30.4.05

Proposta de leitura

NUMA ALTURA em que algumas religiões, nas suas sinistras versões fundamentalistas, andam por aí a fazer a vida negra a tanta gente, nada melhor do que uma leitura de algumas pequenas crónicas do Velho Testamento...

Nestes livros, a autora - Deana Barroqueiro (*) - reescreveu algumas dessas histórias, qual cronista desses tempos, sem crenças em Baal, Marduk ou Jahweh...

(*) www.deanabarroqueiro.educacao.te.pt/

O mal dos outros...

Se é verdade que «com o mal dos outros podemos nós bem», também é certo que por vezes «mal dos outros é consolo». Por isso, vale a pena ver (e ouvir) www.infonegocio.com/xeron/bruno/italy.html

(Env. por CPC)

Van Gogh

Ficheiro em Power Point com 30 imagens de quadros de Van Gogh. Tem 2,65 Mega, e para o receber basta enviar uma mensagem para medina.ribeiro@netcabo.pt, metendo apenas em "Assunto" a palavra «quadros».

29.4.05

Conversa... FIADA

Estava previsto meter aqui um grande relambório sobre o novo capítulo, hoje revelado, da nauseante palhaçada que dá pelo nome de «dívida dos clubes ao Fisco».

No entanto, dado que se trata de algo que já toda a gente sabe, concluí que não valia a pena estar com muita conversa-fiada (?!), e limitei-me a fazer uma pesquisa em «fantochada» para arranjar uma imagem que fosse mais bonita do que o artista principal da peça - Bagão Félix.

Encontrei esta, em «fantoches», e dei-me por satisfeito.

«Acontece...» - «A ditadura das pastas de dentes»

Crónica de Carlos Pinto Coelho

Não acreditei. Na segunda feira, quando liguei o meu televisor e vi Eduardo Lourenço em pleno horário nobre, pensei que estava no ARTE, no People and Arts ou na Sic Notícias. Mas não, era mesmo a RTP 1. Que diabo, cultura no primeiro canal da televisão pública, a estas horas? Hmmm... e deixei-me ficar. Ainda bem, porque pude ver um trabalho são e escorreito de Anabela Saint-Maurice, com bom guião, bom som e bons enquadramentos, bom ritmo de edição. Mas, insisti, um programa interessante na hora habitual dos concursos? Mudaram hoje o director de programas da casa?

Lá me explicaram que era 25 de Abril, dia de tolerância e fraternidade. Podia, pois, excepcionalmente, permanecer, em paz e com proveito, no horário nobre do primeiro canal. Mas só nessa noite, porque as audiências haviam de ser tão parcas que as coisas haviam de voltar ao “normal”logo no dia seguinte. Ora parece que o programa foi visto por 538 mil pessoas, o que para mim é muito bom sintoma. Mas sê-lo-ia também para a ditadura das vendas de pasta de dentes – ou seja, do mercado publicitário e seus aliados na televisão pública de Portugal? Não, não foi. No dia seguinte já tinham regressado as coisas aos seus devidos lugares e correspondentes concursos.

Tal como são feitos em Portugal, os estudos de audimetrias revelam quantos televisores estão ligados nas casas das pessoas, quantas pessoas estão na sala, a que horas e a ver o quê. Não dizem se as pessoas estavam ou não estavam de facto a olhar para o aparelho e se gostaram muito ou não gostaram nada do que viram. Os índices de agrado interessam pouco por isso não existem. Ou seja, a Anabela Saint-Maurice ficará o resto dos seus dias sem saber quantos mais ( além de mim, que aqui me confesso) apreciaram o seu trabalho, e ao director de programas restará, para o seu trabalho, um redutor número de televisores ligados. Tudo isto é confrangedor e velho.

Portugal não tem leis reguladoras da colheita de audimetrias. Números tão vitais para uma programação responsável da maior escola pública do país, que é a televisão, continuam a ser ditados pelos interesses estritos do mercado publicitário. Que, por sua vez, governa a distribuição geográfica dos audímetros como melhor lhe convém. Mais audímetros onde a população consumidora é maior, menos onde estão os alentejos do nosso rendimento per capita. Fatal. Nada tenho contra isso e muito menos contra a Marktest, que é uma competente empresa - monopolista - que recolhe e trabalha os seus dados com eficácia e até prestígio internacional. Ela vai para onde a mandam os seus clientes, e se os seus actuais clientes têm por destino atávico a Buraca, ela não ruma à Capela Sistina. Tudo bem até aqui. O problema é que só isto não chega.

... E o resto? O móbil último das programações televisivas será apenas e só o entretenimento? Os telejornais existem principalmente para o “infotainment”da navalhada? Jornalista de telejornais tem de ser sempre um repórter dos lixos da sociedade? Desporto em televisão tem de ser sobretudo chicana de balneários de futebol? E os que vêem televisão, são tão só consumidores? Não podem ter outras identidades, outros propósitos e outra serventia? E quem decide não terá o dever de perceber com que gostos e desgostos se compõem os seus auditórios presentes e, sobretudo, os ausentes?

Esta semana, o provedor do canal público francês France 2, Jean-Claude Allanic, revelou ter recebido uma quantidade recorde de protestos de espectadores, por causa da cobertura televisiva dada à agonia do papa João Paulo II. Sobretudo um telejornal que dedicou cem minutos ao assunto, indignou 90 por cento dos 2.500 espectadores que enviaram mensagens ao provedor. E Allanic comenta: “A redacção (do telejornal) não pode poupar-se a uma reflexão mais profunda sobre o seu trabalho de jornalistas de serviço público, num ambiente por demais submetido às leis do marketing.” Diz depois que as televisões privadas têm todo o direito a ceder “com delícia e gula”aos embalos da actualidade mas que o serviço público tem o seu lugar e os seus deveres. “Será que a nossa missão é vender “cérebros disponíveis”à Coca-Cola, provocar lágrimas nas igrejas e fazer sonhar nas choupanas dos reinos de opereta?”

Também Marie-Laure Augry, provedora do terceiro canal de serviço público, France 3, veio esta semana a público dar conta de iguais protestos por parte dos seus espectadores. “Recordaram-nos os princípios da laicidade, condenaram a nossa falta de distanciamento, o vocabulário utilizado, e reprovaram o exagero de espaço dado à agonia do papa, em detrimento de outras notícias.”

Ora todos sabemos que não foi muito diferente a cobertura que a RTP concedeu ao mesmo assunto. Mas não há por lá nenhum provedor a recolher críticas dos espectadores, se as houvesse, e a construir com elas uma séria chamada de atenção aos responsáveis editoriais da casa.

Até nos Estados Unidos o presidente da Organization of News Ombudsmen, espécie de associação dos provedores dos Media, ele próprio provedor da National Public Radio, Jeffrey Dvorkin, não tem dúvidas sobre o assunto: “Um provedor não serve para nada se o jornalismo for de fraca qualidade. Mas a existência de um provedor é sinal de que a instituição noticiosa tem um compromisso com a excelência. Nós não nos substituímos ao mau jornalismo, mas não o desculpamos. Também tentamos educar o público para os padrões do jornalismo que recebe, de modo a que ouvintes e espectadores sejam considerados cidadãos, primeiro, e só depois consumidores mediáticos.” Nem mais.

Se as declaradas intenções do programa deste governo forem por diante, e se as competências dos anunciados provedores para a RTP e RDP couberem num sólido arcaboiço ético e independente, pode ser que se entranhe algum saudável constrangimento nos cérebros das suas chefias editoriais e os nossos Eduardos Lourenços deixem de ser atropelados, em horário nobre, pelo diktat dos vendedores de pastas de dentes.

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(«A CAPITAL», 29 de Abril 2005)

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28.4.05

Arbitrariedades...

(Menina... de luvas)

Ultimamente, e por causa de algumas arbitragens, tem-se falado muito de luvas.

Ainda agora, a propósito do jogo Estoril-Benfica, e só pelo facto de o árbitro ter recorrido a uma botas cedidas pelo Glorioso, logo se falou em corrupção!

Que diabo! Confundir botas com luvas não será já «trocar os pés pelas mãos»?!

O adjectivo

(A imagem mais adequada ao texto não é esta. O que sucede é que, quando está em causa afixar desenhos de José Vilhena, tem de se ser cuidadoso...)

Nos últimos dias, foram autorizados a ir dormir a suas casas...

... o adepto da bola que esfaqueou dois agentes da GNR em Albufeira

... os 23 suspeitos de recrutarem portugueses para trabalho escravo em Espanha

... os suspeitos da morte do inspector da PJ João Melo

Neste último caso, e para apurar eventuais responsabilidades, a PGR abriu um rigoroso inquérito.

Nota pessoal: Adoro o adjectivo «rigoroso»! Quando aplicado a este género de anedotas, só me faz lembrar José Vilhena que, num dos seus saborosos livros, o usava como substantivo, colocando-o na boca de uma galdéria:

«Afinfa-me com o rigoroso

«Ai este meu ouvido!...»

«Sempre ouvi dizer...» - desculpou-se, recorrendo a uma expressão tipicamente portuguesa

Ficámos ontem a saber que António Costa admitiu que o anunciado projecto de acompanhamento de operações policiais por elementos do Ministério Público pode ter resultado de um erro de interpretação jurídica do Governo.

Pronto, não é grave, todos nos enganamos...

Fui ao meu arquivo procurar registos sobre isso, mas apenas encontrei um vídeo em que, confrontado com críticas sobre o mesmo assunto, ele dizia, sobranceiro:

- O mal de certas pessoas é falarem do que não sabem!

Boa! Arrogante... mas certeiro!

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Publicado no «DN» de 30 Abril 05

26.4.05

Atropelamento

Um amigo meu foi atropelado . Ainda não tinha aterrado e já o automobilista lhe gritava “Você partiu-me o espelho!” . Recebia de transeuntes os óculos partidos, peças soltas do relógio e um sapato que fora parar a dez metros, e o exacerbado condutor gritava: ”Uma óptica destas não custa menos de 40 contos!”
O meu amigo contabilizava ossos, preocupado com uma forte dor no esterno, borrifando-se no fato Armani todo roto e no Girard Perregaux em fanicos. Um polícia aproximou-se e o condutor, pela primeira vez, ofereceu-se para o levar ao hospital. Ele estrebuchou :” Tenho um seguro de saúde, ” disse . O guarda não concordou: ”Vá antes a um hospital civil que o meu colega chama lá a brigada e toma conta da ocorrência.”
O meu amigo imaginou o pesadelo. Além da dor no peito que o não deixava respirar, teria à sua frente horas de espera, de interrogatório, fitas métricas, reconstituições, recolha de testemunhas e o outro aos gritos de “Você partiu-me o espelho!”.
Resultado: o meu amigo mergulhou na clandestinidade e até hoje não se convence que não vem alguém bater-lhe para ter mais cuidado no próximo atropelamento!

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Ignorância

Mais um inquérito mostrou os Portugueses como sendo os mais ignorantes da Europa. Já me palpitava, mas não tinha a certeza. Basta assistir a alguns programas de Televisão, ouvir as respostas nos concursos de cultura geral, folhear alguns desses compêndios ao quilo que as crianças trazem nas mochilas, ouvir algum tempo de rádio, mandar vir umas “pizzas” e abrir umas colas para os colegas dos filhos e fica-se tolhido por essa atroz suspeita.
Depois, basta sentarmo-nos a conversar com um moldavo, ucraniano, ou letão e ficamos com essa suspeita consolidada e ainda assaltados duma certeza maior: é que hoje, ter conhecimento, saber-se, não vale rigorosamente nada e serve para pouco. Ou seja, estes desgraçados que vêm viver mal em Portugal, explorados e mal tratados para não viverem indignamente nos seus martirizados países, aprenderam no comunismo aquilo que o capitalismo selvagem despreza. Claro que isto é um engano. Dêem tempo ao tempo e logo verão o que sucede numa Europa alargada. Onde vão os outros parar e onde ficamos nós. Até lá, distraiam-se com os brasileiros. Talvez possamos aprender alguma coisa, das boas maneiras à Literatura.

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Entes Queridos

Fui ao velório e funeral do familiar dum amigo meu. Descobri que há boas razões para a velha frase de humor negro “não me ria tanto desde a morte do meu pai”.
Os Portugueses estão a ficar divertidos nas ocasiões fúnebres, talvez porque esta seja uma das raras oportunidades para dizerem bem de alguém, por pouco tempo, tendo sempre à vista o desgosto no qual se podem refugiar, a qualquer momento.
Os assaltos são excelente desculpa para não haver velórios longos. Às nove e meia está tudo na rua a caminho dum bar ou de casa. O velório foi reduzido para algo entre as sete e as dez, mas com este bom tempo e os dias compridos, às oito já estamos despachados, “ obrigado, não se incomode mais, por amor de Deus, obrigado por ter vindo”.
Se não antecipamos a chegada ao cemitério, já lá não fomos para nada, pois é uma febre de enterra, enterra, que vem já outro a seguir. Aliás, nas sacristias e nas chegadas aos cemitérios tem de se ter muita atenção, pois pode muito bem acompanhar-se o funeral errado, se só conhecermos o falecido ou lá estivermos por amizade a um único familiar discreto daquele ente querido.Macacos me mordam se este não é um grande momento em Portugal para dois nichos de mercado: o das limusinas, champanhe, guardas-costas, tudo de aluguer – as pessoas adoram - e o da revista social, só funerais, papel “couché”, mas tudo a preto e branco. A “Caras” do adeus...Há freguesia para tudo. E neste ramo, há todos os dias...

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Impagável (continuação)

(Imagem obtida numa pesquisa em «Grande melão» depois de, hoje, eu ter pago o meu imposto...)

No passado dia 14, referiu-se aqui a notícia do «DN» segundo a qual o director-geral dos Impostos havia sido alvo de uma execução fiscal movida pelas Finanças relativa a uma dívida de Contribuição Autárquica.

Hoje, o mesmo jornal informa-nos (*) que centenas de câmaras estão a perder dezenas de milhões de euros com o mesmo imposto, porque o Fisco ainda não conseguiu emitir certidões de dívidas a milhares de contribuintes em todo o país que não pagaram a primeira prestação do IMI referente a 2003!

Estaremos a ser confrontados com mais uma das inúmeras anedotas informáticas em que as nossas Finanças são tão pródigas, ou está apenas a ser passada à prática a velha recomendação «Ou há moralidade...»?
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(*) http://dn.sapo.pt/2005/04/26/suplemento_negocios/dividas_imi_2004_estao_cobrar.html

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Publicado no «DN» de 27 Abril 05

Lê-se no Expresso-online de hoje:

Na entrevista que esteve na base da condenação (de Fátima Felgueiras), a autarca refere-se a Horácio Costa com as expressões «terrorista», «patifaria»,«tipo sem escrúpulos», «sem coragem» e «gente sem credibilidade».

O jurista (da defesa) sustenta que (...) «tais expressões fazem parte do léxico consagrado e aceite na disputa política».


E o pior é que este cavalheiro até tem razão...

50 anos depois...

Lembro-me como se fosse hoje:

No início dos anos 50, quando entrei para o Liceu Camões, era voz-corrente que se podia pedir dispensa das aulas de Religião e Moral - pelo que a minha mãe redigiu uma carta nesse sentido.

No entanto, quando a levei à Secretaria, incorri na ira de um fascista de serviço que desatou aos gritos comigo e se recusou a aceitá-la; e foi assim que acabei por ter de aturar padres durante uns bons anitos...

Mas, no fundo, estou agradecido a esse pobre-diabo/pobre-de-espírito, pois foi uma das pessoas que contribuíram - e muito! - para a minha formação anti-fascista.

E já me tinha esquecido desse pesadelo quando agora constato, perplexo, que a Igreja Católica timorense reage da mesma forma - e com tal força que chega a exigir a demissão do Governo legítimo.

Claro que «cada um sabe de si», «cada caso é um caso» e «cada terra com seu uso», mas não deixa de ser preocupante (pelo menos para mim) a ideia de haver, em pleno século XXI, estudantes de uma jovem nação livre sujeitos aos ditames religiosos de indivíduos como esses.

25.4.05

Um terramoto divertido


Imagine-se a cena:

«Em que ano aconteceu o terramoto de 1755?» - pergunta o apresentador de um concurso televisivo.

Confrontado com a questão, o concorrente torce-se todo, olha para o ar em busca de inspiração, espreme a memória e arrisca, com voz sumida:

«1755...?»

«CERTÍSSIMO!!!!» - proclama o outro, enquanto ribomba a música, a assistência rompe em aplausos delirantes e o concorrente dá cambalhotas no palco, feliz com o seu desempenho.

Pois é exactamente isso o que ultimamente me fazem lembrar os adeptos e jogadores dos clubes "maiores" quando, depois de grande desespero face a equipas modestíssimas (e até, por vezes, com menos jogadores em campo), lá conseguem ganhar (ou até só empatar...) à custa de um golito suado, tirado a ferros e já em cima da hora - ou em tempo de descontos.

O facto de, com frequência, pequenos clubes reduzirem à insignificância - quando não mesmo ao ridículo - outros que se dizem «grandes» (muitas vezes apenas «grandes» em dívidas, prima-donas malcriadas e dirigentes analfo-tontos), não deixa de ser um «terramoto», embora benigno e com «o seu quê» de divertido...

Um livro interessante

Nascido em 35 d.C., e tendo sido pretor, cônsul, governador e militar, o autor deste livro sabe do que fala e, nesta obra, narra-nos centenas de episódios interessantes - e muitas vezes divertidos.

Aqui ficam três:

* Aníbal não conseguia convencer os elefantes a atravessar um determinado curso de água. Mandou então que um dos seus homens, bom nadador, ferisse um dos animais e em seguida, fugisse, atravessando o ribeiro a nado.
O elefante, furioso, perseguiu-o... e os outros todos imitaram-no.

* Segundo uma outra saborosa história, um grupo de homens, dentro de água, fugia de uma galera que os perseguia.
Chegados a uma zona de baixios, acocoraram-se, ficando apenas com a cabeça de fora.
Os do navio, julgando que ali a água era suficientemente profunda, aproximaram-se para os matar. Evidentemente, encalharam e, depois de os "agachados" se porem de pé... foram derrotados.

* Certo dia, Péricles viu-se encurralado num local onde apenas dispunha de duas saídas.
Mandou então abrir uma vala numa delas (supostamente, para não ser atacado por aí), e preparar a outra convenientemente para (segundo deu a entender) poder passar.
Quando o inimigo o foi esperar nesse segundo local, escapou atravessando a vala, usando pontes de madeira que, entretanto, fizera às escondidas.

22.4.05

O ridículo não paga imposto?

(Clicar na imagem)

No seguimento do louvável esforço que a Administração Pública está a desenvolver no combate à fraude e evasão fiscais, actualmente estimadas em 20.000 MILHÕES de Euros (*), a Sra. D. Lina de Jesus Costa, porteira do meu prédio (pessoa idosa e reformada por invalidez) acaba de receber este documento ministerial, intimando-a a, no prazo de 10 dias, deslocar-se ao Centro de Saúde da sua área de residência para pagar um euro e cinquenta cêntimos de Taxa Moderadora de uma consulta de há 5 anos.

Num assomo de sagacidade, prevendo a hipótese (por acaso certa) de a Sra. D. Lina estar isenta do referido pagamento, os Serviços informam-na de que deverá, se for esse o caso, ir munida do correspondente documento comprovativo quando se deslocar ao referido estaminé.
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(*) Valor referido por Santana Lopes e confirmado por Duarte Lima no passado dia 22, no «DN»

«Acontece...» - «Vem, Bento, e fulmina-os !»

*Crónica de Carlos Pinto Coelho*

Ainda no rescaldo da nomeação do novo Papa, D. José Policarpo foi submisso e sábio. Disse acreditar que este é o papa indicado por Deus e que, por isso, devem cessar todas as reservas à sua escolha. Depois, atento à perplexidade de uma parte do povo cristão, acrescentou que Bento XVI poderá surpreender pela diferença em relação àquele cardeal Ratzinger que durante mais de vinte anos governou com mão de ferro a Congregação da Doutrina da Fé.

O velho Glóvis enfureceu-se com a segunda parte da mensagem do Patriarca de Lisboa. A admissão velada de uma possível alteração de pensamento e acção por parte do Panzerkardinal, como Ratzinger é conhecido em Roma, indignou profundamente o meu amigo. Que logo me telefonou, intimando-me a ouvi-lo com atenção.

E disse Glóvis:

É chegada a hora da purificação sem tibiezas. Da imposição da verdade às contemporizações espúrias. Da definitiva clarificação. Este é o tempo de sanear o rebanho e conduzi-lo com firmeza para pastos limpos de ervas daninhas.

Não se lê em Mateus (5, 13) “ Vós sois o sal da terra; e, se o sal for insípido, com que se há-de salgar?” E em que se traduz isto, nos nossos desvairados dias?

- Em que se traduz isto, Glóvis? Perguntei.

E disse Glóvis:

O fim dos relativismos, a robustez de uma identidade forte, inequívoca. Com Bento ao leme, católico é aquele que se distingue, em cada gesto e momento. Podem todos os outros arrastar inutilmente os seus fins de semana pelas cavernas consumistas dos centros comerciais, crivar-se de contas de telemóveis, encher os seus olhos com as infâmias dos jornais de escândalo, apodrecer diante de televisões imbecilizantes, fruir com júbilo infantil a escravidão do futebol, abandonar os seus filhos adolescentes nos abismos da internet, apaziguar a menoridade das suas vidas no álcool e em multas de estrada. Um católico não. Ele é o sal visível da terra pagã deste século.

Ofegante, Glóvis faz pausa. Em silêncio, acho-o terrivelmente trivial. Mas ele adivinha-me o pensamento.

E disse Glóvis:

Sei bem que, ainda incrédulos, rejubilávamos com a chegada deste magnífico Benito XVI à cabeça do nosso tresmalhado rebanho, e já o inqualificável jornal berlinense Tageszeitung titulava, com satânico escárneo: “Oh! Meu Deus! – Ratzinger é Papa!” Imundo mas expressivo sinal dos perigos que, quais lobos famintos, roçam agora a cadeira de Pedro. Abjecções inomináveis como o divórcio ou, pior, a Sagrada Comunhão nas bocas de mulheres e homens divorciados. Heresias como o uso de contraceptivos a coberto da sida, a fecundação artificial e os homossexuais, certos avanços da biogenética, farpas que a inteligência dos humanos tenta cravar na liberdade que o Criador lhe outorgou. E que dizer da insanidade demencial com que alguns falam de mulheres exercendo o sacerdócio? E de sacerdotes rompendo o celibato? E de reformas no processo de eleição dos Papas? E dessa loucura a que chamam “teologia da libertação”? Senhor! Que tonturas, que demoníacos intentos pairam por aí, inclusivamente – horror! – no nosso próprio redil? Vem, Bento, fulmina-os!

E mais não disse Glóvis.

Antes que eu respondesse fosse o que fosse, desliga-me o telefone. Um hábito antigo.

Suspendo-me a imaginar que se cumprem os vibrantes desígnios de Glóvis. A ira purificadora saída com o fumo branco deste Conclave, reduz o actual grande rebanho católico planetário a um mero punhado de eleitos. Que se encaminham, em santa e justa alegria, para a companhia de Bento XVI.

Do lado oposto, a multidão de excomungados avança, pausadamente, para a companhia de Jesus.
-
(«A CAPITAL» 22 Abril 2005)

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21.4.05

É de mestre(a)!

Confrontado com as primeiras propostas governamentais acerca do «Choque Tecnológico», Belmiro de Azevedo comentou que o Estado devia começar por aplicá-lo na Função Pública.
De facto, e tendo em conta o descalabro (que, inúmeras vezes, se confunde com o ridículo) da informática na Justiça, nas Finanças, na Educaçãona Segurança Social, etc., poderá pensar-se que tem toda a razão.

Mas veja-se como, afinal, pode haver honrosas excepções:

Quando um dia me pediram para escrever alguns textos, fiquei muito honrado, mas o convite apanhou-me numa altura em que estava pouco ou nada inspirado. E, depois, quando me veio a inspiração, estava tanto calor que não me apetecia estar em casa.

E foi assim que peguei no portátil, procurei um banco numa boa sombra de um jardim simpático e, tentando abstrair-me do chilreio dos passarinhos, comecei a trabalhar.

Ora, a certa altura, apercebi-me de que uma velhinha, tão pequenina quanto curiosa, se sentava ao meu lado e espreitava, procurando bisbilhotar o que eu estava a escrever. O facto de o monitor ser de matriz activa permitia que ela, mesmo de um ângulo desfavorável, pudesse ver tudo à vontade.

Não quis ser malcriado, não comentei nem resmunguei, e fiz os possíveis por me concentrar na escrita. Mas não consegui, e o certo é que, devido ao nervoso miudinho que eu não conseguia controlar, começaram a aparecer mais erros do que o habitual. Felizmente, o corrector ortográfico, sempre atento, ia corrigindo tudo, pelo que a grafia errada apenas se mantinha visível no monitor durante uma fracção de segundo.

Mas, mesmo assim, o diabo da velhinha era terrivelmente perspicaz, e comecei a ver que, a breve trecho, ela produzia surdas interjeições de desagrado quando eu me enganava!

Era apenas um «Tsh...! Tsh...!», mas sumamente irritante!

A certa altura, não aguentando mais, decidi-me a fechar o computador e sair dali, não escondendo o meu enfado.

E foi nessa altura, quando me resolvi a deitar-lhe um olhar desagradável, que se deu o incrível:
Descobri que a senhora era, nem mais nem menos, do que a D. Judite, a minha antiga professora de escola primária, e que me reconhecera!

- Seu maroto... - comentou ela, sorrindo - Estás muito crescido!

Vieram-me as lágrimas aos olhos e fiquei sem palavras!

- Tenho estado a ver-te a escrever... Sabes? Merecias 20!

«Coitada...» - pensei eu - «Mal sabes tu que era o corrector automático do computador a trabalhar!»
Mas uma surpresa maior veio logo a seguir:

- Seu maroto... Julgas então que eu não conheço o Word e essa função do auto-correct?

Fiquei banzado. E, ainda eu não tinha fechado a boca, quando ela concluiu, enquanto me dava dois beijinhos de despedida:

- Merecias 20... reguadas!

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Publicado no «Diário Digital» em 28 Abril 05

20.4.05

SEM PALAVRAS

As partidas do «politicamente correcto»

Dois anúncios no «JN» de ontem, talvez para equilibrar um outro, saído há tempos no «DN»:

PRECISA-SE DE RAPAZ (m/f) COM MOTO

19.4.05

Um mistério a preto-e-branco

Hoje, às 16h 50m, desatou, mais uma vez, a sair fumo da chaminé do Vaticano, o que nada teria de especial se não se tivesse dado o caso de ninguém saber ao certo qual a respectiva cor: branco ou preto?!

Mesmo dando de barato que «preto» não é cor (mas sim a sua ausência) e que «branco» também não se pode dizer que seja, a situação - que durou um tempo insuportável - foi caricata.

Estaria a chaminé já fuliginosa, de tanto uso, dando origem a uma coisa entre o «Branco-sujo» e o «Preto-clarinho»?

O certo é que, como as associações-de-ideias são uma coisa terrível e imparável, isso me fez lembrar um indivíduo que eu em tempos conheci - pessoa pequenina e muito racista que, morando num bairro com bastantes africanos, passava a vida a falar de «eles, os pretos» e de «nós, os brancos».

Ora aconteceu que, como a vida dá muitas voltas, um dia ele foi trabalhar para um país do Norte da Europa, onde o «preto»... passou a ser ele!

- Que diabo! - perguntava o infeliz aos amigos quando, em Agosto, vinha de férias até cá - Vocês acham que eu sou preto ou sou branco?!

Coitado... Acho que nunca lhe disseram que apanhou a alcunha de «O Cinzentinho»...

Grão-a-grão...

«Se vai telefonar, leve um clip»

Bem, na realidade também serve um gancho-de-cabelo ou um araminho...


Eu explico. O que se passa é o seguinte:

Muitas cabinas telefónicas (nomeadamente as de ranhura vertical) estão "armadilhadas" de tal forma que a moeda, uma vez metida, não vai para baixo; fica como que a gozar connosco, irritante, ali mesmo à vista, pois também não se consegue tirar com os dedos.

Logo que a pessoa se afasta, sem ter conseguido telefonar, aproxima-se, «como quem não quer a coisa», um "cidadão"... que faz a sua colheitazinha pelintra.

A solução é sermos nós próprios a recuperar a moeda - fazendo como se vê na imagem, o que é fácil.

Como se depreeende, aprendi tudo isto à minha custa, nos últimos dias, em várias cabinas de Lisboa...

Obrigado, Umberto!

Quando eu era miúdo, e como sucedia com todos os outros, adorava ler livros-aos-quadradinhos.

Tratava-se, porém, de um tipo de "literatura maldita", e nunca mais esqueci o dia em que o reitor do meu liceu (o Camões) andou de sala em sala, interrompendo as aulas todas, só para inquirir, no tom raivoso que reservava para os que haviam feito grandes patifarias, quem é que tinha livros desses - que confiscou em seguida!

No entanto, parece que o problema era apenas quantitativo, porque estávamos autorizados a ler «livros com bonecos» desde que «a proporção ilustrações / texto» não excedesse um determinado valor (que, no entanto, ninguém nos dizia qual era!), o que tornava "aceitáveis" livros como os d' «Os Cinco» - para já não falar nos de Júlio Verne (com as famosas gravuras de Benett), no «D. Quixote» (com as de Gustave Doré) ou nos livrinhos que nos davam nas aulas de Religião e Moral...

É por isso que me sinto vingado com o saboroso livro de Umberto Eco recentemente posto à venda:

Não só a banda-desenhada aparece como tema importante do romance, como as páginas do livro estão pejadas dela e de muitas outras ilustrações que fariam o desespero dos educadores de outrora...

18.4.05

O Código-da-Treta - 2

Desconfiando que o "novo" Código-da-Estrada não iria ser mais do que um Código-da-Treta, resolvi tirar duas fotografias à minha porta:

Uma, na véspera da entrada em vigor do diploma; outra, no dia seguinte.

A ideia era afixar ambas aqui; mas acabei por não o fazer - e muito bem:

Pois que jeito tinha meter neste post DUAS fotografias exactamente iguais?!!

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O novo Código-da-Treta prevê sanções TERRÍVEIS para quem puser o carro numa passadeira de peões e outras (não menos terríveis) para quem o deixar em cima do passeio.

Pois estas alminhas fazem o pleno, perante a passividade dos fiscais da EMEL, da Polícia Municipal e da PSP, tudo gente que passa pachorrentamente pelo local e nada faz - a não ser, quando muito, desviar-se...

O «Braço-de-ferro»...

(Clicar)

Depois de uma curiosidade chinesa, aqui fica uma outra - japonesa:

Um aviso numa janela do Metro de Tóquio, informando que o banco é para:

Pessoas com braço partido (?), ou com crianças de colo, ou grávidas ou com perna partida (?)...

(Env. por F. Campos)

Adivinha do dia 15 - A SOLUÇÃO

(Clicar)

A imagem afixada no passado dia 15 foi retirada de um ficheiro "pps" (contendo 12 fotografias incríveis de prédios na China), e rodada 90º - é a que aqui se mostra à esquerda; a da direita é do mesmo lote.

Para receber o ficheiro (1,22 Mega) envie um e-mail em branco para medinaribeiro@iol.pt colocando apenas, em "Assunto", a palavra "casas".

Pois, mas a música é outra...

No passado dia 14, num frente-a-frente com Helena Roseta na SIC-N, Ângelo Correia comentou a derrapagem dos custos de construção da Casa da Música recorrendo à expressão «É natural...».

Ora, se tem razão numa coisa, talvez não tenha noutra:

Tem razão, é claro, quando diz que em Portugal essas coisas «são naturais» - aliás seguidas das caricatas «auditorias arrasadoras» que nada mais fazem do que confirmar a «naturalidade».

Mas, se teve razão no «conteúdo» da expressão, já não a teve no «tom» que utilizou, desvalorizando o facto para além do admissível, como costumam fazer os que recorrem ao velho argumento de que «hoje já ninguém fala do custo das pirâmides do Egipto» - esse, sim, um argumento de «argúcia piramidal»!

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Publicado também no «DN» de 16 Abr 05 e no «Diário Digital» de 20 Abr 05

17.4.05

A fraude do «LAÇO LIBANÊS» (que raio de nome!)

Do lado esquerdo, vê-se uma ATM normal. Do lado direito, a mesma, mas com um pequeno «acessório»...

Sempre que vir uma maquineta com este aspecto não a utilize e alerte as autoridades, pois o que acontece é evidente: a pessoa insere o cartão, marca o código, mas o cartão fica preso.

Depois, chega um «artista», tira o acessório, e fica com acesso ao código, podendo para isso fazer levantamentos até que o dono anule o cartão.

(Enviado por CPC)

NOTA: Às vezes, estes avisos são apenas «mitos urbanos», ou daqueles irritantes e-mails do tipo AVISE TODA A GENTE!!

Por isso, antes de o afixar aqui, fiz uma pesquisa - e parece que é verdade. Ver, por exemplo, a notícia:

www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=154726&idselect=10&idCanal=10&p=94


16.4.05

A morte de George Johnson

Clicar na imagem e ler o texto...

Ver também www.ok-corral.com

(Foto tirada por P. Ribeiro, em Tombstone, Arizona, a cidade onde se deu o famoso tiroteio de OK Corral).

15.4.05

Adivinha

Quem sabe o que representa esta imagem?

(A resposta está dada em "post" de 18 Abril)).

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A partir de imagens enviadas por Beatriz Mendonça

«Acontece...» - «A falar é que a gente se entende?»

(Crónica de Carlos Pinto Coelho)

Jorge Sampaio decidiu aliciar os franceses para a língua portuguesa, e José Sócrates quer que as crianças portuguesas saibam inglês. Duas boas ideias, jogadas em simultâneo. Falta cuidar do resto.

A iniciativa do Presidente foi concebida com apuro. Apoia-se na campanha "Eu Falo Português", que tem uma convincente página na Internet, padrinhos com o prestígio de Mísia e Figo, e vem em tempo oportuno. Há 24 mil estudantes de português em França, mas nunca houve tantas nuvens cinzentas a pairar por ali, quanto ao futuro imediato da nossa língua.

A própria rádio estatal France Inter anunciou recentemente a suspensão das suas emissões em português. Sei que o antigo embaixador em Paris, António Monteiro, estava activamente preocupado com a situação e esperava resolver atávicos problemas com o quadro de professores portugueses em França. Mas António Monteiro já não é ministro. Chega agora o peso presidencial. Veremos se a sua ajuda ao "sim" de Chirac no próximo referendo será o bastante para mudar o feio rumo das coisas. Mas o que se fez, foi bem feito.

Um relatório recente do British Council, citado pela revista Newsweek, prevê que, em 2015, haverá no mundo três mil milhões de pessoas falando inglês. É a velha utopia do esperanto transposta para a era da globalização, mas agora agarrada pela evidência dos factos. Só na China, onde o o ensino do inglês passou do secundário para o terceiro ano do básico, há mais crianças estudando o inglês do que todas as crianças de nacionalidade britânica. Faz todo o sentido que Portugal também queira ter as suas novíssimas gerações preparadas para o mundo que será o delas.

E não vejo que a entrada do inglês nos curricula do básico possa beliscar a urgência de um ensino mais eficaz do português. Não só são compagináveis como podem ser mutuamente estimulantes. No já referido relatório do British Council fala-se na criação de uma nova identidade dos cidadãos não anglo-saxónicos do futuro – a identidade bilingue – construída pela língua materna e pela língua inglesa desde os mais tenros bancos da escola. É enriquecedor mas é sobretudo inevitável para o entendimento entre os povos, que já hoje estão condenados a comunicar entre si ou desaparecer.

Agora: que língua portuguesa é esta que Jorge Sampaio quer ver espalhada em França, que língua portuguesa é esta que vai coabitar com o inglês nas cabeças das nossas crianças? Isso é o que cumpre cuidar.

Língua viva, língua de nação de imigração, não se espera que o português falado ou escrito apodreça nas tábuas do caixão da ortodoxia. Dificilmente um ucraniano ou moçambicano utilizará termos do português erudito nas suas conversas de autocarro, e é bem provável que o lisboeta comum já diga que está, brasileiramente, "numa boa". Tal como o inglês, afinal, que não é usado no Bangladesh como em Cambridge, no Dallas como em Londres. Língua de uso retoca-se com o uso. Nenhum bancário do Dubai ou da Colômbia pronuncia a palavra "thing" como o seu colega da City londrina... e apesar disso entendem-se todos os dias.

Outra coisa é, no entanto, dar como adquirido que a palavra "período" se pronuncia como "miúdo", que a publicidade na rádio possa vender "a casa que sonhou" ou que o noticiário da televisão pública fale em evacuar pessoas por causa de uma qualquer catástrofe. Nestes casos está-se no triste império da pura asneira, não no saudável território dos neologismos. Quando um professor ensina que o nome da letra G é "guê" em vez do "jê" de GNR, ou quando um veterano jornalista de televisão pede ao seu convidado que faça "a leitura semiótica" de um acontecimento, está-se em delírio, não em inovação. Não se confundam as coisas. Mas eu quero estar com aquela luminosa convicção de Agustina Bessa-Luís, expressa nas páginas da revista Actual do Expresso: «A língua controla tudo, não se deixa impressionar pelas redes dos satélites nem pelos códigos da Internet. É possível que o vocábulo "e-mail" venha a ser apagado, e outros. O génio do idioma (...) adapta-se mas não obedece.»

Regras. O que faz falta, com carácter de urgência, são regras. Práticas, mesmo que precárias, mesmo que para uso privado, mas regras. Num telejornal de uma estação portuguesa ouvi o mesmo nome pronunciado, sucessivamente, de três maneiras diferentes: pelo "pivot", por um jornalista em directo no exterior e por outro jornalista que fizera uma reportagem que apareceu pelo meio. Em cinco minutos, três versões e só uma correcta. O que traduz uma imensa displicência editorial pela correcção formal da mensagem (mas então eles não se falam antes de o telejornal começar?) ou, pior, incúria atávica em relação aos livros de estilo. Na RTP, por exemplo, há décadas que anda prometido, por sucessivos directores de informação, um verdadeiro livro de estilo, concordante com as responsabilidades de serviço público da casa. Tudo o que se conseguiu até hoje foi uma pequena brochura para uso corrente, mais preocupada com a normalização de protocolos jornalísticos do que com o uso da língua. Enquanto perdurar tamanha incapacidade, bom seria que ao menos mandassem comprar umas dezenas de exemplares do mais recente livro de estilo do Público e lhes dessem atenção.

É que, a manterem-os índices actuais de insucesso e abandono escolares, o português falado em Portugal será cada vez mais pobre, errático e moldado pelos media audiovisuais. Cada vez mais os grandes mestres da língua serão os textos jornalísticos, publicitários e telenovelescos, cada vez mais se falará na rua como se ouviu na rádio e na televisão. À falência da escola sucedeu-se o magistério das antenas, que por sua vez andam em barafunda auto-gestionária no que toca ao português.

Bem pregam Sampaio e Sócrates. Mas com que farinha se fará o pão que querem distribuir?
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«A CAPITAL» de 15 Abril 05

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14.4.05

Uma estranha família

(Clicar na imagem)

Por volta de 1980, li um saboroso livro que actualmente é quase impossível de encontrar. Trata-se de «Para Ler o Pato Donald» que, ao contrário do que se possa pensar, é uma obra séria acerca das personagens de Walt Disney.

E põe questões curiosas.

Por exemplo:

Como é que o Pato Donald (tal como o Mickey, por sinal) tem sobrinhos, se não tem irmãos nem irmãs nem é casado?

Porque é que não há uma única mãe? No entanto, há uma avó (aliás única): a avó Donalda. Quanto a pais, não estamos muito melhor - o único é o Lobo Mau.

Ninguém tem emprego fixo: além dos Irmãos Metralha (que têm a ocupação que a gente sabe...), ninguém trabalha, a não ser em biscatos que vão aparecendo.

O Tio Patinhas, além de ter todo aquele dinheiro, ainda se considera dono do mundo: não têm conta as aventuras em que ele vai a terras distantes defrontar selvagens e apoderar-se das respectivas riquezas - que ele acha que lhe pertencem por direito divino.

A violência-gratuita é recorrente: a cena do vendedor que é corrido a pontapé é das mais frequentes, não faltando disputas de trânsito resolvidas a murro e inúmeras outras cenas de elevado teor educativo para livros infantis.

E, por aí fora...

O livro (copiosamente ilustrado com imagens retiradas das publicações) refere uma série de coisas em que normalmente não pensamos.

Mas houve quem fosse mais longe:
Um brincalhão, com jeito para o desenho, resolveu criar... a árvore genealógica do pato mais famoso do mundo!

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Uma pesquisa em «Donald Duck family tree» dá resultados interessantes. Um deles é : http://stp.ling.uu.se/~starback/dcml/chars/

Impagável!

É notícia de primeira página do «DN» de hoje que Paulo de Macedo, o director-geral dos Impostos, foi alvo de uma execução fiscal movida pelas Finanças de Benavente, relativo a uma dívida de Contribuição Autárquica referente a 2001.

Ele confirma a dívida, admitindo que o pagamento só foi feito em Dezembro de 2004, cerca de meio ano depois de ter assumido as actuais funções:

«Confirmo que paguei atrasado uma das duas prestações de Contribuição Autárquica de uma casa».

E acrescentou: «Paguei quando fui lembrado para isso».

Ora, como muitas outras pessoas responsáveis também têm alegado «falta de lembradura» quando está em causa o pagamento dos seus impostos, achei que ficava melhor aqui, em vez da fotografia do referido senhor, uma imagem de D. João I, «o de boa memória».

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Publicada no «DN» de 15 Abr 05 uma versão mais curta com o título «Falta de memória!»

13.4.05

Língua traiçoeira - 9

(Aviso divulgado hoje pela «Panda Software»)

Será por causa da grande acumulação de "eminências" para a eleição do novo papa que há tanta gente a colocar a língua portuguesa em risco "eminente"?

Este "blogue" não pretende ser um repositório de anedotas, pois isso é coisa que só tem graça (e quando tem...) se vier a propósito. No entanto, há excepções, e julgo que esta é uma delas.

É a história de uma bela jovem que se preparava para se suicidar (atirando-se da Ponte 25 de Abril) quando passou um marinheiro de moto.

Parou, agarrou-a à força e, já longe dali, limpou-lhe as abundantes lágrimas e conversou carinhosamente com ela.

Contou-lhe, entre outras coisas, que estava de abalada para o Brasil e que, se ela quisesse, a levaria consigo, escondida no porão do navio; depois de ver terra tão bonita, talvez ela mudasse de ideias quanto ao sentido da Vida.

A moça aceitou; e foi assim que, durante um mês, o prestável marinheiro a visitou todas as noites, levando-lhe de comer e de beber, gentileza que a jovem retribuía da forma que nós imaginamos...

Um belo dia, o comandante descobriu-a.

Embaraçada, ela contou a sua história e perguntou, de olhos no chão, se ainda faltava muito para chegarem ao Brasil.

«Palpita-me que vai demorar,» - respondeu o outro - «pois, por enquanto, só me pagam para fazer as viagens de ida-e-volta de Lisboa para o Barreiro».

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(A partir de uma história enviada por P. d' Ajuda)

12.4.05

Incompetência "desastrosa"

Por alturas do tsunami de 26 de Dezembro, uma das frases que mais se ouviu foi «E se tivesse sido cá?».

Como não podia deixar de ser, apareceram logo responsáveis e irresponsáveis de todo o tipo a descansar-nos; depois, nunca mais se falou disso, e todos sabemos o que acontecerá se um dia...

No que toca a «nunca mais se falar disso», o desastre de Entre-os-Rios também tem lições a dar-nos:

À mistura com deliberações contraditórias de tribunais (que nos levam a pensar que em vez de 2 meses de férias por ano alguns até deviam ter 12), decidiu-se - e muito bem - ver se havia mais pontes em perigo.

Claro que isso implicou que algumas pessoas tivessem de levantar os seus olímpicos rabos das respectivas cadeiras (onde estavam encaixados e porventura grudados), mas valeu a pena, pois descobriu-se que, de facto, havia pontes em risco - e não eram poucas.

O tempo passou e agora, de vez em quando, lá vêm umas notícias dando conta do (pouco?) que já se fez e do (muito?) que não se fez, aparecendo sempre a falta de dinheiro no meio das patacoadas desculpabilizantes.

Ora, para abordar esse problema com um espírito construtivo, aqui fica uma ideia singela que só a actual seca impede que seja de imediato posta em prática:

(Clicar para ampliar)

11.4.05

O samba do chato

No Editorial «Eles vão andar por aí», o «PÚBLICO» refere (além do impagável hino do menino-guerreiro enjorcado por um brasileiro com grande sentido-de-humor) algumas canções, também brasileiras, em que a ameaça «Eu vou andar por aí» - sinistra, quando pronunciada por personagens como Santana Lopes e Alberto João Jardim - aparece explicitada.

Já agora, podia também ter referido o velho «Samba-do-Chato» - de que Carmona Rodrigues, certamente, se tem lembrado muitas vezes:

Eu estou em todas, eu estou em todas
Seja qual for o lugar
No teu enterro, nas tuas bodas
Nem qui sejá só prá chateá

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(Publicado no «Diário Digital» e no «PÚBLICO» em 12 Abr 05)

Sondagens - 2

(Clicar na imagem)

10.4.05

Sondagens - 1

(Clicar na imagem para a ampliar)

A sondagem da esquerda (feita pela Eurosondagem) foi feita no período 30 de Março a 5 de Abril 05; a da direita mostra os resultados no «Diário Digital» em 2 de Abril, no seguimento de uma votação online que se prolongou por várias semanas.

Por estas e por outras é que os políticos, quando as previsões não lhes são favoráveis, dizem a velha frase:

«Ora... Elas valem o que valem...»

No post seguinte pode ver-se uma outra forma de fazer sondagens.

EXPRESSO - Inspirada paginação!

Há dias, a notícia de uma cena de tiros que abalou o país apareceu, na 1ª página do EXPRESSO, junto de uma outra que garantia que Jerónimo Martins também disparava (ver post de 31 de Março).

Hoje, na 1ª página do suplemento de Economia, aparecem estas duas notícias lado-a-lado.

Parabéns a tão inspirado paginador!

8.4.05

Marcelo na RTP - Chamemos-lhe equívocos

Agora já não restam dúvidas: o modelo que a RTP ofereceu a Marcelo Rebelo de Sousa para as suas crónicas dominicais, não serve.

Sou, desde sempre, fidelíssimo beneficiário das charlas do Professor, mesmo quando acontece que delas discordo ou acho menos fulgurantes. Todos temos as nossas marcas distintivas e os nossos dias piores. Mas este Marcelo Rebelo de Sousa, agora na madureza aprazível que só a idade confere, oferece-me labor de preparação nos assuntos que trata, perspicácia servida com elegância, a clareza e a simplicidade da gente culta e um poder de comunicação que tem tanto de dom como de “métier”. Devo-lhe muitas horas de autêntico prazer e proveito. Estou-lhe grato por isso.

Eis por que, regressado de umas férias bem longe, não falhei o comentário de domingo passado na RTP, também na esperança de ver corrigidos alguns infaustos erros da estreia. Desiludi-me.

O modelo que a RTP concebeu para acolher o prof. Marcelo Rebelo de Sousa tem equívocos, tanto mais gravosos quanto já passou tempo suficiente para a sua emenda.

Começando pelo que está bem: a clara separação entre os comentários e o telejornal, que termina formalmente antes das “Escolhas”, o que não sucedia na TVI. Aplaudo também (com as reservas de que falarei) a definição de uma duração para os comentários, não os deixando alongar-se para além do razoável, como algumas vezes sucedeu na TVI (onde aconteceram mesmo “autorizações” de prolongamento, anunciadas sorridentemente pelos apresentadores). E muito bem o “décor”, moderno e austero, em tudo contrastante com a gritaria de feira que rodeia o telejornal, com o seu balãozinho faiscante pairando no estúdio.

E os equívocos? Desde logo, o formato de entrevista para o que não é uma entrevista. Por maiores que sejam hoje a permissividade e a confusão de géneros no vale-tudo de algumas televisões, uma notícia é uma notícia, uma crónica é uma crónica, uma entrevista é uma entrevista. Cada qual com as suas regras definidas. A entrevista pressupõe, entre outras características, um jornalista que coloca perguntas a um entrevistado, que as desconhece previamente e lhes responde. Não é o que se passa aqui, como já não se passava antes, na TVI. O prof. Marcelo Rebelo de Sousa está ali para falar do que quer, do que decidiu escolher, gerindo o tempo que ele próprio atribui a cada assunto. Ele é o dono do jogo. Preparou um discurso bem articulado, que não tolera interrupções sob pena de se confundir e perder. E é isso mesmo o que o espectador quer receber e espera receber. Ou seja, exactamente o oposto do que se passa numa entrevista, onde o jornalista é quem selecciona e hierarquiza as questões, ditando-lhes o ritmo, atalhando, contrapondo, aproveitando marés inesperadas, mudando rumos ou deixando navegar. Insisto, a entrevista vive da tensão do inesperado e do encanto da surpresa, que é sempre mútua, nunca nenhum dos interlocutores podendo prever o que virá do outro, por palavras, gestos ou silêncios, e aí reside a força e a verdade da entrevista.

Sabe-se que, nas “Escolhas”, os temas são previamente anunciados por Rebelo de Sousa à produção do programa, desde logo para a preparação das imagens que ilustram cada tema no pálido e escusado monitor encravado ao fundo da mesa. A própria Ana Sousa Dias disse, numa entrevista, que recebia do Professor informação atempada para poder preparar a conversa (que acaba por não existir…).

Mas se não é uma entrevista – e não é - então o que faz ali uma das boas jornalistas entrevistadoras que temos na televisão? No seu “Por Outro Lado”, Ana Sousa Dias fez a ruptura com uma tradição de agressividade e protagonismo do entrevistador perante o entrevistado, trabalhando a tranquilidade e o envolvimento, apagando-se sem nunca perder o comando das situações, manuseando os tempos em proveito das ideias do seu convidado. Que mau vento inspirou quem a seduziu para as “Escolhas” e a deixou ser seduzida para caminho tão excêntrico ao seu? No domingo passado foi confrangedor vê-la balbuciar meias frases, prontamente interrompidas por Rebelo de Sousa, tentar introduzir perguntas num discurso cujo vigor o não consentia, tornar-se presente a todo o custo, justificar-se por estar ali. Ana Sousa Dias não merece esse papel decorativo a que a RTP a remeteu e ela própria consentiu. Não é justo nem bom para ela.

Mas também não é bom para Marcelo Nuno Rebelo de Sousa. Homem de berço e sociedade, faz por disfarçar o incómodo que lhe causam as frustradas tentativas de intervenção da senhora que tem na frente. Não quer perder (e não perde) o fio à sua meada, mas fá-lo à custa de uma contrita renúncia aos seus princípios de boa educação e cavalheirismo. (Ó minha senhora, deixe-me seguir, não me interrompa!) E cá fora nota-se bem. Estava mais à vontade na TVI, onde os apresentadores, simpáticos e bons rapazes, cumpriam o papel de “vira folhas” das pautas dos solistas em concerto, sem ninguém se incomodar por isso. Com Ana Sousa Dias é diferente.

Enfim, a saudável mas nada lusitana rigidez de duração imposta às “Escolhas”. A presença de Marcelo tem tempo fixo ao minuto, nem um a mais. É bom porque a televisão castiga os que nela se extasiam e não sabem que o auditório português sai do canal de 3 em 3 minutos quando a mensagem enfada (nos Estados Unidos a fasquia é de minuto e meio e em França é de dois minutos e meio). Só que esta imposição, na e pela RTP, é simplesmente caricata. Ali onde os programas, tradicionalmente, não entram à hora certa porque os noticiários e os demais programas de informação podem durar o que durarem, esticados ao bel-prazer dos soberanos editores, ali não se poderia impor a um convidado de honra que se submetesse a ditames que mais ninguém pratica na informação. Não pode Marcelo Rebelo de Sousa subverter a “grelha” com a robustez de uma dissertação contagiante e inteligente, mas podem os editores dos telejornais aboborar a antena com intermináveis depoimentos de treinadores e futebolistas, de vítimas de acidentes na estrada e outras inutilidades semelhantes.

Disciplinado, Rebelo de Sousa faz por cumprir o seu tempo. Deram uma pista de cem metros a um campeão de maratona e ele aceitou-a, o que é mais um equívoco deste modelo. O resultado é um discorrer ofegante, crispado, contra-relógio, sem o luxo das pausas e silêncios eloquentes com que Marcelo tantas vezes enriquecia as suas melhores prestações na TVI. Ele sabe que pode fazer muito, e muito bem feito. Agora, das duas, uma: ou o maratonista encurta as pernas, submete a corrida à exiguidade do trilho e emagrece o repertório dos temas para os tratar com desafogo, ou insiste em carregar a Betesga para o Rossio e continuaremos, nós todos, a chegar ao final de cada programa tão exaustos como o Professor.

Uma nota final, ao jeito das suas:
Ao tratar a sucessão papal, Marcelo socorreu-se da sua cultura canónica, do seu conhecimento da História do Vaticano e da sensibilidade própria de um homem político que também é um católico convicto e declarado. Mas preferiu ser contido. Estou em crer que só por isso não contemplou a hipótese de um papa norte-americano. Exactamente: Um homem que venha assegurar a ordem do novo império no coração de poder mundial que é a Santa Sé, como já acontece no coração de poder militar que é a OTAN e no coração de poder financeiro que é o Banco Mundial. Uma reparação pelo incauto alinhamento de João Paulo II com o “Eixo do Mal” quando condenou a invasão do Iraque. (“Either you are with us, or you are against us”, sentenciara o imperador.) Uma vitória contra todas as evidências e todas as lógicas da velha Europa e da Ásia nascente. Ou ainda, para acolher a convicção dos crentes como Marcelo Rebelo de Sousa, a prova divina de que o Espírito Santo, pairando sobre o Conclave… está finalmente com George W. Bush!

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Crónica para «A CAPITAL» de 08 Abril 2005

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7.4.05

Governos & Vassouras... Limitados

Todos estamos recordados do que se seguiu ao acidente na Refinaria de Leça, pouco depois de o último governo ter entrado em funções:

Assistimos, nessa altura ainda estupefactos, aos desencontros de Nobre Guedes, Santana Lopes e Álvaro Barreto, numa sucessão de afirmações contraditórias relativamente ao futuro das instalações - afinal, o paradigma do que viria a ser a actividade governativa.

Mas o certo é que o ministro do Ambiente conseguiu fazer passar a mensagem de que ia «combater os interesses»; e «Doa-a-quem-doer», claro, como é de norma proclamar-se em semelhantes gloriosos momentos. Por mim, pensei no velho ditado «Vassourinha nova varre bem a casa» e fiquei a ver o que ia sair dali.

Mais tarde, veio a rábula das casas da Arrábida. Que eu saiba, quer essas, quer os milhares que envergonham o país, ainda estão de boa saúde, e Nobre Guedes acabou por ficar para a pequena-História essencialmente por ter assinado a autorização de abate de uns milhares de sobreiros (para viabilizar um emprendimento urbanístico) e por ter presenteado Coimbra com cartazes com um erro de ortografia.

Agora, é José Sócrates que ameaça «combater os interesses instalados», anunciando uma série de medidas de fácil aceitação popular e que já puseram aos pinotes os que vêem (ou julgam ver...) os seus privilégios ameaçados.

E foi no seguimento de tudo o que atrás se refere que resolvi ilustrar o tal aforismo da «vassourinha nova» com a imagem que em cima se vê.

É que a realidade pode ser muito diferente do anunciado quando as coisas começam a aquecer...

6.4.05

«Produtividade nas Artes» ou «Os "artistas" da produtividade»

(Schubert a descansar, em vez de estar a acabar a sinfonia...)

O Presidente de uma grande empresa recebeu uns convites para um concerto em que seria apresentada a sinfonia Inacabada de Schubert (*).

Como já tinha compromisso para aquela noite, deu-os a um de seus assessores, um especialista em produtividade. Na manhã após o concerto, o Presidente encontrou o seguinte memorando sobre a sua mesa:

«Prezado Senhor, muito obrigado pelas entradas. No geral, tivemos uma noite muito agradável. Mas sobre a sinfonia existem algumas coisas que poderiam ser melhoradas:

Por um longo período de tempo os quatro tocadores de oboé não tinham nada que fazer. O número deles deve ser imediatamente reduzido e o seu trabalho distribuído entre o resto da orquestra, eliminando, deste modo, picos de actividade e excesso de pessoal.

Todos os doze violinos tocavam notas idênticas. Isto parece-me uma duplicação desnecessária e deve haver um corte drástico no número de elementos neste sector. Se um volume alto de som é realmente necessário, isto poderia ser obtido através de um amplificador eléctrico.

Muito esforço e atenção eram necessários na execução das semicolcheias. Isto me parece um refinamento excessivo, se analisado do ponto de vista custo/benefício. Recomendo que todas as notas sejam arredondadas para a mais próxima colcheia.

Se isto for feito, sugiro que o departamento de Selecção contrate estagiários ou operadores de nível mais baixo, que certamente terão salários inferiores aos actuais músicos. Não vejo nenhum propósito útil em repetir com instrumentos de sopro as passagens que já tenham sido tocadas pelas cordas. Trata-se claramente de uma duplicidade de funções.

Se todas estas passagens redundantes forem eliminadas o concerto poderia ser encurtado em, pelo menos, vinte minutos.

Na condição de especialista que sou, lembraria que o momento actual das empresas requer uma concentração de esforços em actividades de racionalização, eficiência, competitividade, principalmente se considerada a globalização da economia.

Voltando ainda ao concerto, se Schubert tivesse prestado atenção a estas questões por mim levantadas, indiscutivelmente teria sido capaz de terminar esta sinfonia».

(Texto de Humbert Malhaman, enviado por CPC)

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(*) Ver um interessante texto sobre esta obra (a Sinfonia nº 8, em si menor, "Inacabada" ou "Incompleta") em: www.malhanga.com/musica/Schubert.html

Ontem, um jornal referia que alguém tinha assaltado um estabelecimento com uma retroescavadora, e o que mais espantava o jornalista era o facto de a máquina ter conseguido passar pela porta, o que havia sucedido «mesmo, mesmo à justa».

No caso desta imagem (que não tem nada a ver com a notícia!), o que admira é como o operador conseguiu entrar... para a máquina! Mesmo, mesmo à justa... ou empurrado?

(Env. B. Ferreira)

5.4.05

Vantagens do Inglês (no) básico...


4.4.05

Continuem, que vão bem!

Recentemente, conheci uma arquitecta e um professor de Físico-Química que, por junto, ignoravam (sem o esconderem nem se envergonharem) coisas como a área do trapézio, do círculo e do triângulo; o perímetro da circunferência; a tabuada (especialmente dos 7, dos 8 e dos 9...); as provas-dos-9 (todas); as provas-reais (todas); as divisões; as raízes-quadradas... - e por aí fora, numa orgia de ignorância que, evidentemente, alastrava à Geografia, à História de Portugal, à Gramática, etc. etc.

Por isso, ao ouvir, hoje, uma senhora da FENPROF e um senhor de uma Associação de Pais a manifestarem-se contra os exames de Português e de Matemática no 9º ano, só pensei: «Pois...».

Aliás, já há dias, num concurso televisivo, uma senhora com formação (?) científica não sabia quantos graus tinha (e dizem que ainda tem) um ângulo recto - mesmo sendo-lhe dadas as hipóteses 0º, 90º e 180º. E também pensei: «Pois...»

Mas às vezes essas coisas até têm explicação.

Por exemplo:

Recentemente, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa contava, escandalizado, que tinha conhecido um jovem que não sabia quanto era «metade de 8».

Mas não teve em conta que o rapaz, se calhar, estava apenas indeciso, pois, além do 4 (um resultado que qualquer aluno obtém facilmente recorrendo a uma máquina de calcular), existem outras duas respostas certas: a crer num outro desses professores de nova geração, o 8 dividido "ao alto" dá 3, e "atravessado" dá 0.

****

CORRECÇÃO:

Menos de 12h depois do que acima se escreveu, lia-se no «DN»:

Os exames do 9.º ano podem acabar já em 2006. A realização das provas de Português e Matemática no actual ano lectivo não está em causa, mas o Ministério da Educação analisa também formas de minimizar o seu impacto, nomeadamente reduzindo o peso específico da nota - actualmente 25% - na classificação final dos estudantes, segundo apurou o DN.

Vamos, então, encetar o caminho de regresso à normalidade? Continuem, que vão bem...

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(Publicado no «Diário Digital» de 4 Abr 05 e no PÚBLICO de 6 Abr)

Vende-se carro com zero quilómetros

Este carro, já de si, tem pouco uso.
Além disso, quando faz marcha-atrás, o conta-quilómetros "desconta"...

Três títulos possíveis

(Clicar para ampliar)

«Olha para o que eu digo...», «Exemplares» ou «A nossa selecção»

2.4.05

Um inventor azarado

Steve Jackson, famoso inventor de jogos e passatempos, teve o azar de, em 1995, criar um jogo-de-cartas em que apareciam estas duas, representando um ataque a duas torres-gémeas e um outro ao Pentágono.

Será de admirar que, depois do 11 de Setembro, tenha sido intimado pelas autoridades a dar umas explicações?!!

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www.sjgames.com/ e www.sjgames.com/ourgames/card.html

Notícia saltitante

Há tempos, quando o escândalo de Gantánamo estalou, um dos nossos correspondentes televisivos esclareceu-nos:

«Aí, na Europa, a opinião pública considera que as pessoas são inocentes até serem condenadas. Aqui, nos EUA, quando alguém é preso todos o consideram, desde logo, culpado» - princípio esse que já levara George W. Bush a sentenciar que os referidos detidos eram todos «Bad guys».

Cá em Portugal, o «Correio da Manhã» (com til...) resolve esse problema de uma forma manhosa, como se pode ver n
esta notícia de hoje:

Criminoso 1: ASSASSINO DE IRENEU DETIDO SEM REACÇÃO (Título)

Suspeito 1: O suspeito da autoria material do homicídio do agente da PSP Ireneu Diniz (...), foi detido...

Criminoso 2: Minutos depois de, a 17 de Fevereiro, ter participado na emboscada fatal (...), Luís Carlos Santos foi lesto em desembaraçar-se da arma do crime.

Suspeito 2: A pistola-metralhadora ‘Uzi’, a arma que ‘Rasta’ alegadamente disparou contra o jipe ‘Land-Rover’ onde seguiam Ireneu e o colega Nuno Saramago, depressa terá sido escondida...

Etc., etc.

www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=155238&idselect=10&idCanal=10&p=94

1.4.05

Um inglês, morando há pouco tempo em Portugal e dominando mal a nossa língua, faz a sua lista de compras (que escreve ao seu modo). Depois, já no supermercado e com o cestinho na mão, lá vai ele em busca de...

...Pay she, Mac car on, My on as, All face, Car need boy (may kilo), Spa get, Her villas, Key jow (parm zoon), Cow view floor, P. men to, Better hab, Lee moon, Bear in gel a, Tree go...

No final, bate na testa:

«Food Ace ! Is key see me do too much. Put a keep are you!»

(Na imagem, vê-se o nosso homem a escolher um «Who is key»)

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(Env. por JESCA)