31.12.15

As próximas eleições presidenciais-8

Por C.Barroco Esperança
A presença obsessiva de Marcelo Rebelo de Sousa na comunicação social é de tal modo obscena que a informação passou a propaganda e a exposição do candidato a massacre.
Se vier a confirmar-se a vitória de quem se ouvem todas as opiniões sem se escrutinar o eu passado, cumprir-se-á a profecia do falecido Emídio Rangel: «A televisão tem igual eficácia na venda de sabonetes e presidentes da República».
Marcelo Rebelo de Sousa, José Miguel Júdice, Santana Lopes, Manuel Durão Barroso e António Pinto Leite surgiram no início de 1984, organizados, para fazerem regressar ao poder, por via democrática, a velha política, sob o pseudónimo de “Nova Esperança”.
Foram decisivos em dois congressos do PSD, em 1984 [Braga] derrotando Mota Amaral com Mota Pinto e, especialmente, em 1985 [Figueira da Foz], na improvável ascensão à liderança partidária do obscuro salazarista Cavaco Silva, derrotando João Salgueiro.
Marcelo não foi apenas líder do PSD, foi sempre o defensor das posições que são hoje minoritárias na sociedade portuguesa, por mais anestesiada e aturdida que se encontre.
Ninguém confronta Marcelo, o candidato presidencial solicitado a pronunciar-se sobre todos os assuntos, incluindo o S.N.S., onde revela a beata compaixão e cínico desacordo com o desinvestimento do último governo mas em contradição com o seu voto, no PSD, contra a Lei de Bases. Lutou ainda contra a universalidade do SNS, alegando a injustiça do seu caso, que podia e devia pagar a saúde, e tinha direito à gratuitidade. Demagogo!
Ninguém lhe lembra a sua oposição à despenalização da IVG ou ao chumbo do primeiro projeto para a legalizar nos casos de risco de vida de mãe, malformações ou violação.
Este Marcelo humanista, que lava mais branco o passado do que qualquer detergente as nódoas, será o mesmo cujos preconceitos pios condenariam à morte mulheres cuja vida fosse incompatível com a gravidez, e à gestação obrigatória as vítimas de violação e as grávidas de um feto teratogénico?
Este Marcelo, que esteve vários anos a vender a imagem nas televisões e a ser pago, que agora a consolida em todos os canais, sem o remorso judaico-cristão de ver ostracizados os concorrentes diretos, será o mesmo que demagogicamente afirma que as candidaturas não deviam receber donativos particulares?
Este Marcelo, amigo do peito e da hóstia de banqueiros, respeita a identidade partidária que o atual inquilino de Belém, por indigência cívica, não suporta?
Este Marcelo, que foi à Festa do Avante em ecuménico branqueio, será o que denunciou ao padrinho a presença perigosa dos comunistas no Congresso de Aveiro?
Este Marcelo, que aceitou o ser presidente da Fundação Casa de Bragança, saberá que o cargo é incompatível com a ética republicana e a presidência da República?
Este histrião pode agradar à populaça mas não serve a democracia.

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30.12.15

Vencidos e vencedores

Por António Barreto
No século XX, desde o fim da segunda guerra, o desenvolvimento político e social deu gradualmente vitórias aos trabalhadores e às esquerdas. A onda já vinha de antes, mas tinha sido interrompida por uma década de fascismo e de nazismo.
            Apesar dos governos reaccionários, os vencedores da história do século XX, até quase ao fim, foram as democracias, as esquerdas, os socialistas, os comunistas, os povos colonizados e outros grupos de pessoas até aí dominadas e dependentes. Podemos enumerar os trabalhadores e seus sindicatos, as mulheres e os jovens, os intelectuais e os artistas, os cientistas e as profissões liberais. Quase todos ficaram a ganhar. Em muitos casos, com excepção dos países comunistas, as liberdades individuais aumentaram também.
            Partidos de trabalhadores e de sindicalistas, de socialistas e de comunistas, de liberais e da classe média tiveram acesso às eleições e aos parlamentos. Fizeram-se governos de esquerda democrática. E alianças ou alternância entre esses partidos e os de centro e de direita, as classes altas e de proprietários, as tecnocracias e conservadores de vários tipos, incluindo liberais. Vitória também a das esquerdas em cerca de vinte países, onde os comunistas conquistaram o poder só para eles e comportaram-se mais ou menos como fascistas e nazis, só que com outra ideologia aparente.
Quem não tinha, ganhou o direito de voto, isto é: mulheres, jovens, soldados, padres, analfabetos, pobres, desempregados, camponeses, emigrantes e até estrangeiros. As mulheres arranjaram emprego, casa, educação, profissão, dinheiro e pílula. Os jovens obtiveram mesadas, autonomia, direitos, viagens, cultura, roupas e bebida. Os povos colonizados ganharam um Estado, polícia, exércitos, petróleo, direitos internacionais e acesso aos circuitos internacionais de bem-estar, luxo, tecnologia e saber.
            As democracias vingaram em cinquenta países desenvolvidos. Quase toda a gente estudou, arranjou emprego, tem conta no banco e vai de férias. Criaram-se Estados de protecção social, organizaram-se sistemas de saúde e de educação para todos. As desigualdades sociais esbateram-se. Em poucas décadas, na Europa, as populações viram os seus rendimentos crescer cinco e seis vezes. Foram décadas de vitórias sucessivas, aqui e ali interrompidas, mas em última instância retomadas. Além destes, uma centena de outros países, mesmo sem o ser, reclamou-se da democracia. As Nações Unidas reconheceram toda a gente e a todos concederam estatuto e direitos. Os proprietários de matérias-primas, sobretudo petróleo, chegaram em poucas décadas aos conselhos de administração do mundo inteiro. Árabes, asiáticos, africanos e latino-americanos, antes considerados gente de segunda, depressa chegaram aos paraísos do poder.
Tudo isso mudou! Desde finais do século XX, as transferências de poder e fortuna tiveram o sentido contrário. As crises financeiras perturbaram aquela nova configuração do mundo. Se, globalmente, as desigualdades diminuíram, dentro de cada país, recomeçaram a crescer. As diferenças de rendimento entre os Estados Unidos e a China ou a Índia são hoje menores. Mas, dentro de cada país da Europa, as desigualdades são maiores. O Estado -providência começou a ter problemas de solidez. Muitos dos que, há meio século, eram considerados como pertencendo ao mundo dos danados e dos explorados aparecem agora, ao lado dos poderosos, com petróleo, armas e rendimentos obscuros. As sucessivas crises de petróleo, de finanças, de guerras locais e regionais, assim como os comportamentos dos grandes grupos económicos, têm produzido resultados quase sempre no mesmo sentido: transferência de poderes, rendimentos e recursos para os antigos vencidos. Essas transferências beneficiam o capital, os proprietários, os Estados desenvolvidos, as classes ricas, os partidos de direita e centro-direita, os gestores, as grandes empresas e conglomerados, os grupos financeiros, a banca… É o que está a acontecer!
As grandes transferências em curso seguem caminhos visíveis. Dos países pobres para os ricos. Dos devedores para os credores. Das classes trabalhadoras e médias para as classes altas. Dos consumidores e dos produtores para a banca. Dos produtores para a distribuição. Da economia para as finanças. Do Sul para o Norte. Até o saber e a competência correm para os países líderes. Ao mesmo tempo, o emprego sai dos países desenvolvidos para os países de mão-de-obra barata.
E Portugal? É do Sul. É devedor. Está endividado. Tem pouca indústria. Não tem petróleo. Tem um sistema bancário feito em fanicos. Uma população envelhecida. Um enorme caudal de emigração. Uma cavada desigualdade social. Uma direita que ora pensa que é liberal, ora julga que é social-democrata. Um partido socialista que deixou de saber o que é. Um partido comunista que vem directamente da idade do gelo. Um sistema político de guerra aberta entre o governo e o presidente. Uma elite económica fraca. Uma elite política medíocre. Não se recomenda!

DN, 27 de Dezembro de 2015

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27.12.15

Luz - Turistas namorados em Alfama, Lisboa

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É a nova realidade lisboeta (e portuense…) por efeito das guerras no Próximo Oriente, das fugas de refugiados e imigrantes, dos voos Low cost, das crises grega e turca, das crises egípcia e tunisina, das crises líbia e libanesa, da multiplicação de hotéis e hostels, do crescimento espectacular das viagens de cruzeiros, do aumento de densidade e volume destes barcos, da sua passagem por Lisboa e do melhoramento da capacidade de atendimento do porto de Lisboa: turistas, esplanadas improvisadas, quiosques inesperados e camisolas do Cristiano Ronaldo! Será que aquele casal de namoradas julga que está aqui por amor? Ou sabe que é o resultado destas crises todas? (2015)

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26.12.15

Rans à Presidência

Por Antunes Ferreira
O folclore político português tem cenas de rir à gargalhada. Teria, aliás, se não fossem tão tristes e más. Os protagonistas, ou seja os chefes das bandas, são sempre os mesmos; no caso de eleições, o vira minhoto é quem manda:” ora agora viras tu, ora agora viro eu…” ou seja a ida às urnas é assim a modos do que diz o povo: “vira o disco e toca o mesmo…” E as promessas que os candidatos fazem (se forem cumpridas?) são iguais às voltas do vira “e torna a virar, as voltas do vira são boas de dar”.
Passado o Natal, com o tradicional bacalhau cozido com todos, com o peru recheado e assado no forno, com as filhós, o bolo-rei e as prendas possíveis, com a árvore (Made in China), com o presépio, aliás do mesmo local de produção, o pessoal vira-se para as presidenciais, porque as legislativas já eram, porque o Governo de António Costa já mexe, porque sim. Para as quais, candidatos são o que não falta; qualquer deles tendo obrigatoriamente o destino traçado: ser melhor do que Cavaco Silva – o que é facílimo.
O próprio Ano Novo que, de fralda descartável e chupeta, se prepara para empurrar para a terra do nunca mais um 2015 caquéctico, em cadeirinha de rodas e garrafa de oxigénio, não fora essa missão de cumprir os seus 365 dias, também se canditaria à Presidência da República. Vejamos: se já temos uma Belém candidata a Belém, por que bulas o Ano Novo não poderia fazer parte da pole position? A corrida não é dominada pelo apartheid, que se saiba.
Na quarta-feira, aconteceu o inevitável: Vitorino Silva, o calceteiro do Porto, é o novo concorrente. Excelente, mais uma, menos um, sempre cabem todos. Mas quem é este cidadão? Vitorino Francisco da Rocha e Silva nasceu em 1971 na terra pela qual ficou conhecido, Rans. Tornou-se célebre durante um congresso do Partido Socialista com um discurso inusitado. Tino de Rans já foi presidente da Junta de freguesia de Rans, participou no reality show Big Brother VIP, o terceiro da série produzida e apresentada por Teresa Guilherme. Do seu volumoso currículo ainda consta que tem músicas e livros editados. Assumiu um objectivo: pôr o povo a sorrir, ou seja devolver a alegria à plebe. Isto porque os Portugueses andam tristes.
Pudera não, depois de quatro anos de crise e de austeridade e do conluio entre Cavaco, Passos Coelho e Portas, em que a principal actividade foi varrer o que estava – e está – mal para baixo do tapete, haveria sujeitos que andassem alegres?… E, pelos vistos, a procissão ainda nem chegou ao adro. O Governo do PS, com o apoio parlamentar (?) do BE e do PCP, tem pela frente muitos tapetes e muita porcaria.
Porém, isso não impede de registar (e de aplaudir) a candidatura de Tino de Rans que, no acto de apresentação das listas de apoiantes acentuou que tinha “muito respeito por quem assinou por mim neste percurso porque o terreno foi duro mas tenho a certeza que é no terreno mais duro que nasce o melhor néctar” e ainda que "quando nas sondagens falam de dois ou três candidatos e chamam 'outros' aos outros fico triste porque eu não me chamo 'outro'. Tenho nome, tenho dignidade", disse, sublinhando que até ao momento "ninguém teve um voto".
Aí, seu Tino, a sua candidatura é de homem, tal como as restantes, só com uma excepção: a Dr.ª Maria de Belém.

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24.12.15

Adriano Moreira, o CDS e o Conselho de Estado

Por C. Barroco Esperança 
Esta direita está a reescrever a História da democracia e, na pressa, tropeça nos próprios esqueletos. A grande golpada foi a tentativa de festejar este ano, pela primeira vez, o 25 de novembro, ao arrepio dos atores, como se tivesse intervindo no processo cuja cadeia de comando começou em Costa Gomes, sucedido por Vasco Lourenço, Ramalho Eanes e Jaime Neves, os operacionais, sendo o “grupo dos 9” ideólogo e responsável político.
Esta direita, na sua ingratidão e raiva, já esqueceu o ódio que devotou a Melo Antunes e Vítor Alves bem como aos sobreviventes do «Grupo dos 9», democratas e patriotas.
Agora é a eleição de Adriano Moreira para o Conselho de Estado, modelo de democrata e patriota, segundo o proponente e autor dos epítetos, Paulo Portas. A idade do ancião não exige o apagamento do passado, desencardido pela escolha do PSD & CDS.
Adriano Moreira que, em 2009, considerou Salazar o maior estadista do século XX, foi seu secretário de Estado e ministro do Ultramar. A idade e a inteligência levaram-no a conformar-se com a democracia mas foi ele que, como Ministro do Ultramar, nomeou, no início da guerra colonial, Venâncio Deslandes governador-geral e comandante-chefe das Forças Armadas em Angola e que o demitiria na sequência de um discurso ambíguo cujas explicações não o convenceram ou não lhe foram dadas. 
 Adriano Moreira foi responsável pela maior violência e, quiçá, pela utilização de meios condenáveis na repressão com que o exército de ocupação respondeu à crueza dos atos terroristas, injustos e gratuitos, com que nacionalistas angolanos iniciaram a guerra de libertação de Angola.
 Quem louva Adriano Moreira silencia que foi presidente do CDS e se manteve militante na expulsão da Internacional Democrata Cristã, por ser antieuropeísta e duvidosamente democrático.
 Adriano Moreira (AM) foi, é e será sempre o reacionário que a democracia reabilitou. Concedeu-lhe comendas, o cume da carreira académica e cargos do Estado (deputado, vice-presidente da AR). Foi o ministro fascista que reativou o Campo do Tarrafal em 1961, Campo de Trabalho do Chão Bom, para prisioneiros oriundos das colónias. Ali sofreram a tortura e o degredo numerosos patriotas dos futuros PALOPs, incluindo o escritor luso-angolano, Luandino Vieira, nascido em Vila Nova de Ourém. Em 21 de maio de 1965, achando-se Luandino aí preso, há quatro anos, a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu-lhe o Grande Prémio de Novela pela sua obra Luuanda. Quem tem memória sabe como a Pide agrediu os membros do júri e o regime suspendeu, durante meses, o Jornal do Fundão por se recusar a chamar-lhe terrorista, ao noticiar o prémio.
 Continua convencido de que o frio torcionário, Salazar, foi o maior estadista do século XX, tal como Paulo Portas ou Cavaco Silva o julgam democrata. À sua imagem.
 Adriano Moreira é o Conselheiro de Estado do agrado desta direita e, quiçá, do ainda PR mas jamais será uma referência ética, democrática ou patriótica. É apenas o fascista inteligente, culto e longevo de um país sem memória nem vergonha.
 Ponte Europa / Sorumbático

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20.12.15

Luz - Sardinhada em Alfama, Lisboa

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Entre duas ruas, uma escadinha, duas travessas e uma calçada, ali para os lados de Santo Estêvão, duas senhoras, certamente turistas, mostram ao que vieram. Uma faz contas à vida, depois de sardinhas e mousse de chocolate. Outra preparara-se para, com um parceiro, atacar uma dúzia de sardinhas, o que revela uma fome e um estômago de respeito! (2015)

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“O CHÃO QUE NOS DÁ O PÃO”

Por A. M. Galopim de Carvalho
É urgente trazer ao cidadão o conhecimento da natureza e da importância do solo, a começar na escola, onde os curricula estão longe de dar ao solo a importância científica, económica e social que, na realidade, tem. (...)
Texto integral [aqui]

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19.12.15

Quase um conto de Natal

Por Antunes Ferreira
Pelo sim, pelo não, quero deixar aqui uma decisão irrevogável: este comentário é o último que escrevo… antes do Natal. Claro que estes irrevogáveis costumam ser a prazo. Do tipo cada vez mais utilizado pelas crianças: pai, ou dás-me uma playStaiton VR ou chumbo no exame do sexto ano; é uma decisão irrevogável. Há quem lhe chame chantagem, mas isso é outra estória porque esta é pré-natalícia e a outra (qual?) é uma estória cor de burro quando foge.
O dito Natal já está ali à esquina, com o trenó de Santa Claus mal estacionado, pois as renas entraram em greve (o que deixou muito incomodado o dr. Paulo Portas e outros) pois querem seguro de circulação celestial e o bom velhinho entende que nem pensar. É óbvio que para estas cenas existe a concertação social, mas há sempre desmancha-prazeres que estragam  a concertação; quanto à social foi chão que deu uvas.
Quando comecei a escrever esta malfadada prosa tive uma esperança: o boss não vai deixar passar esta pepineira; mas, tanto quanto saiba ela gorou-se. Inicialmente pretendia fazer um conto próprio da época com um título lindo O Suave Milagre, mas um amigo avisou-me: deixa-te de tretas, o Eça de Queirós é menino para te arranjar um processo por plágio. Face à advertência prometi a mim próprio que de processos e insubstituíveis estão os cemitérios cheios exceptuando, obviamente, os fornos crematórios… Mas, não me fiquei por aqui.
Porém e dado que tomara uma decisão irrevogável, desisti, por fas ou por nefas do, título que me parecia muito suave. No entanto persisti denodadamente na escrita de um conto de Natal. Deixem-me que diga que o propósito é digno, apropriado e sincero. Mas as adversativas são o diabo, como escreveu o meu Amigo Francisco Seixas da Costa. No entanto não é um qualquer mas, todavia, contudo que ladre aos tornozelos de escriba; cão que ladra não morde. Mas, sensata e avisadamente, não me consta que exista um qualquer adágio que diga que cão que morde não ladra.
Nos últimos minutos dou por mim a pensar que fazer um conto de Natal é um bico-de-obra. Por múltiplas razões, a saber:
1)   Desde que S. Francisco de Assis, na cidade italiana de Greccio em 1223 resolveu fazer o primeiro nunca mais eles pararam de aparecer. São os cogumelos… Das mais diversas formas e feitios, nos mais diversos locais tornou-se a imagem do nascimento do Menino; donde não há qualquer possibilidade de ineditismo;
2)   Tal como os há dos mais diferentes materiais, desde o tradicional barro ao moderno alumínio desde a lusitana cortiça até ao moderníssimo  poliisocianurato, também existem estórias, canções, músicas e… contos de Natal;
3)   Dizia o Vasco Santana no Jardim Zoológico para um guarda dos animais “chapéus há muitos, seu palerma”; parafraseando o estudante (?) de Medicina Vasco Leitão que ele interpretava na “Canção de Lisboa”, o primeiro filme sonoro em Português, em 1933, pode-se também afirmar que “contos de Natal há muito” (ignorando o seu palerma), e creio que já chega.

Posto tudo em equação confesso, humílimo e contrito, que não sei quais são as premissas e muito menos a conclusão desta equação confusa. Mas que raio de ideia me foi sair escassos dias antes do 24/25. Por isso decido não fazer qualquer conto de Natal e fico-me pelo quase.

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17.12.15

A República e as primeiras-damas

Por C. Barroco Esperança
Portugal deve banir os (maus) exemplos vindos da Europa ou dos Estados Unidos, quiçá por reminiscências monárquicas, em que o presidente da República se faz acompanhar da consorte, como um sultão com o seu harém, em visitas de Estado.
As primeiras-damas são um anacronismo que diminui a mulher e as torna adereços da democracia onde seria inaceitável que a discriminação de género lhes negasse o direito de ocupar o cargo.
O lugar de primeira-dama representa um cargo sem funções, um mero estado civil, que a República deve extinguir. A tradição seria grotesca se a igualdade de género fosse já, como devia, uma realidade de facto e não apenas de direito.
A notícia de que as mulheres de Sampaio da Nóvoa ou Marcelo Rebelo de Sousa, assim como o homem de Maria de Belém Roseira, não preencherão as funções ocupadas pelas mulheres dos últimos PRs, é uma excelente notícia para quem repudia direitos conjugais na representação do Estado ainda que, em um dos casos, seja por hipocrisia beata.
Não se pode confundir a coabitação no Palácio de Belém da família do, ou da, PR com a constante presença conjugal nas cerimónias públicas e, muito menos, como a matriarca cessante fazia das viagens do PR, excursões familiares com os netinhos.
A inevitável eleição de um dos três candidatos citados trará um PR incomparavelmente melhor do que o atual, o Palácio de Belém será melhor frequentado e a República mais prestigiada. A ausência de uma primeira-dama ou de um primeiro-cavalheiro, de género igual ou diferente do do candidato eleito, é um avanço institucional do órgão unipessoal.
Não é a primeira vez que Portugal se coloca na vanguarda da civilização e constitui um exemplo para outros países. Não sendo neutra a escolha que o eleitorado venha a fazer, há benefícios enormes na substituição presidencial, a chegada de alguém com a cultura, sensibilidade e sentido de Estado, que o cargo exige, e a abolição da prótese conjugal.
Viva a República!
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Ponte Europa / Sorumbático

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13.12.15

Luz - Obras em Alfama, Lisboa

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Os trabalhadores são cabo-verdianos e guineenses, pois claro. Não sei se é por causa do turismo que, em poucos anos, transformou parte de Lisboa e do Porto. É bem capaz de ser essa a razão. Não creio que seja devido ao crescimento económico, que não tem havido. Mas a verdade é que em muitas ruas de Alfama há uma permanente agitação com obras e reparações. Vão surgindo mais restaurantes, esplanadas, cafés e tabernas, assim como lojas de “souvenirs”, quiosques e bugigangas. Os “tuk-tuk” agitam as ruas. Os carteiristas abundam. Os turistas dos cruzeiros, com porto ali perto, adoram o bairro. Os dos “low cost” também. É vê-los de Abril a Novembro, com temporada alargada! (2015)

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12.12.15

A HISTÓRIA DA TERRA ESCRITA NAS ROCHAS SEDIMENTARES


Por A. Galopim de Carvalho
A história da Terra lê-se nas rochas e, em grande parte, nas rochas sedimentares.
Para além das suas múltiplas aplicações na sociedade(na construção civil, nas várias indústrias, na escultura), as rochas podem ser entendidas como documentos que os geólogos aprendem e ensinam (sempre que for caso disso) a ler. E as letras que trazem escritas são, em especial, os fósseis que muitas delas encerram, como é o caso das rochas sedimentares, e os minerais que, em todas participam como constituintes essenciais. (...)
Texto integral [aqui]

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É tempo de fazer contas

Por Antunes Ferreira 
Para António Costa começou o tempo mais difícil: o de fazer contas. Neste particular a agilidade e o jogo de cintura são essenciais. Essenciais? Obrigatórios. Enquanto decorreram as conversações a três para a formação de um governo de esquerda – e, tanto quanto se sabe elas foram duras – estava-se no princípio do ano do estado de graça. Não se partiu para um casamento, porque as juras de fidelidade mútua não foram enunciadas. Quando muito foi um contrato nupcial nunca um sacramento como defende a Igreja.
Por força da necessidade de recuperar o período que Cavaco Silva gastou inutilmente a fim de protelar a tomada de posse do Governo de Costa, os três partidos nem tiveram tempo de chegar ao estado da construção de um Executivo fácil. Bem pelo contrário, eles nem seguiram para a lua-de-mel. E não consta que tenha havido um, ainda que singelo, copo de água. Penso que nem havia copo muito menos água, exceptuando a que fora metida pela estuporada coligação que durante quatro anos (penosos) tentou dar cabo de um país chamado Portugal.
O prof. Cavaco, como se comprovou no palácio da Ajuda, não queria de forma nenhuma aceitar um Governo do PS apadrinhado pelo PCP e BE. O rictus que afivelou na face desde o início da cerimónia davam bem a ideia de como estava zangado; mas naquele momento já não havia nada a fazer. No entanto na mente doentia do suposto PR estava de há muito, instalada uma malandrice: o discurso ameaçador que utilizou. Cavaco apenas reforçou o que se sabia: é vingativo, inculto, ressabiado e mentiroso. Porém, Costa soube responder-lhe bem e civilizadamente…
Por tudo isso – e dando de barato que foi e é o principal culpado do estado a que se chegou (muito boa gente o diz; eu sempre o disse..) – o tempo que se perdeu entre o que devia ter sido utilizado na tomada de posse e o que ele gastou em reuniões de todos os que lhe convinham, levou a que o Governo de Esquerda se veja, agora, confrontado com a obrigatoriedade de queimar etapas em coisa de tanta importância como são o OE do ano que ainda corre e o que será aplicado em 2016. Não se quis lembrar (ou não quis que o fizessem recordar) que, quando primeiro-ministro mandou arrancar vides e oliveiras e afundar barcos de pesca a troco de moeda mandada pela então CEE, por isso era um bom aluno… As contradições levaram-no a ordenar que a economia portuguesa devia-se fundamentar na… agricultura e na pesca. E a inflação dos salários dos funcionários públicos – quem o fez?
Pelo caminho Costa teve de assegurar que Portugal, como tinha afirmado, iria cumprir todas as obrigações, quer na UE quer na NATO. No meio desta senda turbulenta, ainda se pôde ouvir o senhor Wolfgang Schäuble a dizer que o actual primeiro-ministro era um tipo simpático e que começara a gostar dele desde o tempo em que ambos eram ministros dos assuntos parlamentares e europeus. Quem diria? Mas o facto é que António Costa registou um golo para o desafio que tinha, tem e terá num horizonte político que se antevê proceloso.
Por isso rebobino para voltar ao início deste comentário: é tempo de fazer contas. E, apesar de ser o ministro das Finanças, Mário Centeno tem de utilizar um computador super certo. Os que eram usados pela falecida coligação eram mentirosos. Vão-se agora descobrindo buracos que um dia destes poderão ser aproveitado para procurar petróleo ou como entradas de novas estações do metropolitano. A ironia que costumo colocar em quase todos os meus textos poderia originar um sorriso – mesmo que amarelo. 
Porém, no caso presente não estou a tentar contar uma anedota. A situação é tão grave que nunca justificaria o recurso ao riso. Pelos vistos os cofres estão cheios de… ar e vento, ou quase. As crónicas e hipotéticas almofadas agora uma vez mais sublinhadas por Cavaco são miragens miríficas: de almofadas só têm o nome e dando de barato que possam existir, não têm sumaúma nem sequer fronhas. 
Portanto é tempo de calculadora e é tempo de aferição da solidariedade dos dois parceiros do Governo que o apoiam no parlamento, mas não fazem parte dele. Os amigos são principalmente para o lado mau das coisas. Não se pode estar – pelo menos na política – com um pé fora e outro dentro. Jerónimo e Catarina não podem esticar a corda; não podem nem devem. E já é corrente que há divergências comprometedoras em especial no que respeita ao salário mínimo.
Porque bem vistas as coisas há que remar no mesmo sentido, ainda que a contragosto. E não esquecer que há muita gente a meter paus diversos na engrenagem. Cavaco, por exemplo, voltaria ao “eu bem os avisei” porque, ele o disse, “nunca me engano e raramente tenho dúvidas”…

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10.12.15

As próximas eleições presidenciais

Por C. Barroco Esperança
Depois de uma década sem presidente da República, habituados ao comissário do PSD, o País descrê do cargo mais simbólico do regime e da democracia que o 25 de Abril nos legou, mas é exatamente por esse legado que devemos ser exigentes e participativos.


Carecemos de um PR que respeite todos os partidos e os encare na razão direta do seu peso eleitoral. O PR não é um comentador, é um juiz alheio à luta partidária, o supremo magistrado a quem cabe respeitar e fazer respeitar a Constituição. Não pode ser o cata-vento de aspirações que se arvore em vendedor de sonhos.

Não pode inventar escutas, fomentar intrigas e ameaçar outros órgãos da soberania. Não deve privilegiar quem partilhe os seus preconceitos e injuriar quem tenha outras opções. Quem vier a ser eleito não pode chantagear os portugueses, intrometer-se na formação de governos ou fazer birras e manifestar ressentimentos.

Estou certo de que os eleitores saberão escolher quem, à semelhança de Ramalho Eanes, Mário Soares e  Jorge Sampaio, prestigie o cargo e não envergonhe os portugueses.

Nas personalidades que declararam submeter-se a sufrágio é fácil encontrar quem tenha a cultura, sensibilidade e inteligência para desempenhar tão importantes funções. Direi mesmo que os principais candidatos não têm um passado nebuloso quanto aos negócios ou às relações com o fisco e a Segurança Social.

Basta escolher quem, tendo essas características, garanta maior isenção partidária, isto é, quem mais se afastar do perfil do último que habitou Belém nos últimos dez anos.

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6.12.15

Luz - Num bar de Sevilha

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Enquanto estive nesta cidade, vinha aqui todos os dias. Não apenas porque um empregado era português e muito simpático, mas porque o ambiente era excelente. A qualquer hora. Ao pequeno-almoço, com magníficas torradas. Ao almoço, com pratos ligeiros e rápidos. A qualquer hora, com tapas e sanduíches. Ao jantar, com “fino” e “xerez”. (2008)

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A propósito da homenagem a Mário Ruivo, na UNESCO, em Paris, Novembro de 2015

Por A. M. Galopim de Carvalho
FEDERAÇÃO PORTUGUESA DAS ASSOCIAÇÕES E SOCIEDADES CIENTÍFICAS
            Os impactes ambientais decorrentes dos progressos científicos e tecnológicos e da sua utilização na sociedade de consumo, crescentes a ritmo preocupante, são hoje temas comuns das agendas de uma multitude de contactos e encontros, quer internos, quer a nível internacional. Comuns são também os indícios de menor transparência e até, de hipocrisia, ligados a interesses, a todos os níveis, tantas vezes subjacentes a muitas iniciativas de desenvolvimento, que vão desde simples normas de gestão local aos grandes acordos internacionais, de que é exemplo o conhecido Protocolo de Kioto (1997) e o que se espera acontecer este mês, em Paris. (...)
Texto integral [aqui]

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5.12.15

No quadragésimo aniversário do 25 de Novembro de 1975

Por António Barreto
Na nossa história, houve datas civis que tiveram o seu tempo, viveram e morreram. Algumas, mal ou bem, subsistem com forma ou vigor, como o 10 de Junho, o 1º de Maio e o 25 de Abril. Outras desapareceram, como o 24 de Julho, o 9 de Abril e o 11 de Novembro. Umas foram afastadas por repulsa, como o 28 de Maio, enquanto outras se arrastaram através dos anos como o 1º de Dezembro e o 5 de Outubro.

Há datas exemplarmente nacionais, outras marcadamente políticas, outras ainda de carácter social. De umas datas fizeram-se feriados, outras já não o são. O tempo apaga, o tempo esbate, mas o tempo também consolida. A história da definição de cada uma destas datas é sempre curiosa. Comemoração ou propaganda, evocação cultural ou festividade de circunstância: há de tudo.
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