31.12.14

Saudades da Vitória

Por Maria Filomena Mónica
TENHO DE ME LEVANTAR, a fim de, nos dias difíceis que atravesso, arranjar a árvore de Natal, mas vou adiando a tarefa. A Vitória, de seu nome completo Maria Vitória Lopes Nunes, teria resolvido o problema. Era ela quem mais gostava desta quadra. Chegara a casa dos meus pais em 1953, através de um padre, que mencionara à minha mãe uma família, cujo chefe morrera tuberculoso, tendo deixado a mulher e os filhos em situação precária. Recrutou-a logo. O estatuto da Vitória era ambíguo: comia à mesa connosco, dormia no quarto da minha irmã mais nova, então um bébé, e mandava nas «criadas de servir».
Foi-nos dito, a mim e à minha irmã Isabel, ser uma mademoiselle, equiparável às francesas que os nossos amigos tinham em casa, e que, como tal, deveria ser tratada. Não andava fardada e tratava-nos pelo nome próprio. Tão pouco cozinhava: competia-lhe tão só «destinar» os almoços e os jantares, fazendo, quando lhe apetecia, alguns doces. No Natal, esmerava-se no que considerávamos a sua obra-prima, um bolo de castanha coberto a chocolate preto. Mais tarde, foi-lhe atribuída uma função peculiar, a de vigiar o meu comportamento no que dizia respeito a namorados. Não sendo parva, a minha mãe reparara não ser eu feita da mesma massa da irmã que me seguia. Na Isabel, tinha a certeza de poder confiar; comigo, o caso era diferente. Nessa época, os meus conflitos com a Vitória estiveram sempre relacionados com o meu comportamento «imoral» – estar de mão dada com namorados – coisa que, mal chegasse a casa, tinha obrigação de relatar à patroa. Nessa altura, detestava-a.
Quando a minha irmã mais nova se casou, a minha mãe «ofereceu-lhe» a Vitória. A coisa chocou-me, mas percebi que ficara radiante: agora, era ela quem mandava. Foi o melhor período da sua vida, até porque, a certa altura, passou a existir uma criança que educou o melhor que podia e sabia. Tinha as suas preferências, entre as quais os meus filhos, mas estava sempre à mão para aquilo de que a família carecesse. Todos dependíamos dela, não só para os grandes, mas para os pequenos favores: tirar nódoas difíceis, fazer um bolo, cozer uma bainha. Passei então a conversar muito com ela. Quando, após a sua morte em Dezembro de 2002, o sacerdote perguntou, na capelinha do Convento de Jesus, quem eram os familiares da «falecida», além de uma irmã, uma cunhada e uma prima, foram os «seus» meninos a levantar-se.
Eram outros tempos: bons para famílias como a minha, mas opressores para os humildes. A disponibilidade da Vitória teve um custo elevado: a anulação da sua vida pessoal. Chegou a ter um capitão como namorado, coisa de que, na nossa maldade inconsciente, eu e a Isabel fizemos troça: gostar de magalas era coisa de criadas. Desde o dia em que transpôs a porta da nossa casa, quase deixou de frequentar os parentes. A minha família considerava-a pouco inteligente, o que se não coadunava com as funções que, a certa altura, passou a desempenhar (secretária do meu pai), nem com o sentido de humor que possuía. Foi pouco o que por ela fizemos.
«Expresso» de 20 Dez 14

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29.12.14

O Governo, a TAP e o País

Por C. Barroco Esperança
A obsessão ideológica deste Governo, com notário privativo e devoto na pessoa do PR, jamais visou o interesse público. A privatização da EDP e dos CTT mostraram como os interesses do País e dos trabalhadores foram exonerados dos planos de alienação.

Podia referir-se a Galp, a ANA e outras empresas públicas que, por inépcia ou maldade, nos arrastam num infindável 11 de março de 1975, de sinal contrário e piores desígnios, onde não houve um módico de patriotismo ou ponderação de interesses estratégicos.

A pressa da alienação da TAP precipitou os sindicatos numa greve justa cuja data pode ter sido infeliz e beneficiado um Governo cuja exibição de força acabou por jogar a seu favor, mas a defesa do interesse nacional foi notória na maioria dos sindicatos.

O Governo odeia a CRP e quaisquer direitos aí consagrados, julgando que a eleição lhe permite desmantelar o Estado nos quatro anos em que, um dia saber-se-á porquê, o PSD conseguiu manter reféns o PR e o CDS.

A venda da TAP, sobretudo com a displicência e pressa com que o Governo pretende, representa para o turismo nacional, uma das poucas atividades que resistem, um golpe de consequências imprevisíveis. Não sei se esta é a vingança contra o País por quem não digere a independência dos que consideravam seus.

Nesta tragédia há um sindicato que merece profunda execração, sindicato que, aliás, foi responsável, no passado, pela deterioração financeira na TAP com exigências obscenas de vencimentos e regalias, chegando ao dislate da reclamação, não satisfeita, de isenção de impostos, para os pilotos.

Juntamente com administrações incapazes, os pilotos, beneficiando dos conhecimentos adquiridos na TAP e com um mercado de trabalho generoso à escala planetária, nunca pautaram as reivindicações pelos interesses e sustentabilidade da Empresa.

Desta vez, o Sindicato dos Pilotos começou por anunciar uma greve contra a intenção da privatização da TAP,  para depois desaprovar as negociações dos outros sindicatos com o Governo e, finalmente, opor-se à requisição civil do Governo se, na privatização a que deixam de opor-se, parte das ações da TAP lhes sejam oferecidas gratuitamente.

Eis uma eloquente diferença entre trabalhadores e mercenários.

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28.12.14

Luz - Terreiro do Paço, Lisboa

Fotografias de António Barreto- APPh
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Depois de anos e anos de abandono e desordem,
o Terreiro do Paço foi finalmente limpo, reorganizado e pavimentado. Retiraram-se os carros, quase todos, da maior parte da praça. Ficou uma rua para todo o tráfego e uma nesga infame, ao lado do torreão poente, para uma dúzia de automóveis dos senhores ministros e dos senhores secretários de Estado. À volta de toda a praça (seguramente uma das mais belas do mundo), apareceram restaurantes e cafés, uns discretos, outros com publicidade e ruído infectos. Enfim, paciência. O pavimento da praça ficou certamente claro de mais, a luz reflectida quase fere os olhos. Aliás, pode ver-se: quando chegam à praça, a primeira coisa que fazem as pessoas desprevenidas é pôr óculos escuros. Se os têm. A praça quase se prolonga agora até ao Cais do Sodré. Nesse percurso, há hoje relva, princípios de árvores, escadarias até ao rio, bancos e degraus… O Cais das Colunas foi reaberto e está acessível, menos quando há obras, o que parece ainda hoje, Outubro de 2014, acontecer quase todos os dias. No Terreiro do Paço e áreas adjacentes, vêem-se agora milhares de turistas, parte de um fenómeno realmente novo e que toca directamente a Lisboa e Porto. Por várias razões (Mediterrâneo em guerra, crise económica, custo de vida, voos “low cost”, beleza das cidades, interesse pelas cidades antigas, clima e mesa, etc.), aquelas duas cidades são hoje, desde há uma década, centros de atracção de turistas como nunca se tinha visto antes. Estes autocarros vermelhos fazem parte dos relativamente novos equipamentos de turismo. (2014)

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O Calcário rosado do Algarve (*)


Por A. M. Galopim de Carvalho

QUANDO, nos anos 70 do século que passou percorri todo o Algarve em trabalhos de apoio à cartografia geológica, na qualidade de elemento de uma equipa do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, liderada pelo Prof. Carlos Romariz, recordo a existência de um calcário cor-de-rosa, como o que se pode ver e pisar nas calçadas da Avenida dos Descobrimentos e de várias ruas de Lagos. Passaram muitos anos e as minhas preocupações geológicas seguiram outros e bem diferentes caminhos. Guardo, no entanto, a ideia de que se trata de um calcário da base do Jurássico, sobreposto a um complexo vulcano-sedimentar que, por seu turno, assenta sobre os conhecidos “grés de Silves”[1], a pedra vermelha do Triásico de que é feito o belo castelo medieval desta cidade.
Segundo Carlos Costa Almeida, meu distinto ex-aluno e ex-colega, o referido calcário cor-de-rosa pertence à unidade estratigráfica formada por calcários dolomíticos[2] e dolomitos cálcicos[3] que designou por “Calcários e dolomitos de Picavessa”, rochas que o ilustre geólogo suíço, radicado em Portugal, Paul Choffat, em 1887, atribuiu ao andar Sinemuriano (Liásico inferior, com 195 a 200 milhões de anos). Importante no Barrocal algarvio, esta unidade coroa os principais relevos desta região com destaque para a Serra da Picavessa, o Espargal, a Rocha de Messines e a Rocha Amarela.

A cor rosada destes calcários e dolomitos, bem com a dos “grés de Silves”, deve-se à presença de partículas microscópicas de óxido de ferro (hematite) disseminadas nestas rochas, sendo, creio eu, uma herança da rubefacção pelo óxido de ferro que, nesse tempo, caracterizou a imensa área continental onde o nosso território se inseriu.

[1] - Arenito quártzico de cimento argilo-ferruginoso (hematite).
[2] - Rocha sedimentar carbonatada, em que predomina a calcite (carbonato de cálcio) sobre a dolomite (carbonato de cálcio e de magnésio).
[3]- Rocha sedimentar carbonatada, em que predomina a dolomite sobre a calcite.
______________
(*) Este texto foi propositadamente escrito para a página Cidadania de Lagos

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27.12.14

É o Natal - em Portugal


Por Antunes Ferreira

SEMPRE PENSEI que este país se transformara numa anedota negra que nunca se poderia agravar. Porém, agravou-se. Substancialmente. Ainda que no final do episódio a GNR tenha feito marcha-atrás (a ocorrência decorreu numa auto-estrada…) na decisão inicial, ou Portugal é um hospital psiquiátrico, vulgo manicómio – e parece que é – ou como diziam Camilo de Oliveira e Ivone Silva num programa dos anos oitenta na televisão, “está tudo grosso, está tudo grosso”. E como ainda estamos em território de Boas Festas em que não se deve trabalhar, recorro à transcrição de diversos meios da comunicação social. E além disso sempre fui muito preguiçoso…

“Um ambulância, afecta ao INEM, transportava pela A8 uma doente com 80 anos, assinalando que seguia em marcha de emergência. Mas o estado de saúde da idosa agravou-se e os bombeiros tiveram de parar, na berma, para proceder às manobras de reanimação. Porém a senhora veio a falecer.

Os bombeiros de Óbidos, alegando que não podem transportar cadáveres em ambulâncias, tiveram de parar na A8 devido ao falecimento da doente que levavam numa viatura do INEM. Chamaram a GNR, como dita o protocolo (…)

A GNR multou os Bombeiros de Óbidos por terem parado uma ambulância, em marcha de socorro, na berma da Autoestrada 8 (A8). A notícia foi avançada pelo Correio da Manhã e confirmada posteriormente pela TSF e pela SIC, que registaram declarações do comandante dos bombeiros.

O que mais desagradou aos ‘soldados da paz’ nem foi o valor da multa (120 euros, paga no imediato pelo condutor), mas o facto de terem sido os próprios bombeiros a chamar as autoridades ao local” Entretanto (…)  médico do INEM a atestou o óbito no local. Foi então que os bombeiros alertaram as autoridades, alegando que não podem, por lei, transportar cadáveres.

Quando uma patrulha do destacamento de trânsito da GNR de Torres Vedras chegou, instruiu o condutor para movimentar a ambulância, lembrando que é proibido parar na berma de uma auto-estrada. Os bombeiros contrapuseram que não podiam prosseguir a marcha com um cadáver a bordo, o que levou os militares a passar o auto de contra ordenação, multando o condutor em 120 euros.

“Quando me acordaram, cerca das 4h00 da manhã, pensei que era um pesadelo e ainda agora me custa a acreditar que isto tenha acontecido”, desabafou o comandante dos Bombeiros de Óbidos, Carlos Silva, em declarações ao Público. O oficial garantiu que entrou em contacto com os responsáveis do INEM para garantir “que o bombeiro que conduzia a ambulância não seja prejudicado por fazer serviço voluntário e por cumprir a lei”.

Devido à contra ordenação, o condutor está em risco de perder a carta de condução. Carlos Silva frisou ainda que, numa altura em que os bombeiros aguardavam pela chegada das autoridades, uma viatura da concessionária da autoestrada passou pelo local e permaneceu para dar apoio, tendo reforçado a sinalização.

Da parte da GNR, o gabinete de relações públicas do Comando Geral sustentou, em declarações à TSF, que a patrulha apenas cumpriu a lei, tendo procurado salvaguardar a segurança pública ao instruir a ambulância do INEM para prosseguir a marcha até ao ramal mais próximo, onde poderia encostar na berma.
De acordo com o major Marco Cruz, o facto do incidente ter ocorrido de madrugada não atenua os riscos nem “molda” a legislação. A GNR actuou como entidade fiscalizadora e se os Bombeiros de Óbidos quiserem reclamar, segundo o major, devem recorrer à entidade administrativa: a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Mas, eis que se dá uma volta de 360º. Para que se tente compreender este imbróglio – se é que ele é entendível – recorro de novo à comunicação social. Talvez porque quinta-feira foi o dia de Natal, a reviravolta da Guarda Republicana bem podia ser considerada um presente próprio da época… Mas não é caso para brincadeiras, muito menos de ofertas. “A multa aplicada aos bombeiros de Óbidos por terem parado uma ambulância na Autoestrada 8 (A8, que liga Lisboa a Leiria) para socorrer uma doente, que acabou por morrer, vai ser retirada, divulgou a GNR. O expediente vai ser arquivado, por se ter verificado não existir infracção”, esclarece a Guarda num comunicado sobre a situação que envolveu uma patrulha de trânsito e uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Óbidos.
O caso deu origem a exposições da corporação para os ministérios da Saúde e da Administração Interna e para o Serviço Nacional de Protecção Civil, «solicitando que o valor da multa [pago na hora pelo motorista da ambulância] fosse devolvido e para que a infracção fosse retirada da carta do bombeiro», explicou Carlos Silva.
A corporação ainda não recebeu resposta às exposições, mas a GNR recuou na posição inicial depois de “terem sido realizadas averiguações internas e ponderada toda a informação disponível sobre as circunstâncias que levaram ao levantamento de um auto de contra-ordenação”, refere o comunicado que conclui não ter sido praticada qualquer infracção, pelo que o caso será arquivado.”
Correu por aí um dito jocoso próprio de outra época que não esta, mais precisamente o Entrudo. “É Carnaval, ninguém leva a mal” Mas agora é a das Festas natalícias. E agora então, numa apropriação imprópria, deixo um outro slogan: “É o Natal – em Portugal”

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26.12.14

O Défice Moral de José Sócrates


Por Maria Filomena Mónica

NASCI NUM PAÍS pobre, pequeno e situado na periferia europeia. Quanto aos últimos factores, nada há a fazer. Já quanto ao primeiro, a situação é diferente, uma vez que pelo menos num aspecto - a desigualdade social - os políticos têm armas para a combater. Não lhes peço que consigam que o PIB nacional seja igual ao da Dinamarca: o que lhes exijo, especialmente aos que se reclamam da esquerda, é que contribuam para diminuir o fosso que, em Portugal, subsiste entre ricos e pobres. Claro que nunca esperei que o problema tirasse o sono a Sócrates: mal o vi na televisão, percebi ser ele o tipo de governante para quem a prioridade era jantar na Brasserie Lippe em Paris.
Sócrates não era rico nem competente. Antes de enveredar pela política, a sua única experiência profissional foi a de técnico da Câmara Municipal da Covilhã, onde, na década de 1980, o pai lhe arranjou um emprego. Quem desejar saber mais sobre a mítica fortuna deixada pelo «avô do volfrâmio», leia a reportagem de José Antonio Cerejo em Público (4.12. 2014). Entre as serras, o ressentimento social do jovem foi em crescendo. Com esperteza, pensou, talvez alcançasse o que cobiçava. Numa entrevista, concedida a um jornal da Covilhã, foi claro sobre o que pensava das elites: «Há uma grande segregação que tem a ver com a origem e com a província. Não há a mesma igualdade de oportunidades. Isto quer dizer que as pessoas do interior, para se afirmarem na corte lisboeta, têm de ser muito mais talentosas do que as pessoas de Lisboa». Infelizmente, não tinha a inteligência de Rastignac.
Sempre pensou que escaparia à justiça, mas a sua vida tem demasiadas zonas cinzentas para que tal pudesse acontecer. Após uma licenciatura estranha, terá assinado, na Guarda, projectos arquitectónicos que não eram da sua autoria; sem que alguém percebesse a necessidade, consta que alterou os limites de uma zona natural protegida; a forma como fez a adjudicação da central de tratamentos de lixo da Cova da Beira levantou dúvidas; em 2005, criou o Regime Extraordinário de Regularização Tributaria (RETC), uma espécie de amnistia fiscal que o libertou de eventuais responsabilidades criminais. O seu nome foi sendo referido em processos, de que se destacam os casos Freeport, a Face Oculta e o Monte Branco. Em 2011, depois de ter deixado o poder, instalou-se, em Paris, num apartamento de luxo, hoje à venda por 4 milhões de euros.
A 21 de Novembro, era detido no aeroporto de Lisboa, após o que foi indiciado por sete crimes graves, tendo o juiz do Tribunal de Instrução Criminal ordenado a sua prisão preventiva. Recorrendo a um recente acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, o Correio da Manhã (4.12.2014) revela que, antes das buscas, os seus computadores pessoais foram «limpos». Vai passar muito tempo antes que os portugueses possam ter conhecimento da sentença final. Uma coisa é certa: um Primeiro-Ministro que deixa o país na miséria não se pode instalar, sob o pretexto de estudar Filosofia, num dos bairros mais caros de Paris. José Sócrates sofre de um défice moral.
«Expresso» de 6 Dez 14

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25.12.14

Natal

Por C. Barroco Esperança
Em meados do século XX o Natal era oportunidade para reunir as famílias. Os ausentes voltavam todos os anos à aldeia de origem, nas carruagens de 3.ª classe de comboios apinhados de pessoas e cabazes, com odores a que se resignavam as pituitárias de então.
Através do vidro partido, ou da janela avariada, o ar gélido entrava nas carruagens e nos corpos. Os passageiros partilhavam a vida e as merendas nas penosas e longas viagens de pára-arranca. Os Senhores Passageiros precisavam de embarcar, ou de desembarcar, e a máquina a vapor, de abastecer de carvão a fornalha e de água a caldeira. (...)
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21.12.14

Luz - Cabine telefónica com estranhos ocupantes, Genebra, Suíça

Fotografias de António Barreto- APPh
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*
Que poderá dizer-se ou pensar-se desta imagem? O lenço vermelho no exterior e o cão dentro da cabine deixam lugar a hipóteses atrevidas e interpretações selvagens. O senhor não está sequer a falar, como se pode ver pelo auscultador pendurado no seu descanso. Que fará ele? Lê a lista telefónica? Olha para coisas suas? (Ca. 1970)

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EROSÃO E SEDIMENTAÇÃO GLACIÁRIAS (1)

Por A. M. Galopim de Carvalho

ANTES DE MAIS, um reparo no uso que se faz da língua portuguesa. É frequente, em alguns textos de ensino, o termo glaciar ser usado na qualidade de adjectivo (por exemplo: modelado glaciar, erosão glaciar), o que não é correcto. Glaciar é um vocábulo comum à geografia e à geologia, usado para designar uma entidade, sendo portanto, um substantivo e é a este substantivo que corresponde o qualificativo glaciário. Assim, o correcto é dizer ou escrever modelado glaciário ou erosão glaciária. Incorrecto é também o uso, neste discurso, do qualificativo glacial. Este outro adjectivo alude, sim, a gelo no sentido real ou figurado (por exemplo: temperatura glacial, olhar glacial). (...)
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20.12.14

O país dos quatro Fs

Por Antunes Ferreira
EM QUADRA festiva não vou falar do caso BES, de Sócrates, dos submarinos arquivados, da renovação da dívida, nem dessa pequenas coisas que, na verdade, não passam de peanuts. Hoje, antes que me esqueça, tenho obrigatoriamente de desejar a todos os que (ainda) me lêem um Feliz (???) Natal e um Ano Novo muito próspero (???) Recordam-se, certamente, que era a fórmula usada pelos carteiros, guardas-nocturnos, lavadores de rua e outros, na esperança de que os felizes contemplados lhes retribuíssem com umas c’roas.
Eram escritos em cartões de visita, mais propriamente cartolinas, com um canto dobrado, assim â maneira dos outros e continham a calina afirmação “o carteiro da zona `desejam a Vossa Excelência um Feliz Natal e um Ano Novo próspero”. Onde se lê arteiro leiam-se os mais que emparceiravam com o sujeito que entregava de porta em porta cartas, bilhetes postais, avisos de encomendas chegadas à estação, nos tempos em que os CTT não tinham sido  privatizados.
Mas essas figuras típicas de Lisboa saíram do prazo de validade e as cartolinas seguiram-lhes as pegadas. Era ainda a quadra em que se ia comprar o peru ou a fêmea ali junto ao jardim zoológico onde uns senhores munidos das respectivas os traziam em bandos. Balanças não havia o bicho era sopesado à mão, ó freguês o animal é bom e saudável e ao preço que está é mais uma oferta do que uma compra. Discutir-se o preço? Poucas vezes, em Natal ninguém levava a mal, o que também se dizia pelo carnaval.
Em casa embebeda-se o prestes a ser sacrificado, enquanto se iam fritando os coscorões, as filhoses e os sonhos de abóbora. E o desgraçado que já não se tinha nas patas aguardava pacientemente a guilhotina, que, afinal era um facalhão bem afiado. Claro que o assassínio (que em casa não era um genocídio, mas contando as inúmeras casas em que o sacrifício ocorria bem o podia ser). E era depenado e etc.   
O presépio já tinha sido armado, com os três reis magos, os pastores com as suas ovelhas, mais figuras alusivas, alguns tinham pequenas igrejas e ribeiras de espelho com as correspondentes pontinhas e no cimo da choupana a estrela anunciava ecce homo. Contava o meu padrinho e tio Armando que era um iconoclasta assumido: “quando o Baltazar, o Gaspar e o Melchior chegaram ao presépio e viram o menino ladeado por uma vaca e um burro, comentaram:”e é isto a companhia de Jesus?” Os jesuítas até hoje não muito à bola com o dito.
Vejam lá como chegámos à bola. Que é o hoje o leitmotiv desta crónica: o Benfica foi eliminado da Taça de Portugal pelo Braga e no estádio da Luz, o que para quase todos os comentadores e analistas futebolísticos que enxameiam as televisões “foi um facto histórico”… Assim sendo ou não, o acontecimento motivou parangonas nos jornais desportivos, nas televisões, nas rádios e até na Internet, e os quotidianos (que cada vez mais são como os perus…) deram-lhe citações graúdas nas suas primeiras páginas!
Na outra senhora dizia-se que Portugal era o país dos três Fs: Fátima, Futebol e Fado; e continua a ser nos dias de hoje, mesmo depois do 25 de Abril (supostamente conhecido). Fátima continua a registar milhares de peregrinos e até inspira o sôr Silva, com a dona Maria a servir de intermediária. O Fado já é considerado Património Imaterial da Humanidade, o que diz tudo. Por isso o Carlos do Carmo chegou às alturas com apenas um senão: em Belém, o sôr Silva (já citado) vira-lhes as costas porque não gosta dele: é muito à esquerda…
Finalmente, temos o Futebol, onde o Melhor do Mundo é português e chama-se Cristiano Ronaldo, ao invés dos longos tempos salazarentos era o falecido Eusébio e o José Mourinho é muito melhor do que o Otto Glória. A equipa nacional já não joga com bola quadrada e vai fazendo  uns brilharetes nos intervalos das asneiras, ainda que estas sejam cada vez menores.
Porém o “facto histórico” aconteceu na quinta-feira passado tendo por local do crime a “Catedral da Luz”. Com Jesus a lamentar a ausência do Sílvio, do Luisão e outros. Os encarnados (que assim ficaram denominados porque na era do Salazar não podiam ser chamados vermelhos por causa dos comunistas) carpiram mágoas tsunâmica: “Estamos lixados - ou vocábulo similar -, já perdemos a Europa, agora a Taça de Portugal. Que mais nos poderá acontecer, ainda que estejamos em primeiros na Liga e com seis pontos de vantagem sobre os dragões? 
E porque estive relembrando os tempos da ditadura, não liguei peva aos “acontecimentos irrelevantes” que enunciei logo no início do escrito, vem-me agora mesmo à boca a afirmação que então corria: “quem não é benfiquista não é bom chefe de família”. Pois é, o país dos três Fs que agora são quatro porque há que lhes acrescentar… e Fo…rnicados.

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19.12.14

Homenagem

Por A. M. Galopim de Carvalho
O Agrupamento de Escolas 4, de Évora, e a Autarquia local entenderam homenagear-me, designando-me patrono de uma Escola Básica da cidade. Porque sei que esta notícia vos será agradável, é com toda a simplicidade e amizade que a transcrevo.
Ver [aqui]
Com os votos de feliz Natal 
Grande abraço

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18.12.14

O islamismo, a laicidade e a democracia

Por C. Barroco Esperança
Sendo ateu, é natural que considere falsas todas as religiões e que, segundo os diversos momentos históricos, avalie o grau de nocividade e perigosidade de cada uma. Hoje, a mais nociva e perigosa é, na minha opinião, a islâmica.
‘Segundo um estudo efetuado pela cadeia televisiva BBC e do King’s College London, divulgado esta sexta-feira, 12 de dezembro, e citado pela revista Fátima Missionária, só em novembro os radicais islâmicos mataram mais de 5.000 mil pessoas e, segundo os investigadores, verificaram-se 664 ataques, em 14 países, que provocaram uma média diária de 168 vítimas mortais, ou seja, sete por hora’. (...)
Texto integral [aqui]

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15.12.14

Coelho no País das Maravilhas

«“Alice no País das Maravilhas” da autoria de Charles Lutwidge Dodgson foi publicada  em 4 de Julho de 1865.O seu pseudónimo de Lewis Carroll ficou para a História. É uma das obras mais célebres do género literário nonsense. O livro conta a história de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares e antropomórficas, revelando uma lógica do absurda característica dos sonhos
(Wikipédia)
Por Antunes Ferreira
Passos Coelho é o heterónimo da  Alice no País das Maravilhas. As palavras dele no último debate quinzenal no Parlamento são de outra galáxia, o que pode significar que o “nosso chefe” continua nas nuvens. Recordo-me da classificação das nuvens quanto ao aspecto delas, que me foi ensinada pela minha professora da quarta classe (ainda a havia e duraria ao longo dos anos) a Dona Clélia Marques directora e proprietária da Escola Mouzinho da Silveira. Não garanto a exactidão dos nomes mas eram mais ou menos assim: Cumuliformes e cumulonimbiformes são nuvens de desenvolvimento vertical, em grande extensão; surgem isoladas; dão origem a precipitação forte, em pancadas e localizadas.
Coelho optou pelo balanço da situação económica do país para iniciar a sua intervenção e a dado momento afirmou que para 2015 existe “uma perspectiva mais positiva e esperançosa para todos os portugueses”. E garantiu que a recuperação da economia portuguesa está a ser feita de forma “sustentável e saudável, quer do lado da procura interna, quer o do investimento!”. As oposições – não há só uma - saltaram à estacada, aproveitando o jargão usado pelo primeiro-ministro “Quem não se lixou, deste feita, foi o mexilhão”.
Para Coelho, os portugueses estão (quase) a entrar no País das Maravilhas. Salvaguardou obviamente as desigualdades na população e o desemprego, ainda que de forma reticente. Se não o fizesse, do descalabro passava à anedota (que é). Admitiu que os “portugueses ainda passam sérias dificuldades”. Mas, logo de seguida disse que via ainda “uma trajectória de desendividamento progressivo” e o emprego “a crescer de uma forma muito sustentada”, apesar de admitir “níveis muito elevados” de desemprego. Em que ficamos? Deixe-se de tretas e de contradições senhor Coelho: o desemprego está a diminuir ou está a aumentar?
Quando a privatização da TAP veio à baila, Coelho teve uma afirmação de se lhe tirar o chapéu, uma dicotomia falaciosa. Evidentemente usando termos correctos politicamente reafirmou que a transportadora aérea nacional era uma espécie de tudo ou nada; se é privada safamo-nos; se não é estamos tramados… Isto porque a famigerada Troika quando lhe mandou privatizar a TAP sabia que sem ela os valores da receita das privatizações iam por água abaixo. Ou viver sem a TAP, ou morrer com ela…
Mas no jantar de Natal da distrital do PS/Porto, António Costa referiu-se aos vários "momentos de fantasia" que Pedro Passos Coelho teve, nesta sexta-feira, no debate quinzenal na Assembleia da República, considerando que o primeiro destes relacionou-se com a privatização da TAP. "Ao contrário do que disse o primeiro-ministro, o que estava no memorando de entendimento com a Troika não era a previsão de uma privatização a 100% da TAP. Não, o que estava no memorando de entendimento era que a TAP só seria privatizada parcialmente e nunca na sua totalidade",
Na opinião do secretário-geral do PS, era tarde para evocar o memorando de entendimento, porque este também dizia que a meta prevista para as privatizações era de 5,5 mil milhões de euros e que, "neste momento, o Estado já privatizou mais de 8 mil milhões de euros, bastante mais do que era a meta prevista no memorando". Donde, e ainda segundo Costa, "não é necessário privatizar a TAP, porque o objectivo aí previsto já foi alcançado e, por isso, o melhor que tem a fazer é não vender a TAP e manter esse activo estratégico para o país", declarou.
Ainda segundo António Costa, houve um segundo "momento de fantasia" do debate parlamentar de ontem: foi quando o primeiro-ministro anunciou que Portugal está a recuperar de forma "sustentada e saudável". E acrescentou que "a dívida, ao longo destes anos, aumentou 54 mil milhões de euros, 30 pontos percentuais. Ou seja, temos hoje uma dívida ainda maior do que a dívida alta que já tínhamos quando este Governo iniciou funções. Onde é que está a sustentabilidade que o Governo vê neste processo?”
Por estes apontamentos colhidos da comunicação social faço uma pergunto que creio ser razoável: digam-me, por favor, se Coelho vive ou não vive no País das Maravilhas. Para mim, vive; mas sem o relógio
A expressão utilizada por Passos no fim-de-semana passado foi aproveitada pela oposição que criticou o discurso “esperançoso” do governo no debate quinzenal
No último debate quinzenal deste ano, o primeiro-ministro escolheu o balanço da situação económica do país para a sua intervenção e concluiu que para 20115 existe “uma perspectiva mais positiva e esperançosa para todos os portugueses”. E garantiu que a recuperação da economia portuguesa está a ser feita de forma “sustentável e saudável, quer do lado da procura interna, quero do investimento!”. Mas na oposição os ataques foram quase em uníssono, aproveitando uma expressão recentemente usada por Passos: “Quem se lixou foi mesmo o mexilhão.”
O chefe do executivo voltou aos quinzenais dois meses depois (estes debates foram interrompidos devidos aos trabalhos sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano) e repetiu que os últimos dados do Banco de Portugal e do INE mostram que se “mantém a tendência de crescimento”, argumentando que o investimento feito até aqui está a ser dirigido para “o sector transaccionável e não está a ser transformado em betão ou colocado na economia protegida”. Além disso, Passos vê ainda “uma trajectória de desendividamento progressivo” e o emprego “a crescer de uma forma muito sustentada”, apesar de admitir “níveis muito elevados” de desemprego.
Um balanço contrariado pela oposição. Pelo PS, Ferro Rodrigues foi o primeiro a contestá-lo, recorrendo ao que Passos disse nos últimos dias - “desta vez quem se lixou não foi o mexilhão”. O adágio, explicou Passos no debate, foi usado “para dizer que nesta crise todos fomos chamados a contribuir”. Mas Ferro enumerou os efeitos com os cortes em subsídios sociais, “o desemprego de longa duração”, o aumento de trabalhadores precários, “os desempregados que emigraram” para concluir de forma repetida: “Na sua linguagem marítima trata-se de mexilhão ou lagosta, senhor primeiro-ministro?”
Para o líder parlamentar socialista, a análise de Passos teve um “registo de negação, irrealismo e de efabulação”. E acrescentou que o governo está “em trânsito de uma estratégia neoliberal, para uma estratégia neopopulista”, ouvindo Passos atirar de volta: “Não arrancámos com neoliberalismo, mas com o Memorando de entendimento negociado pelo PS.”
Mas no PCP, Jerónimo de Sousa também atacou Passos pelo mesmo flanco, atirando à “insensibilidade social” do governo: “Quem era pobre, pobre ficou e quem se lixou foram os que não sendo pobres, passaram a ser?
É destes que fala senhor primeiro-ministro?“. E o líder comunista ainda se indignou com a análise económica deixada pelo chefe do executivo: “Não venha com o argumento que estamos melhor que a Grécia, até pode dizer que estamos melhor que o Biafra, mas é isso que o consola, senhor primeiro-ministro?”.  E Passos defendeu-se garantindo não estar a ignorar os “portugueses que ainda passam sérias dificuldades”.
Já Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, aproveitou a expressão mais repetida neste debate quinzenal para acusar o executivo de favorecer os poderosos. “Quando estão em causa os novos donos disto tudo, abandona logo o mexilhão”, acusou a deputada bloquista.

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14.12.14

Luz - Alhambra, Andaluzia, Espanha

Fotografias de António Barreto- APPh
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Localizado à margem da parte mais conhecida e original do Alhambra, este é um edifício imponente e pesado, talvez sem graça exterior aparente. Mas o trabalho da pedra é impressionante. Não conheço o nome ou o termo técnico para estas paredes e para este género de “almofadas”, mas este é um estilo de obra em pedra frequente em países de origens e tradições hispânicas. É curioso que também em móveis de madeira se possa encontrar uma estética parecida com esta. (2008)

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Nos anos 30, em Évora

Por A. M. Galopim de Carvalho
A ESCOLA de São Mamede, onde andei há mais de 70 anos, era mal iluminada, muito fria e húmida no Inverno. Só tinha rapazes, alguns deles descalços. Entre estes havia os que traziam um pedaço de cortiça para não porem os pés no chão gelado. Nesse tempo as escolas eram separadas; rapazes de um lado, raparigas de outro. Nada de misturas. O regime era demasiado conservador e repressivo, seguidor de uma igreja retrógrada. Nas paredes, além dos retratos de Salazar, o Presidente do Conselho, de Carmona, o Presidente da República, e do crucifixo, havia uma série de quadros demonstrativos dos progressos trazidos à Pátria, pelo recém criado Estado Novo, todos eles intitulados “A Lição de Salazar”. (...)
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12.12.14

Raios partam…

Por Pedro Barroso
Um amigo do Sócrates, ao que parece, comprou-lhe as casas da mãe acima do preço e ofereceu-lhe uma casa de 3 milhões de euros no bairro mais chique de Paris – o XVI ème, em nome dos velhos tempos de escola.
Um amigo do Ricardo DDT deu-lhe uma prenda de 14 milhões como lembrança de uns negociozitos em Angola
O Sr. Aníbal de Belém soube por amigos, com devida antecedência, que o BPN ia “género” fechar para balanço e lucrou umas centenas de milhares em acções, levantadas à pressa, enquanto elas ainda valiam qualquer coisa
Dizem que o sr Loureiro, de Aguiar da Beira, comprou umas ilhas em Cabo Verde, uns resorts de luxo – coisitas assim…- mas tudo também com uns donativos de amigos por identificar;
o Duarte Lima ganhou uns milhões num negócio com outros amigos nuns terrenos perto do Tagus Parque, em Oeiras
O Portas foi visto, - dizem pessoas maldosas...- de óculos, respirador e barbatanas, a ir passar fins-de-semana ao Bugio com um batiscafo de bolso que recebeu duns amigos alemães, como pequena comissão, na compra de dois submarinos de tamanho inteiro.
O Vara, mais pobre, coitado, esse só recebeu umas canastras de peixe do armador Godinho - mas ao preço a que o robalo está, mesmo assim …
Uma coisa eu sinto, sinceramente,
Lamentavelmente,
ESTOU MUITO DESILUDIDO COM OS MEUS AMIGOS!

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11.12.14

Malala, o Islão, o obscurantismo e a violência

Por C. Barroco Esperança
A decadência da civilização árabe trouxe o histerismo religioso e o acréscimo de crimes sectários, num crescendo de demência que contaminou os países não árabes que o Islão intoxicou, como o Irão ou a Turquia, esta como um presidente, Erdogan, que mantém o injusto e paradoxal epíteto de «muçulmano moderado», apesar das provas dadas.
Esta quarta-feira, Malala Yousafzai, recebeu o prémio Nobel da Paz. A menina baleada por um talibã, porque defendeu o direito à educação, não é apenas a heroína descoberta pela comunicação social, é a sobrevivente de milhões de meninas transacionadas aos 9 anos para casamentos que reproduzem a prática pedófila do Profeta, casado com uma de 6, e cuja consumação matrimonial, segundo a tradição islâmica, se verificou aos 9. (...)
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7.12.14

Luz - Muralhas de Sacsayhuamán (ou Sacsahuamán), Cuzco, Peru.

Fotografias de António Barreto- APPh
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Estas muralhas são maravilhosas. Infelizmente, representam apenas uma muito pequena parte do original mandado construir nos séculos XIV e XV para defender a capital do Império Inca. Quando os espanhóis chegaram e conquistaram, retiraram a maior parte da pedra a fim de construir edifícios e desenvolver a cidade. O que fizeram. Na verdade, um número importante das construções, a começar pelos edifícios públicos, monumentos e Igrejas ainda hoje a uso, é feito com pedra saída daqui para as fundações e os muros até ao primeiro andar. Ainda hoje não se conhece tudo destas muralhas. Eram militares, mas também de armazenamento de alimentos e outros bens. As pedras gigantescas foram cortadas e juntas com uma absoluta precisão: em muitos sítios não cabe uma faca ou uma folha de papel entre dois pedregulhos. Não se sabe como foram talhadas as pedras, nem como foram transportadas até aqui. Estas muralhas ficam a um ou dois quilómetros a Norte de Cuzco. Apesar da subida, chega-se lá facilmente a pé. Foi o que fiz, mal aterrei na cidade. Estava de tal maneira eufórico com a minha primeira estadia em Cuzco (antes, Iquitos e Lima, uns dias depois, Machu Pichu e o lago Titicaca, lugares que me encantavam desde a adolescência…), que nem tomei as precauções indispensáveis. Dada a altitude, era necessário começar a andar devagar, prever um dia para me habituar, não beber cerveja, tomar uns comprimidos de Coramina glicose, comer pouco, dormir… Ora, mal desci do avião, fui ver as muralhas, passei lá quase um dia, andei a correr atrás dos lamas, bebi o que encontrei, incluindo uma aguardente inca horrorosa… Nessa noite, fui para a cama com uma dor horrenda em todo o corpo, um estouro na cabeça e as articulações a gemer… O médico das urgências sorriu, disse entre dentes qualquer coisa como “estes parvos destes turistas…”, deu-me os medicamentos habituais e mandou-me descansar um dia. Foi o que fiz e não voltei a repetir a graça. (1971)

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CANTE ALENTEJANO


Por A. M- Galopim de Carvalho
A DECLARAÇÃO do Cante Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade foi aprovada pelo Comité Intergovernamental da UNESCO,  em Paris, no passado dia 27 de Novembro. Logo após a feliz decisão, as vozes dos cantadores do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa fizeram-se ouvir nos espaços da nobre Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura na capital francesa. (...)
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6.12.14

Quem se lixa é o mexilhão


Por Antunes Ferreira
“AO CONTRÁRIO do que era o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão, de que são sempre os mesmos (...) desta vez todos contribuíram e contribuiu mais quem tinha mais, disso não há dívida", afirmou Coelho, em Braga ao encerrar um seminário sobre Economia Social, organizados pela União de Misericórdias de Portugal. A notícia é do Correio da Manha, ups, com til e afigura-se-me muito interessante.

Coelho, aparentemente, interessa-se por ditados, o que não é exactamente por diktats. Desta feita escolheu o exemplo do “quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão” para o negar peremptoriamente afirmando sem pejo que “(…) desta vez todos contribuíram e contribuiu quem tinha mais” Se fora Portas a fazer tal afirmação teria dito que ela era irrevogável; mas para o chefe do (des)Governo “disso não há dúvidas”. O trocadilho fácil que eu queria evitar, saiu-me: Mas há dívidas…

Num contexto gravíssimo como é este que estamos a viver quotidianamente, o (des)Executivo não pára de dar arrotos de importância. É a Dona Maria Luís que afirma convictamente que todos os que se pronunciam negativamente sobre o OE 2015 estão errados; o único que está certo é o gangue em que está inserida. É Portas quem quer voltar atrás (honny soit…) no (des)feriado de 1 de Dezembro, enquanto o nosso primeiro diz que nem penar, talvez daqui a cinco anos.

No meio da salganhada há até quem diga que a coligação está uma outra vez em risco, o que me cheira a reprise, desta feita quiçá irrevogável. As frases e as palavras que as constituem estão cada vez mais prostituídas; mas, infelizmente não são só elas: é o país que se transformou num bordel que vive num pântano lamacento e mal cheiroso. E eu que também sou gente – ainda que, por vezes não pareça – cito também um dito popular. Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo.

É, bem vistas as coisas, disso que se trata: os membros deste (des)Governo querem fazer de nós parvos. E se calhar somos: parvos e péssimos (o mau não chega), agachados ou inclinados como se devem fazer as vénias. E sofredores. E pacientes: E sem coluna vertebral. Sá assim se podem qualificar os portugueses (que também sou); se fôssemos de outro jaez, as coisas não estavam assim, plácidas e serenas.

Basta vermos as reportagens televisivas sobre a Grécia e os Estados Unidos (e são apenas dois exemplos dum pot-pourri generalizado) para compreendermos que somos uns bananas, o que para mim é não só desagradável, não é só irritante – é criminoso. E não me venham com Aljubarrota e com os Descobrimentos, com os conjurados do João Pinto Ribeiro, ou seja com o “passado glorioso”.

Porque a verdade é que o Dom Sebastião nunca voltou do nevoeiro montando um cavalo branco; porque a verdade é que Sidónio Pais o Presidente-Rei mal chegou ao poder foi assassinado; porque a verdade é que Oliveira Salazar não era eterno: uma conspícua cadeira tornou-o num imbecil que julgava que os ridículos conselhos de ministros eram verdadeiros e não uma encenação burlesca e dramática.

Coelho enveredou pelos adágios populares – a opção é dele – mas podia ter usado termos mais politicamente correctos. O povo também usa o termo mexilhão, mas muitas vezes não usa que é este que se lixa: usa a palavra de calão que não é “trama”, mas que é exactamente a mesma coisa.

Para mal dos nossos pecados (os meus são muitos, mas vivo excelentemente com eles…), quem não se sente, não é filho de boa gente; e pelo andar da carruagem coelho nem se sente. No tempo da outra senhora havia uma quadra popular que dizia:

Dos dois Antónios

de que Lisboa desfruta

Um é filho da Sé;

E o outro… não é…

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4.12.14

A harmonia do caos e a reflexão caótica da harmonia

Por C. Barroco Esperança
É difícil estabelecer com rigor quando se foge por medo ou se tem medo por ter fugido. O mundo foge dos problemas como o cristianismo diz do demónio em relação à cruz. A fome e as alterações climáticas são guerras silenciosas que alastram na clandestinidade, perante o silêncio dos poderosos e o modelo único que Reagan, Thatcher e João Paulo II nos legaram.
É estranho que os dois primeiros desfrutem de sólida reputação mundial e o último de grande prestígio celestial. Foram três aliados cuja saudade coletiva lembra a síndrome de Estocolmo em que os reféns se comovem com os carcereiros. (...)
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2.12.14

A malta do "é igual ao litro"

1.12.14

1º de Dezembro

Por A. M. Galopim de Carvalho

NESSES anos, há pouco mais de sete décadas, não adivinhávamos que, para vergonha dos portugueses, um punhado de nossos concidadãos, alheados da História e avessos à cultura, decretassem e promulgassem o fim deste feriado e o do 5 de Outubro, duas celebrações nacionais tão importantes como a dos “cravos” na nossa geração.
O texto que se segue consta do meu livro “FORA DE PORTAS, Memória e Reflexões”, Âncora Editora, 2008. (...)
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