa por duas fendas, só podia ser compreendida com a ajuda de ondas. Uma partícula nunca pode anular outra partícula, mas uma onda já pode anular outra onda. Assistiu-se então ao triunfo da teoria ondulatória, para a qual muito contribuiu uma memória de 1815 do francês Augustin-Jean Fresnel, sobre a difracção da luz (espalhamento quando sai de um pequeno orifício).

Se a luz é uma onda, o que é que está a vibrar? Há 150 anos, o escocês James Clerk Maxwell, ao juntar, na mesma descrição matemática, a electricidade e o magnetismo, foi o primeiro a propor que a luz era uma onda que resultava da vibração do campo electromagnético. O que é esse campo? Para explicar a força eléctrica e a magnética à distância tinha-se introduzido a noção de campo. Existe um campo magnético associado ao campo eléctrico e a luz mais não é do que a propagação de uma perturbação periódica desses dois campos, conjunto a que chamamos campo electromagnético. A velocidade da luz foi calculada a partir de propriedades eléctricas e magnéticas. Apesar de essa velocidade ser constante, podiam existir ondas com  comprimentos de onda muito diferentes. A luz visível corresponde a uma pequena “janela” no conjunto dos comprimentos de onda. Luz invisível, como a ultravioleta e a infravermelha, é tão luz como a luz visível, só diferindo desta por o comprimento de onda ser menor ou maior. Com a detecção instrumental de luz invisível, a onda parecia ter ganho à partícula!

Mas a luz reservava-nos surpresas. Em 1905 as partículas de luz voltaram quando o físico suíço Albert Einstein se viu obrigado a introduzir a noção de “pacote” de luz (fotão) para descrever o arranque de electrões de um metal por luz ultravioleta. Graças a Einstein Newton estava vingado… A energia do fotão dependia do comprimento de onda: havia fotões ultravioletas, infravermelhos, e, com uma energia intermédia, fotões azuis, verdes e vermelhos. Como conciliar a descrição ondulatória, que funciona bem em certas circunstâncias, e a descrição corpuscular, que funciona bem noutras? Uma estranha teoria – a teoria quântica – conseguiu fazê-lo, impondo-se como a moderna teoria da luz. A luz propaga-se no espaço como uma onda, mas pode ser produzida ou apanhada como partícula. Hoje em dia conseguimos emitir luz fotão a fotão, evidenciando o seu carácter corpuscular, mas, se colocarmos um obstáculo com duas fendas à frente dessa luz, verificaremos que ela passa pelas duas, como seria de esperar de uma onda. A experiência desafia o nosso senso comum. Quem diz que o mundo tem de estar de acordo com o nosso senso comum? 
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Texto saído na imprensa regional

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18.1.15

EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO (2)

Por A. M. Galopim de Carvalho
NAS REGIÕES temperadas e nas quentes, suficientemente pluviosas, dominam a erosão e o transporte fluviais. Quanto à sedimentação detrítica, uma parte fica temporariamente em terra, constituindo depósitos fluviais ou, eventualmente, depósitos em lagos. Outra parte (maioritariamente argilosa) continua em suspensão, a caminho do mar.

Nos ambientes frios, com abundante precipitação nival, como acontece nas latitudes polares e nas montanhas acima de determinadas altitudes, o gelo nos glaciares canalizados em vales é o principal agente modelador da paisagem.(...)
Texto integral [aqui]

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Luz - A capital mundial do livro antigo, Hay-on-Wye, Inglaterra

Fotografias de António Barreto- APPh
 
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Já aqui trouxe, à “Luz” do Sorumbático e do Jacarandá, várias fotografias feitas em Hay-on-Wye. Nunca será demais recordar esta maravilhosa aldeia situada na fronteira entre o Norte de Inglaterra e o País de Gales. Fica de tal maneira a cavalo entre os dois países, que os habitantes se arrogam com facilidade a ideia de não pertencerem a nenhum dos dois ou mesmo de serem independentes. Há três ou quatro décadas que o senhor Booth (o mesmo que deu o nome a esta livraria, ou antiquário ou alfarrabista) deu início a uma espécie de movimento. Comprou casas, um castelo e o cinema, acabou por os transformar em alfarrabistas. A seguir a ele, dezenas de comerciantes, residentes, forasteiros, alfarrabistas das redondezas e toda a variedade de gente fizeram o mesmo: criaram livrarias, abriram as portas ao público e começaram a negociar em livros antigos. Depois dos livros vieram as gravuras, os mapas, as fotografias e uma infindável “memorabilia” relacionada com a edição, o livro e a gravura. Naquela aldeia, com escassas centenas de edifícios, há literalmente milhões de livros. Quase tudo que se procura pode encontrar-se lá. Ali adquiri livros raríssimos sobre a história de Portugal. Os seus livreiros compram em qualquer parte do mundo, para onde enviam encomendas com cuidado e prontidão. Colocaram a Internet do seu lado, fornecem a Amazon e outros vendedores “modernos” virtuais. A aldeia organiza o mais importante festival anual de literatura da Grã-Bretanha, assim como um dos mais importantes festivais de jazz. Nos “pubs” locais come-se e bebe-se deliciosamente. Quem lá for, nunca mais esquece. E volta. (1988)

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Malditos números económicos

Por Antunes Ferreira
QUANDO O ACTUAL (des)Governo anunciava que tudo ia correndo no nosso país sobre esferas cada vez mais oleadas, aparece um desmancha-prazeres a dizer que não é bem assim, antes pelo contrário. E, para cúmulo, o autor do “crime” é o mesmo e fá-lo há algum tempo. Antevejo que para Coelhos & Portas trata-se de minudências ocasionais, sem significado para a conjuntura que é sólida; mas, noutro registo, ela também assim era: os dois “actores” e o “compère” Cavaco garantiram a solidez do BES e foi o que se viu
Uma vez mais transcrevo notícia publicada na comunicação social, contrariando alguns que me lêem – e sem veleidades retóricas - ainda são bastantes. Tenho sido acusado de recorrer em demasia ao que se escreve e diz na maioria dos órgãos, em detrimento da exposição da minha opinião pessoal. No entanto, creio que citar as fontes possíveis e as que considero melhores é procedimento de que me não envergonho e que por isso julgo ter cabimento. Cito, pois, os dados divulgados pelo Banco de Portugal.
“A actividade económica em Portugal voltou a cair em Dezembro, descendo 0,9% em termos homólogos e mantendo-se em terreno negativo pelo quinto mês consecutivo, segundo indicadores divulgados hoje pelo Banco de Portugal (BdP).
De acordo com os Indicadores de Conjuntura hoje (sexta-feira) revelados pelo banco central, este valor é semelhante à descida registada em Novembro, mas a actividade económica vinha a desacelerar desde Janeiro, quando o indicador ainda estava em terreno positivo, fixando-se nos 1,1% de evolução favorável.
Em Agosto o indicador virou a tendência e passou para o negativo, então para -0,2%.
Os indicadores hoje divulgados dão conta também de uma ligeira diminuição no consumo privado, com o indicador coincidente a fixar-se nos 1,2% em Dezembro, contra os 1,5% do valor registado em Novembro.
No que se refere ao sentimento económico este sofreu uma ténue evolução positiva, de 102,3 pontos para 102,4 pontos(fim de citação)
Ora bem. No dia anterior, ainda que de forma rebuscada Luís Marques Mendes, a propósito da falta de aplicação do “estatuto remuneratório igual” veio informar no final do Conselho de Ministros que o “mais alto magistrado da Nação” (a expressão que aqui uso não e a do (des)governante, é minha ainda recordando amargamente os tempos salazarentos…Mas, pelo andar da carruagem…) ainda não o promulgara. Sejamos claros: o (des)Governo, que é bom, sacode a água do capote para cima do utente do palácio de Belém. Pelos vistos não é o só o Banco de Portugal que é um desmancha-prazeres; Cavaco também o é.
De supetão ocorre-me a famosa afirmação de C. Silva quando primeiro-ministro, a propósito da actuação do Tribunal de Contas então presidido por Sousa Franco: “força de bloqueio”. Na altura, eu trabalhava lá e posso dizer, sem receio de desmentidos, que a coisa foi recebida com bastantes sorrisos de comiseração e desdém. E o Presidente do tribunal não aparentou ter-se incomodado muito. Tão próximo como eu era dele, posso ainda garantir que foi assim.
Porém, voltando aos indicados de Conjuntura, reitero que não sou economista muito menos fiscalista, mas confesso que aprendi disso o q.b. com a minha passagem pela Faculdade pelo TdeC e pelo Ministério das Finanças. Donde, creio que a opinião que tenho não é de todo despicienda. Mas, tenho de acrescentar que a linguagem usada pelos especialistas destes dois ramos é normalmente um tanto hermética, (há, até, quem diga que é cabalística, mas não se deve ir tão longe…) logo difícil de compreender pelo cidadão comum.
Não é, felizmente, o caso. Os dados divulgados pelo Banco de Portugal são lineares – porque são numéricos e as percentagens que deles decorrem logicamente também o são. A não ser assim, poder-se-ia afirmar em tom popular que “a lógica é uma batata” e a ”a Economia é um saco de gatos… Um ano tem 12 meses, de acordo com o calendário por que nos regemos, isto é o gregoriano. E a ordem dos meses ´”curiosamente” sempre a mesma; o que quer dizer (mero exemplo…) que a Novembro segue-se Dezembro e logo surge Janeiro e por aí fora num círculo ininterrupto.
Portanto não é difícil fazer-se comparações entre os mesmos meses de anos diferentes partindo-se do mesmo princípio: a 2013 segue-se…2014 e a este… 2015. Ultrapassado este período humorístico, aliás digno do Monsieur de La Fontaine, é de fácil interpretação o divulgado pelo BdP: cinco meses consecutivos dos valores da actividade económica sempre em terreno negativo têm vindo a decair face aos números de 2013. Naturalmente em comparação com os homólogos de há dois anos. Mais uma mentira da “dupla maravilhosa” que chefia o (des)Governo, seguida pari passu pelo suposto PR. Os três heróis da fantasia referem-se indubitavelmente ao crescimento da Economia. Para isso (e desta feita segundo o Amigo Banana) teria de aumentar a actividade económica - e maldita diminui. Já não se pode confiar em nada. E nem em ninguém…

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16.1.15

SOPAS DE ALFACE COM QUEIJO E OVOS



(para 4 adultos)
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2 alfaces grandes
Dois nabos médios cortados em quartos de rodelas finas
1 dl de bom azeite
6 a 8 dentes de alho
1 bom molho de coentros
2 folhas de louro
4 ovos
2 queijos alentejanos de meia cura
500 g pão alentejano de dois ou tês dias
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NUM TACHO, com o fundo coberto de azeite, aloure os dentes de alho cortados às rodelas e as folhas de louro, a que junta, no fim, uma parte dos coentros picados. De seguida, junte as folhas de alface cortadas à mão, em bocados grandes, e tape, mantendo o lume brando. A alface vai vertendo a água suficiente para o cozinhado. Coza aí o queijo cortado às fatias grossas e escalfe os ovos. Se necessário, vá deitando água aos poucos, à medida do que deseje confecionar.

Se desejar servir como sopas de pão, acrescente água na medida exacta. Neste caso, o pão, às fatias, na quantidade desejada por cada um, é colocado no fundo do respectivo prato e, sobre ele, bem quente, esta preciosa confecção.
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Bom apetite e dias felizes.

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15.1.15

O homem era um santo (crónica)

Por C. Barroco Esperança

A mulher, que chegava do trabalho antes dele, chegou ao ponto de lhe dizer que não era sua criada, que um dia acabava o hábito de ser ela a única a cozinhar, a lavar e a passar a ferro a roupa, a fazer a cama e a limpar a casa.
O homem, um santo, aguentava a desfaçatez, suportava a sopa, a que faltava ou sobrava sal, sem um queixume, a salada que estava mal temperada, o peixe mal grelhado e ainda a ouvia resmungar enquanto lia o jornal e ela arrumava a mesa e lavava a louça.
Casados há mais de vinte anos, a mulher queria agora gozar dos mesmos direitos, exigir iguais deveres para ambos, depois de ter criado dois filhos sem que o marido soubesse o que era mudar uma fralda ou onde era a creche ou a escola.
Suportou ao longo dos anos que a mulher tivesse um vencimento maior que o seu, sem mostrar a irritação que isso lhe causava, ouvia-a cantar quando queria silêncio e sentia-a emudecida na altura em que  queria conversar. Começou a arremessar para a roupa suja as camisas onde via uma ruga, o homem era um santo mas não podia aguentar mais.
Um dia, estava ela na lide da casa, depois de um dia de trabalho de que viera exausta, o homem não podia adivinhar, fez-lhe uma pergunta e não obteve resposta. Nesse dia, depois de anos a aguentar aquela mulher, agarrou na faca da cozinha e deixou-a a esvair em sangue, enquanto se foi entregar à polícia.
No tribunal, presidiu ao coletivo de juízes uma mulher, sem capacidade de compreensão para a bondade do homem que, naquele dia, se excedeu. As testemunhas eram unânimes a denunciar os maus tratos de que o santo homem fora vítima, mas poderia uma mulher compreender o tormento de um homem!? Na sua beca, imaculadamente passada a ferro, a juíza acusou-o de crueldade, violência gratuita e amoralidade, enfim, um exagero que as mulheres cometem, sem se esquecer de o acusar de ter repetido as facadas 12 vezes.
Quando a morta devia ter sido condenada foi o pobre do viúvo que ouviu um longo e penoso acórdão que o condenou a 18 anos de prisão. Já não há justiça. Essa defunta foi uma das 40 de que os companheiros, fartos de tanto sofrimento, acabaram por matar no ano que há pouco findou.
Não sei porquê, lembrei-me da perseguição dos polícias franceses aos que piedosamente executaram os desenhadores do Cahrlie Hebdo. Mataram os santos homens que rezavam cinco orações diárias e só queriam uma assoalhada no Paraíso recheada de 72 virgens.
Já não há justiça!

Ponte Europa / Sorumbático

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11.1.15

Luz - Manifestação esquerdista, Genebra, Suíça

Fotografias de António Barreto- APPh
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Já não recordo o tema em disputa, ou antes, contra quem se dirigiam os manifestantes. O estilo destes, assim como as bandeiras vermelhas, não deixam muitas dúvidas. Por outro lado, a alinhada protecção policial ao Chase Manhattan Bank confirma seguramente que os Estados Unidos e o capitalismo devem ser os alvos. Um dia destes, com um pouco de investigação nos meus arquivos fotográficos, ainda encontrarei mais pormenores que permitam melhor identificar a imagem. É também provável que se trate de uma manifestação de solidariedade com várias lutas e vários países ao mesmo tempo, neste caso Portugal, Espanha, Chile (o golpe de Estado contra a Unidade Popular de Salvador Allende tinha ocorrido pouco antes) e as colónias portuguesas. Estive nessa manifestação, só que não sei se esta fotografia foi feita nesse dia… (Ca. 1973)

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EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho
TÃO VELHAS quanto a crosta terrestre, que se crê ter surgido há mais de quatro milhares de milhões de anos, a erosão e a sedimentação constituem dois processos geodinâmicos externos em que o segundo depende absolutamente do primeiro.
Actuantes à superfície do planeta, erosão e sedimentação criam o essencial do material de que são feitas as montanhas. Com efeito é destes dois processos que surgem as rochas sedimentares, maioritariamente acumuladas nas bacias oceânicas, onde podem formar sequências com alguns milhares de metros de espessura.(...)
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10.1.15

JE SUIS CHARLIE

Por Antunes Ferreira

NÃO HESITEI em trazer aqui um acontecimento horrendo que aconteceu ontem (na quarta-feira) em Paris: o massacre de 12 (doze!) pessoas numa reunião que decorria no Charlie Hebdo um jornal humorístico, por vezes pesado da capital de França. Sabendo que corria o risco de transformar – ainda que episodicamente – a nossa Travessa, publico este comentário. Quem discordar da opção ataque-me, insulte-me, abomine-me; tenho as costas largas e estou habituado a esses procedimentos.

Os alegados culpados, à hora em que escrevo este texto, estão a ser procurados por mais de dois mil gendarmes e militares, mas ainda não foram encontrados. Insha’Allah (Oxalá) o sejam para que o crime não fique impune. E não se trata aqui da pena de talião – “olho por olho, dente por dente” máxima pela primeira vez escrita no Código de Hamurabi 1.700 a C. Nada disso; é apenas reprovar alto e bom som o miserável ataque contra a liberdade da informação, contra a Liberdade, contra a República, contra a França; em suma contra a Democracia e contra o Mundo.

Fui católico, mas curei-me. A frase que, de tantas vezes disse e escrevi, já se transformou em calina; viral, como hoje se diz no politicamente correcto, na infoesfera, onde quer que seja. Mas respeito todos credos, todas as religiões com excepção da única que prega a guerra (santa?), a muçulmana. Ainda que no Alcorão não se fale dela, jihad, os ditados do único profeta de Alá, são bem expressivos; nelas é descrita como um esforço que os muçulmanos fazem para levar a teoria do Islão a outras pessoas. E ainda «Está escrito segundo a autoridade de Abu Huraira que Maomé disse: ‘Aquele que morreu mas não lutou no caminho de Alá nem expressou alguma determinação por lutar, morreu como morrem os hipócritas» (Sahih Muslim 2:4696).

Entre os doze mortos encontrava-se um homem que conheci e se tornou meu Amigo: Georges Wolinski. Inclino-me perante ele como o faço em relação aos outros abatidos. Era um homem bem disposto, cartunista de alto gabarito. Humorista brilhante, por vezes acre e acintoso, mas na verdade para mim um Amigo. Foi vítima da denúncia que fazia sobre as práticas da bestialidade cometidas pelos muçulmanos radicais.

Os prováveis assassinos, cujas crueldade, fanatismo e brutalidade andam a para com a ignomínia, neste momento em que escrevo (quarta-feira, 8) ainda não foram capturados (Incha’Allah, oxalá, eu o sejam para que cumpram a pena por que sejam julgados em tribunal e não na rua. De resto os bandos terroristas do chamado “Estado Islâmico já lhes chamaram “heróis” De nacionalidade francesa são bem o exemplo dos que mordem a mão que os alimenta.

No século IV a C o estratega (go?) Sun Tzu /Tse escreveu  A Arte da Guerra (um tratado militar) do qual consta que a finalidade da guerra é matar o inimigo. Com o seu carácter sentencioso, Sun Tzu forja a figura de um general cujas qualidades são o segredo, a dissimulação e a surpresa. Acredita-se que o livro tenha sido usado por diversos estrategas (os?) militares através da História como Nguyen Giap, Mao Zedong w até Napoleão. Nele se basei a guerra de guerrilha. Os criminosos de Paris assim procederam para consumar a sua loucura vingativa, alegando, tanto quanto se sabe, que o jornal atacava repetidas vezes Alá, o Alcorão e Maomé. Uma nova cruzada? Não sei.

Mas, recordo Amim Maaluf que escreveu em França (obviamente sem censura) “As Cruzadas vistas pelos Árabes”. Maalouf  é um escritor libanês. É membro da Academia Francesa desde 2011 . Recebeu entre outros o Prix des Maisons de la Press, o Prémio Goncourt 1993 e o Prémio Príncipe das Astúrias na categoria Letras. E que me conste a sua isenção não lhe permite advogar a guerra (santa?).

O cerne do problema está na circunstância dos criminosos viverem entre nós, usarem os mesmos transportes públicos, comerem nos mesmos restaurantes. E dando de barato que há “muçulmanos bons” e “muçulmanos maus” como poderão ser reconhecidos? Usando um letreiro colado na testa: BOM – MAU?  Não sei responder a estas questões verdadeiramente angustiantes. Sei, sim que também JE SUIS CHARLIE, afirmação que corre por todo o Mundo, exemplo de solidariedade com os que, inocentes, pagaram com a própria vida a defesa da Liberdade

8.1.15

Van Dog, por António Pilar

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As idiossincrasias da direita ibérica

Por C. Barroco Esperança
A direita europeia preservou uma fatia de patriotas que combateu o nazi/fascismo, que se empenhou na clandestinidade, defendeu a liberdade contra o totalitarismo e discutiu com a esquerda o futuro político dos seus países, no pós-guerra. Em França e na Itália, democratas de diversos matizes combateram juntos. Morreram e foram fuzilados pela violência do totalitarismo que os atingiu, arautos da liberdade, combatentes contra o racismo, a xenofobia e o antissemitismo. Na própria Alemanha, a direita moderada quis derrubar Hitler. A direita europeia deu democratas como Churchill, De Gaulle e  De Gasperi.
A direita portuguesa e a espanhola estiveram conluiadas com as ditaduras, participaram no genocídio franquista, na guerra colonial portuguesa e na conivência com a repressão policial. Foi essa matriz genética que, passado o susto da revolução portuguesa de Abril, fez regressar as direitas ibéricas às origens. Foi a pulsão reacionária que, em Portugal, foi deixando pelo caminho os democratas que se reviam nos estatutos dos partidos da direita e se foram desencantando com os seus métodos, objetivos e ressentimentos.
De Sá Carneiro a Passos Coelho a deriva reacionária transformou os conservadores que Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Magalhães Mota e Pinto Balsemão uniram, neste bando ignaro de ressabiados, vingativos e inaptos cujo objetivo é a desforra dos anos em que os democratas foram poder. Foi um percurso longo, quase quatro décadas de espera, até a vulgaridade se tornar currículo, a ignorância diploma e a raiva se confundir com um programa de governo.
Esta direita pode ser boçal, anacrónica e cobarde, mas tem um objetivo claro, destruir as conquistas de Abril, o Estado social e os mais essenciais direitos dos trabalhadores. Nos escombros de um presidente, um governo e uma maioria ficarão sepultados a ilusão dos que acreditaram neles e o desespero de todos.
Bastam quatro anos para tornar irreversível o desastre que nos espera.

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6.1.15

Apontamentos de Lagos

OS CTT não arranjavam melhor altura para fazer obras nesta estação do que o mês de Dezembro! Além do vento, da chuva e do frio próprios da época, a coincidência com a quadra do Natal foi genial. 
O que lhes vale é que o povo português é sereno e tem uma pachorra infinita, pelo que não se ouve um protesto, nem um simples resmungo em surdina... Abençoado o país que tal povo (e tais gestores...) tem!
NOTA: Repare-se, ainda, no pormenor do toldo de desenrolar que, apesar da chuva, se mantém recolhido.
(A foto é do passado dia 16, numa cidade onde, além desta, só há uma estação dos Correios).

5.1.15

10º ANIVERSÁRIO do "Sorumbático"

Graças aos seus autores e leitores, o Sorumbático completa hoje 10 anos de idade.
Aqui fica, além da "efeméride", uma nota de grande saudade aos colaboradores entretanto desaparecidos: o Carlos Pinto Coelho (um dos 4 fundadores) e o José Luís Saldanha Sanches.
NOTA: O blogue teve, até à data, 14 289 posts e 2 032 715 page views.

4.1.15

Luz - Conferência Campesina, com Salvador Allende, Santiago do Chile, Chile, 1971

Fotografias de António Barreto- APPh
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Manifestação de organizações camponesas e de sindicatos agrícolas de apoio ao governo de “Unidad Popular” de Salvador Allende (Socialistas, Comunistas, Radicais, Católicos de esquerda, outros de extrema esquerda…) para as políticas de Reforma Agrária. Nesta fotografia, vê-se o palco recheado de dirigentes políticos e de associações camponesas. Salvador Allende é o sexto, na primeira fila, a contar da esquerda. É a sessão de encerramento de uma grande conferência a favor da reforma agrária, seguida de manifestação na rua. Tratava-se de governo minoritário, tendo S. Allende sido eleito com cerca de 35% dos votos populares. Uma velha tradição democrática chilena fazia com que o candidato que tivesse mais votos populares tinha grandes possibilidades de vencer a “segunda volta” que se realizava no Parlamento. Depois de iniciado o governo unitário, a pressão dos comunistas, dos outros grupos de extrema-esquerda e mesmo dos socialistas mais radicais, assim como dos grupos católicos de esquerda, crescia todos os dias. Queriam mais revolução, mais reforma agrária, mais nacionalizações (entre as quais dos principais recursos naturais, os fosfatos e o cobre), mais intervenção do Estado e mais mobilização contra os capitalistas, a direita e os americanos. Assim se viveu durante um ou dois anos. Os Estados Unidos conspiraram e ajudaram a conspirar o mais que se imagina e sabe. A esquerda não mediu a sua fragilidade inicial. A direita não hesitou diante de nenhum meio, da greve à sabotagem, do assassinato ao golpe militar. O resto é conhecido. (1971)

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EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO GLACIÁRIAS (2)

Por A. M. Galopim de Carvalho


COMO RESULTADO da acção abrasiva das moreias contra as paredes e o fundo do vale glaciário, há intensa pulverização do material rochoso em confronto, com produção de uma fracção detrítica muito fina, de aparência argilosa, referida por alguns autores por “farinha glaciária” ou “farinha dos tilitos[”. Na realidade, esta fracção de aspecto pulverulento é quase sempre e apenas pó de pedra. Só nos casos em que a rocha pulverizada era, já de si, argilosa, um xisto, por exemplo, pode haver argila nestes depósitos. (...)


Texto integral [aqui]

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